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Pop Reverso

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  1. O cinema ‘blockbuster’ dos anos 90 nos presenteou com verdadeiros arrasa-quarteirões de ação policial, incluindo a pequena franquia “Bad Boys”. Mesmo naquela época, o gênero ‘buddy cop’ já estava um pouco defasado, e os dois filmes da saga (especialmente o segundo) não chegaram a atingir seu pleno potencial. Agora temos “Bad Boys Para Sempre” (2020), a obra que finalmente eleva a história dos nossos queridos policiais imorais a outro patamar... Na narrativa, os parceiros Mike (Will Smith) e Marcus (Martin Lawrence) precisam lidar com a misteriosa motivação da vilanesca família Aretas (Kate del Castillo e Jacob Scipio). O roteiro pode ser de alguma forma simples e clichê, mas os diretores Adil e Bilall nos levam muito além das bombásticas cenas de ação e da comédia propositalmente deslocada que permearam os filmes anteriores. Aqui temos algumas reviravoltas tensas e corajosas, e elementos dramáticos que nunca haviam sido explorados com tanta competência na saga. Óbvio que a dupla principal ainda é o epicentro do filme. Will Smith e Martin Lawrence apresentam a mesma química maravilhosa de antes, e suas crises da meia-idade os fazem passar por várias mudanças de perspectivas e paradigmas à medida que a história avança. E quando somos informados das reais motivações dos dois quase caricatos vilões, o personagem de Lawrence abraça a autoindulgência ao se referir àquilo como sendo “coisa de novela”... o que ironicamente não tira a intensidade do empolgante ato final do filme. Somos apresentados também a uma nova e tecnológica divisão policial, da qual se destacam muito mais os seus carismáticos membros secundários do que a sua desinteressante líder Rita (Paola Nuñez). Nesse ponto, o filme pode render ainda boas discussões sobre como unir mentalidades antigas e novas em prol de uma boa polícia na atualidade. Até mesmo no quesito ação, o novo trabalho supera os anteriores, pois temos finalmente um senso real de perigo. Mike e Marcus não são mais os heróis quase indestrutíveis de outrora, e assim há menos absurdo nos momentos de tiros, pancadaria, perseguições e explosões. E a parte técnica é de alguma forma elegante e bem dosada em seus elementos, sem perder alguns dos padrões estabelecidos anteriormente pelo frenético diretor Michael Bay. O fato é que “Bad Boys Para Sempre” é a sequência que não sabíamos que queríamos. Ele se mostra não apenas como o melhor e mais completo filme da franquia, como também se alterna bem entre a ação empolgante, a comédia cheia de humor negro, e uma fresca adição de emoção familiar. Ah, e uma cena durante os créditos pode indicar uma possível continuidade desse “bad universe”. Será que teremos Will Smith e Martin Lawrence para sempre, afinal? Nota: 8
  2. Não é de hoje que os filmes de guerra caíram num lugar-comum, seja pelas exibições de um patriotismo descabido ou pelas épicas contemplações sobre as futilidades da batalha. Recentemente, o controverso “Dunkirk” (de Christopher Nolan) elevou o gênero a um novo patamar de urgência e imersão. E agora, no filme “1917” (2019), o diretor Sam Mendes não apenas se inspira nessa fresca abordagem como a amplifica nos quesitos de intensidade e alma. A história se passa na Primeira Guerra Mundial, na qual os soldados britânicos Schofield (George MacKay) e Blake (Dean-Charles Chapman) precisam atravessar o território inimigo para levar um aviso sobre uma armadilha a um enorme grupo de soldados. Aqui, a boa e velha “corrida contra o tempo” ganha um ar de proximidade e perigo iminente graças à acertadíssima opção do diretor em idealizar tudo como um longo e angustiante plano-sequência. Muito além do mero exercício de estilo, o roteiro é hábil, bem construído, e equilibrado entre a ação incansável e os quase sombrios momentos de “respiro”. Os personagens são realistas e estabelecem uma bela simbiose no meio do caos, sendo possível entende-los com o pouco que nos é apresentado. Os jovens soldados interpretados com competência por MacKay e Chapman se destacam em uma provação que parece ter durado anos e anos... numa narrativa que engloba aproximadamente um exaustivo dia. Já os veteranos Colin Firth, Mark Strong e Benedict Cumberbatch fazem papéis menores que se tornam marcantes no sentido de transmitir nas entrelinhas o cansaço e frieza adquiridos após uma longa experiência com a guerra. Além da excepcional fotografia e da incisiva trilha sonora, as várias cenas de ação podem nos causar arrepios legítimos. Destaco a tensão claustrofóbica de um momento que se passa num abandonado refúgio subterrâneo, os desdobramentos ocorridos em uma cidade destruída que é quase a representação do inferno, e a já memorável sequência na qual um soldado desarmado precisa correr pelo centro de uma batalha em andamento. Daria um capítulo à parte a análise de elementos e até reviravoltas que ficam de fora do nosso campo de visão... “1917” não é um filme para quem prefere os velhos padrões grandiosos e melodramáticos dos antigos clássicos de guerra. Essa é uma história de abordagem quase íntima, sobre o que mais importa em uma guerra que não leva a humanidade a lugar algum: a mera sobrevivência do indivíduo e de suas memórias, em meio a um horror que é efêmero e cíclico ao mesmo tempo. Sam Mendes não mediu esforços para entregar uma obra que também possa sobreviver ao teste do tempo, e acertou o tiro em cheio! Nota: 10
  3. Quando se fala de empoderamento feminino, a divertida franquia de ação “As Panteras” ainda podia ser considerada discutível, tanto em sua série original de TV (dos anos 1970) como em sua primeira encarnação cinematográfica (da década passada). Agora, a diretora Elizabeth Banks tomou as rédeas de uma saga que sempre foi abordada sob um ponto de vista um tanto masculino, e fez do seu “As Panteras” (2019) um produto dos tempos atuais, ainda que tenha oferecido uma mistura de erros e acertos no resultado final. A história é uma continuação dos exemplares anteriores, e nos apresenta toda uma geração internacional da agência Townsend. Aqui, as três “Panteras” do momento precisam impedir que um dispositivo de melhoria ambiental seja usado de forma letal por terroristas e afins. Como é deduzível, o novo filme é moderno em alguns pontos ideológicos e ambientais, mas aposta em um formato de escalada investigativa batida que não traz frescor àquelas reviravoltas envolvendo agentes duplos e coisas do tipo. Na composição de personagens, as coisas também se mostram um pouco trôpegas. A Elena da Naomi Scott é de uma ótima imponência em postura e ação, mas tem personalidade ainda indefinida. Ella Balinska traz indefinição ainda maior para a sua Jane, ao variar de momentos inteligentes para outros de uma ingenuidade cômica bastante forçada. Já Kristen Stewart brilha em tela, fazendo da sua Sabina uma personagem com estilo malandro e com alguma profundidade. Dos vários coadjuvantes, destaco dois “Bosleys”, feitos respectivamente por um Patrick Stewart divertidíssimo e por uma Elizabeth Banks cheia de confiança e segurança. Claro, também devemos falar sobre o principal: a ação bombástica! Ao contrário das duas obras anteriores, essa aqui leva a tríade “tiros/pancadarias/explosões” a um inesperado nível de economia e sobriedade, um acerto que seria ainda maior se ao menos resultasse num genuíno senso de perigo. A comédia também possui lá uns acertos engraçadinhos. E o elemento feminista atinge o ápice na rima narrativa efetivada entre o início e o desfecho do filme, uma sacada que arrepiará e emocionará qualquer mulher que seja adepta da sororidade. Apesar dos clichês e irregularidades de execução, o novo “As Panteras” é levemente superior aos dois anteriores, e é bacana o bastante para um fim de semana regado a pipoca. Seu discurso também deverá ser cada vez mais incorporado em grupos de mulheres fortes do presente e futuro, enquanto Kristen, Naomi e Ella estiverem refinando sua química em possíveis continuações dessa saga ainda influente de porrada, estilo e bom humor. Se tudo der certo, elas poderão chutar mais traseiros de homens conservadores por aí... Nota: 6
  4. Filmes do segmento de drama esportivo tendem a cair no formulaico, especialmente aqueles norte-americanos que são baseados em fatos reais. Ainda assim, em raros casos, podemos ser surpreendidos com uma exímia e abrangente execução dos elementos que já vimos em milhares de outras obras. Esse é o caso de “Ford vs Ferrari” (2019). O filme conta a história do designer automotivo Carroll Shelby (Matt Damon) e do piloto Ken Miles (Christian Bale), que trabalham juntos em uma disputa da Ford contra a Ferrari, nas pistas de corrida. O diretor James Mangold empregou aqui o melhor das suas habilidades no sentido de providenciar um drama que é acessível, identificável e bem-humorado a ponto de nunca se transformar em mera masturbação automotiva. Além da disputa representada pelo próprio título da obra, temos também o eterno embate entre o corporativismo e o elemento humano, e entre as ambições pessoais e a necessidade de adaptação ao trabalho em equipe. Em paralelo a tudo isso, há uma bela mensagem sobre uma amizade que é desenvolvida através da paixão que dois homens possuem por carros velozes. Christian Bale faz do seu Ken Miles um piloto energético, intuitivo e às vezes esquentado, numa composição pitoresca que é uma das mais interessantes de sua carreira. E Matt Damon faz do seu Carroll Shelby um contraponto mais sensato e centrado, mas que também possui seus momentos de intensidade. A química entre os dois é excepcional, e move a trama de tal forma que às vezes ofusca os outros personagens, ainda que Caitriona Balfe se saia bem como Mollie Miles (esposa de Ken) e Tracy Letts ofereça uma boa dimensão a Henry Ford II. O roteiro possui algumas gordurinhas, mas é muito bem desenvolvido. Mangold também parece ter atingido aqui o seu ápice em termos de precisão técnica, especialmente na sua imersiva e convidativa recriação – visual e cultural - dos anos 1960. Destaque ainda maior para o último ato do filme, que unifica todos os seus subtextos através de uma corrida que é eletrizante, extenuante (no bom sentido), e provida de algumas reviravoltas levemente inesperadas. “Ford vs Ferrari” é pura velocidade e ritmo, tanto dentro quanto fora das pistas. É um drama que se mostra otimista, caloroso, e quase sempre munido de uma boa dose de diversão e loucura por parte de Bale e Damon. De brinde, ele nos faz pensar sobre como podemos encontrar a verdadeira visão em pessoas que estejam longe de uma sala cheia de burocratas. Talvez a própria Hollywood dos tempos atuais precise refletir mais sobre isso, não acham? Nota: 9
  5. Adaptações cinematográficas de livros são complicadas, especialmente quando se trata de grandes obras de Stephen King. Uma das mais corajosas adaptações é “O Iluminado”, dirigida pelo saudoso Stanley Kubrick, que se estabeleceu como uma obra de caráter bastante autoral em seu estudo de terror psicológico. Quase 40 anos se passaram, e agora temos a adaptação da sua sequência, intitulada “Doutor Sono” (2019), que traz resultados mistos ao tentar ser diferenciada e ao mesmo tempo respeitosa a King e Kubrick. Na história, Danny Torrance (Ewan McGregor) continua traumatizado pelos acontecimentos no Hotel Overlook, e agora precisa unir seus poderes extra-sensoriais aos da adolescente Abra (Kyliegh Curran), para tentar impedir a ameaça de Rose Cartola (Rebecca Ferguson) e seu culto. O diretor Mike Flanagan não consegue esconder sua indecisão no tom da obra, pois arrisca um enfoque muito mais fantasioso e fabulesco, para depois sentir a necessidade de retomar os elementos e o estilo do filme clássico. O roteiro também tem alguns tropeços lógicos quanto à extensão do lado sobrenatural, e quanto a algumas atitudes estúpidas de certos personagens. O lado psicológico ainda é forte em suas questões sobre traumas, família disfuncional, medo e até alcoolismo. Ewan McGregor faz uma ótima atuação ao nos mostrar um Danny atormentado que carrega (quase literalmente) vários demônios internos. E Rebecca Ferguson também se sai bem ao transformar sua vilã Rose em um tipo místico e humanizado ao mesmo tempo. Já Kyliegh Curran não cativa tanto com a sua importante personagem, da mesma forma que os personagens secundários se tornam esquecíveis após cumprirem com seus papéis... Flanagan tem lá sua habilidade, tanto na forma peculiar de nos colocar numa espécie de serenidade sombria durante o desenvolvimento da história, quanto numa fotografia que destaca o seu lado intimista. A decisão de não apelar para certas convenções do terror também é respeitável. Ainda assim, ele só consegue atingir de fato um resultado magistral ao transformar o abandonado Hotel Overlook num personagem central da narrativa, o que nos presenteia com um ato final à la “casa mal-assombrada” que é catártico, arrepiante e memorável! No fim, “Doutor Sono” apenas expande com alguma competência esse pequeno universo criado por Stephen King. Salve as devidas proporções, ele está mais para “IT Capítulo Dois” (2019) do que para “O Iluminado” de Kubrick, pois é de uma fantasia mais clara e objetiva do que aquela que havia sido apenas sugerida anteriormente. Mesmo com suas falhas, a imersão funciona, o ‘fan service’ está na medida, e o terror se entrelaça bem aos subtextos dramáticos já citados. Este pode não ser um filme realmente iluminado, mas pelo menos não causa sono. Nota: 7
  6. Já se passaram 35 anos desde que o diretor James Cameron sacudiu os gêneros de ficção científica e ação bombástica, através do primeiro filme da extensa franquia “O Exterminador do Futuro”. Após três sequências que não trouxeram resultados tão satisfatórios quanto o dos dois primeiros exemplares, o diretor Tim Miller (de Deadpool) uniu forças ao próprio Cameron para criar toda uma nova história que se passa após o segundo filme. Com isso, temos “O Exterminador do Futuro - Destino Sombrio" (2019), o “terceiro” capítulo da saga. Na história, Sarah Connor (Linda Hamilton) e a ciborgue Grace (Mackenzie Davis) tentam impedir um novo Exterminador (Gabriel Luna) que veio do futuro para matar a importante humana Dani (Natalia Reyes). Os subtextos continuam sendo aqueles sobre os perigos da tecnologia, e sobre os paradigmas de um futuro distópico dominado pelas máquinas, além de alguns papos sobre escolha e destino. O roteiro repete vários elementos dos dois primeiros filmes, e se alterna entre acertos e erros de execução: por um lado, há consistência em determinadas explicações, e do outro, ainda traz as típicas falhas lógicas sobre viagens no tempo, além de apresentar algumas reviravoltas e decisões que soam aleatórias. Linda Hamilton continua sendo a mesma Sarah ‘badass’ e cínica do segundo filme, e brilha em cada um dos seus momentos em tela. Arnold Schwarzenegger, o epicentro da franquia, ressurge como o T-800 num contexto que não apenas funciona em termos narrativos como nos leva a apreciar as novas facetas do seu personagem. Mackenzie Davis e Natalia Reyes são muito bem-sucedidas em suas atuações, num roteiro que traz total importância para as suas personagens. E o vilão feito pelo Gabriel Luna é ameaçador o bastante, e tem lá suas próprias sutilezas. A direção de Miller está longe de ser única e marcante a nível estético ou sonoro, mas é de tirar o fôlego nas empolgantes e incansáveis cenas de ação, as quais surgem sem nunca ofuscar o também extenso lado dramático da história. Destaque para a já memorável perseguição numa estrada do México, além dos tiroteios e pancadarias envolvendo Hamilton ou Schwarzenegger, momentos em que você fará uma viagem no tempo para o cinema “brucutu” dos anos 80 e 90. Sim, “Destino Sombrio” conseguiu exterminar com sucesso as três continuações de qualidade discutível da franquia “Exterminador do Futuro”, mesmo sem possuir uma quantidade tão significativa de novos elementos. De toda forma, a alma dos primeiros filmes foi recapturada com dignidade, o senso de diversão pipoca com algum conteúdo voltou em grande estilo, e a representatividade feminina é bacana. Estaremos bem servidos se a franquia seguir uma clássica frase que, nesse filme, foi proferida pelo Arnold de forma diferente: eu não voltarei. Nota: 7
  7. Para muita gente, Breaking Bad é uma das séries dramáticas mais criativas e intensas dos últimos anos. Porém, seu último episódio deixou uma pequena ponta solta quanto ao destino do querido personagem Jesse Pinkman (Aaron Paul), enquanto que Walter White (Bryan Cranston) e outros personagens centrais tiveram seus arcos muito bem finalizados. Tal pendência foi solucionada através do filme “El Camino” (2019), em que a história se passa logo após aquele marcante episódio. Jesse nos é apresentado já como um fugitivo, e como alguém que deseja superar o passado e encontrar um novo caminho após ter cometido sua parcela de crimes. Assim como ocorria na série, o diretor Vince Gilligan apresenta uma narrativa crescente, sem apelações, e que transita bem entre o drama e o suspense policial. Há mensagens sobre as consequências da vida criminosa, estresse pós-traumático, e sobre a extrema dificuldade – ou impossibilidade – de retomar o controle da vida após certas situações... Como Jesse é o centro da narrativa, há algumas falhas de condução no sentido de que todos os outros personagens se tornam episódicos – e consequentemente, esquecíveis para qualquer pessoa pouco familiarizada com a série. Aaron Paul faz uma atuação excelente em termos de angústia total, intensificada pelos bons flashbacks que nos mostram não apenas como o personagem mudou bastante ao longo de sua jornada, como também evidenciam a necessidade de uma ruptura com o seu “inocente” passado. Gilligan ainda nos apresenta uma direção que encontra vida em meio a uma ambientação mais sombria do que de costume, e sem abrir mão de suas rimas visuais e narrativas, além de outros pequenos elementos que se tornam partes importantes do filme. Infelizmente, ele não fornece o mesmo senso de perigo que nos prendia na maioria dos episódios da série, exceto por alguns vislumbres bem interessantes dos seus melhores momentos – como, por exemplo, em uma cena tensa de confronto que remete diretamente ao faroeste. Sim, “El Camino” é um filme digno, bem amarrado e respeitoso com o legado de Breaking Bad, especialmente quando dá total razão a uma simples frase dita por Mike (Jonathan Banks) logo no início do filme: “você nunca vai conseguir fazer o certo”. Só faltou um “algo mais” para que pudesse ir além de um quase ‘fan service’... o que é compreensível até certo ponto, pois nós amamos Jesse Pinkman. A mensagem universal dessa franquia ainda pode ressoar por muito tempo, pois todos nós devemos lidar com as consequências dos nossos atos. Nota: 7
  8. Quem não gosta de um bom filme que misture ação bombástica, drama, ficção científica e Will Smith? Em “Projeto Gemini” (2019), novo trabalho do consagrado diretor Ang Lee, temos essa fórmula em versão duplicada, visto que o protagonista é apresentado como dois personagens: o indivíduo original e o seu jovem clone. Porém, ao contrário de outros exemplares semelhantes dos gêneros supracitados, o resultado aqui é bastante irregular em termos narrativos. Na história, Henry Brogan (Smith) é um veterano assassino de elite que tenta se aposentar, mas logo se torna o alvo de um jovem clone seu, o qual se mostra um agente igualmente habilidoso e fatal. De forma inesperada, o diretor Ang Lee entrega ótimas, empolgantes e bem editadas cenas de ação – com destaque para o extenso e arrepiante confronto inicial entre os “dois” protagonistas. E Will Smith faz uma atuação cativante, intensa, e com nuances específicas de personalidade para as suas duas versões, o que gera uma aura hipnótica nos bons momentos de interação entre os dois personagens. No mais, temos uma trama que desenvolve com desinteresse alguns subtextos batidos, como as conspirações de espionagem, e os perigos da biotecnologia para uso militar. Para piorar, é exigido do espectador um nível absurdo de suspensão de descrença, especialmente quando devemos acreditar que um clone nascerá com o mesmo dom do indivíduo original. De sobra, a personagem de Mary Elizabeth Winstead tem poucos momentos de força e destaque, e Clive Owen faz um vilão que falha na tentativa de ser um Tommy Lee Jones “sensível”. Na parte emocional, há alguns competentes momentos daquele bom e velho Ang Lee dramático, quando este aborda as consequências psicológicas e familiares de um emprego que envolve frieza absoluta. E, ainda que o roteiro se torne previsível a partir de certo ponto, a conclusão dos arcos dos dois personagens é levemente satisfatória... e pode ser até comovente, para alguns espectadores. No fim, “Projeto Gemini” é um clone clichê de outros filmes – em especial, das grandes obras ‘blockbuster’ dos anos 90 que também foram produzidas pelo Jerry Bruckheimer. Mesmo assim, ele é de uma diversão razoável e otimista para um fim de semana regado a bastante pipoca. Se for possível ignorar as várias falhas de roteiro, aprecie o seu visual impecável, os momentos da tríade “tiros/porradas/explosões”, a trilha sonora marcante, os incríveis efeitos especiais de “rejuvenescimento”, e cada um dos momentos de Will Smith e Will Smith em tela. Nota: 6
  9. O Coringa é possivelmente o vilão mais apreciado do grande universo do Batman, seja nos quadrinhos ou nas adaptações cinematográficas do herói. Seu anarquismo e sua insanidade o colocaram num patamar de misticismo que, até então, dispensou a necessidade de uma história de origem bem detalhada. Agora, finalmente temos uma imaginação bastante humanizada dessa origem, representada no tenso e dramático filme “Coringa” (2019). A história se passa na Gotham City dos anos 1980, e nos apresenta o Arthur Fleck (Joaquin Phoenix) como um comediante fracassado que tenta se sobressair em meio a seus problemas psicológicos, e em meio a uma sociedade que o rejeita. Alguns elementos da graphic novel “A Piada Mortal” são usados, mas o diretor Todd Phillips cria seu próprio universo hermético, com várias cenas e elementos narrativos que não escondem nem um pouco as influências dos filmes “Taxi Driver” e “O Rei da Comédia” (ambos de Martin Scorsese). O tom geral da obra é muito mais melancólico do que irreverente, como representação da falta de talento cômico do protagonista. Há um estudo intrigante sobre depressão, inseguranças, traumas familiares, esquizofrenia, e sobre como podemos adquirir um cinismo e egocentrismo perigosos quando notamos a total falta de empatia que nos rodeia diariamente. Phillips evoca um desconforto que transforma a experiência em algo bastante claustrofóbico, seja através de suas cores fortes, ou por sons que dialogam com o estado mental do personagem. Sim, tudo gira em torno de Arthur Fleck, que é interpretado aqui por um Joaquin Phoenix intenso, multifacetado, e digno de Oscar! Ele caminha por uma Gotham que é tão suja quanto Nova York, e vai chafurdando gradualmente em sua própria sujeira, à medida que acumula fracassos e frustrações. Sua mãe, interpretada por uma misteriosa Frances Conroy, não chega a ser memorável mas possui utilidade narrativa. E Robert De Niro, divertidíssimo, faz aqui um apresentador de televisão que acaba sendo o catalisador de algumas reviravoltas importantes... No fundo, “Coringa” não romantiza a psicopatia e o crime, e nem apela para o ‘fan service’ em torno da personalidade final do personagem. É um drama violento sobre um ser humano ainda oscilante e instável, rumo a um destino que nos trará a seguinte reflexão moral ambígua: será que ele se perdeu, ou se encontrou? O ato final do filme é excepcional, gera um gostinho de “quero mais”, e faz valer até algumas redundâncias de autopiedade no roteiro. Talvez a vida tenha que ser mesmo uma comédia, afinal. Nota: 9
  10. Se você não esteve alheio aos gêneros de suspense e terror psicológico nos últimos anos, deve ter assistido a "Hereditário" ou pelo menos ouviu falar no nome do seu promissor diretor, Ari Aster. Em seu novo filme, intitulado "Midsommar: O Mal Não Espera a Noite" (2019), somos levados a uma jornada hipnotizante e macabra de redescoberta pessoal, familiar e espiritual, juntamente com reflexões sagazes sobre sexualidade. A história gira em torno de Dani, que após uma tragédia pessoal, vai com o namorado Christian e um grupo de amigos até a Suécia para participar de um festival interiorano de verão, onde acabam presenciando um culto sinistro. Apesar deste filme pertencer a um subgênero chamado "horror rural", Aster coloca o drama e mistério em primeiro plano, o que traz um ótimo senso de unidade e linearidade para uma trama que lida com problemas de relacionamento (familiares e amorosos) e a necessidade de encontrar novas perspectivas a partir disso tudo. Florence Pugh entrega uma intensidade excepcional para a sua complexa personagem Dani, que é a força motriz do filme. E Jack Reynor faz do seu Christian um tipo babaca que, de forma funcional à história, nos faz ter algum ódio do seu personagem desde o início. Os outros personagens possuem lá seus momentos - incluindo passagens que beiram o humor negro -, mas acabam tendo funcionalidades que não vão muito além do episódico. Aster não economiza nos simbolismos, alguns deles óbvios e outros impenetráveis para quem não entende de paganismo e afins. Ainda assim, é fácil encontrar referências cinematográficas que vão de “O Homem de Palha” a “Dogville”, em cima de uma ambientação que gera o sombrio a partir de um céu de claridade quase total. Os excelentes aspectos técnicos de som e imagem também nos causam arrepios em cenas memoráveis, como por exemplo: a que mostra um pós-tragédia, as de rituais com desfechos tensos, ou a de um sexo bem esquisitão. Apesar de algumas pontas soltas e certa previsibilidade - além de não ser tão assustador quanto “Hereditário” -, o fato é que "Midsommar: O Mal Não Espera a Noite" é um ótimo filme sobre rupturas psicológicas, paradigmas de gênero, e necessidades de pertencimento. É uma narrativa que, lenta e gradualmente, vai te puxando para um pequeno universo bucólico que vai assombrar o seu imaginário durante um bom tempo. Todos nós passamos pelo inferno pessoal de Dani vez ou outra, logo alguns expurgos extremos acabam sendo bastante convidativos... Nota: 8
  11. A mensagem por trás de todo o terror de "It - A Coisa" é universal, pois evoca diretamente os medos e traumas que surgem ainda na nossa infância (e que nos acompanham na vida adulta), além de abordar belos tópicos sobre amizade. Em sua nova versão cinematográfica, esse livro clássico de Stephen King foi dividido em duas partes, sendo que agora temos a sua conclusão: "It - Capítulo 2" (2019). Inesperadamente, essa é uma obra que consegue ter um brilho diferenciado, apesar de possuir claras falhas... Na história, o palhaço demoníaco Pennywise volta à ativa 27 anos após os eventos que chocaram os adolescentes do "Clube dos Otários", o que leva os mesmos a se reunirem para tentar derrotar o vilão em definitivo. O diretor Andy Muschietti fez um bom trabalho em manter o mesmo nível de atenção ao terror e ao drama, algo que tornou o primeiro filme tão especial e abrangente. A diferença é que, dessa vez, há uma entrega ainda maior ao drama, e com um terror que só assustaria a um público infantil. Óbvio que uma trama sobre personagens adultos possui mais camadas psicológicas a serem exploradas, e isso foi bem resolvido nas quase 3 horas de duração do filme - sem contar o mistério da origem do Pennywise, que deixa algo no ar para a nossa imaginação. E a química entre os "otários" continua afiadíssima, tanto nos momentos melancólicos quanto nas passagens cômicas. A funcionalidade de cada membro na narrativa é outro acerto, intensificado por bons flashbacks que nos trazem de volta os adoráveis atores adolescentes do primeiro filme. Jessica Chastain faz da sua Beverly a personagem mais intensa e madura do grupo. Já James McAvoy eleva o personagem Bill a um patamar de versatilidade que continua sendo a grande especialidade do ator. Quanto a Bill Hader... este merece até uma indicação ao Oscar, pois acrescenta ao seu carismático personagem Richie a composição mais completa e hipnótica do filme. Por outro lado, numa obra claramente menos violenta, o Pennywise de Bill Skarsgard acaba não oferecendo aqui a mesma imponência e real ameaça que nos foi apresentada antes. Com uma produção certeira na parte técnica, e com uma narrativa crescente, humana, e ainda eficiente sobre questões psicológicas que podem nos levar à morte, “It - Capítulo 2” finaliza essa saga com dignidade. Porém, com exceção de um final espetacular - tanto na parte do terror quanto no emocionante encerramento -, essa sequência não vai muito além do bom desenvolvimento dramático. O primeiro filme já está flutuando entre potenciais clássicos futuros do cinema, enquanto que esse deve flutuar no grupo de boas sequências meio esquecidas... Nota: 7
  12. Como seria uma realidade sem a música dos Beatles (e, por tabela, sem coisas como Coca-Cola e a banda Oasis)? Pior ainda: como seria a atualidade se, após um apagão no planeta todo, apenas um músico frustrado lembrasse da existência das canções? E se esse músico se apropriasse da autoria de todas essas canções? Essa é a história fantasiosa e quase fabulesca de "Yesterday" (2019), novo filme do consagrado diretor Danny Boyle. Além da sua trama básica, temos também um lado forte de comédia romântica envolvendo os dois protagonistas: o desajeitado cantor Jack Malik (Himesh Patel) e a sua fofa amiga Ellie Appleton (Lily James). Apesar da boa química entre os dois, há alguns clichês e situações forçadas do gênero ao longo do filme, o que nos faz perceber como o roteiro seria ainda mais forte se trouxesse maior detalhamento nos desdobramentos musicais e nos seus subtextos sobre desonestidade e falta de personalidade. Por sinal, essa hipotética realidade evoca a questão "talento vs. mediocridade", visto que nem todo mundo possui o dom para compor obras épicas - algo intensificado pelas ótimas piadas depreciativas em cima das aparições do cantor Ed Sheeran na história. Há ainda alguns geniais momentos que exploram o anacronismo que existe numa atualidade fictícia em que essas canções nasceram tão afastadas de sua época e contextos originais (preste atenção nas cenas de “Hey Jude”, “Back in the USSR” e do “White Album”, por exemplo). Boyle continua empregando classe em sua direção, mesmo em uma narrativa que não se arrisca e não ousa tanto em suas reviravoltas e questões morais. No geral, ele se mostra econômico em seus habituais maneirismos de cores e montagens, além de fazer com que a certa falta de carisma do ator Himesh Patel seja ironicamente funcional para a história e sua mensagem. Some-se a isso a dose de simpatia fornecida pela atriz Lily James e alguns outros... “Yesterday” é, no fundo, uma bela homenagem à universalidade das canções dos Beatles, em que somos presenteados com uma nostalgia reverente e ideal para uma boa sessão ao lado da família ou dos amigos. A comédia é bem sacada, elegante e nada apelativa – em especial durante as (re)criações das músicas -, e o lado dramático pode te extrair pequenas lágrimas em uma ou duas cenas... Temos aqui um estado de inocência não muito distante do que sentimos ao escutar os sons dos garotos de Liverpool. All You Need is Love! Nota: 8
  13. Todos nós sabemos que Quentin Tarantino é um eterno apaixonado pela sétima arte. De forma tão ousada, e às vezes irresponsável, o diretor sempre fez dos seus filmes uma verdadeira salada ácida de gêneros, referências e homenagens ao universo "pop". No seu novo filme “Era Uma Vez em... Hollywood” temos sua versão mais humana, sutil e amadurecida, em cima de uma história agridoce que merece tal abordagem. A trama gira em torno do ator decadente Rick Dalton (Leonardo DiCaprio) e seu amigo dublê Cliff Booth (Brad Pitt), dupla que tenta se adaptar a uma Hollywood que passa por mudanças sociais e culturais, às vésperas de uma tragédia (esta ocorrida na vida real) que foi orquestrada pela “família Manson”. Tarantino nos coloca numa corda bamba emocional, oscilante entre a inocência cinematográfica daquela "terra dos sonhos", e o inevitável cinismo que começa a surgir após seu lado obscuro começar a ganhar forma... Los Angeles é retratada com cores quentes, as quais se entrelaçam com o calor humano fornecido pelos personagens. Não à toa, as performances de Leonardo DiCaprio e Brad Pitt são hipnotizantes e recheadas de nuances, tanto nos momentos cômicos como nos momentos dramáticos – e arrisco dizer que Pitt chega a quase roubar o filme para si. E Margot Robbie interpreta a saudosa atriz Sharon Tate de forma quase lúdica, como uma representação da imagem romantizada que temos de Hollywood. Há ainda uma galeria de personagens “secundários” que, de forma um tanto episódica, deixam sua marca pitoresca na tela. Porém, nem tudo é perfeito, pois há um exagero na quantidade de homenagens cinematográficas que “apenas os fortes entenderão”. Os diálogos também não atingem sempre a genialidade trivial que costumava nos prender em cada cena da filmografia do diretor. Após alguma irregularidade narrativa, entramos no último terço do filme, no qual a tensão e suspense dominam de vez as nossas expectativas, e no qual temos também uma memorável e audaciosa cena dentro de uma casa – uma pequena obra prima por si só, “directed by Quentin Tarantino”. Pequenas falhas à parte, “Era Uma Vez em... Hollywood” é um filme diferenciado de um diretor que costuma ser acusado de se repetir nas suas obras. Da comédia ao drama e suspense, passando pela declaração nostálgica de amor ao cinema, Tarantino faz deste o seu filme mais homogêneo e menos exagerado... e possivelmente, uma alusão tocante a qualquer pessoa que esteja prestes a entrar na fase mais decadente da vida. De alguma forma, podemos nos identificar com a tristeza de Rick Dalton, e podemos ver também a face real de Hollywood. Nota: 7
  14. A franquia "Velozes & Furiosos" se expandiu de tal forma que, poderíamos prever até umas continuações envolvendo viagens espaciais, viagem no tempo e multiversos... e com carros munidos de inteligência artificial e questionamentos existenciais. Por ora, temos o derivado "Hobbs & Shaw" (2019), um filme de menor escala, e que se mostra bem sucedido na arte de colocar em seu caldeirão um pouco de 007, um tanto de Missão Impossível e... esteroides! A história é simples: O policial Luke Hobbs se junta ao fora da lei Deckard Shaw para combater um megalomaníaco terrorista, numa tentativa de eliminar um vírus que pode mudar o rumo da humanidade. Típica trama de espionagem moderna, recheada de perseguições, tiroteios e porrada, além de bons momentos cômicos – incluindo referências aos clichês do próprio gênero. O diretor David Leitch continua hábil na área da pancadaria estilizada – e muito bem colorizada -, para nos mostrar que certos elementos de “John Wick” e “Atômica” ainda seguem atuais... Dwayne Johnson e Jason Statham brilham como Hobbs e Shaw, com uma inesperada química à la “buddy cop versão brucutu”, e numa trama que também aborda questões familiares do passado dos seus protagonistas. E Idris Elba faz um vilão que transita bem entre a agressividade e a elegância. Já Vanessa Kirby, que faz a irmã de Shaw, não atinge grande destaque além da sua importante função na narrativa. De brinde, Helen Mirren e mais dois atores "misteriosos" (sem spoilers) fazem pontas engraçadíssimas, e nos deixam com um gosto de “quero mais”... A ação é de um deleite visual e sonoro que são superiores à maioria dos ‘blockbusters’ atuais, o que pode ser confirmado em duas hipnotizantes cenas de perseguição: uma nas ruas de Londres, e outra envolvendo caminhões e um helicóptero. A montagem também gera boa fluidez nas viagens realizadas pelos personagens. Por outro lado, a história fica um pouco “cansada” na segunda metade do filme, especialmente por ser de uma ação mais... “família”, digamos assim – outro exemplo de como uma classificação baixa pode cortar a liberdade artística de uma obra. Em “Velozes & Furiosos: Hobbs & Shaw”, podemos dizer que David Leitch conseguiu “tirar leite de pedra”, no sentido de trazer alguma elegância cinematográfica a uma trama que, não apenas é bastante batida, como também repete o caráter episódico e “leve” que se tornou obrigatório em filmes da marca “Velozes & Furiosos”. Temos aqui uma diversão acima da média, e que não deixa de ser um dos melhores e mais bem dirigidos filmes dessa longa e irregular franquia. Hobbs e Shaw estão bem desenvolvidos agora, e prontos para novas aventuras em dupla. Nota: 7
  15. Uma das formas mais depreciativas de se referir aos filmes de super-heróis do grandioso “Universo Cinematográfico Marvel” (‘MCU’) é no uso de argumentos como “filme episódico demais” ou “apenas um trailer para o capítulo seguinte”... palavras essas que foram caladas temporariamente após o fenômeno de “Vingadores – Ultimato”. Porém, por mais que tentemos evitar os argumentos supracitados, eles voltam à tona – para o bem e para o mal – quando falamos sobre o 23º filme da franquia: “Homem-Aranha - Longe de Casa” (2019). Essa nova aventura se passa em uma viagem escolar pela Europa, onde o Homem-Aranha é convocado por Nick Fury, juntamente com o enigmático Mysterio, para lidar com os vilões chamados de Elementais. Aqui, o diretor Jon Watts não se distancia muito da aura leve e despretensiosa da aventura solo anterior do aracnídeo, e entrega uma narrativa ágil, mais intensa na comédia, e que ainda investe em questões sobre amadurecimento e responsabilidade (#SddsTioBen), além de algumas sutilezas relacionadas a famílias e afins... As surpresas ficam por conta dos intrigantes jogos de ilusão proporcionados pelo Mysterio, que é um personagem multidimensional muito bem incorporado por Jake Gyllenhaal... embora previsível quanto à principal reviravolta do seu arco. Já o Peter Parker de Tom Holland continua com aquelas dúvidas e inquietações adolescentes de sempre, além de finalmente estabelecer uma química bastante peculiar com a MJ (Zendaya). E os outros personagens, em sua maioria, se alternam entre a acertada utilidade no roteiro e o mero alívio cômico. A ação é de um deleite para os olhos e ouvidos em sua parte técnica, mas não gera um real senso de perigo, possivelmente por causa do próprio enfoque de Watts em fazer deste um mero “filme ensolarado para as férias”. E, por mais bacana que seja a interação de Parker com mentores diferentes ao longo da narrativa (de Fury a Happy Hogan), é um pouco decepcionante constatar que sua evolução ocorre a passos lentos - e não à toa, o antigo mentor Tony Stark ainda é bastante citado. Seja como for, “Homem-Aranha - Longe de Casa” é um filme divertido, moderno e “retrô” ao mesmo tempo, e que une bem a ação, comédia e romance adolescente. Tudo bem que as duas inspiradas cenas pós-créditos acabam sendo mais memoráveis do que momentos isolados do filme em si, mas o fato é que a “fórmula MCU” ainda traz pequenas surpresas e gostinhos de “quero mais” em meio a elementos já utilizados à exaustão. Algumas vezes, só precisamos ser devidamente iludidos, seja nas mãos do Mysterio ou nas mãos de Kevin Feige e companhia... Nota: 7
  16. O enorme sucesso dos dois filmes de “Invocação do Mal” foi mais do que o bastante para que se estabelecesse um “universo expandido” dessa saga de suspense, a qual conta agora com a recém finalizada (será?) trilogia de Annabelle, a demoníaca boneca que já havia conquistado aquele pequeno capiroto que existe dentro de todos nós. Porém, esse “Annabelle 3: De Volta Para Casa” (2019) empalidece e cai no genérico, se comparado em especial ao segundo filme do seu próprio segmento... Cronologicamente, a história começa após o primeiro “Invocação”, quando os demonologistas Ed Warren (Patrick Wilson) e Lorraine Warren (Vera Farmiga) tentam manter a boneca Annabelle trancada em seu porão... até que um grupo de jovens acaba liberando sua maldição mais uma vez. De novidade, temos novos espíritos que nenhum de nós pediu (mais filmes derivados em vista?), e que não assustam tanto quanto os já apresentados anteriormente. E o casal, ironicamente, sai de cena bem antes de a história começar a ficar medíocre... O diretor Gary Dauberman inicia a narrativa de forma acertada em seu diferencial, com um tom sutil e quase intimista, em que somos gradativamente apresentados às jovens que são as verdadeiras protagonistas da vez: Judy Warren (Mckenna Grace), Mary Ellen (Madison Iseman) e Katie Sarife (Daniela Rios). Além de serem personagens divertidas, elas são o ponto central da união entre o velho suspense de “casa assombrada” e questões sobre amadurecimento durante uma situação de terror claustrofóbico. Porém, a partir de determinado momento, Dauberman começa a “empilhar” suas ininterruptas sequências de terror, algo que não apenas muda o tom do filme, como também consegue transformá-lo num barulhento circo – e sim, esse “espetáculo” provoca risos, em meio a uns sustos bem bacanas. Há certa habilidade técnica do diretor, como em algumas empolgantes cenas que usam bons jogos de reflexo ou iluminação. Mas, seus acertos não tiram o nosso desprazer de ver até as protagonistas tomando algumas decisões previsíveis e estúpidas... Com erros e acertos, “Annabelle 3: De Volta Para Casa” não é um filme ruim... tampouco bom. Ainda existe apreço dos produtores pelo suspense que destaca o elemento humano, logo esse “universo invocado” ainda não está totalmente gasto. Mesmo assim, há uma pergunta esperta que foi colocada aos Warren no início desse filme: “será que não é melhor destruir a boneca de uma vez?”. E a resposta deles diz tudo sobre a demanda comercial que ainda existe por essa franquia: “se destruir, o efeito é pior”. Pois então, a “Invocação da Grana” continua... Nota: 5
  17. Em 1997, fomos presenteados com o primeiro “Homens de Preto”, uma surpreendente mistura de ficção científica, investigação e comédia, e que ainda trazia um peculiar subtexto sobre a possibilidade de termos milhares de seres alienígenas disfarçados entre nós - algo que ainda dialoga com a esquisitice cômica que nós mesmos podemos apresentar como terráqueos. Após duas sequências, temos agora “MIB: Homens de Preto - Internacional” (2019), uma obra que renova a equipe e as ambientações, mas perde boa parte do charme sarcástico da franquia. A história amplia a agência secreta ‘MIB’ a nível internacional, sendo que agora o foco é a sua sede londrina. A nova agente M (Tessa Thompson) se junta ao H (Chris Hemsworth), e a dupla tenta descobrir um complô alienígena que envolve um traidor da própria organização. Ao longo da narrativa, eles são orientados pela agente O (Emma Thompson) e High T (Liam Neeson). O diretor F. Gary Gray deve ter pensado, erroneamente, que seria uma boa ideia se direcionar apenas ao caráter investigativo - que funciona razoavelmente -, sem usar a ironia do primeiro filme, aquela que à época fez o espectador refletir até sobre a ignorância e a arrogância que possuímos sem nos dar conta de que somos meros “pontinhos” num vastíssimo universo... De toda forma, a gama de alienígenas adoravelmente exagerados ainda pode encher nossos olhos - em especial o simpático Pawny, que parece ter vindo da Pixar -, à medida que alguns personagens terráqueos também possuem suas qualidades: Tessa Thompson confere um real senso de encantamento como novata daquela agência, e Chris Hemsworth consegue ser divertido na composição de um agente que se alterna entre o habilidoso e o quase pastelão. Emma Thompson e Liam Neeson também possuem seus brilhos próprios. Por outro lado, Rebecca Ferguson faz uma alienígena que parece um tanto indefinida na história. A ação e as pequenas reviravoltas são "ok". Já a diversidade de locações parece servir apenas para nos trazer uma pitada de “Missão Impossível” para a franquia ‘MIB’... isso é, algo diferente e com algum frescor visual, porém sem real fluidez narrativa. E os vilões são tão “memoráveis” que podemos esquecer das suas presenças e motivações logo após a sessão... “Homens de Preto - Internacional” é uma tentativa irregular de ampliar o universo ‘MIB’, e que ainda desperdiça a potencial ideia de criar entrelaces efetivos com a realidade terráquea de 2019. No fim, ele não consegue ser mais do que um rasteiro e “engraçadinho” filme episódico, do tipo que até pode ser esquecido sem necessidade de que os divertidos agentes M e H utilizem um ‘neuralizador’ para apagar nossas memórias... A propósito, de qual filme falávamos mesmo? Nota: 5
  18. Cinebiografias de músicos famosos costumam seguir uma espécie de roteiro padronizado, visto que a maioria das histórias reais envolve os atos da ascensão, queda e redenção do artista. “Rocketman” (2019), filme sobre o cantor britânico Elton John, não é diferente... mas uma coisa é certa: a obra segue suas próprias regras narrativas, e nos brinda com um bem-vindo diferencial em um segmento cinematográfico que sempre trouxe irregularidades - mesmo após o recente sucesso de um discutível filme sobre uma certa banda... Ao invés de um mero drama com passagens “burocráticas”, o diretor Dexter Fletcher entrega aqui um quase legítimo musical, no qual as letras, ritmos e melodias das icônicas canções de Elton John conseguem expor boa parte da história e do emocional do protagonista. Essa hipnótica metalinguagem - que às vezes beira o surreal e onírico - resulta numa experiência sensorial que nos faz esquecer de problematizar aquelas pequenas inconsistências históricas e cronológicas que nunca deixarão de existir no cinema “baseado em fatos reais”. De toda forma, o elemento humano é o principal aqui, primeiramente pelo fato de Taron Egerton fazer uma atuação sensacional como Elton John! O jovem ator traz o pacote completo: as demonstrações de talento quase sobrenatural do cantor/pianista, o seu carisma incomum, os momentos de carência (ou pura babaquice), a homossexualidade sem pudores, e o ‘mix’ de pompa e glamour que o artista praticamente injetou em suas próprias veias – juntamente com as drogas - quando se reinventou para adentrar o ‘showbusiness’. Felizmente, os outros personagens não ficam apenas gravitando em torno do protagonista. Jamie Bell faz o compositor Bernie Taupin com uma profundidade que nos leva a acreditar de verdade na amizade e química musical que existiu entre os dois. Bryce Dallas Howard também possui seus momentos como a ambígua e imprevisível mãe de Elton – e podem ter certeza de que há uma surpreendente fuga do clichê na forma como o arco familiar do cantor é finalizado. Apesar de alguns excessos caricatos aqui e ali, “Rocketman” é uma envolvente profusão de canções bem utilizadas, cores e figurinos autoexplicativos, drama comovente, irreverência pitoresca, e... enfim, legítimas cafonices “eltonjonianas”. Muito além da sua capacidade imersiva, o filme mantém a humanidade no centro do palco, e prova que podemos nos reinventar da forma que quisermos, desde que consigamos nos calibrar ao longo da nossa jornada de crescimento e amadurecimento. Sejamos fabulosos “foguetes” como Elton John! Nota: 9
  19. Quais são os três principais valores da vida? A franquia cinematográfica John Wick nos dá a resposta: porrada, tiroteio e perseguições! O gênero de ação andava carente de filmes com um apreço maior a sutilezas narrativas, produção elegante, e uma coragem de abraçar a própria essência sem grandes pretensões em seus subtextos. Felizmente, o diretor Chad Stahelski entregou em seu “John Wick 3: Parabellum” (2019) um nível de qualidade não muito distante dos dois filmes que o antecedem... A história continua do ponto em que o segundo filme havia terminado... e agora o grande assassino de aluguel John Wick (Keanu Reeves) precisa se salvar após sua cabeça ser posta a prêmio. Temos também a introdução da “Alta Cúpula”, que é responsável por manter um senso de ordem e controle em cima de todos os nossos queridos fora da lei... Como se pode deduzir, este terceiro filme ainda fala sobre regras e leis que devem ser levadas às últimas consequências. O pequeno diferencial está na lição “Se você quer paz, se prepare para a guerra”, algo que guia a motivação do nosso protagonista por caminhos diferenciados. Ao longo dessa jornada, somos brindados com “danças” de ação frenéticas e eletrizantes, das quais eu destaco a criativa - e quase cômica - luta envolvendo diversos objetos cortantes, e o apoteótico confronto em belíssimas áreas internas do Hotel Continental... Além do brilhantismo de Keanu Reeves na composição de um protagonista “bruto, mas com alguma sensibilidade”, temos vários outros personagens interessantes: o imprevisível Winston (Ian McShane), a multifacetada Sofia (Halle Berry), o hipnótico Rei Sombrio (Laurence Fishburne), o carismático Zero (Mark Dacascos) e uma misteriosa e sistemática vilã (Asia Kate Dillon). Stahelski é habilidoso em extrair o melhor de cada ator, além de fornecer alguma importância narrativa para personagens que, em sua maioria, possuem pouco tempo em tela. A única falha fica por conta da necessidade de deixar pontas soltas para mais continuações desse pequeno grande universo (“Wickverso”?), de tal forma que o último ato acaba trazendo os primeiros sinais de possível cansaço e previsibilidade para a saga. Seja como for, “Parabellum” é um filme que mantém a escala do segundo exemplar, além de nos lembrar dos clássicos heróis “silenciosos” (Steve McQueen, Charles Bronson, entre outros) e do cinema oriental de ação. Chad Stahelski se mostra plenamente capaz de nos entreter com suas cores fortes, e com planos que nos deixam a par de cada detalhe visual e sonoro. E o melhor de tudo: podemos perceber que cinema de gênero também é arte. Aguardemos pelos próximos “tiros e porradas” que fazem nossa vida ter algum sentido... Nota: 8
  20. Shazam é a consolidação da "Fórmula Marvel na DC", com bastante leveza, coração, e humor na medida certa...e sem perder o toque humano e "profundo" dos seus personagens. Filme para assistir se sentindo um adolescente que se encanta fácil com uma bela obra de "sessão da tarde"... A quem interessar, segue minha crítica curta e direta (sem spoilers, e com uma breve homenagem ao Pablo Villaça): https://www.youtube.com/watch?v=IyxvPGwjaik
  21. O filme sobre a banda Motley Crue (disponível na Netflix) é uma espécie de "Bohemian Rhapsody" para maiores de 18 anos, com mais deboche, sexo, drogas, e um senso de anarquismo que mostra o diferencial que esses quatro desajustados tinham em meio ao sempre decadente hard rock "farofa" dos anos 80... Ainda que falte um maior enfoque na música, essa é uma obra que tem comédia e drama na medida certa. A quem interessar, segue minha crítica curta e direta (sem spoilers): https://www.youtube.com/watch?v=Mi5pyio7vpo
  22. No filme "Nós" Jordan Peele acertou novamente! Ao invés de apenas repetir as mensagens e associações presentes em "Corra", ele eleva tudo a isso a um patamar ainda mais abrangente sobre a humanidade e suas questões sociais... E o terror em si é simplesmente espetacular, mesmo sob a ótica de "filme de gênero". A quem interessar, segue minha crítica curta e direta (sem spoilers): https://www.youtube.com/watch?v=UAQ-4zUHcu4
  23. Apesar de ser um tanto "oscar bait", temos aqui um filme baseado em fatos reais que é bem conduzido traz algumas ótimas atuações... Para quem já assistiu, o que acharam? Segue minha crítica curtinha e sem spoilers: https://www.youtube.com/watch?v=W3o1vZs-2CQ
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