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Forum Cinema em Cena

SergioB.

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Everything posted by SergioB.

  1. 384) "N`aum vou nem falar nada!!!" Muitos anos sem ver essa coisa foderosa chamada "Antes do Amanhecer". Nem precisava revê-lo por que desde a primeira vez que o vi, ou melhor, fui apresentado a ele, o filme ficou INTEIRO em mim. Lembro-me de ficar com as frases gravadas na cabeça, do tipo, andar na rua, indo para a academia, repetindo-as. E depois, alguns anos depois, vivi algo exatamente assim! Já contei aqui que conheci o amor-da-minha-vida (essa entidade na vida das pessoas) numa viagem, numa estação, ambos com livros na mão (assim como os personagens do filme)...Uma situação superromântica também, e que, hoje entendo, trouxe-me inesperadamente consequências bem ruins para o restante da minha vida, pois inadvertidamente associei a chegada do amor ao poder do "Acaso". Então isso significou para a minha mente que eu nunca me interessaria por algo "planejado", "preparado", ou que jamais poderia encontrar (como nunca encontrei) o amor em uma situação de rotina, cotidiana. De fato, o amor só se instala para mim como um raio vindo do nada. Uma forma - eu sei - pubescente de pensar, de estar no mundo. Não à toa, esse primeiro filme da Trilogia dialoga fundo comigo. Como cinema, é um banho de Rohmer, com essa característica da transição de planos ser uma transição espacial. Muitos diálogos, quase avessos à escritura. É dizer: Uma conversa de verdade não pode ser escrita. Os atores, Ethan Hawke e Julie Delpy, charmosíssimos, lindíssimos, inspiradíssimos, compreendem à perfeição isso, tanto que nos filmes futuros, tornam-se eles mesmos coroteiristas. A frase que eu mais gosto no entanto é o verso vendido pelo poeta: "Conheça meus pensamentos/ não mais os adivinhe". Lindo de marré deci. Ao final, quando os amantes se despedem, vemos imagens dos lugares vazios por onde eles estiveram em Viena. Me veio hoje à cabeça o muito semelhante final de "O Eclipse" de Antonioni. Grande, Linklater! Por curiosidade, "Antes do Amanhecer" foi inspirado em um acontecimento real com o diretor. Ele de fato conheceu uma garota em uma viagem e passou uma noite romântica com ela. Infelizmente, ela veio a falecer num acidente de moto, poucas semanas antes dele começar a filmagem deste filme. Mas que bom que o Linklater o filmou no último momento possível, 1995, pré-Internet, pré-redes sociais, quando, poucos anos depois, seria já inconcebível para dois jovens não se falarem de novo, se assim o quisessem. Apesar do Urso de Prata em Berlim, um filme pouco premiado à época, não obstante sua importância futura: A primeira etapa de uma das Trilogias mais amadas do cinema. Maravilhoso!
  2. 383) Fiz burrada, e comecei a conhecer a filmografia do português Pedro Costa de trás para a frente. O que não é bom. Pois há uma sequência de trabalho, e estou tendo que fazer um processo de engenharia reversa. Comecei por "Vitalina Varela", e me imiscui hoje em "Cavalo Dinheiro", um dos filmes mais elogiados da década passada. É impressionante como gramática de cinema. Mas meio chato. Impressionante. Mas meio chato. Mas, realmente, impressionante. A fotografia é um breu; uma composição expressionista, cheia de sombras, que combinam com o pesado tema do filme. Tema que...não é fácil para a gente...É sobre a descolonização de Cabo Verde. Tipo, não sou escolado no assunto; quem no mundo o é? Mas os próprios atores ficcionalizam suas histórias, o que eles viram, então há um ganho de simpatia. Contam sua migração para Portugal, sua má recepção social, a destruição de seu bairro por lá, a destruição de suas casas na ilha. "Cavalo Dinheiro" por que o cavalo do protagonista tinha esse nome, "Dinheiro", e foi "rasgado" pelos abutres, quando deixado na ilha. Assim conta a Varela, sua amiga - adivinhem? - Vitalina Varela - a protagonista do filme seguinte. Neste filme, ela já conta sua história de ter sido abandonada na ilha pelo marido migrante, que morre em Portugal, sem nunca retornar. Numa cena brilhante, ela lê a certidão de óbito, como se lesse um jornal. Bem concretamente. É uma atriz nata essa mulher. O filme tem uma longuíssima cena final passada em um elevador, que é reverenciada pelos estudiosos de cinema mundo afora. O protagonista, doente, com Parkinson, com quase imutabilidade facial, vagareza de expressões, não mais distingue passado e presente, e imagina um diálogo com a estátua viva de um soldado antirrevolução, AntiCravista. Um filme muito difícil. Impressionante. Chato. Impressionante.
  3. 382) Gente... BENEDICT CUMBERBATCH!!!! Na madruga, vi um dos melhores filmes do ano, e aposta maior da Netflix ao Oscar 2022, "The Power of the Dog"/ "Ataque dos Cães". Um trabalho sensacional da Jane Campion, que entrega um faroeste intimista mórbido! Superclimático! Já adianto, todavia, o meu maior problema com o filme, e que eu acho que será seu maior empecilho na corrida de prêmios e junto ao grande público: Seu final pouco "nítido". Quer dizer, é só ter dois pares de neurônios que tudo se resolve, mas...poderia ter um sinal de clareza a mais. Fotografia excelente de Ari Wegner, que deve ser a única mulher indicada ao Oscar na categoria, a meu ver; Trilha sonora lindíssima do Jonny Greenwood ( que lutará contra si mesmo, em seus 3 trabalhos no ano); Design foda do oscarizado compatriota de Jane, Grant Major; mas o que eu mais gostei mesmo foi da atuação espetacular do Benedict Cumberbatch. Sempre disse aqui que o achava apenas bonzinho, só valorizando demais seu trabalho de voz como "Smaug" nos dois filmes, mas neste trabalho ele me ganhou. Seu personagem é uma serpente! Sempre perigoso, lascivo, evitativo. Fantástico! Mas para mim a cena mais fantástica do longa é sua (não aparecem detalhes, fiquem calmos...) cena de masturbação à beira do rio...Um trabalho de composição visual de extrema sensibilidade. Deve concorrer ao Oscar, certamente. Gostei muito dos noivos na vida real Kirsten Dunst e do Jesse Plemons, mas seus personagens, em certo momento, vão numa toada menor. O jovem australiano Kodi Smit-McPhee está cotado até para ganhar o Oscar de Ator Coadjuvante, o que seria muito raro, seria o mais jovem desde Timothy Hutton, na categoria. Na real, os três deveriam ser indicados. Um filmaço da Jane Campion, com muitas ligações com "O Piano", desde a presença do instrumento musical, mas certamente por seu clima de solidão em uma região semieducada, semipovoada, preconceituosa. Algumas características de seu cinema, por mim percebidas na minimaratona que fiz, como a presença de pares (amigas, irmãs, aqui, irmãos), nudez dos protagonistas, intimidade via natureza, repetem-se aqui, em outro diapasão. (É maravilhoso a mãe ganhar luvas de presente!) Amei! Meu ranking Jane Campion, portanto, altera-se: 1) "O Piano"; 2) "Ataque dos Cães"; 3) "Um Anjo em Minha Mesa"; 4) "Brigth Star"; 5) "2 Friends"
  4. 381) Fechando a Trilogia maior do mítico personagem, "Encarnação do Demônio", de 2008, coloca Zé do Caixão fora do cárcere 40 anos depois ( poeticamente, do semiesquecimento nacional?), diretamente para a periferia de São Paulo, estranhando a degradação urbana, entre jovens fumando crack, milícia tomando conta da quebrada, e policiais linchadores, e, não sei por quê, bastante religiosos. Filme de cinema de Terror marginal, bem feitinho, honestão, com ótimas ideias, e aquele elenco de coadjuvantes canhestros combinado com grandes veteranos da cinefilia nacional, como Helena Ignez, Jece Valadão (que morreu durante a filmagem), e Rui Rezende. Outro valor do filme é conseguir incorporar cenas dos dois primeiros filmes, a obra-prima "À Meia Noite Levarei Sua Alma" de 1964, e "Esta Noite Encarnei no Teu Cadáver" de 1967, filme que teve um final muito prejudicado pela censura - Neste, ele o corrije, o redime. Redime também a sua voz, pela primeira vez não sendo dublado. Como ateu, pra mim é especialmente interessante como ele conseguiu criar uma obra que critica o misticismo popular e ao mesmo tempo as religiões instituídas. "Nada teme a mente que não acredita em nada"; "A Trindade contra o Tridente"; em um momento dá a entender que o personagem chama imagens sacras de "bonecos". Só um personagem inclassificável assim pode ter a licença popular para tocar nesses assuntos, sem causar muitas revoltas ou indignação. Zé do Caixão, vale acrescentar, que está em alta no mundo pop americano, virando filme, por exemplo, pelas mãos de Elijah Wood. Meu apreço à inteligência de José Mojica Marins, morto em 2020.
  5. 380) "Ferida", de 2020, adquirido pela Netflix neste ano, tem direção e protagonismo de Halle Berry, a contar pela centésima vez a história de redenção pessoal de um lutador profissional. Aqui, uma lutadora de MMA. O filme é uma centopeia de clichês! Não há absolutamente nada de novo em termos de enredo. E em termos de composição narrativa, tipo, o manjado esconderijo de álcool em produto de limpeza, abaixo da pia. Mas o clichê tem algo de verdadeiro em sua essência. Torna o filme previsível, mas também reconhecível. Aposto que muita gente com gosto cinematográfico menos exigente vai gostar. Dificilmente eu detono um filme, então elogiarei duas coisas. Primeiro, a atriz ugandense Sheila Atim, que tem uma presença poderosa em cena. Quero ver mais trabalhos dela! Gostei muito de sua interpretação. E, segundo, o esforço físico da Halle Berry, aos 55 anos, entregar um filme assim. Mesmo que a enorme cena de luta, no final, não seja tão bem realizada, com som e montagem protegendo demais a atriz, deve ter sido, no mínimo, cansativa a preparação para o papel. Eu, sem malhar há quase dois anos, não conseguiria.
  6. 379) "N`aum vou nem falar nada!!" Premiado com a láurea de Melhor Roteiro em Cannes, 2013, " Um Toque de Pecado", de Jia Zhangke, é quase uma aula a filmes odiosos como "Babel", que tentam reunir histórias múltiplas com paralelismos falsos de causa e efeito, para ir por um outro caminho, num caminho de hyperlink, em que todas as histórias diferentes "pertencem" a algo muito maior, à história econômica-social de sua época. Aqui, quatro histórias, situadas em quatro regiões distintas da China - fechando em Pequim - , para falar da transformação econômica do país, mas numa acepção de violência. Ao mudar a cultura, o dinheiro desperta fissuras sociais. Tanto é verdade, que as histórias são baseadas em fatos. O filme abre com um homem sozinho de meia-idade que está cansado de ver a corrupção grassar na sua cidade, sitiada em uma província de mineração de carvão. Tem um dia de fúria, e mata a todos àqueles que julga enriquecerem com os lucros, que não mais dividem com os demais. Não há mais a lógica da distribuição socialista. Revolta-se, no limite, com o a desigualdade ou com a lógica do "cada um por si". A segunda história foi a que eu menos gostei e entendi: um matador de aluguel, que decide passar o fim de ano com seu filho. Curiosamente, tem ele mais medo do celular, do que de uma arma de fogo ( Medo da tecnologia, pois não está qualificado!), a qual usa somente como meio de trabalho. Não há "vingança" social. Para ele, trata-se apenas de um objeto neutro. A terceira história é protagonzada pela musa Zhao Tao, que está sublime como uma recepcionista de uma sauna, que tem um caso com um homem casado, e é acossada por clientes ricos. Em uma cena soberba, será humilhada por esse cara, que lhe dará uma surra - surra mesmo - utilizando um pesado maço de dinheiro, como uma saraivada de tapas na cara. A grana humilha! A quarta história é excelente, um jovem que vai passando por vários empregos ruins, até parar em um resort de fantasias sexuais, até que não aguenta, e - spoiler - se suicida. Todas as quatro histórias são maravilhosamente bem dirigidas, com muita consciência "seca" de cada plano, com detalhes incríveis, como a substituição de uma estátua de Mao por uma santa cristã, ou a boina do matador levar a estampa do Chicago Bulls, ou em cada história vermos uma ponte gigantesca mostrando a pujança das urbes na China... Para mim não há nenhuma dúvida de quem é o melhor diretor do mundo. Tendo visto todos os filmes dele, meu ranking Jia Zhanke é assim: 1) "O Mundo"; 2) "Em Busca da Vida"; 3) "Amor até as Cinzas"; 4) "Prazeres Desconhecidos"; 5) "Plataforma"
  7. 378) Este é o filme ruim da temporada? Nossa, eu gostei muito de "Stillwater", novo filme do Tom McCarthy. As críticas rodaram em torno do filme ser "monótono", ou de que ele não consegue se decidir em ser um thriller ou um estudo de personagem. Eu refuto as duas. O filme é meio longo, sim, 2h18min, mas todos os filmes dele, como os excelentes "O Visitante" e o vencedor do Oscar, "Spotlight", têm uma cadência vagarosa, sim, mas é tudo tão bem dirigido, e com aquela direção invisível maravilhosa própria dos trabalhos dele, que eu nem notei o tempo passar. Quanto aos gêneros, realmente, não é um thriller investigativo tradicional. Vem junto, anexado mesmo, uma pensata muito importante sobre o modo de vida trumpista dos "rednecks" versus o modo de vida europeizado contemporâneo, sobretudo no campo da justiça pessoal. Na cena que define o filme, passada em um porão, meu queixo quase caiu. Sinal que a construção da história foi bem-feita. Matt Damon está ótimo, Abigail Breslin também, mas quem deu show foi a atriz francesa Camille Cottin (que está em "House of Gucci" também). Ótima a trilha do canadense Mychael Danna, oscarizado por "A Vida de Pi". O filme é levemente inspirada no caso de Amanda Knox, quer tem acusado o filme de querer lucrar com sua história. Mas, sem razão, tudo foi mudado, os nomes, o local (Itália, pela França),e o final...A meu ver, ela acusa o filme injustamente, assim como ela foi acusada injustamente. Vai entender... Gostei bastante.
  8. 377) Creio que cabe um "N`um vou nem falar nada!!" para "Pavor na Cidade dos Zumbis" ou melhor "City of the Living Dead", de 1980, do italiano Lucio Fulci, considerado o "poeta do Gore", então: "N`um vou nem falar nada!!". Afinal, a expressão "cena inesquecível", tantas vezes repetida, nesta produção cabe ao pé da letra. A chuva de larvas - larvas de verdade! - fala por todas. Não dá pra esquecer! A cena dos namorados no carro...Inesquecível! Fica pra sempre na memória mesmo. O que dá pra esquecer é da trama, um fiapo, uma nesga sem aprofundamento: Um padre que se enforca no cemitério de uma cidade construída sob as ruínas de Salem, despertando assim os mortos. O interessante é que 99 em cada 100 roteiristas iriam buscar explicações prévias na vida do padre, em sua psicologia, ou conflitos pessoais. Este caminho é simplesmente descartado. Não interessa. O filme goza de uma simplicidade. Desperta medo pelo som: pios de coruja, uivos do vento, ranger de portas, vidros rachando-se, gritos, lamúrias, soluços...Maravilhoso isso. Desperta medo pelo sangue, pela bílis, pelo rosto céreo dos cadáveres, pela gosma das entranhas. O terror aqui não é "básico", é basilar.
  9. 376) Eu já vi esse filme antes, chama-se "Repulsa ao Sexo", de Roman Polanski. O próprio diretor Edgar Wright assume a influência. Mas digamos que é influência demais... Até seus 50minutos, é quase uma atualização. Sendo sincero, não sou muito fã desse filme celebrado do Polanski, feito em sua passagem pela Inglaterra. Acho que tem "sustinhos" demais, igualmente este "Noite Passada em Soho", sendo que o que há de mais interessante, a meu ver, das duas histórias - da mesma história - é a abordagem da questão sexual. Tanto a personagem de Catherine Deneuve, quanto a da ótima Thomasin McKenzie, sofrem abordagens masculinas o tempo todo, não sabendo lidar, por imaturidade, por inexperiência, com essa questão de ser alvo sexual, mesmo as de cunho mais romântico. Nos dois filmes, as duas protagonistas têm pouco contato com suas colegas de mesma idade, e neste há inclusive uma frase em que as outras jovens questionam até se ela é virgem. E deve ser! Logo no início de "Noite Passada em Soho" , a protagonista já é assediada pelo taxista, deixando claro a problemática do assédio constante, reiterado. Com certeza, a importunação sexual à uma menina mais recatada mexe com a cabeça, sim. Porém, isso seria substância demais para o filme. Que, como falei, preferiu se socorrer na estética, ou nos "sustinhos", como falei. Esperava mais do Edgar Wright. Figurinos excelentes, da britânica Odile Dicks-Mireaux, que deve ser a única esperança de concorrer a prêmios do filme. Fotografia do sul-coreano Chung-hoon Chung, realmente uma estrela em ascensão. Último filme de Diana Rigg. Que pena! Que talento! Foi muito bonita também, diga-se de passagem. Mas sempre lembrarei dela pela sua fabulosa atuação em "O Hospital", pelo qual deveria ter concorrido ao Oscar.
  10. 375) Qualé, vou sair de moto à toda erguendo o dedo do meio pra você! Risos As piadas, como essa, funcionaram bem comigo. Muito, acredito, pela ótima dublagem da criatura alienígena. Adorei de verdade os primeiros trinta minutos, com aquela discussão de relacionamento, já que o filme é um caso extremo de "viver junto". Achei que o Tom Hardy mandou muito bem, pois se você for pensar bem, ele atua na verdade como "escada". Por outro lado, tem que se tomar cuidado com o excesso de piadas, em todo e qualquer momento, pois isso tem um quê infantilizador. Dito isso, a trama é muito pobre, de um caderno de rascunho, podia ter mais ambição... O final é que é dose, concordo totalmente com você. Mas por outra razão. Não aguento mais essas batalhas apoteóticas, hiperbarulhentas, de 15 minutos. Era de se esperar em um filme da Marvel, mas meu cérebro desliga nessas horas. Estou velho. Nem acho mais legal. A cená pós-crédito é excelente. Vem aí o encontro tão esperado, a razão original do personagem existir.
  11. 375) Qualé, vou sair de moto à toda erguendo o dedo do meio pra você! Risos As piadas, como essa, funcionaram bem comigo. Muito, acredito, pela ótima dublagem da criatura alienígena. Adorei de verdade os primeiros trinta minutos, com aquela discussão de relacionamento, já que o filme é um caso extremo de "viver junto". Achei que o Tom Hardy mandou muito bem, pois se você for pensar bem, ele atua na verdade como "escada". Por outro lado, tem que se tomar cuidado com o excesso de piadas, em todo e qualquer momento, pois isso tem um quê infantilizador. Dito isso, a trama é muito pobre, de um caderno de rascunho, podia ter mais ambição... O final é que é dose, concordo totalmente com você. Mas por outra razão. Não aguento mais essas batalhas apoteóticas, hiperbarulhentas, de 15 minutos. Era de se esperar em um filme da Marvel, mas meu cérebro desliga nessas horas. Estou velho. Nem acho mais legal. A cená pós-crédito é excelente. Vem aí o encontro tão esperado, a razão original do personagem existir.
  12. 374) Na madrugada, "A Última Floresta", documentário de Luiz Bolognesi deste 2021. Urgentíssimo enquanto tema; absolutamente necessário no país em que um ex-Ministro do Meio Ambiente (pasmem!) desejava aproveitar o momento de pandemia para "passar a boiada", e com dirigentes que criticam a apreensão e destruição do material de garimpeiros ilegais - coitados! Quanto a importância, não de discute. Tenho é um problema como o rítmo dos filmes do Bolognesi; um tempo interno que privilegia uns momentos tediosos, e descarta rápido demais os bons. É meio chato. A verdade é essa. Creio que a maioria reclamará de outro aspecto: Trata-se de um documentário com momentos ficcionalizados; é dizer, com os índios atuando (mal), para contar, por exemplo, o mito da criação dos Yanomami. Nada contra borrar os limites entre Ficção e Documentário, mas "Ex-Pajé", que também é meio assim, funciona melhor. As imagens da Floresta são belíssimas. Desconhecemos totalmente o nosso país, o nosso povo.
  13. 373) Primeiro longa-metragem do diretor Werner Herzog, "Sinais de Vida", de 1968, é, grosso modo, um "O Deserto dos Tártaros", ao modo alemão. O maravilhoso livro do italiano Dino Buzzati é de 1940, então creio que o paralelo com o filme não é indevido. Durante um cessar-fogo na Segunda-Guerra, um grupo composto por um três soldados feridos e a mulher de um deles, uma enfermeira grega, ficará responsável pela guarda de um forte em ruínas na Grécia. Não têm eles nada para fazer, então inventam ações como vasculhar o terreno, pintar portas, hipnotizar galinhas, e capturar baratas (numa cena bem metafórica, sobre o instinto de atacar os mais frágeis que lhes suscitam nojo). A letargia aos poucos enlouquece um deles, que - numa cena- vislumbra quixotescamente uma planíce de moinhos de vento - e passa a ameaçar explodir o depósito de pólvora, o que levaria destruição a uma pequena vila portuária ao lado da guarnição. Ou seja, não é propriamente a guerra que enloquece o cara, mas a paz. Num jogo de opostos, a tranquilidade que o leva à loucura. Vi o filme por curiosidade, tentando, claro, perceber os elementos dominantes da carreira do diretor que já se apresentavam. Tem narração aqui, por exemplo. O soldado protagonista se chama "Stroszek", como na peça homônima que gerou o filme de 1977, por exemplo. Mas o principal é essa questão da mente do homem entrando em parafusos em face da natureza, explorada em vários filmes do alemão, por todos, "Aguirre, a Coléra dos Deuses". Não gostei muito. Mas valeu a pena conhecer.
  14. 372) Vejo tanto filme antigo, que alguns recentes, que também me interessam, acabam passando batido. Foi assim com esse "A Sombra de Stalin", de 2019, da polonesa Agnieszka Holland. Assistido finalmente agora na Netflix (quem diria?) mas confesso que estou meio decepcionado. Esperava algo semelhante ao indicado ao Oscar "Na Escuridão". Não o é. Mas é bonzinho. No final melhora. Baseado em uma história real, a qual eu desconhecia totalmente, o filme segue os passos de um jornalista CDF, que trabalha como assessor internacional do governo inglês na década de 1930, e está muito assustado com uma possível guerra contra Hitler, ao mesmo tempo que está atento ao que se passa na Rússia de Stálin - que parece viver um boom econômico, mas aparentemente sem dinheiro para isso. Ele então decide ir até Moscou para investigar como está o país realmente, quando se depara com uma realidade desesperadora, de grande fome, no interior da Ucrânia. O regime comunista encobria o momento social trágico, bem como a matança civil. Conforme mostra o filme, suas descobertas serão fonte para o escritor George Orwell escrever seu "A Revolução dos Bichos", ou, no novo e ao pé da letra nome brazuca, "A Fazenda dos Animais". Mostra bem a loucura dos tais "planos quinquenais" - que uma professora que eu tive passava como uma ideia econômica muito boa e inovadora. Durante cinco anos, explorou-se o máximo da fértil terra negra, e da energia dos camponeses, que não ficavam com nada, não tinham o quê comer. Milhões de ucranianos foram mortos. Um filme que é um tapa na cara de todos os militantes do PCB, PSOL, PT, filhotes políticos do Socialismo e suas ideias empobrecedoras. Com tamanho potencial, infelizmente o filme não é muito bom. É meio truncado, sei lá. Quando o jornalista chega na Ucrânia, eu pensei, "agora o filme vai chutarbundas"...e....nada. Cenas muito pouco emocionais, ou drásticas. Tudo muito controlado. Elegante, mas frio. Faltou emoção. Parece que o filme evitou a todo custa ser um filme de trágédia de guerra para ser um filme sobre a importância do Jornalismo. Esperava um pouco mais. Mas foi bom conhecer essa história.
  15. 371) Tido muitas vezes como uma das obras-primas do cinema coreano, "Hanyo, a Empregada", ou, no inglês, "The Housemaid", é um filme de 1960, do diretor Kim Ki-young, que é influência clara e direta ao cinema de Chan-wook Park e Bong Joon-ho. Uma empregada sexy irá atanazar a vida dos patrões até não poder mais, levando-os à uma insana tragédia. É um thriller que mistura sexualidade, pensatas sociais, e reviravoltas de tom. Exatamente o que os mencionados diretores mais novos fazem com muito sucesso. São muitos momentos WTF?!? ao longo da história. Mas o finalzinho do filme os redime de sua aparente incongruência. É também um retrato machista de sua época, de sua sociedade oriental, pois o personagem do marido é tratado cheio de panos... À parte de toda a ousadia da trama - com direito a assassinato infantil - gostei de ver o retrato do aspecto social: a família de clásse média adquirindo seus eletrodomésticos, e ficando feliz com a chegada da televisão, assim como em "Bom Dia", de Ozu. Vi em cópia restaurada pela Fundação The Film Foudation, de Martin Scorsese, que preserva grandes filmes mundo afora, como por exemplo o já resenhado "Um Dia Quente de Verão".
  16. 370) Mais um domingo enfurnado em casa; o que faço para completar a sensação de morte em vida? Vejo a versão extensa de "Portal do Paraíso", com suas 3horas37min. Que filme detestável! Quilometricamente destestável! Na versão curta, de 2 horas e pouco, a interminável cena da graduação na faculdade, é cortada. Aqui, ela está no seu tamanho colossal, desnecessária, pois entendemos rápido sua crítica à elite sempre elogiar a si mesma como construtora do país. É assim em todas as cerimônias de faculdade brasileira também! Um autolisonjeamento infundado; pois, penso, na verdade, estamos é coletivamente afundando o país nos últimos 30 anos, sem crescimento. Mas divago... Tudo neste filme é bem bonito: Fotografia do Vilmos Zsigmond, Trilha, Design de Produção (e seus relatos de destruição à toa dos cenários, atrasando a filmagem), Figurino, centenas e centenas de figurantes... Tudo bem de acordo ao desejo megalomaníaco do diretor Michael Cimino - um "Nolan" daquela época, que levou à falência do estúdio, e deu, em termos históricos, um fim à Nova Hollywood e sua busca por um cinema de autor. O problema é que nada dessa grandiloquência funciona. Há vários personagens sem função (John Hurt, Jeff Bridges), o cerne do filme - o confronto histórico pela terra do estado do Wyoming - é mal dissecado, mal explicado. O confronto amoroso se sai melhor, graças a Isabelle Huppert e ao Christoffer Walken, porque o Kris Kristofferson quase acabou com o filme. Quase não. Acabou. O filme é tão enfadonho quanto a cara dele nesse filme. Claramente ele não entendeu o personagem: Um homem que só é melhor amorosamente quando vê um rival ser melhor do que ele. É uma experiência épica e detestável.
  17. 369) "Tick, Tick...Boom!", primeiro filme dirigido pelo multitalentoso Lin-Manuel Miranda, estreou na Netflix há poucos dias, e elevou o nome de Andrew Garfield a uma das vagas da categoria do Oscar de Melhor Ator no ano que vem. Ele está ótimo, realmente, completamente à vontade para explorar sua simpatia peculiar, de perfil doce (embora eu particularmente deseje vê-lo em um personagem mais soturno no futuro). Os primeiros trinta minutos do filme funcionam às mil maravilhas, ajudado por duas das melhores canções do filme inteiro. Do meio para o final, porém, acredito que "Tick, Tick...Boom!" se beneficiaria muito se se dessem uma boa "limpada". Há várias musiquinhas menos boas, que não acrescentam tanto à narrativa, que poderiam ter ficado de fora, bem como creio que a maioria dos momentos de - vou chamar assim - "narração", que se dão em um auditório, apartadas da dramaturgia mesma, poderiam ter sido cortados. Ou eliminados de todos. Fora isso, a história do compositor da Broadway Jonathan Larson é maravilhosa, muito inspiradora para quem trabalha com arte. E que ironia triste do destino foi o seu fim. O título, eu pensei depois, ganha até matizes sombrias, mórbidas, se pensarmos que ele morrreu por um "boom!", um aneurisma da aorta. A Montagem de Andrew Weisblum é muito boa, ele que foi indicado ao Oscar apenas uma vez por "Cisne Negro". Um trabalhão juntar tantas linhas de desenvolvimento. Como eu escrevi, achei esse um aspecto "sujo" do filme, mas não é culpa dele. Pelo contrário, ele que resolveu. Também chama a atenção o trabalho da Mixagem de Som, nas mãos do veterano Tod A. Maitland, tantas vezes indicado (a última por "Joker"), mas nunca ganhou seu Oscar. Ressalvados os problemas, gostei muito.
  18. 368) Pegando carona na obra-prima de dois anos antes "Uma Homem, Uma Mulher" de Claude Lelouch, "Um Lugar para os Amantes", de 1968, parece uma resposta italiana ao filme francês ganhador de dois Oscars. Marcello Mastroianni e uma belíssima Faye Dunaway são o casal vivido da vez, que se apaixonam perdidamente. Ele - Vejam só o paralelo com o personagem de Trintignant - é um engenheiro automobilístico, vivendo sempre nos testes de pistas de corrida; ela, uma americana divorciada; vão gozar a companhia um do outro nos alpes italianos, em Cortina D`Ampezzo, junto àquelas dolomitas maravilhosas. Quem não fica apaixonado num lugar desses? E se o filme francês tinha aquela trilha estupenda de Francis Lai, com direito ainda a um segmento enorme com Vinicius de Moraes, aqui a música-tema guia o filme a todos os momentos, na voz da maior de todas, Ella Fitzgerald, com a música-título "A Place for Lovers". Um fillme de Romance de Vittorio de Sica, sem aquelas trapalhadas cômicas de, sei lá, "Matrimônio à Italiana". Porém, como ponto negativo, é um filme sem história nenhuma. Só aos 30 minutos finais, o conflito do filme se estabelece. Muito prosaico e pouco cinematográfico. Porém, os dois atores são tão talentosos que conseguem, na base do charme, segurar este filme.
  19. 367) O diretor Alexandre Moratto recebeu o importante prêmio "Someone to Watch" no Spirit Awards há poucos anos com o seu primeiro filme "Sócrates", que eu não gostei muito por estar infestado de um "pobrismo" fácil. Mas "7 Prisioneiros", lançado recentemente pela Netflix, evita habilmente a ser rotulado como um "filme do PT". Trata de tráfico humano e trabalho escravo, mas com muitas nuances (que faltaram em "Sócrates"). Não cai no vitimismo social, podem ver tranquilamente! Eu até me surpreendi. Tem ação, tem debate, tem ambiguidade, e tem duas atuações excelentes, do Christian Malheiros (num bis com o diretor) e especialmente do Rodrigo Santoro (ele descobriu uma voz rascante e um jeito brega de posicionar o pescoço para a frente que me chamaram a atenção). Há uma surpresa no roteiro que elevou o filme a meu ver. Seria muito fácil trabalhá-lo como uma "jornada do herói" (odeio essa expressão!, mas vou usar), mas aqui a sociologia das relações foi mais prestigiada. Pois é mostrado o problema da escravidão trabalhista como um ciclo, uma perpetuação, pois incorporada no cotidiano das relaçoes. E também como um enfoque urbano contemporâneo. Gostei bastante. E creio que se fosse o representante brasileiro ao Oscar teria mais chance pela sua universalidade temática.
  20. 366) Espremido entre alguns filmes de gângster de Takeshi Kitano, surpreendentemente está esse filme de 1991 "O Mar Mais Silencioso Daquele Verão"/ "A Scene at the Sea". Um drama muito delicado, sobre um lixeiro surdo, namorado de uma garota muda, que encontra uma prancha quebrada, a conserta, e vai tentar aprender a surfar. O hobby vira sua principal paixão na vida, uma forma de se sentir especial. As deficiências dos personagens se somam à contemplação ambiental para um filme quase sem falas. O pouco que sabemos deles virá de pessoas ao redor, que nos informarão uma ou outra coisa. Mas o silêncio diz muita coisa também. Tipo, a exclusão deles ao encontrarem outros surfistas. Serão ridicularizados no começo, depois serão vistos com curiosidade, até se dar uma lenta aproximação com a comunidade, a ponto do cara resolver se inscrever e viajar com eles para um campeonatinho, durante o qual ele obviamente não ouve o chamado para entrar na água. É a exclusão social até nas regras do esporte. O filme é acompanhado por uma belíssima trilha sonora de Joe Hisaishi, parceiro habitual de Kitano e Miyazaki, dotando o filme de melancolia, inocência e beleza. A direção tem muitos planos "laterais", de mostrar a caminhada do cara com sua prancha, por exemplo, que rimam com o horizonte do mar, na constante observação das ondas. Ao final, dá-se o único grande acontecimento do filme propriamente. É bonito, mas está longe de entrar para os meus favoritos do diretor.
  21. 365) O gênero mais difícil, a biografia. Mas nas mãos do genial Ken Russell, a arte é certa. "Mahler, uma Paixão Violenta", de 1974, é sua visão sobre a vida do compositor tcheco-austríaco Gustav Mahler, com Robert Powell, no papel principal. Quando vejo filmes cujo o retratado não conheço bem, dou uma pesquisada antes, para ter meus olhos mais abertos à maquinaria da adaptação. Aqui foi fundamental, pois, ainda bem, não se cai no principal erro dos filmes biográficos, a ordem cronológica - influência herdada do romance realista do século XIX. Começa-se por Malher perto da casa dos 50 anos, já doente, já consagrado, já popular, cheio de não-me-toques, concebendo sua última sinfonia na cabeça, para então a narrativa ir para alguns momentos do passado. Parece fácil, mas é Ken Russell, tudo é muito inventivo, e há muitas intervenções de estilo. Tipo, quando ele imagina sua morte, aparece vivo no caixão, e, depois, com somente dois olhos vivazes sobre o pó de sua cremação, vendo sua esposa nua com outras homens! Ironia fina. É na infância que vemos ele sofrer os primeiros danos do antissemitismo, a ele e a sua grande família. E assim foi até o final, quando, para ganhar o destaque que merecia, precisa se converter ao cristianismo. Outra abordagem é a sua relação com sua esposa, 20 anos mais jovem, que lhe provoca muito ciúmes - e com razão, pois ela se envolverá com Walter Gropius, o fundador da Bauhaus! - mas que também era uma jovem que lhe dava muita inspiração musical, e bons toques nessa área. Estou sendo didático, mas o filme nunca é. Tem várias pegadinhas. Tipo, em dado momento Mahler vê os personagens de "A Morte em Veneza", em uma estação de trem, mas sabemos que Thomas Mann só escreverá a novela anos depois da morte dele. É que o filme de Visconti é de 1971, e usa fantasticamente a música do compositor. O filme tem indas e vindas, visões da doença, memória, estilhaça, enfim, a ideia da narrativa linear de uma vida. Gostei bastante. Mas é difícil. Não precisa nem elogiar a música, né? Sublime.
  22. 364) Não resisti a rever "A Hora do Espanto", de 1985, que a Netflix pôs em cartaz recentemente. Curioso que esse filme pode ser analisado como uma reação aos slashers em alta naquele momento, muito pela série "Halloween". Tanto que há uma frase específica sobre isso, uma crítica do apresentador de tevê ao interesse dos jovens pelos "assassinos com máscara de esqui". Ou seja, havia um objetivo de reabilitar os "monstros" clássicos do Terror, aqui, a figura do vampiro. Na minha história pessoal, tenho que dizer que, eu, criança, sem internet, sem muitos amigos fãs de cinema, confundia os títulos. Pois todos os representantes do gênero receberam o nome "Hora" de alguma coisa. Por anos, achei que "A Hora do Pesadelo" era uma continuação desse, e todos tivessem a ver um com o outro. Voltando ao filme, me surpreendem as insinuações ousadas dele. A insinuação homossexual, com a presença daquele mordomo idiota, mais que satisfeito em proteger o chefe; bem como a insinuação da perda da virgindade, com a menina dando um gritinho e escorrendo sangue ao ser mordida sexualmente... Mas o melhor de tudo são os efeitos visuais, competentes até hoje. Muito bacanas para a época, e feitos de uma maneira humorada. Primeiro filme de Tom Holland, um sucessão; para três anos depois vir com "Brinquedo Assassino". Ótimo.
  23. 363) No início do século, a classe média brasileira correu ao cinema para ver a adaptação de "Lavoura Arcaica", pelas mãos de Luiz Fernando Carvalho - máximo diretor de projetos cult da Rde Globo - estrelando o ator daquele momento, Selton Mello, e o grande Raul Cortez. Era tanto talento reunido, que conseguiríamos vencer suas quase 3 horas de duração, algo bem estranho na filmografia nacional, e aproveitar para conhecer as palavras de Raduan Nassar, um autor mais celebrado do que lido (Eu mesmo, que sou um leitor vaidoso, só neste ano conheci de fato a obra). Confesso que me lembro de ter quase dormido no cinema. Já que terminei o livro, revi o filme, neste feriado. O que eu amei em 2001 e agora vinte anos depois? Os planos de dança, destacando Simone Spaladore. Ela não diz uma palavra no filme, nem no livro sua personagem tem voz. Mas sentimos tudo o que ela evoca. As cenas são lindas, extremamente bem concebidas, bem ensaidas, com uma música fantástica, que é um misto de cultura cigana, cultura árabe e do mediterrâneo, do jeito exato como a família é caracterizada no livro. É um Brasil vindo de fora, estrangeiro, indefinido, rural, e fortemente religioso. A direção tem muitos momentos inspirados de câmera. Muitos. A iluminação dos cenários, e a casa achada no interior de Minas Gerais, contribuem muito para o clima do filme ser o dos retratados nas páginas. Ponto favorável também à iluminação maravilhosa de Walter Carvalho. Os atores todos estão muito bem, fato. Amo a Juliana Carneiro da Cunha como a mãe. Contudo, a atuação do Selton Mello me desapontou em alguns momentos, sobretudo pela sua característica de falar muito baixo, como se estivesse arrasando por isso... O filme é fidelíssimo, embora tenha inovado ao trazer o encontro dos irmãos para o início do filme, o que não é exatamente assim no livro. Foi muito inteligente isso. Porém, o grande senão do filme, e que me pareceu terrível, foi a teatralização exagerada. É cinema. Não é um palco. Os enormes e difíceis diálogos são ditos custosamente, sem conseguirem escapar de certo antinaturalismo. Prefiro lê-lo a escutá-lo. Pois, em literatura, posso voltar. Posso repetir. No cinema, não dá. Tudo tem de ser compreendido de uma vez só. Com esse texto, não dá. Ficou chato. Essa é a verdade. Chato. Vejo que no pôster que encontrei o crítico fala em "obra-prima". É engraçado, ao longo dos anos, o filme se esvaiu da memória coletiva. Ninguém se lembra dele como um marco do cinema. Não sem razão.
  24. Vou preparar a minha mente desde já para não ser muito enganado na eleição do ano que vem. Abomino, hoje em dia, TODAS as pessoas em quem votei na vida (menos, com ressalvas, o Senador Anastasia). Como pode? Peço ajuda ao Prêmio Nobel Elias Canetti, com seu ensaio celebradíssimo "Massa e Poder".
  25. 362) A maioria das pessoas está malhando "Alerta Vermelho", o mais caro lançamento já feito na Netflix; um filme de ação de Rawson Marshall Thurber, com as estrelas Dwayne Johnson, Gal Gadot e Ryan Reynolds. Eu, ao contrário, vi o filme sem qualquer expectativa, e gostei. Me divertiu. Não esperava nada diferente. Os filmes de ação atuais seguem uma fórmula batida de roteiro: perseguições, explosões, ambiente transnacional, mar, ar, terra...Neste filme também é assim. O diferencial dele é que é tatuado pelas personas dos 3 grandes astros: Força; charme; humor bobo... Um filme que é feito pelo seu pressuposto. Pela biografia dos três protagonistas. Um filme que se assenta num histórico conhecido e o expande. Ou o repete.
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