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Forum Cinema em Cena

SergioB.

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Everything posted by SergioB.

  1. HBO, ontem à noite... Fazia uns 20 anos que não via, então valeu rememorar. Lembro de não ter gostado do final muito corrido, mas hoje aceito com um toque de admiração os destinos serem "datilografados", em vez de mostrados. O que mais admirei dessa vez foram sem dúvida o Som e o Design de Produção, ambos com justiça premiados com o Oscar. O som incessante de máquina de escrever, bem como os telefones ininterruptos, demonstrando o frenesi das redações. O design...Eles não puderam gravar na redação do Washington Post, então, a recriaram, e ficou perfeito. Até as estantes abarratotadas com papelada desorganizada me chamaram a atenção. A câmera lateral de Pakula passeando pela redação horizontalmente realça ainda mais a criação. A ponte com "The Post": a última cena daquele ser a primeira deste. Falando um pouco de "Spotlight", lembro do Pablo e outros do Cinema em Cena destacando o "machismo sutil" do filme, mas talvez seja até intencional, pois em seu pai, "Todos os Homens do Presidente" só há homem nos postos-chave. Ou seja, era um modo de se dizer que a evolução fora mínima dentro das redações. Ponto a refletir: Este filme é tido como exemplo da carreira, já que valoriza o cuidado com as fontes e a necessária vigilância do poder, porém trata o jornalista como herói, quase atuando como um investigador criminal. "Just Follow the Money".
  2. "Chuva de Luz na Montanha Vazia" é um filme chinês de 1979. O título, poeticamente bonito, nada tem a ver com a história. Um monastério budista guarda uma pergaminho de valor inestimável. Quando o principal sacerdote precisa escolher seu sucessor, convida ao templo vários dignatários para acompanhar a cerimônia. Porém, todos os convidados têm o intento de aproveitar a ocasião para roubar o pergaminho para si. É muito legal acompanhar como cada um tentará se apossar da relíquia. Por meio de mentiras, golpes, traições, e outros crimes, aplicados uns nos outros. Na verdade, eu esperava mais artes marciais, mais confrontos, mais "lutinhas", que ficam reservados em volume para a parte final. A China, em 1979, ainda era um país bem fechado; nota-se portanto que faltou "fun", faltou uma influência mais pop, que teria feito muito bem à história. De qualquer forma, valeu a pena conhecer esse clássico que inspirou tantos filmes, entre eles, seu filho mais famoso, a obra-prima, essa sim, cheia de "fun", cheia de "pop", "O Tigre e o Dragão".
  3. A Netflix costuma formar pares. Colocou o ruim "The Last Thing He Wanted", adaptação de um romance da escritora Joan Didion, e também um documentário que homenageia sua carreira, dirigido pelo sobrinho da escritora. É curioso, pois ela é um ícone nos Estado Unidos, sempre candidata a um Nobel, mas os brasileiros pouco falam dela. Li seu livro mais famoso no ano passado, "O Ano do Pensamento Mágico", a respeito do terrível período em que perdeu seu marido e sua única filha, e esse aos poucos se torna entre as gentes das letras um grande texto sobre o luto, pois encara essa terrível coincidência de um ponto de vista racional, íntimo e jornalístico. O documentário "Joan Didion: The Center Will Not Hold" não apresenta nada de novo do ponto de vista artístico, mas se faz grande pelas entrevistas com ela. É impressionante sua figura. 85 anos, esquálida, chocantes 34 quilos, mas a coragem de uma leoa para enfrentar os problemas. A nossa cinefilia se esbalda também em saber como a casa dela e do marido na costa da Califórnia recebia de Scorsese a Brian de Palma, ao ainda carpinteiro Harrison Ford; e no final temos uma bela conversa entre a escritora e Vanessa Redgrave, ambas vendo um álbum de fotografias das filhas mortas.
  4. Nosso vizinho do Norte, a Colômbia, recebeu uma notícia muito ruim ontem. Três de seus atletas de Levantamento de Peso (um dos esportes mais importantes do país), dois deles que conseguiram medalhas no Pan, foram pegos no doping. Desde o ano passado, ficou acordado pela Federação internacional que caso um país tivesse 3 casos de doping comprovados num mesmo ano calendário, toda a delegação da modalidade estaria suspensa por 1 ano. Ou seja, muito provavelmente a Colômbia estará suspensa do Levantamento de Peso em Tóquio. Cabe recurso. Ruim para o pais, pois, em minhas contas, eles poderiam conseguir de duas a três medalhas no esporte. Fora vários quintos e sextos lugares.
  5. "American Pop" é uma animação cult de 1981. Quer dizer, agora é cult, pois foi muito criticada à época de seu lançamento pelo corporativismo dos Animadores, que, em geral, detestam a técnica da rodoscopia (redesenhar quadros de filmagens prévias; e segundo, acredito, por que muita gente sente falta de uma ou outra canção, uma ou outra banda. Quanto à última crítica, não a endosso, é uma missão meio árdua resumir 60 anos de música americana em menos de 100 minutos. Mas, de todo mundo, eu adorei ouvir figuras das mais diferenciadas, de Cole Porter a Lou Reed, dos Irmãos Gershwin a Jim Morrison. Minha única crítica é que talvez tenha faltado "filme", poderiam ter explorado mais ainda essa história de 4 gerações de músicos (judeus russos americanizados) da mesma família. Mas se tem algo que me faz tirar o chapéu é para o subtexto. Nessa animação se faz uma ode aos artistas. A como algumas pessoas - seja em que época for - submetem-se a passar fome, a não pagar contas, a ficar na calçada, a ser estigmatizados, a ser errantes...em nome de um desejo artístico. Não é nem em nome do sucesso. Mas a algo que vem de dentro. Também louvo a compreensão histórica mostrada na animação de como a música foi da exigência pela virtuose de um instrumento (anos 1920), a uma necessidade de se passar uma mensagem pública (1960), a pôr em evidência um estilo pessoal mesmo sem técnica ou mensagem (anos 1980). Gostei muito. Indicação de um colega roqueiro - do time da contracultura dos 1980.
  6. Não é que o filme seja complexo, é que a trama é propositalmente confusa, para soar importante. "The Last Thing He Wanted" aparecia nas primeiras projeções dos Oscarmaníacos no ano pasado, mas agora se vê por que desistiram do filme. Os personagens viajam de Miami, a El Salvador, a Costa Rica, num pulo; e fazem coisas complemente sem sentido. Thriller político tem a tendência de querer se mostrar relevante. Para isso, evitam diálogos expositivos; capricham em diálogos ferinos rapidíssimos; e apostam no "Quanto mais obscuro, melhor". Tem horas que é preciso ajudar o espectador. Quem é que sabe dos meandros políticos de El Salvador dos anos 1980? Continuo achando que o melhor filme da Dee Rees é o telemovie "Bessie", pelo qual - diga-se de passagem - Queen Latifah mereceria um Oscar de Melhor Atriz.
  7. Há alguns dias queria rever esse filme em forma de homenagem a José Mojica Marins, um pioneiro, um desbravador. "À Meia-Noite Levarei sua Alma", 1964, primeira aparição de Zé do Caixão, é um filme muito inventivo e à frente de seu tempo. Mexe no vespeiro da fé cristã do brasileiro, com frases bastantes impertinentes à moral da época, antirreligiosas ("Crer em quê? Num símbolo? Numa força inexistente criada pela ignorância?"), só podendo ser proferidas por uma personagem de índole amoral e fantasiosa. No fim, contudo, o espectador médio é devolvido à fé tradicional, e sai aliviado do cinema, fazendo o sinal da Cruz. Não sei se todo mundo percebe, mas Zé do Caixão é dublado, não é a voz de seu criador. Queria-se, imagino, mais gravidade, mais retumbância; além de, na pós-produção, se conseguir a correção da péssima mixagem de som da época. Se o som é falho, a parte técnica é muito boa. Acho as mortes muito bem feitas, principalmente a cena da banheira. Senhor José Mojica Marins, R.I.P. , ou atormente as nossas almas por muito tempo!
  8. Vou seguir a indicação do @Gust84 e ler "Misto-Quente", um romance de formação, no estilo direto e marginal de Bukowski. Ele, um Beat sem turma, eu diria; uma alma mais solitária. "Que tempos penosos foram aqueles anos - ter o desejo e a necessidade de viver, mas não a habilidade"
  9. Sempre ouvira dizer que "Porco Rosso: O Último Herói Romântico", de 1992, era um filme ruim do Miyazaki, e ontem, graças à Netflix, finalmente tirei a prova dos nove por minha conta. E...amei! Que coisa mais linda! Que trilha sonora deslumbrante! Que humor elegante! Estou apaixonado! Como não lembrar do belo "Vidas ao Vento", de 2013, indicado ao Oscar em 2014, e que também une Itália, Japão, e os pioneiros da aviação? "Porco Rosso" é a antessala para essa combinação. Mas aqui o foco é o período entreguerras, mostrando sutilmente um fascimo a ponto de alcançar voo ("Prefiro ser um porco a ser um fascista"), bem como seu contrário, um certo progressismo, uma fábrica de aviões construídos inteiramente por mulheres. O final é muito inteligente, um clássico antifeitiço. Mas não é que preferimos continuar enfeitiçados? Ao contrário da maioria, acho que ficará bem alto no meu ranking do mestre japonês. Em tempo: SPOILER: Os pais de Chihiro também se transformaram em porcos. Uma imagem para quando se falha moralmente? No caso de "Porco Rosso", por ele ser um ex-combatente, ter matado pessoas - de modo que ele, após o feitiço, já não atira nos pilotos adversários, já não os mata mais? Se assim for, mais um ponto a favor.
  10. Não tem razão técnica nenhuma para ver no cinema. Me arrependi. Podia ter ido ver o filme do Pelé.
  11. Primeiro filme de Elio Petri, "L`Assassino"/"O Assassino", de 1961, foi um sucesso de crítica e de público. Tem muito a ver com a história: saber se o acusado é culpado ou inocente, é o assassino ou não. Fórmula que sempre funciona. Além do mais, o tal acusado é vivido por Marcello Mastroianni, já um astro. O curioso é que ele interpreta um personagem detestável, longe da sua habitual simpatia. E se sai muito bem. Mas essas são as explicações fáceis de por que o filme foi um sucesso. Há outros motivos menos aparentes...O roteiro e a direção criam a figura de um empresário esnobe, mentiroso contumaz, que tem vergonha de sua origem pobre (quando não deveria, já que seu avô fora um notório antifacista), que tem vergonha da própria mãe...Mesmo assim, mesmo sendo um representente da burguesia esnobe em meio a pobreza italiana, que Petri, comunista de carteirinha, sempre haveria de denunciar, mesmo assim, essa figura mereceria um adequado Processo Legal, uma investigação sem atropelos, que colhesse o máximo de evidências para se chegar à verdade. É Petri dizendo que a Justiça deve ser cega. Para todos. Mesmo para quem não a merece.
  12. Fim de semana olímpico do Brasil: * A equipe titular do judô brasileiro voltou com duas medalhas do fortíssimo Grand Slam de Dusseldorf, na Alemanha. Mayra Aguiar, fazendo sua estréia no ano, conquistou a Prata, perdendo para a japonesa Shori Hamada, campeã mundial em 2018, vice no ano passado, na -78kg. Muitos pontos em jogo; bom para a Mayra, que se firma como cabeça de chave. A outra medalha, de Bronze, veio com Rafael Silva, no +100kg. É o que temos! Os pesados. Isso ficou claro desde o Mundial do ano passado. Beatriz Souza e Rafael Buzacarini perderam as respectivas disputas do Bronze, logo, ficaram em quinto lugar. Ótimo para os dois, que conquistaram muitos pontos, na dura briga pela vaga nacional contra Maria Suelen Altheman e Leonardo Gonçalves. Sem Rafaela Silva, o potencial de medalhas, que nesse ciclo já não era alto, caiu. Duas medalhas está ótimo. (Foto: Mayorovo Marina) *No Taekwondo, o novo esporte queridão do ciclo olímpico brasileiro, Milena Titoneli (67kg) e Ícaro Miguel (87) foram campeões de um Torneio Open na Suécia, mostrando que estão muito fortes na briga pela difícil vaga olímpica. Milena derrotou a espanhola medalha de Prata no Rio, entre outras. O pré-olímpico das Américas já é daqui a três semanas. Que tenso! * Vaga olímpica na Maratona masculina. Paulo Roberto de Paula (aos 40 anos!) fez o índice em Sevilha, correndo para bons 2h10m08s e muito provavelmente vai para a sua terceira olimpíada (8º em Londres, 15º no Rio). Que bom pra ele, e que pena para o Brasil que não revela mais ninguém competitivo em corridas de longa distância.
  13. O cineasta russo Viktor Kosakovskiy é um expoente na seara de documentáristas, segmento que fez muito lobby em favor de "Aquarela" para que essa produção fosse uma das indicadas ao Oscar deste ano. Não deu. Mas o doc é, de fato, lindíssimo. É sobre a personalidade da água. Em 85% do filme, acompanhamos o lago Baikal congelado, e seu degelo precoce - Com pouquíssimas falas, um bombeiro russo diz que o degelo começou 3 semanas mais cedo do que o habitual. No contexto, vem a ser a única frase política do filme, que, claro comporta o subtexto do aquecimento global -, os outros 15% se dividem entre as forças das ondas provocadas por um furacão na costa de Miami ( também esse um evento associado ao aquecimento global); e entre a beleza da maior queda d`água do mundo, o Salto Ángel, na Venezuela, que, em razão da altura, tem suas águas chegando ao chão quase como um simples vapor (uma demonstração da futura escassez?). Minha única crítica é essa má divisão de tempo, em relação às localidades, poderia ser mais bem equilibrado. Pra mim, que amo Geografia, foi bastante legal de acompanhar. Mas imagino que a maioria das pessoas achará um porre. De qualqurer forma, além das imagens serem belíssimas; além de comprovarem a força, e ao mesmo tempo, a fragilidade da natureza; é possível ver mais um exemplo da arte de Documentário em que não se faz intervenções. Apenas se capta o objeto. Nada de narração em off, nada de explícita doutrinação. Alguns documentaristas brasileiros têm muito a aprender... Pablo Villaça, em Berlim, elogiu demais o novo trabalho de Kosakovskiy, chamado "Gunda". Acompanha uma família de porquinhos, duas vacas, e um galo perneta. Quem sabe em 2021 o veremos no Oscar?
  14. Ontem dei fim a uma vergonha cinéfila. Nunca tinha visto "Akira" (1988) , pois tinha o intento de ler o mangá antes. Resultado? Sempre adiei os dois, para desespero de alguns colegas. Em termos visuais, colorido, e estilo, eu adorei esse logro cyberpunk! Mas confesso que esperava mais da história em si, principalmente do meio para o final, quando o coreto fica meio bagunçado demais. Embora tenha adorado a perspicácia do seu mundo: O fato de se passar em 2019 ( lembrando que "Blade Runner" também), usar o estádio olímpico de Tóquio (meu coração esportivo adorou); falar de uma época em que reina o caos social e ambiental. Muito revolucionário, de fato. Gostei muito do clima de mistério, mas não gostei tanto da parte "destrutiva" da coisa, pois ao longo do tempo essa representação gráfica da destruição já ficou viciada... Algum dia enfrentarei os 6 volumes do mangá.
  15. Agora eu sei por que tiraram "Eurídice Gusmão" do título de "A Vida Invisível", e não é só por uma questão mercadológica. É que - comparando com o livro - jogaram a história de Eurídice fora! Estou muito impressionado em como a adaptação foi ruim. Não é só que o roteiro foi infiel à trama, mas é que ele optou por descartar as melhores passagens do livro, no que concernem à personagem Eurídice. Trocando em miúdos: a história do livro deixa no chinelo a história do filme; é 1000 vezes melhor. Porém, o final do filme é muito melhor, 1000 vezes melhor do que o do livro. O filme, no geral, é bom. Termina-se a experiência, aliás, em grau altíssimo, com a performance simplesmente avassaladora da Fernanda Montenegro - a mesma atriz que foi chamada de "sórdida" por um ex- Secretário de Cultura aí... São 5 minutos de emoção genuína, que são também a melhor coisa do filme, e dá um banho no desempenho das outras duas atrizes. Elas estão apenas corretas, sendo Júlia Stockler claramente melhor do que Carol Duarte. O trio Fotografia, Design e Figurino são dignos de aplausos. Sobre a Direção, eu gosto muito do Karim Aïnouz, conheço bastante do seu cinema, quase tudo, pra falar a verdade, e acho muito inteligente como ele tratou o sexo nesse filme. Não como algo digno de prazer, ou um produto do romance, ou da paixão. O sexo é mostrado aqui ora como algo que trazia sofrimento às mulheres, pois o homem não pensava nos caminhos do prazer feminino; ora o sexo é tratado como algo patético, sem jeito, "apequenado" (o personagem de Gregório Duvivier aparece com o membro ereto, mas, parece, que era um dublê de corpo.), próprio de homens incapazes. Amei também como o Karim deixa espaços laterais sobrando em seus enquadramentos, como se eles evidenciassem a ausência da outra irmã. Gostei do filme, no geral, mas ele poderia ter sido muito melhor caso tivesse sido mais fiel ao livro. Agora...que desatino escolher esse filme em detrimento à "Bacurau". Socorro! Digo com tranquilidade, não havia a menor possibilidade de "A Vida Invisível" ser indicado ao Oscar, fizesse a campanha que fizesse a Amazon. Além de um close de um pau pequeno, anti Michael Fassbender, feio, na sua cara, as outras cenas de sexo são muito fortes para a têmpera da Academia, assim como há uma lavação de vagina também. Bolsonaro teria um treco se descobrisse isso! GENTE, BOTEM A MÃO NA CONSCIÊNCIA, O FILME NUNCA TERIA A MENOR CHANCE DE SER ACEITO! Tanto que nem entrou na pré-lista de nove. Não é um papo moralista meu, eu, pessoalmente não tenho nada contra as cenas (são completamente lógicas para a ideia do filme). Mas, em termos de campanha para o Oscar, são gols contra. Mais uma escolha errada do Brasil no jogo de atenção que é o Oscar.
  16. Agora eu sei por que tiraram "Eurídice Gusmão" do título de "A Vida Invisível", e não é só por uma questão mercadológica. É que - comparando com o livro - jogaram a história de Eurídice fora! Estou muito impressionado em como a adaptação foi ruim. Não é só que o roteiro foi infiel à trama, mas é que ele optou por descartar as melhores passagens do livro, no que concernem à personagem Eurídice. Trocando em miúdos: a história do livro deixa no chinelo a história do filme; é 1000 vezes melhor. Porém, o final do filme é muito melhor, 1000 vezes melhor do que o do livro. O filme, no geral, é bom. Termina-se a experiência, aliás, em grau altíssimo, com a performance simplesmente avassaladora da Fernanda Montenegro - a mesma atriz que foi chamada de "sórdida" por um ex- Secretário de Cultura aí... São 5 minutos de emoção genuína, que são também a melhor coisa do filme, e dá um banho no desempenho das outras duas atrizes. Elas estão apenas corretas, sendo Júlia Stockler claramente melhor do que Carol Duarte. O trio Fotografia, Design e Figurino são dignos de aplausos. Sobre a Direção, eu gosto muito do Karim Aïnouz, conheço bastante do seu cinema, quase tudo, pra falar a verdade, e acho muito inteligente como ele tratou o sexo nesse filme. Não como algo digno de prazer, ou um produto do romance, ou da paixão. O sexo é mostrado aqui ora como algo que trazia sofrimento às mulheres, pois o homem não pensava nos caminhos do prazer feminino; ora o sexo é tratado como algo patético, sem jeito, "apequenado" (o personagem de Gregório Duvivier aparece com o membro ereto, mas, parece, que era um dublê de corpo.), próprio de homens incapazes. Amei também como o Karim deixa espaços laterais sobrando em seus enquadramentos, como se eles evidenciassem a ausência da outra irmã. Gostei do filme, no geral, mas ele poderia ter sido muito melhor caso tivesse sido mais fiel ao livro. Agora...que desatino escolher esse filme em detrimento à "Bacurau". Socorro! Digo com tranquilidade, não havia a menor possibilidade de "A Vida Invisível" ser indicado ao Oscar, fizesse a campanha que fizesse a Amazon. Além de um close de um pau pequeno, anti Michael Fassbender, feio, na sua cara, as outras cenas de sexo são muito fortes para a têmpera da Academia, assim como há uma lavação de vagina também. Bolsonaro teria um treco se descobrisse isso! GENTE, BOTEM A MÃO NA CONSCIÊNCIA, O FILME NUNCA TERIA A MENOR CHANCE DE SER ACEITO! Tanto que nem entrou na pré-lista de nove. Não é um papo moralista meu, eu, pessoalmente não tenho nada contra as cenas (são completamente lógicas para a ideia do filme). Mas, em termos de campanha para o Oscar, são gols contra. Mais uma escolha errada do Brasil no jogo de atenção que é o Oscar.
  17. Lembro como foi difícil encontrar e ver pela primeira vez "Meu Amigo Totoro"( 1988), e outros filmes mais antigos do Miyazaki. Agora, a Netflix está colocando todos em catálogo, a um click nosso! O bloco "Unidos de Dentro de Casa" deste carnaval vai se deleitar a revê-los. Este é um filme bem bonito, bem decantado. Foi um dos primeiros que eu procurei como um louco, seguindo as recomendações dos cinéfilos mais antigos. Mais do que a história em si, ou a qualidade do traço, o que mais me chama a atenção nos trabalhos do mestre japonês é a sua concepção , a sua visão da natureza. A natureza é um "ente", um ser misterioso - e nem sempre benéfico. Há sempre uma lesma caminhando, uma borboleta passando, um sapo coaxando, uma folha caindo...No mundo dos homens, a inocência infantil anda de mãos dadas com seus maiores medos psicológicos: perder os pais, perder a casa, não voltar pra casa... Com razão, Hayo Miyazaki repele o epíteto de ser o "Disney" japonês. É bastante diferente. Este filme, em especial, deve mais a Lewis Carroll, do que a outro referente. Obrigado, Netflix.
  18. Algumas pessoas reclamam que ficou um tanto apressada a parte da seara criminal.
  19. "Simonal", de 2018, é uma boa cinebiografia, nesse, que, volto a dizer, pra mim é o gênero mais difícil artisticamente falando. Estou horrorizado com vários aspectos do Brasil atual, e um deles é com essa essa política de "cancelamento" adotada sobretudo pela esquerda brasileira. E nesse filme temos uma das vítimas mais famosas desse açodamento em sacrificar moralmente as pessoas. Deixemos a Justiça fazer o trabalho dela, com contraditório, ampla defesa, e tudo o mais que o pacote legal e democrático oferece. Chega de fiscalizar ilegitimamente as pessoas! Fabrício Boliveira está excelente, e minha contraparente (Sabiam dessa? Desculpa, aí!!), Isis Valverde, linda linda, também. Primeiro longa do carioca Leonardo Domingues, e vou ficar de olho na carreira dele. Há dois planos sequências lindos, de enorme gabarito. Fora o Figurino da craque Kika Lopes. Desde criança, gostava muito das músicas do Simonal, mas mal sabia eu, que, no ano 2000, iria ficar completamente apaixonado por "Samba Raro", primeiro disco do filho dele, Max de Castro - até hoje um dos discos da minha vida, e um dos melhores do suingue brasileiro. Essencial para transar. Fica a dica!
  20. Mas são apenas 12 vagas em Jogos Olímpicos. Normalmente se leva 3 centrais e o líbero, mais 4 ponteiros, mais dois opostos, mais dois levantadores. Meus centrais seriam: Lucão, Isac e Flávio. Éder, eu não levaria. Vamos ver o que ele faz.
  21. Seleção pra mim é "momento", digamos assim. Bernardo deixou de levar Lucão em 2008 para levar Rodrigão machucado. Deixou de levar Lucarelli em 2012 para levar vários senadores que não estavam mais em condições físicas para suportar tantos jogos difíceis em sequencia. Por isso, penso que o Renan nem deveria cogitar chamar Éder para o meio de rede (no último jogo que vi do Sesi, ele fez 2 pontos!). Penso também que o momento é do Cachopa e não do William - por mais genial que ele seja. Cachopa está jogando demais, inclusive no saque e na defesa. E ponta...na real, na real, o Vaccari está jogando melhor do que o Maurício Borges. Concordo com você, essa quarta vaga na ponta é a grande dúvida.
  22. Que surpresa boa!!! "Sonic: O Filme" é uma boa e garantida diversão. Não tem nada de inovador em termos de história (a rigor, continua, em grandes linhas, a ideia de um cientista vilão atrás de criaturas exóticas, por todos, "Abominável"), mas a interação do Ouriço mais apressado do videogame com James Marsden é muito efetiva. A criatura, depois das mudanças estéticas, ficou muito graciosa, muito "de estimação", fácil de gostar, o que é essencial nesses casos. Jim Carrey, a quem considero talentoso pra dedéu, está apenas bem. Nada do que não tenhamos visto antes em termos de fisicalidade. Devo dizer também, no negativo, que algumas cenas com drones me pareceram muito próximas de "Spider-Man: Far From Home". Vale a pipoca.
  23. HBO, ontem à noite... Só queria assistir a cena da câmera entrando dentro da câmera, mas, por motivos de absoluta, completa e irresistível genialidade, tive de rever até o final. Prazer sem limite.
  24. Não posso dizer que são 30, mas pelo menos há 15 anos eu não via "Trinta Anos Esta Noite"/ Le Feu Follet/ The Fire Within/ ou "Fogo-Fátuo", de Louis Malle. Esse filme de 1963 talvez seja a produção mais elegante e refinada sobre alcoolismo e depressão. Não há "cenas", não há descontrole dramático nenhum. Tudo é muito refinado, econômico, e chic, pontuado pela beleza da música de Erik Satie. Fez um bem enorme ao romance, Fogo-Fátuo, que eu já tive inúmeras chances de ler e ainda não li, pois seu autor, Drieu La Rochelle, em certa época da vida virou um militante do nazismo. É um filme esplêndido, e pra mim fica ainda melhor, pois ele se segue a "Vida Privada" que é terrível, chato de doer, mas dá pra entender melhor os monstros que iam pela cabeça de Malle. Ele se recuperou. Todo mundo ressalta a cena final, mas essa aqui, a magistral cena no Café, é o ponto no qual se percebe como a vida normal é absurda para os depressivos: Dos bastidores do cinema, vem a informação que Malle emprestou ao personagem de Maurice Ronet suas próprias roupas, e, o mais conhecido fato, seu próprio revólver. Ambos, personagem, e diretor, tinham trinta anos. A crise existencial dos trinta, dos TrintAnos, tá ligado?! Para muita gente é muito difícil deixar a juventude dos VinteAnos pra trás... "Vou deixar você com seu pior inimigo: você mesmo."
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