Jump to content
Forum Cinema em Cena

SergioB.

Members
  • Posts

    4958
  • Joined

  • Last visited

  • Days Won

    118

Everything posted by SergioB.

  1. Falando em famílias... "Toda Nudez Será Castigada", de Arnaldo Jabor, adapta com sucesso a peça de Nelson Rodrigues. Um pouco de datas: a peça é de 1965, o filme de 1973, e, como a protagonista se chama Geni, me fez atinar que eis aí uma inspiração culta para a famosa Geni da canção de Chico Buarque, presente no musical "Ópera do Malandro", do ano de 1978. A história nos ensina que o dramaturgo gostou muito do filme, pois Jabor não escondeu seu caráter de folhetim. E é justamente esse tom que faz tudo funcionar muito bem. Um quê de tragédia, alçando o sexo à um agente destruidor da moral, à agente do caos, e perturbador da ordem. O que viria bem a calhar no período de auge da Ditadura. Darlene Glória está excelente como a prostituta Geni. Ora criança crescida, ora mãe trágica, ora noiva desvirginada, ora madrasta sexy, sempre puta. Traz vida, simplicidade e calor à personagem. Gostei muito. É digno do Urso de Prata que ganhou em Berlim. Mas imensamente prejudicado pela Mixagem de Som terrível da época. Quem passar pela técnica falha, porém, verá um grande filme do cinema nacional.
  2. Não curti muito essa animação independente, adquirida pela Netflix. "Os Irmãos Willoughby" tem uma premissa muita boa, uma sátira sobre uma família disfuncional - família que é sempre vista como a "base", seja por religiosos patriotas, seja por estúdios de animação, seja por uma concepção individual pequena-burguesa da existência. Como diz Freud, "A salvação está fora da família", pois afinal, ela é a base da educação, da criação, bem como da origem de todos os traumas. O indivíduo, em certo momento, precisa ruir essa base, para existir. Mas infelizmente essa premissa de crítica à família ideal é desperdiçada por um enredo mal desenvolvido. Do nada, o filme faz uma curva e vai parar em uma fábrica de doces, ficando às voltas com um bebê. Tipo, são 20 minutos perdidos. Parece uma cópia das peripécias do bebê de "Os Incríveis" num cenário de fábrica de chocolate. Para quê? Que não acrescentam em nada. Aí depois se retoma à narrativa. Mas esse desvio me retirou do filme. Embora a conclusão seja atinente com a premissa: família é quem te ama. No visual, gostei bastante do uso das cores, vivas, exarcerbadas.
  3. Não esperava que "Vagas Estrelas da Ursa"/ Sandra, de 1965, fosse um filme tão difícil de se interpretar. Tem semelhança com o Mito grego de Electra, mas, pelo viés psicanalítico. Como a tendência incestuosa da filha pelo pai, a que Jung chamava de "Complexo de Electra" (denominação que Freud não adotava). Só que no filme, o pai está morto, sacrificado em um campo de concentração. A questão do incesto, então, é deslocada para o irmão. A atuação de Claudia Cardinale é forte, cheia de angústia, e de rancor; assim como a atuação de Jean Sorel, fazendo seu irmão, um tormento ambulante, preso ao passado de criança, um escritor sem livro. Ambos os atores lindíssimos, e ainda vivos!, para o bem do Cinema Mundial, que precisa de estrelas na Terra. Um filme sobre taras hereditárias, que nunca são vistas exatamente, mas só pronunciadas, sob a ótica da decadência da aristocracia italiana. É dizer: O ponto de vista de um nobre culto, ele mesmo, Visconti.
  4. Vou nem falar nada... Tudo bem que "O Homem Elefante" teve 8 idicações ao Oscar em 1981, mas como assim Anthony Hopkins não foi indicado em Ator Coadjuvante? Só a cena que ele vê pela primeira vez o Sr. Merick já valeria a indicação. E como Freddie Francis não foi indicado em Fotografia? Aquele ano realmente é dos mais esquisitos... David Lynch apresenta um de seus filmes mais convencionais, enquanto linguagem, mas mesmo assim, penso que seu universo está contemplado. E das cenas mais tocantes de seu cinema, talvez a mais: a invasão do quarto do Sr. Merick por arruaceiros, e aquele beijo forçado...Dói. Minha única ressalva, que é exterior ao filme, é que os acontecimentos do roteiro na verdade se espelham em momentos diferentes da vida real. Não é um filme realmente acurado sobre a vida daquele pobre homem. Aliá, até o nome dele, da vida real, é diferente. Joseph e não John ( Ao mesmo tempo, que, curiosamente, o ator é John, John Hurt - talvez seja Lynch brincando com os signos, como pra dizer que só existiu um único Homem Elefante). Por isso encaro mais como um filme sobre a medicina, e sobre a Inglaterra, na era Vitoriana, do que como uma biografia. Que trabalho de design do Stuart Craig! Brilhante! Excelente. OBS: Pra quem curte HQ: Em "Do Inferno", de Alan Moore, o Homem Elefante faz uma participação especial.
  5. O poder; ele se esvai. Os últimos acontecimentos nacionais têm me deixado perplexo. É muita loucura junto, renovada diariamente. Sério, não é incomum governantes enlouquecerem/ "adoecerem" no cargo. Entram em uma espiral de autocracia, de ira, e, terminam na solidão. É uma história conhecida e que não acaba bem. Assim como "Macbeth". Fui ver a versão de Orson Welles, de 1948 (curiosamente, o mesmo ano de "Hamlet" do Olivier, e que competiriam juntas em Veneza, mas Welles a retirou a tempo, e seu irmão-shakespeariano venceu). Diz a história que os estúdios não suportavam mais o jeito perdulário de Orson Welles filmar, gastando aos tubos, em grande demora. Então o gênio decidiu provar que conseguiria fazer um grande filme com parcos recursos e com poucos dias de filmagem (23!). Conseguiu. As pessoas acham "tosco" o visual, pobre, ou qualquer palavra parecida, mas, na verdade, a estilização dos elementos decorativos (como as coroas.) ficou muito legal. Nem toda versão da peça precisa ter a exuberância esplendorosa de "Trono Manchado de Sangue" de 1957, ou ser rebuscadíssima e vazia como "Macbeth: Ambição e Guerra", de 2015, do Justin Kurzel. Gostei muito do olhar econômico de Welles. O castelo ensombrecido é a própria alma enfeitiçada de Macbeth. O exterior começa dentro. No aguardo para ver o que o Joel Coen irá aprontar, em sua versão prevista para 2021. O poder se esvai.
  6. As pessoas em geral amam "Lámen Shop", filme de 2018. Por isso tinha certa curiosidade de ver. Achei-o artisticamente banal, comum. Mas é bem feito e com uma linguagem terna, que não desagrada ninguém. Consegue também ser um filme promocional de Cingapura, terra natal de seu diretor, Eric Khoo; mostrar a cada vez mais apreciada gastronomia de seu país; e ainda tocar no ponto mais delicado, as sequelas da invasão japonesa durante a Segunda Guerra Mundial. Bonitinho, e nada mais. Faltou pimenta.
  7. Legal ver "Parasita" inserindo-se de vez na cultura. Aliás, estreia dia 31 de maio no Telecine. O Último dos Moicanos...
  8. Não li o livro de Jane Austen, então não tenho como atestar a fidelidade, mas em minha memória, da série da BBC, e do filme de 1996, a personagem Emma não era tão desagradável assim, segundo a interpretação de Anya Taylor-Joy. Gostei muito do Figurino, pois é de Alexandre Byrne, e ela é uma craque nisso. Não gostei nada da trilha sonora, achei-a muito rebarbativa da comédia do texto, reforçando muito aquilo que já estamos vendo. Entendo que a trilha não deve sublinhar demais as situações, muito menos a comédia, do contrário só faltariam risadas embutidas. E de pensar que o Emma de 1996 ganhou o Oscar justamente de Trilha (de comédia, para Rachel Portman, quando havia divisão comédia-drama). Hildur Guonadóttir, por "Joker, tornou-se a primeira mulher a ganhar a categoria sozinha. Não sei se gostei desse "Emma". A adaptação do texto é da escritora Eleanor Catton, autora de um calhamaço sobre a busca de ouro na Nova Zelândia, usando o mapa astral dos personagens; chamado "Os Luminares". Esperava mais. O que eu acho curioso nas história de Jane Austen é que o amor é mostrado como um jogo racional (afinal, envolvia posses, heranças, decidia-se pobreza ou fortuna), mas que quando é encarado assim pelos mais inteligentes, são eles que se frustram e sofrem, durante a maior parte da jornada de leitura. Já os que menos se gabam do seu cérebro, e confiam mais em seu coração, é que se saem melhor.
  9. Concordo com as modificações. Em termos da unificação da categoria de Som, era o único departamento que gozava de uma subcategoria dentro de si, ainda que com um trabalho perfeitamente distinguível, que era premiada em separado. Acho que a alteração que eu mais gostei foi a de Trilha Sonora. Não dava mais pra indicar John Williams por mudanças apenas cosméticas em Star Wars. Sobre a mudança principal, a desnecessidade temporária da exibição em sala de cinema: Notícia boa para o ótimo "Bad Education". Hugh Jackman e Allison Janney passam a ter muita chance de indicação.
  10. Escrevi sobre "A Assassina", recentemente, e disse não ter gostado, mas esse "Millenium Mambo", de 2001, me pegou. O cinema de Hsiao-Hsien Hou, vulgo HHH, é, em regra, um ataque à história. Temos o Realismo, mas não temos o Realismo do teatro, como aquele encadeamento lógico de motivos, razões, falas, circunstâncias. No cinema dele, o realismo é pura e simplesmente "momentos", reflexos. Às vezes - talvez dependendo do meu humor - funciona, às vezes não. Hoje funcionou. É um filme sobre relação amorosa tóxica, narrada pela personagem Vicky 10 anos depois. Mais consciente, enxergando aquela relação melhor, mais serena, se perdoando. Uma relação amorosa desajeitada, espelhando a falta de perspectiva profissional dela e do namorado ( e achei maravilhoso que o final do filme, profissionalmente falando, seja na Rua do Cinema), mas muita ambição dos dois, muito amor ao dinheiro, e sua consequente desilusão. Filmado quase o tempo todo com lentes de curta distância, colocando a protagonista e seu namorado em destaque, belamente iluminados, seja pelas luzes da boate onde ela trabalha, ou pelas luzes de Taipei, na maravilhosa cena inicial. Taipei, para onde a família do diretor e ele fugiram, deixando a China continental. Para fazer cinema. Havia uma Rua do Cinema lá também.
  11. "Pixote: A lei do Mais Fraco", de 1981. A ideia era só ver os últimos trinta minutos, pois é quando Marília Pêra, em estado de graça, em uma performance abissal, devastadora, aparece. Mas aí aquele início em forma de documentário me fisgou, e depois me lembrei que vi recentemente "Vítimas da Tormenta" de de Sica, de 1946, que também se passa em um reformatório, e quis comparar os dois longas....Acabei que o revi todo. Que grande filme do Babenco! Coloquei o cartaz internacional do filme, com algumas das premiações...Ganhou Nova York, Los Angeles, Boston; foi indicado ao Globo de Ouro mas perdeu sua categoria para o bobíssimo "Carruagens de Fogo", que concorreu pela Grã-Bretanha (e ainda tinha "O Barco: Inferno no Mar"). O reformatório do filme italiano neorrealista é quase o paraíso perto do nosso brazuca. A deliquencia juvenil aqui perdeu todo o ar de inocência, pulou a infância, e abraçou a sexualidade modo hard, e também a violência mais gravosa. Homossexualidade situacional, maus-tratos, abandono social, depressão enlouquecida...É muito forte. Sem contar que a nossa vida real se encarregou tragicamente de tornar a atuação de Fernando Ramos da Silva ainda mais comovente. O 7x1 vem de muito tempo. A cena mais marcante pode ser a da amamamentação, ou a cena do pós-aborto, ou a dança iluminada pelo farol do carro - todas excelentes, você escolhe - mas uma das que mais me chamaram a atenção me ganhou por um detalhe: foi descobrir que o detento que imita Roberto Carlos tem esse nome, na verdade, por causa da prótese de perna, que o impede de fugir do reformatório. E ele precisa ficar atrás dos muros. Que ironia dramática fodida! Maravilhoso e cruel!
  12. Ainda nos anos 1990, vi uma entrevista de Fernanda Young para Marília Gabriela, que me deixou fortes impressões. Percebi que ser culto, elegante, excêntrico, rocker, engraçado, porralouca, e fluido sexualmente, era possível, viável. Senti demais a morte dela. É como se a união daquilo tudo fosse substituída pelo seu contrário. "Vergonha dos Pés" é a estreia dela na literatura, em 1996. Ao fim da entrevista, rabisquei o nome do livro na minha mesa. Não queria esquecer o título. Contudo, só agora, depois de anos fora de circuito, tenho meu exemplar.
  13. Provavelmente o melhor filme lançado nesta temporada. Vai ganhar todos os prêmios relacionados a Filme de Televisão. Não tem o que falar da atuação da Allison Janney e do Hugh Jackman. Estão excepcionais. O roteiro tem um ritmo excelente, que vai aos poucos apresentando facetas novas dos personagens, enquanto pontua tudo com humor de primeira qualidade. Além de tudo, a história de "Bad Education" é deliciosa e, tematicamente, importante. A corrupção é apresentada não apenas na sua modalidade mais clássica, de peculato, de apropriação ilícita de recursos públicos, mas sob outos rostos. O Nepotismo, por exemplo, quando descobrimos que uma das funcionárias do colégio é parente da personagem de Allisson Janey, e nitidamente pouco qualificada. Ou então, a corrupção que é feita "das escolhas reprováveis", no filme, como se construir uma ponte de vidro, para puro amorfoseamento, enquanto há goteiras pelo teto da escola. Aqui, no Brasil, nós aceitamos essa forma de corrupção, do tipo construir estádios na selva amazônica e no Pantanal para ninguém usar, como se fosse algo normal. Há ainda a corrupção das relações, como a mentira, e as traições. Olha...um roteiro muito rico. Eu adorei! Uma coisa que eu amei foi ser um filme de escola, portanto, "de dia". É difícil de se ver um filme sobre corrupção passado com esse tipo de luz, como se fosse uma rotina normal, como se nada estivesse acontecendo. E deve ser exatamente assim que elas são feitas. Bem na nossa cara. Excelente.
  14. Adorei esse "Pendular" da Júlia Murat, que, seguindo os passos da mãe, a cineasta Lúcia Murat, constrói aos poucos uma carreira muito legal. Dá pra ver que é gente de cinema, e não de televisão. A linguagem está saneada dos padrões estéticos brasileiros, e respira integridade artística. Uma reflexão muito bacana sobre espaço, sobre território. Há a denúncia de um machismo sutil na história. Mesmo um artista plástico, um cara sensível, pode incorrer nessa tradição histórica, sem perceber, como, por exemplo, ao precisar de mais espaço "para o trabalho", vai corroendo aos poucos o espaço da esposa bailarina; bem como avança sobre o corpo dela em sua tentativa de "dar um filho" (uma expressão muito machista falada à beça ainda hoje). Nunca é dito, mas é como se o trabalho dele valesse mais. Achei inteligentíssimo o tratamento do sexo, principalmente o que acontece com a personagem da bailarina quando ela se torna - digamos assim - "ativa" na relação. Os atores estão fabulosos. Raquel Karro, eu não conhecia, e gostei muito da sua interpretação. Já o Rodrigo Bolzan... Há alguns bons anos, foi meu amigo de Orkut e Msn! Altos papos-cabeça de madrugada, indicações culturais, e por aí vai... De resto, um dos melhores atores do Brasil! Tanto no teatro como no cinema. Arrasa desde novinho, quando chamou a atenção pela primeira vez, em "Cama de Gato". Parabéns, Rodrigo! Me manda seu ZAP! (Risos) Gostei muito.
  15. @Jorge Soto, FDP, perdi um tempo precioso da minha vida tentando achar o raio desse pato. Finalmente consegui.
  16. Nos últimos meses, tenho visto todos os primeiros filme de Elio Petri, da década de 1960, antes da consagração absoluta dos anos 1970. Já foram: O Assassino, Os Dias São Numerados, O Professor de Vigevano, e hoje, "A Ciauscuno il Suo"/ A Qualquer um o Que é Seu/ "Condenado pela Máfia", de 1967, premiado como Melhor Roteiro em Cannes. Um professor esquerdista, filiado ao partido Comunista, tenta decifrar a morte de dois homens, mas terá a máfia como adversária. A Máfia, na Sicilia, quer dizer a cidade inteira: a burguesia, a Igreja, as mulheres da sociedade, os políticos...Pois todos dependem de uma rede de fofocas, de uma rede de ascensão social, de uma rede de proteção mútua. O professor, em questão, é vivido por Gian Maria Volontè. Ou seja, neste filme começa a mágica da colaboração ator-diretor entre esses dois gigantes. Volontè substituirá Mastroianni e Salvo Randone como rosto principal de Petri, assim como paulatinamente o Neorrealismo Italiano ( de De Sicca e Rossellini, que tanto fez pela Itália do pós-guerra) era substituído pelo Cinema Político, em 1960~1970, no país mediterrâneo, enquanto movimento estético. É um filme muito bom, mas não é maravilhoso. Ainda dependente de um texto original, é dizer: que não é fruto do coração e do cérebro original e próprio de Petri, o filme claramente peca pela estrutura novelesca. Que seria jogada fora dentro de poucos anos, para atacar os problemas de frente.
  17. Nos últimos anos, tenho gostado cada vez mais de filmes de ação. Deve ser por que eles estão cada vez mais bem coreografados em suas cenas de luta. Quem diria que a testosterona máxima é muito parecida em essência com o balé?! Pirmeiro filme do diretor Sam Hargrave, ele que foi diretor de segunda unidade em "Vingadores: Ultimato", "Atômica", entre outros, além de diretor de dublês. Amei diversas sequências, de "Resgate", sendo a dos tapas nos "goonies" a mais divertida, e a que termina com um caminhão a que mais me impactou. Penso que filmes assim não deveriam incorporar cenas clássicas de drama. Me refiro às cenas motivacionais, de explicação dos por quês. Essas são exigências do drama clássico. Formam um corpo estranho, um corpo desviante aqui. Não há mal nenhum em ser apenas pancadaria. Chris Hemsworth, um astro.
  18. Esquentando os tamborins para "Ammonite", com Saoirse Ronan e Kate Winslet, fui conferir o filme mais famoso do diretor Francis Lee. É "O Reino de Deus", título brasileiro para "God`s Own Country", de 2017. São gays na fazenda. Peões à volta com criação de ovelhas, que depois de um pouco de conflito, se apaixonam. Básica "love story". Que, aproveitando-se da característica chucras dos personagens, comodamente se abstém de maiores verbalizações. Sobra apenas fetiche. Não gostei.
  19. "Atrás da Estante" é um documentário excelente a respeito de um casal judeu de Los Angeles que comandou durante décadas uma livraria/sex shop/ produtora de pornôs, que virou referência na cidade. O legal é que eles só queriam ganhar dinheiro para sustentar a família, e acabaram vendo suas vidas entrelaçadas com a questão da luta pela liberdade sexual. Pois esta é indubitavelmente um direito-irmão da liberdade de expressão, e ambos filhos do Direito à Liberdade. A cada minuto, o documentário vai ganhando em relevância histórica e política. Mostra a tentativa de criminalizar o comércio, o preconceito social, a hecatombe da comunidade pela AIDS, e, por fim, a derrocada do negócio com o surgimento da Internet. Vale muito a pena ver. Parabéns, Netflix!
  20. Primeiro filme da diretora e roteirista Eliane Coster, "Meio Irmão", de 2018, mas que veio ao público em 2020, é um filme de perfil. Mostra a vida de dois meio irmãos, que não moram juntos, nem na real se gostam muito, e cuja mãe desapareceu. Acompanha a vida da garota e do garoto, suas ambições, seus talentos, seus problemas, seus trampos, e a lenta reaproximação amorosa entre eles. Além de ser um perfil dos dois jovens, é também um perfil da Zona Leste de São Paulo. Gírias da periferia, as casas cuja fachada é uma garagem, os meios de vida emparedados pelo renda média e pela violência acima da média. Obviamente, a armadilha está lançada desde o cartaz. Alguém perguntar, ou reparar, que eles são de cores/raças diferentes. Acho essa armadilha muito boa na verdade, porque em nenhum momento do filme isso é questionado por nenhum personagem mais próximo à família, só lateralmente por um figurante menor. É aquele negócio: não há por que repararmos na cor de ninguém - esse costume besta - , ao mesmo tempo que essa temática está esfregada na cara do espectador, desde o cartaz. É uma boa armadilha. Gostei muito da parte dos perfis. Ficou bem realista. Eu conheço "manos" assim, eu conheço "minas" assim. Toda a caracterização é muito verossímil. Agora, não vá ver o filme esperando um "enredo". O filme não tem uma história bem desenvolvida. Repito: Não espere por um enredo. Se assim for, o final será mais decepcionante do que você esperaria. Pois NADA acontece.
  21. Quando você chegar na minha idade, a gente conversa...
  22. "Starman", 1984, é uma delícia de filme, um classicão dos anos 1980, que passava direto no SBT. Só os fãs mais ardorosos do terror do mestre John Carpenter lamentam a existência desse romance "de outro mundo", pois significou um adocicamento da visão sobre a existência. Música marcante de Jack Nitzsche. Jeff Bridges, nem precisa dizer, está excelente. Foi inclusive indicado ao Oscar em 1985, entrando como um azarão favorito do público, no que é até hoje a única indicação ao prêmio de um filme do Carpenter. Amo a Karen Allen! Tão boa atriz, tão linda, uma "escada" perfeita para grandes astros, que poderia ter tido mais reconhecimento ao longo da carreira, no que tange à prêmios.
  23. Festival de Veneza manteve a data original para setembro, de 02 a 12. Otimismo ou negação, você escolhe.
  24. Ontem à noite, encarei essa tortura, que não via desde criança. Cabe dizer que vi e revi a versão que chegou a nós mais facilmente, não vi a versão estendida, nem a versão dos fãs - que dizem ser a melhor. Quis ter a dimensão mais exata dos perigos que envolvem a adaptação. Da trama gigantesca à comunicação por pensamentos, à necessidade de difundir a crítica ambiental... Eu posso até ser bem bonzinho e dizer que o filme é até um aceitável resumo do que é o livro, pois a obra de Frank Herbert é tão recheada, tão cheia de enredo (tanta trama, tanta reviravolta, tantos personagens), que eles conseguiram sim chegar a um mínimo denominador, para um filme só. Pra mim, o que faz desse projeto um fracasso total são os Efeitos Visuais terríveis, que não dão conta da imaginação proposta; bem como os atores principais abaixo da crítica. Tem Linda Hunt, tem Max Von Sydow, tem José Ferrer, tem Silvana Mangano, tem, mas eles fazem personagens secundários. Os atores principais, o que movem a trama, estão péssimos. Péssimo é gentileza. Uma nota zero também para Figurinos e Design. Faltou orçamento, mas principalmente faltou classe. E esse filme ainda foi indicado a Melhor Som no Oscar de 1985. Competir contra "Amadeus" é sacanagem... Não é um filme "B". É um filme "C". Ou melhor, um filme "D". D de Duna.
×
×
  • Create New...