Jump to content
Forum Cinema em Cena

60º Festival de Cannes (2007)


Recommended Posts

  • Members

A Aula de Cinema de Martin Scorsese (Cannes 2007)

 

Por Kleber Mendonça Filho
25/05/2007

Um dos momentos mais esperados da programação 2007 do Festival de Cannes foi a Leçon de Cinéma (aula de cinema), evento que esse ano foi promovido para a segunda maior sala, a Debussy, por tratar-se do convidado especial de honra do festival, Martin Scorsese. Em anos anteriores, nomes como Wong Kar Wai e Oliver Stone ocuparam salas menores com suas aulas. Durante 90 minutos, Cannes ofereceu um dos maiores nomes do cinema mundial para uma platéia repleta de críticos, cinéfilos e, principalmente, jovens estudantes, que ouviram Scorsese entrevistado pelo veterano crítico da revista Positif, Michel Ciment. O diretor de Taxi Driver (Palma de Ouro em Cannes 1976) e Os Infiltrados (pelo qual finalmente ganhou seu Oscar, em março) discutiu o seu cinema a partir de cinco trechos da sua filmografia, apresentados na tela. Quentin Tarantino estava na platéia, prestigiando.

Scorsese, que também está em Cannes promovendo o World Cinema Foundation, entidade por ele articulada para preservar a memória do cinema, deu início à sua aula de cinema lembrando da sua infância, e culpando a asma pela provável inclinação natural para o cinema. "Fraco, baixinho e asmático, o esporte não era a minha praia, e eu ainda apanhava. Terminei vendo À Beira do Abismo (The Big Sleep), de Howard Hawks, aos nove anos de idade, fator essencial para a minha formação".

Sobre estudar em escola de cinema, Sorsese disse que foi importante, embora no final dos anos 60 o conceito de escola de cinema era bem diferente do que existe atualmente. "Na Universidade de Nova York, onde estudei, o curso não era "curso de cinema", mas existia um departamento de "motion picture" que incluía também televisão e rádio. Digo ainda que você pode aprender cinema sem ir a uma escola, descobri isso quando vi Bonnie & Clyde e guardei uma cena na cabeça de maneira errada. Quando Gene Hackman leva um tiro na cara, pra mim era um close-up, mas depois fui rever o filme e vi que era um plano médio, mais aberto. Entendi que a montagem, o som e o seu envolvimento com o filme ganham contornos pessoais, você sequestra o filme para você mesmo, e creio que isso é cinema".

Scorsese falou também que os seus anos de formação, e toda a sua geração formada por Brian de Palma, George Lucas, Steven Spielberg, Paul Schrader, foram marcados pelos ventos que vinham da Europa. "Filmes como Jules e Jim, de Truffaut, O Desprezo e Viver a Vida, de Godard, o cinema italiano de Fellini e Antonioni, mudaram por completo a noção de "cinema de narrativa" nos EUA, defendido por Hollywood.

Scorsese ilustrou isso com um trecho do seu Caminhos Perigosos (Mean Streets, que passou em Cannes), onde pulos e o embaralhamento de informações nos primeiros minutes do filme, onde apresenta seus personagens, mostram influências diretas desses cinemas estrangeiros.

"Bom lembrar que antes eu fiz Sexy e Marginal (Boxcar Bertha) para Roger Corman, que foi outra escola importante para mim. Nesse filme, ele me ensinou uma coisa que eu ainda não havia pensado: "filme o mais difîcil no início", tínhamos cenas com trens, e vocês sabem que trabalhar com animal, criança e trem é duro. Quer fazer o segundo take com um trem? Espera meia hora o trem poder dar ré e voltar pro lugar certo. Terminamos filmando todas as cenas com trens e vagões nos primeiros quatro dias. Corman me ensinou também a fazer um filme em 24 dias."

Num contato como este com cineasta cuja obra é tão acompanhada revela-se fonte inesgotável de anedotas que tanto auxiliam na compreensão do cinema e dos seus mecanismos, como também desmistificam obras que muitas vezes são vistas com zêlo excessivo por parte dos que as apreciam.

Scorsese, por exemplo, explicou que um dos motivos que o levou a filmar Touro Indomável em preto e branco foi o fato de seu filme estar sendo lançado numa safra 1979-1980 composta por mais três filmes de boxe, engarrafando o mercado. "Um dos filmes era Rocky II, outro era Negócios Com Mulher, Nunca Mais (The Main Event, com Barra Streisand e Ryan O'Neal), e um outro com um canguru boxeador. Eu pensei, se o meu for preto e branco, talvez ele se destaque, o que, claro, trouxe problemas para o estúdio United Artists, que não queria lançar um filme preto e branco em 1980. Mas Irwin Winkler, produtor, conseguiu convencê-los, ou lembrá-los, que dois filmes em preto e branco - naquela época recentes - tinham ido bem de bilheteria - Lenny, de Bob Fosse, e Lua de Papel, de Peter Bogdanovitch -, e terminaram aceitando.

Contextualizando historicamente a sua trajetória, ele mostrou sequência memorável de Depois de Horas (After Hours, 1986), sua comédia de humor preto-piche sobre um nova-iorquino que perde-se na noite louca de Manhattan. Lembrou que o filme marcou precisamente o fim do sonho da sua geração, que surgiu nos anos 70 com filmes autorais bancados pelo mercado.

"Em 1985-86, eu não teria tido mais a chance de fazer um filme como Touro Indomável, da mesma maneira que eu vi o projeto de A Ultima Tentação de Cristo ser cancelado. Como alternativa, fui fazer Depois de Horas, 40 noites de filmagem que me ensinaram o quanto o gênero comédia é difícil".

Sobre o uso de música nos seus filmes, Scorsese disse que as imagens puxam as músicas, e mostrou cena de Cassino onde o personagem de Robert de Niro apaixona-se à primeira vista pela mulher interpretada por Sharon Stone. "Em Os Infiltrados, ambientado hoje em dia, eu tive dificuldade porque adoraria conhecer bandas que sei que são boas, como Radiohead, Coldplay, mas não a conheço. Fomos em radiolas de ficha em bares e anotamos músicas presentes, e parted as escolhas veio dessa forma."

Martin Scorsese trabalha atualmente na continuação de dois projetos que, há dez anos, elevou ainda mais a sua imagem de apaixonado pelo cinema. Depois de 100 anos de Cinema Americano (1995), onde analisou o cinema do seu país que o levou a entender melhor esse meio, e Mio Viaggio in Italia (2001), trabalho ainda melhor sobre a herança de cinema italiano, ele prepara An Observation on British Cinema (Uma Observação Sobre o Cinema Britânico) e a segunda e aguardada parte para a sua viagem ao cinema da Itália. "São trabalhos que estou realizando com Thelma Schoonmaker", a montadora que é sinônimo do que entendemos como "a Martin Scorsese picture".
Link to comment
Share on other sites

  • Replies 58
  • Created
  • Last Reply

Top Posters In This Topic

  • Members

Ocean's Thirteen (Cannes 2007)

Três%20estrelas

 

A SUAVIDADE DE PRAXE

Por Kleber Mendonça Filho
24/05/2007

Passou quinta fora de competição, mas com mais bá-fá-fá de mídia do que a grande maioria dos filmes de fato competindo, o produto high-profile hollywoodiano Ocean's Thirteen, terceiro filme da franquia dirigido por Steven Soderbergh com os escroques mais bem vestidos do cinemão de multiplex. Exercitam o cinismo e suavidade habituais. Se o primeiro foi uma divertida surpresa - Ocean's Eleven - e o segundo nos agradou ainda mais como entretenimento - Ocean's Twelve - esse terceiro, apresentado em Cannes com projeção digital, entra no piloto automático do entretenimento, uma gréia cara onde George Clooney, Brad Pitt, Matt Damon e Cia. continuam armando uma sequência estapafúrdia de sacanagens, voltando a Las Vegas, outra vez num sofisticado cassino.

O filme tem estréia marcada para o Brasil dia 31 de agosto, e trouxe para Cannes Pitt, Damon, Clooney, Soderbergh, que, na coletiva de imprensa, mostraram ter quase nada para falar do filme em si, exceto tirar a boa e velha onda. E, sim, a famosa frase foi dita, "nos divertimos muito fazendo esse filme". Satisfizeram também a sanha dos fotógrafos, que enviaram suas imagens de Cannes para os quatro cantos do globo, preparando o caminho para o lançamento americano nas próximas semanas (na França, o filme entra 20 de junho).

Al Pacino, desta vez, é o arrogante bilionário Willy Banks que irá pagar caro via plano mirabolante de sabotagem e extorsão. Seu personagem engana e leva à falência um dos 11 integrantes originais da gangue, o mais flamboyant do grupo, Reuben Tishkoff (Elliot Gould). Em busca de vingança, sabotam espetacular e absurdamente a inauguração do novo cassino do malvado, o que rende seja lá que diversão o filme tem para oferecer. Isso inclui conseguirem uma das brocas gigantes responsáveis por cavar o euro túnel.

É tudo repetido com o já estabelecido padrão de qualidade da franquia, os ternos são lindos, os cabelos todos no lugar, embora desta vez o papel feminino esteja restrito a Ellen Barkin, que ainda amarga piada sobre sua já avançada idade (para esse tipo de filme). Supervisionado por Soderbergh, que em 1989 estava em Cannes ganhando a Palma de Ouro com sexo, mentiras e videotape. O orçamento daquele filme provavelmente não pagaria os ternos aqui em desfile.

Links:

Onze Homens e um Segredo
Doze Homens e um Novo Segredo
Link to comment
Share on other sites

  • Members

We Own The Night (Cannes 2007)

 


Passou agora à noite o inicialmente promissor (cena de abertura) We Own the Night, de James Gray, que esteve em Cannes em 2000 com o curiosamente obeso The Yards, filme melhor do que esse. Gray é um tipo de autor, fica voltando para a mesma estrutura de sempre, e quem viu seus três filmes - Little Odessa é o primeiro - vai perceber claramente. Temos sempre a família, e a partir dela surgem os conflitos envolvendo membros desgarrados da mesma, numa classe média realisticamente registrada, "working class people", em Nova York.

Em We Own the Night, mesma coisa, pai e filho representam duas gerações de policiais (Mark Wahlberg e Robert Duvall), o terceiro filho é a ovelha negra (Joacquin Phoenix), gerente de uma boate em Nova York onde a droga corre solta patrocinada por, sempre eles, os malvados russos. O filme, que abre com uma linda montagem de instantâneos do crime em Nova York, estilo Weegee, se passa em 1988, embora uma faixa de campeonato mais tarde no filme diga 1987.

Com os planos do irmão policial recém promovido, orgulho do pai, no sentido de limpar a área, e isso inclui a boate do irmão boêmio, a família entra em crise. São atropeladas as diferenças entre a ovelha negra e os estilos de vida e mundo do seu pai e irmão, analmente retidos na arte do "to serve and to protect".

A repressão mexe com os russos, que logo providenciam um atentado à vida do filho número 1, deixando filho número 2 puto, e ainda mais ignorado pelo pai. Gray, portanto, engata a marcha de velocidade no sentido de dar ao seu filme o tratamento culturalmente americano onde a família está acima de tudo, a necessidade de se enquadrar na lei, ordem e justiça, e, claro, ir vingar-se dos vilões.

Aos poucos, We Own the Night desmorona rumo à filosofia Bush de combater o "evil", usar uniforme, no sentimentalismo familiar do sangue do meu sangue. Fiquei imaginando esse material nas mãos de um Don Siegel, Sam Fuller, ou Clint Eastwood, creio que seria subvertido lindamente, e a trama/roteiro abririam chances maravilhosas para isso.

Filho número 2, por exemplo, envolve-se com a polícia, e serve de isca para mesma como forma de recuperar seu ibope com a sua família. Com uma vontade de vingar-se e a estrutura official da polícia ao seu dispor, é desanimador ver nosso herói abraçando a farda com tanta paixão, a interessante ovelha negra sendo abandonada. Ou talvez, quem sabe, esse filho desgarrado queria mesmo é ser aceitado, um reaça de armário querendo servir e proteger. Pelo filme que eu vi, fiquei com estranho desejo de fazer concurso para a polícia. Saindo da sala, vontade já tinha passado.

File visto na Debussy, Cannes, Maio 2007
Link to comment
Share on other sites

  • Members

Mutum (Cannes 2007)

Quatro%20estrelas

 

Por Kleber Mendonça Filho

Passou hoje na Quinzena dos Realizadores o longa metragem brasileiro Mutum, da carioca Sandra Kogut, uma bela surpresa que traz intacto para o cinema o tom específico e peculiar da prosa humana e sensorial de Guimarães Rosa. Essa adaptação do livro Campo Geral, escrito por Rosa nos anos 50, foi escolhida pelo diretor artístico da Quinzena, Olivier Pére, como filme de encerramento. O filme é uma co-produção Brasil-França, com a Tambellini Filmes de Flavio Tambellini, a rede de TV Arte e Walter Salles como um do produtores que está em Cannes apresentando o filme ao lado de Kogut. Mutum é a estréia no longa de ficção de Kogut, depois de uma muito bem sucedida carreira no curta-metragem, projetos multimídia e documentários.

Mutum tem seu eixo dramático muito bem dimensionado em Thiago (Thiago da Silva Mariz, estreante), um menino de dez anos que mora com os pais e o irmão no sertão de Minas Gerais. O filme, aparentemente, se passa nos dias de hoje, mas a paisagem, a casa, as pessoas e suas atitudes não ficariam deslocados nos anos 50. Ao respeitar fiel e sensivelmente as indicações do texto original, Kogut nos dá um mundo percebido por uma criança, ainda verde demais para entender as maquinações do ser humano e da vida adulta.

Grandes momentos de conflito (duas mortes e algumas desavenças, uma relação sugestiva entre a mãe e o cunhado) são deixadas sabiamente de fora, e a compreensão de Tiago é vaga para o que esses conflitos significam, e de onde eles surgiram. Isso dá ao filme um tom infantil que não faz do filme obra de caráter infantil. E o filme vai passando refletido no rosto do garoto.

Algumas horas depois da exibição de Mutum, Kogut e Salles receberam a reportagem do JC na praia do hotel Noga, em Cannes, onde discutiram o filme. Mutum é mais uma demonstração de que o cinema brasileiro está aos poucos indo buscar dinheiro fora, embora a própria Kogut ache que o caso do seu filme é bem peculiar.

"Eu morava na França e os contatos surgiram naturalmente lá. De qualquer forma, a participação da Ancine, no Brasil, e a entrada do Flávio Tambellini foram essenciais para que o filme crescesse. Mutum é, de fato, uma co-produção entre o Brasil e a França".

Salles, que vem produzindo filmes nesse formato (O Céu de Suely, Cidade Baixa), acha que, no que depender dele, seu raio de ação como produtor irá a outros países da América Latina. "O próximo filme do Pablo Trapero sera feito com dinheiro não apenas europeu, mas também coreano, e o filme não tem temática ou locação na Coréia, apenas produtores de lá que gostam do trabalho do Pablo", disse.

Walter também chamou a atenção para aspecto que lhe agrada muito nas co-produções com a Europa. Ele vê o ambiente europeu como o centro mundial para o cinema de autor. "As parcerias são igualitárias, a discussão em torno do filme e da obra não são nunca impositivas. Isso é importante porque, de certa forma, acho que no Brasil há muito mais talento do que capacidade para que esses talentos sejam exercidos".

Sobre Mutum, que estreou mundialmente com as três projeções de ontem, na Quinzena, Kogut falou sobre adaptar uma obra literária de porte como a de Guimarães Rosa. "Acho que um dos aspectos mais fortes da literatura é a capacidade que ela tem de tratar conflitos de maneira incidental, e não frontal. Em termos de cinema, é bom ter a preocupação de não fazer da imagem uma mera descrição, ou uma simples informação, e criar com isso um mistério que enriqueça o filme".

Kogut refere-se ao clima constante de descoberta que o espectador tem a oportunidade de compartilhar com o personagem principal. Ele tem relacionamento duro com o pai (João Miguel, de Cinema Aspirinas e Urubus), terno com a mãe (Izadora Cristiani Fernandes Silveira) e complexo com o irmão, cuja relação ganha contornos dramáticos tanto por causa de uma doença, como também no ciúme pela atenção do papagaio da casa. "Godard dizia que mais difícil era filmar aquilo que não estava no campo de visão, e como espectador, acho que Mutum convida a platéia não tanto a ver, mas a sentir", completa Salles.

Vendo Mutum, talvez não seja possível não lembrar de Menino de Engenho, de Walter Lima Jr., filme referência sobre a infância num Brasil agreste-sertanejo. Com felicidade, Kogut mantém rédea firme na sua forma de narrar, livrando o filme do uso de música, "optando por ter nos sons da natureza a música." O aspecto sensorial do livro, em grande parte intacto no filme, ganha especial sentido rumo ao final com uma descoberta lúdica do próprio personagem, e que Kogut aproveita lindamente nos seus últimos planos.

Kogut falou também sobre o ator Thiago da Silva Mariz, que foi preparado pela respeitada Fátima Toledo, que trabalhou com Hector Babenco em Pixote, em (1981) e dezenas de filmes brasileiros. "Quando conheci Thiago, eu o vi na escola com outras crianças da turma dele e me chamou a atenção imediatamente. Ele tinha aquele olhar "eu não acredito que o mundo é assim mesmo". Foi uma aposta, e trabalhando com ele eu fui vendo que o filme seria possível.

Mutum deve chegar ao Brasil no segundo semestre e já tem distribuição francesa garantida.


Links:

O Céu de Suely
Cidade baixa
Link to comment
Share on other sites

  • Members

Scorsese lança o World Cinema Fund

 

Na tarde de quarta-feira, o brasileiro Walter Salles, acompanhado de Martin Scorsese, apresentou o último estágio de restauração da relíquia brasileira Limite (1931), filme de Mario Peixoto, apresentado exclusivamente na paralela Cannes Classics. A projeção já veio como parte da iniciativa World Cinema Fund, que Scorsese lançou oficialmente na terça-feira, numa coletiva de imprensa em Cannes, ao lado de nomes como Salles, Stephen Frears e Wong Kar Wai.

Limite passou em cópia digital com resolução 2K (alta definição), e a parte final de recuperação será assumida pelo World Cinema Fund, uma iniciativa de Scorsese que tem o objetivo de salvar do esquecimento, e extinção, filmes importantes realizados ao redor do mundo. No caso de Limite, Salles foi apresentado como o responsável pela recuperação da obra de Mario Peixoto, projeto que há pelo menos dez anos o diretor de Central do Brasil vem carinhosamente acalentando. O documentário Onde a Terra Acaba, de Sergio Machado (que depois fez Cidade Baixa), produzido por Salles via sua Videofilmes, já era parte desse projeto maior.

O empenho de Walter Salles para restaurar Limite reflete o nível de paixão dos envolvidos no World Cinema Fund. A reportagem do JC perguntou aos cineastas se o critério principal para a escolha dos filmes que serão recuperados é a admiração pessoal de cada membro por um determinado grupo de filmes. A resposta incerta de Scorsese - "estamos abertos a receber novos membros e filmes sugeridos, mas creio que por sermos cineastas, conhecemos de perto a importância de preservar um filme para o futuro" - deu a entender que a iniciativa ainda existe mais como uma bela idéia do que como uma estrutura totalmente definida.

Salles, mais tarde, me confirmou que, de certa forma, sim, e adiantou que está observando nao apenas o cinema brasileiro - "filmes do Nelson Pereira dos Santos seriam adequados para o fundo, e que muito me interessa" -, mas também da América Latina, Argentina, Cuba. "Quando fui filmar Diários de Motocicleta na Argentina, vi muita coisa antiga que merece o máximo de atenção", disse Salles.

Scorsese completou afirmando que "a nossa idéia de 'filme esquecido' é um filme famoso que está em péssimo estado de conservação, ou uma jóia desconhecida que precisa ser divulgada". O fundo tem o patrocínio da Qatar Aiways, Cartier e Giorgio Armani e visa distribuir os filmes para cinematecas ao redor do mundo, fazê-los viajar pelo circuito internacional de festivais e também lançá-los em DVD.
Link to comment
Share on other sites

  • Members

Cannes 2007: Resultados

 

Por Kleber Mendonça Filho
27/05/2007

Vez ou outra festivais fazem justiça, e a Palma de Ouro foi para o melhor filme que Cannes 2007 apresentou nos 11 dias de competição, o romeno 4 Luni, 3 Saptamini Si 2 Zile (4 Meses, 3 Semanas e Dois Dias), do diretor Cristian Mingiu. Essa Palma fecha por completo a sensação real de que o cinema romeno é não apenas uma das filmografias mais consistentes do cenário internacional hoje, mas também sela o investimento que o próprio festival vem fazendo nos romenos, já há dois anos, com um total de cinco filmes que variam entre muito bons e excepcionais apresentados nas mostras Un Certain Regard e Quinzena dos Realizadores. Curiosamente, 4 Meses, 3 Semanas e Dois Dias foi a primeira aposta dessa safra romena recente destacada nas telas de Cannes que teve a oportunidade de competir na mostra oficial. E deu Palma.

O filme é apenas o segundo do diretor Cristian Mingiu, que levou também o prêmio da Crítica Internacional, caso raro de crítica e júri compartilharem a mesma opinião. 4 Meses, 3 Semanas e Dois Dias é um relato extremamente humano da vida na Romênia, dois anos antes de o regime comunista cair, nos anos 80. A partir de um aborto realizado por uma estudante, e dramaticamente ajudada pela sua melhor amiga numa tensa via crúcis, o filme é construído com narrativa impecável marcada pela honestidade e atenção aos detalhes.

Para sublinhar a qualidade do cinema romeno, California Dreaming, outro integrante da safra romena este ano, ganhou também a mostra paralela Un Certain Regard, prêmio entregue ontem à noite sob forte emoção na sala, uma vez que o jovem diretor do filme Cristian Nemescu faleceu aos 27 anos num acidente de carro, antes mesmo de o filme ser selecionado pra Cannes.

O segundo prêmio mais importante de Cannes é tradicionalmente o Grande Prêmio do Júri, que foi este ano capitaneado pelo cineasta inglês Stephen Frears (A Rainha). The Mourning Florest (Mogari No Mori ou A Floresta das Lamentações), da realizadora japonesa Naomi Kawase, filme intrigante sobre uma jovem e um idoso que lidam com perdas pessoais.

Perdas e tentativas de superação pessoal e espiritual também foram temas de boa parte dos premiados na noite de ontem. Melhor Roteiro foi para o alemão Fatih Akin, pelo seu filme Auf Der Anderen Seite, onde dois conjuntos de personagens turco-germânicos lidam com perdas pessoais. O delicado filme coreano Secret Sunhine, de Lee Chang-Dong, ficou com Melhor Atriz para Jeon Do-Yeon, sobre uma mulher que tenta entender o que significa ter perdido a sua família.

Le Scaphandre e le Papillon (O Escafandro e a Borboleta), sobre o jornalista francês editor da revista Elle que sofreu derrame e foi obrigado a ficar trancado dentro dele mesmo, comunicando-se com o seu olho esquerdo. O filme, que será um sucesso emotivo do cinema do bom gosto quando chegar aos cinemas do mundo, deu a Palma de Direção ao americano Julian Schnabel (Basquiat), que comportou-se de maneira estranha ao subir ao palco, provável indicador do quão grande o seu ego deve ser (talvez achasse que a Palma seria sua). "Dizem que o problema da França são os franceses. Isso não é verdade" foi a primeira gafe, seguida de "se eu tivesse ganho a Palma, a teria repassado para Bernardo Bertolucci". Ainda achou tempo para elogiar The Hit (1984), que o presidente do júri dirigiu em 1984.

Melhor Ator foi para o russo Konstantin Lavronenko, por Izgnanie (The Banishment), o novo e problemático filme do diretor de O Retorno, Andrei Zviaguintsev. Dois filmes dividiram o Prêmio do Júri, a curiosa animação franco-iraniana Persepolis, de Marjane Satrapi e Vincent Paronnaud, e o mega filme de arte Stelle Licht (Luz Silenciosa), do mexicano Carlos Reygadas.

O prêmio Camera D'Or, dado a primeiros filmes de ficção, teve menção especial para Control (da seleção Quinzena dos Realizadores), de Anton Corbkin, que nos narra a história de Ian Curtis, líder da banda inglesa Joy Division. O prêmio principal foi para o filme israelense Meduzot (seleção Semana da Crítica), de Etgart Keret e Shira Geffen. Keret falou ao microfone que a última vez que ele tinha vestido um terno foi no seu Bar-mitzvah.

Gus Van Sant levou uma simpática lembrança para casa através do seu novo (e ótimo) Paranoid Park com o prêmio especial dos 60 anos do Festival de Cannes. "Decidimos dar esse prêmio a ele pela sua carreira e por ter feito um lindo filme", disse Frears ao microfone.

BRASIL - Uma honra para o Brasil veio na forma do prêmio Kodak Discovery Award dado ao muito bom curta brasileiro Um Ramo, de Juliana Rojas e Marco Dutra, que passou na Semana da Crítica. A dupla paulista esteve há dois anos no Cinefondation (para filmes de universidade) com o curta O Lençol Branco. A estréia de Um Ramo foi em Cannes, e a partir de agora fará não apenas o circuito internacional, mas também festivais no Brasil. Com uma narrativa segura e fotografia exepcional, Um Ramo traz o toque do cinema fantástico ao narrar as misteriosas transformações físicas de uma mãe de família, em obra simbólica e sugestiva que aponta para dois nomes mais do que promissores.


Curta Metragem

Ahma
Anthony Chen (prêmio especial do júri)

Run
Mark Albiston (prêmio especial do júri)

Ver Llover (Palma de Ouro)
Elisa Miller

 

 

Link to comment
Share on other sites

  • Members

27/05/2007 - 17h05
Veja os prêmios entregues no 60º Festival de Cannes

 

 

CANNES, França, 26 maio 2007 (AFP) - O filme "4 meses, 3

semanas e 2 dias" (4 luni, 3 saptamini si 2 zile), do romeno Cristian Mungiu, conquistou neste domingo a Palma de Ouro do 60º Festival de Cannes.

Relação dos premiados:

Palma de Ouro: "4 luni, 3 saptamini si zile" (4 meses, 3 semanas e 2 dias), do romeno Cristian Mungiu.

Grande Prêmio: "Mogari no Mori" (Floresta de Mogari), da japonesa Naomi Kawase.

Prêmio do Júri, ex aequo: "Persépolis", da franco-iraniana Marjane Satrapi e do francês Vincent Paronnaud, e "Luz Silenciosa", do mexicano Carlos Reygadas.

Melhor atriz: a sul-coreana Jeon Do-yeon, por "Secret Sunshine".

Melhor ator: o russo Konstantin Lavronenko, por "Izganie" (Desterro).

Melhor direção: "Le Scaphandre et le Papillon" (O escafandro e a borboleta), do americano Julian Schnabel (realizado na França).

Melhor roteiro: "Auf der Anderen Seite" (Do outro lado), do turco-alemão Fatih Akin.

Prêmio especial do 60º aniversário: "Paranoid Park", do americano Gus Van Sant.

Palma de Ouro de curta-metragem: "Ver Llover", da mexicana Elisa Miller.

Câmera de Ouro (para longa de estréia): "As Medusas", dos israelenses Etgar Keret e Shira Geffen.
Link to comment
Share on other sites

Join the conversation

You can post now and register later. If you have an account, sign in now to post with your account.

Guest
Reply to this topic...

×   Pasted as rich text.   Paste as plain text instead

  Only 75 emoji are allowed.

×   Your link has been automatically embedded.   Display as a link instead

×   Your previous content has been restored.   Clear editor

×   You cannot paste images directly. Upload or insert images from URL.

Loading...
 Share

Announcements


×
×
  • Create New...