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Forum Cinema em Cena

Cineclube Light


Mr. Scofield
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Bom, vou postar aqui, já que o filme foi citado:

 

Diary of the Dead (George A. Romero, 2007)

 

Me dói dizer isso,

mas esse do Romero é fail. Sei que é tosco numerar análise, mas vou

citar 3 fatores que me fizeram não gostar: 1) As atuações são

terríveis. Sério, se isso não foi intencional (como eu acho que não

foi) deve ser um dos filmes mais mal atuados de sempre. Isso te tira da

trama e aí caímos no item... 2) As críticas sociais estão ali, com a

mão sempre pesada do Romero. Mas aqui ele esfrega na nossa cara, como

se ele e os péssimos atores estivessem lendo a letra de algum RAP.

Mesmo assim, poderia ser divertido não existisse o item... 3) Romero

não soube explorar o fator youtube da coisa. Ele não conseguiu

trabalhar com poucos recursos e teve que enfiar uma trilha (em uma

desculpa esfarrapada-ssa), filmar com diferentes câmeras, etc. Ajudado

pelos itens 2 e 3 a parada vira uma farsa geral, falhando como crítica

e como diversão.

 

Mas o amish bomber é engraçado.

 

Visto em

blu-ray com imagem/áudio meia boca. Aliás, aqui devo fazer um adendo

sobre o item 3. O filme falha miseravelmente na captação de som, já que

por mais que a câmera se movimente, o áudio fica estático, como em um

filme não POV.

 

 

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Quando surgiu Banho de Sangue há algumas páginas atrás, o Schonfelder comentou que esse não seria o lugar pra falar do filme. Não sei, pessoalmente sou adepto daquela velha história: só existem dois tipos de filmes, os bons e os ruins, mas etc, quem sabe não seja mesmo. Enfim, não sei o que vocês acham, mas vou comentar um aqui. Se não for memso, tá ok

 

Um Gato no Cérebro (Un Gatto Nel Cervello - Lucio Fulci, 1990) - 4/4

 

gattoj.jpg

Uma viagem de sangue, vermes, vísceras e orgias de violência ininterrupta pelos cantos podres da mente de um dos diretores mais loucos e criativos do (outro) mundo. Quem já teve algum contato com a filmografia do cara sabe o quanto significa dizer que Um Gato no Cérebro é o filme mais extremo de Lucio Fulci. Um fiapo de trama e uma não-narrativa onde o ritmo alucinante é ditado por intervalos quase irrelevantes entre as mortes, uma sobre a outra, uma mais absurda que a outra.

É o gore puro. Revisite a obra de Fulci (especialmente nos 70 quando ele ainda não filmava de dentro de uma camisa de força) e dispa seus filmes de toda sofisticação visual, de discurso, de atmosfera, daquela habilidade hipnótica de conferir horror às coisas simples e, lá no centro, como a semente de uma fruta, você vai encontrar a violência em estado virgem, vermelha, como que esperando pra ser jogada no ventilador.

É assim que Fulci se aproxima de Exorcismo Negro e Ritual dos Sádicos, do Mojica, mas recusa todo e qualquer desenvolvimento nobre que poderia ser feito da metalinguagem, tão bem-tratada quando é utilizada no cinema. Fulci é demente e não quer nem saber de estudo de personagem, de auto-perspectiva, de reflexão pedante e pretensiosa acerca dos seus próprios ires, vires e voltares. A psicologia é tratada como prostituta, usada e jogada fora apenas como forma de definir noções meio vagas de início e fim.

Um Gato no Cérebro é tipo uma obra de arte de um serial killer que pega um corpo em perfeito estado, o corta em pedaços, mistura tudo e monta de novo com o lado de dentro pro lado de fora e com um pé no lugar da cabeça.


*Visto num arquivo ripado de um vhs semi-digerido por uma avestruz com apendicite [/sapo]
Forasteiro2009-09-05 18:05:55
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Quando surgiu Banho de Sangue há algumas páginas atrás' date=' o Schonfelder comentou que esse não seria o lugar pra falar do filme. Não sei, pessoalmente sou adepto daquela velha história: só existem dois tipos de filmes, os bons e os ruins, mas etc, quem sabe não seja mesmo. Enfim, não sei o que vocês acham, mas vou comentar um aqui. Se não for memso, tá ok

 
[/quote']

É óbvio que é o lugar para falar desse filme e de vários outros. Adorei seu comment de Gato no Cérebro e daqui a alguns dias comentarei, já que vou vê-lo nem que tenha que matar meio mundo. den

E não ligue para o Schon, ele é doido. den

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A Morte Caminha de Salto Alto (Luciano Ercoli, 1971) - 3/4

 

Um giallo surpreendente. Já não é muito comum que um thriller italiano funcione sem aquela virtuose visual típica (porque o exagero é naturalmente o pé na porta dos gialli cinema adentro), mas quando o filme investe no desenvolvimento da investigação, jogando o bruto do que o caracterizaria como horror pra segundo plano pra se transformar numa simples trama de suspense, o resultado é quase que invariavelmente desastroso. Também porque é preciso uma habilidade sobrenatural do diretor para fazer com que seu filme sobreviva além da base fraca que um whodonit oferece.

 

A Morte Caminha de Salto Alto é único por, simplesmente, conseguir rivalizar com os bons gialli genuínos utilizando a roupagem de apenas mais uma obra transeunte entre o horror novo e o velho suspense já sedimentado pela herança do noir, filmes que pipocavam no início da década de 70, quando a noção de um novo sub-gênero ainda era meio vaga (o próprio Argento precisou de 6 anos para compreender Mario Bava em Seis Mulheres Para o Assassino e finalmente entregar ao mundo o segundo representante-modelo do giallo).

 

Luciano Ercoli já me ganha ao beber de Janela Indiscreta e utilizar o recurso do voyeur com alguma classe que lembra, guardadas todas as proporções, a do velho gordo. Há, aliás, uma forte presença da lente ao longo do filme. Do ato de olhar, da visão enquanto sentido. Mais de uma vez Ercoli brinca com o formato da tela para trazer ao espectador a imagem pelo filtro da subjetiva de determinado personagem, ainda quando o próprio personagem é desconhecido.

 

Há todo um grande labirinto narrativo arquitetado para que o espectador brinque de se perder, como pelo fato de não haver um protagonista claro, ou pelo próprio ritmo todo picotado e pelo roteiro deliciosamente confuso e sobrecarregado, lembrando um pouco À Beira do Abismo, de Hawks, nesse sentido (depois de 80 minutos de filme que eu me lembrei que o estopim do imbróglio todo havia sido um roubo de diamantes, um McGuffin aliás que nem o próprio Ercoli dá muita importância, haha).

 

Enfim, um giallo ainda verde enquanto representante do gênero, utilizando-se de um ou outro elemento apenas como forma de compor um tempero italiano sobre este misto de neo-noir com suspense inglês que é o filme de Luciano Ercoli. E o melhor de tudo é que funciona maravilhosamente, mesmo quando não deveria.

 

Construção e desconstrução de olhar, por Luciano Ercoli

 

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Kwaidan (Masaki Kobayashi) : 4/4

 

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Nunca tinha parado pra pensar nisso, mas é bastante interessante o período de transição pro filme colorido, na carreira de diretores que já tinham uma linguagem cinematográfica característica na era do preto-e-branco. Só pra ilustrar o meu raciocínio, poderia citar o Fellini com Julieta dos Espíritos (meu predileto dele), Antonioni com o Deserto Vermelho (considerado por muitos como o melhor uso de cor em um filme) ou os primeiros coloridos do Bava (principalmente Seis Noivas para o Assassino). Kwaidan, contemporâneo destes, também parece transpirar o deslumbramento com as novas possibilidades que as cores traziam : mesmo não tendo assistido a nenhum dos filmes preto-e-brancos do diretor, dá pra sentir o impacto e o cheiro de ineditismo nas cores, sendo as mesmas utilizadas (muitas vezes, de forma exagerada) no intuito de pontuar sentimentos, ilustrar nuances, enfim, ser um "algo mais" ao preto e branco.

Nesse sentido, o Kobayashi está mais próximo da veia expressionista do Mario Bava, com as cores saltando aos olhos por via de iluminação e cenografia - sendo essa até mais exagerada, com uso constante de painéis coloridos no lugar de paisagens (o que provavelmente reduziu o número de cenas em externa, e permitiu o melhor controle de luz) que, ao mesmo tempo que trazem uma cara meio amadorista, parecem ilustrar as histórias folclóricas japonesas , bem como conferem um clima meio claustrofóbico, também bastante propício.

Mas antes que alguém ache que trata-se apenas de um caleidoscópio bonitinho, é bom frisar que o que temos aqui é um balanço entre lirismo e densidade. Histórias típicas da cultura japonesa (4 delas), que tratam basicamente de espíritos que em algum momento entram em rota de colisão com o mundo em que deixaram de viver, mas não por um viés de filme de terror - o elemento mais assustador, na verdade, é a solidão. Tudo, em termos de roteiro, é desenrolado de uma forma simples, mas compensada pela execução, que traz uma força e consistência às histórias que talvez só um velhinho japa contando-as a seus bisnetos consiga transmitir.

E as imagens, porra, as imagens ficam na tua cabeça de forma definitiva, não só os frames estáticos, mas o movimento das câmeras, a forma que elas vão abrindo caminho até um enquadramento diferenciado, a forma que ela olha pros personagens, e o olhar recíproco dos mesmos. Posso até estar enganado, mas Kobayashi me pareceu ser mais um faixa-preta do cinema mundial. A conferir.

 

PS - a Criterion (que lançou o filme em dvd) já deu indícios que lançará o filme em bd, uma vez que colocou o mesmo numa recente votação para "próximo lançamento". Soltem logo essa porra, seus putos.

PS 2 - queria colocar mais caps do filme, mas se a preguiça de escrever já é grande, quem dirá de subir imagens... 06

 

 

Schonfelder2009-09-14 03:31:31

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O Hospedeiro (Bong Joon-ho, 2006) - 10

 

 

Depois que terminei de assistir esse filme fui logo tentando conter o entusiasmo, evitei ficar imaginando o nível de empolgação que ele poderia ter despertado em mim, me contentei apenas em lembrar de cenas isoladas, sem precisar enxerga-lo como um todo, mesmo sem ter uma compreensão melhor do que tinha acabado de assistir, depois faria isso.

Basicamente esfriei ele e fui fazer outra coisa, pra não cair em uma falsa empolgação e atira-lo em um patamar onde não está, como aconteceu com Filhos da Esperança, filme que eu surtei quando terminei de assistir e depois caiu vergonhosamente (mesmo ainda achando bom, só que nem perto do que imaginei no inicio). Fiz isso pq a sensação que senti ao terminar esse foi muito semelhante com a vez em que terminei o do Cuarón.

Então o processo de digestão com esse aí foi diferente pra mim, como falei ali, não me interessei no momento em me aprofundar de uma forma mais ampla no que tudo aquilo ali tinha me dito, me limitei a curtir e deliciar especialmente com todo o caráter visual da coisa, desde o momento em que o monstro aparece como uma simples mancha negra quase que imperceptivel dentro da água, ou quando fica encolhido quase que no formato de um casulo embaixo da ponte, até a batalha no meio daquele caos de fumaça amarela. Isso aqui é tão bem filmado que da vontade de ficar revendo certas cenas sem parar. Não falo apenas em movimentos de câmera, enquadramentos e etc, mas isso tudo sendo posto em pratica em um dos ambientes fisicos mais geniais que pude conferir (eu diria que é o mais). A atmosfera criada naquele local é um personagem a mais no filme, a ambientação onde ocorre tudo aquilo passa ser parte essêncial, tão importante quanto o monstro, tão importante quanto qualquer outro personagem. Pra se ter uma idéia, é a mesma coisa que pensar em Chaves fora da vila. Não da. Aquele cenário ganhou vida própria, é orgânico, ele pulsa. Se resolvessem voltar a produzir aquilo em algum outro condominio, não daria certo, ali era a casa perfeita pra eles. Esse lago, esse encanamento, essa toquinha do bichão, é a embalagem perfeita pro filme, tem tanta vida quanto o monstro, chega a brilhar a coisa. Poucas vezes eu vi um ambiente tão bem utilizado, que na metade do filme tu já estivesse familiarizado com os arredores, em uma espécie de aconchego até. Talvez coisa semelhante eu tenha visto em Dogville, Querida Wendy, Sinais, A Dama na Água, Stalker... Mais alguns até, mas nada com a intensidade desse aqui. É demais.

E una isso com a capacidade insana desse japa em criar cenas de ação visualmente lindas com uma dramaticidade empolgante. Aliás, aí ta um grande diferencial desse pra maioria dos catastrofes, o filme é muito mais drama do que qualquer outra coisa. Se tu pegar um Independence Day, Cloverfield, Guerra dos Mundos, sei lá, onde o foco é a ameaça contra o mundo, e os personagens especificos presos nesse universo fugindo também dessa ameaça.. aqui é diferente, fica tudo mais limitado. Aqui é foda-se o mundo, o que importa é a familia. Na verdade é totalmente pessoal, família x monstro, chegando a ser uma questão de honra, todas as consequências externas deixam de ser importantes pra desenvolver exclusivamente os objetivos de resgate deles. Mais ou menos como se caso isso fosse conquistado, dane-se o que aconteceria depois. Acontece que isso é muito mais arriscado, e pra conseguir se sair bem nessa, apenas criando um núcleo de personagens extremamente eficientes. E pqp, vendo isso, fica difícil saber onde esse cara acerta mais nesse filme. Todos os personagens, tanto os que partem para o resgate quanto os que esperam por ele, praticamente nascem inesqueciveís. Ele adota na criação deles uma personalidade infantil, escrachada, dando caracteristicas e habilidades semelhantes até as de personagens de anime, onde o humor e a ingenuídade prevalecem, e conseguindo inserir isso no universo do filme de uma forma que sempre faça as emoções oscilarem para os dois lados, como sentir o lado amargo que os personagens vivem, como também rir com eles, a cena do velória é perfeita pra ilustrar isso.

É praticamente uma fábula moderna, da familia que vai em resgate da garotinha na toca do peixe gigante. E no final, as consquências disso tudo, é as recompensas que cada um consegue, é dos momentos mais bonitos do cinema.

Sem medo de me enganar como com Filhos da Esperança, um dos 20 melhores filmes que assisti.

Tensor2009-09-14 18:29:07
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Anticristo, Lars von Trier (1/4)

 

vem sendo bradado aos quatro ventos que, Antichrist é um

filme difícil, e eu concordo, é um filme difícil de assistir, mas não

por ser extremo, brutal, ou demasiado simbólico/ideológico, mas sim,

por um motivo bem mais simples… é um filme ruim.  a sensação é que, o

Von Trier se perdeu dentro de si mesmo, e suas idéias, um filme que se

sustenta basicamente por sua fama de agressivo, ou metafórico, não pode

ser, de fato, muito substancial.

parece que há uma clara inversão de valores, ao passo que

metáforas e cenas isoladas devem – ou deveriam – fazer parte dum todo,

senão você apenas elenca separadamente tais qualidades mas ressalta a

fraqueza narrativa da obra, é o caso. aqui temos duas atuações

estupendas soterradas por um filme mal conduzido, capenga. é muito

fácil dizer que é algo experimental como forma de tentar diminuir a

fraqueza narrativa da obra, mas isso é conversa pra boi dormir, uma

forma de defender o indefensável. ser experimental, metafórico (raposa

falante, sei, interação com a natureza, isso até dr. dolittle é mais

feliz, haha) ou ousado, não é sinônimo de qualidade.

e esse papinho de

que é um filme pra quem tem cérebro (só os inteligentes podem ver? rá!)

é outra tentativa insegura e frustrada de defender um pobre ponto de

vista. o cinema é sensorial sim, e pode ser que alguém goste desse

filme, mas por favor,  não por esses motivos rasteiros e sem se blindar contra

críticas – “eu gostei, sou inteligente, você não, é burro”.

PS: Por sinal, tem um filme deste ano com a temática similar, mas superior. Grace, de Paul Solet.

batgody2009-09-20 23:47:07

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Tivemos uma conversa bem interessante (bat, nono e eu) a respeito de Von Trier e pedantismo na blogsfera. Isso aí que o Bat falou é sério mesmo, tem gente dizendo que é preciso ter nível intelectual para apreciar Anticristo. Vou repetir o que eu disse mais cedo no msn: pra mim, o cinema é imagem em tempo real transcorrendo na tela. A partir do momento em que o filme depende de uma significação externa para poder funcionar (quando te obriga a buscar referências metafóricas nas páginas da bíblia, por exemplo), significa que ele falhou enquanto cinema, que é a arte de comunicar através do vídeo. E o Nono falou um troço perfeito, se o filme parte como "experimental" e continua preso ao conceito enquanto é visto mundo afora, a experimentação então falhou olimpicamente.

 

Eu vou ver Anticristo mais tarde, ou amanhã. Não pra me armar de argumenos nem nada, mas porque estranhamente eu tô me coçando de vontade de ver essa porra. Vou de coração aberto mesmo, se rolar, escrevo alguma coisa.
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é, apesar de eu ter sido o único do chat a ter visto o filme, a conversa foi mais conceitual e, por isso, muito interessante. e, de certa forma, o que me despertou vontade em escrever um pouco sobre, nem bem pra falar só do filme, mas também pra tentar despertar uma discussão em torno dele e das questões que o cercam de uma forma mais ampla, como esses ingredientes já citados pelo Forasta.

 

ah, e sobre ir de coração aberto, eu fui muito de peito aberto pra esse, na realidade, tava esperando ver algo tão, mas tão ruim que me venceria num belíssimo WO, não foi o caso, a expectativa abaixo da sola fez com que eu até apreciasse algumas coisas isoladas, como as citadas atuações e, até umas passagens, mas o todo é uma massa que abatumou.

batgody2009-09-20 19:24:36

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Tivemos uma conversa bem interessante (bat' date=' nono e eu) a respeito de Von Trier e pedantismo na blogsfera. Isso aí que o Bat falou é sério mesmo, tem gente dizendo que é preciso ter nível intelectual para apreciar Anticristo. Vou repetir o que eu disse mais cedo no msn: pra mim, o cinema é imagem em tempo real transcorrendo na tela. A partir do momento em que o filme depende de uma significação externa para poder funcionar (quando te obriga a buscar referências metafóricas nas páginas da bíblia, por exemplo), significa que ele falhou enquanto cinema, que é a arte de comunicar através do vídeo. E o Nono falou um troço perfeito, se o filme parte como "experimental" e continua preso ao conceito enquanto é visto mundo afora, a experimentação então falhou olimpicamente.

 

 

 

 

 

 

Eu vou ver Anticristo mais tarde, ou amanhã. Não pra me armar de argumenos nem nada, mas porque estranhamente eu tô me coçando de vontade de ver essa porra. Vou de coração aberto mesmo, se rolar, escrevo alguma coisa.
[/quote']

 

 

 

E digo mais em relação a essa discussão: Já é uma frase batida, mas cada um "sente" um filme de uma maneira, têm a sua própria interpretação do que é apresentado na telona (e isso é uma das coisas que define a arte). Portanto, esse argumento pífio e pedante de "É preciso uma precepção extra-sensorial quase que clarividente para entender o filme X" é uma grande e fétida falácia. Pode ter funcionado para você , mas não venha me dizer nas entrelinhas que "Se não entendi o filme X, eu sou um idiota completo e você é superior a mim.."

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Pois é. Quando eu criei o tópico perguntando se a galera via extras, foi justamente com essa intenção. Não me importa se o diretor tentou salvar os coalas da extinção com seu filme, o que importa é se no momento que eu vi ele me fez ligar pro 0800 e doar 100 contos.

 

Aliás, a crítica do Pablo para Magnólia me irrita por isso. Ele viu o filme e depois ficou caçando referências e o caralho, coisa que eu acho bem inútil.

 

E sobre esse lance do "entendimento", é bem isso aí. E já vi muito neguinho que se diz cinéfilo soltando essas de "tu não entendeu".

 

Perucatorta2009-09-20 19:31:37

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há, para mim, uma clara diferença entre assistir filmes e montar quebracabeças/procurar pêlo em ovo e etc. as referências, simbologias e o caralho-a-quatro servem para somar, são bônus quando estão lá mas se somadas a algo de qualidade, filmar um elefante falante numa pista de fórmula truck qualquer um filma, quero ver inserir isso num contexto e, melhor, fazer com que a obra não dependa disso pra ser taxada de qualificada.

 

o PTA é um cara que não vou muito com a cara, a marra dele transparece em seus filmes, mas, em Punch Drunk Love ele faz isso, e o filme não depende disso, você pode ficar boiando com um piano na calçada e mesmo assim, achar o filme belo, por exemplo. já esse do Von Trier, é só procurar por aí, só se fala em simbolismos, metáforas e brutalidade, southland tales tem metáforas, e saw é brutal, e? grandes bosta.

 

batgody2009-09-20 19:37:07

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O pior é que esse pensamento pedante não acontece apenas no cinema, mas em todas as formas de arte. Seja quando alguém deixa de gostar de tal banda só porquê ela começa a vender milhões de álbuns (e aí deixa de ser aquela "coisa cult que só os mais entendidos conseguiam apreciar"), ou quando você vê um quadro que "expressa a finitude do ser humano enquanto bípede e detentor de polegar opositor e o caralho a quadro" (e você só consegue enxergar vários borrões que não significam nada.

 

 

 

O que acontece muitas vezes é muitos sujeitos pedantes querendo "elitizar a arte" com essas atitudes, quando na verdade é justamente o contrário...

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The Orphan  (com esquema dos rapazes seria 0/4, já que ainda não dei nota)

 

Entrando no embalo do terror psicológico, assisti a essa pequena porcaria ontem e decidi escrever um pouco a respeito porque vi comentários bastante positivos e não consigo entender por quê.

 

As falhas começam logo de início. Vera Farmiga está péssima no papel, ela não transmite as emoções da personagem de forma a envolvê-lo com a personagem. Aí fica ela lá e você aqui.

 

O início que era para ser de fato impactante, surge como algo tão bobo e superficial que já anuncia as besteiras subsequentes.

E o filme não caminha bem em NENHUMA parte, é impressionante como o diretor parece querer fazer um filme absolutamente encaixadinho e inteligente e como o resultado é uma sequência forçada de fatos, personagens incrivelmente estúpidos (qualquer idiota veria que há algo "diferente" com a menina - se aquela mulher é formada em psiquiatria, eu sou doutor sem fazer o curso, porque as estratégias de manipulação dela chegam a ser imbecis) e uma sucessão de eventos tolos.

 

E, naturalmente que, pela falta de criatividade para uma estória realmente aterrorizante, são criados personagens que parecem estúpidos. Eles são o sustentáculo e precisam ser estúpidos para se situarem nas situações igualmente estúpidas.

 

Tudo é então encaixadinho e acontece uma série de coincidências que enfatizam e ampliam o poder da garota sobre a família. Mas é forçado DEMAIS. Sabe aquela plausibilidade que ocorre estranhamente NO MOMENTO CERTO? Tipo, em determinado momento a personagem de Vera Farmiga compra duas garrafas de vinho - é plausível para o pesadelo psicológico que ela está vivendo - mas absolutamente forçado ocorrer no exato instante que aquilo iria ser usado contra ela.

 

Há um problema gravíssimo com alguns filmes de manipulação. A intenção é deixar o espectador puto com a ação da pessoa manipuladora e suas conquistas enquanto todos parecem não enxergar o que é óbvio. É uma estratégia perigosíssima quando o filme é levado à sério demais pelos próprios personagens.

 

Primeiro porque se a manipulação não for muito inteligente ela pode soar estúpida e forçar os personagens a serem estúpidos para suportá-la, criando um ciclo, como o caso desse aqui. Segundo é o "levar a sério". Você pode manipular o espectador a ficar morrendo de raiva de personagens estúpidos de forma consciente.

 

O melhor exemplo para mim é aquele filme maravilhoso do samba do crioulo doido indicado pelo Foras - com zumbis, criaturas fantásticas, inferno, portões dimensionais, paranormais, etc (me esqueci o nome) - onde o personagem principal tem um número limitado de balas, atira nos zumbis, percebe que eles só morrem instantaneamente quando atingidos na cabeça e CONTINUA insistentemente ATIRANDO EM OUTRAS PARTES DO CORPO deles e gastando as balas inutilmente. Fica explícito que essa peculiaridade do personagem, essa falta de raciocínio simples foi pré-fabricada com intenção explícita e funciona incrivelmente bem, você quase morre querendo entrar na tela, pegar a arma e matar os zumbis você mesmo.

 

Para concluir, um exemplo de filme onde a manipulação funciona muito bem nos moldes supracitados, com uma estória inteligente, personagens racionais e plausíveis, tornando tudo surpreendente é o magnífico "The Usual Suspects".

 

 

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Vi. Sem surpresas. Postei esse textinho no blog também, então tem repetidas algumas coisas que eu já tinha dito aqui.

 

Anticristo (Lars Von Trier, 2009) - 0/4

 

Falávamos, o Djonata, Robson e eu, nessa tarde de domingo enquanto o jogo não começava, sobre todo esse conceito de filmar pela mensagem, não pela própria imagem instantânea correndo na tela. De deliberadamente fazer de seu filme um dependente sine qua non de algo que o espectador precisa buscar do lado de fora, praticando a subversão da condição mais básica para que um filme seja, afinal, um filme: o prazer pela imagem. Pura e simples. É por isso que quando Von Trier percorre cada fotograma não apenas assumindo que seu filme não está ali, presente na tela, mas exigindo que sua real “apreciação” (ê termo maldito) se dê por uma simbologia externa ao áudio e ao vídeo de momento, ele está inventando algo a que pode dar o nome de qualquer coisa, menos cinema.

 

Sabe, há algo acontecendo aí fora. OK, você pode ter gostado do filme mesmo que exatamente por essa metaforização-quadro-a-quadro, ou talvez porque julga que ele funcione e muito bem enquanto simplesmente cinema. Nenhuma surpresa quanto a isso, não estou “contra” um eventual e sincero “gostar de Anticristo”, o que seria simplista e absurdo. O caso é que o Von Trier blindou a si mesmo de tal forma que, mais de uma vez, já li internet afora que é preciso inteligência e bagagem cultural para gostar e compreendê-lo. E ainda, que os detratores de Anticristo não possuem estômago ou preferem não ser “desafiados” cinematograficamente.

 

Desafio pra mim é cantar o hino nacional com a boca cheia de bolacha, já a adjetivação prolixa e vazia, essa produz muitas vezes algumas pérolas da semântica, como partir do princípio de que qualquer termo sonoro carregado de um senso de “maldade” é sinônimo de qualidade imediata e auto-explicativa, tais como “filme ‘incômodo’, ‘brutal’, ‘visceral’, ‘repulsivo’”, como se em algum universo bizarro do outro lado do espelho a forma não tivesse relevância alguma em relação ao conteúdo. É louco isso, e é algo que supostamente era pra estar implícito (tanto que eu me sinto besta só de transcrever aqui): não interessa o que se filma. Um cachorro pode filmar algo digno dos adjetivos que usei ali em cima (2 Girls 1 Cup é um dos vídeos mais chocantes e repulsivos de todos os tempos, e nem por isso eu o coloco num top 10)

 

O poder está na câmera. Sempre esteve, certo? Dêem uma câmera pro Von Trier e uma pro Spielberg (que parece ser o cineasta-oposto pra esse exemplo). Peça pra que os dois filmem uma mutilação. Peça pra que os dois filmem uma partida de xadrez. Não basta narrar o pincel e se esquecer do pintor, não basta jogar elementos em cena e manipulá-los porcamente, e é isso que ocorre com Von Trier. Jogar ao vento cenas de sexo, violência ou raposas falantes como se os objetos simplesmente se bastassem em si, como se a pedra determinasse qualidade da escultura.

 

Tudo isso faz de Anticristo uma experiência quase insuportável. E que fique claro que, nesse texto, isso não é ponto a favor do filme, nem que tenha sido “intenção” do Von Trier produzir algo deliberadamente desagradável, o que seria estranhamente conveniente. Uma câmera na mão chatíssima, quadrada, com uma movimentação rápida e convulsa, e uma edição feita com aquela tesoura que a Gainsbourg usa; é como andar num carro velho com suspensão fudida enquanto uma paisagem de merda trepida pela janela.

 

E o mais legal de se ter o alvará do experimentalismo estampado na testa é que você pode se lixar pra questões de ritmo e narrativa, pode deixar a câmera cair no chão porque, afinal, faz tudo “parte do conceito”. O Robson falou algo perfeito sobre isso naquele chat citado no início do texto; disse que se o filme parte como “experimental” e continua preso ao conceito enquanto é visto mundo afora, a experimentação então falhou olimpicamente.

 

Aliás, é difícil se convencer de que não se trata de sarcasmo quando Anticristo é classificado por aí como um filme de terror (alguns ainda completam com “psicológico”, eu quase caio da cadeira). Von Trier não tem a menor idéia de como construir tensão, de como manipular atmosfera ou instaurar aquela iminência de perigo que quase te faz sentir vulnerável ao desconhecido ou sozinho no escuro, arma de tantos mestres da linguagem cinematográfica como Bava, Argento, Carpenter, Kubrick, De Palma, Bergman. Aliás, A Hora do Lobo pode ser um paralelo interessante de como realmente se filme o horror mental, porque de fato há essa certa diferença básica entre fazer uma porra WTF foda pra caralho, tipo Lynch, e fazer uma porra WTF que não passa de uma simples porra WTF, tipo curtas experimentais universitários pretensiosos e pedantes.

 

O cinema é efêmero. Vive de um quadro que se acende na tela, de um ângulo ou de um movimento em que a luz estava de determinada forma, e que agora já faz parte do passado. É som e imagem feito água corrente, e é a este tempo presente e incapturável que a arte de comunicar pertence, fotografando os sentimentos e os deixando adormecer na memória. A partir do momento em que seu filme falha enquanto é luz transcorrendo na tela, ele falha enquanto cinema, e não serve nem pra estar ao lado de um documentário da vida animal na prateleira da locadora.
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