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Forum Cinema em Cena

Festival CeC de Cinema Francês


Jack Ryan
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Aproveitando o gancho do Silva.

 

Já eu ainda estou numa situação bem complicada. É que a minha filhinha de 2 meses está com cólicas muito fortes. É algo natural (aproximadamente 20% dos recém-nascidos têm cólicas a partir da 3ª ou 4ª semana), mas quando ocorre, não tem remédio.

 

Como resultado, ela chora muito, e tem dificuldades pra dormir. Em consequência, vocês nem imaginam o estado de humor que eu e minha mulher ficamos... As crises são intensas e não há como ter concentração pra mais nada - inclusive para escrever resenhas.

 

Estou bem atrasado com o Marcelo, e sinceramente nem sei se vou conseguir mandar as outras três. Talvez no trabalho, de onde estou teclando agora, eu consiga escrever algo. Mas isso se o serviço permitir.

 

Bacana você ter visto Fat Girl, Marcelo. Eu, humildemente, considero esse filme um dos melhores de toda a década de 00. É brilhante: inteligente, ousado e muito agressivo em sua linguagem e estética. O tipo de filme que fica na cabeça por dias e dias (no meu caso, ficou por meses mesmo). Recomendo muito!

 

E eu acho que não tem amor ali não, hehe. Tem atração física, não amor. Mas não há nenhum problema com isso. Aliás, é essa noção arcaica de que, para haver desejo e sexo, tem que haver algum tipo de amor (principalmente por parte das mulheres, pois os homens são menos cobrados a esse respeito), que a diretora denuncia. Como diz Anaïs, "a virgindade é uma merda, como é que ninguém se dá conta disso?".

 

P.S.: Legal que vocês gostaram da resenha sobre Belleville. Valeu pelos elogios!

 
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O Salário do Medo (Henri-Georges Clouzot, 1953)

 

by leomaran

 

 

 

"A montanha está pegando fogo. De santos anjos se veem as chamas."

 

 

 

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Cada passo pode significar a morte. O tempo gasto não tem lógica, porque um obstáculo chega a demorar horas para ser transposto. Curvas perigosas, uma estrada irregular, obstáculos no meio do caminho, tudo isso pode causar uma explosão de gigantescas proporções em Salário do Medo, de Henri-Georges Clouzot. Mas, afinal, todos eles têm pouco a perder e muito a ganhar com a situação. Ou será que não?

 

 

 

O filme começa com insetos se debatendo no chão, à mercê dos caprichos de um menino, que reina sobre seus destinos com um pedaço de madeira. A voz de um vendedor de sorvete é ouvida e a condição pobre da cidade de Las Piedras, localizada em algum lugar remoto da América do Sul, logo é demonstrada. O sol rege a aridez da miséria. O local é uma prisão quente e ensolarada, da qual ninguém possui dinheiro suficiente para fugir. De certa forma, faz lembrar a Casablanca de Bogart.

 

 

 

Um homem deliberadamente maltrata um vira-lata, que ele diz odiar. Logo a seguir, a empregada Linda (Vera Clouzot) se arrasta pelo chão de um bar empoeirado, portando-se como uma cadela que pede carinho a Jo, seu dono e senhor. Torna-se difícil saber se todos os habitantes do lugar não passam de cães vira-lata, embora não se reconheçam como tais.

 

 

 

A jornada que quatro desses homens, dois em cada caminhão, precisarão travar vai de um inferno a outro. O primeiro é o da pobreza observada de cima por um sol escaldante. O segundo é o dos poços de petróleo da companhia norte-americana SOC, em que uma das gargantas da terra expele fogo noite e dia para a atmosfera. A missão é levar uma imensa carga de nitroglicerina para conter o vazamento de petróleo.

 

 

 

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O filme chegou a receber a alcunha de anti-americano à época de seu lançamento, com alguma justiça. A companhia petrolífera mostra-se um submundo de corrupção, que pretende explorar até a última gota o suor dos desesperados trabalhadores do lugarejo. E, quando nem esses se dispõem a correr tantos riscos, a empresa é obrigada a recorrer aos vagabundos do local, que aguardam uma oportunidade para voltar a seu país de origem.

 

Mario (Yves Montand) é um folgado oportunista, que acaba de fazer amizade com Jo (Charles Vanel), um conterrâneo francês recém-chegado. Já o italiano Luigi (Folco Lulli) parece o estúpido perfeito. Honesto, trabalhador, amigável e , por vezes, bastante ingênuo. O último integrante do quarteto é o imperturbável holandês Bimba (Peter Van Eyck). Cada um deles (que conseguir chegar ao destino) leva a bolada de 2 mil dólares, uma verdadeira fortuna para a época e para as condições desesperadoras em que se encontram. Sem nenhum tipo de equipamento de segurança, as chances de sucesso são menores do que 50%.

 

 

 

Antes que a ação principal comece, passa-se aproximadamente 1 hora. Clouzot entende que, para que seu suspense tenha mais impacto, é necessário que conheçamos e nos preocupemos com os personagens. Nenhum deles tem características românticas ou heróicas. Talvez Jo, mas elas rapidamente desmoronam em confronto com o medo e o suspense.

 

 

 

A câmera mostra a roda do caminhão rodando vagarosamente pelos mais diferentes caminhos. A tensão está principalmente na sobreposição de imagens: caminhão rápido x caminhão devagar, ponteiro do velocímetro no máximo x no mínimo, dentro do caminhão x fora do caminhão, rosto do motorista x de seu acompanhante, etc. Os maiores perigos são causados por problemas de comunicação de um caminhão para outro.

 

 

 

Em momentos-chave, Clouzot captura pequenos detalhes, como movimento das mãos, da boca, do rosto. A marcha direta, implacável, do caminhão em contraposição às relações humanas extremamente complicadas dentro dele.

 

 

 

O fato de Bimba se barbear para ser um "cadáver apresentável" soa irônico. Se morrer com uma explosão de nitroglicerina, não sobrará nada para contar a história, a não ser as marcas deixadas no cascalho. Com tanto suspense no ar, é surpreendente que a primeira explosão aconteça quando ninguém está esperando, no ato de enrolar um cigarro. Nosso castigo é jamais saber o que realmente aconteceu com eles.

 

 

 

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Jo, que parecia tão corajoso na primeira metade do filme, se acovarda cada vez mais, principalmente frente à impetuosidade de seu companheiro Mario. A consciência da velhice, da falta de coragem, se abate como uma doença, permitindo que os companheiros ajam com cada vez mais desprezo em relação a ele. Literalmente atropelado pelo companheiro, vítima da marcha implacável da cobiça, Jo termina como uma estátua enegrecida pelo petróleo, um monumento ao sofrimento passado por todos eles, às portas da chegada em seu objetivo.

 

 

 

É interessante como a morte tem uma conotação apoteótica. Jo é reconhecido por Mario como um homem duro após sua morte, apesar de seu acovardamento durante a viagem. A culpa pelo ocorrido não lhe passa pela cabeça. Tudo não passou de uma fatalidade do destino. Era para acontecer, segundo os pensamentos de Mario.

 

 

 

Ele vai em direção ao fogo como uma mosca que procura a luz, abraçando finalmente sua condição miserável e suas ações condenáveis em um clímax catártico. Mas ainda há tempo para mais.

 

 

 

No final, a derradeira sobreposição. Desta vez, entre corpos bailando ao som de Danúbio Azul e o caminhão de Mario, dançando pela estrada e caindo de encontro às pedras da montanha. Ao final, o serviço sai barato para a companhia SOC. Um dinheiro, ainda assim, lamentavelmente desperdiçado.

 

 

 

Em breve:

 

 

 

07/09 - O Escafandro e a Borboleta (Le scaphandre et le papillon, 2007) – bs11ns

 

 

 

Lista atualizada

 

 

 

Demais resenhas recebidas (0)

 

 

 

Resenhas em aberto (7)

 

 

 

35 Doses de Rum (35 Rhums, 2008) - Alexei

 

O Atalante (L'atalante, 1934) - ltrhpsm

 

O Desprezo (Le mépris, 1963) - Pdiogo2006

 

O Filho Preferido (Le Fils Préféré, 1994) - Alexei

 

Gabrielle (Idem, 2005) - Alexei

 

Os Guarda-Chuvas do Amor (Les parapluies de Cherbourg, 1964) - silva

 

O Sopro no Coração (Le souffle au coeur, 1971) - -felipe-

 

 

 

Resenhas já publicadas:

 

 

 

Ascensor para o Cadafalso (Ascenseur pour l'échafaud, 1958), de Louis Malle, por luccasf - página 15

 

Asterix e Cleópatra (Astérix et Cléopâtre, 1968), de René Goscinny, Albert Uderzo e Lee Payant, por Jack Ryan - página 13

 

A Bela da Tarde (Belle de Jour, 1967), de Luis Buñuel, por Sith - página 14

 

As Bicicletas de Belleville (Les triplettes de Belleville, 2003), de Sylvain Chomet, por Alexei - página 14

 

Brinquedo Proibido (Jeux interdits, 1952), de René Clément, por leomaran - página 15

 

Cópia Fiel (Copie conforme, 2010), de Abbas Kiarostami, por bs11ns - página 14

 

Fat Girl (À ma soeur!, 2001), de Catherine Breillat, por Alexei - página 15

 

Fétiche (idem, 1934), de Wladyslaw Starewicz, por silva - página 13

 

A Fraternidade é Vermelha (Trois couleurs: Rouge, 1994), de Krzysztof Kieslowski, por Lucyfer - página 15

 

Fúria (Furia, 1999), de Alexandre Aja, por Tensor - página 15

 

La jetée (idem, 1962), de Chris Marker, por Jack Ryan - página 12

 

A Rainha Margot (La reine Margot, 1994), de Patrice Chéreau, por Lucyfer - página 14

 

O Salário do Medo (Le salaire de la peur, 1953), de Henry-Georges Clouzot, por leomaran - página 16

 

O Sol por Testemunha (Plein soleil, 1960), de René Clément, por bs11ns - página 15

 

Viagem à Lua (Le voyage dans la lune, 1902), de George Méliès, por luccasf - página 12

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by bs11ns

 

 

 

O Escafandro e a Borboleta (Le Scaphandre et Le Papillon). Julian Schnabel. 2007

 

 

 

Adaptado do livro de mesmo nome escrito pelo personagem central, o ex-editor da Elle francesa Jean-Dominique Bauby, essa obra-prima do cinema retrata a angústia de alguém que se viu, subitamente, vegetando como um legume após uma vida intensa e luxuosa. Desde o começo da projeção você já se sente sufocado junto com ele. As primeiras imagens desfocadas interpostas com a cena em que está em um escafandro no fundo do oceano são responsáveis por formar a atmosfera dramática que conduzirá o filme até o final, além de serem estupendas. É verdade que demoramos um pouco pra nos acostumar com tanto vai-e-vem de câmeras, com tantas distorções de plano e com a falta de uma sequência cronológica. Mas, calmamente, conforme a narrativa em off (que eu tanto odeio mas que, aqui, tem um papel indispensável) avança, fica clara a intenção do Schnabel. Ele realmente quer que você se sinta na pele do Bauby, que tente vivenciar nas quase duas horas de projeção o que ele vivenciou depois de ter um AVC e ser acometido pela Sídrome de Locked In, responsável por paralisá-lo completamente deixando apenas suas pálpebras livres, parte do corpo da qual ele se aproveita para contar como se sentia com uma mente livre dentro de um físico inerte: exatamente como uma borboleta dentro de um escafandro.

 

 

 

Então, depois que você se acostuma com a narrativa primorosa, fica fácil de acompanhar a vida dele antes e depois do AVC, entendendo um pouco dos motivos pelos quais ele não se conformou com sua condição e, ao mesmo tempo, tomou a iniciativa de escrever o livro pois sentia que tinha muito a dizer já que sua mente continuava inteligente e criativa como sempre fora. Cena a cena, quadro a quadro, personagem a personagem, Schnabel estrutura a história de forma extremamente hábil e sutil, não deixando por um segundo sequer que ela se torne melodramática, arrastada ou modorrenta. Monta o filme apenas explicitando um ser humano com muitas qualidades e defeitos que, assim como qualquer outro, poderia ter passado pelo que ele passou saindo dessa vida com um pouco mais de aprendizado, com o espírito um pouco mais elevado e a alma engrandecida. Principalmente pelo fato de não trazer lições morais fáceis ou mensagens piegas, O Escafandro e a Borboleta funciona do começo ao fim e te faz pensar nas escolhas que você faz e no modo como você leva a sua vida. Não que o filme exija de você uma postura diferente ou aponte todos os seus erros, assim como também não tem a pretensão de ser um filme-cabeça, intelectualizado ou metafísico a ponto de te fazer refletir até entrar numa depressão profunda. Residem justamente na simplicidade de apenas contar uma história que por si só já seria belíssima de forma tão humana e comovente e na facilidade com que Schnabel a transformou em uma lição de vida impressionantemente real e genuína, os aspectos que, pra mim, fazem desse filme uma obra-prima.

 

 

 

Além de tudo isso, o diretor escalou um elenco poderoso (Emmanuelle Seigner, Anne Consigny, Niels Arestrup e Max von Sydow só pra citar os mais conhecidos) com destaque pro sensacional Mathieu Amalric. Irreconhecível e espetacular, ele reproduz com muita força e sensibilidade a agonia e dor de alguém que, mesmo moribundo, ainda encontra motivos pra tentar se manter vivo e só torna ainda mais arrebatadores os efeitos que este cara fantástico tem sobre você. Uma ode á vida! Uma celebração ao fato de estar vivo! Filme genial! 10/10

 

 

 

INDICAÇÕES A PRÊMIOS

 

 

 

Círculo de Críticos de Cinema de Londres, Inglaterra: Filme em Língua Estrangeira do Ano e Roteirista do Ano - Ronald Harwood; Globo de Ouro: Roteiro; David Di Donatello: Melhor Filme da União Europeia; Prêmio do Cinema Brasileiro: Filme Estrangeiro; CESAR: Roteiro Adaptado, Fotografia, Som, Direção e Filme Francês; Festival de Cannes: Palma de Ouro de Melhor Direção; BAFTA: Filme em Língua Estrangeira; Associação dos Críticos de Cinema da Argentina: Condor de Prata de melhor Filme em Língua Não Espanhola; OSCAR: Roteiro Adaptado, Edição, Fotografia (Janusz Kaminski) e Direção.

 

 

 

PRÊMIOS CONQUISTADOS

 

 

 

Festival Internacional de Cinema de Estocolmo: Fotografia (Janusz Kaminski); Festival Internacional de San Sebástian: Prêmio do Público de Melhor Filme Europeu; Associação dos Críticos de Los Angeles: Fotografia (Janusz Kaminski); Globo de Ouro: Filme Estrangeiro e Direção; CESAR: Edição e Ator (Mathieu Amalric); Festival de Cannes: Grande Prêmio Técnico e Direção; BAFTA: Roteiro Adaptado.

 

 

 

Em breve:

 

 

 

08/09 - Napoleão (Napoléon, 1927) - Jack Ryan

 

 

 

Lista atualizada

 

 

 

Demais resenhas recebidas (0)

 

 

 

Resenhas em aberto (7)

 

 

 

35 Doses de Rum (35 Rhums, 2008) - Alexei

 

O Atalante (L'atalante, 1934) - ltrhpsm

 

O Desprezo (Le mépris, 1963) - Pdiogo2006

 

O Filho Preferido (Le Fils Préféré, 1994) - Alexei

 

Gabrielle (Idem, 2005) - Alexei

 

Os Guarda-Chuvas do Amor (Les parapluies de Cherbourg, 1964) - silva

 

O Sopro no Coração (Le souffle au coeur, 1971) - -felipe-

 

 

 

Resenhas já publicadas:

 

 

 

Ascensor para o Cadafalso (Ascenseur pour l'échafaud, 1958), de Louis Malle, por luccasf - página 15

 

Asterix e Cleópatra (Astérix et Cléopâtre, 1968), de René Goscinny, Albert Uderzo e Lee Payant, por Jack Ryan - página 13

 

A Bela da Tarde (Belle de Jour, 1967), de Luis Buñuel, por Sith - página 14

 

As Bicicletas de Belleville (Les triplettes de Belleville, 2003), de Sylvain Chomet, por Alexei - página 14

 

Brinquedo Proibido (Jeux interdits, 1952), de René Clément, por leomaran - página 15

 

Cópia Fiel (Copie conforme, 2010), de Abbas Kiarostami, por bs11ns - página 14

 

O Escafandro e a Borboleta (Le scaphandre et le papillon, 2007), de Julian Schnabel, por bs11ns - página 16

 

Fat Girl (À ma soeur!, 2001), de Catherine Breillat, por Alexei - página 15

 

Fétiche (idem, 1934), de Wladyslaw Starewicz, por silva - página 13

 

A Fraternidade é Vermelha (Trois couleurs: Rouge, 1994), de Krzysztof Kieslowski, por Lucyfer - página 15

 

Fúria (Furia, 1999), de Alexandre Aja, por Tensor - página 15

 

La jetée (idem, 1962), de Chris Marker, por Jack Ryan - página 12

 

A Rainha Margot (La reine Margot, 1994), de Patrice Chéreau, por Lucyfer - página 14

 

O Salário do Medo (Le salaire de la peur, 1953), de Henry-Georges Clouzot, por leomaran - página 16

 

O Sol por Testemunha (Plein soleil, 1960), de René Clément, por bs11ns - página 15

 

Viagem à Lua (Le voyage dans la lune, 1902), de George Méliès, por luccasf - página 12

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La Jeteé. Não me decepcionei com o filme. Realmente é memorável pela genialidade com que o diretor expôs as ideias tanto quanto pela forma como ele o fez. O assunto continua atemporal pois vivemos um momento onde se fala muito em vírus e bactérias que se propagam pelo mundo (vide gripe H1N1) e em guerras químicas ou biológicas que poderiam destruir humanidade rapidamente que tem até inspirado filmes recentes (Eu Sou a Lenda é o melhor dos que me lembro agora e vem o Contagion por aí). Além disso, retrata a fragilidade que atinge o ser humano quando se trata do passado e a busca desenfreada por algo que solucione as mazelas da sociedade como se viver num mundo onde não houvesse sofrimento fosse possível.

O que mais gostei foi ver o quanto as mesmas pessoas que passam por cima de tudo em busca de tal objetivo (e me lembrei do primeiro Planeta dos Macacos e do atual que assisti esses dias) se esquecem do mais importante: estarem em paz consigo mesmas. E a montagem através de fotos, sensacional por sinal, é indispensável pra essa compreensão pois elas expressam todas as expressões, as caretas, as imperfeições das faces das pessoas, sobretudo das que manipulam o personagem central pra conseguirem o que querem. Amei também o modo como ele alternou paisagem externa e interna de acordo com o fluxo do texto, que tem umas pausas providenciais na sua narrativa.

 

Acho que poderia ter durado uns minutinhos a menos porque essa estrutura não aguenta tanto tempo sem cansar quem está assistindo (tenho que confessar que senti sono no finalzinho). Mas não compromete a qualidade final até porque foi extremamente adequada ao que ele propôs. Nunca tinha visto nada parecido com esse curta e queria até assistir a outros tão bons quanto ele. Parabéns ao Jack pela escolha e pelo texto que me estimulou a assistir essa pérola do cinema francês!!! É por isso que eu amo cinema!
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Peço perdão por não ter comentado o tópico anteriormente - havia lido algumas postagens. Constato que o alto volume de resenhas talvez tenha assutado os frequentadores do espaço. Esses novatos (leomaran, bs11ns) estão frenéticos; e os velhos, como eu, não têm mais a disposição de outrora, hehe. Apesar disso, este Festival merece o devido apoio e tentarei colaborar dentro do possível.

 

 

 

Inicialmente, parabenizo o Alexei e o Jack_Ryan pelos textos de abertura. Dos cinco que li até agora, são os meus dois favoritos, tanto pelo ótimo poder de síntese (sou péssimo nesse quesito) quanto nas menções e no conhecimento ofertado pelos dois.

 

 

 

E o do Jack foi bastante instigante, ao mostrar a França pelo cinema dos outros. Eu sempre penso muito em como os estrangeiros visualizam o Brasil - mais especificamente o Rio - e fiquei divagando sobre isso ao assistir a Rio recentemente. No entanto, há uma verdadeira adoração dos americanos pela Cidade-Luz (eternizada em Casablanca e trazida de volta à tona por Woody Allen) que é ainda mais instigante. Creio que isto remonte aos tempos das Grandes Guerras, porém vale o estudo. Fora que as menções servem como reverência à terra dos fundadores da sétima-arte.

 

 

 

Para não encher uma postagem - como disse acima, desconheço a prática do resumo e da simplificação -, colocarei a seguir os comentários sobre os três filmes franceses cujas resenhas li (gosto de ler apenas dos já vistos).ltrhpsm2011-09-08 01:43:42

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Seguem os comentários aos filmes vistos. Como bem lembrou o Forasteiro no outro Festival, seria bom podermos discuti-los - ainda que de forma geral, seguindo a premissa do texto de abertura do Alexei - posteriormente com a devida calma, antes que este ciclo seja encerrado.

 

 

 

Vi Viagem à Lua no YouTube num link enviado pelo Jack_Ryan (com a trilha sonora clássica). Confesso não ter entendido tão bem a proposta da obra - exceto a especulação sobre como seria a Lua e o que haveria lá (bastante simplista) -, porém a resenha contextualiza o filme muito bem, revelando as formas primitivas utilizadas por Mélies no cinema. É até difícil buscar uma forma de comparação para a obra, pois ela me pareceu um devaneio infantil mesmo, tanto pela estrutura arcaica das filmagens e dos efeitos, quanto pelo desenrolar ágil e brusco da trama.

 

 

 

Preciso rever A Fraternidade É Vermelha o quanto antes. Lembro-me de tê-lo adorado quando vi (antes dos outros dois filmes da Trilogia) e é incrível como o Kieslowski coloca dois personagens tão distintos convivendo espontaneamente de forma tão singela. Tem um ar de tristeza, porém dá certa esperança; lembro-me de ter tido uma sensação bastante incomum e ainda persegui-la...

 

 

 

Tal qual O Escafandro e a Borboleta, que, como bem destacou o comentário, consegue tratar de um personagem num estágio de sofrimento tão avançado com bastante propriedade, sem descambar para o sentimentalismo fácil. Ao invés de buscar o choro do espectador, o filme - possivelmente seguindo a linha de raciocínio do livro - procura incentivar o espectador a construir o que lhe é possível dentro de suas limitações. A edição tem muitos méritos ao conciliar na medida certa as cenas (ora usando o narrador-personagem, ora o observador). Não chega a ser forte como A Felicidade Não Se Compra (o filme "lição de vida" insuperável), mas mereceu os destaque positivos que recebeu.

 

 

 

Sobre a minha parte, eu vi Adeus, Meninos ontem e adorei; ficando com vontade de escrever sobre ele. Tentarei rasurar algo durante os afazeres desta quinta-feira e, caso consiga, vou conferir forma definitiva até sexta-feira. Do contrário, verei e reverei O Atalante legendado em inglês para cumprir com o prometido - tentei começar, mas estava com sono no dia e aí fica ainda mais difícil entender as legendas, hehe. Além desses, comentarei Le Fétiche o quanto antes (já peguei os links do YouTube).

 

 

 

Finalizando: à exceção da primeira pergunta (precisaria ter maior bagagem para respondê-la apropriadamente; e vimos que esta questão de gêneros é bastante divergente no fórum, rs), acredito que conseguirei responder às outras duas. Aliás, a segunda foi feita em minha homenagem, né, Jack? Terei de pensar com bastante carinho sobre ela, hehe.

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Só agora me dei conta de que eu nem comentei a postagem do Asterix e Cleopatra. Acabou passando batido. Devo confessar que não sou muito fã da série talvez porque não tenha lido as histórias antes delas virarem filme. De todos os que já foram feitos só vi dois: Asterix e Obelix: missão Cleopatra (2001) e Asterix nos Jogos Olímpicos (2008). Lembro de ter gostado do primeiro porque prestei achei novidade e também gostei da movimentação do filme. O segundo assisti porque não tinha nada pra fazer hehe. Não gostei muito não sei exatamente porque. Teria que assistir novamente pra ter uma opinião melhor.

 

Esse aqui citado no Festival não vi. Pra ser bem sincero nem sabia da existência tanto dele quanto dos outros cinco filmes que fazem parte da série (pesquisando descobri que foram oito ao todo, é isso?). A história não me interessa muito mas gostei tanto da resenha que já até peguei o link pra baixar. Quem sabe não mudo de opinião né? Parabéns pro Jack de novo pela leveza e simplicidade do texto.

 

3/3 reputação (vc iria ver mesmo 03)
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Tô de volta pra avisar que as provas deram uma folga, finalmente. Fiz o terceiro simulado do ENEM, além de uma prova que costuma ser aplicada no colégio Bandeirantes para preparação para a FUVEST, principalmente. Como minha escola acaba dando nota para esse tipo de simulado, tive que estudar, nesses últimos dias. No entanto, tudo em ordem, agora. Sábado comento sobre todas as resenhas postadas até agora que, por sinal, já comecei a organizar. Peço desculpas, pessoal.

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As Bicicletas de Belleville

Humanismo poético 
por Alexei 
 

 
Acabei de ver e realmente o filme é belíssimo. Tem uma composição estética magnífica, de encantar os olhos pela originalidade e pela contextualização com o tema do filme. Todos os personagens são concebidos de maneira disforme sob algum aspecto: ou magros e altos demais ou gordos e altos demais ou baixos demais... Todos sempre ao extremo, assim como o Champion (juro que só entendi que esse era o nome dele relendo o texto do Alexei) que dedica sua vida á bicicleta e o cachorro que é gordo até não querer mais. Uma graça!

 

 Os olhares que a câmera dá aos personagens são curiosos pois mostram sem muito esforço quem eles são e sua construção se dá através de detalhes mínimos: gestos, olhares, vestimenta, sem que haja a necessidade de palavras. Artisticamente o filme também é impecável. A cenografia funciona como um espelho dos próprios personagens e te conduz ao universo deles de modo que vc não precisa de muito tempo pra conhecê-los: basta olhar o ambiente no qual eles vivem.

 

A trilha sonora é espetacular! De uma originalidade absurda, deu um significado ainda mais especial pra luta de Madame Souza em busca do neto. Assim como fazem as irmãs ao tirarem do nada seu sustento passado o glamour da juventude, Souza também terá que tirar forças de onde não tem pra trazer o ciclista de volta.

 

A única coisa que me deixou meio discrente no poder do filme foi o fato de que é uma fantasia e você tem que estar disposto a entrar nela se quiser levar o filme a sério. Acontece que eu só fui perceber isso no final. Em Mary and Max, por exemplo, eu já entendi que o filme era seríssimo desde o início e tudo que acontece ali é extremamente plausível. Você não precisa entrar em nenhuma fantasia de modo que se aquele roteiro fosse feito com atores seria tão bom quanto a animação se apresentou. Aqui não. Penso que o filme é uma fantasia pois não vejo a possibilidade de você se defender de pessoas tão mais poderosas que você com panelas, chapeus e sapatos. É um filme muito específico, fechado nesse sentido, que só dá pra ser aceito como uma animação fantasiosa mesmo.

 

Ainda assim, pelo grande apelo ao amor incondicional que o Alexei citou e a outros subtemas relatados (solidão, envelhecimeneto, isolamento, pobreza, determinação, dedicação, lealdade, etc) e por tudo que citei, o filme é lindíssimo sim mas não chorei como achei que iria hehe.

 

Obs.: não entendi o que significa pro filme o desconforto do cachorro (fofíssimo) com relação a trens. Entendi o trauma dele mas pra que essa insistência em colocar o desespero dele repetidamente no filme???
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Amigos, infelizmente uma tia muito querida minha faleceu essa noite. Não vou poder cumprir com meus encargos de organizador no momento, então vou alterar os prazos estabelecidos. Fica assim:

 

 

 

ATENÇÃO

 

 

 

Prazo para entrega das resenhas - segunda (11/09)

 

Prazo para entrega das listas e respostas - quinta-feira (14/09)

 

Prazo para entrega de notas para as resenhas - sábado (16/09)

 

 

 

Abraços, e bom domingo.

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Fat Girl. Fiquei em estado de choque com o final violento do filme. Todo o clima já era meio tenso desde o começo e nisso tem a mão de Breillat que consegue construir uma atmosfera onde o tempo todo você acha que vai acontecer uma desgraça (na cena do quarto, do sexo oral, da estrada). O tratamento meio descorado dado ao filme, a fotografia um tanto inóspita e insólita, a trilha quase acidental que se joga nas cenas inadvertidamente....Esses aspectos técnicos constroem um universo onde o que mais falta é afeto. Ficou claro pra mim que os personagens não têm proximidade, intimidade amorosa, a começar pelos pais das duas garotas. E nesse mundinho onde eles vivem as coisas realmente não poderiam acabar bem.

 

O texto é maravilhoso! Os diálogos das irmãs e de Fernando com Elena são tão maduros e ácidos que ás vezes nem parecem que são ditos por pessoas tão jovens. Toda a discussão acerca da importância da virgindade e da descoberta da sexualidade é muito bem elaborada através da montagem que sabe exatamente a hora de dar vazão ás falas e de apenas observar as reações das pessoas. Isso deu um ritmo perfeito pro filme.

 

As interpretações são muito naturais. Me agrada principalmente a da moça que faz Anais. Os olhares furtivos dela, o modo como se toca, como se relaciona com seu corpo, com sua sexualidade e com seus sentimentos com relação á irmã são retratados bem espontaneamente pela atriz. As cenas nas quais chora na cama e está na piscina "conversando sozinha" demonstram toda a delicadeza e sensibilidade de sua composição. A atriz que faz Elena é belíssima e muito corajosa ao se jogar nas cenas mais eróticas.

 

A única coisa que me desagradou no filme foi a forma de exibição do desfecho. Não o que aconteceu mas como aconteceu. Até acho que aquilo era mesmo esperado, como já falei. Só que algo tão pesado, assim tão cru, não era compatível com as nuances minimalistas, cheias de detalhes e sutilezas usadas na composição desse clima denso. Daí, de repente, do nada, vem um final abrupto daquele e desmonta toda essa construção??? Soou estranho pra mim! Não incômodo mas desnecessário mesmo!

 

Enfim, não quer dizer que invalide o filme, que é de uma qualidade inegável. Apenas poderia ter sido feito de outra forma. Independente disso, é mais uma excelente descoberta nesse festival. Parabéns de novo pela escolha, Alexei.
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Notas enviadas por MP. Confesso que me surpreendi com os textos, de forma geral. Um quesito que eu gosto muito de encontrar, quando estou lendo, é a contextualização, e o cinema francês pode ser desdobrado de diversas formas quando o assunto é resgatar suas origens. O mais interessante foi o fato de que, cada usuário conseguiu fazer isso de forma diferente, sem cair na singularidade.

 
Não é fácil escrever sobre um filme, não importa qual seja. Agora, basta somar a dificuldade presente em dissertar sobre um dos movimentos mais importantes da história do Cinema. O resultado foi excelente! Gostaria de parabenizar os amigos: Jack, Sith, Alexei, leomaran, bsn11s, silva, Lucyfer e tensor. Belíssimo trabalho, vamos ter debate por muitos e muitos dias, com certeza!
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Marcelo, como eu te falei por MP, lamento pela sua tia. Espero que você e sua família, dentro do possível, estejam bem e em paz. Ela está, certamente.

 

 

 

Bom, quanto a Fat Girl, é um filme feito realmente para provocar, cutucar nosso intelecto. E Bs11ns, eu acho o final a melhor coisa do filme. É a libertação de Anaïs de seus dois grandes grilhões, tanto que a expressão dela, ao final, não é de tristeza ou de repulsa. E, com isso, a diretora põe ainda mais lenha na fogueira.

 

 

 

Breillat é perversa, hehe. E genial. Ô mulher inteligente.

 

 

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A expressão de Anais não é mesmo de tristeza Alexei. Tanto que ela nem disse a verdade né? Sinal de que de certa forma aquilo fez bem pra ela. Essa parte eu entendi e nem discordo dessa opção. O que achei desnecessária foi a forma não o conteúdo. É muito abrupta, repentina e o resto do filme não, sendo que justamente esse tratamento intimista dela foi o que eu mais amei até o final. Mas ela é um crânio mesmo! Gostei muito!

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É Jack, não é truque pra dar sustinho mesmo e realmente pega a gente desprevenido sim!!! Se foi isso sim, talvez tenha funcionado comigo sim pq absolutamente não esperava o jeito como aquela cena foi filmada. E a cena do carro é perfeita!!!! Ali sim, eu achei que alguma coisa muito séria fosse acontecer. A Breillat sabe trabalhar bem com suas atmosferas. Na cena do quarto eu também não esperava que o cara fosse propor aquilo pra Elena. Foi do nada mas o contexto estava perfeito!!! Sei lá, não gostei mesmo daquele desfecho. Poderia ser assim mas de outro jeito!!!

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O Filho Preferido

 

Cadência de ritmo

 

by Alexei

 

 

 

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Filmes bons e lentos são bons porque são lentos? Ou são bons apesar de lentos? Trocando em miúdos, o ritmo mais acelerado ou mais lento de um filme é uma dimensão positiva ou negativa para o seu sucesso? Ou nenhuma das duas coisas? Ao realizar o drama O Filho Preferido (Le Fils Préféré, 1994), que conta a estória de um homem em grandes dificuldades tanto financeiras quanto emocionais e familiares, a diretora francesa Nicole Garcia pode trazer alguma luz a essa discussão.

 

 

 

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O preferido do título é Jean-Paul (Gerard Lanvin, excelente), que está passando por um grande aperto. Ele precisa levantar 300 mil francos em poucos dias, sob pena de cair nas mãos rancorosas de seus agiotas. Desesperado para resolver a situação, ele faz um seguro de vida em nome de seu pai, Raphael, que já está bem doente, e frauda a apólice para se colocar como principal beneficiário do contrato. Pouco depois, durante um passeio, seu pai escorrega de um píer e cai no mar, e Jean-Paul hesita em salvá-lo apenas por alguns segundos. Talvez tendo percebido o comportamento vacilante de seu filho preferido, o velho some logo em seguida, desaparece completamente, como que por mágica. E cabe a Jean-Paul trazê-lo de volta, embora ele nem saiba bem por onde começar a procurar.

 

 

 

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Jean-Paul não conta com muita simpatia de seus irmãos para ajudá-lo nessa busca. Do mais novo, Philippe (Jean-Marc Barr, de Imensidão Azul), Jean-Paul roubou a mulher, casando-se com ela. Ao mais velho, Francis (o grande Bernard Giraudeau, recentemente falecido), Jean-Paul negou ajuda quando ele assumiu sua homossexualidade e foi deserdado pelo pai. Sua única esperança é tirar os esqueletos do armário dessa família que, como todas as outras, apesar de ter sua parcela de desfuncionalidade, guarda um profundo senso de camaradagem, uma válvula de escape para quando as coisas ameaçam desandar. Jean-Paul precisa de um resgate, de uma revisão de sua própria história. Só assim ele poderá acertar os ponteiros com seus irmãos, compreender o que se passou na cabeça do velho e, em última instância, localizar seu paradeiro.

 

 

 

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O Filho Preferido é uma experiência bem-sucedida de imersão de uma mulher num universo essencialmente masculino. Da palheta de cores (os cinzas, marrons e pretos imperam) à dispensabilidade dos personagens femininos, o filme remete a um mundo de homens, feito para os homens. Apesar de um argumento um tanto recheado de clichês, o roteiro funciona admiravelmente bem ao expor a racionalidade dos personagens principais como causadora de dificuldades na hora em que os sentimentos precisam aflorar.

 

 

 

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Seu maior trunfo, entretanto, é sua cadência. O ritmo pausado do filme não é um fim, e sim o meio, a forma pela qual são expostas as dificuldades que Jean-Paul encontra para conectar consigo mesmo. Fosse algo apressado, soaria superficial ou, o que é pior, artificial, o que nos remete à discussão do início. O Filho Preferido não é bom porque é lento, tampouco é bom apesar de lento. É bom porque seus personagens são solidamente construídos e porque seu argumento, embora não exatamente original, é rico em conteúdo e trabalhado de maneira competente, e essas virtudes só poderiam ser concretizadas a partir de um ritmo mais cadenciado. Talvez o tempo, e o seu bom uso, sejam os protagonistas do filme, mais do que qualquer personagem. Jean-Paul precisa de tempo para se conhecer. E nós também.

 

 

 

ATENÇÃO

 

 

 

Prazo para entrega das listas e respostas - quinta-feira (15/09)

 

Prazo para entrega de notas para as resenhas - sábado (17/09)

 

 

 

Em breve:

 

14/09/2011 - Os Guarda-Chuvas do Amor (Les parapluies de Cherbourg, 1964) - silva

 

 

 

Resenhas já publicadas:

 

 

 

Ascensor para o Cadafalso (Ascenseur pour l'échafaud, 1958), de Louis Malle, por luccasf - página 15

 

Asterix e Cleópatra (Astérix et Cléopâtre, 1968), de René Goscinny, Albert Uderzo e Lee Payant, por Jack Ryan - página 13

 

A Bela da Tarde (Belle de Jour, 1967), de Luis Buñuel, por Sith - página 14

 

As Bicicletas de Belleville (Les triplettes de Belleville, 2003), de Sylvain Chomet, por Alexei - página 14

 

Brinquedo Proibido (Jeux interdits, 1952), de René Clément, por leomaran - página 15

 

Cópia Fiel (Copie conforme, 2010), de Abbas Kiarostami, por bs11ns - página 14

 

O Escafandro e a Borboleta (Le scaphandre et le papillon, 2007), de Julian Schnabel, por bs11ns - página 16

 

Fat Girl (À ma soeur!, 2001), de Catherine Breillat, por Alexei - página 15

 

Fétiche (idem, 1934), de Wladyslaw Starewicz, por silva - página 13

 

O Filho Preferido (Le Fils Préféré, 1994), de Nicole Garcia, por Alexei - página 17

 

A Fraternidade é Vermelha (Trois couleurs: Rouge, 1994), de Krzysztof Kieslowski, por Lucyfer - página 15

 

Fúria (Furia, 1999), de Alexandre Aja, por Tensor - página 15

 

La jetée (idem, 1962), de Chris Marker, por Jack Ryan - página 12

 

Napoleão (Napoléon, 1927), de Abel Gance, por Jack Ryan - página 16

 

A Rainha Margot (La reine Margot, 1994), de Patrice Chéreau, por Lucyfer - página 14

 

O Salário do Medo (Le salaire de la peur, 1953), de Henri-Georges Clouzot, por leomaran - página 16

 

O Sol por Testemunha (Plein soleil, 1960), de René Clément, por bs11ns - página 15

 

Viagem à Lua (Le voyage dans la lune, 1902), de George Méliès, por luccasf - página 12Jack Ryan2011-09-14 21:00:03

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Guardo uma memória muito bacana de O Filho Preferido. Eu o vi numa sala antiga de cinema, em Recife, quando ele foi exibido no âmbito de um projeto que era intitulado "Sessão de Arte". A ideia desse projeto era, como o próprio nome leva a entender, exibir filmes que não se encaixavam no circuito comercial, filmes de menor apelo popular, mas ainda assim - ou, talvez, exatamente por isso, é algo a se discutir - bons. O Filho Preferido foi o primeiro de uma série de filmes que eu vi na Sessão de Arte, em meados da década de 90 (sim, já sou meio velhinho, hehe). Tenho saudades daquela época.

 

 

 

O que me marcou nesse filme foi exatamente a ênfase que eu dei na resenha, o ritmo. Lembro que eu fiquei impressionado com a lentidão - não no mau sentido - com que as coisas aconteciam. Ao invés do andamento acelerado, usual nos filmes norte-americanos aos quais eu estava acostumado - afinal de contas, frame é dinheiro - tudo acontecia bem mais devagar, dava tempo pra digerir melhor as idéias e os eventos. Desde então, meu gosto pelo cinema europeu de uma forma geral só aumentou.

 

 

 

Esse vale a pena. Não é tão bom quanto os dois anteriores que eu resenhei - Belleville e Fat Girl -, mas é bem bom ainda assim.

 

 

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E aproveitando que a Maria Fernanda dormiu, e que eu estou com um tempinho - até ela acordar... -, posso dizer que eu sou o único sujeito que conheço e que não gostou de O Escafandro e a Borboleta. Parece que todo o resto da raça humana curte o filme, menos eu, hehe. Pra mim, é um filme sobre um babaca cretino que sofre um AVC e vira um babaca cretino desabilitado. Duh... Do mesmo diretor, eu prefiro Basquiat.

 

 

 

Mas o texto tá muito bom, 3/3 pontos de reputação, sem dúvida! Aliás, eu dou 3/3 pontos para todos os textos até agora publicados, sem exceção. Deu pra ver o esmero na sua realização, e isso é algo que, pra mim, suplanta questões menores, como problemas na construção dos parágrafos ou períodos muito longos.

 

 

 

Esse é um tópico que, quando o festival acabar, eu vou sempre visitar, pra ler com calma e fazer comentários também com mais calma. Ele merece.

 

 

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Os Guarda-chuvas do amor (Les Parapluies de Cherbourg)

 

by silva

 

 

 

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Dentre os mais variados gêneros cinematográficos existentes (ainda que a linha que os separa seja muito tênue em muitos casos), um dos mais identificáveis em suas características são os musicais. Um dos pratos perfeitos para as platéias que buscam algum escapismo, o musical se baseia no fato de que, nessas histórias, todas as emoções sentidas pelos personagens são tão intensas que, para expressá-las, a única maneira é uma entrega total a eles na forma de dança e canto.

 

 

 

Em “Os Guarda-chuvas do Amor”, Jacques Demy também se utiliza das premissas que regem esse gênero que teve o seu auge nas décadas de 40 e 50. Entretanto, alguns aspectos o diferenciam dos musicais feitos em Hollywood em sua época mais áurea.

 

 

 

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Os enxertos musicais não ocupam apenas momentos específicos da história que está sendo contada. No caso, todos os diálogos são entoados acompanhando a trilha sonora feita por Michel Legrand que se estende por todo o filme. Além de adicionar um belo efeito hipnótico a história, essa postura acaba se tornando bastante adequada a história de amor (que, a princípio, têm muito do amor louco já citado por Bunuel) entre dois jovens, já que é exatamente nessa faixa etária em que os sentimentos são bem mais extremos.

 

 

 

Aqui, Catherine Deneuve (em sua estréia no cinema) vive Geneviere, jovem que trabalha com a sua mãe numa pequena loja de guarda-chuvas, apaixonada pelo mecânico Guy (vivido por Nino Castelnuovo). Eles trocam juras eternas de amor ,apesar da relutância da mãe de Geneviere, que prefere que a sua filha case com um rico joalheiro. Entretanto, a mão do destino atinge o casal, através da convocação de Guy para guerra e da descoberta, meses depois, de que Geveviere está grávida.

 

 

 

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Esse dilema emocional é apresentado de forma dramática. Mas, ainda assim, a abordagem de Jacques Demy é mais voltada para o realismo, especialmente pelo tratamento mais agridoce dado a parte final da história, especialmente pela cena final, extremamente bela e tocante, mas sem explorar o a manipulação barata. A trilha sonora é belíssima, perfeita para expressar cada um dos sentimentos dos personagens (adquirindo um tom um pouco mais melancólico no fim), mas sem ser excessivamente sentimental. Ainda temos o elenco sensacional, tendo Deneuve como o maior destaque, totalmente convincente durante todos os 90 minutos de filme.

 

 

 

Mas talvez o maior mérito do filme seja imprimir, apesar de toda a aparente felicidade vista no início, uma triste sensação de inevitabilidade durante todo o filme. Apesar de muitos buscarem sempre um final de conto de fadas em suas vidas, na verdade nem todas as histórias terminam dessa maneira. Mesmo assim, no final das contas, o que acaba valendo a pena, assim como no final da estória de Geneviere e Guy, são justamente as lembranças, que permitem recordar, pelo menos por um instante, o como a vida, mesmo não sendo perfeita, pode ter os seus momentos de magia. E Jacques Demy foi extremamente hábil em mostrar essa magia com uma imensa honestidade e maturidade.

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