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Forum Cinema em Cena

Lucia

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Everything posted by Lucia

  1. Lucia

    Isabela Nardoni

    E com certeza vc deve ser parente deles!!!!!
  2. Lucia

    Orkut

    http://www.orkut.com/Profile.aspx?uid=3171837733868855044
  3. Lucia

    Orkut

    Vejam o analfabetismo Orkutiano, uma agressão a língua portuguesa. algumas comunidades criadoas pelos Orkutapados (rsrsrsrsrsrsrs) AGENTE se fode MAIS se diverte (Se f**eu outra vez. Virou Orkutapado!) Já comprei uma COIZA falsa (Uma delas foi o dicionário, certo?!) Eu não uso cinto e sim CARDAÇO (Use-os para enforcar-se.) Moro em um OSPICIO (Mude-se para uma escola.) Eu FASO guerra d papel na sala (Esse é auto-explicativo.) Odiamos a porfessora Márcia (Dá pra perceber... ) Eu tenho vergonha as veiz (Se eu fosse você, também teria vergonha. ) Cansei d ser vitima de violenca (E o que seria isso? ) Estudar causa câncer no celebro (Celebro? É, estudar não é mesmo a sua. ) Conta a do Xumaquer, tia Cau (Xumaquer é o filho do Schumacher com a Xuxa?) Tem um excroto na minha sala! ("Excroto" é um cara que deixou de ser "croto". Seja lá o que isso signifique...) Eu pidia a siringa pro medico (Três erros em 5 palavras. Forte candidata ao prêmio "Mais Erros por Metro Quadrado".) Eu só esquesso quando eu quero (Então você esqueceu o português correto de propósito?) Eu tenho mause sem fio (Não costumo zoar erros em inglês. A nossa obrigação é saber o português. Mas calma aí, mouse já é uma palavra praticamente aportuguesada.) Ropa não mostra carater (Mas "ropa" mostra burrice.) Bulaxa creme crack e iorgut (Você é quem merece uma boa bolacha Eu uso oclos escuro a noite (Por isso não enxergou as teclas, não é?!) O q eles falam ñ m emporta (Então não se importe com meu comentário: burro!) Eu acisto ermes e Renato (Se assistisse mesmo, veria aquela propaganda que diz: "Desligue a TV e vá ler um livro.") Fui acusado de estrupo (Com essa sua cara de "pseudo-meliante", o máximo que você fez foi estuprar a língua portuguesa) Eu temho um selular viva (Esse tá concorrendo na categoria "mais erro por metro quadrado". Três erros em 5 palavras.) Tenho pavor de "LARGATIXA" (Também tenho medo. Deve ser um animal novo, que sofreu mutação da lagaRtixa.) Eu adoro picanha na tauba (Hum... Picanha na tauba... Sei!Pervertida! Se ainda fosse na tábua, eu também aprecio.) Eu Uso/ Tenho calsa rasgada (Que isso sirva de exemplo! Quem não estuda fica pobre e não pode comprar calças novas.) Assima de simple plan so Deus (Acima do seu pescoço, um monte de estrume.) Palmerense de corasao (Depois é o flamenguista que leva fama de burro...) Eu ganhei a moxila do estado! (Esse é o retrato do ensino público. Aposto que a mochila está vazia, sem livros.) Playsson de nascencia (Ah! Não esquecemos dos Playssons! Burros de nascença.) De havaiana na buatchy (Buatchy é quase uma onomatopéia pra espirro...) A DOR DE UMA SALDADE (Sal? Se está lhe causando dor então tente açucar) VOSE TOCA AUGUMA COIZA??? descrição da comunidade: MANOW ESA COBUNDADE E PRA VOSE Q CEMPRE Q AUJEN PERGUNTA "VOSE TOCA AUJUMA COIZA??" AI VOSE: "TOCO SIM!!11 PONHETA E CAMPAINHA!!!!!111" (SOCORRO! ESSA DOEU! Olha, pare de tocar essas coisas e vá estudar com urgência!!!! Acho que essa foi uma das piores que já apareceu. Perdi até o ar) Sou fã da evril lavine (Legal, quem é essa? Alguma parente da Avril Lavigne?) Eu odeio jente falsa (E eu detesto gente burra)
  4. A idéia De onde ela vem?! De que matéria bruta Vem essa luz que sobre as nebulosas Cai de incógnitas criptas misteriosas Como as estalactites duma gruta?! Vem da psicogenética e alta luta Do feixe de moléculas nervosas, Que, em desintegrações maravilhosas, Delibera, e depois, quer e executa! Vem do encéfalo absconso que a constringe, Chega em seguida às cordas do laringe, Tísica, tênue, mínima, raquítica ... Quebra a força centrípeta que a amarra, Mas, de repente, e quase morta, esbarra No mulambo da língua paralítica Augusto dos Anjos
  5. Agonia No teu grande corpo branco depois eu fiquei. Tinha os olhos lívidos e tive medo. Já não havia sombra em ti - eras como um grande deserto de areia Onde eu houvesse tombado após uma longa caminhada sem noites. Na minha angústia eu buscava a paisagem calma Que me havias dado tanto tempo Mas tudo era estéril e mostruoso e sem vida E teus seios eram dunas desfeitas pelo vendaval que passara. Eu estremecia agonizando e procurava me erguer Mas teu ventre era como areia movediça para os meus dedos. Procurei ficar imóvel e orar, mas fui me afogando em ti mesma Desaparecendo no teu ser disperso que se contraía como a voragem. Depois foi o sono, o escuro, a morte. Quando despertei era claro e eu tinha brotado novamente Vinha cheio do pavor das tuas entranhas. Rio de Janeiro, 1935 Vinícius de Moraes
  6. Anfiguri <?:namespace prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" /> Aquilo que eu ouso Não é o que quero Eu quero o repouso Do que não espero. Não quero o que tenho Pelo que custou Não sei de onde venho Sei para onde vou. Homem, sou a fera Poeta, sou um louco Amante, sou pai. Vida, quem me dera... Amor, dura pouco... Poesia, ai!... Vinícius de Moraes
  7. Ausência Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto. No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz. Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado. Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada Que ficou sobre a minha carne como nódoa do passado. Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face. Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada. Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite. Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa. Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço. E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado. Eu ficarei só como os veleiros nos pontos silenciosos. Mas eu te possuirei como ninguém porque poderei partir. E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas. Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada. Vinícius de Moraes
  8. Uns Uns vão Uns tão Uns são Uns dão Uns não Uns hão de Uns pés Uns mãos Uns cabeça Uns só coração Uns amam Uns andam Uns avançam Uns também Uns cem Uns sem Uns vêm Uns têm Uns nada têm Uns mal uns bem Uns nada além Nunca estão todos Uns bichos Uns deuses Uns azuis Uns quase iguais Uns menos Uns mais Uns médios Uns por demais Uns masculinos Uns femininos Uns assim Uns meus Uns teus Uns ateus Uns filhos de Deus Uns dizem fim Uns dizem sim E não há outros Caetano Veloso
  9. Ide buscá-la, Desejos, Pela mão a conduzi. E tu, de amor serena flor, Traz a alma cheia de beijos Que eu tenho sede de ti. Além do sono e do sonho Nos teus braços quero ir. (Ah, como é triste tudo o que existe!) Quero sentir-me risonho Sem passado nem porvir E assim eternamente No teu seio me ficar, Dúbios, perdidos, os meus sentidos, Vago ser que apenas sente Que está além do chorar. Fernando Pessoa<?:namespace prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" />
  10. Proibido – Pablo Neruda É proibido chorar sem aprender, Levantar-se um dia sem saber o que fazer Ter medo de suas lembranças. É proibido não rir dos problemas Não lutar pelo que se quer, Abandonar tudo por medo, Não transformar sonhos em realidade. É proibido não demonstrar amor Fazer com que alguém pague por tuas dúvidas e mau-humor. É proibido deixar os amigos Não tentar compreender o que viveram juntos Chamá-los somente quando necessita deles. É proibido não ser você mesmo diante das pessoas, Fingir que elas não te importam, Ser gentil só para que se lembrem de você, Esquecer aqueles que gostam de você. É proibido não fazer as coisas por si mesmo, Não crer em Deus e fazer seu destino, Ter medo da vida e de seus compromissos, Não viver cada dia como se fosse um último suspiro!<?:namespace prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" />
  11. NÃO GOSTE APENAS DO AMOR Luís Fernando Veríssimo Goste de alguém que te ame, alguém que te espere, Alguém que te compreenda mesmo nos momentos de loucura; De alguém que te ajude, que te guie, Que seja seu apoio, tua esperança, teu tudo. Goste de alguém que não te traia, que seja fiel, que sonhe contigo, que só pense em vc, que só pense no teu rosto, na tua delicadeza, no teu espírito; E não só no teu corpo, nem em teus bens. Goste de alguém que te espere até o final, de alguém que sofra junto contigo, que ria junto a ti, que enxugue suas lágrimas; Que te abrigues quando necessário, que fique feliz com tuas alegrias e que te dê forças depois de um fracasso. Goste de alguém que volte pra conversar com você depois das brigas, depois do desencontro. De alguém que caminhe junto a ti, que seja companheiro, que respeite tuas fantasias, tuas ilusões. Goste de alguém que te ame. Não goste apenas do amor. Goste de alguém que sinta o mesmo por você... Lucia2006-12-02 06:43:15
  12. Não sei quantas almas tenho Não sei quantas almas tenho. Cada momento mudei. Continuamente me estranho. Nunca me vi nem acabei. De tanto ser, só tenho alma. Quem tem alma não tem calma. Quem vê é só o que vê, Quem sente não é quem é, Atento ao que sou e vejo, Torno-me eles e não eu. Cada meu sonho ou desejo É do que nasce e não meu. Sou minha própria paisagem; Assisto à minha passagem, Diverso, móbil e só, Não sei sentir-me onde estou. Por isso, alheio, vou lendo Como páginas, meu ser. O que sogue não prevendo, O que passou a esquecer. Noto à margem do que li O que julguei que senti. Releio e digo : "Fui eu ?" Deus sabe, porque o escreveu. <?:namespace prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" /> Fernando Pessoa Ismália Quando Ismália enlouqueceu, Pôs-se na torre a sonhar... Viu uma lua no céu, Viu outra lua no mar. No sonho em que se perdeu, Banhou-se toda em luar... Queria subir ao céu, Queria descer ao mar... E, no desvairo seu, Na torre pôs-se a cantar... Estava perto do céu, Estava longe do mar... E como um anjo pendeu As asas para voar... Queria a lua do céu, Queria a lua do mar... As asas que Deus lhe deu Ruflaram de par em par... Sua alma subiu ao céu, Seu corpo desceu ao mar... Alphonsus de Guimarães
  13. Desejo Ah! que eu não morra sem provar, ao menos Sequer por um instante, nesta vida Amor igual ao meu! Dá, Senhor Deus, que eu sobre a terra encontre Um anjo, uma mulher, uma obra tua, Que sinta o meu sentir; Uma alma que me entenda, irmã da minha, Que escute o meu silêncio, que me siga Dos ares na amplidão! Que em laço estreito unidas, juntas, presas, Deixando a terra e o lodo, aos céus remontem Num êxtase de amor! Gonçalves Dias
  14. No silêncio dos olhos Em que língua se diz, em que nação, Em que outra humanidade se aprendeu A palavra que ordene a confusão Que neste remoinho se teceu? Que murmúrio de vento, que dourados Cantos de ave pousada em altos ramos Dirão, em som, as coisas que, calados, No silêncio dos olhos confessamos? José Saramago
  15. Canção do meu abandono <?:namespace prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" /> Não, depois de te amar não posso amar ninguém! Que importa se as ruas estão cheias de mulheres esbanjando beleza e promessa ao alcance da mão? Se tu já não me queres é funda e sem remédio a minha solidão. Era tão fácil ser feliz quando tu estavas comigo! Quantas vezes, sem motivo nenhum, ouvi o teu sorriso rindo feliz, como um guiso em tua boca? E todo momento mesmo sem te beijar eu estava te beijando: com as mãos, com os olhos, com os pensamentos, numa ansiedade louca! Nossos olhos, meu Deus! nossos olhos, os meus nos teus, os teus nos meus, se misturavam confundindo as cores ansiosos como olhos que se diziam adeus... Não era adeus, no entanto, o que estava em teus olhos e nos meus, era êxtase, ventura, infinito langor, era uma estranha, uma esquisita, uma ansiosa mistura de ternura com ternura no mesmo olhar de amor! Ainda ontem, cada instante era uma nova espera... Deslumbramento, alegria exuberante e sem limite... E de repente, de repente eu me sinto triste como um velho muro cheio de hera embora a luz do sol num delírio palpite! Não, depois de te amar não posso amar ninguém! Podia até morrer, se já não há belezas ignoradas quando inteira te despi, nem de alegrias incalculadas depois que te senti... Depois de te amar assim, como um deus, como um louco, nada me bastará, e se tudo é tão pouco... ... eu devia morrer... J. G. De Araujo Jorge
  16. Arte de Amar <?:namespace prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" /> Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma. A alma é que estraga o amor. Só em Deus ela pode encontrar satisfação. Não noutra alma. Só em Deus - ou fora do mundo. As almas são incomunicáveis. Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo. Porque os corpos se entendem, mas as almas não. Consolo na praia ... Manuel Bandeira
  17. Um dia <?:namespace prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" /> Um dia descobrimos que beijar uma pessoa para esquecer outra, é bobagem. Você não só não esquece a outra pessoa como pensa muito mais nela... Um dia nós percebemos que as mulheres tem extinto "caçador" e fazem qualquer homem sofrer... Um dia descobrimos que se apaixonar é inevitável... Um diapercebemos que as melhores provas de amor são as mais simples... Um dia percebemos que o comum não nos atrai... Um dia saberemos que ser classificado como o "bonzinho" não é bom... Um dia perceberemos que a pessoa que nunca te liga é a que mais pensa em você... Um dia saberemos a importância da frase: "Tu se tornas eternamente responsável por aquilo que cativas..." Um dia percebemos que somos muito importante para alguém mas não damos valor a isso... Um dia percebemos como aquele amigo faz falta, mas ai já é tarde demais... Enfim... um dia descobrimos que apesar de viver quase um século esse tempo todo não é suficiente para realizarmos todos os nossos sonhos, para beijarmos todas as bocas que nos atraem, para dizer tudo o que tem que ser dito.. O jeito é: ou nos conformamos com a falta de algumas coisas na nossa vida ou lutar para realizar todas as nossas loucuras... Quem não compreende um olhar tampouco compreenderá uma longa explicação. Mario Quintana
  18. Versos <?:namespace prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" /> Que eu não veja empecilhos na sincera União de duas almas. Não amor É o que encontrando alterações se altera Ou diminui se o atinge o desamor. Oh, não! Amor é ponto assaz constante Que ileso os bravos temporais defronta. É a estrela guia do baixel errante, De brilho certo, mas valor sem conta. O Amor não é jogral do tempo, embora Em seu declínio os lábios nos entorte. O Amor não muda com o dia e a hora, Mas persevera ao limiar da morte. E, se se prova que num erro estou, Nunca fiz versos, nem jamais se amou." William Shakespeare
  19. Vida pelo avesso Às vezes é preciso chorar Rasgar a alma e limpar o ser Beber o fel como se fosse mel Cortar a vida ao meio e jogar pedaços em todas as direções Procurar o rosto no escuro Fazer tudo ao contrário dos sonhos Viajar na cauda de um cometa Perder-se no infinito Ficar cega para o amanhã Não tecer mais fantasias Perdi o fio da meada Incerto é o caminho Pálida é a cor da esperança De mim fugiram todas as alegrias A porta do tempo fechou-se Uma teia invisível enroscou-se sobre os meus dias Tudo que recebi de presente do destino foi uma simples vida pelo avesso. <?:namespace prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" /> Zena Maciel
  20. Soneto XXV <?:namespace prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" /> Antes de amar-te, amor, nada era meu: vacilei pelas ruas e as coisas: nada contava nem tinha nome: o mundo era do ar que esperava. E conheci salões cinzentos, túneis habitados pela lua, hangares cruéis que se despediam, perguntas que insistiam na areia. Tudo estava vazio, morto e mudo, caído, abandonado e decaído, tudo era inalienavelmente alheio, tudo era dos outros e de ninguém, até que tua beleza e tua pobreza de dádivas encheram o outono. Pablo Neruda
  21. Poesia sem título (1979) Quero que venhas depressa O tempo é pouco Careço de partilhar meus delírios com você Conheço lugares jamais penetrados Misto de poeta e pirata Só os loucos são capazes de voar Não tenhas receio de mim Quero Te levar aonde estou Como poderei mentir-lhe Se eu sou somente o que sou? Raul Seixas
  22. Vazio A noite é como um olhar longo e claro de mulher. Sinto-me só. Em todas as coisas que me rodeiam Há um desconhecimento completo da minha infelicidade. A noite alta me espia pela janela E eu, desamparado de tudo, desamparado de mim próprio Olho as coisas em torno Com um desconhecimento completo das coisas que me rodeiam. Vago em mim mesmo, sozinho, perdido Tudo é deserto, minha alma é vazia E tem o silêncio grave dos templos abandonados. Eu espio a noite pela janela Ela tem a quietação maravilhosa do êxtase. Mas os gatos embaixo me acordam gritando luxúrias E eu penso que amanhã... Mas a gata vê na rua um gato preto e grande E foge do gato cinzento. Eu espio a noite maravilhosa Estranha como um olhar de carne. Vejo na grade o gato cinzento olhando os amores da gata e do gato preto Perco-me por momentos em antigas aventuras E volto à alma vazia e silenciosa que não acorda mais Nem à noite clara e longa como um olhar de mulher Nem aos gritos luxuriosos dos gatos se amando na rua. Rio de Janeiro, 1933 Vinícius de Moraes Lucia2006-11-18 06:27:24
  23. Por toda a minha vida Minha bem-amada Quero fazer de um juramento uma canção Eu prometo, por toda a minha vida Ser somente teu e amar-te como nunca Ninguém jamais amou, ninguém Minha bem-amada Estrela pura, aparecida Eu te amo e te proclamo O meu amor, o meu amor Maior que tudo quanto existe Oh, meu amor ( Vinicius de Moraes )
  24. Poema Desejo primeiro que você ame, E que amando, também seja amado. E que se não for, seja breve em esquecer. E que esquecendo, não guarde mágoa. Desejo, pois, que não seja assim, Mas se for, saiba ser sem desesperar. Desejo também que tenha amigos, Que mesmo maus e inconseqüentes, Sejam corajosos e fiéis, E que pelo menos num deles Você possa confiar sem duvidar. E porque a vida é assim, Desejo ainda que você tenha inimigos. Nem muitos, nem poucos, Mas na medida exata para que, algumas vezes, Você se interpele a respeito De suas próprias certezas. E que entre eles, haja pelo menos um que seja justo, Para que você não se sinta demasiado seguro. Desejo depois que você seja útil, Mas não insubstituível. E que nos maus momentos, Quando não restar mais nada, Essa utilidade seja suficiente para manter você de pé. Desejo ainda que você seja tolerante, Não com os que erram pouco, porque isso é fácil, Mas com os que erram muito e irremediavelmente, E que fazendo bom uso dessa tolerância, Você sirva de exemplo aos outros. Desejo que você, sendo jovem, Não amadureça depressa demais, E que sendo maduro, não insista em rejuvenescer E que sendo velho, não se dedique ao desespero. Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e É preciso deixar que eles escorram por entre nós. Desejo por sinal que você seja triste, Não o ano todo, mas apenas um dia. Mas que nesse dia descubra Que o riso diário é bom, O riso habitual é insosso e o riso constante é insano. Desejo que você descubra , Com o máximo de urgência, Acima e a respeito de tudo, que existem oprimidos, Injustiçados e infelizes, e que estão à sua volta. Desejo ainda que você afague um gato, Alimente um cuco e ouça o joão-de-barro Erguer triunfante o seu canto matinal Porque, assim, você se sentirá bem por nada. Desejo também que você plante uma semente, Por mais minúscula que seja, E acompanhe o seu crescimento, Para que você saiba de quantas Muitas vidas é feita uma árvore. Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro, Porque é preciso ser prático. E que pelo menos uma vez por ano Coloque um pouco dele Na sua frente e diga "Isso é meu", Só para que fique bem claro quem é o dono de quem. Desejo também que nenhum de seus afetos morra, Por ele e por você, Mas que se morrer, você possa chorar Sem se lamentar e sofrer sem se culpar. Desejo por fim que você sendo homem, Tenha uma boa mulher, E que sendo mulher, Tenha um bom homem E que se amem hoje, amanhã e nos dias seguintes, E quando estiverem exaustos e sorridentes, Ainda haja amor para recomeçar. E se tudo isso acontecer, Não tenho mais nada a te desejar ".
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