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Forum Cinema em Cena

Nicholson

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  1. Depois de muito tempo, estou relendo "O amor nos tempos do cólera". Vi o filme do Mike Newell (excelente!) e deu vontade de relembrar. É o livro mais romântico do Garcia Marquez, nele o autor exorciza definitivamente a longa solidão de Macondo. Enquanto há vida há esperança...
  2. Hoje, com um pouco mais de tempo, vou falar do meu filme preferido. Concordo com vocês: não é propriamente ficção "científica", o tema é indefinível mas pode ser classificado como ficção metafísica. "Stalker", do cineasta russo Andrei Tarkowski, é um filme de 1979. Depois que o descobri, em uma mostra de cinema fantástico há poucos anos, nunca mais deixei de vê-lo regularmente. De início em VHS; depois saiu a obra completa do Tarkowski em DVD. Ele morreu cedo e fez poucos filmes; acabei assistindo todos; o mais conhecido é "O Sacrifício"; recentemente foi feita uma segunda versão do "Solaris", com George Clooney e Natasha McElhone, muito pior que a original. Para mim, particularmente, o mais reflexivo, mais completo, é o Stalker, citação espertíssima da fantasia do mágico de Oz. É um filme-viagem, é uma busca. Poderíamos definir: a busca do indivíduo pelo seu desejo inconsciente. Ou, quem sabe: a impossibilidade do contato da pessoa com o próprio desejo. A Zona proibida onde os três viajantes(o Professor, o Escritor e o Stalker) se aventuram, seria, talvez, uma metáfora do nosso inconsciente. Mas, o filme está aí, aberto a todas as interpretações. Gostaria que outros o assistissem, e dessem suas opiniões. Aluguem o vídeo, e prestem atenção, principalmente, à longa seqüência que os críticos identificam como "o sonho do Stalker", e que começa quando os três viajantes, cansados do longo dia, se deitam para dormir. É uma das seqüências mais bonitas e misteriosas que já foram feitas no cinema. <?:namespace prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" /> (Idéia: iniciar um tópico de discussão sobre "as melhores seqüências do cinema". Vou curtir muito escrever sobre esta).
  3. Tenho praticamente todos os livros dele na minha estante. Passo rapidamente pra os interessados: <?:namespace prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" /> Memorial do Convento – de todos os livros do Saramago é o que mais me agradou, por aquele toque de “realismo fantástico”. Aquela coisa das “vontades” humanas fazendo a geringonça voar, é uma idéia incrível. Outra: a da mulher que “sabe das coisas”, meio que onisciente, é uma sacada básica na obra dele, vai-se repetir em outros livros. O Evangelho segundo Jesus Cristo – O Jesus de Saramago é uma figura ambígua, contraditória, vivendo em uma época primitiva e vitimada por um Pai profundamente incoerente em seus propósitos. Visão supercrítica de um grande personagem. Leia! História do cerco de Lisboa – duas narrativas paralelas, um romance delicioso e trechos hilários, como aquele do ataque às muralhas, em que a torre de assalto simplesmente não se ajusta... Ensaio sobre a cegueira – profundamente cinematográfico. É um excelente roteiro, já pronto, a gente vê o filme desenrolar-se na nossa frente como numa tela. Outros já perceberam isso, já tive notícia do filme que está vindo por aí. As lutas nas “camaratas”, a cena das mulheres tomando banho de chuva, o cão das lágrimas... espertíssimo. Todos os nomes – misterioso, aventuresco, investigativo, com um final bonito e surpreendente. A caverna – uma família, um caso de amor, mais uma vez um cachorro, perdendo o rumo na transição entre o regime de trabalho artesanal (uma olaria) e a civilização dos shopping-centers. O conto da ilha desconhecida – curto, simbólico, romântico, perceptivo... Outros, que li mas não curti tanto (talvez não estivesse à altura): Ensaio sobre a lucidez, As intermitências da morte, Levantado do chão (meio cansativo, panfletário). Li também um volume de memórias, Cadernos da Lanzarote, que só vem provar que eles, os escritores, são exatamente como nós mortais..
  4. Sim, é do Antonioni e foi muito lembrado há pouco tempo atrás, por ocasião da morte desse grande cineasta. Tem uma seqüência que é uma das "minhas" preferidas, tipo “de todos os tempos”. Descrevo: O personagem do xarazão Jack está deitado na cama, em um hotel vagabundo. A câmera literalmente sai passeando lentamente pelo cenário, sem cortes, vagueando por ali, saindo pela janela, transpondo uma cerca, lentos travellings em uma paisagem pobre. Em algum momento dessas andanças ouve-se um tiro. A câmera vai voltando, sempre devagar, e finalmente focaliza a cama com o protagonista já morto. Vc assiste esse lance uma vez e nunca mais esquece, e fica pensando que diabo, eu tenho que ver isso de novo. É uma câmera “humana”. Ela faz o que as pessoas fazem, afasta-se pra não ver a morte, aponta para as coisas em volta, os espaços, o silêncio, e depois enquadra o morto. É o final do filme. Putz!
  5. Achei ótima a discussão desse tópico. Talvez porque tenha apreciado o filme. Li há tempos, na "Folha" uma crônica ótima do Contardo Calligaris sobre "Closer". Não exatamente sobre cinema, mas sobre relacionamentos entre pessoas e sobre as reflexões que o filme desperta. Gosto de digitar e não me importo de resumir os pontos principais da encucação do Calligaris, que é bastante produtiva. Vejam. <?:namespace prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" /> "Por que, no meio de uma história amorosa que funciona, um encontro (que sempre parece mágico) pode levar alguém a trocar a intimidade de um casal companheiro por uma visão? [...] Como pode ser que um encontro, em que mal se sabe quem é o outro ou a outra, contenha uma promessa que basta para levar alguém a dar um chute num amor que dura? Tento responder: apaixonar-se é idealizar o outro, durar no amor é lidar com a realidade do amado ou da amada. [...] Um paradoxo: se me separo porque me apaixono por outra ou por outro, o parceiro que deixei se distancia de mim, portanto volto a idealizá-lo e a me apaixonar por ele. Por que gostaríamos tanto de idealizar o outro que vislumbramos num novo encontro? [...] se o outro me idealiza, carrego seu ideal como um casaco novo: modifico minha postura para que o pano caia bem no meu corpo. De uma certa forma, tento me parecer com o ideal que o outro ama em mim. [...] Não é estranho que, na hora em que um amor começa, alguém decida se dar um novo nome. Nenhuma mentira nisso, apenas a convicção e a esperança de que a paixão nos transforme. [...] Um homem volta para o lar depois de ter estado nos braços de outra. Sua mulher pergunta: você me ama ainda? Ela tem razão, é a única pergunta que importa. Uma mulher volta para o lar depois de ter estado nos braços de outro. Seu homem pergunta: você esteve com ele? Insiste: quero a verdade. Pede os detalhes: gostou? Gozou? Onde aconteceu, em que posição, quantas vezes? O ciúme feminino é uma exigência amorosa. O ciúme do homem é uma competição com o outro, um duelo de espadas... Enfim, quem sabe o filme nos ajude a inventar jeitos de amar menos desafortunados e mais interessantes." (Contardo Calligaris, Folha de São Paulo, E6, 3/2/05)
  6. Gosto quando discutem meus filmes. Mas vcs querem saber sobre a minha VIDA? Olhassó. De uns tempos pra cá, resolvi assumir a velhice. Mas é claro, sem perder o meu famoso charme, nem a personalidade. A carantonha sádica, os “olhos de cobra” e a voz cavernosa não mudaram. A saúde vai bem. Já tive fama de garanhão quando jovem; hoje estou meio que desativado nesse ponto, também cheio de filhos e netos etc... fazer o quê? Nem penso em me aposentar – pra mim, a carreira e o trabalho são tudo. Tenho a vantagem de poder fazer o que quero, escolher meus papéis e não dar satisfação a ninguém. Em meus últimos filmes, fiz um hilário papel em “Tratamento de choque”, esbanjei talento em “Alguém tem que Ceder” e mostrei ter inúmeras cartas na manga em “Confissões de Schmidt”, “A Promessa” e "Os infiltrados", do meu amigão Martin Scorsese. Oscars sem parar. Acabei agora de filmar um drama com Morgan Feeman, faço um cara que vai morrer. Apesar disso, quem já me viu de perto, sabe que, apesar da fama e fortuna, eu sou um homem simples. Sou fã de boxe e do Los Angeles Lakers, vivo uma vida normal, com vida social ativa e sem a companhia de guarda costas ou agentes da imprensa. Para se ter uma idéia, no ano passado, na maior cara de pau, compareci à reunião da turma de 50 anos de formados. Foi uma zorra, o pessoal só faltou desmaiar, hehehe. <?:namespace prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" /> Enfim, sou conhecido pelo meu temperamento instável e por nunca conceder entrevistas na TV. Na última (saiu no jornal há dias) dei uma de Iluminado e parti pra cima de um jornalista, ele teve que sair correndo. E tive recentemente uma notícia meio desagradável: imaginem que eu sou o ator preferido do presidente norte americano George W. Bush. Vai entender... aquele cara péssimo, conservador, vai preferir logo a mim ... bah. (Hehehe... fui até no google...)
  7. Ótimo o depoimento do Kiko. Gosto quando as pessoas não dizem simplesmente "amei" ou "detestei" - mas expressam vivências e sentimentos a propósito do filme. Vivo dizendo, neste e em outros fóruns que participo: filmes são pra se viajar neles... Acho Ratatouille uma obra prima, com citações espertíssimas. Vejam a seqüência final do prato servido ao Anton Ego: é puro Proust!
  8. Para mim, o filme de (digamos assim) “ficção” (ou fantasia) que mais me impressionou é o “Stalker” de Andrei Tarkovski. É um cult de todos os tempos, de uma originalidade e serenidade impressionantes. Em uma clara citação do “Mágico de Oz” (cuja idéia básica é veiculada em um contexto reflexivo e de grande beleza plástica), o filme trata de uma Região isolada e proibida, outrora visitada por alienígenas, na qual, segundo se acredita, os desejos mais secretos dos viajantes podem se realizar. É o pano de fundo para uma discussão em torno dos mecanismos do desejo; do difícil contato das pessoas com o próprio desejo; da complexa relação do indivíduo com seu inconsciente. (Jack, vc viaja...) Outro dia, com mais tempo, falo mais. Recomendo alugar e curtir.
  9. Vocês não falam nada dos MEUS VILÕES. Na interminável lista dos vilões do cinema, eu contribuí com dois grandes clássicos: o Coringa, é lógico, não podia faltar,e o assassino do machado do Iluminado. Também lógico! Só que esses dois são os mais óbvios da minha galeria de BANDIDÕES. Eu, o velho Jack, o famoso OLHOS-DE-COBRA, fiz outros muito mais sutis e complicados, de que gosto muito mais. Por exemplo, o machista mau-caráter de "Ânsia de amar"; o assassino de "O destino bate à sua porta"; e finalmente, o meu preferido, o melhor deles, o militar visceralmente violento e irracional de "Questão de honra", de Rob Reiner, no qual, como sempre, eu boto o filme no bolso... <?:namespace prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" /> Mais recentemente, acrescento o chefão sádico do "Os Infiltrados". A carantonha feroz e sarcástica é a mesma - cada vez mais apurada pela experiência. VILÃO É COMIGO MESMO! HEHEHE...
  10. Aquela velha mania que eu tenho, estranhíssima, de ler as coisas. Estraga tudo. Por conta disso, achei um monte de inconsistências e FUROS no filme. Nem vou falar sobre todos, preguiça. Vou escolher “um” furo dos maiores pra servir de exemplo. Vejam a coisa dos centauros, ficou INTEIRAMENTE sem pé nem cabeça. No livro, uma das melhores seqüências é a do centauro Firenze, que substitui a professora Trelawney depois que ela é demitida. Olhassó, o Firenze é um personagem incrível. É genial aquela cena em que os alunos vão para a primeira aula: entram na sala e esta se transformou em um bosque mágico, habitat natural dos centauros. E a matéria? Aquela coisa dos astros, dos destinos, cheia de mistérios, nada a ver com a simplorice da Trelawney e pode ser entendida até mesmo como uma mensagem direta da autora. Mas o nó da questão é a briga do Firenze com os outros centauros, que o acusam de ser-se tornado um “lacaio” dos humanos. Toda essa coisa fica faltando no filmeco, e também o episódio em que os três protagonistas escapam da fúria dos centauros. Vejam que a história do livro faz absoluto sentido, provando mais uma vez a inteligência da Hermione: quando leva a Umbridge aos centauros, ela não está “improvisando”: ela calcula as probabilidades; é um plano perfeito, JÁ SABENDO que as normas tribais dos centauros proíbem matar “filhotes”, e que os três heróis não correrão perigo. Tá bom, tá bom, o filme precisa resumir, não dá pra contar tudo em tão pouco tempo. Mas o que eu sei é que o episódio vira uma bagunça; não se sabe porque as coisas acontecem; o Grope entra de gaiato no pedaço, salvando a situação; é uma seqüência destrambelhada.
  11. Ponto fraco: a enrolação quando os três estão se escondendo, armando aquela tenda, brigando, arrumando comida etc... Demora demais aquela parte! Ponto forte: as referências e citações sobre o regime tipo nazista, o racismo (“sangues-ruins”), a censura à mídia, a intimidação e outras totalitarices. Genial a idéia de fazer do Harry uma espécie de paladino da liberdade. Personagem favorito: o Snape, desde o primeiro livro. Eu nunca tive certeza sobre ele, a ambigüidade funciona o tempo todo - é ótimo. Complicações desnecessárias: não chega UMA série de objetos mágicos? As Horcruxes? Ainda tem que inventar OUTRA série, os Hallows (Relíquias)? Acaba ficando complicado e longo demais, correr atrás de tantos objetos... E vejam: são nada menos que sete Horcruxes, e mais três Hallows – putz, é fogo, dar conta de tudo... Traduções idiotas: não gosto dos nomes em geral; não concordei com grande parte das expressões traduzidas. Mas o que achei pior foi traduzirem “hallows” como “relíquias”. Relíquias são coisas antigas, guardadas com carinho e respeito, e não costumam ter poderes mágicos. Aquelas coisas do livro são AMULETOS, e não relíquias. Amuletos têm poderes, de proteção ou de transmutação. A pior coisa: o tamanho descomunal do livro. Não pra mim (que sou um traça compulsivo, fui o primeiro a comprar e ler ainda em inglês), mas pra maioria das crianças e até marmanjos que conheço. Muitos nem querem saber, dão uma olhada no tijolão e amarelam... Vai ser um problema pra transformar em roteiro: talvez tenham que dividir em duas ou até três partes, ou vai perder muito. Que imaginação...
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