Jump to content
Forum Cinema em Cena

Ismac

Members
  • Posts

    78
  • Joined

  • Last visited

Ismac's Achievements

Newbie

Newbie (1/14)

0

Reputation

  1. Lógico' date=' lógico. Matar pelo amor, executar friamente contra a injustiça social,etc... [/quote'] Eu lá sei se o cara fez isso por amor, convicção ou o caramba;cabe a vc decidir e ficar matutando em uma merdinha de fórum de internet. Essa não sei de quem é: "Great people talk about ideas Avarage people talk about things Small people talk about other people" Se não sabe , qual o motivo da citação?
  2. Ninguém lembrou do meu preferido: Os trapalhões nas minas do rei salomão: icha Técnica Título Original: O Trapalhão nas Minas do Rei Salomão Gênero: Comédia/Infantil Tempo de Duração: 82 min. Ano de Lançamento (Brasil): 1977 Distribuição: U.C.B. Direção: J.B. Tanko Roteiro: J.B. Tanko Produção: J.B.Tanko Filmes Música: Remo Usai Fotografia: Antônio Gonçalves Desenho de Produção: Arthur Maia e Luis Carlos Cândido Rondon Direção de Arte: Figurino: Arthur Maia Edição: Manuel Oliveira Elenco Renato Aragão (Pilo) Mussum (Fumaça) Dedé Santana (Duka) Carlos Kurt (Aristóbulo) Monique Lafond (Glória) Wilson Grey Francisco Di Franco (Alberto) Baiaco Carvalhinho Leovegildo Cordeiro Edson Farias Alan Fontaine Ed Heath Alfredo Luiz Norival Maçaroca Roberto Miranda Kim Negro Anão Nery Emil Rached Youssef Salim Roberto Santos Vera Setta Milton Vilar Muita gente chorou com morte(falsa) do cachorro Lupa no final.
  3. Outras menções: Durval discos Cazuza O homem que copiava. Como nascem os anjos. Ainda não vi, mas devo gostar: Cinema, aspirinas e urubus, a máquina, Cafundó, O cheiro do ralo. Ismac2007-10-06 19:21:36
  4. Menções honrrosas: Amarelo manga Central do Brasil Os trapalhões nas minas do rei salomão (é sério) 2 filhos de francisco Bye bye Brasil Toda nudez será castigada Veja esta canção
  5. Meu top 11: 1- Terra em transe - Glauber Rocha 2- Tropa de Elite - José Padilha 3- Terra estrangeira - Walter Salles 4- Cidade de Deus - Fernado Meirelles 5- Abril Despedaçado - Walter Salles 7- O invasor- Beto Brant 8- Madame Satã- Karin Ainouz 9- Eu, tu, eles - Andrucha W. 10-Ação entre amigos - Beto Brant 11-Janela da alma - João jardim e Walter Carvalho. Ismac2007-10-06 19:24:00
  6. Lógico, lógico. Matar pelo amor, executar friamente contra a injustiça social,etc...
  7. Leiam isso: Entrevista com Rodrigo Granda, membro das FARC-EP Por Jornal suiço Solidarité 05/10/2007 às 19:46 Em Havana, no passado dia 24 de Julho, o nosso jornal conseguiu uma entrevista exclusiva com Rodrigo Granda, membro da Comissão Internacional das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia ? Exército do Povo (FARC-EP), sequestrado na Venezuela pela polícia secreta colombiana, encarcerado, e finalmente libertado a pedido de Nicolas Sarkozy. Ele permite-nos compreender melhor as posições desse movimento político-militar que há 43 anos combate o regime da oligarquia colombiana, sustentada pelos Estados Unidos. As FARC consideram-se um movimento político-militar que lidera uma guerra social insurrecta contra o Estado colombiano. Nessa qualidade, as FARC capturam polícias, soldados, oficiais e mercenários. As FARC decidiram também sequestrar personalidades civis representantes do aparelho de Estado colombiano. Finalmente, acabaram por raptar também civis cuja libertação foi condicionada ao pagamento de um resgate. Se ninguém pode contestar que um exército aprisione combatentes adversos, como é que as FARC podem justificar o encarceramento de civis? Não pensam que essas acções tendem a isolar largos sectores da opinião pública colombiana opositora do governo? Efectivamente, as FARC-EP são um movimento político-militar que têm o justo direito de rebelião contra um Estado que pratica uma democracia de fachada. Nós respondemos a uma guerra que nos foi imposta pelas altas esferas do poder colombiano. Durante décadas, o terrorismo de Estado foi utilizado como método de extermínio contra nós e contra o nosso povo. Desde logo, toda a gente o sabe, uma guerra desse tipo necessita de financiamento. Este conflito foi-nos imposto pelos ricos da Colômbia: então eles têm de financiar essa guerra que eles mesmos desencadearam. É por essa razão que as FARC capturam pessoas, e as libertam em troca de uma soma de dinheiro, que é, na verdade, um imposto. Esse dinheiro destina-se ao financiamento do aparelho de guerra do povo. Como deve saber, nós falamos sobre a construção de um novo poder e de um novo Estado. Na Suíça, na França, ou nos Estados Unidos, se alguém não pagar os impostos vai para a prisão necessariamente. O novo Estado que nós estamos em vias de constituir decidiu que deve haver um imposto pela paz. Isso significa que toda a pessoa física ou moral, bem como empresas estrangeiras estabelecidas na Colômbia e que facturam valores superiores a um milhão de dólares por ano, devem responsabilizar-se por um imposto para a paz que represente 10% dos seus lucros. Os devedores são informados que devem entrar em conversações com os responsáveis financeiros das FARC e entregar essa soma. Se essas pessoas não o fizerem, são detidas e presas até que tenham efectuado o pagamento, com o qual nós assumimos os encargos do novo Estado, construído e dirigido pelas FARC, agindo como o exército do povo. Evidentemente, durante as operações militares, as FARC capturam oficiais, sub oficiais, polícias e soldados ? actualmente detidos como prisioneiros de guerra. Nestes confrontos, o inimigo também faz prisioneiros do nosso lado que, após julgamentos sumários e falsos, cumprem penas demasiado pesadas nas diferentes prisões do país. Infelizmente, isso é normal no contexto da guerra. Seja como for, num conflito tão agudo como é o da Colômbia, é possível que certas detenções de civis não sejam bem aceites pela população de modo geral. No entanto, consideramos que tendo sido publicada a lei 002, segundo a qual determinadas pessoas e entidades economicamente poderosas devem pagar o imposto para a paz, isso significa que as avisámos devidamente e que elas podem entrar em conversações para regularizar a sua situação nos prazos acordados. Se conseguirmos isso, as detenções diminuirão. Quanto ao facto de essa situação nos afastar da população civil, até pode acontecer, mas não será com certeza determinante, porque a larga maioria da população colombiana sabe perfeitamente que as FARC-EP apenas detêm pessoas economicamente favorecidas e que podem pagar. Não se detêm pessoas ao acaso. No que toca aos prisioneiros de guerra, guardamo-los com vista a uma futura troca humanitária, que esperamos que se realize brevemente. Temos sempre em conta o facto que, na Colômbia, a justiça e os juízes especiais impõem penas fortes, a numerosos guerrilheiros e guerrilheiras detidos ? que tiveram a sorte de não terem sido assassinados aquando da sua captura ?, que equivalem praticamente a penas perpétuas. Porque no nosso país a justiça é uma justiça de classe e aplica-se como tal: os que usam do justo direito à rebelião são condenados como "terroristas" ou "autores de sequestro": as sentenças contra os revolucionários oscilam entre os 40 e 80 anos de prisão. Assim, o imposto é uma necessidade ditada pela situação actual de guerra que a Colômbia está a viver. Nós queríamos não ter de deter ninguém, nem civis ? mesmo os provenientes dos píncaros da oligarquia ?, nem militares? mas o confronto quotidiano no nosso país impõe que as coisas se passem dessa maneira, e não como nós desejaríamos. O financiamento da luta armada depende em larga medida do imposto revolucionário que incide sobre a cultura da folha de coca e sobre a produção de pasta de base, e em certa medida também dos raptos com pedido de resgate. Se um processo de paz se iniciasse, a guerrilha poderia sobreviver sem essas fontes de financiamento sem pôr em perigo a sua autonomia política e organizacional? Por outras palavras, não existe no interior do vosso movimento forças que tendem a defender o statu quo por temerem que a desmobilização possa privar as FARC de fontes de rendimentos decisivos, e que isso conduza à sua marginalização? Em primeiro lugar, devo dizer que as FARC-EP sempre foram um movimento autárcico, ou seja, que sempre viveram dos seus próprios recursos e que nunca dependeram ? nem antes nem agora ? e nunca dependerão de qualquer financiamento estrangeiro. Enquanto FARC-EP, nós conseguimos desenvolver inicialmente uma economia de subsistência antes de desenvolver factores de produção que permitem a manutenção do nosso movimento. As FARC-EP já existiam na Colômbia muito antes do desenvolvimento do narcotráfico ou da implementação de uma política logística de captura sistemática de pessoas, que são coisas conjunturais. Com o passar do tempo, as FARC-EP diversificaram o seu financiamento graças a investimentos de ordem vária: nas operações financeiras no interior e exterior do país, na produção agrícola, na criação de gado, nas minas, nos transportes e em muitos outros sectores produtivos. É inegável que a Colômbia foi transfigurada por políticas neoliberais impostas pelo terror, que destruíram os campos, num país produtor de folhas de coca para a elaboração de cocaína, o que obrigou milhares e milhares de famílias de camponeses pobres a tirar o seu sustento dessa economia para não morrer à fome, face à destruição das suas culturas tradicionais de café, milho, bananas, sorgo, algodão, etc. As FARC-EP são um movimento principalmente rural e nós estamos em contacto directo com essa realidade, mas nós não temos meios para obrigar as pessoas a abandonar essas plantações ditas ilícitas sem lhes dar uma alternativa. Por ocasião do diálogo de el Caguán (1999-2002), o governo de Pastraña, por iniciativa da nossa organização de guerrilha, organizou a primeira conferência pública internacional para a substituição das culturas ditas "ilícitas" e a protecção do ambiente. A União Europeia, o Japão, o Canadá, bem como a ONU, o Grupo dos países amigos do processo de paz na Colômbia e os países orientadores desse diálogo [entre eles a Suíça] participaram nesses encontros. Os Estados Unidos foram convidados, mas declinaram o convite. Nessa altura, as FARC apresentaram um projecto viável para a erradicação das plantações de folhas de coca nos municípios de Cartagena del Chairá e do Caquetá, que dedicavam cerca de 8000 hectares a essa cultura. Teríamos gostado que a comunidade internacional se empenhasse a favor de uma alternativa à repressão e que fossem feitos investimentos sociais nessa região para o desenvolvimento de um "laboratório experimental" dedicado à procura de soluções para a supressão dessas culturas, e que poderiam também ser aplicadas noutras zonas do país, e se possível do continente: no Equador, no Peru, na Bolívia. Esta é uma proposta que será sempre válida. Acreditamos também que a legalização da droga contribuiria para a resolução do problema. Economistas como Friedman e uma revista tão prestigiada como The Economist reconhecem isso. Existem razões para isso: como se trata de um tipo de comércio clandestino, a rotação do capital é impressionante. Actualmente, calcula-se que o produto mundial do narcotráfico represente 680 biliões de dólares e não há crime que não se cometa para se ter essa enorme quantidade de dinheiro. Trata-se logo à partida de um problema económico, depois político, e finalmente ético, mas se os lucros gigantescos desaparecessem, a incitação fundamental que são os ganhos sobre os investimentos desaparecia e os Estados poderiam controlar esse mercado. Algo parecido com o que aconteceu com o fim da proibição nos Estados Unidos, apesar das diferenças de proporção, na época de Al Capone e Cie, nos anos 20. Deverá ser claro ? e nós demonstrámo-lo perante a nossa nação e a comunidade internacional ? que as FARC-EP não são, de maneira nenhuma, narcotraficantes, nem estão implicadas na produção, nem no transporte, nem na comercialização, nem na exportação de narcóticos. Pelo contrário, nós estamos dispostos a trabalhar com a comunidade internacional e mesmo com o governo dos Estados Unidos na resolução deste grave problema. A nossa organização impôs a colecta de um imposto junto dos compradores de pasta de coca que penetram nas zonas onde existem estas culturas e onde nós estamos presentes; e este imposto representa uma forma de controlo relativamente aos abusos cometidos contra os camponeses cultivadores. Mas não exercemos funções de polícia. Compete ao Estado colombiano controlar essas zonas, e até agora ele tem sido incapaz de o fazer, apesar dos milhares de milhões de dólares investidos pelo governo dos Estados Unidos para acabar com este tráfico que afecta o mundo. Além disso, é de notar que as receitas geradas por esse imposto representam uma fracção ínfima dos custos do aparelho militar das FARC-EP. O que ganhamos com a detenção de pessoas ajuda à manutenção económica das FARC, mas não é um produto decisivo. O objectivo último das FARC-EP não é o "conforto" do seu pessoal dirigente, da sua hierarquia ou dos seus combatentes. Para nós, o dinheiro é um meio, algo que pode contribuir para a concretização da finalidade política e estratégica das FARC-EP, que visa a tomada do poder para efectuar mudanças políticas, económicas, sociais, ecológicas e outras, das quais o país tem necessidade e que reclama. O financiamento é, nesse sentido, um meio para atingir esses fins. Ninguém nas FARC-EP aspira a ser multimilionário; essa é uma das grandes diferenças entre nós e os narcotraficantes e os paramilitares que procuram enriquecer pessoalmente e "levar uma vida à grande". Enfim, as FARC-EP não fazem a guerra por gosto. Nós já dissemos que se o quadro político mudar e as condições para a prática de uma política abrangente, legal, sem receio de represálias ou de assassinatos, existirem, se a via aberta for para uma democracia real, nós poderemos pensar em mudar a forma actual de confronto militar para responder a essa nova situação. Durante todo o mandato presidencial de Uribe, e muito antes, as FARC-EP tiveram de se constituir como uma oposição política e militar ao regime, porque não existia outra forma de expressar o nosso pensamento. A burguesia colombiana é uma burguesia sanguinária, retrógrada, que apenas compreende a linguagem das armas. Se não tivéssemos respondido à agressão, já nos teriam marcado com um ferro em brasa, e estaríamos acorrentados como na época da escravatura? As recentes mobilizações em massa contra a violência e os sequestros fizeram com que a responsabilidade recaísse sobre o governo bem como sobre os insurgidos. Será que essas mobilizações não representam uma reviravolta para a esquerda, na medida em que Álvaro Uribe soube tirar partido delas para desviar a atenção do público da sua implicação nos escândalos da parapolítica? Como acaba de dizer, essas mobilizações significam uma rejeição da violência, e mais particularmente da violência oficial e paramilitar. O povo colombiano está certamente cansado do confronto militar, mas que povo não estaria depois de 40 anos de guerra imposta pelo regime estabelecido? Álvaro Uribe tentou capitalizar um movimento no qual participaram sectores populares muito próximos das FARC-EP, e até membros da nossa organização. Nessas mobilizações podia-se ver cartazes exigindo a troca humanitária de prisioneiros, a procura de diálogo para uma abertura política ao conflito social e armado que o país vive. Se analisar os boletins de imprensa, da rádio e da televisão, constatará que a maior parte dos editorialistas do país criticaram o oportunismo político do governo. Além disso, convém lembrar que na cidade de Cali se deu um confronto público entre o Ministro do Interior e um dos parentes dos 11 deputados mortos durante a tentativa falhada de salvamento militar, ordenada pelo governo, no dia 18 de Junho de 2007. Não é certo que o presidente Uribe tenha capitalizado essas mobilizações. Pelo contrário, as últimas sondagens de opinião efectuadas após esse acontecimento mostram que a imagem de Uribe está gasta e "em queda livre", pela primeira vez depois da sua ascensão à presidência. Quanto ao problema da parapolítica, ele foi denunciado há mais de vinte anos pelo jornal Voz, órgão do Partido Comunista da Colômbia, pelas FARC-EP e pelos democratas de todo o país. No entanto, o Estado colombiano ignorou sempre essas denúncias. Há um ano e meio, tive ocasião de falar ? na prisão de alta segurança de Combita, onde estive detido ? com o responsável pela paz do governo Uribe, o doutor Luís Carlos Restrepo. Durante essa conversa, abordámos diversos temas: entre outras coisas, consegui demonstrar-lhe que a política de "segurança democrática" imposta pelo Presidente e o Plano Colômbia tinham falhado. E ele respondeu-me: "escute senhor Granda, o Estado colombiano combateu-vos certamente com métodos não-ortodoxos?" Esses métodos de que falava Restrepo são precisamente a parapolítica e o paramilitarismo, porque esse modo de fazer foi friamente calculado pela Colômbia. É uma das formas de expressão do fascismo, graças às quais os monopólios financeiros, o sector industrial e os grandes proprietários rurais beneficiaram da recomposição económica do país, provocada pela globalização e as privatizações que a acompanham. Os negócios e os lucros obtidos por esses sectores foram extraordinários. O que resta para privatizar neste momento é reduzido, o que nos diz que o período de implementação mais brutal do projecto neoliberal na Colômbia já está, em certa medida, atrás de nós, pois não resta nenhuma empresa pública de importância para vender às transnacionais. É por essa razão que eles tentam agora desmontar esses aparelhos de morte que eles tinham posto a funcionar como apoio militar ao projecto fascizante de imposição do neoliberalismo. Nesse sentido, podíamos fazer uma comparação como o Chile do general Pinochet. Lembre-se que as políticas neoliberais começaram a ser impostas no continente depois do golpe de Estado de 1973 no Chile. Esse golpe de Estado liquidou praticamente a resistência popular da classe trabalhadora, das classes médias e camponesas; impôs a disciplina social dos monopólios, ou seja, do fascismo ao serviço do neoliberalismo, que utilizou o terror na nossa América para impor o seu projecto económico e a sua ideologia política. Actualmente, na Colômbia, o "establishment" está abalado, porque as instituições e os homens que o compõem estão implicados na crise à qual eles conduziram a nação. A Colômbia é um dos países com o mais alto nível de corrupção à escala mundial. Dir-se-ia que as instituições colombianas foram criadas para proteger todas as formas de corrupção. É por essa razão que o "establishment", para impor as suas políticas neoliberais, jogou borda fora todo o sentido ético em política, e agora recebe e paga a factura do seu "casamento" com o narco-paramilitarismo criado para eliminar a esquerda revolucionária, não importa a que preço. Esse modelo e esse projecto fascistas para a Colômbia falharam. Quando a maré de denúncias deflagra, o presidente tenta evidentemente evitar todo o debate público e transmite ecrãs de fumaça: a reeleição, o referendo, a copa do mundo de futebol, etc., a fim de distrair a opinião pública nacional. Mas os escândalos e a corrupção reinante na Colômbia são de tal amplitude que esses espectáculos publicitários não conseguirão desviar a atenção do aspecto fundamental: a corrupção imposta pela máfia, o paramilitarismo e o narcotráfico ? que são a mesma coisa ? a favor de um governo mafioso que pratica uma narco-democracia. O Exército de Libertação Nacional (ELN) decidiu recentemente depor as armas. Em que medida é que essa decisão enfraquece a luta armada das FARC, visto que doravante o Estado colombiano, o paramilitarismo e os Estados Unidos poderão concentrar todos os esforços para vos combater? É necessário relativizar a luta contra-insurrecta que nós vivemos hoje, da parte do governo colombiano e dos Estados Unidos. Praticamente desde o início do Plano Colômbia, as FARC-EP resistiram sozinhas a essas operações. É inegável que o Estado colombiano nunca combateu militarmente o paramilitarismo. As operações militares nas zonas onde operavam os camaradas do ELN foram mínimas; numa certa medida, a responsabilidade e o peso fundamental das operações levadas a cabo pelo exército colombiano e os gringos foram suportadas pela nossa organização. Deverá lembrar-se que neste momento, a Colômbia é o terceiro país beneficiário da ajuda militar norte-americana, a seguir a Israel e ao Egipto. Na primeira etapa do Plano Colômbia, os Estados Unidos investiram 7500 milhões de dólares e o Estado colombiano impôs um imposto de guerra de 12% (que aumentou este ano mais 8%). Mesmo assim, todas as operações do Plano Colômbia e aquelas que se seguiram falharam face à resistência e à contra-ofensiva das FARC-EP. Logo, é bastante relativo pensar que o inimigo nos possa desorientar, ainda que gaste todas as baterias contra nós. A nossa história demonstra isso desde a época em que nascemos, em Marquetalia, em 1964: note-se que 16 mil militares foram destacados para essa região contra o grupo fundador das FARC, formado por quarenta e seis homens e duas mulheres de origem camponesa. Nessa altura não existia nenhum outro movimento insurgido dentro do país. O peso dessa ofensiva contra as zonas de autodefesa camponesa ? denominada "Operação LASSO" ? recaiu naturalmente sobre as FARC-EP. Acreditamos que nesse novo período de tempo, foi atingido um limite nas acções militares das tropas gringas, mercenárias e do exército colombiano. Actualmente fala-se do seu declínio. Nas altas esferas do governo colombiano e nos corredores do Pentágono, fala-se no fracasso sonante do Plano Colômbia, do Plano Patriota, do Plano Consolidação e do "Plano Victoria" (2002-2007). Os gringos e o Estado colombiano não conseguem uma vitória militar sobre um movimento armado que, como o nosso, conduz uma luta há quarenta e três anos, e que dispõe de uma larga experiência, tanto ao nível dos seus comandantes como dos seus combatentes. Trata-se de uma experiência quase única na América latina e no mundo. Pode constatar que neste momento, não existe nenhum grande plano ou "operação militar" no hemisfério ocidental com a envergadura e as características das operações conduzidas no Centro e no Sul da Colômbia, e praticamente em todo o território nacional. Verdadeiramente, nós tivemos de enfrentar uma guerra sozinhos. Antes, existia o "campo socialista", a solidariedade internacional, e tivemos de "dançar com a mais feia" (utilizando aqui uma expressão popular colombiana um pouco machista), mas reparámos que sozinhos também poderíamos confrontar e vencer o inimigo. Para nós, trata-se de uma obrigação e de um contributo solidário para os povos oprimidos do mundo. A combinação de todas as formas de luta de massas irá assegurar-nos a vitória num futuro próximo. Não resta nenhuma outra alternativa ao Estado colombiano senão a de aceitar a sua incapacidade de desencaminhar os insurgidos, bem como o fracasso do seu projecto fascista, que utilizou o terror de Estado como arma fundamental, e a de procurar um acordo connosco para que possamos conversar e encontrar uma resposta política negociada para o longo conflito social e armado que o nosso país vive. Quanto ao desarmamento do ELN, estou a agora a sabê-lo? Sei que o ELN não depôs as armas. Além disso, não me quero pronunciar sobre as decisões do ELN. É uma organização soberana, uma organização de guerrilha que combate há anos e que, pelo que sei, nunca, até ao presente, entregou um único cartucho. As FARC nasceram de um movimento de camponeses pobres que constitui desde sempre o núcleo da sua base social. Desde então, será que as FARC foram capazes de repensar a sua reorientação estratégica à luz da urbanização extremamente rápida da Colômbia? Por outras palavras, como é que as FARC se dirigem às massas urbanas empobrecidas que sofrem os ataques constantes dos paramilitares, e a repressão exercida pelo Estado colombiano? Dizia-lhe há pouco que as FARC-EP são uma organização político-militar. A luta conduzida pelas FARC-EP não é um confronto de aparelhos, ou seja, do aparelho militar do Estado colombiano e do aparelho militar propriamente dito das FARC-EP? De um modo geral, se se analisar a evolução do comportamento dos Estados burgueses, verifica-se que estes têm diversas maneiras de pôr em marcha o que eles chamam de "democracia representativa", e que eles combinam todas as formas de luta para explorar os povos. Os gringos chamam isso de "cenoura e pau", e que praticam-no da seguinte forma: se eles consideram que as massas são dóceis, deixam que se desenvolva certas formas limitadas de democracia durante algum tempo; se consideram que as massas se radicalizaram, eles mandam as tropas para as ruas e exercem a repressão. Mas se eles notam que as massas ainda se radicalizam mais, recorrem ao terrorismo de Estado e praticam o genocídio dos seus opositores e o extermínio das organizações de massas. É o terror ao nível mais assustador que todos os países da nossa América conheceram no passado recente e que ainda perdura na Colômbia. Deste ponto de vista, é legítimo que os movimentos revolucionários da Colômbia e do mundo empreguem todas as formas de luta em massa para obterem as mudanças revolucionárias de que a sociedade tem necessidade em determinado momento do seu desenvolvimento. Nós não decretámos a luta armada. Aliás, ela não o pode ser, muito menos pela vontade deste ou daquele partido. A luta armada nasce da necessidade imperiosa de defender os interesses de classe num dado momento, quando os Estados burgueses fecham toda a possibilidade de democracia e de expressão de que as massas poderiam beneficiar. Na Colômbia, infelizmente, a história confirma o que acabo de afirmar: as FARC-EP, em busca de uma reconciliação nacional em 1982, entraram em diálogo com o presidente da época, Belisario Betancourt. Chegámos a assinar os acordos de La Uribe. Como corolário desses acordos foi fundado o vasto movimento chamado União Patriótica (UP). Quando esse movimento surgiu na vida política nacional beneficiou de um sentimento de simpatia por parte dos habitantes do campo e das cidades, das classes médias, dos estudantes, etc. Dito de outra forma, era um movimento que reunia sectores muito diversos. Assim que este se começou a desenvolver, a burguesia entrou e pânico e encetou um extermínio planificado e sistemático: em primeiro lugar dos seus dirigentes e de seguida dos seus militantes. Tudo isso conduziu ao genocídio político mais aberrante que a América latina já conheceu. Com essa experiência, votada ao fracasso pelo terrorismo de Estado, as FARC-EP aprenderam muito, e não estão dispostas a repetir a mesma história. Nós contribuímos com um esforço importante na criação de movimentos e organizações populares e políticas a nível nacional. Fizemos um esforço considerável para a construção do Partido Comunista clandestino da Colômbia, que tem de ser clandestino porque já tivemos a experiência de cinco mil mortes com a UP. Nós construímos também o Movimento Bolivariano para uma nova Colômbia, no qual todos e todas podem participar. Este movimento não tem estatutos, as pessoas podem-se reunir em pequenos grupos para evitar os golpes do inimigo; ninguém deverá fazer referência ao seu activismo político e as suas formas de expressão são clandestinas. Através destas estruturas organizacionais é possível participar no movimento estudantil, operário, camponês, popular? mas as FARC-EP construíram também as Milícias Bolivarianas que actuam nos campos, nos arredores e no interior das grandes cidades. As FARC-EP consideram que a revolução na Colômbia deve emergir sob a forma de insurreições urbanas, talvez semelhantes às que se desenvolveram no Nicarágua (lembremo-nos das batalhas de Managua, Masaya, Estelí, Léon, para citar apenas algumas), que na época foram acções de guerrilha e de insurreição popular combinadas que, no seu conjunto, fizeram cair a ditadura de Somoza. Nós estamos a fazer um esforço muito importante em direcção ao movimento sindical, estudantil, das classes médias urbanas, dos trabalhadores e trabalhadoras informais, ao movimento municipal, cooperativo, dos pais de família. Ou seja, nós estamos a tentar retornar tudo a formas de organização simples, a fim de favorecer, a partir de fora, a consciência política e prática da necessidade de mudança de que o país precisa, ainda mais agora que as consequências desastrosas das políticas neoliberais não só radicalizam as massas urbanas, como também, paradoxalmente, as aproximam e aliam nas lutas. Na Colômbia, as FARC-EP estão interessadas na construção de um novo governo de reconciliação e de reconstrução nacionais, abrangente e democrático, sem exclusões, no qual possam participar todos os sectores da vida política nacional que desejam retirar o país do abismo no qual ele se encontra, para o colocar em posição de enfrentar os desafios do século XXI, com muita esperança, optimismo e na vanguarda das nações democráticas e revolucionárias do mundo. Quais são para as FARC os movimentos sociais urbanos cujo desenvolvimento parece estrategicamente essencial para esse processo? Nas cidades, nós trabalhamos essencialmente na direcção dos sectores industriais. Trabalhamos igualmente no seio do movimento cooperativo, com colectivos de acção municipal nos bairros, com associações de economia informal, que se multiplicaram no decurso dos últimos anos, devido às políticas neoliberais. Damos também muita importância aos problemas das mulheres e da juventude em geral. Consequentemente, beneficiamos de uma representação em todos esses sectores. Agimos de modo consciencioso de modo a dotá-los de um carácter organizacional e de os orientar para a luta política. Ao mesmo tempo, este trabalho alimenta, pelas experiências e formas de confronto com a repressão, a nossa própria acção política. Ainda que as FARC tenham nascido como um movimento essencialmente camponês, e que essa base social se mantenha na sua composição actual, é igualmente verdade que existem outros sectores da sociedade que nos acompanham na luta. Entre as pessoas ligadas às FARC-EP, encontramos sectores das classes médias e profissionais, técnicos e superiores, mas também profissionais liberais, padres, pessoas do meio cultural e artístico popular em todas as suas expressões. É uma mudança que se operou no decurso destes últimos anos. Sublinhamos a participação das mulheres nas nossas fileiras, com uma representação de 43% das forças da guerrilha. Diz-se que as FARC-EP nem sempre se mostraram capazes de permitir, em concreto nas regiões sob o seu controlo, o desenvolvimento de uma sociedade civil organizada de maneira autónoma em função dos diferentes interesses que a permeiam (cooperativas, sindicatos, associações diversas, minorias indígenas, etc.). Será que essa atitude não revela um projecto de sociedade autoritária fundada exclusivamente nas capacidades e nas competências de uma espécie de partido-Estado? (Risos?) Não sei a que é que se refere nessa pergunta. E muito menos quando é que tivemos parte alguma do território nacional sob o nosso controlo. Isso nunca aconteceu. Na Colômbia, nós não conduzimos uma guerra de posição. Nós somos um exército de guerrilhas móveis. Quando estamos durante algum tempo em determinadas regiões, desenvolvemos a democracia directa de uma forma inédita noutras organizações apoiadas pelo Estado ou pelos partidos da oligarquia. Mais ainda, eu penso que as FARC-EP são muito mais democráticas que certos Estados ou democracias. Nós dispomos, enquanto órgão de decisão das FARC-EP, da conferência nacional dos guerrilheiros, que se reúne de quatro em quatro anos (ou um pouco mais, conforme o estado da guerra). Os postos de comando, sem excepção, são decididos através do voto dos guerrilheiros. Dito de outra forma, não existe nomeação por decreto. É através do voto popular, através do voto dos membros das FARC-EP, que se vive a democracia e que se regulam as questões de hierarquia no interior do movimento guerrilheiro, em colaboração com as comunidades. O caso mais significativo foi o de San Vicente del Caguán, no Centro Sul do país, durante o período de descomprometimento e de diálogo, entre 1999 e 2002. Instalámo-nos aí durante três anos e trabalhámos em conjunto com as comunidades no quadro de acções civis e militares. Juntos, população civil e guerrilheiros, construímos pontes, estradas, escolas, hospitais, caminhos municipais, e diversos rios, ribeiras e ribeirinhos altamente poluídos puderam ser reabilitados. Por outro lado, as FARC-EP emitiram regulamentos em matéria ecológica (caça, pesca, poda e exploração da madeira, protecção das árvores indígenas), e tudo isto se fez com a participação da comunidade. Por exemplo, para a construção de uma estrada, reuniram-se 100 a 200 colectivos de acção municipal de toda a região, e, através de votação popular, determinaram quem iria trabalhar, como, e com que apoios económicos e logísticos. Faziam-se as contas e apresentavam-se às massas para que elas pudessem analisar a finalidade de cada investimento. Isso é a democracia participativa e aberta, uma verdadeira democracia de massas como o país nunca conheceu. É a experiência que nós fizemos. O autoritarismo não faz parte dos princípios das FARC-EP. Certamente, nós defendemos princípios, e de acordo com esses princípios nós não cedemos. Nós temos a nossa própria visão daquilo que deve ser a democracia. A democracia deve ser aberta e o mais directa possível. Ou seja, uma democracia de massas que permita definir e debater grandes problemas. É muito simples: se numa comunidade existem 100 pessoas, por que razão é que só 10 deverão decidir? Para nós, são essas 100 pessoas que devem decidir. Fala-se de uma democracia representativa na Colômbia, porque existem eleições, mas na realidade, esses patifes que vão ao Senado ou à Câmara dos Representantes não são de modo algum representantes autênticos das comunidades. São pessoas que chegam lá através da sua riqueza, do clientelismo e das vigarices a que submetem o nosso povo. Consequentemente, como pode verificar, é importante clarificar de que tipo de democracia se está a falar, o que nós enquanto FARC-EP entendemos por democracia e o que vocês, na Europa, entendem por este termo. Eu considero que as FARC-EP são uma organização democrática que exerce a democracia nos domínios em que trabalha. Nós somos a favor da democracia directa a mais ampla e participativa possível. Uma democracia exercida para e por a maioria e não uma democracia de fachada, uma democracia para um grupo restrito de privilegiados. Esse tipo de "democracia" não nos agrada e nós não a iremos praticar. Disse-lhe que nas FARC-EP, nós preferimos organizar as massas em forma de colectivos variados que lhes permitam defender os seus interesses. Eis o segredo da sobrevivência das FARC-EP no coração de um conflito tão complexo como o da Colômbia. As FARC-EP são frequentemente criticadas, inclusive por forças da esquerda, pelo uso de métodos "expeditivos" no seu seio: é o caso das execuções dos desertores, do envio de militantes "desmoralizados" para cumprirem missões suicidas, da obrigatoriedade de as combatentes grávidas abortarem, etc. Não há dúvida que as FARC-EP estão envolvidas numa luta armada bastante dura, mas será que tais métodos ou práticas não põem em questão os direitos individuais dos combatentes ou a liberdade de discussão no seio da guerrilha, revelando assim uma forma de organização política demasiado vertical na tradição estalinista? A sua questão mostra que se sabe muito pouco sobre as FARC-EP e que ainda se sente o eco, talvez inconscientemente, da propaganda do regime (o regime oligárquico colombiano e o seu aliado, os Estados Unidos). É o inimigo que diz que nós estamos organizados de maneira vertical, que resolvemos os problemas de uma forma expeditiva, como evoca na sua questão. Nós utilizamos métodos políticos para resolver todos os problemas que surgem no interior das FARC-EP. Inicialmente, os novos combatentes seguem uma formação de seis meses, em que os documentos que se estudam são essencialmente os nossos estatutos, as normas de comando e o regime disciplinar. Se os aspirantes se deram conta que não podem, por razões físicas ou morais, pôr em prática essas normas, eles podem voltar para casa sem problemas, porque até esse momento, eles não conhecem mais nada nem ninguém, a não ser as pessoas que tal como eles frequentaram essa formação inicial clandestinamente. Quando se passa esse nível, uma pessoa assume um comprometimento, e quando integra as FARC-EP, sabe que é para a vida, ou seja, até ao triunfo da revolução e à construção de uma nova sociedade. Nós não dispomos de um serviço militar obrigatório, nem voluntário. A integração nas FARC-EP supõe um envolvimento completo na formação política e militar na base de uma adesão consciente. Não nos esqueçamos que se encontram pessoas capazes de manusear armas por todo o lado, mas pessoas que compreendam a política, a luta de classes e as transformações sociais, numa sociedade como a nossa, é bem mais difícil. Esse conjunto de capacidades, cujo desenvolvimento é do nosso interesse, necessita e exige uma formação permanente e a longo prazo. Consequentemente, isso não implica obrigatoriamente o uso do pelotão de execução ou a prática de execuções extrajudiciárias. Existem nos nossos estatutos muitas outras formas de sancionar as rupturas da disciplina da nossa organização. A execução está apenas prevista para os traidores e os infiltrados que trabalham conscientemente para o inimigo. É a medida mais grave que se aplica dentro das FARC-EP. Quaisquer outras situações que possam surgir resolvem-se através da crítica e da autocrítica com base nos princípios do marxismo-leninismo que são parte integrante da nossa concepção da revolução. O resto, tal como está contido na sua pergunta, revela uma campanha difamatória que tenta transformar as FARC num movimento sem disciplina, sem hierarquia, sem mandatos de comando reconhecidos. E nessas condições, uma organização militar não consegue subsistir. Há um adágio que diz: "sem disciplina, a milícia desaparece". Nesse sentido, é absurdo pensar-se que nós enviamos pessoas desmoralizadas, com problemas psíquicos, ou sem qualificações político-militares suficientes, para cumprir missões. Estamos em guerra! Quem poderia cometer tamanho erro? Na verdade, no interior das FARC-EP, a participação em missões constitui uma forma de reconhecimento do bom trabalho; é um encorajamento e uma honra para os combatentes. Nas FARC-EP, preconiza-se uma participação consciente, e por isso, o valor dos combatentes em condições de participar em cada uma das acções de guerra, ou nas missões especiais que as FARC-EP decidam empreender, é estudado previamente pelos comandantes. No que diz respeito às mulheres da guerrilha, tenho a dizer que elas são livres. Pela primeira vez, uma organização de esquerda e um movimento revolucionário encara a mulher como uma pessoa absolutamente livre e igual ao homem, que assume as mesmas responsabilidades, as mesmas tarefas e os mesmos direitos. Após a época do matriarcado, a guerrilha é hoje, sem dúvida, o lugar onde a mulher começa a cumprir o papel que ela perdeu historicamente, o que foi a maior derrota que o género feminino sofreu na história da humanidade. Quanto ao problema da gravidez nas FARC-EP, as guerrilheiras sabem antecipadamente que no contexto de guerra em que estão a viver não podem engravidar. Por isso, no interior da nossa organização, pusemos em prática um trabalho educativo de difusão de informação e de prevenção para que as mulheres conheçam bem os mecanismos da procriação, bem como as formas de evitar a gravidez e/ou as doenças sexualmente transmissíveis. Por vezes, por erro ou acidente, acontecem casos involuntários de gravidez, e tendo em conta as normas e as condições objectivas de vida num ambiente de combate, a gravidez é interrompida, geralmente, a pedido da própria combatente. Nesses casos, a interrupção é efectuada em condições higiénicas de assepsia, com o acompanhamento de médicos qualificados, e tomando medidas para evitar riscos de vida. Em muitos países, a interrupção da gravidez está legalizada e faz parte de certas constituições no mundo, contudo sempre nos diabolizaram e acusaram de arbitrariedade nestas questões. Não haverá aqui uma moral dupla? Saiba que para as FARC-EP, os valores familiares (tão importantes para a sociedade colombiana) constituem um dos fundamentos para a concepção da nova sociedade que nós queremos construir. Mas estamos a viver uma etapa que não facilita o desenvolvimento dessa parte importante da vida. Penso que é revelador, apesar de toda essa propaganda contra a nossa organização, o facto de a presença feminina nas fileiras das FARC-EP ser actualmente da ordem dos 43%. As guerrilheiras das FARC são verdadeiras amazonas na guerra, ou como diria Simon Bolívar referindo-se a essas valorosas guerreiras romanas, elas são verdadeiras "luzes". Fora do contexto de guerra, as nossas camaradas mulheres têm um comportamento muito feminino. No combate, elas são tão aguerridas como os homens. Elas dão-nos lições de honestidade, de abnegação, de sacrifício, de fraternidade e de heroísmo? como poderíamos nós maltratar essas camaradas que são parte fundamental da luta pelo triunfo da revolução?... Quem é o responsável pela morte dos onze deputados colombianos detidos pelas FARC? Como é que é possível que esses onze reféns tenham sido encontrados juntos no mesmo lugar? Acha que se trata de uma operação deliberada do Estado colombiano para lançar uma vasta campanha política contra a guerrilha das FARC? Há já algum tempo que as FARC-EP alertavam a opinião pública nacional e internacional do facto de as operações de resgate de prisioneiros pelo exército serem demasiadamente arriscadas para a vida dos reféns detidos. É por essa razão que as FARC-EP disseram que a responsabilidade pela morte dos onze deputados do Valle del Cauca, no dia 18 de Junho de 2007, incumbia essencialmente aos que deram a ordem e os tentaram libertar pela força. O primeiro responsável é o senhor Uribe. Explicar-lhe por que é que eles estavam juntos seria entregar-me a especulações, porque eu lembro-me que nessa data, eu tinha acabado de deixar a prisão de La Dorada. No entanto, parece-me indiscutível que se tratou de um plano minuciosamente preparado tanto a nível político como militar e de propaganda. O governo de Uribe iniciou o seu plano falando da possibilidade de libertar um determinado número de prisioneiros das FARC-EP, em relação aos quais ninguém havia pedido nada. Tentámos sempre obter uma troca humanitária de prisioneiros bilateral FARC-EP/governo. De repente, Uribe solta, de modo totalmente unilateral, determinados combatentes das FARC-EP. Essa acção, no meu entender, estava ligada à preparação secreta de uma outra acção de maior envergadura nas montanhas colombianas. Tratava-se precisamente do resgate dos doze deputados, agentes da CIA, mercenários ingleses e israelitas e de comandos do exército colombiano. O projecto era este : enquanto esse grupo aparecia como tendo libertado com sucesso os doze deputados, Uribe voltava a deter os prisioneiros libertados e daria início a um trabalho político no interior e exterior do país, com o intuito de demonstrar que as intervenções directas seriam doravante o meio mais indicado para se obter a libertação das pessoas controladas pelas FARC-EP, acabando assim com qualquer esperança de trocas humanitárias e de qualquer possibilidade de diálogo. O resultado dessa operação e de outras operações de libertação análogas, do tipo "Embaixada de Lima" ou "Operação Entebbe" não podem acabar bem nas florestas colombianas. O que se impõe inexoravelmente na Colômbia é a troca humanitária entre o governo e as FARC-EP, como preâmbulo a uma possibilidade de diálogo que abra a via para a paz e a justiça social. Esperamos que os leitores e as leitoras, a comunidade internacional, os Estados, os governos, os partidos, as organizações sociais, religiosas, humanistas e de esquerda possam contribuir para essa demanda, para a possibilidade real de uma troca humanitária, do estabelecimento de um diálogo que crie saídas para o conflito social e armado que estamos a viver na Colômbia. [*] Da publicação suíça solidaritéS. Acerca de Rodrigo Granda ver também: As FARC reafirmam a opção comunista e respondem a campanhas difamatórias , Miguel Urbano Rodrigues, 23/Abr/2004 Ricardo, estamos contigo! , Miguel Urbano Rodrigues, 20/Nov/2004 Carta aberta de intelectuais à opinião pública internacional , 17/Jan/2005 Sequestro de Rodrigo Granda: "A ditadura fascista de Pinochet fez exactamente o mesmo aos seus opositores políticos" , Dick Emanuelson, 26/Jan/2005 Droga, indigenismo, ALCA , Miguel Urbano Rodrigues, 23/Abr/2005 Democracia, participação, revolução ? três vértices de um triângulo , Miguel Urbano Rodrigues, 29/Ago/2005 O julgamento farsa de um revolucionário: Audiências virtuais através de câmaras de TV, na cela da prisão , entrevista de Rodrigo Granda, 04/Abr/2006 Declaração final do 1º encontro nacional de solidariedade com as lutas do povo colombiano , MMSLPC, 17/Mar/07 Nem é acordo nem é humanitário , Athemay Sterling, 03/Jun/07 A troca é produto de acordos , Secretariado do Estado Maior Central das FARC-EP, 22/Jun/2007 O encontro de Hato Grande , Iván Márquez, 08/Set/07 O original encontra-se em www.solidarites.ch/journal/index.php3?action=2&id=3052&num=113&db_version=2 . Tradução de Rita Maia. Esta entrevista encontra-se em http://resistir.info/
  8. Entrevista com Rodrigo Granda, membro das FARC-EP Por Jornal suiço Solidarité 05/10/2007 às 19:46 Em Havana, no passado dia 24 de Julho, o nosso jornal conseguiu uma entrevista exclusiva com Rodrigo Granda, membro da Comissão Internacional das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia ? Exército do Povo (FARC-EP), sequestrado na Venezuela pela polícia secreta colombiana, encarcerado, e finalmente libertado a pedido de Nicolas Sarkozy. Ele permite-nos compreender melhor as posições desse movimento político-militar que há 43 anos combate o regime da oligarquia colombiana, sustentada pelos Estados Unidos. As FARC consideram-se um movimento político-militar que lidera uma guerra social insurrecta contra o Estado colombiano. Nessa qualidade, as FARC capturam polícias, soldados, oficiais e mercenários. As FARC decidiram também sequestrar personalidades civis representantes do aparelho de Estado colombiano. Finalmente, acabaram por raptar também civis cuja libertação foi condicionada ao pagamento de um resgate. Se ninguém pode contestar que um exército aprisione combatentes adversos, como é que as FARC podem justificar o encarceramento de civis? Não pensam que essas acções tendem a isolar largos sectores da opinião pública colombiana opositora do governo? Efectivamente, as FARC-EP são um movimento político-militar que têm o justo direito de rebelião contra um Estado que pratica uma democracia de fachada. Nós respondemos a uma guerra que nos foi imposta pelas altas esferas do poder colombiano. Durante décadas, o terrorismo de Estado foi utilizado como método de extermínio contra nós e contra o nosso povo. Desde logo, toda a gente o sabe, uma guerra desse tipo necessita de financiamento. Este conflito foi-nos imposto pelos ricos da Colômbia: então eles têm de financiar essa guerra que eles mesmos desencadearam. É por essa razão que as FARC capturam pessoas, e as libertam em troca de uma soma de dinheiro, que é, na verdade, um imposto. Esse dinheiro destina-se ao financiamento do aparelho de guerra do povo. Como deve saber, nós falamos sobre a construção de um novo poder e de um novo Estado. Na Suíça, na França, ou nos Estados Unidos, se alguém não pagar os impostos vai para a prisão necessariamente. O novo Estado que nós estamos em vias de constituir decidiu que deve haver um imposto pela paz. Isso significa que toda a pessoa física ou moral, bem como empresas estrangeiras estabelecidas na Colômbia e que facturam valores superiores a um milhão de dólares por ano, devem responsabilizar-se por um imposto para a paz que represente 10% dos seus lucros. Os devedores são informados que devem entrar em conversações com os responsáveis financeiros das FARC e entregar essa soma. Se essas pessoas não o fizerem, são detidas e presas até que tenham efectuado o pagamento, com o qual nós assumimos os encargos do novo Estado, construído e dirigido pelas FARC, agindo como o exército do povo. Evidentemente, durante as operações militares, as FARC capturam oficiais, sub oficiais, polícias e soldados ? actualmente detidos como prisioneiros de guerra. Nestes confrontos, o inimigo também faz prisioneiros do nosso lado que, após julgamentos sumários e falsos, cumprem penas demasiado pesadas nas diferentes prisões do país. Infelizmente, isso é normal no contexto da guerra. Seja como for, num conflito tão agudo como é o da Colômbia, é possível que certas detenções de civis não sejam bem aceites pela população de modo geral. No entanto, consideramos que tendo sido publicada a lei 002, segundo a qual determinadas pessoas e entidades economicamente poderosas devem pagar o imposto para a paz, isso significa que as avisámos devidamente e que elas podem entrar em conversações para regularizar a sua situação nos prazos acordados. Se conseguirmos isso, as detenções diminuirão. Quanto ao facto de essa situação nos afastar da população civil, até pode acontecer, mas não será com certeza determinante, porque a larga maioria da população colombiana sabe perfeitamente que as FARC-EP apenas detêm pessoas economicamente favorecidas e que podem pagar. Não se detêm pessoas ao acaso. No que toca aos prisioneiros de guerra, guardamo-los com vista a uma futura troca humanitária, que esperamos que se realize brevemente. Temos sempre em conta o facto que, na Colômbia, a justiça e os juízes especiais impõem penas fortes, a numerosos guerrilheiros e guerrilheiras detidos ? que tiveram a sorte de não terem sido assassinados aquando da sua captura ?, que equivalem praticamente a penas perpétuas. Porque no nosso país a justiça é uma justiça de classe e aplica-se como tal: os que usam do justo direito à rebelião são condenados como "terroristas" ou "autores de sequestro": as sentenças contra os revolucionários oscilam entre os 40 e 80 anos de prisão. Assim, o imposto é uma necessidade ditada pela situação actual de guerra que a Colômbia está a viver. Nós queríamos não ter de deter ninguém, nem civis ? mesmo os provenientes dos píncaros da oligarquia ?, nem militares? mas o confronto quotidiano no nosso país impõe que as coisas se passem dessa maneira, e não como nós desejaríamos. O financiamento da luta armada depende em larga medida do imposto revolucionário que incide sobre a cultura da folha de coca e sobre a produção de pasta de base, e em certa medida também dos raptos com pedido de resgate. Se um processo de paz se iniciasse, a guerrilha poderia sobreviver sem essas fontes de financiamento sem pôr em perigo a sua autonomia política e organizacional? Por outras palavras, não existe no interior do vosso movimento forças que tendem a defender o statu quo por temerem que a desmobilização possa privar as FARC de fontes de rendimentos decisivos, e que isso conduza à sua marginalização? Em primeiro lugar, devo dizer que as FARC-EP sempre foram um movimento autárcico, ou seja, que sempre viveram dos seus próprios recursos e que nunca dependeram ? nem antes nem agora ? e nunca dependerão de qualquer financiamento estrangeiro. Enquanto FARC-EP, nós conseguimos desenvolver inicialmente uma economia de subsistência antes de desenvolver factores de produção que permitem a manutenção do nosso movimento. As FARC-EP já existiam na Colômbia muito antes do desenvolvimento do narcotráfico ou da implementação de uma política logística de captura sistemática de pessoas, que são coisas conjunturais. Com o passar do tempo, as FARC-EP diversificaram o seu financiamento graças a investimentos de ordem vária: nas operações financeiras no interior e exterior do país, na produção agrícola, na criação de gado, nas minas, nos transportes e em muitos outros sectores produtivos. É inegável que a Colômbia foi transfigurada por políticas neoliberais impostas pelo terror, que destruíram os campos, num país produtor de folhas de coca para a elaboração de cocaína, o que obrigou milhares e milhares de famílias de camponeses pobres a tirar o seu sustento dessa economia para não morrer à fome, face à destruição das suas culturas tradicionais de café, milho, bananas, sorgo, algodão, etc. As FARC-EP são um movimento principalmente rural e nós estamos em contacto directo com essa realidade, mas nós não temos meios para obrigar as pessoas a abandonar essas plantações ditas ilícitas sem lhes dar uma alternativa. Por ocasião do diálogo de el Caguán (1999-2002), o governo de Pastraña, por iniciativa da nossa organização de guerrilha, organizou a primeira conferência pública internacional para a substituição das culturas ditas "ilícitas" e a protecção do ambiente. A União Europeia, o Japão, o Canadá, bem como a ONU, o Grupo dos países amigos do processo de paz na Colômbia e os países orientadores desse diálogo [entre eles a Suíça] participaram nesses encontros. Os Estados Unidos foram convidados, mas declinaram o convite. Nessa altura, as FARC apresentaram um projecto viável para a erradicação das plantações de folhas de coca nos municípios de Cartagena del Chairá e do Caquetá, que dedicavam cerca de 8000 hectares a essa cultura. Teríamos gostado que a comunidade internacional se empenhasse a favor de uma alternativa à repressão e que fossem feitos investimentos sociais nessa região para o desenvolvimento de um "laboratório experimental" dedicado à procura de soluções para a supressão dessas culturas, e que poderiam também ser aplicadas noutras zonas do país, e se possível do continente: no Equador, no Peru, na Bolívia. Esta é uma proposta que será sempre válida. Acreditamos também que a legalização da droga contribuiria para a resolução do problema. Economistas como Friedman e uma revista tão prestigiada como The Economist reconhecem isso. Existem razões para isso: como se trata de um tipo de comércio clandestino, a rotação do capital é impressionante. Actualmente, calcula-se que o produto mundial do narcotráfico represente 680 biliões de dólares e não há crime que não se cometa para se ter essa enorme quantidade de dinheiro. Trata-se logo à partida de um problema económico, depois político, e finalmente ético, mas se os lucros gigantescos desaparecessem, a incitação fundamental que são os ganhos sobre os investimentos desaparecia e os Estados poderiam controlar esse mercado. Algo parecido com o que aconteceu com o fim da proibição nos Estados Unidos, apesar das diferenças de proporção, na época de Al Capone e Cie, nos anos 20. Deverá ser claro ? e nós demonstrámo-lo perante a nossa nação e a comunidade internacional ? que as FARC-EP não são, de maneira nenhuma, narcotraficantes, nem estão implicadas na produção, nem no transporte, nem na comercialização, nem na exportação de narcóticos. Pelo contrário, nós estamos dispostos a trabalhar com a comunidade internacional e mesmo com o governo dos Estados Unidos na resolução deste grave problema. A nossa organização impôs a colecta de um imposto junto dos compradores de pasta de coca que penetram nas zonas onde existem estas culturas e onde nós estamos presentes; e este imposto representa uma forma de controlo relativamente aos abusos cometidos contra os camponeses cultivadores. Mas não exercemos funções de polícia. Compete ao Estado colombiano controlar essas zonas, e até agora ele tem sido incapaz de o fazer, apesar dos milhares de milhões de dólares investidos pelo governo dos Estados Unidos para acabar com este tráfico que afecta o mundo. Além disso, é de notar que as receitas geradas por esse imposto representam uma fracção ínfima dos custos do aparelho militar das FARC-EP. O que ganhamos com a detenção de pessoas ajuda à manutenção económica das FARC, mas não é um produto decisivo. O objectivo último das FARC-EP não é o "conforto" do seu pessoal dirigente, da sua hierarquia ou dos seus combatentes. Para nós, o dinheiro é um meio, algo que pode contribuir para a concretização da finalidade política e estratégica das FARC-EP, que visa a tomada do poder para efectuar mudanças políticas, económicas, sociais, ecológicas e outras, das quais o país tem necessidade e que reclama. O financiamento é, nesse sentido, um meio para atingir esses fins. Ninguém nas FARC-EP aspira a ser multimilionário; essa é uma das grandes diferenças entre nós e os narcotraficantes e os paramilitares que procuram enriquecer pessoalmente e "levar uma vida à grande". Enfim, as FARC-EP não fazem a guerra por gosto. Nós já dissemos que se o quadro político mudar e as condições para a prática de uma política abrangente, legal, sem receio de represálias ou de assassinatos, existirem, se a via aberta for para uma democracia real, nós poderemos pensar em mudar a forma actual de confronto militar para responder a essa nova situação. Durante todo o mandato presidencial de Uribe, e muito antes, as FARC-EP tiveram de se constituir como uma oposição política e militar ao regime, porque não existia outra forma de expressar o nosso pensamento. A burguesia colombiana é uma burguesia sanguinária, retrógrada, que apenas compreende a linguagem das armas. Se não tivéssemos respondido à agressão, já nos teriam marcado com um ferro em brasa, e estaríamos acorrentados como na época da escravatura? As recentes mobilizações em massa contra a violência e os sequestros fizeram com que a responsabilidade recaísse sobre o governo bem como sobre os insurgidos. Será que essas mobilizações não representam uma reviravolta para a esquerda, na medida em que Álvaro Uribe soube tirar partido delas para desviar a atenção do público da sua implicação nos escândalos da parapolítica? Como acaba de dizer, essas mobilizações significam uma rejeição da violência, e mais particularmente da violência oficial e paramilitar. O povo colombiano está certamente cansado do confronto militar, mas que povo não estaria depois de 40 anos de guerra imposta pelo regime estabelecido? Álvaro Uribe tentou capitalizar um movimento no qual participaram sectores populares muito próximos das FARC-EP, e até membros da nossa organização. Nessas mobilizações podia-se ver cartazes exigindo a troca humanitária de prisioneiros, a procura de diálogo para uma abertura política ao conflito social e armado que o país vive. Se analisar os boletins de imprensa, da rádio e da televisão, constatará que a maior parte dos editorialistas do país criticaram o oportunismo político do governo. Além disso, convém lembrar que na cidade de Cali se deu um confronto público entre o Ministro do Interior e um dos parentes dos 11 deputados mortos durante a tentativa falhada de salvamento militar, ordenada pelo governo, no dia 18 de Junho de 2007. Não é certo que o presidente Uribe tenha capitalizado essas mobilizações. Pelo contrário, as últimas sondagens de opinião efectuadas após esse acontecimento mostram que a imagem de Uribe está gasta e "em queda livre", pela primeira vez depois da sua ascensão à presidência. Quanto ao problema da parapolítica, ele foi denunciado há mais de vinte anos pelo jornal Voz, órgão do Partido Comunista da Colômbia, pelas FARC-EP e pelos democratas de todo o país. No entanto, o Estado colombiano ignorou sempre essas denúncias. Há um ano e meio, tive ocasião de falar ? na prisão de alta segurança de Combita, onde estive detido ? com o responsável pela paz do governo Uribe, o doutor Luís Carlos Restrepo. Durante essa conversa, abordámos diversos temas: entre outras coisas, consegui demonstrar-lhe que a política de "segurança democrática" imposta pelo Presidente e o Plano Colômbia tinham falhado. E ele respondeu-me: "escute senhor Granda, o Estado colombiano combateu-vos certamente com métodos não-ortodoxos?" Esses métodos de que falava Restrepo são precisamente a parapolítica e o paramilitarismo, porque esse modo de fazer foi friamente calculado pela Colômbia. É uma das formas de expressão do fascismo, graças às quais os monopólios financeiros, o sector industrial e os grandes proprietários rurais beneficiaram da recomposição económica do país, provocada pela globalização e as privatizações que a acompanham. Os negócios e os lucros obtidos por esses sectores foram extraordinários. O que resta para privatizar neste momento é reduzido, o que nos diz que o período de implementação mais brutal do projecto neoliberal na Colômbia já está, em certa medida, atrás de nós, pois não resta nenhuma empresa pública de importância para vender às transnacionais. É por essa razão que eles tentam agora desmontar esses aparelhos de morte que eles tinham posto a funcionar como apoio militar ao projecto fascizante de imposição do neoliberalismo. Nesse sentido, podíamos fazer uma comparação como o Chile do general Pinochet. Lembre-se que as políticas neoliberais começaram a ser impostas no continente depois do golpe de Estado de 1973 no Chile. Esse golpe de Estado liquidou praticamente a resistência popular da classe trabalhadora, das classes médias e camponesas; impôs a disciplina social dos monopólios, ou seja, do fascismo ao serviço do neoliberalismo, que utilizou o terror na nossa América para impor o seu projecto económico e a sua ideologia política. Actualmente, na Colômbia, o "establishment" está abalado, porque as instituições e os homens que o compõem estão implicados na crise à qual eles conduziram a nação. A Colômbia é um dos países com o mais alto nível de corrupção à escala mundial. Dir-se-ia que as instituições colombianas foram criadas para proteger todas as formas de corrupção. É por essa razão que o "establishment", para impor as suas políticas neoliberais, jogou borda fora todo o sentido ético em política, e agora recebe e paga a factura do seu "casamento" com o narco-paramilitarismo criado para eliminar a esquerda revolucionária, não importa a que preço. Esse modelo e esse projecto fascistas para a Colômbia falharam. Quando a maré de denúncias deflagra, o presidente tenta evidentemente evitar todo o debate público e transmite ecrãs de fumaça: a reeleição, o referendo, a copa do mundo de futebol, etc., a fim de distrair a opinião pública nacional. Mas os escândalos e a corrupção reinante na Colômbia são de tal amplitude que esses espectáculos publicitários não conseguirão desviar a atenção do aspecto fundamental: a corrupção imposta pela máfia, o paramilitarismo e o narcotráfico ? que são a mesma coisa ? a favor de um governo mafioso que pratica uma narco-democracia. O Exército de Libertação Nacional (ELN) decidiu recentemente depor as armas. Em que medida é que essa decisão enfraquece a luta armada das FARC, visto que doravante o Estado colombiano, o paramilitarismo e os Estados Unidos poderão concentrar todos os esforços para vos combater? É necessário relativizar a luta contra-insurrecta que nós vivemos hoje, da parte do governo colombiano e dos Estados Unidos. Praticamente desde o início do Plano Colômbia, as FARC-EP resistiram sozinhas a essas operações. É inegável que o Estado colombiano nunca combateu militarmente o paramilitarismo. As operações militares nas zonas onde operavam os camaradas do ELN foram mínimas; numa certa medida, a responsabilidade e o peso fundamental das operações levadas a cabo pelo exército colombiano e os gringos foram suportadas pela nossa organização. Deverá lembrar-se que neste momento, a Colômbia é o terceiro país beneficiário da ajuda militar norte-americana, a seguir a Israel e ao Egipto. Na primeira etapa do Plano Colômbia, os Estados Unidos investiram 7500 milhões de dólares e o Estado colombiano impôs um imposto de guerra de 12% (que aumentou este ano mais 8%). Mesmo assim, todas as operações do Plano Colômbia e aquelas que se seguiram falharam face à resistência e à contra-ofensiva das FARC-EP. Logo, é bastante relativo pensar que o inimigo nos possa desorientar, ainda que gaste todas as baterias contra nós. A nossa história demonstra isso desde a época em que nascemos, em Marquetalia, em 1964: note-se que 16 mil militares foram destacados para essa região contra o grupo fundador das FARC, formado por quarenta e seis homens e duas mulheres de origem camponesa. Nessa altura não existia nenhum outro movimento insurgido dentro do país. O peso dessa ofensiva contra as zonas de autodefesa camponesa ? denominada "Operação LASSO" ? recaiu naturalmente sobre as FARC-EP. Acreditamos que nesse novo período de tempo, foi atingido um limite nas acções militares das tropas gringas, mercenárias e do exército colombiano. Actualmente fala-se do seu declínio. Nas altas esferas do governo colombiano e nos corredores do Pentágono, fala-se no fracasso sonante do Plano Colômbia, do Plano Patriota, do Plano Consolidação e do "Plano Victoria" (2002-2007). Os gringos e o Estado colombiano não conseguem uma vitória militar sobre um movimento armado que, como o nosso, conduz uma luta há quarenta e três anos, e que dispõe de uma larga experiência, tanto ao nível dos seus comandantes como dos seus combatentes. Trata-se de uma experiência quase única na América latina e no mundo. Pode constatar que neste momento, não existe nenhum grande plano ou "operação militar" no hemisfério ocidental com a envergadura e as características das operações conduzidas no Centro e no Sul da Colômbia, e praticamente em todo o território nacional. Verdadeiramente, nós tivemos de enfrentar uma guerra sozinhos. Antes, existia o "campo socialista", a solidariedade internacional, e tivemos de "dançar com a mais feia" (utilizando aqui uma expressão popular colombiana um pouco machista), mas reparámos que sozinhos também poderíamos confrontar e vencer o inimigo. Para nós, trata-se de uma obrigação e de um contributo solidário para os povos oprimidos do mundo. A combinação de todas as formas de luta de massas irá assegurar-nos a vitória num futuro próximo. Não resta nenhuma outra alternativa ao Estado colombiano senão a de aceitar a sua incapacidade de desencaminhar os insurgidos, bem como o fracasso do seu projecto fascista, que utilizou o terror de Estado como arma fundamental, e a de procurar um acordo connosco para que possamos conversar e encontrar uma resposta política negociada para o longo conflito social e armado que o nosso país vive. Quanto ao desarmamento do ELN, estou a agora a sabê-lo? Sei que o ELN não depôs as armas. Além disso, não me quero pronunciar sobre as decisões do ELN. É uma organização soberana, uma organização de guerrilha que combate há anos e que, pelo que sei, nunca, até ao presente, entregou um único cartucho. As FARC nasceram de um movimento de camponeses pobres que constitui desde sempre o núcleo da sua base social. Desde então, será que as FARC foram capazes de repensar a sua reorientação estratégica à luz da urbanização extremamente rápida da Colômbia? Por outras palavras, como é que as FARC se dirigem às massas urbanas empobrecidas que sofrem os ataques constantes dos paramilitares, e a repressão exercida pelo Estado colombiano? Dizia-lhe há pouco que as FARC-EP são uma organização político-militar. A luta conduzida pelas FARC-EP não é um confronto de aparelhos, ou seja, do aparelho militar do Estado colombiano e do aparelho militar propriamente dito das FARC-EP? De um modo geral, se se analisar a evolução do comportamento dos Estados burgueses, verifica-se que estes têm diversas maneiras de pôr em marcha o que eles chamam de "democracia representativa", e que eles combinam todas as formas de luta para explorar os povos. Os gringos chamam isso de "cenoura e pau", e que praticam-no da seguinte forma: se eles consideram que as massas são dóceis, deixam que se desenvolva certas formas limitadas de democracia durante algum tempo; se consideram que as massas se radicalizaram, eles mandam as tropas para as ruas e exercem a repressão. Mas se eles notam que as massas ainda se radicalizam mais, recorrem ao terrorismo de Estado e praticam o genocídio dos seus opositores e o extermínio das organizações de massas. É o terror ao nível mais assustador que todos os países da nossa América conheceram no passado recente e que ainda perdura na Colômbia. Deste ponto de vista, é legítimo que os movimentos revolucionários da Colômbia e do mundo empreguem todas as formas de luta em massa para obterem as mudanças revolucionárias de que a sociedade tem necessidade em determinado momento do seu desenvolvimento. Nós não decretámos a luta armada. Aliás, ela não o pode ser, muito menos pela vontade deste ou daquele partido. A luta armada nasce da necessidade imperiosa de defender os interesses de classe num dado momento, quando os Estados burgueses fecham toda a possibilidade de democracia e de expressão de que as massas poderiam beneficiar. Na Colômbia, infelizmente, a história confirma o que acabo de afirmar: as FARC-EP, em busca de uma reconciliação nacional em 1982, entraram em diálogo com o presidente da época, Belisario Betancourt. Chegámos a assinar os acordos de La Uribe. Como corolário desses acordos foi fundado o vasto movimento chamado União Patriótica (UP). Quando esse movimento surgiu na vida política nacional beneficiou de um sentimento de simpatia por parte dos habitantes do campo e das cidades, das classes médias, dos estudantes, etc. Dito de outra forma, era um movimento que reunia sectores muito diversos. Assim que este se começou a desenvolver, a burguesia entrou e pânico e encetou um extermínio planificado e sistemático: em primeiro lugar dos seus dirigentes e de seguida dos seus militantes. Tudo isso conduziu ao genocídio político mais aberrante que a América latina já conheceu. Com essa experiência, votada ao fracasso pelo terrorismo de Estado, as FARC-EP aprenderam muito, e não estão dispostas a repetir a mesma história. Nós contribuímos com um esforço importante na criação de movimentos e organizações populares e políticas a nível nacional. Fizemos um esforço considerável para a construção do Partido Comunista clandestino da Colômbia, que tem de ser clandestino porque já tivemos a experiência de cinco mil mortes com a UP. Nós construímos também o Movimento Bolivariano para uma nova Colômbia, no qual todos e todas podem participar. Este movimento não tem estatutos, as pessoas podem-se reunir em pequenos grupos para evitar os golpes do inimigo; ninguém deverá fazer referência ao seu activismo político e as suas formas de expressão são clandestinas. Através destas estruturas organizacionais é possível participar no movimento estudantil, operário, camponês, popular? mas as FARC-EP construíram também as Milícias Bolivarianas que actuam nos campos, nos arredores e no interior das grandes cidades. As FARC-EP consideram que a revolução na Colômbia deve emergir sob a forma de insurreições urbanas, talvez semelhantes às que se desenvolveram no Nicarágua (lembremo-nos das batalhas de Managua, Masaya, Estelí, Léon, para citar apenas algumas), que na época foram acções de guerrilha e de insurreição popular combinadas que, no seu conjunto, fizeram cair a ditadura de Somoza. Nós estamos a fazer um esforço muito importante em direcção ao movimento sindical, estudantil, das classes médias urbanas, dos trabalhadores e trabalhadoras informais, ao movimento municipal, cooperativo, dos pais de família. Ou seja, nós estamos a tentar retornar tudo a formas de organização simples, a fim de favorecer, a partir de fora, a consciência política e prática da necessidade de mudança de que o país precisa, ainda mais agora que as consequências desastrosas das políticas neoliberais não só radicalizam as massas urbanas, como também, paradoxalmente, as aproximam e aliam nas lutas. Na Colômbia, as FARC-EP estão interessadas na construção de um novo governo de reconciliação e de reconstrução nacionais, abrangente e democrático, sem exclusões, no qual possam participar todos os sectores da vida política nacional que desejam retirar o país do abismo no qual ele se encontra, para o colocar em posição de enfrentar os desafios do século XXI, com muita esperança, optimismo e na vanguarda das nações democráticas e revolucionárias do mundo. Quais são para as FARC os movimentos sociais urbanos cujo desenvolvimento parece estrategicamente essencial para esse processo? Nas cidades, nós trabalhamos essencialmente na direcção dos sectores industriais. Trabalhamos igualmente no seio do movimento cooperativo, com colectivos de acção municipal nos bairros, com associações de economia informal, que se multiplicaram no decurso dos últimos anos, devido às políticas neoliberais. Damos também muita importância aos problemas das mulheres e da juventude em geral. Consequentemente, beneficiamos de uma representação em todos esses sectores. Agimos de modo consciencioso de modo a dotá-los de um carácter organizacional e de os orientar para a luta política. Ao mesmo tempo, este trabalho alimenta, pelas experiências e formas de confronto com a repressão, a nossa própria acção política. Ainda que as FARC tenham nascido como um movimento essencialmente camponês, e que essa base social se mantenha na sua composição actual, é igualmente verdade que existem outros sectores da sociedade que nos acompanham na luta. Entre as pessoas ligadas às FARC-EP, encontramos sectores das classes médias e profissionais, técnicos e superiores, mas também profissionais liberais, padres, pessoas do meio cultural e artístico popular em todas as suas expressões. É uma mudança que se operou no decurso destes últimos anos. Sublinhamos a participação das mulheres nas nossas fileiras, com uma representação de 43% das forças da guerrilha. Diz-se que as FARC-EP nem sempre se mostraram capazes de permitir, em concreto nas regiões sob o seu controlo, o desenvolvimento de uma sociedade civil organizada de maneira autónoma em função dos diferentes interesses que a permeiam (cooperativas, sindicatos, associações diversas, minorias indígenas, etc.). Será que essa atitude não revela um projecto de sociedade autoritária fundada exclusivamente nas capacidades e nas competências de uma espécie de partido-Estado? (Risos?) Não sei a que é que se refere nessa pergunta. E muito menos quando é que tivemos parte alguma do território nacional sob o nosso controlo. Isso nunca aconteceu. Na Colômbia, nós não conduzimos uma guerra de posição. Nós somos um exército de guerrilhas móveis. Quando estamos durante algum tempo em determinadas regiões, desenvolvemos a democracia directa de uma forma inédita noutras organizações apoiadas pelo Estado ou pelos partidos da oligarquia. Mais ainda, eu penso que as FARC-EP são muito mais democráticas que certos Estados ou democracias. Nós dispomos, enquanto órgão de decisão das FARC-EP, da conferência nacional dos guerrilheiros, que se reúne de quatro em quatro anos (ou um pouco mais, conforme o estado da guerra). Os postos de comando, sem excepção, são decididos através do voto dos guerrilheiros. Dito de outra forma, não existe nomeação por decreto. É através do voto popular, através do voto dos membros das FARC-EP, que se vive a democracia e que se regulam as questões de hierarquia no interior do movimento guerrilheiro, em colaboração com as comunidades. O caso mais significativo foi o de San Vicente del Caguán, no Centro Sul do país, durante o período de descomprometimento e de diálogo, entre 1999 e 2002. Instalámo-nos aí durante três anos e trabalhámos em conjunto com as comunidades no quadro de acções civis e militares. Juntos, população civil e guerrilheiros, construímos pontes, estradas, escolas, hospitais, caminhos municipais, e diversos rios, ribeiras e ribeirinhos altamente poluídos puderam ser reabilitados. Por outro lado, as FARC-EP emitiram regulamentos em matéria ecológica (caça, pesca, poda e exploração da madeira, protecção das árvores indígenas), e tudo isto se fez com a participação da comunidade. Por exemplo, para a construção de uma estrada, reuniram-se 100 a 200 colectivos de acção municipal de toda a região, e, através de votação popular, determinaram quem iria trabalhar, como, e com que apoios económicos e logísticos. Faziam-se as contas e apresentavam-se às massas para que elas pudessem analisar a finalidade de cada investimento. Isso é a democracia participativa e aberta, uma verdadeira democracia de massas como o país nunca conheceu. É a experiência que nós fizemos. O autoritarismo não faz parte dos princípios das FARC-EP. Certamente, nós defendemos princípios, e de acordo com esses princípios nós não cedemos. Nós temos a nossa própria visão daquilo que deve ser a democracia. A democracia deve ser aberta e o mais directa possível. Ou seja, uma democracia de massas que permita definir e debater grandes problemas. É muito simples: se numa comunidade existem 100 pessoas, por que razão é que só 10 deverão decidir? Para nós, são essas 100 pessoas que devem decidir. Fala-se de uma democracia representativa na Colômbia, porque existem eleições, mas na realidade, esses patifes que vão ao Senado ou à Câmara dos Representantes não são de modo algum representantes autênticos das comunidades. São pessoas que chegam lá através da sua riqueza, do clientelismo e das vigarices a que submetem o nosso povo. Consequentemente, como pode verificar, é importante clarificar de que tipo de democracia se está a falar, o que nós enquanto FARC-EP entendemos por democracia e o que vocês, na Europa, entendem por este termo. Eu considero que as FARC-EP são uma organização democrática que exerce a democracia nos domínios em que trabalha. Nós somos a favor da democracia directa a mais ampla e participativa possível. Uma democracia exercida para e por a maioria e não uma democracia de fachada, uma democracia para um grupo restrito de privilegiados. Esse tipo de "democracia" não nos agrada e nós não a iremos praticar. Disse-lhe que nas FARC-EP, nós preferimos organizar as massas em forma de colectivos variados que lhes permitam defender os seus interesses. Eis o segredo da sobrevivência das FARC-EP no coração de um conflito tão complexo como o da Colômbia. As FARC-EP são frequentemente criticadas, inclusive por forças da esquerda, pelo uso de métodos "expeditivos" no seu seio: é o caso das execuções dos desertores, do envio de militantes "desmoralizados" para cumprirem missões suicidas, da obrigatoriedade de as combatentes grávidas abortarem, etc. Não há dúvida que as FARC-EP estão envolvidas numa luta armada bastante dura, mas será que tais métodos ou práticas não põem em questão os direitos individuais dos combatentes ou a liberdade de discussão no seio da guerrilha, revelando assim uma forma de organização política demasiado vertical na tradição estalinista? A sua questão mostra que se sabe muito pouco sobre as FARC-EP e que ainda se sente o eco, talvez inconscientemente, da propaganda do regime (o regime oligárquico colombiano e o seu aliado, os Estados Unidos). É o inimigo que diz que nós estamos organizados de maneira vertical, que resolvemos os problemas de uma forma expeditiva, como evoca na sua questão. Nós utilizamos métodos políticos para resolver todos os problemas que surgem no interior das FARC-EP. Inicialmente, os novos combatentes seguem uma formação de seis meses, em que os documentos que se estudam são essencialmente os nossos estatutos, as normas de comando e o regime disciplinar. Se os aspirantes se deram conta que não podem, por razões físicas ou morais, pôr em prática essas normas, eles podem voltar para casa sem problemas, porque até esse momento, eles não conhecem mais nada nem ninguém, a não ser as pessoas que tal como eles frequentaram essa formação inicial clandestinamente. Quando se passa esse nível, uma pessoa assume um comprometimento, e quando integra as FARC-EP, sabe que é para a vida, ou seja, até ao triunfo da revolução e à construção de uma nova sociedade. Nós não dispomos de um serviço militar obrigatório, nem voluntário. A integração nas FARC-EP supõe um envolvimento completo na formação política e militar na base de uma adesão consciente. Não nos esqueçamos que se encontram pessoas capazes de manusear armas por todo o lado, mas pessoas que compreendam a política, a luta de classes e as transformações sociais, numa sociedade como a nossa, é bem mais difícil. Esse conjunto de capacidades, cujo desenvolvimento é do nosso interesse, necessita e exige uma formação permanente e a longo prazo. Consequentemente, isso não implica obrigatoriamente o uso do pelotão de execução ou a prática de execuções extrajudiciárias. Existem nos nossos estatutos muitas outras formas de sancionar as rupturas da disciplina da nossa organização. A execução está apenas prevista para os traidores e os infiltrados que trabalham conscientemente para o inimigo. É a medida mais grave que se aplica dentro das FARC-EP. Quaisquer outras situações que possam surgir resolvem-se através da crítica e da autocrítica com base nos princípios do marxismo-leninismo que são parte integrante da nossa concepção da revolução. O resto, tal como está contido na sua pergunta, revela uma campanha difamatória que tenta transformar as FARC num movimento sem disciplina, sem hierarquia, sem mandatos de comando reconhecidos. E nessas condições, uma organização militar não consegue subsistir. Há um adágio que diz: "sem disciplina, a milícia desaparece". Nesse sentido, é absurdo pensar-se que nós enviamos pessoas desmoralizadas, com problemas psíquicos, ou sem qualificações político-militares suficientes, para cumprir missões. Estamos em guerra! Quem poderia cometer tamanho erro? Na verdade, no interior das FARC-EP, a participação em missões constitui uma forma de reconhecimento do bom trabalho; é um encorajamento e uma honra para os combatentes. Nas FARC-EP, preconiza-se uma participação consciente, e por isso, o valor dos combatentes em condições de participar em cada uma das acções de guerra, ou nas missões especiais que as FARC-EP decidam empreender, é estudado previamente pelos comandantes. No que diz respeito às mulheres da guerrilha, tenho a dizer que elas são livres. Pela primeira vez, uma organização de esquerda e um movimento revolucionário encara a mulher como uma pessoa absolutamente livre e igual ao homem, que assume as mesmas responsabilidades, as mesmas tarefas e os mesmos direitos. Após a época do matriarcado, a guerrilha é hoje, sem dúvida, o lugar onde a mulher começa a cumprir o papel que ela perdeu historicamente, o que foi a maior derrota que o género feminino sofreu na história da humanidade. Quanto ao problema da gravidez nas FARC-EP, as guerrilheiras sabem antecipadamente que no contexto de guerra em que estão a viver não podem engravidar. Por isso, no interior da nossa organização, pusemos em prática um trabalho educativo de difusão de informação e de prevenção para que as mulheres conheçam bem os mecanismos da procriação, bem como as formas de evitar a gravidez e/ou as doenças sexualmente transmissíveis. Por vezes, por erro ou acidente, acontecem casos involuntários de gravidez, e tendo em conta as normas e as condições objectivas de vida num ambiente de combate, a gravidez é interrompida, geralmente, a pedido da própria combatente. Nesses casos, a interrupção é efectuada em condições higiénicas de assepsia, com o acompanhamento de médicos qualificados, e tomando medidas para evitar riscos de vida. Em muitos países, a interrupção da gravidez está legalizada e faz parte de certas constituições no mundo, contudo sempre nos diabolizaram e acusaram de arbitrariedade nestas questões. Não haverá aqui uma moral dupla? Saiba que para as FARC-EP, os valores familiares (tão importantes para a sociedade colombiana) constituem um dos fundamentos para a concepção da nova sociedade que nós queremos construir. Mas estamos a viver uma etapa que não facilita o desenvolvimento dessa parte importante da vida. Penso que é revelador, apesar de toda essa propaganda contra a nossa organização, o facto de a presença feminina nas fileiras das FARC-EP ser actualmente da ordem dos 43%. As guerrilheiras das FARC são verdadeiras amazonas na guerra, ou como diria Simon Bolívar referindo-se a essas valorosas guerreiras romanas, elas são verdadeiras "luzes". Fora do contexto de guerra, as nossas camaradas mulheres têm um comportamento muito feminino. No combate, elas são tão aguerridas como os homens. Elas dão-nos lições de honestidade, de abnegação, de sacrifício, de fraternidade e de heroísmo? como poderíamos nós maltratar essas camaradas que são parte fundamental da luta pelo triunfo da revolução?... Quem é o responsável pela morte dos onze deputados colombianos detidos pelas FARC? Como é que é possível que esses onze reféns tenham sido encontrados juntos no mesmo lugar? Acha que se trata de uma operação deliberada do Estado colombiano para lançar uma vasta campanha política contra a guerrilha das FARC? Há já algum tempo que as FARC-EP alertavam a opinião pública nacional e internacional do facto de as operações de resgate de prisioneiros pelo exército serem demasiadamente arriscadas para a vida dos reféns detidos. É por essa razão que as FARC-EP disseram que a responsabilidade pela morte dos onze deputados do Valle del Cauca, no dia 18 de Junho de 2007, incumbia essencialmente aos que deram a ordem e os tentaram libertar pela força. O primeiro responsável é o senhor Uribe. Explicar-lhe por que é que eles estavam juntos seria entregar-me a especulações, porque eu lembro-me que nessa data, eu tinha acabado de deixar a prisão de La Dorada. No entanto, parece-me indiscutível que se tratou de um plano minuciosamente preparado tanto a nível político como militar e de propaganda. O governo de Uribe iniciou o seu plano falando da possibilidade de libertar um determinado número de prisioneiros das FARC-EP, em relação aos quais ninguém havia pedido nada. Tentámos sempre obter uma troca humanitária de prisioneiros bilateral FARC-EP/governo. De repente, Uribe solta, de modo totalmente unilateral, determinados combatentes das FARC-EP. Essa acção, no meu entender, estava ligada à preparação secreta de uma outra acção de maior envergadura nas montanhas colombianas. Tratava-se precisamente do resgate dos doze deputados, agentes da CIA, mercenários ingleses e israelitas e de comandos do exército colombiano. O projecto era este : enquanto esse grupo aparecia como tendo libertado com sucesso os doze deputados, Uribe voltava a deter os prisioneiros libertados e daria início a um trabalho político no interior e exterior do país, com o intuito de demonstrar que as intervenções directas seriam doravante o meio mais indicado para se obter a libertação das pessoas controladas pelas FARC-EP, acabando assim com qualquer esperança de trocas humanitárias e de qualquer possibilidade de diálogo. O resultado dessa operação e de outras operações de libertação análogas, do tipo "Embaixada de Lima" ou "Operação Entebbe" não podem acabar bem nas florestas colombianas. O que se impõe inexoravelmente na Colômbia é a troca humanitária entre o governo e as FARC-EP, como preâmbulo a uma possibilidade de diálogo que abra a via para a paz e a justiça social. Esperamos que os leitores e as leitoras, a comunidade internacional, os Estados, os governos, os partidos, as organizações sociais, religiosas, humanistas e de esquerda possam contribuir para essa demanda, para a possibilidade real de uma troca humanitária, do estabelecimento de um diálogo que crie saídas para o conflito social e armado que estamos a viver na Colômbia. [*] Da publicação suíça solidaritéS. Acerca de Rodrigo Granda ver também: As FARC reafirmam a opção comunista e respondem a campanhas difamatórias , Miguel Urbano Rodrigues, 23/Abr/2004 Ricardo, estamos contigo! , Miguel Urbano Rodrigues, 20/Nov/2004 Carta aberta de intelectuais à opinião pública internacional , 17/Jan/2005 Sequestro de Rodrigo Granda: "A ditadura fascista de Pinochet fez exactamente o mesmo aos seus opositores políticos" , Dick Emanuelson, 26/Jan/2005 Droga, indigenismo, ALCA , Miguel Urbano Rodrigues, 23/Abr/2005 Democracia, participação, revolução ? três vértices de um triângulo , Miguel Urbano Rodrigues, 29/Ago/2005 O julgamento farsa de um revolucionário: Audiências virtuais através de câmaras de TV, na cela da prisão , entrevista de Rodrigo Granda, 04/Abr/2006 Declaração final do 1º encontro nacional de solidariedade com as lutas do povo colombiano , MMSLPC, 17/Mar/07 Nem é acordo nem é humanitário , Athemay Sterling, 03/Jun/07 A troca é produto de acordos , Secretariado do Estado Maior Central das FARC-EP, 22/Jun/2007 O encontro de Hato Grande , Iván Márquez, 08/Set/07 O original encontra-se em www.solidarites.ch/journal/index.php3?action=2&id=3052&num=113&db_version=2 . Tradução de Rita Maia. Esta entrevista encontra-se em http://resistir.info/
  9. Aqui no Rio o filme tem causado sensação. Nos jornais pipocam análises e críticas. Confesso que a leitura de comentários sobre o filme têm me causado náuseas. Como diria Lula (essa frase já virou clichê) "Nunca antes na história deste pais" se falou tanta besteira sobre um filme. Tropa de Elite se torna polêmico exatamente por aquilo que não se deveria ser: mostrar o ponto de vista de alguém sobre algo. Nota: alguém neste caso é o protagonista do filme. Ou ainda: toma-se a reação do público pela intenção do filme. Como se cada grito de "caveira" fosse o resultado desejado pelos responsáveis pelo filme. Um filme, mesmo quando fala da realidade, mesmo quando é baseado em fatos reais, não é a realidade. Um filme é um filme. Um filme não é tratado sociológico sobre nada. Pensar assim é cacoete de quem só consegue enxergar uma produção artística como peça de propaganda, de quem não sabe ler uma obra, ou até de quem sabe e quer fazer proselitismo de sua causa, neste caso da causa dos "politicamente corretos". A insenção é o refúgio dos canalhas, digo eu incorporado por Nelson Rodrigues. Ninguém é isento porque ninguém é capaz de ser isento. Para ser isento seria necessário ver um fenômeno de todos os lados e reescrevê-lo e julgá-lo sob todos os pontos de vista e ainda conferir o mesmo peso a todos os ângulos. É impossível, só se fôssemos como Deus. A melhor forma de honestidade intelectual é declaração da indexalidade, ou seja, a declaração do posicionamento de quem declara. Toda esta defesa da não-isenção serve para justificar a coerência interna do filme: A HISTÓRIA É O PONTO DE VISTA DO CAP. NASCIMENTO E ISTO FICA CLARO. O filme também tem coerência externa : o roteiro é baseado nos relatos de ex-integrantes do BOPE e ponto. Não é um institucional como diz CÚenca. Se assim o fosse a tortura não apareceria pois não é admitida pela instituição. O filme não FASCISTA e nem REACIONÁRIO pelo simples fato que estas qualidades são intrísecas ao pocionamento político de humanos ou grupos humanos. Um filme não é humano. Humano é quem faz o filme, humanos são os que reagem ao filme. Artur Xexéo vai no cerne da questão: por que será que as pessoas se identificam com Nascimento? Será que admitiriam a tortura? Dizer isto seria dizer que aqueles que criticam a tortura do filme e nada ou pouco dizem sobre a corrupção policial são defensores de esta última prática, seria dizer que quem gosta de Bebel é a favor da prostituição e os militantes do aborto deveriam se matar. A reação do público, é a reação de quem se indentificou com a ojeriza à corrupção e o ódio aos bandidos e seus cúmplices. É a reação de quem percebe que no meio da guerra não dá pra formular teses "ex concessis" , na parada cardíaca que dane-se as costelas. Mas é uma reação ao filme e não à realidade, pois muitos que gritam "caveira" durante o filme também ficariam angustiados se presenciassem uma cena real de tortura. "Caveira" poderia ser o novo grito do "Cansei" como diria o CÚenca, pois os cansados estão expressando seu descontentamento com gritos, estão reagindo. Os descansados preferem admirar "Lamarca", "Lúcio Flávio", "Zé pequeno", "Falcão e os meninos(???) do tráfico" e toda uma relação imensa de bandidos retratados no cinema brasileiro. Vá lá gosto é gosto e cinema é cinema. E eu gostei de Cidade de Deus, só não admito ser chamado de fascista pelos esquerdopatas, seguiindo o mesmo raciocínio eu poderia chamá-los de marginais. Se alguem me chamar de reacionário por gostar do filme, eu aceito a apelido. Reacionário é quem reage e quem grita caveira está reagindo ao bom-mocismo que protege bandidos e que acha a corrupção um mal menor. O diretor José Padilha caiu na armadilha (trocadilho horroroso) e falou que prefere a corrupção à tortura, pois o primeiro é um mal menor. Pois acredito que o diretor mais talentoso da atualidade está enganado (pois é um filme é um filme). O torturador(no filme) faz algo terrível em nome da ordem e contra supostos bandidos e pode cometer erros terríveis no processo. O corrupto auxilia bandidos, degrada a polícia e ordem pública, é equivalente ao bandido na intenção e na realização do ato ilegal, o torturador é ilegal no ato para não ser bandido na intenção.O torturador pode errar, o corrupto sempre erra. Era de se esperar reações como essas de um filme que tem um policial como protagonista ,a palavra "Elite" no título e onde bandidos não se dão bem no final, foi demais para a elite burguesa do capital alheio. Aliás, as reações ao filme destroem as concepções de elite e povo decantadas pela esquerda e pela direita. Pelas reações, o povão do bolsa-família é mais reacionário que os classe-média do "cansei". Por isso eu agora falo : "É faca na caveira"!
  10. Caro Dook. Faz muito tempo em que discutíamos assuntos de natureza política, cada um segundo seu viés ideológico. As minhas opiniões eu trato a pão e água, deixo passar, testo-as ao limite, estou sempre disposto a mudá-las sob o pensamento de que não tenho condições de saber tudo, sou consciente de minhas limitações. Um dia eu fui "de esquerda", marxista, simpatizante do PT. Votei do Lula em 94,98 e 2002. Mas os fatos me fizeram mudar de opinião. Os motivos que me fizeram detestar FHC, me fizeram romper com Lula e o PT. Não tenho partido. O meu partido é minha consciência. Não inocento Lula pelo o que FHC fez, assim como não começo a achar o PSDB e o DEM legaizinhos só por que o PT não presta. Sempre te considerei um cara inteligente, acima da média aqui do fórum, assim como outros como: Amfíbio, Marko Ramius, o saudoso Opeth, Plutão Orco, Flávio e alguns outros que me falham a memória. Todavia vc está acometido da cegueira esuqerdista que toma conta de todo simpatizante do Lula e do PT. A cegueira que os faz fazer trincheiras e disparar contra inimigos do governo, como se fossem também seus inimigos pelo simples fato de serem extremamente rigorosos com o partido em que votou ou com a ideologia que escolheu. Mesmo que as mãos acusatórias sejam corruptas e criminosas, o que importa saber é : é verdade o que elas dizem? Será você continuará petista só por que seus inimigos são "de direita"? Só por que você tem que ser "de esquerda"? Você não é burro Dook. Você sabe , assim como eu, o tipo de gente que está no poder no país. Você não precisa virar direitista para admitir isto. Você não precisa gastar sua retórica para justificar o injustificável. Eu só lhe escrevi isto pq imaginei que nesta altura do campeonato, você já teria se tocado que o governo Lula não é somente incompetente e corrupto, se fosse só isso seria comparável aos anteriores. O governo Lula é criminoso, tem viés totalitário e antidemocrático, seu discurso perverte os conceitos de ética e moralidade, melhor dizendo: oficializa a ética de Maquiavel no poder. Infelizmente você radicalizou o discurso, entrou nesta onda ridícula de ataque a mídia. Deverá evoluir para o ataque a classe média, às religiões e a tudo que se opõe a projeto de poder petista. Observe: já tem petista defendendo coisas inconfessáveis até algum tempo atrás. Sabe de uma coisa ? Esquece, deixa pra lá. Não está mais aqui quem falou. Um abraço, Ismael
  11. Ismac

    A Vale é Nossa!

    Qual é o cerne da discussão Dook?
  12. Já faz muito tempo, quiçá anos, que nao posto por aqui, mas esse filme me incomodou... As únicas coisas razoáveis eram as transformações, o resto era horrível não servia nem para filme-pipoca. Fui ao cinema por pura nostalgia da infância. Fiquei me erguntando se não tinha um diretor melhorzinho... Que lástima!
  13. Rompo um silêncio de mais de um ano pra falar uma frase sobre esse filme: "A perfeição não é deste mundo".
×
×
  • Create New...