Koshino Saeki, um homem de 27 anos que trabalha em uma agência
matrimonial, acaba de receber uma notícia que ninguém gostaria de
ouvir: sua namorada lhe revela, sem meias palavras, que tem outro homem
(Uau!). Mas, ao contrário do que seria esperado, Koshino não explode de
raiva nem parte para as ofensas verbais. Externamente ele aceita tudo
numa boa, sem expressar nenhuma emoção mas, no fundo, sua alma está em
frangalhos. Isto parece ser algo normal na vida do fechado Koshino, que
tem uma tremenda dificuldade para externar seus sentimentos, ficando
com estas sensações desagradáveis presas dentro de si.
Enquanto curtia uma fossa brava, Koshino se encontra com Nanoka
Kohinata, uma bela garota de 15 anos, com personalidade expansiva e
conversa franca. Ambos haviam se visto de relance no trem um pouco
antes e, ao se cruzarem na estação (Koshino fôra devolver a identidade
de Nanoka, que havia caído no chão), foram recebidos por um forte vento
carregado de pétalas (seria o tal "Koi Kaze", o "Vento do Amor"?). O
sorriso de Nanoka naquele momento, com os cabelos balançando ao vento,
não saiu da cabeça de Koshino. Neste segundo encontro fortuito, Koshino
cria coragem e convida Nanoka para tomar um sorvete no parque enquanto
ela aguarda a chegada do pai. Conversa vai, conversa vem, Nanoka
confessa a Koshino que teve uma desilusão amorosa, e que seu sorriso na
estação de trem fora o primeiro em muitos dias. Koshino também conta a
ela sua história e, surpreendentemente, consegue colocar a emoção para
fora e chora copiosamente nos ombros de Nanoka.
Se a possibilidade de um relacionamento entre um homem de 27 anos e uma
garota de 15 já seria um baita de um tabu, imaginem quando esta mesma
possibilidade diz respeito a dois irmãos? Pois é, Koshino e Nanoka na
verdade são irmãos, separados quando ela era ainda muito nova, à época
do divórcio de seus pais. Nanoka viveu com a mãe em uma pequena cidade
do interior, mas veio morar com o pai para continuar os estudos na
cidade grande. Koshino morava com a antiga namorada em um apartamento
mas, após a separação, volta temporariamente à casa do pai, para viver
junto a ele e Nanoka...
Pois é... situação realmente complicada!
Antes de falar sobre a beleza do enredo de Koi Kaze, é preciso dizer
que este anime é primoroso nos aspectos técnicos. Koi Kaze não é nenhum
"eye-candy" na linha dos animes do Gonzo, Madhouse ou Bones, sempre com
efeitos e animações de cair o queixo. A alta qualidade da animação é
percebida nos pequenos detalhes, como na sutil e delicada movimentação
corporal e facial dos personagens. A trilha sonora é suave e deliciosa,
seguindo uma linha semelhante à trilha instrumental de Boys Be e dando
o clima perfeito às situações dramáticas e românticas que acontecem no
decorrer da série.
Mas é na estória que Koi Kaze se destaca de forma sublime. Os
personagens são carismáticos e possuem motivações reais e convincentes
por trás de seus atos. Seus relacionamentos são expostos de forma bem
realista, evitando cair nos clichês, e os sentimentos que surgem não
são nada forçados. Desde o início, percebe-se que existe algo mais do
que "amor de irmãos" no relacionamento de Koshino e Nanoka, e a
dificuldade de ambos em lidar com a situação é de partir o coração.
Seria realmente amor este estranho sentimento que surge entre eles, ou
apenas uma atração física passageira? Deveriam eles continuar seguindo
as regras impostas pela sociedade, ou valeria a pena jogar tudo para o
alto e mandar os tabus às favas? É interessante notar, ainda, como a
visão do amor por parte de Nanoka é mais ingênua e infantil, enquanto a
visão de Koshino, mais adulta, é ainda romântica mas possui uma
conotação sexual bem mais evidente.
Nas mãos de pessoas incapazes, Koi Kaze poderia ter descambado para a
apelação e situações embaraçosas. Felizmente os roteiristas e o diretor
da série tiveram a capacidade de andar sobre este terreno minado sem
saírem feridos, conseguindo a proeza de fazer com que mesmo uma cena de
masturbação se tornasse dramática e coerente com a história. Mas talvez
o grande mérito da equipe por trás de Koi Kaze tenha sido a habilidade
em retratar uma história tão polêmica da forma mais isenta possível,
sem julgar se o que acontece ao longo da série é certo ou errado. Os
fatos estão ali, e fica a cargo da consciência do espectador decidir se
aprova ou não o que acabou de presenciar. Polêmicas à parte, não dá
para negar que Koi Kaze é, disparado, um dos grandes animes de 2004.
Imperdível!
girafinha2009-06-17 14:46:40