O GLOBO
Rio, 07 de março de 2005
Perdidos e cercados de mistério
Lilian Fernandes
"Lost” só vai estrear esta noite na televisão brasileira, mas já tem
uma legião de fãs por aqui. É gente que baixa os episódios da internet
e discute seu intrincado enredo em ambientes virtuais. A prova: além de
estar se tornando assunto freqüente em salas de bate-papo, a série
sobre os 48 sobreviventes de um desastre aéreo que enfrentam os perigos
de uma ilha quase deserta já ganhou até um fórum de discussão
(www.dellmelo.com/lostbrasil). Seu criador, o programador de DVD
Daniel Melo, de 24 anos, conta que em dezembro teve que trocar
de servidor (computador que centraliza as operações de vários outros),
porque o que estava usando não comportou o volume de mensagens
recebidas. Em seis meses de existência, o fórum já conta com 550
membros e, a repetir-se o sucesso obtido nos Estados Unidos, é possível
que Melo tenha que trocar novamente de servidor em breve.
— Eu me interessei por “Lost” pouco antes de a série estrear nos
Estados Unidos, em setembro, e, quando assisti ao piloto, criei o
fórum. Achei que fazer um site apenas, com informações sobre o elenco e
a série, seria algo muito limitado — conta Melo. — A maioria dos
participantes tem entre 18 e 25 anos, mas há garotos de 11, 12 anos e
gente de 35, 40 anos também.
Primeiro episódio mostra queda do avião
A Sony Pictures Television International, que está trazendo a série
para o Brasil, preparou um lançamento em grande estilo. Hoje, o
primeiro capítulo, com uma hora e meia, será apresentado a partir das
20h, simultaneamente, por seus dois canais, o Sony e o AXN. A seguir, o
“Estilo Sony” e o “AXN Flix” trarão especiais de meia hora sobre a
atração. A partir da próxima segunda-feira, “Lost” seguirá carreira no
AXN, e se manterá no horário das 21h.
À primeira vista, o tema
desconhecidos-que-precisam-se-unir-enquanto-lutam-para -sobreviver-em-deslumbrante-ilha-deserta
pode parecer banal, mas o criador da série, J.J. Abrams (responsável
também por “Alias” e “Felicity”), que não é de dar ponto sem nó, tratou
de temperá-lo com uma série de mistérios.
O primeiro episódio mostra a queda do avião, que transportava cerca de
200 passageiros da Austrália para os Estados Unidos, e traça um breve
perfil dos personagens a partir da reação de cada um à situação. Na
trama, eles estão numa ilha do Pacífico Sul (as gravações foram no
Havaí). O protagonista é um médico bonitão, Jack (Matthew Fox, o
Charlie de “O quinteto”), que também está ferido mas se esforça por
ajudar os outros e acaba salvando muitas vidas. A mocinha é Kate
(Evangeline Lilly), misteriosa beldade que se mostra tão corajosa
quanto Jack. Nos Estados Unidos, a estréia já incluiu a série na lista
das dez mais vistas, um feito para a ABC, que há anos apanhava da
concorrência em seu horário.
Assim que o programa começa, surgem também as dúvidas. Mistério número
1: o que fazia cada uma daquelas pessoas no avião; o que se pode
depreender de seus diálogos entrecortados, de suas atitudes estranhas?
Isto o telespectador irá descobrindo aos poucos, porque cada episódio
vai narrar, em flashback , o que levou cada um dos passageiros a estar
no avião naquele momento: tem assassino fugindo, ladrão sendo escoltado
até a cadeia, paralítico que na ilha volta a andar... Mistério número
2: logo na primeira noite, o grupo ouve um ruído pavoroso. Será de um
bicho? De nativos furiosos? De alguma estranha criatura sobrenatural?
Mistério número 3: J.J. Abrams já anunciou que um dos personagens
principais vai morrer até o fim da primeira temporada, e a bolsa de
apostas está fervilhando. Quem será? Com tantas interrogações, não
admira que, entre os participantes do fórum de “Lost”, haja muitos
seguidores (porque fã é pouco) de “Arquivo X”.
— A série já virou um cult. Ela tem uns elementos sobrenaturais, deixa
sempre um gostinho de quero mais, e as pessoas já estão formulando mil
teorias, como acontecia com “Arquivo X” — conta o estudante André
Bernardes, de 25 anos, outro fã de primeira hora, que acompanha tudo o
que a imprensa americana publica sobre a série. — A criatura que dá
aqueles urros horríveis já foi apelidada por lá de Lostzilla, uma
referência ao Godzilla do filme.
J.J. Abrams vem descartando diversas hipóteses imaginadas pelos fãs, em
entrevistas a jornais e talk-shows, e avisou que, quando a verdade vier
à tona, os telespectadores não a acharão tão mirabolante assim. Sua
atitude não é comum, mas é um luxo a que se pode permitir, já que a
primeira temporada, com 21 episódios, está em plena produção e uma
segunda foi garantida, coisa rara na competitiva indústria americana.
Abrams não pára: está cotado para dirigir o filme “Missão impossível
3”, com Tom Cruise, cujo lançamento está previsto para 2006.