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Forum Cinema em Cena

luccasf

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  1. Gosto de Sangue (Blood Simple.)

    Uma sociedade degradada moralmente, personagens corruptos e violentos, traição, ângulos e enquadramentos incomuns, locações conhecidas, cenas noturnas, e a típica descrença completa, proveniente do Niilismo. Todos esses aspectos são algumas, das muitas características do gênero noir - derivado do francês, preto. Além de contemplarem essa tendência, tais características retratam o modo de fazer cinema dos Irmãos Coen, na maioria dos seus filmes. Joel e Ethan, atualmente reconhecidos como dois, dos melhores diretores contemporâneos, começaram no cinema, na década de 80. Enquanto Joel se formara na Universidade de Nova York, Ethan optara pela filosofia, na universidade de Princeton.

     

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    Em 1981, depois de se formar em Nova York, Joel conseguiu um cargo de assistente-editor, no filme "A Morte do Demônio" (Evil Dead, 1981), de Sam Raimi, onde iniciou a sua grandiosa carreira, no mundo da sétima arte. Três anos depois, os irmãos lançavam o seu primeiro filme, trabalhando juntos. "Gosto de Sangue", um belíssimo trabalho que acabou satisfazendo a corrente neo-noir, tendência que recicla as principais características do gênero citado no primeiro parágrafo, já mostrava as principais influências dos diretores, que marcariam suas futuras produções.

    No Texas, uma mulher e seu amante mantêm um relacionamento amoroso. No entanto, o marido acaba descobrindo a traição, e resolve pagar um detetive, para matá-los. O crime acaba não saindo como planejado, e as portas ficam abertas para um desentendimento sem fim. Um tema muito recorrente, dentro desse gênero, é o triângulo amoroso. Essa temática abre um leque de possibilidades, para o desenvolvimento da narrativa. Certas produções optam por uma abordagem mais suave, enquanto outras, no caso de "Gosto de Sangue", caminham por um rumo oposto. 

    "Gosto de Sangue" funciona muito bem como um noir, além de ter bons traços dramáticos. O roteiro, também escrito pelos irmãos, é surpreendentemente eficiente. Logo no início, o espectador ouve um desabafo extremamente pessimista, criticando a postura do Homem. Basicamente, é o interesse que move os laços entre as pessoas, por isso, quando surge algum problema, é cada um por si. Os diálogos representam mais um atrativo de suas obras. Quando não carregam o humor negro, também presente em "Gosto de Sangue", costumam fazer críticas. Neste primeiro trabalho, os irmãos Coen fazem um estudo preciso sobre o que faz o Homem tomar certas atitudes estúpidas. O dinheiro? A insatisfação? O medo?

    A direção, a respeito do desenvolvimento da trama, é extremamente competente, por situar o espectador em cada cena, fazendo-o entender todo o desentendimento, que acaba gerando uma série de perspectivas diferentes, por parte dos diversos personagens. A construção dessa teia é muito bem feita. Sobre o desfecho que, futuramente, se tornaria um dos momentos mais aguardados por parte do público, devido a criatividade dos diretores em solucionar, ou não, os problemas do filme, ressalto o diálogo irônico, seguido pela faixa musical. São poucos os profissionais que conseguem criar um efeito tão incrível, com tão pouco.

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    A violência gráfica do filme é mínima. Os Coen abrem mão de impressionar o espectador por esse aspecto, compensando no belo trabalho de câmera. Os diretores fazem uso, por vezes, de ângulos criativos, que realçam o poder da cena. A fotografia, comandada por Barry Sonnenfeld, que também trabalharia com Joel e Ethan, em "Arizona Nunca Mais" (Raising Arizona, 1987), e "Ajuste Final" (Miller's Crossing, 1990), antes do incrível Roger Deakins assumir o cargo, ganha destaque nas tomadas noturnas. Devido à grande influência da tendência supracitada, "Gosto de Sangue" tem seus melhores momentos, durante a noite, onde o suspense combina com a estética, aumentando o efeito das perseguições, e do sentimento de medo, e paranoia, dos próprios personagens.

    "Gosto de Sangue" dá início à trajetória de dois grandes diretores, que adotaram um estilo extremamente singular. A tentativa de sempre driblar o convencional, buscando alternativas criativas, fez com que os mesmos ganhassem respeito, no mundo da sétima arte. Um trabalho preciso, surpreendente, e, acima de tudo, puramente cinéfilo. Uma tendência resgatada pelos próprios amantes.

    Nota: 8

    luccasf2010-12-28 18:10:09
  2. Creepshow (Creepshow)

    As adaptações de histórias em quadrinhos tornam-se, cada vez mais, a prioridade de certas produtoras, devido ao grande público que foi conquistado, com o passar dos anos. Diferentemente de boa parte das adaptações contemporâneas, que costumam se limitar aos super-heróis, "Creepshow", dirigido pelo cultuado diretor George A. Romero, realizador de obras marcantes, como: A Noite dos Mortos-Vivos (Night of the Living Dead, 1968), e Despertar dos Mortos (Dawn of the Dead, 1978), aborda contos bizarros, que se restringem ao gênero terror, numa viagem deliciosa, que homenageia as HQ's, de mesmo nome, que eram publicadas na década de 80. Com roteiro de Stephen King, baseado em contos que o mesmo escrevera, "Creepshow" reforça o subgênero terror-tales.

     

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    Depois da rápida introdução, onde o pai proíbe o filho de ler histórias em quadrinhos, no caso, a própria Creepshow, o filme de Romero decola por entre 5 contos inusitados. O primeiro, Father's Day, nos mostra um encontro entre membros de uma família, no Dia dos Pais. O patriarca foi assassinado por uma de suas filhas, que está indo até essa reunião familiar, onde encontraria sua irmã, e alguns sobrinhos. No entanto, dessa vez, a data ficaria marcada por uma macabra aparição. No segundo conto, The Lonesome Death of Jordy Verrill, encontramos um fazendeiro idiota - interpretado pelo próprio Stephen King - que avistou um meteoro caindo perto de sua casa. No terceiro conto, Something to Tide You Over, vemos um marido insano - interpretado por Leslie Nielsen - que quer se vingar de sua ex-esposa, e do amante da mesma. No quarto conto, The Crate, um zelador encontra uma misteriosa caixa, embaixo da escada, e resolve falar com um dos professores da faculdade, sobre o conteúdo. No quinto e último conto, They're Creeping Up On You, presenciamos um milionário ignorante, com problemas de insetos, em seu luxuoso apartamento.

    Uma estória mais bizarra do que a outra, e Romero, juntamente com King, faz questão de deixar isso bem claro, desde o início. Declaradamente, o filme tem a intenção de fugir de qualquer aspecto que o tornasse verossímil, por isso, além das temáticas fictícias, temos os personagens insanos, que contribuem para esse feito. Por ser Romero, muitos dizem que "Creepshow" não passa de um fracasso em sua carreira, entretanto, sua intenção é de extravasar o convencional, trazendo estórias que englobam os mais diversos personagens responsáveis pelo terror, no universo do gênero. Zumbis, monstros, seres de outro planeta, insetos, e claro, o próprio Homem.

    Um quesito que ainda é considerado por muitos, como um dos mais importantes da obra, é a maquiagem. Realizada por Tom Savini, um dos profissionais mais talentosos, dentro da área, a maquiagem concede ao filme, um grande diferencial. Na frente das câmeras, esse trabalho aprimorou a atmosfera sinistra do filme, por trazer, de forma íntegra, os detalhes da própria revista em quadrinhos. Agora, por trás das câmeras, acabou trazendo um grande reconhecimento, não apenas ao filme, por ser um dos poucos que trabalhara tão bem o quesito, mas, também, obviamente, ao Savini, que ainda recebe diversas intitulações, como: o melhor maquiador do gênero.

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    Desde o começo, prometendo ser um exemplar bem divertido, "Creepshow" faz todas as referências possíveis, às revistas que serviram de formato, ao filme. Desde a mudança dos contos, onde vemos as imagens das HQ's, transformadas em cenas, até a cenografia fiel. Por se basear nas estórias de Stephen King, "Creepshow" declara o tom descompromissado, abrindo mão de um produto tecnicamente impecável, e optando por funcionar como um filme de terror, com seus traços cômicos, que pretende divertir os amantes do gênero, e, obviamente, das revistas. Um Romero menor, mas, mesmo assim, muito agradável.

    Nota: 7

    luccasf2010-12-26 23:03:18
  3. E' date=' com todo o respeito aos outros, por mim Inception ganhava tranquilamente no Oscar: Fotografia, esses 2 de Som, e principalmente Trilha Sonora e Edição. Mas como não estamos num mundo justo...[img']smileys/06.gif" align="middle" />


    Fotografia melhor que a de Ilha do Medo? Mas nem a pau.


    Fotografia melhor que Cisne Negro? 02.gif

     

    Pois é, meu palpite vai para "Cisne Negro", também.

    A fotografia é maravilhosa. A iluminação é o grande destaque, desde os primeiros minutos. Creio eu que, o único filme que pode tirar o prêmio, das mãos do Matthew Libatique, é "Bravura Indômita". No entanto, ainda assim, acho difícil.
  4. Não deu pra resistir. Assisti "Cisne Negro". Confesso que superou as minhas expectativas, que já eram bem positivas. Darren Aronofsky dirige um filme sublime, do começo ao fim. Pra mim, o melhor do ano, com boa distância. Ainda vou postar minha crítica, mas ainda preciso digerir essa obra-prima.

  5. Então' date=' Luccas, a nota é algo muito pessoal. Respeito teu 9, mas pra mim é 10, no mínimo.

    E concordo, não é o melhor trabalho do Kubrick - pra mim é 2001, aliás, pra mim é o melhor filme de todos os tempos.[/quote']

     

    Também estava falando de "2001 - Uma Odisséia no Espaço". Obra-prima. Não consigo descrever todo o poder desse filme, sinceramente.
  6. Todos' date=' todos? É que assim, eu vi a notícia, daí vi o trailer e o cartaz e achei ambos geniais, mas nunca assisti filme do cara. Qual vocês recomendam? [/quote']

     

    "Além da Linha Vermelha" é espetacular. Meu filme favorito, do Malick. Chegou a ser indicado em 7 categorias, no Oscar. A fotografia do John Toll traz um charme incomparável. Recomendo, com certeza.
  7. Triângulo do Medo (Triangle' date=' 2009), de Christopher Smith.

    Como é bom ver um nome fazendo sucesso, dentro de um gênero que se encontra num estado tão precário. Christopher Smith. É bom guardar esse nome, porque teremos boas surpresas, daqui a uns anos. Em "Triangle", é incrível como o diretor consegue jogar com o seu espectador, dentro da sua inusitada narrativa. Um enredo muito bem construído, que mantém o ritmo pesado até o final, acompanhado de uma boa fotografia, e, claro, da direção competente de Smith, que desliza sua câmera com enquadramentos precisos, e até mesmo, com a inusitada técnica dos jump cuts. Fazia tempo que não recebíamos uma obra tão boa para assistir, e decifrar. Belo suspense. Bela diversão.

    [/quote']

    O filme é bom....só não gostei mais....por que não gosto muito de quando o filme não explica o POR QUE daquilo acontecer

     

    Cara, mas está tudo bem explicado.

    Vou passar a minha interpretação, que pode ser a mesma que a sua. Vamos lá: em determinado momento do filme, o diretor faz a citação de Sísifo, que foi condenado a levar uma pedra até o alto de uma montanha, para vê-la descer, num ciclo interminável. Ele foi castigado, porque tentou enganar a morte. Certo. Partindo disso, a personagem principal, interpretada pela Melissa George, acaba passando pelo mesmo problema. Quando ela sofre o acidente de carro, a morte vem busca-la, ou seja, aquele taxista, entretanto, como ela estava em choque, vendo que o seu filho morreu, e que ela não foi uma boa mãe, ela resolve fazer tudo novamente. Quando o taxista pergunta se ela vai voltar, e ela diz que sim, ela está mentindo, ou seja, está mentindo para a morte. Com isso, ela é punida, tendo que passar pela mesma coisa, todas as vezes.

     

    Se essa foi a sua interpretação, peço que me explique melhor, o que você não entendeu.
  8. Triângulo do Medo (Triangle, 2009), de Christopher Smith.

    Como é bom ver um nome fazendo sucesso, dentro de um gênero que se encontra num estado tão precário. Christopher Smith. É bom guardar esse nome, porque teremos boas surpresas, daqui a uns anos. Em "Triangle", é incrível como o diretor consegue jogar com o seu espectador, dentro da sua inusitada narrativa. Um enredo muito bem construído, que mantém o ritmo pesado até o final, acompanhado de uma boa fotografia, e, claro, da direção competente de Smith, que desliza sua câmera com enquadramentos precisos, e até mesmo, com a inusitada técnica dos jump cuts. Fazia tempo que não recebíamos uma obra tão boa para assistir, e decifrar. Belo suspense. Bela diversão.

    luccasf2010-12-16 22:44:41
  9.  

    Pois é...

    Acho que você não entendeu. Eu sempre elogio os filmes, mas o que muda, é a intensidade, e SOBRE o que eu estou elogiando. Boa parte do que eu critiquei positivamente, estava focado na parte artística, ao passo que eu até mesmo cheguei a falar, negativamente, sobre outro aspecto, no caso, o ritmo, que peca. De acordo com o que eu disse, a nota está muito justa, sim.

     

    Deve ser, mesmo. 
    [/quote']

     

    Não... eu entendi o texto e os outros posts. Este post aí eu não entendi...

     

    Mas deixa pra lá... alguém que elogia o silêncio do filme, a forma como Ridley conduz as coisas para ir crescendo o suspense até uma tensão insuportável para depois criticar o ritmo é contraditório, no mínimo...

     

    Enfim, let it be...

     

    Sim, eu reparei, mesmo.
  10. Luccas' date=' muito bom teu texto também, só discordo diametralmente da nota. Na minha opinião, não tem como não dar 10 pra esse filme.

    [/quote']

     

    Olha, cara, dificilmente coloco 10 nas minhas análises. Não acho que "O Iluminado" tenha que receber a nota máxima, mas isso não tira todos os méritos que a produção tem, de forma alguma. Sempre costumo analisar o papel do filme dentro do gênero, dentro da filmografia do diretor, e dentro do cinema, em geral. Acho que não foi o melhor trabalho do Kubrick, ao mesmo tempo que não acha que mereça um 10. Em outras palavras, o negócio é ler o texto, mesmo.
    luccasf2010-12-16 18:31:38
  11. Se se elogia o filme durante 99% do texto' date=' a dedução lógica é uma nota MUITO boa... 7,5 tendo em vista o texto é uma nota mais ou menos...

    Mas claro, preciosismo da minha parte.


    [/quote']

     

    Pois é...

    Acho que você não entendeu. Eu sempre elogio os filmes, mas o que muda, é a intensidade, e SOBRE o que eu estou elogiando. Boa parte do que eu critiquei positivamente, estava focado na parte artística, ao passo que eu até mesmo cheguei a falar, negativamente, sobre outro aspecto, no caso, o ritmo, que peca. De acordo com o que eu disse, a nota está muito justa, sim.

     

    Deve ser, mesmo. 
    luccasf2010-12-16 14:29:28
  12. Aproveitando a bela postagem do Questão:

     

    O Iluminado (The Shining)

    Stanley Kubrick, figura rara dentro da história do cinema, teve a carreira marcada pela sua postura cética a respeito do ser humano, e por ser dono de uma estilística incomparável, que sempre buscava a perfeição em cada take. Visto pela crítica como um diretor extremamente intelectual, Kubrick costumava abordar um tema recorrente em suas produções: a guerra. Com o passar dos anos, a fórmula pesada que o diretor utilizava em suas produções, começou a criar um certo desgosto por parte do público, fazendo com que o diretor deixasse os EUA, e caminhasse para a Inglaterra, onde trabalhou até seus últimos anos de vida.

     

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    Depois de realizar alguns trabalhos na fase britânica, dentre eles: "2001 - Uma Odisseia no Espaço" e "Laranja Mecânica", obras que consagraram a filmografia do diretor, Kubrick parte para uma temática que, até então, era incompatível com o seu perfil intelectual. Como já era de se esperar, a crítica apedrejou "O Iluminado". O diretor chegou a ser criticado pelo próprio Stephen King, autor do livro no qual o filme foi baseado, que considerava Kubrick como um homem muito frio, incapaz de trazer uma abordagem agradável, para um tema tão impactante. Anos depois, após toda essa resistência, "O Iluminado" começava a ganhar seu verdadeiro reconhecimento, provando que Kubrick era dono de uma versatilidade invejável, e que estava pronto para deixar o espectador boquiaberto, a cada filme que fosse produzido.

    Início do rigoroso inverno americano. Jack Torrance (Jack Nicholson) é contratado para passar alguns meses, dentro de um hotel, juntamente com a sua esposa (Shelley Duvall) e seu filho (Danny Lloyd), para cuidar das dependências do local, durante essa estação do ano. O que parecia ser uma boa experiência para o pai de família, que buscava mais tranquilidade para escrever o seu livro, acaba virando um pesadelo terrível, quando a solidão acaba afetando o convívio dos três. Cercados de neve por todos os cantos, o hotel vira palco de acontecimentos inexplicáveis, onde a loucura perambula pelos longos corredores. Deslumbrante em cada take. Uma atmosfera tão pesada, que o espectador fica tenso, vendo apenas uma tela preta, com as seguintes palavras: Terça-Feira. Belíssima observação de Janet Maslin, crítica do New York Times, que defendia o trabalho do diretor americano, e, principalmente, sua mudança de estilo.

    Com um roteiro sólido, e com certas modificações, em relação ao material que deu origem ao filme, Kubrick consegue conduzir o filme da maneira mais correta possível, acertando em cheio, ao utilizar certa ambiguidade no desenvolvimento da estória. Até um determinado ponto crucial do filme, o espectador não consegue saber se tudo aquilo que acontece pode ser justificado pela insanidade do personagem de Jack Nicholson, ou se o hotel é palco de atividades sobrenaturais. Essa dúvida é solucionada, entretanto, no belo desfecho, o diretor dá espaço para outras abordagens possíveis. Kubrick termina o seu filme, mas deixa o espectador pensando por horas. Para uma pessoa tão fria, como Stephen King comentou, o americano conseguiu criar um universo de proporções indescritíveis. 

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    O trabalho de câmera é fundamental para aprimorar a atmosfera soturna. Com o uso predominante da steadicam, que proporciona uma filmagem sem os trancos gerados pelos movimentos do corpo, além de facilitar o movimento entre os cenários, sem a utilização de cortes, o diretor opta por uma filmagem com planos abertos, para aumentar o sentimento de solidão, dentro de cada cena. As proporções dos cenários e dos personagens, colaboram para esse vazio aterrorizante. Outra técnica utilizada, é a de filmar os personagens de costas, como se os mesmos estivessem sendo perseguidos. O espectador, devido ao clima criado, encara a filmagem de forma subjetiva, sempre esperando alguém aparecer, mas não, Kubrick apenas vai preparando o espectador para os próximos minutos.

    Costumam dizer que o papel de Jack Nicholson, em "O Iluminado", marcou a sua carreira. Quem diz isso, está coberto de razão. Kubrick se preocupava muito com os atores que escalava para os seus filmes, e quando escolheu Jack Nicholson para viver o personagem Jack Torrance, o diretor disse que encontrou a pessoa mais apropriada, afinal de contas, sua aparência já trazia um diferencial assustador. Por mais que um ator tente trabalhar suas feições, jamais vai superar algo que é natural. O profissionalismo do ator acabou encantando o diretor, durante o período das gravações. Nicholson foi além do que o roteiro dizia, improvisando em certos takes, e trazendo um charme a mais, para a produção. Na antológica cena em que o seu personagem quebra a porta com um machado, e Jack aproxima o rosto do vão, dizendo: "Here's Johnny!", notamos uma ligação com a abertura do programa de Johnny Carson, que era bem famoso, na TV americana. Em outro momento que Jack extravasa os limites do roteiro, é a cena em que ele joga a bola de tênis contra as paredes do saguão. Neste caso, o roteiro apenas anunciava: Jack não está trabalhando. Uma atuação brilhante. É impossível imaginar outro profissional na pele de Jack Torrance.

    A escolha de Shelley Duvall também seguiu o padrão supracitado. O diretor dizia que sua aparência era a mais pura representação da impotência, e ele precisava de uma atriz que demonstrasse uma degradação psicológica extremamente verossímil. Por causa do seu perfeccionismo, e da sua intenção de buscar a espontaneidade do seu elenco, Kubrick fazia questão de gravar os mesmo takes, por mais de 30 vezes. Essa atitude do diretor, acabava frustrando os atores. Em certa cena em que Scatman Crothers - interpretando o personagem Dick Hallorann - participa, o americano fez com que ela fosse rodada mais de 40 vezes, fazendo com que o ator veterano começasse a chorar, devido ao imenso desgaste. Outro grande atrativo do elenco era o jovem Danny Lloyd. Como a estória de "O Iluminado" tinha um forte tom macabro, o diretor organizou as cenas em que ele aparecia, para serem gravadas de forma rápida, e sempre com a presença dos pais. Como o garoto tinha apenas 7 anos, Kubrick fazia questão de protegê-lo contra qualquer choque que ele pudesse ter, por perceber a verdadeira temática de sua produção. Essa ligação dos dois, acabou gerando um grande companheirismo entre eles.

    A cenografia de "O Iluminado" é mais um dos grandes atrativos da obra. Para decidir os melhores ambientes possíveis, o desenhista de produção, Roy Walker, entrou em cena, pedindo para que diversos fotógrafos tirassem fotos dos mais diversos hotéis que conheciam. Com base nessas fotos, começaram a montar os cenários do filme. Elogiar esse quesito, é fundamental. O clima não seria o mesmo, sem a combinação da direção de arte, com a fotografia. A caracterização de cada ambiente é minuciosa, e conquista o público pelo trabalho apurado. Da cena do luxuoso baile, às tomadas exteriores. O perfeccionismo de Kubrick é uma grande qualidade, sem dúvida alguma. Sobre a fotografia, ressalto o incrível jogo de luzes. Adotam uma tonalidade que remete ao fantasmagórico, dando destaque para as cenas do labirinto. Tudo é friamente calculado para causar um verdadeiro efeito pertubador, no espectador. Por mais que os ambientes sejam espaçosos, acabamos presenciando algo de caráter claustrofóbico, mediante ao produto de imagem e som, trabalhando juntos. Formada por composições de vários músicos, como por exemplo: Krzysztof Penderecki, que também contribuiu para "O Exorcista", de William Friedkin, a trilha sonora acompanha o ritmo do filme, com suas notas que alternam entre o depressivo e o lúgubre.

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    Uma experiência cinematográfica divina. Um passeio marcante entre a insanidade e o sobrenatural, protagonizado por personagens que beiram a loucura, amedrontando e fascinando o espectador, ao mesmo tempo. A resistência da crítica não passava de um mero protesto contra a mudança repentina do diretor, entretanto, quando estamos falando de uma obra-prima, nada consegue ofuscar os seus lampejos. O americano, começando pelos quesitos básicos, consegue levantar mais uma das produções que marcaram sua carreira. Por mais que o seu perfeccionismo, por vezes, fosse encarado de forma negativa, não dá pra negar que outro diretor dificilmente teria o mesmo apreço, seja com a filmagem, com a estética, ou até mesmo, com a escolha a dedo, do seu elenco. Pela frente das câmeras, brilhou Jack Nicholson, por trás das câmeras, brilhou um gênio chamado: Stanley Kubrick.

    Nota: 9

  13. Vc elogiou o filme o texto INTEIRO e não acha que é tudo isso não... Então tá...


     

    Não é porque eu estou elogiando o texto inteiro, postura que eu adoto em todas as críticas, deixando de lado os erros, que ele merece uma nota excelente.

     

    Eu escrevo apenas sobre os pontos positivos. Quando existe algum aspecto negativo que REALMENTE deve ser ressaltado, eu cito. A nota 7,5, pra mim, está de bom tamanho. Os elogios se resumem à isso. Se o filme fosse melhor, os elogios teriam uma intensidade diferente. Está muito justo para esse filme.
    luccasf2010-12-16 13:59:36
  14. Alien' date=' o Oitavo Passageiro (Alien)

    Depois de quase cair nas mãos de Roger Corman, grande realizador de filmes B, e por pouco não ficar a cargo de O'Bannon, que acabou no posto de roteirista, "Alien, o Oitavo Passageiro" (Alien, 1979) finalmente encontra o diretor ideal. Ridley Scott, que estreiou na direção de "Os Duelistas", produção que recebeu bons comentários, por parte da crítica, assume um projeto que mesclaria os traços da ficção científica, com o gênero terror. Tudo começou, quando o roteirista, Dan O'Bannon, depois de trabalhar com John Carpenter, em "Dark Star" (Dark Star, 1974), que se tratava de uma conclusão do seu curso de cinema, optou por resgatar a temática, entretanto, focando numa abordagem mais realista e apurada. 

     

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    A produtora FOX, envolvida com a obra, fez questão de dobrar o orçamento do filme, depois de ver o planejamento artístico do diretor. Poucos sabem, mas Ridley Scott é formado em design, no West Hartlepool College of Art, e isso, sem dúvida alguma, colaborou para que a obra tivesse uma estética, de forma geral, extremamente avançada, para a época.

    A vertente alienígena, até aquele momento, não tinha grande força, dentro do cinema. No entanto, é bom lembrar que, anos depois, diversos filmes começaram a surgir, dando destaque para o trabalho de John Carpenter, "O Enigma de Outro Mundo" (The Thing, 1982), que ainda é considerado, por muitos, sua obra-prima máxima. "Alien, o Oitavo Passageiro", tem a seguinte estória: sete tripulantes de uma nave comercial são acordados, depois de um bom tempo viajando. Eles acham que já estão chegando em casa, entretanto, o capitão descobre que a rota foi modificada, para checar um aviso de alerta, num planeta desconhecido. No começo, os tripulantes achavam que era um pedido de socorro, porém, com o passar do tempo, eles vão descobrir que lá, é o último lugar que eles gostariam de estar.

    Estrelado por Tom Skerritt e Sigourney Weaver, "Alien, o Oitavo Passageiro", além de inovar dentro do gênero, quebra o estereótipo da personagem feminina frágil e indefesa. O roteiro, que era tratado com muito apreço pelos roteiristas, principalmente por visarem esse projeto, há muito tempo, tem um primeiro ato lento, que não deve ser considerado como aspecto negativo, diferentemente do segundo ato. O desenvolvimento apresenta um ritmo incompatível com o que já foi apresentado, não aproveitando, por inteiro, as técnicas do diretor em criar cenas tensas, de forma incomparável. Um grande atrativo da produção, é o fato de que, justamente por ter uma temática pouco explorada, o espectador não consegue imaginar o que pode acontecer, nas cenas seguintes.

    Os primeiros minutos do filme são tomados por um silêncio perturbador, fazendo alusão ao próprio pôster do filme, que carrega a seguinte frase: "In Space no one can hear you scream". Ridley Scott faz questão de utilizar esse artifício em várias cenas do filme, principalmente, nas que são responsáveis pelo suspense gradativo. Quando a trilha sonora de Jerry Goldsmith não auxilia a atmosfera lúgubre, ficamos apenas com o ambiente emudecido, esperando por um movimento, ou por um som, a qualquer instante. Caminhando para o desfecho, Ridley utiliza, mesmo que rapidamente, a câmera subjetiva para dar um toque mais aterrador, na produção. É mais uma técnica que preencheria muito bem o suspense do filme, entretanto, o diretor optou por esconder a sua criatura, criando medo, sem ficar mostrando, exageradamente, a fonte disso.

    A direção de arte, indicada ao Oscar, demonstra o perfeccionismo de seus realizadores. Recriaram um ambiente inusitado, de forma encantadora e realista. Os corredores estreitos, e as salas apertadas trazem um clima claustrofóbico para o filme. A câmera sempre se mantém com os enquadramentos precisos, a fim de aprimorar essa sensação. A fotografia, principalmente nas tomadas externas, ganha destaque na utilização das luzes contrastando com a névoa, dando uma tonalidade azulada, que remete ao sombrio. Por fim, e não menos importante, temos os grandiosos efeitos especiais, que resultaram na premiação, no Oscar. Visualmente incrível, para a época. Takes deslumbrantes, que dão um toque luxuoso para a produção, trazendo mais um grande diferencial. O próprio desfecho tem uma das cenas mais antológicas da franquia, proporcionada pelos efeitos especiais, juntamente com o enquadramento perfeito.

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    "Alien, o Oitavo Passageiro" caiu nas mãos certas. Ridley Scott e seus profissionais dão forma para algo novo, dentro do cinema. Da ambientação minuciosa, à maquiagem da criatura. Os traços dos filmes B, acabam ficando para trás, graças ao investimento da produtora, e, obviamente, aos talentosos profissionais que extravasaram os limites do convencional, buscando uma nova visão do desconhecido, para o espectador. A ficção científica se misturou bem com o terror, e isso agradou diversos realizadores que ousaram utilizar dessa essência, anos depois. Poderia ter um aproveitamento maior, sem dúvida alguma, mas ainda assim, está acima da média. Um marco para ambos os gêneros.

    Nota: 7,5

    [/quote']

    7,5? Tá maluco? Alien é OP!

     

    Não daria mais que 7,5, por nada.

    Não acho que é tudo isso, não.
  15. Disseram que abriram mão do Campeonato Brasileiro, para se preparar para o Mundial. Enfim, o que realmente aconteceu? Desistiram do Brasileirão, e ainda por cima, fizeram uma partida vergonhosa. Se esse é o melhor time brasileiro, do momento, fico imaginando o pior...
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