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Forum Cinema em Cena

Gilberto_Train

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  1. Crítica entusiasmada, a do Sr. Villaça. Entusiasmada demais. Mas coloquemos a bola no chão por alguns minutos. Para começar, o roteiro dos irmãos Wachowski peca em muitos pontos. Primeiro, os diálogos - nunca vi diálogos tão... ingênuos, no pior sentido da palavra. Cada linha dos diálogos que se pretende "inspiradora" parace ter saído dos Minutos de Sabedoria. Não tenho nada contra diálogos ingênuos, acho que eles podem ter um efeito dramático capaz de comover a platéia; no entanto, existe um limite muito tênue entre a ingenuidade - que pode, por que não, encerrar alguma sabedoria - e a inverossimilhança. Infelizmente, esse é um dos calcanhares de Aquiles do filme dos Wachowski: eles escreveram pieguices, ao invés de doçuras ingênuas. No ato final, Speed faz o carro pegar CONVERSANDO com ele!? Se alguém acreditou naquela cena, espero que você seja muito feliz com o que o Papai Noel e Colhinho da Páscoa te trazem. Depois, os personagens - tremendamente mal construídos, unidimensionais, feitos de papelão. Você não acredita em nenhum sentimento que os personagens queiram passar. Você simplesmente não consegue entrar na ideia de que Speed ama tanto as corridas, ou de que o Corredor X é realmente atormentado pelo seu segredo. John Goodman e Susan Sarandon, atores de talento incontestável, fazem o que podem, mas seus personagens são tão burocráticos que não há talento que sustente personagens desse tipo. Matthew Fox parece visivelmente constrangido na máscara do Corredor X. Zequinha e Gorducho, que deveriam servir de alívio cômico para o filme da mesma forma que no desenho animado, resultam em apenas mais uma dupla de trapalhões-padrão - suas "peraltices" são as mesmas em todas as comédias que tenham macacos como coadjuvantes. E o pior, nem ao menos são engraçadas. Paulie Litt tem tanto carisma quanto Alex D. Linz - ele não é aquela criança cuja traquinice faz você sorrir entre divertido e exasperado (como era no desenho, aliás) e sim aquela que faz você querer aplicar no mala-sem-alça algumas chineladas. E, sem personagens críveis, que não conseguem estabelecer nenhum elo de empatia com o público, a própria trama de "união familiar" perde-se no vazio, sem convencer ninguém. E o visual? Ah, sim, o velho argumento é esse: "Mas eles quiseram fazer algo igual ao desenho animado." Bom, a minha resposta de quem cresceu assistindo ao desenho animado é: "Volte e assista o desenho outra vez." Por que Speed Racer tinha uma atmosfera obviamente cartunesca, mas não era aquela "bad-trip" de ácido que o filme mostra. "Bad trip" de ácido que, depois de 15 minutos, se torna bem irritante, e que tende a se tornar um espetáculo de luzes e som que parece querer disfarçar urgentemente a falta do que dizer. Um agravante reside no ato final, quando o filme até consegue fazer você se envolver e se empolgar um pouquinho mais, já que a corrida final consegue emocionar a ponto de torcer pelo triunfo do herói (que, obviamente, virá). A indulgência do espectador desaba, porém ao vermos os créditos finais mais ridículos de todos os tempos, acompanhada de uma horrível versão "moderninha" do tema do desenho animado, acompanhado pelas macaquices de Zequinha, totalmente despropositada e fora de lugar. E a trama do "capitalismo malvado, imperialista e cruel" soa uma grande hipocrisia num filme que claramente almeja ser um sucesso de bilheteria e captar muitas verdinhas para o estúdio. Nada de errado nisso, todo filme deve ter por objetivo o sucesso tanto financeiro quanto artístico, mas... vamos admitir que alguém andou vendendo a peso de ouro a própria integridade no momento em que se recusou a investir mais em trama e em personagens para criar um espetáculo visual ralo e desprovido de maiores emoções. Vamos concordar em um ponto: como eu não me canso de dizer, a estrutura narrativa é interessante, sem dúvida, com idas e voltas no tempo, revelando aos poucos segredos relevantes para a trama. Mas daí a chamar isso de "vanguardista"... bom, tem uma longa distância. Em primeiro lugar, por que o recurso não é exatamente original e qualquer pessoa com conhecimento médio de cinema poderia citar inúmeros exemplos de filmes que se valem de uma narrativa não-linear, começando por Cidadão Kane (Citizen Kane, 1941), até os mais modernos, como Amnésia (Memento, 2000), Batman Begins (2005) ou Kill Bill (2003/2004), do nosso amigo Quentin Tarantino. Ma, em Speed Racer é um recurso que é usado a serviço do nada, sem um núcleo no qual se ancorar. O confete que se atira sobre qualquer coisa que os Wachowski façam tem apenas uma origem: Matrix (The Matrix, 1999). Uma ficção-científica impactante, inovadora e provocativa. Um filme tão extraordinário que ninguém percebeu que suas duas seqüências não passavam de filmes de ação bombásticos tradicionais, despidos do verniz transgressor do original. O impacto que esse filme provocou parece ter anestesiado o bom senso principalmente da crítica especializada, que de repente recebe tudo que eles dirigem como se fosse a segundo vinda de Neo. Certo, muitos dirão que o desenho também era ingênuo e tinhas personagens estereotipados e unidimensionais, e isso e aquilo. Pode até ser - mas o desenho tinha algo que esse filme não tem: coração, sinceridade, e não apenas dois cineastas superestimados (pelo menos, até o momento) brincando com pixels, que resulta em um filme frio e vazio. Em algum momento, eu chamei a crítica do Sr. Villaça de "imbecil". Posso ter errado ao utilizar esse termo - ela é pura e simplesmente, irracional e, ao meu ver, embarca no "calor do momento" - mesmo em um filme que é, como eu já disse, gélido, para fazer uma análise superficial e tão pirotécnica quanto o filme ao qual se refere.Gilberto_Train2011-01-04 21:29:25
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