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Forum Cinema em Cena

rpalladino

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  1. 127 HORAS Não tão brilhante para ganhar um Oscar, mas um bom filme que traz força e novidade a uma história humana de sobrevivência, transportando o espectador para dentro da angústia do protagonista. O título do novo filme de Danny Boyle, controverso vencedor do Oscar por "Quem Quer Ser um Milionário", surge na tela depois de decorridos vários minutos da filme. Ele aparece como um cronômetro que nos informa o início e a duração do inferno que aguarda o protagonista vivido por James Franco (de Homem Aranha). 127 Horas conta a história real de Aron Ralston, um jovem aventureiro americano apaixonado por esportes radicais que ficou preso sozinho a uma pedra em um canion nos EUA durante mais de cinco dias em 2003. Sua experiência em si, por mais dramática que tenha sido, parece se resumir a um enredo bem simples, que à primeira vista parece difícil de sustentar em um longa metragem de ficção. Talvez uma escolha mais óbvia teria sido fazer um curta, ou um documentário com entrevistas, estudo do ambiente e das condições de segurança e reconstituições do que ocorreu. Mas é aí que se sobressaem os trabalhos do ator James Franco, do diretor Boyle, e de seu co-roteirista Simon Beaufoy, que fazem do filme de pouco mais de 90 minutos uma experiência angustiante e claustrofóbica que dá uma pequena noção do que foi para Ralston o passar das 127 horas do título. O roteiro, baseado em livro autobiográfico, passa rapidamente pelos momentos que antecedem a aventura de Aron, desde seu despertar naquele dia até o início da jornada, para nos dar a exata noção do jeito improvisado como ele se lança a uma empreitada tão perigosa sem ao menos reunir todo o equipamento necessário ou avisar quem quer que seja. Sua autoconfiança é pontuada pela trilha alegre de rock que parece vir direto de seu MP3 player. Os momentos de descontração que Aron passa com duas aventureiras perdidas no canion serve para informar o espectador que ele, apesar de inconsequente, conhece bem o que está fazendo e o lugar para onde está indo, além de oferecer contraponto à angústia que terá início nas próximas horas. Com o personagem já preso ao que pode vir a se tornar sua sepultura, cresce na tela a força da atuação de James Franco, oscilando com perfeição entre a razão e o desespero até começar a flertar com a loucura. A trilha às vezes se perde um pouco e parece deslocada. Talvez o silêncio total dissesse mais do que qualquer trilha a partir deste momento. Mas o que faz de 127 Horas um filme diferente do comum é a inventividade do diretor, que desde o primeiro quadro do filme decide posicionar sua câmera em ângulos interessantíssimos de forma a transformar o espectador em algoz do protagonista. Percebendo que a história que está sendo contada é essencialmente a de um homem só em uma luta contra o meio, a natureza, é exatamente aí que o diretor demonstra extrema inteligência ao inverter o movimento. Neste filme, não é o homem que se move em meio à natureza, é ela que se move ao redor dele, e os enquadramentos da câmera deixam isso muito claro. Ele transforma a todos nós, espectadores, na água que está acabando no cantil, na formiga que passa, no corvo que aguarda a morte para se alimentar, na própria pedra. Em 127 horas, somos a pedra que quer matar Aron Ralston. E como estamos assistindo do outro lado da tela, isso acentua a sua incapacidade de fazer qualquer coisa para mudar a situação. A sensação de prisão que toma conta do filme é pontuada gradualmente pelas memórias e alucinações do protagonista, à medida em que ele vai ficando mais fraco e delirante, e vai se percebendo cada vez mais perto da morte. Esses pensamentos servem como escape para que saiamos por alguns momentos do buraco e conheçamos um pouco mais o jovem Aron e tudo o que ele está deixando para trás. Mas a cada vez que voltamos do sonho e acordamos de novo presos junto com ele, a sensação de desespero é ainda mais urgente. Com a duração e o clima ideais para prender a atenção do início ao fim, 127 Horas consegue fazer de uma história forte e difícil, até pela simplicidade, um bom filme onde somos convidados a ser a natureza implacável e seca do deserto, mas acreditamos até o fim no ser humano e sua capacidade de sobreviver.
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