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Everything posted by SergioB.
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401) "Despedida de Ontem" é o primeiro longa do cineasta e, mais que isso, um dos maiores intelectuais alemães, Alexander Kluge. Um dos grandes nomes do Novo Cinema daquele país, naquela onda que abrangeu vários países do mundo nos anos 1960, da República Tcheca ao Brasil, pode-se dizer que ele é um Godard teutão. Um filme bastante difícil, quase sem fio narrativo, no qual o cineasta dirige sua irmã. "Conta" , bem entre aspas, a história da tentativa de ressocialização de uma jovem que furtou um casaco de pele, foi presa, e entrou em um período de custódia, no qual precisa arranjar uma ocupação, voltar aos estudos, ou algum outro jeito recomeçar. Ela tentará isso tudo, estudará Filosofia, por exemplo, ou tentará um emprego menor, ou ainda começa um romance com um funcionário do governo. Aos poucos, vamos entendendo que ela povém de uma família judia, que perdeu, obviamente, tudo com a guerra, e está em deslocamento, do leste para o oeste. Livre. Intensa. Despreocupada com o futuro. E seguindo uma singular teoria de vida: Aprender a desaprender. A questão é que isso que eu escrevia cima não é o filme, é quase uma forma errônea de explicar o filme segundo uma análise comercial. O filme é muito elíptico, críptico, cheios de cortes bruscos, inserção de erros de gravação, objetos da própria filmagem à mostra, idas e vindas de montagem... Realmente, um trabalho fora da curva, uma maneira de enxergar o cinema fora do padrão comercial. Não gostei, mas valeu a pena conhecer. Como a protagonista, aprender a desaprender o que o cinema convencional nos oferece.
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Meu comentário, @Muviola: " Muito possivelmente, o melhor filme do ano!!!! Desde Berlim, "First Cow" tem ganhado elogios entusiasmados mundo afora. Fui conferir a crítica do Pablo e ele chamou de "obra-prima". Este novo filme de Kelly Reichardt (assinando também roteiro e montagem) continua em seu estilo minimalista, de poucas palavras, lento, mas tem uma história muito melhor do que os outros filmes dela, na minha opinião, muito mais interessante, ainda que seja um fiapo de história: a amizade entre dois homens, que roubam leite, da primeira vaca trazida à região, para fazer e vender bolinhos na feira, no Oregon de 1820. O filme, no entanto, não começa naquela época de colonização. Começa 200 anos depois. E, de cara, saberemos o destino deles. Os dois atores protagonistas, John Magaro e Orion Lee, estão muito ternos e cativantes. No meio da brutalidade dos coletores de pele, no meio da brutalidade existencial dos primeiros habitantes da região, eles se destacam pelo contrário: falam manso, agem delicadamente, se tratam bem, o que ganha o público de cara; embora, na rigidez da palavra, eles possam ser enquadrados efetivamente como dois ladrões. A mim me pareceu um filme bastante político, que discute "como se ganha dinheiro". Os dois protagonistas roubam o leite para produzir, para criarem algo novo, visando a construirem futuramente um sonho. Completamente diferente dos outros homens locais, esses sim, efetivamente violentos, que enriquecem diretamente da "matéria-prima": estupram a terra, matam os animais, cortam as árvores, subjugam os índios num capitalismo de exploração. Os protagonistas não; eles sabem fazer alguma coisa. Só não têm os meios básicos para começar. Fotografia esplêndida, e desenvolvida em razão de aspecto de 1:31, da chamada "janela clássica", como uma foto antiga. Um design excelente, que reproduz não só um vilarejo de caçadores, mas também o interior das choupanas, e os precários instrumentos de uma cozinha rústica (adorei ver o "fouet"). Vai ganhar todos os prêmios Indie, se se lembrarem desse filme, lançado tão precocemente. Um adendo: O título me remete não só à primeira vaca que chega à região, mas também o "First" pronome de tratamento, como Primeiro-ministro, Primeira-dama, etc, pois é comentado que a vaca do filme tem uma linhagem "nobre". A qual o chinês diz valer mais do que ele. Amei."
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400) Uma analogia com a música...Quero falar sobre o mal que Elis Regina, Marisa Monte, e Cássia Eller causaram à música brasileira. O mal, entendam bem, suas centenas de filhotes indesejados. Há uma garota em minha cidade, por exemplo, que canta todo o repertório da Elis...exatamente como a Elis faria... vestindo-se exatamente com aquele look 1970`s...e todo mundo acha o máximo! "Ôôô Madalena!" Não tenho paciência! São dezenas de imitadores de vozes, Brasil a fora. Por quê? Em certa fase da vida, é preciso queimar os ídolos, se não você não sai da sombra. No cinema existe outra descendência maldita, a que bebe em Fellini. "The Hand of God"/ "A Mão de Deus" é o candidado da Itália ao Oscar, dirigido por Paolo Sorrentino. Um filme autobiográfico, que costura memórias e intimidades, dores e alegrias, da juventude dele em Nápoles, na época em que o jogador Diego Armando Maradona foi jogar no time local. O craque argentino acabou se tornando o máximo ídolo do diretor, a quem, eu me lembro, ele agradeceu no palco do Oscar, ao receber a estatueta por "A Grande Beleza". Tudo é muito pessoal, mas faltou uma "ponte" com o espectador. Algo que tenha um significado transcendente, para além da confissão. A primeira parte é comédia; FORÇADA e sem graça, aquele jeito de encarar as pessoas como cartuns. A segunda parte tem tintas mais dramáticas. E uma cena patética, de enorme mal gosto. A rivalizar com "Spencer" qual tem a pior cena do ano. Mas o maior defeito pra mim é querer ser Fellini. Eu comprei a ideia do cinema de Sorrentino há alguns anos, mas já me cansei dela. Amo alguns filmes de Fellini; como "Amarcord" ou"Satyricon"; mas ele nunca foi meu diretor italiano preferido. Não teria por que eu gostar das cópias. Dito isso, tecnicamente, reconheço, o filme é muito bem-feito.
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399) Do nada, "Estrada Para Perdição". Acho muito legal o filme não ser sobre a máfia propriamente, mas sobre relacionamento entre pais e filhos. Dito isso, porém, a história nem é tão legal assim... Mas talvez um dia leia a HQ em que foi baseado. O melhor sem dúvida é o combo visual: Fotografia (Conrad L. Hall , pelo qual ganhou um Oscar póstumo. Seu terceiro no total. Teria votado em Edward Lachman por "Far From Heaven"); Figurino (Albert Woslky); e Design de Produção (Dennis Gassner. Continuo afirmando que uma estatueta para ele é pouco. Fera demais). Nessa revisita, percebi o quanto o filme é silencioso. Não há um morticínio gratuito, explosivo. Nos últimos 15 minutos, inclusive, quase não há falas. É só a bela trilha do Thomas Newman. Conclusão: Não é tããão legal, mas é muito bem-feito.
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398) Atrasadão para conferir "Free Guy: Assumindo o Controle", novo filme do canadense Shawn Levy, mas finalmente o fiz. Cumpre bem a proposta de ser um leve entretenimento em vez de querer ser "ficção científica". Não tem essa pretensão. Bem como não tem a pretensão de ser drama, pois o maravilhoso "O Show de Truman", sua óbvia inspiração, já a faz. É comédia, pura comédia, e, escalado para ela, Ryan Reynolds. Eu adoro o humor dele. Eu gosto desse humor nonsense, lógico-verbal, dessa bobeira expressada até com doçura...Como sempre, dei risada de muitas falas. Todavia, tenho a impressão que o roteiro do filme funciona melhor até metade do segundo ato, depois se descontrola. Agora o grande show fica por conta da equipe de Efeitos Visuais, que provavelmente concorrerá ao Oscar. Será a décima primeira indicação de Daniel Sudick, um dos responsáveis pelos filmes da Marvel, e que nunca ganhou a estatueta. O outro responsável é Bryan Grill, dono de duas indicações na categoria. No ano de "Duna", penso que eles vão esperar mais um ano...
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Os últimos 20 minutos são ridículos. Eu, sinceramente, ri.
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397) Pablo Larraín parece desenvolver seu cinema ao redor de uma figura atormentada, seja este um maestro enlouquecido, seja um dançarino assassino, seja um sacerdote perto do pecado máximo, seja uma primeira-dama posta sob a mira, seja uma princesa não amada. "Spencer" tem o objetivo de transformar uma fábula real em conto de terror psicológico, e acho que consegue isso em vários momentos. Goza portanto de uma intenção salutar, pois no mundo de "The Crown" e outros, penso que a maioria da audiência está em dia com biografias históricas sobre a família real britânica. Porém, estava achando estranho a nota baixa do filme, sua pouca indicação a prêmios, e o pouco respaldo de gente que eu admiro, e agora eu sei o por quê. O terceiro ato do filme é PATÉTICO! Não tem outra palavra. São 3 ou 4 cenas que eu fiquei PASMO. Gosto de audácia, mas o filme ultrapassou o limite do crível. Há uma expressão popular em Minas Gerais assim: "Tem uma barra, e você está forçando ela". Falam isso aí nos estados de vocês? Eu ri alto de uma dessas cenas. Ri do ridículo da situação. Com os últimos 20 minutos indo ladeira abaixo, "Spencer" vem perdendo força na corrida de prêmios em várias categorias as quais poderia ser indicado, como Fotografia, Design, ou até o impecável Figurino. Kristen Stewart é boa atriz, sim. Mas até a minha percepção do trabalho dela ficou prejudicada pelo desenvolvimento do filme.
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396) A Sandra Bullock e o Ben Affleck têm dois dos melhores Relações Públicas de Hollywood, tanto que os profissionais tentam de todo jeito emplacar seus nomes na corrida ao Oscar 2022, mesmo com filmes menores, sendo que, por enquanto, só ele conseguiu mais resultados. "Imperdoável" é a tentativa de Bullock, por esse filme da alemã Nora Fingscheidt, que já está em primeiro lugar dos mais vistos na Netflix. Uma história de ex-detenta tentando reconstruir sua vida. Cada cena é concebida para uma mini explosão de emoção. Tem a cena do preconceito aleatório. Tem a cena do descontrole emocional quebrando o cenário. Tem a cena da tentativa amorosa. Até o título do filme é rotineiro. E assim ele vai, marcando vários clichês do gênero, para ao fim, tentar uma reviravolta - que, notem, também é um clichê - e satisfazer o público. Meu maior problema com o filme nem foi essa demarcação do já visto. Não gostei da atuação da Sandra. Simples assim. Não senti a tristeza da personagem, só constatei o cenho franzido (até onde o Botox permite) da personagem. Viola Davis tem um papel menor, mas consegue passar emoção em tudo que faz.
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395) Não tenho muito a escrever sobre "Belfast", filme semi-autobiográfico de Kenneth Branagh, e que pode ser o papa-títulos da temporada de prêmios, já que passou no primeiro teste, ao vencer o Prêmio do Público em Toronto - sempre um bom indicador. É um filme bem-feito. Sem muitos erros. Curto. 98 minutos. Já li por aí que seria o terceiro filme mais curto a vencer o Oscar de Best Picture. É de agrado universal. Mas...Pega um contexto histórico difícil, áspero, e o infantiliza um pouco. Infantiliza não por que o protagonista seja uma criança, mas por causa do tratamento mesmo. Parece esvaziado de algo. Falando do protagonista, o menino Jude Hill é um espetáculo, supercarismático. Então a direção usa e abusa de closes no rosto expressivo dele, aliás, dando até relativamente pouco espaço para os adultos. Ciarán Hinds, que vive o avô, também se beneficia do destaque do menino, pois divide com eles cenas deliciosas de conselhos amorosos. Judi Dench pouco tem a fazer no filme. Caitriona Balfe e Jamie Dornan estão muito bem, lindos em preto e branco, mas não lhes indicaria a prêmios. São boas interpretações em papeis meramente funcionais. A Fotografia é do cipriota Haris Zambarloukos, que tem seus bons momentos, mas nada de mais. Não há um gradiente interessante nas duas cores, a meu ver. É gostosinho de ver. Mas não me diz nada. Vencer Melhor Filme é insano. Ou seja, tem chance. Kenneth Branagh nega que tenha feito o filme inspirado em "Roma". Acredite quem quiser.
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Diferente de você, perdi as contas de quantas vezes vi o original. Certamente, está entre os meus dez filmes preferidos da vida. Só a cena de "América", com a Rita Moreno, justifica todas aquelas dez estatuetas do Oscar. É fantástico aquele número! Tenho certeza que a Ariana deBose deve ter arrebentado também nesta cena, o que já a catapultaria fácil para o Oscar de Coadjuvante. Vou ter que ver o filme em inglês, mesmo, pois parece que a tradução das canções para o português ficaram ridículas, e ver dublado nem pensar.... Outro dos meus medos é a fotografia d Kaminski, pois acho que ele "rebusca" demais as cenas, tipo, com pontos de luz no fundo, quando trabalha no colorido.
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394) Um filme maravilhoso que caiu no esquecimento dos cinéfilos? "Meu Pai, um Estranho"/ "I Never Sang for My Father", do diretor Gilbert Cates. Foi o "Meu Pai" dos anos 1970 (ainda que tenha sido gravado em 1969). Um belo roteiro sobre um filho que cuida de seus pais idosos, mas que precisa - por ele mesmo - alçar voo, mudar-se para a Califórnia e engatar uma nova relação amorosa. No início, nos preparamos para uma coisa melodramática, mas o filme surpreende pelo quanto é realista, ácido, triste, e verdadeiro. Um assunto muito difícil, que ninguém gosta de falar: a necessidade dos filhos "abandonarem" os pais, quando não em termos práticos, mas quando sempre em termos psicológicos. Amei! Os atores Estelle Parsons, mas, principalmente, os indicados ao Oscar em 1971, Melvin Douglas e Gene Hackman, arrebentam! Não tem outra palavra. Gene Hackman, em uma feição doce e submissa, está particularmente incrível. A melhor cena, em minha opinião, é entre o personagem dele e o da irmã que discutem muito realisticamente o que fazer com o futuro do pai. Uma conversa tão difícil quanto necessária, que fica impossível não se identificar pelo grau de verdade da cena. Há vários detalhes de composição dos personagens que chamaram muito a minha atenção, como o protagonista estar apaixonado por uma mulher, que, no final do filme, descobrimos ter o mesmo nome da mãe dele. Muito bem escrito.
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393) Revi "Paranoid Park", lançado e premiado em Cannes 2007, este que na época foi tido como um dos melhores de Gus Van Sant. A intenção era apreciar a alternância das lentes de Super-8, digital, e em 35 mm, na Fotografia do australiano Christopher Doyler, fotógrafo do Wong Kar-wai. Mas acabei refletindo sobre a inexpressividade do ator Gabe Nevin. Geralmente odiamos a inexpressividade em um ator. Mas aqui a dele casou perfeitamente com a atmosfera do filme. Até mesmo o local de skate, o tal "Paranoid Park", geralmente seria usado por outros diretores como um point para altas discussões entre eles. Mas aqui não. Os jovens nem se falam. Ou trocam só um "coé". É o máximo da conversa adolescente. Sem nada pra dizer, dizendo tudo. Dizendo tudo, pois tudo está acontecendo no corpo. Como a namorada dele, que ele detesta, louca para perder a virgindade e assim ter assunto com as amigas... Ou na cabeça do garoto, sofrendo com a separação e depois com o sentimento de culpa.
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O elogiadíssimo "O que Te Pertence", do americano Garth Greenwell. Um professor americano apaixona-se por um michê na Bulgária. O desencontro do idioma somado ao desenconto amoroso.
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@Jorge Soto, sua digníssima tem muito bom gosto para filmes! hehe
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Tô decepcionadasso com todos aqui que não viram ainda "Ataque dos Cães"!! Cês tão perdendo rude demais!!!!
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392) Aos poucos vou vendo todo o Decálogo, a série baseada nos Dez Mandamentos para a tevê polonesa, de Krzysztof Kieslowski. Hoje foi o Episódio 8, "Não Levantarás Falso Testemunho". A idéia é fantástica. Durante a guerra, tentam esconder uma garotinha judia em uma casa de um casal católico, mas eles recusam a ajuda, alegando que não poderiam batizar a criança como católica ou criá-la por um tempo, pois incorreriam em falso testemunho. Falso Testemunho à lei de Deus e à Lei dos Homens. Quarenta anos depois, no entanto, a esposa se torna uma professoa de Ética na Universidade, e a garotinha, que acabou indo parar nos Estados Unidos e virando tradutora, se reencontram na Polônia comunista. A questão é quando vale a pena mentir. Se esse Mandamento tem que proteger a verdade acima mesmo da vida humana. Do marido da senhora, já falecido, sabemos por ela que fora um membro da Resistência. Mas, todavia, fraquejou naquele momento. Pena que o filme é todo "indireto". A ação é com as duas atrizes já velhas. Sabemos do passado pelo diálogo. Uma pena. Teria sido efetivamente maravilhoso se víssemos a ação direta da recusa de ajuda. Ficou algo teórico. Uma discussão ética. Assim como àquelas que se passam nas aulas a senhora na Universidade, com o signo, ou não, da hipocrisia. Por trás de tudo...os católicos fizeram poucos pelos judeus. É essa a crítica subjacente. Como em toda a série, o filme é mais um passado em um conjunto habitacional comunista. Uma aura pesada em cima.
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391) Um filme de vampiro bem diferente, isso é certo. É "O Vício", de 1995, de Abel Ferrara. O vampirismo como tese filosófica. Uma estudante de pós-doutorado em Filosofia em Nova York, mergulhada em debates acadêmicos sobre o Vietnã, exposições fotográficas sobre o Holocausto, leituras de Sartre ou Heidegger, é mordida por uma mulher misteriosa em um beco escuro, e se transforma em uma mulher sedenta por sangue. Mas não lhe crescem os caninos, nem sua imagem some no espelho, nem tem pavor do alho, suas sede por sangue - se bem entendi, e isso é minha interpretação bem pessoal - é uma sede pela matéria em vez de uma busca pela metafísica. Assim, como o pensamento - grosso modo - de Heidegger. Sua mudança comportamental assemelha-se a um surto psicótico (ou a um excesso de conhecimento), e assusta suas amigas, professores e ambiente acadêmico, que serão suas futuras vítimas. O filme é em preto e branco, o que deixa o sangue, agora preto, como uma insinuação menos gráfica, e mais venenosa. Como se algo ruim saísse das pessoas. É um filme ruim? Não. Se eu gostei do filme? Também não. Na verdade, não gosto muito da obra do Ferrara. Embora deva conhecê-la melhor.
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390) Decepção da temporada para mim. "King Richard", no Brasil, claro, com o subtítulo bobo, "Criando Campeãs", é um filme típico daquilo chamado Oscar-Bait. Uma (duvidosa, questionável) história moral, de superação, com cenas sentimentais. Sinceramente, gosto do Will Smith como ator, acho que ele está excelente tanto em "Ali", quanto em "The Pursuit of Happyness", mas, especificamente, neste filme, pelo qual provavelmente ganhará o Oscar, não vi NADA de mais. Nada. Ele parece preso na caracterização física de um homem de meia-idade meio cansado, com uma postura meio corcunda...Não me emocionou em nenhum momento, mesmo nas suas duas principais cenas. Já a atriz Aunjanue Ellis, como a mãe, e as atrizes mirins, como as brilhantes atletas, estão formidáveis, mas principalmente a Ellis, que deve concorrer ao Oscar de Coadjuvante. Em qualquer cena dela, a menor que seja, ela brilha. Como um favorito sentimental, o filme poderia levar Reinaldo Marcus Green até à indicação de Direção. Mas agora acho que a competição ficou mais acirrada, entre gente mais tarimbada. De forma nenhuma interpreto o que vi como uma história "do poder da união familiar". Fico sempre perplexo diante de pais-empresários, mesmo que o filme tente a todo momento contornar uma visão mercantilista dos filhos. Não me convenceu. Parece, ao contrário, um cara que tenta depositar nos filhos seus insucessos pessoais, como uma forma hereditária de redenção. A outra indicação ao Oscar - imerecida - será para Beyoncé, pela boba canção dos créditos, "Be Alive".
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389) Um dos filmes que mais ficou em cartaz nos cinemas do Brasil, "Medos Privados em Lugares Públicos", de 2006, é um trabalho muito menos "cabeçudo" de Alain Resnais, muito mais universal, mais popular, e nem por isso menos interessante enquanto cinema. O texto vem de uma peça teatral, mas foi muito bem adaptada. O texto é precioso, muito engraçado e de bom gosto. Os seis atores estão magníficos, fica difícil destacar um trabalho melhor, e tipo, a atriz que ganhou Veneza, Laura Morante...eu teria dado o prêmio à maravilhosa Sabine Azéma. Ou a todos! Estão, realmente, todos excelentes. Seis vidas se cruzam na Paris, "de dentro" dos ambientes. Não há uma externa. Seis pessoas solitárias que vão se conhecendo e interagindo, e deixando claro como nós nos libertamos diante de "desconhecidos", mais do que defronte a quem nos é próximo. Maravilhoso!
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388) E não é que é bom mesmo? Vi de madrugada esse "Amores Eletrônicos", do diretor de "As Tartarugas Ninja", Steve Barron, e me surpreendi bastante. Muita coisa boa nele. Além de cumprir muito bem sua proposta de ser uma comédia romântica sci-fi, com aquele carisma enorme dos anos 1980, ainda se mostra muito bem dirigido e montado. O trabalho de câmera é muito fluído ao redor do pc, rápido, criativo; bem como o design das telas de informática é muito bom para a época...Me surpreendi bastante. Muito boa a trilha sonora, também. Agora fiquei com inveja do Soto que a tem em vinil. Tem aquela influência dos teclados eletrônicos, de bases pré-gravadas... E que divertido no começo do filme o protagonista ir a uma loja e a vendedora lhe oferecer um produto da Apple, e ele não se anima! Risos Pessoalmente, me empolguei com a ótima cena de ele montando o pc pela primeira vez. Acho que é o primeiro filme que eu vejo que conseguiu demonstrar aquela sensação curiosa de alegria, de descoberta, e de um minireceio, que eu tive quando adquiri meu primeiro pc, no distante 1998. Ótima dica!
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Da escrita refinada e transparente do israelense Amós Oz, "Não Diga Noite". Uma indicação literária que recebi no final da adolescência, anoitei a lapis no tampo de uma velha mesa, mas nunca a cumpri. Chegou a hora. Marido e mulher dividem a narração sobre os problemas de um casamento, quando um deles decide construir um abrigo para dependentes de drogas.
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387) Os diretores do oscarizado documentário "Free Solo", Jimmy Chin e Elizabeth Chai Vasarhelyi, assinam para a National Geographic outra proeza: a história do resgate dos meninos da caverna inundada na Thailândia. Seguramente, a história mais emocionante que o mundo viveu na última década - não consigo pensar em nenhuma outra situação que se equipare. "The Rescue" tem menos de cinema do que o doc anterior, e mais de um ótimo programa de tevê tão comum ao canal. Mas nem por isso deixa de ser emocionante. Tudo na operação de resgate foi filmado. Até o fundamental, o primeiro encontro dos mergulhadores com os meninos famintos, isolados. Disse que tudo foi filmado, mas não pelos diretores obviamente, né? É um trabalho de arquivo, portanto, de alinhavar histórias, imagens, cenas das tevês locais, ou mundo afora. Nesse sentido, como linguagem, gosto menos. As cenas do resgate em si, dentro das estreitas passagens inundadas, com os meninos sedados, é muitíssimo tensa, e olha que sabemos o final! Por outro lado, não curti algumas poucas encenações. Estranhei não haver nenhum destaque, nenhuma menção, para a figura do técnico, do professor de futebol. Ele que ao que me lembre segurou o ânimo, e o mental, dos garotos. O foco é nos mergulhadores. Eles são as estrelas do doc. "The Rescue" tem ganhado prêmios importantes, como o do público em Toronto, bem como entrou na lista do NBR. Penso que deve entrar para a lista do Oscar 2022. Ao final rola uma canção emotiva de Daniel Pemberton (indicado pela música de "Os 7 de Chicago), performada pelo rapper Aloe Blacc, que destaca fazer do impossível possível. Será o favorito emocional de muita gente.
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Nunca nem ouvi falar! Vou procurar. @Jailcanteé nosso mentor dos anos 1980!
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386) Sou fã da série "Shaun, o Carneiro", mas nada se comparado ao meu pai. Ele ama os desenhos, tanto quanto uma criança. São as duas fases da vida se igualando, né? Quanto aos filmes, os dois indicados aos Oscar, acho o primeiro hilário, e não gostei do mais recente. Neste fim de ano, vem a Aardman com um curta de animação natalino, para o fim de ano da Netflix, dirigido por Steve Cox (que é o encarregado recente da série), que provavelmente será indicada ao Oscar também na respectiva categoria. É "Shaun, o Carneiro: Aventura de Natal". Com a excelência técnica de sempre, e sem uma palavra, a animação conta mais uma confusão na fazenda, às vésperas da realização de uma feira de Natal. É bem divertido, com todos os elementos principais do desenho funcionando bem, mas não é exatamente para grandes gargalhadas (só dei uma, ao catar a referência a "Rambo"). Porém, é uma eficiente história de fim de ano, com uma crítica subjacente ao consumismo e a vaidade dos homens, em detrimento da simplicidade no viver.
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385) Um dos primeiros sucessos comerciais de Fassbinder, "O Comerciante das Quatro Estações"/ "O Mercador das Quatro Estações", de 1971, mas creditado como 1972, deu uma recuperada no meu ânimo quanto ao cinema dele, depois de minha péssima experiência com o último filme "O Assado de Satã". É um bom filme: a jornada moral de um homem desprezado por todos ao redor, por sua mãe, esposa, família, que tem sua derrocada começando com a perda do cargo na polícia (arranjada, uma cilada), passando pela traição marital, até fulminar no alcoolismo. É desprezado pela mãe e família burguesa por ter que trabalhar como um vendedor ambulante de frutas; desprezado pela comunidade por, pasme!, ele ser baixo e a esposa alta; desprezado pela mulher que o trai, e o engana de vários modos...Uma coleção de pequenas ruínas. Quantos homens derrotados, sem autoestima, permeiam a filmografia dele? Vários, a maioria. Mais importante, como cinema, é ver esse filme como um parente de um dos filmes de outro alemão, Douglas Sirk, pela proximidade com o melodrama familiar, e se distanciar, assim, por um breve momento, da estética teatral dos filmes dele do início dos anos 1970. O ator Hans Hirschmüller está excelente. Gostei moderadamente.