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Pequenas Causas Cinematográficas


Nacka
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É... Vejo que nas últimas horas o julgamento passou meio que por uma virada de argumentos, obrigando o júri a pensar com mais carinho na sentença... Só esperamos que a justiça seja feita nesse que foi, muito provavelmente, o primeiro julgamento na históia que teve um acusado sem advogados de defesa e acusação previamente escalados...06

 

The Spartan
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Ontem, pra variar, eu tive insônia e fiquei navegando à deriva pela rede até entrar no sítio da Slant Magazine, que eu visito regularmente pelos seus excelentes comentários sobre cinema e música. O editor da Slant é o Ed Gonzales, o único crítico de cinema da atualidade cujos textos eu faço questão de ler, como já havia afirmado isso em outros tópicos.

 

Bingo! Ed havia escrito uma crônica sobre A Paixão de Cristo, ainda em 2004, que eu não conhecia. Meus sentimentos sobre o filme são quase idênticos aos dele (como de costume), com a diferença do excepcional uso de palavras que ele faz. Esse cara não é menos que brilhante.

 

Esse texto, traduzido e transcrito abaixo, sintetiza tudo o que eu penso sobre a Paixão (minha imagem é um pouco pior que a dele, na verdade). A superficialidade psicológica, a catequese a fórceps, a subestimação do espectador, está tudo aí. Mais ainda, demonstra de uma maneira que eu não havia conseguido o quão preconceituoso e misógeno Mel Gibson se revelou com este filme.

 

Deu um trabalhão traduzi-lo (o original em inglês vem logo em seguida) e ainda assim ficou muito aquém do material original, mas vale a pena postá-lo aqui, mesmo com todos os pontos de reputação que provavelmente vão me tirar (mais que os já retirados) talvez em razão de eu supostamente estar questionando a fé cristã - o que é absurdo, pois ela não se confunde com sua interpretação para o cinema e este sim é o debate. Deleitem-se.

 

O Cristo Embriagado de Amor de Mel Gibson*<?:namespace prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" />

 

Há uma cena na Paixão de Cristo de Mel Gibson na qual a multidão do lado de fora do palácio de Pôncio Pilatos deve decidir entre um Jesus Cristo livre ou um assassino beijoqueiro de língua e enlouquecido que poderia muito bem ser um parente distante do diabo da Tasmânia. Em certos momentos o filme lembra um esboço de comédia ruim, com os atores tentando desesperadamente transcender seus respectivos personagens unidimensionais, mas apenas nesta única cena tal luta transcende a cartunesca representação do bem do mal feita por Gibson. Esta educativa e primitiva representação do quão profundo o ódio por Jesus atingiu evoca a singela atratividade das histórias bíblicas com as quais eu fui criado em minha infância. Lamentavelmente, isto é algo que não se leva para o resto do filme: um inumano, pornográfico e masoquista instrumento de tortura - um produto da agressiva culpa católica que, ao invés disso, deveria ter nascido do amor.

 

A Paixão é uma perigoso agrupamento de indicadores políticos e estereótipos. Satã é representado no filme como uma mulher andrógina e seus asseclas são crianças deformadas de diferentes idades. Herodes é um Calígula flamejante. Os judeus são maldosos e sedentos de sangue. Isto é algo que não pode ser ignorado, e eu digo isso porque o filme não vive e respira Jesus tanto quanto o faz em relação às neuras do seu verdadeiro autor (seu Criador, se você preferir): Mel Gibson. O Nazarin de Luis Buñuel veste a bagagem espiritual de seu diretor de maneira similar, mas também é um estudo ousado e humanista do mesmo masoquismo que permanece sem referência no filme de Gibson (sem mencionar como ele continua a comer a Igreja Católica por dentro). Será a Paixão anti-semita? Cristãos irão se voltar para os Evangelhos para se defender de tal acusação, e os judeus vão relembrar as maneiras pelas quais as representações da paixão vem sendo utilizadas para oprimir seu povo ao longo da história. Eu acho que a resposta está num meio-termo.

 

No filme os judeus são carniçais, e apesar da Paixão não inspirar explicitamente a violência contra eles, a qualidade masoquista das imagens de Mel Gibson é algo completamente diferente. Tenho problemas com o tom raivoso de retribuição que é pano de fundo de todas as imagens do filme, esse sentimento de recompensa do tipo “você vai ter o seu” que ameaça romper o tecido do tempo e espaço bem no momento em que a morte de Jesus desperta a ira de seu Pai. Para mim, os momentos finais da Paixão são implicitamente vingativos e há uma espécie de “hurra!” na maneira pela qual o Cristo sai da tumba que sugere uma Paixão de Cristo: Máquina Mortífera. Eu não estou tentando ser desagradável. Não tenho problemas com o verdadeiro Jesus – ele era todo amor. É sua representação esquemática que me causa problemas, e com isto fica óbvio que Gibson tem sua própria cruz para carregar.

 

Martin Scorsese celebrou a humanidade de Cristo em seu duro, porém tocante, A Última Tentação de Cristo. Ele é o Filho de Deus ou está sendo testado pelo Satã? O subtexto do filme era o próprio complexo messiânico, e desta forma a jornada de Jesus era de aceitação – ao final do filme, ele aceita não só seu papel como homem, mas também seu papel como salvador. No filme de Scorsese, o Diabo tenta Jesus sob a forma de uma criança loira e ariana – um símbolo enganador de pureza intocada. Gibson sequer entende o caráter sedutor da tentação. Não apenas o Diabo é uma mulher, mas uma que fala como um homem (mistura de gêneros = ruim) e leva no braço um anão deformado (deformidade = muito ruim). A vida é sexy, misteriosa, confusa, mas onde Scorsese e Buñuel fazem o Cristo trabalhar pela sua iluminação, Gibson torna as coisas fáceis para ele**. Seu simbolismo é grosseiro e dolorosamente óbvio. Ao invés de seduzir Jesus com algo belo porém venenoso por dentro, ele o tenta com o que é explicitamente letal e acaba fazendo todo o trabalho por Jesus.

 

Você fica com a sensação, ao ver o filme, que Gibson açoitaria cada um de nós se isso nos trouxesse para mais perto de Deus. É a iluminação espiritual através da dor. Gibson não chama por nós como seres espirituais, nem tenta nos tocar de maneira intelectual ou filosófica, como Andrei Tarkovsky e Pier Paolo Pasolini fizeram <?:namespace prefix = st1 ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:smarttags" />em Andrei Rublev e O Evangelho Segundo São Mateus, respectivamente. Ele apenas nos soca no estômago. Esteticamente o filme é podre até a medula e eu culpo por isso os anos e anos que Gibson gastou fazendo filmes ruins: as pequenas crianças demoníacas (alguém lembrou do Come to Daddy do Chris Cunningham?), a câmera lenta desnecessária (só faltou um tiroteio ao estilo Matrix) e a equivocada imagem de Satã.

 

O problema em apresentar um filme sobre o contexto da santidade** de Jesus (desculpe, mas flashbacks espúrios à última ceia não contam) é que você cria um filme sem dimensões humanas. Eu esperei, até me preparei, para  uma obra extremista e livre de contexto, fruto do fundamentalismo. Exceto por uma memorável passagem que evoca o fracasso de Maria em proteger Jesus da maneira que ela fazia quando este era uma criança, não há amor na Paixão. Gibson tem dito em entrevistas que ele queria “chocar” a audiência, e desta maneira a Paixão se desdobra como uma fumaça artística** para a ladainha fundamentalista do ator/diretor. Isso não é algo necessariamente ruim, exceto pelo fato de eu achar que existem formas mais saudáveis e mais profundas de conectar os cristãos com a morte de seu salvador.

 

Eu entendo a necessidade, para alguns cristãos, de defender A Paixão. Sei que esse é um filme que algumas pessoas precisam, mas também não é um filme que apela para o espírito humano, e sim paras as noções básicas, primitivas, de verdade crua** e retribuição, não muito diferente do anti-católico e agitador The Magdalene Sisters*** de Peter Mulan. A Paixão parece ter sido feita para aqueles que acreditam que Deus é uma divindade raivosa e vingativa, e desta forma eu exorto os cristãos a rejeitar esse filme e acolher algo como o devastador O Filho, de Jean-Pierre Dardenne e Luc Dardenne. É um testamento profundamente tocante ao perdão cristão, que filosófica e empaticamente estuda a violência ao invés de utilizá-la como um ato de opressão cultural das massas.

 * Mel Gibson's Punch Drunk Christ, no original, como referência ao filme do Paul Thomas Anderson.

** A tradução foi difícil nestas passagens, só pude improvisar. Consultem o original e me corrijam, se for o caso.

 

*** Não me lembro do título do filme em português.

 

Mel Gibson's Punch Drunk Christ

 

There is a scene in Mel Gibson's The Passion of the Christ where the crowd outside Pontius Pilate's palace must choose to free Jesus Christ or a tongue-smacking, raving killer who might as well be a distant relative of the Tazmanian Devil. At times the film recalls a bad sketch comedy, with actors trying to desperately transcend their respective characters' singular dimensions, but only during this one scene does this struggle transcend Gibson's cartoonish representation of good and evil. This educational, primitive evocation of how deep the hatred for Jesus went evokes the simple-minded allure of the Bible stories I was raised on as a child. Sadly, this is something that doesn't carry into the rest of the film: an inhuman, pornographic, masochistic torture mechanism—a product of aggressive Catholic guilt that should have been born out of love instead.

 

The Passion is a dangerous accumulation of political signs and stereotypes. Satan is represented in the film as an androgynous woman and her minions are deformed children of different sizes. Herod is a flaming Caligula. The Jews are leering and blood-thirsty. This is something that can't be ignored, and I say this because the film doesn't live and breathe Jesus as much as it does the hang-ups of its true auteur (its Creator, if you will): Mel Gibson. Luis Buñuel's Nazarín similarly wears its director's spiritual baggage, but it's also a daring, humanist study of the very masochism that remains unaddressed in Gibson's film (not to mention, how it continues to eat away at the Catholic church). Is The Passion anti-Semitic? Christians will turn to the Gospels to defend this accusation, and Jews will recall the way passion plays have been used to oppress their people throughout time. I think the truth lies somewhere in the middle.

 

The Jews in the film are ghouls, and though The Passion doesn't explicitly inspire violence against them, the masochistic quality of Gibson's images is another thing altogether. I'm troubled by the angry tone of retribution that underscores every image in the film, this feeling of "you'll get yours" recompense that threatens to crack the matrix of time and space well before Jesus' death summons the ire of his father. To me, the final moments of The Passion are implicitly vindictive, and there's a "boo-yah!"-ness to the way Christ exits the tomb that suggests The Passion of Christ: Lethal Weapon. I'm not trying to be snide. I have no problems with the real Jesus—he was all about love. It's this high-octane representation that troubles me, and it's obvious that Gibson has a cross to bear.

 

Martin Scorsese celebrated Christ's humanity and teachings in his clunky but moving The Last Temptation of Christ. Is he the Son of God, or is he being tested by Satan? The meta of the film was the very first Messianic complex, and as such Jesus' journey becomes one of acceptance—by film's end, he accepts not only his role as a man, but his role as a savior. In Scorsese's film, the Devil tempts Jesus in the form of a blonde, Aryan child—a deceptive symbol of untainted purity. Gibson doesn't even understand the seductive allure of temptation. Not only is the devil a woman, she talks like a man (gender-bending = bad) and holds a deformed midget in her arms (deformity = really bad). Life is sexy, mysterious, confusing, but where Scorsese and Buñuel make Christ work for his enlightenment, Gibson makes things easy for his stick figure. His symbolism is thick and woefully obvious. Rather than seduce Jesus with something pretty but poisonous inside, he taunts him with what is obviously lethal, and in essence does all the work for Jesus.

 

You get a sense while watching the film that Gibson would flog each and every one of us if it brought us closer to God. This is spiritual enlightenment via pain. Gibson doesn't appeal to us as spiritual beings, nor does he attempt to touch us intellectually or philosophically, like Andrei Tarkovsky and Pier Paolo Pasolini did in Andrei Rublev and The Gospel of St. Matthew, respectively. He merely punches us in the gut. Aesthetically, the film is rotten to the core, and I blame the years and years Gibson spent making bad movies for that: the little demon children (Chris Cunningham's "Come To Daddy" anyone?), the needless slow-mo (all that's missing is a Matrix-style, bullet-time F/X show), and the misguided Satan imagery.

 

The problem with presenting a film about Christ sans context (sorry, but spurious flashbacks to the Last Supper don't count) is that you create a film without human dimensions. I expected, even welcomed, an extremist work of context-free, literalist fundamentalism. Except for a startling montage that evokes Mary's failure to take care of Jesus the way she used to when he was a child, there's no love in The Passion. Gibson has said in interviews that he wanted to "shock" audiences, and as such The Passion unravels as a high-art snuff film for the actor/director's fundamentalist choir. That's not necessarily a bad thing, except I think there are healthier, more profound ways of psychologically connecting Christians to the death of their savior.

 

I understand the need for some Christians to defend The Passion. I know this is a film some people need, expect this is not a film that appeals to the human spirit, but to primitive, base notions of aesthetic truth and retribution, not unlike Peter Mulan's anti-Catholic agitprop The Magdalene Sisters. The Passion is a film that appears to have been made for those who believe God is an angry, vengeful deity, and as such I challenge Christians to reject this film and embrace a film like Jean-Pierre Dardenne and Luc Dardenne's devastating The Son instead. It's a profoundly moving testament to Christian forgiveness, which philosophically and compassionately studies violence instead of using it as an act of mass-cultural oppression.

 

Ed Gonzalez

© slant magazine, 2004.

 

(editado para corrigir alguns erros de digitação e tornar o texto mais fluido, sem prejuízo da correspondência ao original)
Alexei2006-10-21 17:34:07
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Qual o próximo processo? Já há previsão?

Não assisti o filme do Gibson.

 

Sim já há previsão, o próximo começa na segunda-feira dia 23/Out, o pequenas causas vai debater a legitimidade do oscar de melhor filme deste aqui ó:

 

Crash - No Limite

 

crash-no-limite-poster06.jpg

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A impressão que eu tive após ler esse post foi a de um mingau que passou do ponto. Quanto mais a gente tenta raspar o que ficou no fundo' date=' mais o que está na colher adere de volta.[/quote']

 

Digo o mesmo do seu terceiro (ou seria quarto...06) Canto do Cisne.07

 

Se não me engano' date=' você havia me perguntado se o que eu estava escrevendo era fato ou opinião. Ou o que eu li na página anterior foi outra coisa? Eu poderia até não responder, já que a resposta era óbvia, mas o fiz por cortesia e com bons modos. É realmente minha opinião.[/quote']

 

Ok. Foi mal da minha parte, admito. É que o tom de "Autoridade" que concedeu ao Dook (convenientemente partidário da sua opinião...) me fez entender outra coisa. Obrigado pela explicação, ainda assim.  

 

 

Você não entendeu o que eu quis dizer com a verdade do Gibson? Quais foram as intenções dele ao fazer esse filme' date=' no teu entendimento? Quais foram seus propósitos em retratar a paixão em seus mínimos detalhes (sic)? Pra mim ele passou o seguinte:

 

"Ei! Você aí, cristão não-praticante ou não cristão! Está vendo como Jesus sofreu por nós? O que ele suportou enquanto o resto da humanidade o açoitava? E não foi pouco não, ele sofreu pra caramba! Portanto, converta-se, ou retorne à igreja!"[/quote']

 

Deixe ajudá-lo a entender minha opinião: seu alvo não deveria ser o filme e a opção de Gibson em filmar a Paixão de Cristo, mas a Cristandade enquanto doutrina (não só a Igreja Católica mas as Evangélicas também), pois, se existe algo em comum entre as religiões cristãs, é o fato de que SIM, JESUS VEIO AO MUNDO PARA PASSAR SEU ENSINAMENTO, SOFRER E MORRER PELOS PECADOS DOS HOMENS! Desculpe, mas parece que só gritando mesmo pra te fazer entender...07       

 

 

Assim mesmo' date=' cheio de exclamações.

 

Se isso não é um reforço da fé pelo sentimento de culpa, uma catequisação à base do porrete, não sei o que é. Mostrar a paixão do Cristo foi um instrumento, e não um fim em si. Eu já havia dito isso, ou você não leu? Aí vai de novo:

 

"a forma com a qual o diretor transmite suas próprias verdades (*dentre as que ele julga serem passíveis de transmissão, e esse é um ponto muito importante)..." 

 

Você negritou a sentença errada. A verdade do Gibson (ou seja, no que ele acredita) é que as pessoas podem, pelo sentimento de culpa ou - se for o caso, é pior ainda - pela piedade, se converter ao cristianismo ou reforçar seus laços com ele. Cada um acredita no que quer, mas transformar isso num filme é muita pobreza de espírito. Gibson cospe no próprio público que deseja seduzir. [/quote'] 

 

Mais uma vez, mera opinião. Ele (assim como qualquer outro diretor) tem o direito de fazer o filme que quiser. Sempre haverá aqueles que irão torcer o nariz e adjetivar pejorativamente obras controversas por conta de divergências pessoais e conceituais.    

 

*Ao negritar esse trecho você não só comprova que negritei corretamente como, na verdade, atesta sua confusão de idéias. Ou seja: ao passar para a tela o que julgou ser "passível de transmissão" ele passou uma VISÃO, uma opinião pessoal sobre algo (a passagem da Paixão) e não suas verdades. São coisas completamente diferentes. Agora, se você não concorda com isso o problema é seu. Mas, daí dizer que (sic) "ele  cospe no próprio público que deseja seduzir", desculpe mas não  vejo o porquê.

 

           

 

Sectarismo não é sinônimo de proselitismo.

 

Meu filho' date=' quem se bagunçou aqui foi você, não eu! E SIM, para a sua informação PROSELITISMO É UM DOS SINÔNIMOS DE SECTARISMO. Dê uma olhadinha num dicionário qualquer que você pode comprovar.03

 

  

 

Sim, considero o filme anti-semita pela forma que os judeus foram retratados, fanáticos desvairados babando por sangue. As eventuais explicações dadas pelo Papa não suavizam a questão, até porque ele exerce uma função política e não seria louco de silenciar ante as acusações que pipocaram de várias partes do mundo, principalmente após ter visto o filme em uma sessão prévia, concebida com o propósito de receber seu aval.

 

É... Uma turba que conspira para que um irmão de sangue seja levado à morte realmente não está sedenta por sangue... Sacerdotes sabedores do teor dos ensinamentos de amor e caridade de Jesus e testemunhas de seus milagres e que ainda assim mandam matar não estão desvairados por poder e vaidade... 07

 

 

 

Se você visualizar o filme no meio que o circunda' date=' com as relações entre o cristianismo, o judaismo e o islamismo em uma situação tão delicada, pode perceber que faltou senso de oportunidade ao Gibson, no mínimo. Uma das muitas insensibilidades que ele demonstrou.[/quote']

 

O que você chama de insensibilidade eu chamo de audâcia e coragem. Visões diferentes...03

 

 

 

Sobre a superficialidade psicológica' date=' creio que você anda praticando a leitura seletiva, registrando apenas o que te convém. Desde o início eu afirmei que considerava o projeto todo equivocado e demonstrativo apenas da arrogância de seu diretor. Com aquelas imagens ele não teve outro propósito a não ser chocar, constranger e, por essa via torta, transmitir suas próprias crenças e converter os outros a elas. A superficialidade é premeditada e nem por isso deixa de ser ruim. É até pior que a involuntária.[/quote']

 

Não vou negar: você está corretíssimo. Realmente pratico a leitura seletiva. Aliás, não só a leitura, mas tudo aquilo que me proponho a fazer. Só faço o que julgo ser conveniente para o meu bem. Se essa característica lhe desagrada, sinto muito, mas... Problema seu! 

 

Quanto às "vias tortas", como disse antes, se Gibson tentou, pelo menos comigo ele fracassou miseravelmente. Já sou um "convertido" há tempos... 

 

 

Citação não implica reflexão. Eu até gostaria de ter refletido sobre os valores que o cristianismo prega' date=' mas todo aquele sangue esguinchando em profusão da tela me impediram de tentar qualquer coisa nesse sentido. Os flashbacks te proporcionaram isso? Pra mim foram tearjerkers. Como já falei, oportunistas e situados de forma calculada entre um açoite e outro.[/quote']

 

Claro que não! Uma imagem, uma mensagem, um texto, um gesto não só em um filme mas visto em qualquer lugar podem te levar à reflexão ou não, mas (antes do MODO) o que conta é COMO isso bate em você. Pena que o filme de Gibson só serviu para afrontá-lo. Em mim ele bateu de forma diferente.

 

         

 

O Rafal' date=' que inseriu a Páscoa na história não sei a que pretexto e considera a minha maior decepção com o filme algo ridículo, já me rotulou de frio. Sinta-se à vontade, mas sabendo que o "se não se emocionou, é porque é insensível" é primo do "se não entendeu, é porque é burro".[/quote']

 

Sobre o que o Rafal disse a seu respeito, sugiro que se dirija a ele e tire suas dúvidas com quem de direito. Aliás, isso nem me interessa! Não me meterei nesse imbróglio... Agora, primo por primo, dizer que "quem se emocionou e se sentiu tocado é sectarista" (ou coisa pior, pelo teor de suas idéias...) é ser farinha do mesmo saco:  visão limitada de uma pessoa que não gosta de ver sua opinião contrariada. Relax man!03

 

 

     

1) E com isso chegamos à tal reflexão que você transcreveu acima' date=' e que eu mantive. Ela, que parece ser anterior ao próprio filme (ele foi utilizado para referendá-la, e não o contrário), só me passa generalização e subestimação da inteligência do espectador. Faz inferências absurdas, conclui coisas do nada. 2) Demonstra também que, como seu próprio autor, as pessoas só vêem o que querem. Qual foi a sua reflexão acerca dela? Se as pessoas enxergam o Cristo como um super-herói idealizado, um tratamento de choque, a ferro e fogo, é legítimo para tirá-las dessa letargia?" [/quote']

 

1) Você está inferindo ou afirmando... Não o entendi! Acredite, é POSTERIOR ao filme. Se quiser depois posso postar a crítica inteira. Mas sua opinião sobre (sic) "...generalização e subestimação da inteligência..." "Faz inferências absurdas e conclui coisas do nada." só me leva a concluir que você está sendo um roto falando de um maltrapilho.

 

2) Como já disse pro Nacka, já aprendi a duras penas que, querendo ou não, em Arte, as pessoas  geralmente só vêem aquilo que querem e nem sempre aquilo que deveriam ver...    

 

 

 

É isso' date=' então, o que você chama de foco extremo? Acho que já sei a resposta.[/quote']

 

Se já sabe a resposta (menino esperto...06), não faça a pergunta! Essa atitude de se achar na frente e subestimar alguém numa discussão é deselegante. Aqui, eu até poderia discorrer sobre a MINHA OPINIÃO, mas pelo que já pude perceber, você não está interessado nela. Sendo assim... Continue com a SUA resposta. 03

 

     

 

Por último' date=' esse é um conselho que dou a você, se for do seu interesse: seja menos defensivo. Você retalhou meu post até torná-lo incompreensível, destacou apenas o que queria com o propósito de diminuir meu discurso. Quando eu disse para voltar no tópico, era apenas isso mesmo, coisa que você parece não ter feito. Observe que sua primeira reação foi assumir que, para mim, nossos pontos de vista não poderiam conviver. Isso, sinceramente, me pareceu muito paranóico.

 
[/quote']

 

Como disse no início do post, pra alguém que disse que a paciência já tinha ido pro brejo e que não voltaria a postar sobre o filme, é até engraçado ver você dando esse conselho...06 Mas, aqui me sinto na obrigação de agradecé-lo, mas o dispenso.

 

Estranho... Não percebi ter "retalhado" seu post a ponto de torná-lo incompreensível. Se assim fiz ou lhe pareceu, peço desculpas. Outrossim, saiba que não quis apenas destacar o que queria com o "propósito de diminuir seu discurso", mas apenas no sentido de sequenciar meus contra-argumentos em relação ao que você postou. Ver paranóia aí me parece ser tão paranóico quanto... 
The Deadman2006-10-22 18:04:40
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Opa ... Eu adoro este filme. Mas debateremos se este filme merecia o Oscar no lugar dos outros quatro indicados ou se ele é bom? Porque por mais que alguns usuários gostem de Crash' date=' nunca vi ninguém preferindo ele a qualquer um dos indicados.

[/quote']

 

Verdade.

 

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espero que não se prenda à questão Oscar... e quem defenderá Crash?

 

Diabo' date='sim,é um mérito,como já foi apontado por diversas pessoas,até pelo seu adorado Dook.

Esqueceu do Flagelo Realístico,que também já foi apontado por outros como um ponto positivo do filme.
[/quote']

 

O fato do Flagelo realístico não anula o fato dele ter sido inútil.

 

5) Você vai assistir um filme que se propõe a mostrar as últimas 12 horas de vida (ou melhor seria “morte”?) de Cristo' date=' onde ele é barbaramente massacrado física e psicologicamente e que ver “profundidade psicológica”?? Tem certeza? Hummm... Acho que você optou por assistir o filme errado. 03<?:NAMESPACE PREFIX = O />

[/quote']

 

Então a proposta do filme é uma bosta, da profundidade de um pires.

 

Um breve resumo do filme: um festival de sangue lotado de flashbacks até vc cansar de tudo isso. As mensagens que Jesus passou, e a suposta ligação com os eventos do filme soaram didáticas demais, do tipo: "Olhem, veja como ele era bonzinho e passava mensagens bonitas. E é de emocionar a ligação das mensagens dele com o flagelo dos pecados de vcs que fez com que ele morresse".

 

E na boa, todo mundo conhece a história de Jesus, e tal mas... imagina se a pessoa que ve o filme nunca ouviu falar do cara? Mesmo com os flashbacks, ficaria totalmente perdida. E além disso, pensaria que Jesus era retardado, visto que passou por todo aquilo porque ele era bonzinho e os humanos eram malvados (especialmente a bicha louca do Herodes e o Diabo David Bowie).
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KD o veredicto?

 

The Spartan

 

Ok. Os juízes do Pequenas Causas... chegaram a um consenso. O filme do diretor Mel Gibson apesar de seus dúbios méritos técnicos, não deixa de ser oportunista na pior acepção da palavra. Gibson exerce a tirania das imagens chocantes para sacudir sua platéia até à exaustão e tira a oportunidade de julgarmos os feitos de Cristo pela fé. Não precisamos nem mesmo acreditar em Cristo para "entender" que ele foi um mártir. 

Optar por retratar as últimas 12 horas de Cristo torna o filme descontextualizado e nem mesmo os famigerados flashbacks conseguem consertar isso, ou seja, o que o diretor pretendia se torna o ponto fraco do filme. Com personagens caricatos e o próprio Cristo transformado em saco de pancadas A Paixão de Cristo não convida à reflexão depois que sobem os créditos... presta portanto um serviço ralo à fé e ao cinema.

 

Passamos agora ao próximo processo que trata de julgar se o filme Crash - No Limite do diretor Paul Haggis é merecedor do Oscar de melhor filme e se estamos diante de um bom filme ou apenas de mais uma odiosa birra da Academia... o júri gostaria que houvessem manifestações de pelo menos um usuário disposto a defender o filme, como advogado de acusação, indicamos o Dook.

 

Então: Crash - No Limite

crash-no-limite-poster02t.jpg

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Defesa:

 

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Acusação:

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Ok. Os juízes do Pequenas Causas... chegaram a um consenso. O filme do diretor Mel Gibson apesar de seus dúbios méritos técnicos, não deixa de ser oportunista na pior acepção da palavra. Gibson exerce a tirania das imagens chocantes para sacudir sua platéia até à exaustão e tira a oportunidade de julgarmos os feitos de Cristo pela fé. Não precisamos nem mesmo acreditar em Cristo para "entender" que ele foi um mártir. 

Optar por retratar as últimas 12 horas de Cristo torna o filme descontextualizado e nem mesmo os famigerados flashbacks conseguem consertar isso, ou seja, o que o diretor pretendia se torna o ponto fraco do filme. Com personagens caricatos e o próprio Cristo transformado em saco de pancadas A Paixão de Cristo não convida à reflexão depois que sobem os créditos... presta portanto um serviço ralo à fé e ao cinema. [/quote']

 

 Não concordo com o veredito e menos ainda com os comentários (nitidamente parciais) dos Juízes sobre o filme, mas se foi consensual, fazer o quê, né? 01

 Caberia um recurso?!  17 06

 

        
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1 - Deadman, a sentença precisa fundamentar-se em uma opinião, foi que fiz se ela lhe pareceu parcial, tudo bem, mas não retiro uma vírgula. Sim e foi consenso entre os demais do júri. Sem recursos cara pálida e você tem mais o quê para falar?

 

2 - Assista Crash... falar sobre quem está defendendo ou acusando o filme, não né?

 

PS: Prepare-se para o grill do Cozinha...
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1 - Deadman, a sentença precisa fundamentar-se em uma opinião, foi que fiz se ela lhe pareceu parcial, tudo bem, mas não retiro uma vírgula. Sim e foi consenso entre os demais do júri. Sem recursos cara pálida e você tem mais o quê para falar?

 

2 - Assista Crash... falar sobre quem está defendendo ou acusando o filme, não né?

 

PS: Prepare-se para o grill do Cozinha...
[/quote']

 

1) Relaxa! Foi só um comentário! Afinal, ao contrário de um "tribunal de verdade" onde a sentença é pronunciada depois de um longo processo (mix de levantamento de fatos, dados, testemunhos, retórica etc), aqui o que vale, no fundo, são opiniões. Mesmo que sejam de um "Juizado Instituido"...Nada contra! Só não concordo. 05

 

Tenho muito mais a comentar, mas se não há recurso, pra quê?!03 09 Deixa como está. Gosto do filme e tenho minhas razões. Isso basta.  

 

2) Vou pensar no caso... Acho que me fiz entender errado: não vou entrar aqui pra comentar (bem ou mal) QUEM quer que seja (a pessoa), mas o MODO como os argumentadores irão se comportar. Aliás, nem sei se farei isso...       

 

PS: Fico no aguardo da chapa quente!
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Sobre a sentença:14

 

Esse tribunal é completamente parcial......

Tchau.03

 

Posso achar o mesmo da sua participação? Vou reiterar o que já te disse, o Tribunal é uma BRINCADEIRA, claro que tentamos nos manter sérios até porque estamos discutindo um filme e opiniões devem ser emitidas com seriedade, mas não espere e não crie na sua mente a figura ilusória de velho gagá com toga e peruca branca mal conseguindo levantar o martelo, não aqui. 

 

A "sentença" é dada após deliberação do júri e não é (como respondi para o Deadman) passível de recursos, demoraria demais e não é o propósito do tópico, no entanto, a deliberação sobre o filme de Gibson foi a mais demorada, normalmente a "sentença" é dada no sábado e só fechamos hoje. Vocês que se sentiram incomodados com a forma que o filme foi tratado poderiam ter se manifestado durante o final de semana, o que houve?  A pá de cal jogado pelo Alexei sepultou os ânimos? Estranho, não houve uma vírgula sobre o ótimo texto que ele postou, porquê? 

 

Bem de qualquer forma agora o trem já passou.

 
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 "...A pá de cal jogado pelo Alexei sepultou os ânimos? Estranho, não houve uma vírgula sobre o ótimo texto que ele postou, porquê?" [/quote']

 

Desculpe-me Nacka, mas não pude resistir...Será que faria (faria?) alguma diferença eu postar outros 3 ou 4 textos "ótimos", só que simpáticos ao filme?!17 Além do que, no fim de semana "o cal" jogado, voltou do jeito que veio (ou será que não?) e nem mesmo o Alexei fez algum comentário sobre...

 

O Cisne deve ter morrido... Com a palavra, o Gato!  06  
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A questão é, você encontraria textos simpáticos ao filme? (preciso lembrar que a crítica especializada acabou com ele?)

 

Veja bem, o texto da Slant que o Alexei postou é virulento mas aponta direitinho os descalabros do filme, ou seja, ele postou um texto que corrobora sua posição.

 

E você? Aceita o desafio de fazer o mesmo? Vasculhe na net por um texto e não precisa traduzir (dá muito trabalho) como ele fez, só precisa ser tão "simpático" ao filme de Mel Gibson quanto é virulento o outro e aí a gente compara, só para re-finalizar e enquanto não aparecem os detratores e/ou defensores de Crash. Run Forest, run...
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 Atendendo PARCIALMENTE o pedido do Nacka (sorry, mas lá vão 2 textos e nenhum deles do Bernardo 19 06...):

 

Primeiro texto retirado do site Contracampo de autoria de Eduardo Valente:

 

"Há pelo menos cinco ou seis claras opções diferenciadas de aproximação com A Paixão de Cristo – isso tudo num primeiro olhar, é claro. Trata-se de um filme importante de se analisar para além de suas condições cinematográficas – mas seria um erro desprezá-las também, trocando-as tão somente por uma leitura de ordem teológica ou como fenômeno cultural. A Paixão de Cristo, sabe-se desde já, é filme para se voltar a ele depois, com calma, em outras circunstâncias e com o peso de seu massivo lançamento já um pouco atenuado (nisso se parece muito com outro filme, e a comparação faz todo sentido – Titanic). No entanto, parte do trabalho da cobertura crítica no calor da hora, que é uma das atividades que exercitamos aqui na Contracampo, é o de se arriscar sem muitas redes de segurança a um olhar mais rápido, mais urgente, mais imediato. E é isso que se fará neste texto – ainda que seja necessário separar, desde já, pelo menos dois Paixão de Cristo diferentes: o filme e o fenômeno de lançamento. Trataremos, aqui, dos dois.

O filme – Os olhos de Cristo

De todos os aspectos de linguagem que Mel Gibson resolveu usar no seu retrato do martírio de Cristo (a onipresença do sangue, a câmera lenta, os diálogos em aramaico e latim, a trilha sonora percussiva, etc), um parece estar passando desapercebido, quando claramente é o mais importante e coerente: o retrato do Cristo através dos seus olhos. Esta frase, aliás (graças aos meandros misteriosos da língua portuguesa), tem ao menos duas leituras imediatas – e ambas fazem sentido.

Impressiona, primeiro, a obsessão de Gibson por cenas em close no rosto de Jim Caviezel como o Cristo. Closes estes que buscam revelar nos seus olhos (melhor seria dizer, no olho esquerdo – uma vez que o direito passa boa parte do filme desfigurado) toda a decepção e posterior crença de Cristo na raça humana; ou por outra, a dimensão simultaneamente divina e humana do personagem. Nesta aposta, Gibson não confiou só no seu ator, nem só no fotógrafo: há uma evidente manipulação digital de todas estas imagens, de forma a imprimir uma tonalidade de intensa suavidade sobre-humana à íris do olho do Cristo. Poderia parecer um detalhe, se não fosse um tão obsessivamente repetido, enquadrado, buscado. Vemos com atenção o olhar de Cristo a Pedro quando este o nega três vezes; o olhar para Simão quando este o vem ajudar a carregar a cruz; o olhar para Maria, para Maria Madalena, para Pilatos, para Judas – em suma, todos os olhares são focados e iluminados de forma a destacar o olho de Jesus Cristo, simbolizando sua visão da Humanidade (espelhada nos outros personagens).

O que nos leva ao segundo entendimento da frase que abre a argumentação lá em cima: vemos o filme através dos olhos do Cristo não só por sua constante focalização como imagem central, como eixo dramático da narrativa, mas principalmente porque Gibson tenta nos contar esta história "através dos olhos de Jesus Cristo" – ao contrário dos evangelhos, podemos dizer que o narrador aqui é Cristo. E, neste ponto o filme dá um recuo de uma riqueza inesperada: ao fazer isso, Gibson não apenas se utiliza de métodos clássicos da linguagem cinematográfica (como inúmeros planos ponto de vista encarnando o olhar de Cristo, ou a centralização dos flashbacks em momentos de lembranças claramente dele), como deixa claro que assume ele mesmo (Gibson) a voz de Cristo. O diretor é, ele também, o Filho de David, por assim dizer, e seu filme é uma enorme acusação à raça humana, na verdade (acusação esta que tem sua prova inconteste no olhar de Maria para a câmera, que fecha o filme, antes do rápido epílogo/ressurreição). O que Mel Gibson busca, com sua câmera, é reviver o martírio sem igual pelo qual passou Jesus, segundo a fé católica, pela mão dos homens.

Daí porque parece essencialmente tolo acusar o filme de sadismo ou de ostentação da violência: esta acusação faz supor uma violência gratuita, quando de fato ela é a motivação essencial de Gibson ao realizar o filme. Pode-se concordar ou discordar de seus objetivos, isso é uma coisa. Não se pode é julgar a forma de seu filme inadequada a seus propósitos – Gibson filma da única forma como poderia filmar esta sua visão da história. Quando ele fala de filmar o martírio de Cristo como nunca havia sido mostrado, não creio que se trate de um problema de verdade histórica, como se quis fazer crer, e sim de tratamento de personagem. Afinal, se personagens humanos históricos (e até mesmo ainda vivos, infelizmente) sofreram torturas indizíveis nas mãos de outros seres humanos, o que se esperar do retrato do martírio do filho de Deus? O que Gibson faz é uma opção radical: tentar dar encarnação sobre-humana ao sofrimento de Jesus – aonde sua câmera é Jesus, e o espectador é uma encarnação de Judas (não por acaso seu suicídio merece filmagem à parte).

É claro que se pode dizer que este ato é sádico em relação ao espectador, mas aí é que se completam as intenções do diretor: ele sabe disso. Sabe tão bem que pelo menos em dois momentos isso está colocado na tela em seu filme: quando Simão tenta tapar os olhos da filha pequena perante os horrores da Via Crúcis, e quando uma outra personagem pede aos gritos: "Alguém faça isso parar!" Gibson sabe que seu filme vai nos limites do tolerável – e é seu desejo que assim seja. Porque, segundo sua visão, o espectador precisa ser tratado como o povo nas ruas frente àquele espetáculo: a catarse só seria possível pelo exagero, e recusar este espetáculo é recusar sua participação nele. Portanto, o "gore", o sangue, o seviciamento de Jesus é parte essencial da proposta de Mel Gibson com este filme – e não entender isso é não entender o filme.

Complementarmente, é tolo da mesma forma acusar o filme de anti-semita: sim, os judeus são retratados, em sua maioria (e aí seria preciso abstrair o fato de que Jesus era um deles), como os responsáveis pelo sofrimento de Cristo. No entanto, o que se deve ter bem separado é que o problema não é alguma característica inerente a uma "alma judaica", e sim uma condenação por Gibson da raça humana quando defronte a seu "salvador": a raça humana falhou, segundo ele – não os judeus. Os judeus apenas calharam de ser os que ali estavam – mas os romanos não são nada melhores (com exceção de Pôncio Pilatos, cujo retrato aliás daria pano para manga em outros textos), nem seria diferente com nenhum outro povo. É interessante reparar que o perdão e a compaixão, se existem no filme, são encarnados sempre nas mulheres: não só em Maria, a Mãe, ou em Maria Madalena, mas também em uma mulher que assiste à Via Crúcis e se apieda dele; e surpreendentemente, na mulher de Pôncio Pilatos (ela sim a responsável pelos atos "piedosos" dele).

É desta representação da dor de Cristo (e, por conseguinte e principalmente, da falibilidade dos humanos) que Gibson quer tratar – e a forma como o faz é através de um filme tão irracional, exagerado, manipulador e revoltado quanto qualquer ato de fé cega. E é isso que o filme é, no final das contas, e o que o torna tão fascinante: um produto autenticamente religioso, crente – ao contrário de tantas aproximações das escrituras que tentavam usar o Cristo para outros fins, fossem eles espetaculares, paródicos ou políticos (dos quais trataremos aqui mesmo na revista – <?:namespace prefix = st1 ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:smarttags" />em DVD/VHS). O filme de Gibson inaugura um cinema efetivamente fundamentalista (afinal o fundamentalismo não é característica exclusiva do Islã, e sim uma forma de enxergar o mundo pela fé cega), e isso torna seu filme admirável pela honestidade. Para além das questões em torno de seu lançamento (as quais mencionamos abaixo), o que nos importa aqui (o filme que está na tela) é absolutamente radical, não negocia: um filme desagradável e exagerado, como o grito de um fanático. E, acima de tudo isso: um filme que prega o que acredita, e não tem medo de levar o que prega (sem trocadilhos, por favor!) até o fim. Por tudo isso, um esforço admirável – mesmo com todos os seus pontos questionáveis, aos quais podemos voltar no futuro.

O fenômeno – Alhos e bugalhos

Para todos os fins, há que se separar o fenômeno de bilheteria e divulgação de A Paixão de Cristo em dois momentos distintos (ainda que de difícil separação cronológica). Até mesmo nisso, mas não só, é importante apelarmos para uma comparação com o Titanic de James Cameron: tanto num caso como no outro, os cineastas enfrentaram Deus e o mundo, dentro do sistema hollywoodiano, por acreditarem na validade de suas visões – e se provaram certos no final das contas (especialmente no final das contas). Claro, dirão os mais céticos, é muito mais fácil brigar com o sistema estando dentro dele, ou sendo James Cameron ou Mel Gibson, e cooptando os milhões de dólares deste sistema para trabalhar por você. Isso tudo é mais do que óbvio ou evidente. Mas, ainda assim, há que se diferenciar um Titanic, um Paixão de Cristo, de um projeto laboratorial de um grande estúdio, totalmente pensado e feito sob controle para gerar lucros com poucos riscos. Não por acaso, talvez, estes poucos riscos gerem poucas surpresas – enquanto Titanic e Cristo pegaram todos de calças curtas tal o alcance de seu sucesso. E o que isso tudo tem de interessante? Talvez a afirmação de uma estranha modalidade radical de cinema de autor – dentro dos grandes estúdios.

"Cinema de autor??", perguntarão aqueles – pensando em Godard, em Glauber, em Bergman. Sim, cinema de autor: A Paixão de Cristo é um dos mais radicais exemplos de autoria no cinema a aparecer em muitos anos nas nossas telas. Senão, vejamos: sem conseguir financiamento de nenhum grande estúdio, Mel Gibson pegou dinheiro próprio seu, de sua produtora (não por acaso a Icon assina o filme sozinha), e foi filmar com pouco mais de 25 milhões de dólares sua Paixão de Cristo em aramaico, com atores desconhecidos. O orçamento, diga-se, claramente não é uma invenção de marketing para dar charme a uma mega-produção: Paixão de Cristo tem características formais e de filmagem típicas de um "filme B" (que é o que seria hoje um épico histórico filmado com este orçamento – que em Hollywood é de comédia romântica contemporânea), e esta é uma de suas características mais interessantes. "Ah, ele filmou em aramaico só para ser diferente" – OK, mesmo que se acredite nisso, certamente não estaria em acordo com um filme de grande estúdio, aonde se odeia bastante o "diferente". Paixão de Cristo era tão desacreditado em sua pré-produção, quanto Titanic às vésperas do seu lançamento.

Aqui, cabe esclarecer uma diferença importante: o filme de Cameron tinha tido um início radicalmente diferente do de Gibson, com um mega-orçamento aprovado na casa dos cento e tanto milhões de dólares. No entanto, uma vez que o perfeccionismo obsessivo de Cameron (característica partilhada por Gibson, dizem) levou o filme a sucessivos estouros de orçamento, chegando perto (ou ultrapassando, dependendo da versão) os duzentos milhões de dólares, o estúdio já tinha desistido totalmente de qualquer "sucesso" – desejava-se no máximo, perder o menos de dinheiro que se pudesse. Isso não é tese "a posteriori" – está registrado nas revistas do mercado de cinema americano às vésperas do lançamento.

Gibson filmou e começou a trabalhar na finalização do filme sempre por conta dele, já tendo fechado com um distribuidor absolutamente independente. Aí é que as coisas começaram a ficar interessantes: com a polêmica que as instituições religiosas (principalmente as judaicas) resolvem comprar com o filme ainda não pronto. Possivelmente foi aí que os estúdios (que hoje estão ligados ao filme no mercado externo – no Brasil o filme é lançamento da Fox, por exemplo) começaram a se dar conta de que, uma vez feito por tão pouco, talvez este filme não fosse de todo um mau negócio – polêmica é sempre (ou, quase sempre) bom para os negócios. Entretanto, a estas alturas um certo abraço do sistema já não mudava mais a independência do produto final que Gibson assina: em aramaico e latim (portanto com legendas nos EUA), sem atores famosos (Monica Bellucci não é ninguém nos EUA, nem mesmo pós-Matrix), ultra-violento e com censura para menores de 17 anos.

Mas, talvez o ponto mais interessante a unir os dois filmes seja o do trabalho com gêneros. Quando o senso comum diz que o cinema é feito hoje para adolescentes interessados, antes de tudo, no cinema de ação com muitos efeitos visuais, ou nas comédias rasgadas e de pouco raciocínio, Titanic vinha propor, do alto de suas três horas e pouco de duração, um retorno ao cinema épico romântico que se considerava enterrado nos áureos tempos hollywoodianos. Um produto cinematográfico atualizado, sem dúvida (basta ver os efeitos visuais abundantes), mas ainda assim filho completamente diferente do que se produzia em torno dele – uma aposta radical num cinema de gênero, romântico e grandioso. De forma análoga, o filme de Gibson vem propor a volta a um gênero ainda mais distante e "enterrado": o filme bíblico, religioso, não só desinteressante a princípio, como de fato proibido (nos EUA) para o público adolescente.

É neste contexto que a presença dos dois como os maiores fenômenos de bilheteria da história recente (ou de sempre) do cinema americano não pode ser vista sem interesse, sem matizes, sem estudo. Me parece pequeno colocá-los na categoria do "marketing puro" (ainda que caiba a provocação, sendo este um filme religioso: o que é a Igreja Católica senão uma genial sacada de marketing?), porque marketing sempre houve e sempre haverá, e isso não garantiu o sucesso comercial a tantos e tantos filmes feitos com este propósito.

Diminuir um filme a "violência de terceira" ou "fenômeno de marketing", simplesmente, é muito legal para quem quer vender jornal, fingindo-se (ou sendo realmente??) incapaz de autocrítica. Para quem queira tratar o cinema (seja como expressão artística, seja como fenômeno cultural) com algum interesse real ou seriedade, é preciso ir um pouco mais longe."

Obs: NÃO houve retorno ao tema. Suponho que a opinião do crítico não tenha mudado...

Segundo texto de autoria do Psicanalista e escritor Contardo Calligaris no site Uol e Folha de São Paulo:

"A Paixão de Cristo, de Mel Gibson, estréia amanhã no Brasil.


1) Muitos perguntarão: por que representar a paixão de Cristo com tamanha violência e tanto sangue? O cristianismo não seria mais bem apresentado pelo Cristo da ressurreição e pela mensagem generosa dos Evangelhos?
Ora, em 1521, Lucas Cranach publicou um pequeno livro, "Passional Christi und Antichristi" (Paixão do Cristo e do Anticristo). A gravura em que o anticristo era coroado com muita pompa, como um papa ou um imperador, era contraposta à que representava o Cristo escarnecido e humilhado, com sua coroa de espinhos.
Como milhões de homens e mulheres ocidentais, passei minha infância sob o olhar protetor de dois tipos de imagens: de um lado, os heróis nacionais com faixas, gala, espada e bandeira; do outro, o crucifixo. Cuidado: não era o Cristo sentado à direita de Deus nem o Cristo conversando amavelmente com os apóstolos ou sarando leprosos e ressuscitando mortos. Era o Cristo na cruz. Seu poder era obviamente diferente do poder dos heróis a cavalo: ele parecia se originar no próprio martírio.
Em matéria de religião, prefiro conviver com perguntas que não têm resposta. Mas uma coisa me parece certa: sem o mistério (absurdo, como dizia Tertuliano) de um deus que teria aceitado viver um suplício horrível para redimir os pecados dos homens, o cristianismo não passaria de uma ideologia social-democrata. Ótimo e simpático, mas não precisa do Cristo para isso.
No filme de Mel Gibson, a paixão acontece na presença constante do demônio, que é o único derrotado. Se o Cristo desistisse de seu martírio e recorresse a uma mágica divina para evitar o sofrimento, o demônio triunfaria. E prevaleceria, em nossa cultura, uma única idéia do poder, a idéia da qual gosta o maligno e segundo a qual o poder está com o mais forte.

2) Vários críticos acusam Mel Gibson de ser hollywoodiano. Dizem que, na "Paixão de Cristo", o sangue escorre como num filme de ação de segundo escalão.
É uma inversão. O Cristo crucificado é a imagem que mais foi reproduzida e divulgada no segundo milênio do Ocidente. Não é estranho, por conseqüência, que um tema básico de nossas narrativas populares seja o seguinte: um homem é massacrado, surrado, deixado numa poça de sangue, mas ele é um justo e voltará um dia para ajustar as contas.
A paixão de Cristo não precisa do sangue falso de Hollywood, mas há muito sangue de Hollywood que seria impensável sem nosso fascínio pela paixão de Cristo. O próprio Mel Gibson, como ator, já foi "crucificado" mais de uma vez.

3) Ao achar que a violência do filme é excessiva, somos fiéis à modernidade. A partir da segunda metade do século 15, somem das praças da Europa as brutais encenações teatrais do suplício de Cristo, e as imagens da paixão na arte sagrada se tornam menos cruentas. O historiador suíço Valentin Groebner, num livro recente e admirável ("Defaced, the Visual Culture of Violence in the Late Middle Ages"; Desfigurado, a Cultura Visual da Violência na Idade Média Tardia, Zone Books), nota que, a partir de 1525, as representações de Jesus crucificado, em vez de mostrar a agonia de um torturado, começam a apresentar "um redentor delicadamente suspenso na cruz".
Há exceções: o barroco brasileiro produziu, por exemplo, algumas estátuas do corpo doloroso de Cristo que não ficam para trás de nenhum Mel Gibson. Mas, no conjunto, o Renascimento do século 16 (e a gente com ele) prefere esquecer pragas e dores para exaltar as potencialidades do homem. O que era o crucifixo para um sujeito medieval? Uma consolação? Um exemplo de resignação? Pode ser. Mas, quando os pestilentos, os supliciados em praça pública, os famintos e os destroçados das mil guerras olhavam para o crucifixo, eles deviam encontrar um curioso espelho. O que havia de mais real em seus corpos, o sofrimento e a fragilidade mortal, fora também o lote de Deus. Talvez, com isso, eles reconhecessem que sua desgraça não os excluía da humanidade.
A modernidade continua pendurando crucifixos nas paredes, mas prefere esquecer pudicamente a paixão representada. Se precisássemos da imagem de um corpo comum, seria mais um ginasta que um crucificado.
Mel Gibson nos lembra de algo incômodo. E também útil: não há como entender o que é um homem moderno sem considerar que, para muitos, desde a infância, a imagem de um jovem torturado e agonizante foi o primeiro símbolo (paradoxal) de grandeza e o primeiro ideal de um corpo masculino amável e venerável.

Notas

1) Alguns acham que "A Paixão" é um filme anti-semita. A obra confirmaria o antigo argumento segundo o qual "os judeus" quiseram supliciar o Cristo (argumento que, de fato, a Igreja Católica usou durante séculos para supliciar judeus). Ora, no conto evangélico como no filme, Caifás e o "establishment" judaico de Jerusalém (não "os judeus") pediram a crucifixão de um profeta de sucesso, que minava o poder religioso instituído. Esse profeta era Cristo, um judeu.

2) De fato, Tertuliano (terceiro século de nossa era), no "De Carne Christi", não disse "credo quia absurdum" (creio porque é absurdo), mas "credibile est, quia ineptum est": é acreditável porque é inepto, ou seja, porque é uma história fraca.
Aliás, a paixão serve para isto: para que acreditemos nos fracos."

 

Existem outros textos (um deles com 8 páginas!!) onde algumas pessoas expõem suas opiniões e visões sobre o filme "A Paixão de Cristo", mas acho que esses sejam mais que suficientes para mostrar que, independente do que se pensa sobre essa obra controversa, vale a pena conferir por si próprio e tirar suas próprias conclusões.    <?:namespace prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" />

 



 
The Deadman2006-10-23 16:04:08
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Existem outros textos (um deles com 8 páginas!!) onde algumas pessoas expõem suas opiniões e visões sobre o filme "A Paixão de Cristo"' date=' mas acho que esses sejam mais que suficientes para mostrar que, independente do que se pensa sobre essa obra controversa, vale a pena conferir por si próprio e tirar suas próprias conclusões.  [/quote']

 

Ok. Deadman, cumprida a tarefa. O tribunal agradece a presteza... podemos falar de Crash agora folks?

 

Algo do que já se falou sobre o filme de Paul Haggis:

 

Portal Terra: As histórias individuais no filme têm seu mérito e pode-se imaginar se cada segmento não seria mais eficaz se fosse expandido para um filme inteiro.  Mas no lugar disso, o público deve se concentrar na bela luminosidade da cinematografia e nas maravilhosas performances de um elenco bastante comprometido com a causa.

 

À sua maneira, Crash" consegue fazer uma reflexão tocante sobre a alienação social moderna e a paranóia. Se tivesse aparecido há 10 anos, talvez ainda pudesse ser considerado um trabalho original e corajoso.

 

Cine Reporter: Crash – No Limite” (EUA/Alemanha, 2005) reacende um debate que volta e meia reaparece nos círculos de cinéfilos: até que ponto é válido o uso de artifícios dramáticos para realçar o resultado que o diretor deseja atingir? Vale a pena sacrificar o realismo de um espetáculo cinematográfico em nome do recado que se deseja passar? Essas perguntas ecoam com toda a força porque “Crash” é um filme intenso, maduro, que bate forte no tema “preconceito”. Por outro lado, embora se proponha realista, ele descreve uma realidade falsa, repleta de licenças poéticas. E isso, para algumas pessoas, pode ser um grande problema.

 

 
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