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A Montanha dos 7 Abutres


Highlander
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Aí galera, como mutos fãs de cinema aqui eu tb ataco de crítco pré-amador. Mantenho com atualizações a intervalos irregulares um blog onde publico algumas das minhas "críticas" , acessado apenas por uns poucos amigos q tb gostam de cinema, e q servem de chamariz do assunto pros encontros nas madrugadas de sexta, onde depois de muito vinho, debatemos acaloradamente sobre filmes. Andei revendo um dos filmes cuja "crítica" tinha colocado no Blog, e me ocorreu publicar o texto aqui pra colher opiniões de vcs sobre esse filme genial; A Montanha dos 7 Abutres.

Quem mais é fã desse filmaço???

Segue abaixo o texto com as minhas impressões sobre o filme, gostaria de saber as de vcs...

 

 

 A Montanha dos Sete Abutres - Billy Wilder - 1951

Já faz muito tempo que tinha vontade de assistir esse clássico do qual só havia lido e ouvido falar. Mas como não há edição brasileira em DVD(pelo menos eu nunca encontrei) e em VHS embora tenha sido lançado é muito difícil de ser encontrado, não surgia oportunidade. Felizmente chegou nas minhas mãos uma cópia DVD-R gravada da TV. Embora a qualidade razoável pra ruim da cópia(a imagem está aceitável, o som porém, um pouco abafado)é possível desfrutar desse filme excelente e finalmente descobrir porque é um grande clássico. Kirk Douglas é Charles "Chuck" Tatum , um repórter polêmico e arrogante que chega à,na época, pequena Albuquerque no Novo México á procura por emprego depois de ser expulso ou demitido de vários jornais importantes. Passado um ano, cansado do marasmo da pequena cidade onde nada importante acontece que possa virar uma grande reportagem,Chuck é mandado numa viagem de trabalho para fazer a cobertura de um evento sem importância. No caminho, ao parar para abastecer o carro na pequena  cidade de Escudero descobre que Leo Minosa, dono do posto de gasolina está preso há algumas horas numa mina próxima. Esperto, Chuck fareja na hora que pode transformar o fato numa grande história,e que esta é a oportunidade que tanto esperava para dar a volta por cima. Imediatamente se oferece pra conseguir ajuda, mas acaba transformando o fato num grande circo, e chantageando autoridades locais consegue exclusividade na cobertura e prolonga o resgate em pelo menos 6 dias a mais do que o necessário afim de esticar a cobertura jornalística. O filme então passa a mostrar Chuck no comando da situação, jogando com as emoções da cada vez maior audiência e controlando a tudo e a todos, inclusive convencendo a mulher de Leo a não abandoná-lo e o corrupto xerife a ajudá-lo em troca de publicidade para garantir a sua reeleição("Em 6 dias eu vou transformá-lo em herói."). A certa altura, tentando mais convencer a si mesmo do que ao interlocutor, Chuck diz para o jovem repórter que o acompanha: "Não faço as coisas acontecerem, só escrevo sobre elas" . Mentira; A Montanha dos Sete Abutres é um belo exemplo de como a mídia pode criar ou distorcer fatos apenas para ganhar audiência, vender mais. Enquanto assistia ao filme lembrei-me de algumas passangens do livro Chatô- O Rei do Brasil, biografia do mega-empresário da imprensa Assis Chateaubriant, dono de diversas publicações, entre elas,a revista O Cruzeiro, que dezenas de vezes simplesmente inventou reportagens, como a célebre matéria sobre a Amazônia publicada em meados dos anos 40, na qual os repórteres afirmavam ter passado mais de um mês na selva fazendo a reportagem que na verdade fora escrita no Rio de Janeiro mesmo, sendo as fotos dos jacarés tiradas no zoológico local. De todo modo é um filme ótimo, que conta com uma excelete direção do genial Billy Wilder e impecável atuação de Kirk Douglas. Serve não só como entretenimento de ótima qualidade, mas também como painel de estudo sobre jornalismo e comportamento humano. Uma pena não dispormos de edição nacional em DVD.

 

 

 

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Eu vi há muito tempo . Achei ótimo , é um drama interessante que mostra o quanto um jornalista espertalhão pode lucrar com uma notícia sensacionalista . Chega a ser tragicômico aquele amontoado de gente visitando o local , como se fosse um  " parque temático da tragédia " .

 

 

Kirk Douglas é perfeito para interpretar canalhas ,heheh .
Fernando2006-10-05 20:24:03
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Este é um dos grandes filmes de Wilder, com certeza. Há algum tempo, publiquei uma resenha em um outro site e, para não ter que repetir minha argumentação, postarei-a aqui (vale dizer, nota 8/10):

"Vez ou outra, alguns grandes diretores amarguram fracassos que são difíceis de compreender. Foi assim com Sergio Leone, e seu maravilhoso “Era Uma Vez na América”, Alfred Hitchcock, com seu genial “Festim Diabólico” (que não foi um total fracasso, mas é um filme que raramente é apontado como um dos grandes êxitos do diretor), Stanley Kubrick, e seu ótimo estudo sobre a inutilidade da guerra, “Nascido Para Matar”, e David Lynch, com sua melhor obra, o fascinante “Cidade dos Sonhos”. Billy Wilder, o gênio por trás de clássicos incomparáveis do cinema, como “Crepúsculo dos Deuses”, “Quanto Mais Quente Melhor” e “Pacto de Sangue”, também sofrera deste mesmo mal.<?:namespace prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" />

 

Quando lançado nos cinemas, em 1951, " A Montanha dos Sete Abutres" fracassou de maneira incompreensivel. Seus produtores, em ato de desespero, tiveram a idéia de relançá-lo, trocando apenas o título do filme. De "Ace in the Hole", passou a se chamar "The Big Carnival". Resultado? Um novo fracasso. Merecido? Jamais! "A Montanha dos Sete Abutres", um dos filmes menos aclamados de Wilder, é simplesmente uma de suas melhores e mais corajosas obras. Um aterrorizante conto sobre imoralidade e ambições, no qual Wilder constrói uma crítica extremamente audaciosa à chamada imprensa marrom, conhecida por sua falta de escrúpulos e humanidade ao abusar de sensacionalismo apenas para vender manchetes, passando por cima de tudo e de todos, sem preocupar-se com conseqüências.

 

Nele, um repórter (Tatum, interpretado por Kirk Douglas), famoso por seu comportamento anti-social, após ser despedido de vários grandes jornais americanos, acaba indo procurar emprego em uma cidadezinha mexicana, em busca de uma grande matéria para conseguir chegar ao topo novamente. Passado um ano, enquanto se dirigia a um evento típico da região (uma caça a cobras), para uma reportagem de praxe, se depara com aquela que pode ser sua oportunidade tão aguardada: um homem, enquanto caçava relíquias em uma caverna indígena, situada na Montanha dos Sete Abutres, fica preso após um desabamento. Prolongando ao máximo possível a “estadia” do pobre homem na montanha, Tatum acaba utilizando a desgraça do indivíduo para conseguir de volta seu prestígio e seu emprego em um grande jornal, manipulando à todos aqueles que estão envolvidos em seu resgate.

 

“A Montanha dos Sete Abutres” não poderia ser uma obra mais atual. Hoje em dia, a manipulação e o sensacionalismo na imprensa tornaram-se algo tão comum quanto a água no café. Acidentes, homicídios, assaltos, estupros, baixarias intermináveis envolvendo pessoas públicas, tudo mostrado sem o mínimo de pudor pelas várias vertentes da imprensa (como diria o personagem do filme, não são as notícias boas que vendem, e sim as ruins). Quando não apenas mostrados, os fatos ainda passam por uma constante distorção, nos impedindo, muitas vezes, de podermos distinguir a verdade da invenção. Parte dessa distorção deve-se, principalmente, ao encurvamento de certos elementos da imprensa, sejam eles da escrita ou da televisionada, à emissora do “Plim-plim”, que acredita ter o direito de comandar a tudo e a todos nesse país e, inclusive, escolher aquilo que deve ser mostrado ao público, e aquilo que não deve.

 

Tomemos como exemplo os programas de fofocas, tão famosos nas programações diárias de boa parte dos canais de televisão aberta. Além dos mesmos serem, na realidade, um serviço de inutilidade pública dos mais imbecis, à exemplo dos reality-shows que predominam a preferência da parte acéfala da audiência, eles invadem de maneira totalmente anti-ética a privacidade de membros famosos da sociedade. A parte pública desses indivíduos, ou seja, seu trabalho (seja ele na televisão, música, cinema, ou qualquer outro meio de entretenimento), é aquela que diz respeito a seus fãs, ou às pessoas que acompanham este tipo de programa. No momento em que, como é muito comum ultimamente, sua vida particular passa a ser divulgada à todos, transcedemos a parte pública do indivíduo, expondo, assim, fatos que não dizem respeito a mais ninguém na sociedade, exceto ele mesmo.

 

Porém, acompanhar a desgraça de alguém acabou virando um hobby mundial, graças ao alto nível de hipocrisia presente na sociedade moderna. Por isso, é imprescindível que não esqueçamos que, na verdade, não é apenas a imprensa a culpada por esse tipo de situação. Ela apenas está atendendo a um pedido de mercado. Quando, por exemplo, certo modelo de camiseta está vendendo bem, a indústria que a produz não irá cortar a produção do produto, e sim duplicá-la. É o mesmo tipo de situação que acontece com a imprensa. Percebendo que o público se interessa muito mais em acompanhar notícias repletas de sensacionalismo, a reação não poderia ser outra senão aumentar ainda mais a presença do mesmo nos noticiários.

 

Na época do filme, ou seja, na década de 1950, a imprensa escrita ainda era a mais forte, ao passo que a televisão ainda não havia tornado-se tão popular (ela não havia sido inventada há muito tempo, e ainda era luxo de poucos). Porém, esse tipo de situação já existia, mesmo que em menor escala. A história do filme mostra isso com perfeita clareza: sem pensar nas consequências de sua decisão, Tatum acaba montando um verdadeiro circo acerca à desgraça de Leo, o homem que ficara preso no desabamento da caverna. Consegue, através de muita lábia, conquistar a parceria do xerife local, que impede que outros membros da imprensa tenham acesso às informações do caso, convencer os engenheiros a tentar o salvamento da forma mais complicada possível, para prolongar o tempo de clausura do indivíduo e, conseqüentemente, aumentar o número de matérias a serem escritas, e até fazer com que a esposa insatisfeita de Leo, que iria aproveitar a situação para deixar o marido, fique e fature dinheiro em cima da situação, tudo isso para conseguir sua tão sonhada volta a um grande jornal. E realmente consegue, mas acaba sendo vítima de suas próprias armações.

                                                                                                                                      O roteiro de Wilder, repleto de seu habitual cinismo, é excepcional. Cheio de diálogos inspiradíssimos, marca registrada de seus trabalhos, o filme contém frases que só poderiam ter saído de sua mente. Mesmo que, diferentemente da maioria de suas obras, este filme seja um drama de temática forte, que não conta com seu delicioso senso de humor, algumas passagens do filme contém tiradas engrassadíssimas, quase sempre de natureza cínica e imoral, equivalentes à personalidade do personagem. Personagem, aliás, interpretado com extrema competência por Kirk Douglas, em uma de suas melhores atuações, tão impactante quanto, por exemplo, as de “Spartacus” e “Glória Feita de Sangue”, ambas produções de Stanley Kubrick. A direção de Wilder, por sua vez, é, como de praxe, segura e sem firúlas, dando total importância à seu roteiro, sem preocupar-se muito com a parte visual (Wilder nunca fora um diretor de cenas visualmente criativas, fazendo com que o público desse total atenção a seus roteiros).  

 

Porém, nas pequenas escolhas que são necessárias para a composição visual da obra, Wilder acerta de maneira bastante competente. A região da montanha, deserta e com pouquíssimos elementos em cena (pelo menos até a chegada da multidão de curiosos, que montam acampamento nela), passa uma sensação de isolamento que condiz com a situação de Leo, enquanto o interior da caverna, minúsculo, escuro e empoeirado, transmite a sensação claustrofóbica ideal para que o espectador sinta-se familiarizado com o drama vivido por ele. Além disso, a decisão pela fotografia em preto-e-branco mostra-se acertadíssima, já que intensifica o clima tenso e aumenta ainda mais o impacto das cenas passadas dentro da caverna, que tornam-se, assim, ainda mais angustiantes do que já seriam por natureza.

 

Enfim, fica registrada minha recomendação a esta maravilhosa obra de Billy Wilder. Um filme que, com o passar dos anos, acabou se tornando ainda mais atual do que era na época em que fora lançado. Uma magnífica crítica à chamada imprensa marrom, que merecia mais atenção e prestígio do que recebera, visto que é uma das grandes obras desse brilhante diretor, e que comprova, mais uma vez (nem é mais preciso, na realidade), o quanto Wilder estava à frente de seu tempo: mais de 50 anos depois de feito, “A Montanha dos Sete Abutres” proporciona material para abrir uma série de discussões extremamente atuais, que poucos filmes de nossa época tem a coragem e a competência de proporcionar. Só um gênio como Wilder seria capaz de tamanha proeza."

 

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