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Terra em Transe


Highlander
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Depois de muito ouvir falar de

Glauber Rocha e de seus filmes, estava ansioso pra finalmente assistir algum.

Sim, me desprezem; este pretenso amante do cinema nunca tinha visto nada do

aclamado Glauber até duas horas atrás...De todo modo, há muito que tinha

curiosidade; e ela aumentou muito a partir da leitura que fiz do excelente

livro “Glauber Rocha , Esse Vulcão”, biografia do cineasta escrita por João

Carlos Teixeira Gomes, jornalista conterrâneo, contemporâneo e amigo pessoal de

Glauber Rocha, que o escreveu a partir de sua própria vivência e convivência

com o cineasta e também baseado em extensa pesquisa e entrevistas. Resolvi

fazer minha primeira incursão na obra de Glauber pelo seu filme mais famoso e

polêmico, Terra em Transe.

 

            Terra em

Transe se passa num país fictício chamado Eldorado, mas precisamente na

província de Alecrim, onde forças políticas populares e conservadoras se opõem

ferozmente diante de uma massa cega,ignorante e facilmente manobrável, que

ameaça se opor ao golpe iminente. Em meio à turbulência e dividido entre

sentimentos de amizade para com um senador conservador que quer tomar o poder e

suas próprias convicções políticas está o poeta e jornalista idealista Paulo

Martins. Como acabo de ler o  biografia

do diretor, me pergunto se Paulo Martins não seria uma espécie de  alter ego de Glauber. Um poeta genial,

instável, cheio de dúvidas e mergulhado na sua confusa genialidade. Será?

Definitivamente, Terra em Transe não é um filme de fácil digestão; é quase um

poema filmado. Os diálogos são mesmo riquíssimos em poesia. Em determinados

momentos, o filme sugere um certo improviso, mas conhecendo a biografia do

diretor é fácil acreditar num improviso premeditado, numa imperfeição

proposital. Não é preciso mais do que 5 minutos de filme, pra ficar evidente

que Eldorado é o Brasil. Corrupção, golpe, luta de classes em meio á um

ambiente carnavalesco. Um povo atirado à miséria e a elite distanciada em palácios

nababescos. Mais estarrecedor é perceber o quanto o filme é atual. Uma esquerda

que conquistou o poder com o apoio do povo mas não cumpriu o que prometera. Uma

direita canalha e mentirosa que tem horror ao povo no poder. Tudo isso recheado

de metáforas. O filme foi feito em 1967, mas poderia tranqüilamente ser filmado

em 2006. Mais uma prova de que o Glauber era mesmo um cara à frente do seu

tempo.

 

            A proposta

do Cinema Novo, movimento do qual Glauber foi um dos fundadores, e que praticamente

“inaugurou” com Terra em Transe, pregava entre outras coisas um rompimento com

o cinema “bonitinho”, hollywoodiano. E esse rompimento é evidente em Terra em

Transe;  apresentado em uma linguagem

diferente do que estamos habituados. Em alguns momentos o filme me remeteu a

Antonioni e filmes como Blow Up e Profissão:Repórter; linguagem pouco usual, e

passagens que demoram a fazer sentido, que requerem reflexão; e mesmo algumas

que não consegui compreender.

 

            Como

entretenimento puro e simples não é uma boa opção. Às vezes o filme se arrasta,

e a verborragia incomoda um pouco. Mas é inegável o caráter genial e inovador

do filme. Aliás, Glauber costumava citar Brecht, segundo o qual as coisas novas

ruins são melhores que as velhas boas. Por essa razão Glauber incitava os

artistas do seu tempo a ousarem, perderem o medo de mudar; de fazer

diferente.  E ele próprio fazia

diferente, reinventava, e segundo ele mesmo, sabia que corria o risco da

incompreensão. Essa característica, na minha opinião, fica evidente em Terra em

Transe. A montagem é fragmentada, a narrativa é totalmente não usual, por vezes

confusa, e algumas passagens são, como Glauber sabia que corria o risco,  incompreensíveis. De todo modo, quem quer saber

um pouquinho sobre cinema, como eu quero saber um dia, não pode morrer ser

assistir Terra em Transe.

 

Quem viu, o q achou??

 

 

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É sobre o ser, sobre a humanidade, não apenas sobre um sistema político, ou contra um sistema político. Vai além disto e portanto sempre será algo novo. Acho que política e poesia não podem coexistir, a poesia tem a política. Não importa o que você faça, isso é político. Penso que os jovens de hoje poderiam se beneficiar ao verem esses filmes. É óbvio no caso de 'Terra em Transe', porque o filme é sobre política. Mas é o contrário de 'All the Kings Men' ('A Grande Ilusão'), que é sobre os políticos.

O livro de Robert Penn Warren, que inspirou o filme --tem inclusive uma nova versão saindo-- é uma coisa bem distinta. Na ocasião que assisti 'Terra em Transe', eu nunca tinha visto uma reação a um filme como aquela. Havia aquele último plano do homem disparando a arma, em tela ampla (1:85), em que a cena ocupa o canto do quadro. Depois que a sessão terminou, algumas pessoas permaneceram aplaudindo, aplaudindo e aplaudindo por uns vinte minutos.

Foi comovente e aterrador! Aquela imagem é por demais eloqüente de um cinema que sempre expressará um sentido de resistência, de uma forma ou de outra. Isto ocorre porque o personagem permanece na tela e você ouve aqueles tiros. É uma imagem incendiária. Eu presenciei a reação do público, é uma cena poderosa. É poesia, mas podemos dizer também que é política. Mas a poesia vem primeiro e então talvez Glauber esteja certo ao afirmar que 'a poesia e a política são demais para um só homem'.

 

 

recomendo o EXCELENTE "O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro" e, é claro, Deus e o Diabo.
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  • 2 months later...
  • 10 months later...
  • 3 years later...
  • Members

Maior OP do cinema brasileiro, sem dúvidas. Glauber Rocha era um gênio.

 

Não dá para discutir cinema hoje em dia sem usá-lo como referência, e nem estou falando só do Brasil não, Glauber Rocha e seu Terra em Transe influencia até hoje muitos cineastas no mundo todo, por exemplo, Martin Scorsese, um dos grandes diretores dos EUA a fazer cinema de diagnóstico (estou ficando viciada nesta expressão), assim como os irmãos Coen também.

 

Mas voltando ao filme, adoro como o filme vai desmoronando tudo até seu desfecho trágico. O protagonista, Paulo, segue numa agonia contruída de forma complexa num plano imagético ao longo do flashback, até retornar ao tempo zero, que é o momento do golpe. Tudo de forma conceitual, com atuações teatrais e alegorias.

 

Amo esta fala:

 

Sara: "- O que prova sua morte?"

Paulo: "- O triunfo da beleza e da justiça!"
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  • 1 month later...

 

Nunca consegui ver todo.

 

A verdade é que, apesar do enredo extremamente complexo e original, o filme é demais em tudo: poético demais, teatral demais, complexo demais, metafórico demais o que poderia ser até interessante, mas no final deixa tudo chato demais (aliás, também é longo demais). Este para mim ultrapassa o limite do entretenimento e adentra o domínio do pretensioso e pouco acessível em plenitude. Para mim a linguagem falada dificilmente se adapta a complexidade poética de tal categoria - muitas vezes a reflexão exigida nos diálogos caberia melhor em um livro, cujo tempo de leitura não é delimitado em decorrência da duração da fita.

 

Só terminaria de ver se eu tivesse uma necessidade extrema de parecer ishperto (o que não tenho) ou então observar partes técnicas.

PS: até as críticas são chatas. Parece que os críticos querem escrever textos à suposta altura do filme e para isso torna-se precípuo o uso de adjetivos refinados.

 

Mr. Scofield2011-02-06 10:53:42

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Nunca consegui ver todo.

[/quote']

 

Isso aí mata tua fala Scofildis. Se não viu todo a experiência não foi completa. Se o comentário foi apenas sobre o que viu, idem.

 

Vi no cinema, acompanhado de saboroso debate após o filme, então não poderia discordar mais...

 

 

 

 
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Nunca consegui ver todo.

 

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Isso aí mata tua fala Scofildis. Se não viu todo a experiência não foi completa. Se o comentário foi apenas sobre o que viu, idem.

 

Vi no cinema, acompanhado de saboroso debate após o filme, então não poderia discordar mais...

 

 

 

 

 

Se eu não consegui ver todo é porque achei um saco e não vou continuar vendo só para agradar a quem acha que eu deveria ter visto.

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Nunca consegui ver todo.

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Isso aí mata tua fala Scofildis. Se não viu todo a experiência não foi completa. Se o comentário foi apenas sobre o que viu, idem.

 

Vi no cinema, acompanhado de saboroso debate após o filme, então não poderia discordar mais...

 


Se eu não consegui ver todo é porque achei um saco e não vou continuar vendo só para agradar a quem acha que eu deveria ter visto.

 

Ué mas você viu o filme para agradar alguém? Não parta do pressuposto que Terra em Transe é um filme de intelectual feito para intelectual. Terra em Transe é cinema da melhor qualidade, no entanto, como você muitos não gostaram, normal. O que eu quis dizer é que não ver um filme inteiro é experiência pela metade (isso se muito).  

 

 

 

 
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Nunca consegui ver todo.

 

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Isso aí mata tua fala Scofildis. Se não viu todo a experiência não foi completa. Se o comentário foi apenas sobre o que viu, idem.

 

Vi no cinema, acompanhado de saboroso debate após o filme, então não poderia discordar mais...

 

 

Se eu não consegui ver todo é porque achei um saco e não vou continuar vendo só para agradar a quem acha que eu deveria ter visto.

 

Ué mas você viu o filme para agradar alguém? Não parta do pressuposto que Terra em Transe é um filme de intelectual feito para intelectual. Terra em Transe é cinema da melhor qualidade, no entanto, como você muitos não gostaram, normal. O que eu quis dizer é que não ver um filme inteiro é experiência pela metade (isso se muito).  

 

 

 

 

Eu não parti de pressuposto, eu vi com meus próprios olhos. Eu não acho que o filme seja bom, algo que não me entretém não é bom.

E eu não me importo de ter experiências de coisas que eu não gosto pela metade. É questão de auto-preservação. 06

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