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Laranja Mecânica


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 Já vi "Laranja Mecânica" umas 3 vezes. Em fases distintas da minha vida (a primeira vez ainda era criança. Devia ter uns 12 anos...). NUNCA torci para Alex. Durante todo o filme minha expectativa era que ele se fudesse "de com força"!

 Apesar de tudo, graças a espetacular direção de Kubrick, da atuação insana de McDowell e do brilhantismo da obra de Antony, fiquei extremamente feliz de ter sido contrariado. O filme é foda! 16
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Acho que o filme não 'pede' para que torçamos por Alex... Entretanto a torcida por ele é uma reação que pode normalmente ocorrer em quem assiste e acho que é aí que o filme mostra a sua genialidade.

 

Não,não pede.Tanto é que muitos sequer cogitam isso (como o The Deadman disse acima,que sempre torceu para que Alex se ferrasse).Acho que o filme toca lá no fundo,lá na gosminha que define em sua essencia o nosso mais primitivo senso do que julgamos ser certo e errado.É um teste vocacional para padres.Ou advogados.06
Enxak2007-01-12 12:02:05
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Já havia um tópico para o filme aqui' date='mas ele parece ter sido engolido pelo tempo.

 

Pode parecer que não há muito mais o que se falar sobre o filme,mas acho que filmes como esse são fontes eternas de discussão.

 

Surgiu no tópico "O que vc Anda Vendo e Comentando" a questão de que o filme Laranja Mecanica é visto,por alguns,como uma comédia.Outros discordaram,dizendo que quem o enxerga dessa maneira na verdade "não entendeu o filme" (a famosa síndrome Matrix).

 

O que vcs acham? O filme pode ser rotulado de que maneira,se isso fosse realmente preciso? A violencia te choca,ou vc a enxerga como uma caricatura da violencia?

 

 
[/quote']

 

Eu enxerguei como uma caricatura da violência. É como eles dizem, o humor dos filmes do Kubrick é corrosivo. É engraçado e ao mesmo tempo sério, diria polêmico. No entanto, um mesmo filme pode ser interpretado de diversas maneiras, igual a um texto. <?:namespace prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" />

 

O que mais me chocou no filme foi como o estado se aproveita da violência, para se valer como estado. O final, o senador o oferece um cargo ao Alex no serviço público. Eu imagino que seja na polícia. Onde seus ex-amigos marginais trabalham.

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Me desculpem, mas lembro q à pouco tempo vi passar na tv esse filme, e não cheguei a ver 1/10 do filme.. achei completamente idiota. Um filme irônico e depressivo até. Não sei qual a graça de gostar de um filme de tanta violência. É só pela ironia? Pq tem um monte de filmes realmente muito bons, que te prendem, te envolvem e te fazem rir e não são tão idiotas como esse.. eu li todos os posts do tópico, mas sinto muito gente, eu não consigo conceber como vocês podem gostar de tanta violência, tão horrível. Imaginem esse filme nas mãos de adolecentes com uma queda pra delinqüentes, que gostam de se divertir às custas das outras pessoas! Humor negro pra mim é igual a ironia com a falta de respeito.

Não gosto nem da idéia nem do filme em si. Diria que acho até abusivo o uso de tanta violência. Você elogiar o filme é uma coisa.. elogiar os atores e o diretor é outra. Os atores podem ter sido ótimos, o diretor um gênio, mas o filme em si um lixo! Bem.. essa é a minha opinião...
Lucy.Ling2007-01-14 04:10:39
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Me desculpem, mas lembro q à pouco tempo vi passar na tv esse filme, e não cheguei a ver 1/10 do filme.. achei completamente idiota. [/quote']

Acho que você começa errando aí... eu não costumo julgar um filme vendo apenas parte dele. A não ser que ele seja MUITO ruim, mas um filme com atuações tão boas, uma trilha sonora fantástica, e uma história genial, acho que dava pra ver até o final...

Um filme irônico e depressivo

Não vi o depressivo' date=' serião. emoticonrimbuk.jpg

Não sei qual a graça de gostar de um filme de tanta violência. É só pela ironia? Pq tem um monte de filmes realmente muito bons, que te prendem, te envolvem e te fazem rir e não são tão idiotas como esse..

Sei que a maior parte da discussão do tópico é sobre a capacidade do filme de provocar risos, mas não acho que ele tenha sido feito com essa finalidade. Eu acho que rir ou não de cenas como o espancamento do escritor, ou o assassinato a "pirocadas", cabe a moral de cada um e sua definição de humor. Nesse caso, acho que qualquer um amante de humor negro é capaz de rir com o filme.

Imaginem esse filme nas mãos de adolecentes com uma queda pra delinqüentes' date=' que gostam de se divertir às custas das outras pessoas![/quote']

Não sou de imaginar filmes influenciando pessoas de maneira tão profunda... a não ser que ela seja extremamente idiota.

Diria que acho até abusivo o uso de tanta violência.

 A violencia é usada em diversos filmes de diversas maneiras diferentes, as vezes necessária, as vezes não. Eu acho que Laranja Mecânica é o primeiro caso, onde a violência é usada para que o expectador possa enxergar o caráter de Alex. Já sua reação a isso, depende de cada um...

 

By the way, LM é meu filme favorito.

01

 
Darknesssss2007-01-14 04:48:03
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Me desculpem, mas lembro q à pouco tempo vi passar na tv esse filme, e não cheguei a ver 1/10 do filme.. achei completamente idiota. Um filme irônico e depressivo até. Não sei qual a graça de gostar de um filme de tanta violência. É só pela ironia? Pq tem um monte de filmes realmente muito bons, que te prendem, te envolvem e te fazem rir e não são tão idiotas como esse.. eu li todos os posts do tópico, mas sinto muito gente, eu não consigo conceber como vocês podem gostar de tanta violência, tão horrível. Imaginem esse filme nas mãos de adolecentes com uma queda pra delinqüentes, que gostam de se divertir às custas das outras pessoas! Humor negro pra mim é igual a ironia com a falta de respeito.

Não gosto nem da idéia nem do filme em si. Diria que acho até abusivo o uso de tanta violência. Você elogiar o filme é uma coisa.. elogiar os atores e o diretor é outra. Os atores podem ter sido ótimos, o diretor um gênio, mas o filme em si um lixo! Bem.. essa é a minha opinião...
[/quote']

 

Não viu nem um décimo do filme? Reveja (por inteiro) e volte aqui.
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 A violencia é usada em diversos filmes de diversas maneiras diferentes, as vezes necessária, as vezes não. Eu acho que Laranja Mecânica é o primeiro caso, onde a violência é usada para que o expectador possa enxergar o caráter de Alex. Já sua reação a isso, depende de cada um...

 

 
[/quote']

 

Temos aqui um novo Forasteiro??? 13
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Kubrick só irá retomar o tom irônico do filme já perto do final' date=' na cena-chave em que Alex está comendo na casa do escritor. É nessa cena que vemos os passos iniciais do processo que levará Alex a se “curar da cura”. Quando ele vai parar no hospital o tom cômico já volta com toda a força, quando o ministro dá comida na boca dele. Ou seja, temos um filme que é conduzido de forma a ser “engraçado” (entre aspas, pois o filme não é uma comédia — não totalmente, ao menos) nos momentos em que o protagonista é um delinqüente e mais dramático nos momentos em que ele está “curado” disso.

 

[/quote']

 

Tocou num ponto interessante,Noonan (parafraseando o Foras 06).É exatamente isso o que ocorre,não tinha me dado conta.Perfeito.
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Me desculpem' date=' mas lembro q à pouco tempo vi passar na tv esse filme, e não cheguei a ver 1/10 do filme.. achei completamente idiota. Um filme irônico e depressivo até. [/quote']

 

Se ele é irônico e depressivo ele não é idiota e vice-versa...

 

Não sei qual a graça de gostar de um filme de tanta violência.

 

Para entender pq ela ocorre? Para entender pq somos' date=' em essência, seres violentos?

 

Como diria Rubem Alves, é preciso saber PENSAR...

 

Pq tem um monte de filmes realmente muito bons, que te prendem, te envolvem e te fazem rir e não são tão idiotas como esse.. eu li todos os posts do tópico, mas sinto muito gente, eu não consigo conceber como vocês podem gostar de tanta violência, tão horrível.

 

Então volte e leia todo o tópico de novo pq vc não entendeu patavinas do que foi escrito até aqui...

 

Imaginem esse filme nas mãos de adolecentes com uma queda pra delinqüentes' date=' que gostam de se divertir às custas das outras pessoas![/quote']

 

Uau... realmente! Que perigo este filme na mão de adolescentes cujos pais são omissos e compassivos diante de suas crias... Realmente seria um desastre... Mas aí o culpado seria o filme? 17

 

Não gosto nem da idéia nem do filme em si.

 

Como vc pode saber qual a idéia do filme' date=' se vc sequer o viu inteiro?

 

Em tempo: a idéia do filme realmente não agradará os alienados, ingênuos, sensíveis, etc.

 

Diria que acho até abusivo o uso de tanta violência. Você elogiar o filme é uma coisa.. elogiar os atores e o diretor é outra. Os atores podem ter sido ótimos, o diretor um gênio, mas o filme em si um lixo!

 

Como vc pode afirmar que o filme é um lixo se, de acordo com suas palavras, vc viu apenas 1/10 dele?
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O filme trata sobre a moralidade em um tom bizarro. Bizarro porque a história é baseada no ponto de vista de Alex. E moralidade pelo contexto do filme.

Ele é dividido em três partes: a primeira refere-se as atrocidades cometidas por Alex e sua trupe de sádicos; a segunda refere-se a prisão e o tratamento Ludovico; e a terceira refere-se a ressocialização de Alex.

O filme o mostra o ponto de vista e o livre arbítrio cometido pelo protagonista-narrador Alex. A violência e o sexo exacerbado e explicito mostrado inicialmente no filme serve para mostrar os valores de Alex e seus companheiros, apesar de anti-sociais para a nossa realidade esses valores expostos por Alex acabam criando uma identificação pelo espectador, porque Alex é um personagem que expõe a sua história de tal maneira que aquilo o que ele faz é a coisa mais natural do mundo e por sinal divertido, se Alex se diverte espancando um mendigo o espectador acaba achando também por mimetismo, se Alex é torturado por ter que ouvir Beethoven de uma maneira deplorável o espectador acaba também achando. Alex é preso para a tristeza do mesmo e de seu espectadores, preso por ter usado um pênis de borracha. Triste não? E para a boa moralidade e os bons costumes?

Na segunda parte Alex entra em processo de disciplina. Lendo o Bom Livro(Bíblia) e aprendendo a doutrina crista para tentar enganar o padre o os policiais da penitenciária, mas para o seu inconsciente era para ele a Bíblia uma história onde ele sente-se como o soldado romano que flagelou Jesus, matou centenas de pessoas em combates relatados pela Bíblia. Engraçado? Pelo ponto de vista de Alex é muito divertido. Mas para a moralidade social ele esconde o seu livre arbítrio, para poder sair o quanto antes da prisão. Dando uma de querendo ser um "bom menino" ele entra para o tratamento Ludovico.

Pode a sociedade influenciar os seus gostos, valores e princípios(se tiver)? Ou pode IMPOR para um indivíduo gostos, valores e princípios? Essa foi a pergunta de Kubrick.

Alex sente após a saída da prisão, pagando a sua divida social através da sua enclausuração penitenciária, a punição da sociedade perante o indivíduo sem o livre-arbítrio de defender-se. Aqueles que eram os seus "amigos" delinqüentes e criminosos tornam-se oficiais da lei e da ordem, o mendigo que ele espanca acaba vingando-se e seus pais o recusam como filho. Pobre Alex?

Os acontecimentos seguintes mostram a sua regeneração ao que ele sempre foi um sádico ultra-violento e estuprador. Alex nesse ponto apesar de estar todo quebrado ele se reencontra com Beethoven e os seus valores.

O filme é engraçado? Do ponto de vista de Alex a suas ações são prazerosas e divertidas. Mas no nosso ponto de vista, responda você, isso é algo pessoal com a sua personalidade?

Comédia, musical, dançante... , resumindo BIZARRO. É com essa bizarrice que Kubrick criou esse filme, Drama que narra a conduta social de Alex entre o: mau cidadão, bom cidadão e mau cidadão.

No final do filme Alex reencontra aquilo que lhe dá mais prazer. Os seus próprios valores morais.

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Muito bem esmiuçado, Tonjol, e bem-vindo ao fórum. Adorei a forma como você pontuou seu texto, recheado de interrogações irônicas, parabéns!10

 

Eu ainda não tinha deixado minha opinião sobre o filme no tópico dele, portanto, mais por registro do que qualquer outra coisa:

 

Laranja Mecânica<?:namespace prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" />

 

Cinema é uma arte curiosa. Mais por seus apreciadores que seus realizadores. A 7ª, bem mais que as outras, tem seus gênios fincados na história por um público massivo, elaborado, diversificado, multifacetado. É uma forma de arte extremamente abrangente e derramada pelos mais diversos cantos e tipos de espectadores, conseguindo atingir a todos, de uma forma ou de outra. Exatamente pela total ausência de uma consciência universal (que sobrevive, ainda que em pequenos fragmentos, nas outras formas de arte), o cinema exige o girar da roda para que seja compreendido em totalidade (se é que isto é possível). Assim sendo, certos filmes parecem viajar no tempo, ter vindo direto do futuro para marcarem uma era e serem reconhecidos apenas anos mais tarde.

 

Laranja Mecânica, de Stanley Kubrick (o diretor que virou subtítulo de suas obras), é mais que um exemplo. A maior dificuldade em falar sobre Laranja não é sua complexidade, sua filosofia e críticas, sua imensurável beleza plástica. É não cair em redundância, em quase risco de plágio. Se você quiser ser realmente original ao falar sobre o filme, fale mal. O problema vai ser de onde raios tirar argumentos. Eu mesmo sofria com esta dificuldade, pois confesso que não gostava nada desta obra-prima. Mas suas qualidades eram quase de caráter objetivo. Quase inegáveis (“quase” pra poder dizer que questioná-las com embasamento não é impossível, apesar de inacreditavelmente improvável). No entanto, ele foi me conquistando. É daquelas obras de arte que precisam do tempo para nos fazer entender que tínhamos sido uns imbecis. A única forma de estabelecer esta justiça tardia é cair de joelhos perante a grandiosidade de Laranja Mecânica e agradecer por ter percebido a tempo de contemplá-la. Ter percebido que Kubrick era um profeta e que via através das paredes.

 

Alex DeLarge é o líder de uma gangue inglesa num futuro (para os anos 70) próximo indefinido. Tudo que o move é, como diz na contracapa do DVD (começou a redundância...), “violência, violação e Beethoven”. Depois de uma traição, Alex é condenado a 14 anos de cárcere pelo Estado, que o leva para um tratamento experimental afim de “curar” sua violência, o reintegrando, desta forma, à sociedade.

 

O que torna, à primeira vista, o fascínio arrebatador possível é o universo único de Laranja Mecânica. As cores, a música, o comportamento alienado de Alex e, principalmente, seu modo de falar (que rendeu bordões proliferados até hoje), fazem com que o mundo criado por Stanley Kubrick não exista (no melhor dos sentidos). O diretor consegue, ainda, invadir a mente conturbada de Alex com uma precisão e sensibilidade jamais vistas. Ele traduz para nós, espectadores recém chegados àquela maravilhosa dimensão paralela (que, por sua vez, reflete de forma intensa a assustadora realidade), exatamente o que Alex vê. Se Alex enxerga a beleza na violência, temos uma cena ao pôr do sol, na beira d’água, em câmera lenta, ao som de Beethoven, na qual Alex bate em dois de seus drugues. É lindo! Se ele se diverte, temos uma cena de espancamento na qual o mais raro humor negro floresce (Alex bate no escritor cantando Singing in the Rain). Se ele vê o sexo (no seu caso, estupro) como arte, assim a temos no spa da “mulher dos gatos”. Você não apenas acompanha a história de Alex, mas sim, é como se fosse o próprio! Exatamente esta maneira incomparável com a qual somos maravilhosamente manipulados, faz com que nunca mais apareça ninguém com a habilidade de Stanley Kubrick para lidar com imagens. E se aparecer, certamente não o reconheceremos, pois será algo fora da compreensão humana (assim como o próprio Kubrick já foi, e ainda é, pra muita gente).

 

Outro aspecto louvável <?:namespace prefix = st1 ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:smarttags" />em Laranja Mecânica é a nossa relação com Alex DeLarge. Nós começamos o odiando, pela absurda crueldade com o mendigo e, principalmente, na casa do escritor. Conforme a evolução da história, vamos nos sensibilizando com ele, até que passamos a torcer para seu final feliz. O melhor de tudo, no entanto, é que Alex jamais deixa de ser o jovem maquiavélico que sempre foi. Portanto, não é porque Alex muda, que começamos a vê-lo de modo diferente. Quem muda somos nós! Somos arrebatados por uma paixão quase inexplicável por um assassino estuprador a ponto de realmente desejarmos que ele volte a ser o que sempre foi. Dá, afinal, pra acreditar no absoluto poder que Kubrick mantém sobre seus espectadores?

 

Outro elemento fundamental para que o efeito supracitado se faça possível é a atuação absurda de Malcolm McDowell. Seu olhar de baixo pra cima abre o filme de forma assustadora. Este olhar pode encabeçar um ranking, pra mim. Malcolm com seu Alex DeLarge no topo, Anthony Hopkins com o canibal Hannibal Lecter em segundo e Ralph Fiennes com o nazista Amon Goeth, em A Lista de Schindler, em terceiro. Nenhum deles, por mais que aqui eu me esforce, podem ter suas expressões traduzidas em qualquer língua conhecida. É coisa de outro mundo. Além dos olhos, o sempre meio sorriso de Alex e sua forma de falar sopram os ventos afiados do sarcasmo sobre Laranja Mecânica.

 

Por falar em sarcasmo, desde e que assisti ao filme pela primeira vez, não sei em qual estante da locadora colocá-lo. Bem que poderiam facilitar e pôr uma estante do gênero “obras-primas” e pronto. Laranja Mecânica é comédia, mas nem sempre. Apenas os que têm tolerância à violência e senso apurado de humor negro conseguem classificá-lo desta forma. Laranja mecânica é ficção científica. Nem sempre, sendo que a ficção é uma mera metáfora da mais impactante realidade reinante até hoje, 35 anos depois do seu lançamento. Laranja Mecânica é drama. Sem dúvida, mas nem sempre. Em primeiro lugar, porque este gênero é, como direi, “genérico” demais. Em segundo, porque até o ponto do tratamento Ludovico, e depois da tentativa de suicídio, o ar debochado das ações de Alex e sua diversão contagiante fazem com que nos recostemos e gargalhemos, ainda que sem razão lógica.

 

Chegando enfim aos termos de crítica à sociedade, desta vez com mais méritos para o escritor Anthony Burgess (autor do romance no qual o filme foi inspirado), Laranja Mecânica é uma ogiva nuclear, programada para explodir na mente dos que assim permitirem. Kubrick já havia falado sobre a humanização da máquina, que tal agora falar sobre a mecanização do homem? Mas não se iluda, na verdade você estará debatendo, daqui a mais 30 anos, qual de fato era o epicentro do filme. Maldade inerente ao ser humano, descaso do Governo em tratar o problema de forma “preguiçosa”, a violência (de Alex) gerando violência (da sociedade), manipulação, enfim...

 

Para tentar resumir, posso falar da famigerada frase final (“I was curd all right”, “Eu estava curado mesmo”) que de alguma forma, resume um pouco a própria idéia do filme. O fato é que Alex recuperara sua humanidade. A capacidade de tomar decisões morais, de escolher entre o “bem” e o “mal”, e principalmente, a capacidade de errar, constuindo assim o final feliz mais surpreendentemente controverso da história do cinema. O erro, a crueldade e a violência são inerentes ao ser humano. Ou seja, ele finalmente estava curado, mas não como imaginavam os mentores do tratamento Ludovico. Alex enfim havia reconquistado sua possibilidade de escolha, de optar, acabara naquele instante de abandonar a forma de “laranja mecânica”. Era um humano verdadeiro, outra vez. Se continuaria a fazer as coisas das quais sempre gostou, não importava (pra ninguém), pois o yang ying está intrínseco no seu caráter de qualquer forma. A cura era a possibilidade de praticá-lo, de materializar seus dantescos desejos. Era poder optar por sua maldade, sua personalidade original. Concomitante, está a cena na qual a frase é dita. Os “nobres” que o aplaudem representam agora toda a violência disfarçada, todo um circo de boçais hipócritas, estilhaçando, num palco frígido ao abrir das diáfanas cortinas de fumaça, as frágeis mente(capta)s provincianas de uma platéia que festeja, inerte, ao som da mais bela banda podre, dançando conforme sua música. Não era, portanto, o crime físico que Alex praticava, mas sim o crime moral, muito mais grave, cometido, no caso, pelo Governo, e desta forma, simbolicamente aplaudido pela sociedade. 

 

Laranja Mecânica permite à humanidade que aprenda com ele, como era o eterno objetivo do diretor. É intrigante, no entanto, que nem um gênio como Stanley Kubrick, com uma filmografia de tom tão crítico e cortante, conseguiu mudar de forma significativa o meio que o rodeava. No entanto, não há o que exigir de Kubrick, ele já fez o seu papel, que não guardava nenhuma pretensão exagerada. “Apenas” mudando, esporadicamente, a forma de ver o mundo de algumas pessoas abertas à possibilidade, vítimas satisfeitas das flechadas sublimes deste diretor inacreditável, tenho certeza de que ele já se daria por satisfeito. E que desçam as cortinas!

Forasteiro2007-01-14 23:36:44
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Ok, eu exgarerei qdo falei q vi 1/10 do filme, é uma forma de dizer que eu costumo empregar... mas eu vi a primeira parte até o comercial, e me baseando por tudo o que vcs disseram, e depois de ler todos os seus posts, eu sinto muito, mas eu realmente acho que esse filme passou das contas... Eu quis dar minha opinião pra quem não viu ainda, pra depois chegar na hora e achar que vai adorar como vocês e acabar detestando como eu... mas é uma questão de gosto, não é mesmo? É só minha opinião...

E eu falei nos adolescentes pq a gente sempre vê um ou outro - quase sempre americano, sem nenhum preconceito - no meio de folias perigosas para os outros na rua, atentados na escola... essa semana mesmo vi um video na tv onde uns marmanjos saíam de carro à noite com uma arma de paintball atirando no rosto das pessoas na rua, à queima roupa! Acho que ninguém saiu gravemente ferido, mas já pensou? Podiam ter cegado de vez alguém! Eu acho sim que o grande mal do mundo é se entreter com violência, depravação e outras coisas que a mídia controla pra gente vê... Informações sobre essas coisas todos temos, agora.. vê quem quer também, não é?
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Abelha II?

cada coisa que se tem que se aturar...

sinceramente: Laranja Mecânica = filme em primeira pessoa (Alex).

 

Alex se diverte com a boa e velha ultraviolência.

Kubrick mostra do ponto de vista dele a boa e velha ultraviolência.

 

Só pq eu me divirto com(o) o Alex durante 2 horas de filme não quer dizer que eu vá ser ele...

 

E por acaso: um filme conseguir fazer uma distorção moral como essa, I was cured allright, já vale muito.

 

E além disso, o filme propõe uma discussão sobre as atribulações de se viver em sociedade: para um ser humano conviver com outros, ele tem que ter uma certa forma de comportamento que não condiz com o que o Alex interpreta como diversão. Aí vem a parte assustadora: a "educação que ele não recebeu" é feita na maneira do tratamento Ludovico. E nessa hora, o filme muda o tom de comédia para um drama mesmo. O Alex fica mais soturno, ele sofre nas mãos dos policiais (e eles se divertem! vc não!), desenvolve repulsa à arte (Ludwig Van). E aí, vem o grand finale, com Alex curado, o espectador aliviado, e uma alfinetada foderosa no comportamento dos politicamente corretos e das aparências que eles mantêm para viver, como a do Primeiro Ministro, que usa o Alex (lembre-se que ele agora pode voltar a se divertir) pra politicagem.

 

p.s.: claro que isso não é nem 1/10 do que o filme se propõe a discutir, mas...

 

o filme não é depravado! é lindo!

 

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Ok' date=' eu exgarerei qdo falei q vi 1/10 do filme, é uma forma de dizer que eu costumo empregar... mas eu vi a primeira parte até o comercial, e me baseando por tudo o que vcs disseram, e depois de ler todos os seus posts, eu sinto muito, mas eu realmente acho que esse filme passou das contas... Eu quis dar minha opinião pra quem não viu ainda, pra depois chegar na hora e achar que vai adorar como vocês e acabar detestando como eu... mas é uma questão de gosto, não é mesmo? É só minha opinião... [/quote']

Não parece gosto, parece mais uma visão errônea de um filme. Como eu já disse, a violência é necessária em Laranja Mecânica.

 

E eu falei nos adolescentes pq a gente sempre vê um ou outro - quase sempre americano' date=' sem nenhum preconceito - no meio de folias perigosas para os outros na rua, atentados na escola... essa semana mesmo vi um video na tv onde uns marmanjos saíam de carro à noite com uma arma de paintball atirando no rosto das pessoas na rua, à queima roupa! Acho que ninguém saiu gravemente ferido, mas já pensou? Podiam ter cegado de vez alguém! Eu acho sim que o grande mal do mundo é se entreter com violência, depravação e outras coisas que a mídia controla pra gente vê... Informações sobre essas coisas todos temos, agora.. vê quem quer também, não é?
[/quote']

Violencia você encontra em todo lugar. Asssitindo ao jornal, vemos atentados, assaltos, e diversas outras formas de violencia, que podem influenciar as pessoas de maneira mais fácil do que qualquer outra. Agora, quando a violencia é usada em função da arte, você fica indignada... tsk tsk tsk.

 

 

Lucy, você diz achar Laranja Mecânica um lixo, mas seus argumentos provam que o problema não está no filme, mas sim na sua visão da violência usada nele. 01
Darknesssss2007-01-15 09:51:13
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Me desculpem, mas lembro q à pouco tempo vi passar na tv esse filme, e não cheguei a ver 1/10 do filme.. achei completamente idiota. Um filme irônico e depressivo até. Não sei qual a graça de gostar de um filme de tanta violência. É só pela ironia? Pq tem um monte de filmes realmente muito bons, que te prendem, te envolvem e te fazem rir e não são tão idiotas como esse.. eu li todos os posts do tópico, mas sinto muito gente, eu não consigo conceber como vocês podem gostar de tanta violência, tão horrível. Imaginem esse filme nas mãos de adolecentes com uma queda pra delinqüentes, que gostam de se divertir às custas das outras pessoas! Humor negro pra mim é igual a ironia com a falta de respeito.

Não gosto nem da idéia nem do filme em si. Diria que acho até abusivo o uso de tanta violência. Você elogiar o filme é uma coisa.. elogiar os atores e o diretor é outra. Os atores podem ter sido ótimos, o diretor um gênio, mas o filme em si um lixo! Bem.. essa é a minha opinião...
[/quote']

 

Bem dito. Sua opinião. Não quer dizer o filme seja realmente uma apologia à violência, como você expressou. <?:namespace prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" />

 

Na verdade uma das diversas interpretações do filme bate a uma critica incisiva sobre a violência.  Não seria ela da natureza humana? Não seria hipocrisia do estado que a condena utilizar da mesma para punir?

 

A própria religião é motivo de inspiração para violência, e porque ela mesma não é associada à apologia a violência. O Alex imaginava como o flagelador de cristo no filme, como soldado romano em campo de batalha. Se isto não é apologia e uma critica bem elaborada sobre o tema não sei o que é?

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Eu só não entendo como esse filme é tão "mal apreciado" às vezes. Sendo sincero, eu acho ele de fácil entendimento. É totalmente tranquilo de se digerir, sem grandes problemas de ritmo, sem nenhuma lentidão, sem nenhum "twist" inexplicável ou experimentalismo do tipo que o espectador comum não gosta. É bem aceitável, até.

E quanto à violência: saca, você vê filmes mais violentos que esse na sessão da tarde ou o que quer que seja. Sério mesmo. Eu não entendo como as pessoas que criticam a violência no filme são as mesmas que assistem filmes do Van Damme e do Seagal (não digo Schwarzenegger e Stallone porque gosto deles).

Anyways, acho que 89 ou 91/100.
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O povo desse fórum ama o filme mesmo. Ele não costuma estar muito em cima na maioria das listas de críticos (a maioria considera obra prima, mas não das melhores de todos os tmepos), mas aqui o pessoal acha O filme. É um dos "queridinhos" do fórum.

Isso prejudicou um pouco quando fui assistir o filme picotado e dublado no SBT, criei uma expectativa muito grande sobre o filme e me frustrei um pouco. Mas devo reassistir em pouco tempo.

Mesmo assim, gostei muito do filme, mas por motivos um pouco diferentes do pessoal aí. Não achei nem um pouco engraçadas as cenas de violência (exceto quando ele invade a casa da mulher que tem a escultura de genitália).

O que mais gostei no filme é que mostra como a sociedade, ou nós mesmos, às vezes se torna tão violenta como ele sem perceber. Também acho que o filme mostra muito essa coisa que não adianta mudar uma pessoa de fora pra dentro, a mudança real de caráter vem no coração, de dentro pra fora. Ele é o mesmo bandido o filme inteiro, mesmo quando fica "bonzinho". Eu que sou cristão (não sei se isso atrapalha em gostar do filme), aprendi muita coisa a respeito de que não adianta mudar algumas atitudes suas, se seu coração não muda.
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O filme trata sobre a moralidade em um tom bizarro. Bizarro porque a história é baseada no ponto de vista de Alex. E moralidade pelo contexto do filme.

Ele é dividido em três partes: a primeira refere-se as atrocidades cometidas por Alex e sua trupe de sádicos; a segunda refere-se a prisão e o tratamento Ludovico; e a terceira refere-se a ressocialização de Alex.

O filme o mostra o ponto de vista e o livre arbítrio cometido pelo protagonista-narrador Alex. A violência e o sexo exacerbado e explicito mostrado inicialmente no filme serve para mostrar os valores de Alex e seus companheiros' date=' apesar de anti-sociais para a nossa realidade esses valores expostos por Alex acabam criando uma identificação pelo espectador, porque Alex é um personagem que expõe a sua história de tal maneira que aquilo o que ele faz é a coisa mais natural do mundo e por sinal divertido, se Alex se diverte espancando um mendigo o espectador acaba achando também por mimetismo, se Alex é torturado por ter que ouvir Beethoven de uma maneira deplorável o espectador acaba também achando. Alex é preso para a tristeza do mesmo e de seu espectadores, preso por ter usado um pênis de borracha. Triste não? E para a boa moralidade e os bons costumes?

Na segunda parte Alex entra em processo de disciplina. Lendo o Bom Livro(Bíblia) e aprendendo a doutrina crista para tentar enganar o padre o os policiais da penitenciária, mas para o seu inconsciente era para ele a Bíblia uma história onde ele sente-se como o soldado romano que flagelou Jesus, matou centenas de pessoas em combates relatados pela Bíblia. Engraçado? Pelo ponto de vista de Alex é muito divertido. Mas para a moralidade social ele esconde o seu livre arbítrio, para poder sair o quanto antes da prisão. Dando uma de querendo ser um "bom menino" ele entra para o tratamento Ludovico.

Pode a sociedade influenciar os seus gostos, valores e princípios(se tiver)? Ou pode IMPOR para um indivíduo gostos, valores e princípios? Essa foi a pergunta de Kubrick.

Alex sente após a saída da prisão, pagando a sua divida social através da sua enclausuração penitenciária, a punição da sociedade perante o indivíduo sem o livre-arbítrio de defender-se. Aqueles que eram os seus "amigos" delinqüentes e criminosos tornam-se oficiais da lei e da ordem, o mendigo que ele espanca acaba vingando-se e seus pais o recusam como filho. Pobre Alex?

Os acontecimentos seguintes mostram a sua regeneração ao que ele sempre foi um sádico ultra-violento e estuprador. Alex nesse ponto apesar de estar todo quebrado ele se reencontra com Beethoven e os seus valores.

O filme é engraçado? Do ponto de vista de Alex a suas ações são prazerosas e divertidas. Mas no nosso ponto de vista, responda você, isso é algo pessoal com a sua personalidade?

Comédia, musical, dançante... , resumindo BIZARRO. É com essa bizarrice que Kubrick criou esse filme, Drama que narra a conduta social de Alex entre o: mau cidadão, bom cidadão e mau cidadão.

No final do filme Alex reencontra aquilo que lhe dá mais prazer. Os seus próprios valores morais.

[/quote']

 

Excepcional.10 Muito bem vindo ao fórum,cara...

 

O trecho em negrito é,para mim,o grande "tchan" do filme.
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Laranja Mecânica<?:namespace prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" />

 

Cinema é uma arte curiosa. Mais por seus apreciadores que seus realizadores. A 7ª' date=' bem mais que as outras, tem seus gênios fincados na história por um público massivo, elaborado, diversificado, multifacetado. É uma forma de arte extremamente abrangente e derramada pelos mais diversos cantos e tipos de espectadores, conseguindo atingir a todos, de uma forma ou de outra. Exatamente pela total ausência de uma consciência universal (que sobrevive, ainda que em pequenos fragmentos, nas outras formas de arte), o cinema exige o girar da roda para que seja compreendido em totalidade (se é que isto é possível). Assim sendo, certos filmes parecem viajar no tempo, ter vindo direto do futuro para marcarem uma era e serem reconhecidos apenas anos mais tarde.

 

Laranja Mecânica, de Stanley Kubrick (o diretor que virou subtítulo de suas obras), é mais que um exemplo. A maior dificuldade em falar sobre Laranja não é sua complexidade, sua filosofia e críticas, sua imensurável beleza plástica. É não cair em redundância, em quase risco de plágio. Se você quiser ser realmente original ao falar sobre o filme, fale mal. O problema vai ser de onde raios tirar argumentos. Eu mesmo sofria com esta dificuldade, pois confesso que não gostava nada desta obra-prima. Mas suas qualidades eram quase de caráter objetivo. Quase inegáveis (“quase” pra poder dizer que questioná-las com embasamento não é impossível, apesar de inacreditavelmente improvável). No entanto, ele foi me conquistando. É daquelas obras de arte que precisam do tempo para nos fazer entender que tínhamos sido uns imbecis. A única forma de estabelecer esta justiça tardia é cair de joelhos perante a grandiosidade de Laranja Mecânica e agradecer por ter percebido a tempo de contemplá-la. Ter percebido que Kubrick era um profeta e que via através das paredes.

 

Alex DeLarge é o líder de uma gangue inglesa num futuro (para os anos 70) próximo indefinido. Tudo que o move é, como diz na contracapa do DVD (começou a redundância...), “violência, violação e Beethoven”. Depois de uma traição, Alex é condenado a 14 anos de cárcere pelo Estado, que o leva para um tratamento experimental afim de “curar” sua violência, o reintegrando, desta forma, à sociedade.

 

O que torna, à primeira vista, o fascínio arrebatador possível é o universo único de Laranja Mecânica. As cores, a música, o comportamento alienado de Alex e, principalmente, seu modo de falar (que rendeu bordões proliferados até hoje), fazem com que o mundo criado por Stanley Kubrick não exista (no melhor dos sentidos). O diretor consegue, ainda, invadir a mente conturbada de Alex com uma precisão e sensibilidade jamais vistas. Ele traduz para nós, espectadores recém chegados àquela maravilhosa dimensão paralela (que, por sua vez, reflete de forma intensa a assustadora realidade), exatamente o que Alex vê. Se Alex enxerga a beleza na violência, temos uma cena ao pôr do sol, na beira d’água, em câmera lenta, ao som de Beethoven, na qual Alex bate em dois de seus drugues. É lindo! Se ele se diverte, temos uma cena de espancamento na qual o mais raro humor negro floresce (Alex bate no escritor cantando Singing in the Rain). Se ele vê o sexo (no seu caso, estupro) como arte, assim a temos no spa da “mulher dos gatos”. Você não apenas acompanha a história de Alex, mas sim, é como se fosse o próprio! Exatamente esta maneira incomparável com a qual somos maravilhosamente manipulados, faz com que nunca mais apareça ninguém com a habilidade de Stanley Kubrick para lidar com imagens. E se aparecer, certamente não o reconheceremos, pois será algo fora da compreensão humana (assim como o próprio Kubrick já foi, e ainda é, pra muita gente).

 

Outro aspecto louvável <?:namespace prefix = st1 ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:smarttags" />em Laranja Mecânica é a nossa relação com Alex DeLarge. Nós começamos o odiando, pela absurda crueldade com o mendigo e, principalmente, na casa do escritor. Conforme a evolução da história, vamos nos sensibilizando com ele, até que passamos a torcer para seu final feliz. O melhor de tudo, no entanto, é que Alex jamais deixa de ser o jovem maquiavélico que sempre foi. Portanto, não é porque Alex muda, que começamos a vê-lo de modo diferente. Quem muda somos nós! Somos arrebatados por uma paixão quase inexplicável por um assassino estuprador a ponto de realmente desejarmos que ele volte a ser o que sempre foi. Dá, afinal, pra acreditar no absoluto poder que Kubrick mantém sobre seus espectadores?

 

Outro elemento fundamental para que o efeito supracitado se faça possível é a atuação absurda de Malcolm McDowell. Seu olhar de baixo pra cima abre o filme de forma assustadora. Este olhar pode encabeçar um ranking, pra mim. Malcolm com seu Alex DeLarge no topo, Anthony Hopkins com o canibal Hannibal Lecter em segundo e Ralph Fiennes com o nazista Amon Goeth, em A Lista de Schindler, em terceiro. Nenhum deles, por mais que aqui eu me esforce, podem ter suas expressões traduzidas em qualquer língua conhecida. É coisa de outro mundo. Além dos olhos, o sempre meio sorriso de Alex e sua forma de falar sopram os ventos afiados do sarcasmo sobre Laranja Mecânica.

 

Por falar em sarcasmo, desde e que assisti ao filme pela primeira vez, não sei em qual estante da locadora colocá-lo. Bem que poderiam facilitar e pôr uma estante do gênero “obras-primas” e pronto. Laranja Mecânica é comédia, mas nem sempre. Apenas os que têm tolerância à violência e senso apurado de humor negro conseguem classificá-lo desta forma. Laranja mecânica é ficção científica. Nem sempre, sendo que a ficção é uma mera metáfora da mais impactante realidade reinante até hoje, 35 anos depois do seu lançamento. Laranja Mecânica é drama. Sem dúvida, mas nem sempre. Em primeiro lugar, porque este gênero é, como direi, “genérico” demais. Em segundo, porque até o ponto do tratamento Ludovico, e depois da tentativa de suicídio, o ar debochado das ações de Alex e sua diversão contagiante fazem com que nos recostemos e gargalhemos, ainda que sem razão lógica.

 

Chegando enfim aos termos de crítica à sociedade, desta vez com mais méritos para o escritor Anthony Burgess (autor do romance no qual o filme foi inspirado), Laranja Mecânica é uma ogiva nuclear, programada para explodir na mente dos que assim permitirem. Kubrick já havia falado sobre a humanização da máquina, que tal agora falar sobre a mecanização do homem? Mas não se iluda, na verdade você estará debatendo, daqui a mais 30 anos, qual de fato era o epicentro do filme. Maldade inerente ao ser humano, descaso do Governo em tratar o problema de forma “preguiçosa”, a violência (de Alex) gerando violência (da sociedade), manipulação, enfim...

 

Para tentar resumir, posso falar da famigerada frase final (“I was curd all right”, “Eu estava curado mesmo”) que de alguma forma, resume um pouco a própria idéia do filme. O fato é que Alex recuperara sua humanidade. A capacidade de tomar decisões morais, de escolher entre o “bem” e o “mal”, e principalmente, a capacidade de errar, constuindo assim o final feliz mais surpreendentemente controverso da história do cinema. O erro, a crueldade e a violência são inerentes ao ser humano. Ou seja, ele finalmente estava curado, mas não como imaginavam os mentores do tratamento Ludovico. Alex enfim havia reconquistado sua possibilidade de escolha, de optar, acabara naquele instante de abandonar a forma de “laranja mecânica”. Era um humano verdadeiro, outra vez. Se continuaria a fazer as coisas das quais sempre gostou, não importava (pra ninguém), pois o yang ying está intrínseco no seu caráter de qualquer forma. A cura era a possibilidade de praticá-lo, de materializar seus dantescos desejos. Era poder optar por sua maldade, sua personalidade original. Concomitante, está a cena na qual a frase é dita. Os “nobres” que o aplaudem representam agora toda a violência disfarçada, todo um circo de boçais hipócritas, estilhaçando, num palco frígido ao abrir das diáfanas cortinas de fumaça, as frágeis mente(capta)s provincianas de uma platéia que festeja, inerte, ao som da mais bela banda podre, dançando conforme sua música. Não era, portanto, o crime físico que Alex praticava, mas sim o crime moral, muito mais grave, cometido, no caso, pelo Governo, e desta forma, simbolicamente aplaudido pela sociedade. 

 

Laranja Mecânica permite à humanidade que aprenda com ele, como era o eterno objetivo do diretor. É intrigante, no entanto, que nem um gênio como Stanley Kubrick, com uma filmografia de tom tão crítico e cortante, conseguiu mudar de forma significativa o meio que o rodeava. No entanto, não há o que exigir de Kubrick, ele já fez o seu papel, que não guardava nenhuma pretensão exagerada. “Apenas” mudando, esporadicamente, a forma de ver o mundo de algumas pessoas abertas à possibilidade, vítimas satisfeitas das flechadas sublimes deste diretor inacreditável, tenho certeza de que ele já se daria por satisfeito. E que desçam as cortinas!

[/quote']

 

É isso...É isso...All right.Foda,Foras.Vc me enche de orgulho,porra! 1104

 

06

 

Mas falando sério...Que bela análise ahn? Deveria ser transferida ao Cineclube (se o Nacka gostasse do filme,claro).Isso merece ser lido.
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Bom, meu último post nesse tópico... parece que alguas coisas q falei entenderam errado ou ficou no ar..

Eu não chamei o filme de "lixo", foi de idiota, é diferente! O momento que eu disse a palavra "lixo" foi ilustrativo.

E não sei como é possível que vocês não achem que um filme desse induz violência, ou vocês acham que todo mundo que asiste é um intelecto como vocês? E é, realmente, eu assisto violência na tv e por todas as mídias todo santo dia, como todo mundo... acha que eu ainda ia chegar no fim do dia e procurar um filme desses pra relaxar um pouco???

Outra coisa: religião não é inspiração pra violência, que absurdo! As pessoas que são egoístas e arrogantes, são elas que se auto-motivam à violência, por falta de respeito às diferenças! Se fosse assim, tudo seria motivo de "inspiração à violência", até um ursinho de pelúcia... 09

Mas eu quis postar minha opinião pra vocês rebaterem mesmo... eu sabia que iriam discordar totalmente, mesmo algumas coisas q eu disse sendo verdade ( viu? até isso poderia nos levar à violência! hehehe ).

Eu não sou nenhuma manca ou tapada pra não saber o que estou dizendo. Eu entendi a opinião de vocês.. mas vocês entenderam a minha?

 
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Outra coisa: religião não é inspiração pra violência' date=' que absurdo! As pessoas que são egoístas e arrogantes, são elas que se auto-motivam à violência, por falta de respeito às diferenças! Se fosse assim, tudo seria motivo de "inspiração à violência", até um ursinho de pelúcia... 09
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Aqui você se contradiz de maneira cômica.06 Posts atrás, e nesse mesmo post, você afirma que o filme pode gerar violência. Já no negritado, afirma que as pessoas se auto-motivam à cometer atos violentos. Decida-se, oras!Você mesma parece acreditar na frase em vermelho.
Darknesssss2007-01-19 04:51:18
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