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Forum Cinema em Cena

2007: Uma Quinzena Com Kubrick


ltrhpsm
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Aê' date=' pensei que eu era o único que não considerava esse um filme menor do Kubrick. Filmaço subestimado. Assistam. 05[/quote']

 

Subestimado é apelido para a condição exercida pelos espectadores a este filme. Ele é nada menos do que sensacional, para mim é obra-prima mesmo. Tranqüilamente um dos melhores trabalhos de Kubrick. O senso narrativo e estético do diretor neste filme é absurdo. Ademais, O Grande Golpe contém um dos trabalhos de iluminação mais complexos e maravilhosos do cinema, sem exageros. A fotografia é praticamente algo sobrenatural, coisa de gênio mesmo...
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Admiro a coragem de todos que se candidataram' date='acompanharei a esse festival com muito prazer.Lendo as análises,apenas.06[/quote']

Também acompanharei o Festival lendo as resenhas.

 

Esse pessoal que vive fugindo da raia. 06 (o Enxak nem tanto, ele já fez uma resenha, mas o Pato é mais escorregadio do que sabão...06)
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Flying Padre (1951) e Day of the Fight (1951) nao recebem nada? Sao curtas' date=' mas nao deixam de serem filmes do diretor.[/quote']

 

Indiana, a questão é que, além de quase ninguém conhecer esses curtas, eles não são fáceis de encontrar...
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Esse pessoal que vive fugindo da raia. 06 (o Enxak nem tanto' date=' ele já fez uma resenha, mas o Pato é mais escorregadio do que sabão...06)
[/quote']

 

A gente tem que se saber colocar em nosso lugar,Silva.Resenhar um film e do Kubrick é bem complicado,pela gama muito diversa de aspectos a serem abordados,acaba ficando sempre incompleta,com um resultado insatisfatório,isso quando não soa redundante e "babada" demais.Mas de todos,gostaria de resenhar De Olhos Bem Fechados.Um dos filmes mais subestimados da história.Que bom que ele está em boas mãos.
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AVISO!

Preciso das confirmações dos usuários rubysun, Jack Ryan, The Fox e MAD TIGER, de que poderão enviar-me suas críticas, no máximo, na véspera da divulgação da mesma. Preferncialmente, gostaria que fossem entregues até o começo do Festival, mas se não for possível, entendo. Se não desistirem até amanhã, já era... Estaão nesta até o pescoço e eu caçarei que fugir. 19 Ainda preciso de outras quatro pessoas para falr dos filmes restantes, no último caso, eu poderia colocar apenas como "figurante" pequenos resumos que fiz a Barry LyndonGlória Feita de Sangue e rever Spartacus, contudo seria um esforço extra-comungal e não serviria aos nossos própositos. Aguardo... Segue o cronograma:

 

19/03 - O Iluminado, por Forasteiro
20/03 - A Morte Passou Por Perto, por Dan...
21/03 - 2001: Uma Odisséia no Espaço, por Alexei
22/03 - Lolita, por Jack Ryan
23/03 - Nascido Para Matar, por The Fox
24/03 - Laranja Mecânica, por ltrhpsm
25/03 - De Olhos Bem Fechados, por rubysun

26/03 - Doutor Fantástico, por silva

27/03 - O Grande Golpe, por (...)

28/03 - Spartacus, por (...)

29/03 - Glória Feita de Sangue, por (...)

30/03 - Barry Lyndon, por (...)

31/03 - O Iluminado e anexos, por G4mbit, ltrhpsm e (...)
ltrhpsm2007-03-20 04:01:12
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Prezados Amigos do Fórum Cinema em Cena,

 

montanhasazuisec1.jpg cinecenazy5.gif

 

Quando eu entrei neste Fórum, o filme que mais me impulsionou a permanecer na vossa presença foi a minha singular adoração por Laranja Mecânica. Em novembro de 2005, eu tinha apenas 12 anos e ali minha jornada cinematográfica começaria para valer com suma-importância dos aprendizados aqui obtidos. Ali, em novembro de 2005, eu não sabia quem era Stanley Kubrick. Pegava Laranja Mecânica, creiam, meus caros, por causa da Copa do Mundo que se aproximava - eu queria entender porque a Holanda da década vigente estava sendo chamada de Laranja Mecânica, este nome bizarro de um tal filme indicado a 4 Oscar. Ali, em novembro de 2005, minha vida começaria a mudar - e eu só fui notar este ano.


Difícil como sou em dizer e reber um "não", fiquei numa tristeza monumental quanto ao Nacka por ter recusado o convite de escrever sobre Pulp Fiction, na estréia da segunda temporada do Cineclube. Neste meio tempo, li que o silva estava promovendo um Festival do Hitchcock e, percebendo que o Nacka não selecionara filme algum do Kubrick para ser resenhado durante 2 anos de Cineclube, eu pensei "por que não tentar? Um festival do Kubrick desperaria interesse". Passou-se um tempo e - apesar dos pesares - cá estou eu para introduzi-los ao mundo kubrickiano, graças a Deus. Pretendo me dedicar ao máximo e honrar Kubrick, mas os motivos vão além da adoração pessoal: ontem, quando lia sua biografia e curiosidades na Wikipédia, cheguei a chorar. Porque Kubrick morreu, exatamente, um dia antes de eu completar 6 anos (metade da minha idade ao ver Laranja Mecânica) - e fico a me pressionar: "por que não fiquei de luto aquele ano?".

 

Esta pequena introdução é puramente pessoal, pois divagava nesta madrugada e queria compartilhar com alguém isto. Amanhã, às 10:00, a abertura definitiva com breves comentários e biografia - a serem mais bem dispostos no final - e a crítica do Forasteiro para O Iluminado (por mim, desta vez, ele superou a de Taxi Driver... Será?). Gostaria de que os participantes enviassem-me as críticas o mais rápido possível e alguém se dispusesse a trabalhar com os outros quatro filmes. Abraços a todos,

 

ltrhpsm (vulgo ltt, Ltr, Sopa, lt...)

 

invernoie6.jpg +montanhasazuisrh8.jpg + montanhasazuismo6.jpg 

 

Qual será o resultado? Confira, a partir das 10:30!
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Abertura de "Uma Quinzena com Kubrick":

Apesar de ter demorado um pouco, cá estamos nós para começar o Festival Kubrickiano. A pedidos, uma pequena biografia:

Stanley Kubrick, nascido em New York no dia 26/07/1928, teve uma influência tamanha sobre a Sétima Srte e, até hoje, suas obras-primas ratificam o porquê de sua adoração. O nosso Fórum Cinema em Cena também abre suas portas para consagarar mais um diretor fenomenal, hoje, 19/03. Pois bem, após uma infância no Bronx, sem ser louvado na escola (como todo gênio costumava ser), Kubrick recebeu uma câmera fotográfica de seu pai e - com apenas 16 anos - já obtinha seu trabalho na revista Look como freelance. Com dinheiro guardado, ele investiu num curta-documentário, Day of the Fight, em 1950 e, a seguir, em mais dois curtas Flying Padre e The Seafers. Após um relativo conhecimento por eles, Kubrick persuadiu os parentes a financiá-lo para que montasse seu primeiro longa-metragem, Fear and Desire,  de 1953, hoje inédito, porque o diretor consideraria o trabalho amador e trataria de retirá-lo de circulação. Porém, graças a ele, já conseguiu um razoável tratamento da crítica e o despontar de seu nome, sendo um dos primeiros cineastas independentes.

A partir daí, Kubrick produziu três longas-metragens de média duração, com pouco acesso às finanças: A Morte Passou Por Perto (Killer's Kiss, 55), O Grande Golpe (The Killing, 56) e Glória Feita de Sangue (Paths of Glory, 57), este último - proibido por certo tepo na França e em outros países - estrelava Kirk Douglas. Douglas gostou do relacionamento com Kubrick e voltaria a trabalhar com ele no épico Spartacus (Idem, 1960), turbulado pela saída de Anthony Mann. Kubrick aceitou desenvolver o projeto, porém não esperava uma forte restrição ao desenvolvimento de suas idéias - basta perceber que ele nem créditos tem no roteiro. A partir daí, o diretor decidiu virar diretor/roteirista em todos os seus filmes, o que viria a ser uma escolha apropriadíssima na hora certa. Em busca de novos ventos, ele rumou para a Inglaterra, em 62, quando começa a filmar Lolita, baseado na obra clássica de Valdimir Nabokov. Era apenas o começo, prestes a amadurecer. O amadurecimento defintivo chegou com a comédia negra mais escrachada, bem situada, e que até o Oscar reconheceu como um dos 5 melhores filmes daquele ano: Doutor Fantástico ou: Como Aprendi a Parar de me preocupar e amar a Bomba (se preferir, simplesmente, Doctor Stangelove, 1964).

 

Foram cinco longos anos esquecido num cantinho para reaparecer com o avassalador e marcante para a ficção científica, 2001: Uma Odisséia no Espaço (2001: A Space Odissey, 1968), friamente recebido; hoje corretamente adorado. Voltava ao Oscar, para receber sua única estatueta até sua morte, ganhando o prêmio de efeitos visuais. Eis que Kubrick sonahva com um projeto sobre Napoleão Bonaparte e, ao descobrir que o projeto foi cancelado, entrou em pequena desavença - e, talvez por isso, tenha visto em Laranja Mecânica (A Clockwork Orange, 1971) uma fonte excepcional para montar um olhar calculado sobre a terrível humanidade que se formava. A obra-máxima do diretor foi recusada por várias localidades e revolucionou conceitos, seja estéticos, seja narativos - contudo, novamente, o Osca nnão iria reconhecê-lo. Apesar de ter encontrado na Inglaterra seu "refúgio", em 1962, Kubrick preferiu tirar Laranja Mecânica de cartaz no país durante sua existência, por causa das críticas duras que recebeu. Felizmente, a história o absolveu.

 

Agora, Kubrick embarcava em projetos totalmente diferentes: um épico de sua autoria, um terror baseado num livro de Stephen King e outra polêmica e radical visão sobre o treinamento e a Guerra do Vietnã. O primeiro deles é o, infelzimente, mais escondido aqui no Brasil: Barry Lyndon (Idem, 1975), que conta com um trabalho de arte sensacional e uma das histórias mais tristes e levemente construídas do cinema. Já em 1980, após ter recusado convites de filmar uma continuação de O Exorcista, ele lançaria O Iluminado (The Shining, 1980, que abre nosso Festival) com Jack Nicholson, na parceria mais comentada até aquele momento. Com Nascido Para Matar (Full Metal Jacket, 1987), Kubrick despedia-se das críticas; isto porque o seu  último filme ainda levaria 7 anos para acontecer - e ele morreria antes de vê-lo nos cinemas. De Olhos Bem Fechados (Eyes Whide Shut, 1999) provocou o maior rebuliço, uma vez que contav acom o casal do momento, Cruise & Kidman, e fechava a carreira deste cineasta imortal, falecido em 7/03/1999.

 

invernouq6.jpg
ltrhpsm2007-03-19 11:56:41
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O Iluminado, por Forasteiro:

The Shining (1980). Com: Jack Nicholson, Shelley Duvall, Danny Lloyd, Scatman Crothers, Joe Turkel, Barry Nelson, Philip Stone e Lisa & Louine Burns. Roteiro de: Stanley Kubrick & Diane Johnson, baseado no livro e Stephen King.

 

invernolq4.jpg

 

Quando Jack Nicholson filmou O Iluminado, já estava com 5 indicações ao Oscar nas costas e um deles na estante. Já conquistara um inabalável respeito da classe e do público. Já havia, definitivamente, escalado e fincado sua marca no Everest da carreira e da história do cinema, lugar de onde talvez nunca mais tenha saído. Quem analisar sua trajetória e afirmar, hoje, que se trata do maior ator que a 7ª arte já viu, não será de forma alguma reprimido ou contestado. Quem ouvir tal alegação, mesmo não concordando, mesmo nutrindo admiração superior por outros ídolos, sabe que a linha que separa Nicholson do tal título é transparente.
 
Stanley Kubrick, por sua vez, vinha de alguns dos trabalhos mais inspirados em sua pequena mas gigante filmografia. Entrara na história pela porta da frente e sem pedir licença, e o mais importante, muito antes de morrer. Assim como Nicholson, quem disser que o nome em questão pertence ao melhor diretor de cinema que já existiu, será ouvido tranqüilamente.
 
No entanto, ao que parece, nada é marcado no tempo sem ter sido banhado em uma viscosa solução de ironia. A maior interpretação de todos os tempos sequer foi lembrada pelo Oscar, enquanto Kubrick era contemplado com uma indicação à Framboesa de Ouro, provocada, principalmente, pelos irados fãs de Stephen King. Deste modo, Kubrick ganhava de presente tanto a reprovação dos leitores quanto do próprio romancista, reconhecido já na época como um mestre do horror. O Iluminado era conduzido ao fracasso imediato por uma expectativa imprecisa e inatingível que se montou através dos três grandes nomes envolvidos e do potencial do material utilizado. Mal sabia o mundo do erro que estava cometendo. Na época, talvez apenas Nicholson e o próprio Kubrick tenham compreendido que, na verdade, ninguém ali estava adaptando um romance de Stephen King, mas inventando uma das obras mais tensas e perturbadoras (e agora a diferença) da história do cinema.
 
Jack Torrance, um escritor bloqueado e aparentemente fracassado, acompanhado pela mulher e seu filho, tem sob sua responsabilidade o Overlook Hotel ao longo de todo o inverno. O lugar é um monstro de madeira e concreto incrustado no tronco das montanhas rochosas que, fora de temporada, permanece lacrado e absolutamente isolado pela neve durante longos e solitários cinco meses.
Kubrick deixa esta sensação de "ninguém ouvirá seus gritos" bem clara desde a belíssima cena inicial, quando somos carregados em um vôo panorâmico que escolta o modesto automóvel de Jack Torrance, parecendo escorregar e abrir caminho virgem até o Overlook. À primeira vista, a impressão que nos é passada é que tanto o hotel quanto o próprio Jack são inofensivos. O primeiro está lotado, aconchegante, exala um clima de civilização que se dissiparia nos vácuos abertos com a queda do inverno. O segundo é simplesmente a pessoa mais simpática da terra, fisga a confiança do administrador quase que instantaneamente. Houve inclusive quem dissesse que Nicholson fora a escolha errada para o papel, pois teria "cara de louco" desde o começo. O que vemos aqui, desde o começo, é um homem que conquista todos a sua volta, alguém digno de responsabilidade e que, principalmente, não deixa de demonstrar o quanto ama sua família.

 

invernojl0.jpg

 

O Iluminado pode ser dividido em três partes, mesmo que suas proporções acabem diferentes. Basicamente, 1 – Não há vilão. 2 – O hotel é o vilão. 3 – Jack é o vilão. Este contraste que verte entre a primeira e as outras duas partes do filme, aliás, pode ser considerado um dos seus pontos altos. Acredito que o objetivo aqui era ilustrar uma metamorfose. Entretanto, sou obrigado à ingrata tarefa de fazer algumas ressalvas num filme de ninguém menos que ELE. O grande "erro" que serve de base às sucessivas falhas em O Iluminado se deve à aparente pressa do diretor. Não creio que o melhor modo de promover a transformação de Jack Torrance, e do próprio clima ameno que surge com a chegada ao hotel, seja jogar logo de cara alguns traços de suspense para o espectador. Aqui, Kubrick nos mostra uma faceta do que nunca foi: um cineasta fácil, preocupado em nos dar respostas e caminhos convenientes para que aceitemos os próximos fatos mais facilmente e sem questionamentos. Quando Danny conversa com seu "dedo", Tony, fica claro que algo grave está para acontecer, e percebemos ali que o garoto sofre interferências paranormais ao prever o telefonema do pai. Não consigo enxergar propósito algum no monólogo de Danny em frente ao espelho, ou a primeira visão das gêmeas já no hotel, que não seja estender um cartaz no lobby do Overlook anunciando que o filme em questão se trata de um suspense, que é para esperarmos calmos e sentados em nossos lugares porque algo com certeza vai acontecer. É como se Kubrick quisesse nos manter na ponta do sofá desde o início, quando deveríamos, a julgar pelas aparências propostas no hotel e pelo próprio Jack, irmos nos aproximando da tela lentamente, transformando-nos em espectadores de suspense conforme o suspense se aproximasse daquela família no Overlook. Mas do modo como é realizado, ao invés de participarmos da metamorfose junto com o filme, apenas a assistimos passivamente.

 

"Às 5 da tarde vai parecer que ninguém nunca esteve aqui". Nada poderia expressar melhor a sensação que temos através de Jack, Wendy e Danny, quando o mundo deixa as montanhas rochosas para trás, que esta frase do gerente do hotel. Chegamos à segunda parte de O Iluminado (rápido assim mesmo), quando o hotel é o grande responsável por toda a tensão absorvida pelo espectador. Não sei se era necessário dizer, mas provavelmente ninguém saberia usar os largos salões e corredores cumpridos do Overlook contra os personagens, tão bem quanto Kubrick. Basta lembrar do circuito traçado por Danny entre curvas fechadas, salas, um corredor e outro... Algo parecia prestes a saltar na frente do garoto, e o som, sim, o som é maravilhoso. O ruído das rodas de plástico em atrito com o piso e os carpetes do hotel teria passado como mera conseqüência daquela cena, um coadjuvante inútil, não fosse, claro, a mão precisa do diretor sobre a edição de áudio. O simples passeio de Danny torna-se tétrico e digno de olhos ardendo, vermelhos, atentos, distraídos ao fato de que já não piscam há algum tempo, apenas seguindo a steady cam que rasteja discreta atrás daquele frágil triciclo. A esta altura, já completamente imerso na brilhante atmosfera de suspense do filme, tente se lembrar da primeira vez que você viu O Iluminado. Tente resgatar aquela mesma sensação, de quando Danny vira em mais um corredor e lá estão. Elas... Eu não contei exatamente quantas curvas o garoto faz, mas mesmo hoje, depois de ter visto a mesma cena várias e repetidas vezes, o clima arrepiante pela simples espera da aparição certa daquelas duas garotinhas permanece eficiente. Ainda faz com que eu olhe pra trás e cheque os cantos obscuros da casa. Tudo ali é iminente, tudo aponta para um ataque, uma revolta do hotel. Como se não bastasse os ter engolido, agora Jack e sua família são digeridos nas entranhas daqueles salões vastos e gradativamente claustrofóbicos, como se o concreto se contraísse e esmagasse aquelas pessoas, quebrando como palitos um a um dos seus suportes emocionais e psicológicos.

 

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E é aqui que Jack Torrance começa a ser afetado. Em primeiro lugar, pela frustração e incapacidade de levar seu projeto adiante. Posteriormente, pelos "fantasmas" e eventos "sobrenaturais" do Overlook. Quando Wendy e seu filho Danny entram no labirinto, Kubrick utiliza-se de um recurso visual não apenas bonito, mas que explora ao máximo o potencial da cena e a traduz numa metáfora que funciona maravilhosamente bem. Com a ajuda, outra vez, da steady cam, somos acompanhados pelos becos estreitos do labirinto onde temos novamente a sensação de que a qualquer momento iremos nos deparar com o horror. O que, de certa forma, não deixa de acontecer... Numa das salas do hotel, Jack observa uma maquete do labirinto. O verdadeiro agora é mostrado em uma vista aérea, de um helicóptero, onde Danny e Wendy caminham à deriva até encontrarem o centro do lugar. Ali começa a se manifestar um desejo (talvez) retido de Jack, um utópico domínio total sobre sua mulher e seu filho, perdidos numa situação em que ele controla. Curioso também como em O Iluminado os dois grandes astros da obra brilham alternadamente e em proporções dignas de um respeito muito bem dosado. Depois de um mês no hotel, fica visível a fragilidade da paz no lugar quando Jack Nicholson/Torrance surge, em uma das melhores e mais assustadoras imagens do filme, olhando fixo de cima para baixo pela janela. E ele não pisca. Daquele momento em diante, fica impossível imaginar outro ator além do Nicholson no papel. Ele nasceu para Jack Torrance. Ou o contrário.


Aquele homem simpático, aquele chefe de família amoroso, já está em transição. E um ponto-chave deste processo acontece quando Danny vai buscar um brinquedo no quarto e encontra o pai, sentado na cama. Cena antológica, brilhante, absurda, intransferível às limitações do papel. Fica clara desde já a influência do hotel (ou dos "fantasmas") sobre Jack, principalmente quando este repete aquela incômoda frase das garotinhas.

Porém, apenas pulamos da segunda para a terceira parte do filme com o pesadelo de Jack. E acho até que vou poupá-los da redundância e nem citar mais a interpretação inenarrável do cara. A partir de agora, toda vez que aparecer o nome dele vocês, por favor, associem. Daqui em diante, Jack toma para si um motivo para odiar e reprovar o comportamento de Wendy, sentindo-se injustiçado pela acusação da mulher e, posteriormente, por seu suposto objetivo em destruir todas as suas possibilidades de finalmente subir na vida. Wendy passa de companheira à grande responsável pelo fracasso profissional do marido. É aqui também que Jack passa a ter contato, bem freqüente aliás, com os "fantasmas" do Overlook.

 

Minha principal implicância com o filme é que, quando penso nele concebido a partir deste ponto, enxergo uma obra-prima. Stephen King ficou alucinado com Stanley Kubrick por causa das inúmeras modificações (eu diria cortes) na sua obra literária. Eu não li o livro (fato que quase fez com que eu não escrevesse este texto), mas está bem claro pra mim que Kubrick pegou o pano de fundo de O Iluminado e simplesmente tomou outro rumo com o andamento do projeto. Segundo King, o cineasta transformou sua OP do horror num drama doméstico. Está errado, infelizmente errado. Caso Kubrick tivesse assumido esta faceta em totalidade, caso tivesse ignorado os traços sobrenaturais do livro, os poucos elementos que ainda restavam dele, O Iluminado teria sido o que ensaiou ser: um filme sobre a degradação psicológica promovida em um lugar onde as pequenas frustrações e desentendimentos entre o casal Torrance é amplificado, colocado sob uma lente de aumento, explodindo em mil pedaços, revelando as frágeis estruturas e conceitos de um homem sobre sua vida e suas prioridades distorcidas.

 

montanhasazuisec3.jpg


Imagine alguém que ligue a TV e pegue o filme a partir do momento em que Jack começa ver fantasmas. Esta pessoa obviamente terá uma única impressão: Jack Torrance enlouqueceu através da companhia gradativamente irritante de sua esposa e a assim procedente solidão emocional e intelectual que estava sofrendo. Vistas sob esta premissa, as cenas em questão são especialmente perturbadoras e sutis. Tanto o diálogo entre Jack e Lloyd, como com seu "mentor" Grady, no banheiro vermelho. A conta é simples: os fantasmas dentro da cabeça de Jack, funcionam. Fora, não. Conseqüência da admirável opção e boa intenção do diretor ao reduzir (pra mim, ampliar) o horror sobrenatural de King a um horror doméstico de Kubrick. Infelizmente, como já dito, alguns vestígios da linha condutora na obra literária não foram apagados quando passados para a grande tela. Eu me submeto à escravidão eterna para quem descobrir qual a relevância de Danny à trama de Kubrick para que esta fosse batizada com um título em sua referência. O garoto vê fantasmas e prevê o futuro. Hm... pra quê?! Sobre o dedo, então, eu nem falo nada.

 

Ainda assim, ninguém torna-se tão inútil à trama do filme quanto o cozinheiro Halloram. Ele entra para explicar ao espectador os poderes de Danny (novamente, o atípico caminho fácil buscado por Kubrick), para criar todo um clima sobre o quarto 237 (onde temos uma cena de suspense eficiente, mas inútil) e para morrer (o que não ocorre no livro, onde ele é peça fundamental, responsável pelo final feliz de Wendy e Danny). Halloram é sujeira, uma gosma qualquer que restou da transposição da obra de King para as telas. Teria função caso Kubrick tivesse sido fiel ao livro, mas transformou-se em um estorvo ao rumo inverso e mais interessante que ele toma nas mãos do cineasta.

 

De qualquer forma, uma pausa nos problemas de Stanley Kubrick para saborearmos os melhores momentos do filme, protagonizados pelo outro gênio. Finalmente o momento que esperávamos, Jack Torrance entra em curto, enlouquece, torna-se a grande ameaça no Overlook. E é aqui também que a maior interpretação da história da 7ª arte entra em choque com uma aberração, uma das coisas mais risíveis já vistas no cinema: Shelley Duvall. Seria compreensível, e até honroso, que a atriz que vive Wendy tivesse sumido perante Jack Nicholson. No entanto, ela se destaca, transformando por várias vezes a pretensa OP do horror num trash hilariante. E o exagero da atriz, brecha fácil para tentar fazer colar uma interpretação absolutamente fora de tom, não importa o que digam, foi involuntário. Algo atestado pela famosa história de Kubrick obrigando-a a repetir a cena da escada por mais de 120 vezes. E ele deveria tê-la atirado daquela escada. Confessem aí, pois sei que não fui o único: vocês queriam ter visto Jack fatiando a Wendy. Queriam suas almas lavadas no sangue dela.

 

invernoaw9.jpg

 

A cena em que ela descobre que seu marido escreveu a mesma frase durante todo o tempo em que estiveram no hotel teria sido uma pérola rara, não fossem seus olhos esbugalhados, sua respiração frenética, e a nítida impressão que tive de que ela estava parindo um rinoceronte. Felizmente, Jack Nicholson entra em cena, e quando ele surge, tudo parece voltar a funcionar. Aliás, aplausos incontidos para a dupla de gênios, que produzem aqui mais uma cena histórica. Jack Torrance percorre o grande salão principal e sobe as escadarias pressionando Wendy, e nós vamos com ele. Tudo é perfeito, até mesmo a própria Shelley Duvall, que tudo que faz é chorar e balançar um taco de basebol, fica de longe parecida com algo que mereceria estar no filme, e participando daquele momento instável, inquietante, perturbador, genial. Copiaria o texto inteiro se pudesse, mas preciso citar um diálogo em especial. Algo que vai me fazer esperar e sempre querer rever O Iluminado. "Wendy, querida, luz da minha vida, eu não vou te machucar. Você não me deixa terminar a frase, eu não vou te machucar. Só vou esmagar os seus miolos. Esmagar até o fim".


A cena que virou capa do filme está prestes a acontecer. A simples visão de Jack, manco, carregando aquele machado pelos corredores do hotel, já é algo de congelar a espinha. E Kubrick, um cirurgião preciso, opera os momentos finais de O Iluminado de modo clássico, irretocável. Ele traduz a fúria de Jack para a tela, algo aparentemente impossível, ao acompanhar com movimentos rápidos cada machadada desferida contra as duas portas, a do quarto e a do banheiro. É algo hipnotizante, e de qualquer forma, não se esperaria nada diferente de um lingüista visual tão habilidoso como Kubrick.

 

Fica fácil perceber também o porquê de acabarmos (acredito) torcendo por Jack Torrance. Ele é sarcástico, carismático, acaba se divertindo com a busca pela cabeça da esposa. "Little pigs, little pigs, let me in!". Muitos já devem saber, mas não custa citar aqui: a eterna frase "Here’s Johnny!" (uma referência a Johnny Cash) não constava no roteiro, foi improvisada no calor do momento por Nicholson. E que momento! Escolhido, em uma pesquisa realizada pela emissora inglesa Chanel 4, como o mais assustador da história do cinema. E também não falo mais nada. Pare entre este parágrafo e o outro, vá lá contemplar Jack Torrance arrebentando a porta do banheiro, e volte aqui.

 

montanhasazuisel5.jpg

 

Depois de termos o gostinho de ver Jack matando alguém (Halloram, que afinal só está ali pra isso), entre takes gargalhantes da sua mulher correndo, esvoaçante, com aquela faca na mão, podemos nos embriagar de medo e tensão em mais uma cena antológica: a perseguição no labirinto. E é impressionante a quantidade de cenas fortes que recheiam O Iluminado, tornando-o, apesar de seus problemas, um dos filmes mais marcantes e reassistíveis que repousam empoeirados nas prateleiras de fundo das locadoras. Talvez até por isso ele veio a ser reerguido do tombo inicial apenas anos mais tarde. É um clássico, ganhou brilho com o tempo, provocou nas pessoas um desejo estranho de ser visto novamente, porque tem aquela cena, sim, aquela do banheiro, e aquela do labirinto, do rio de sangue... O Iluminado ganhou força o suficiente para se desprender da sombra do livro de King que tanto o perseguiu.

 

Não sei se vocês notaram, mas apesar de estarmos num festival chamado Uma Quinzena Com Kubrick, e apesar de este ser o nome que consta na cadeira do diretor, fiz questão de começar a resenha com Jack Nicholson. Não quero de modo algum fazer pouco do Stan, até porque este é considerado inclusive por seus fãs mais ardorosos como um filme menor se comparado aos representantes da década de 70. O que ocorre aqui é que, apesar de todo brilhantismo com o qual o cineasta conduz sua atmosfera de suspense, e o cuidado que teve para transformar seu filme em um horror psicótico e inquietante que age de dentro para fora, Nicholson tem a ousadia de pegá-lo para si. Repetindo, considero esta a maior interpretação da história do cinema (da história que eu conheço, se o termo incomoda). Jack é deus em cena, ele faz o quer e como quer, é onipotente, é surreal, é inacreditável. Mesmo com a presença de Kubrick na direção, caso O Iluminado não tivesse contado com ele, não teria funcionado. Cada frame com sua presença tem potencial para ser impresso e emoldurado. Ele é o motivo pelo qual quebrei o método e fiz questão de descrever cada uma das principais cenas em que ele cresce e torna-se maior que tudo, deixando coadjuvantes todos os elementos que interagem com ele, aí inclusa a direção sensacional de Kubrick.

 

Não quero, entretanto, que o cineasta pareça menor porque o coloco abaixo de Nicholson em O Iluminado. Quem ainda não tinha se dado conta de quem era o homem por trás das câmeras, que me perdoe, mas merece sofrer com a cena final. Pra quem o esteve procurando, este é Kubrick, definitivamente, tatuando sua marca habitual no filme e em seus perplexos espectadores. Tudo ia muito bem na sua cabeça, tudo estava montadinho e perfeitamente compreensível, não fossem aqueles segundos finais, que irão lhe perseguir, lhe tirar o sono, lhe pregar no sofá o forçando a assistir pensativo a ascensão dos créditos. Não rotulo O Iluminado como OP, acredito que o filme tenha pego o rumo certo mas perdeu algumas coisas pelo caminho, mas ainda assim, tanto por Nicholson como por Kubrick, trata-se aqui de uma obra imortal. Aquela foto datada na última cena é artifício próprio do diretor, que como homem à frente do seu tempo, soube preservar suas obras como bons vinhos, fazendo com que renasça a cada discussão, a cada debate travado sobre o que afinal havia acontecido naquelas duas horas anteriores. Que cada um crie sua teoria, o escurecer da tela é deixado gentilmente escancarado para isso. Na minha humilde opinião, Torrance, como diz Grady, sempre esteve ali. Ele vive um ciclo, e amaldiçoado, acaba retornando ao hotel para ser enterrado nele. Jack Torrance é um resumo do consagrado estilo de Stanley Kubrick, é um círculo fechado, um labirinto belíssimo, fascinante e repleto de acessos secretos, pelo qual, em toda obra com o subtítulo do diretor, somos convidados a passear e a nos perder, for ever... and ever... and ever...
ltrhpsm2007-03-20 04:22:16
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Amanhã:

montanhasazuisdt4.jpg + invernomn5.jpg + invernobu8.jpg

 

O que aconteceria se o primeiro longa-metragem de um jovem, independente, e escondido em sua filmografia fosse parar com um usuário escondido? Pois é, Erechim é cultura: Dan... resenhará A Morte Passou Por Perto.

 

E se você pensa que as discussões sobre O Iluminado ficarão restritas à critica do Forasteiro, sinto desapontá-lo: G4mbit também participará, fechando o Festival com o filme que o abriu.

gambitkl4.gif X invernouh8.jpg
ltrhpsm2007-03-19 13:15:26
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Excelente crítica do Foras... 10 talvez o Kubrick pare de assombrá-lo, depois dessa. 06 Vou comentar alguns pontos.

 

1.

Houve inclusive quem dissesse que Nicholson fora a escolha errada para o papel, pois teria "cara de louco" desde o começo.

 

Discordo da primeira parte, que Nicholson tenha sido a escolha errada para o papel. Muito pelo contrário, ninguém mais conseguiria interpretar Torrance - é só ver o sofrível Steven Weber, na versão de 1997. Mas concordo com a segunda. Não que Nicholson tenha "cara de louco" desde o começo, mas a mim ele não inspira confiança, por assim dizer, desde o primeiro minuto em que aparece na tela.

 

No entanto, admito que isso talvez se deva ao fato de ter visto o filme após ler o livro, ou seja, tendo consciência do que vinha pela frente. De qualquer maneira, a impressão ficou e sempre que vejo o filme me parece que o personagem já não está totalmente são desde o início.

 

2. Sobre toda a questão sobrenatural do filme. Vejo muita gente dizendo que O Iluminado nunca deixa claro se ocorreram eventos sobrenaturais na história, ou os fantasmas foram simplesmente imaginação de Jack... e discordo completamente. Ora, lógico que existiam fantasmas no Overlook - Danny e Wendy também os viram; e lógico que há a porção sobrenatural - Danny é "o iluminado", Halloran ouviu o "chamado psíquico" do garoto a quilômetros de distância, e assim por diante.

 

Para mim, a grande sacada de Kubrick é deixar no ar a questão se o Overlook foi mesmo o "culpado" por tudo o que aconteceu. Foi mesmo por causa dos tais fantasmas que Jack ficou louco? Ou ele teria ficado de qualquer maneira? Ou os fantasmas foram apenas uma desculpa bem-vinda? Afinal, Grady e os outros dizem a Jack exatamente o que ele quer ouvir, na minha visão... É como se Jack quisesse fazer tudo o que fez, mas estivesse esperando que alguém o incitasse a fazer, para depois poder se justificar - "Foi ele que mandou".

 

E sim, Danny é inútil na trama do filme. Na verdade, mesmo no livro Jack rouba a cena e o próprio King percebe isso... ele faz os porquês da história girarem ao redor de Danny, mas concentra a maior parte do livro em Jack.

 

3. Sobre Halloran. Bem, eu não sou muito fã do final do livro exatamente por causa de Halloran (ele chega, salva Wendy e Danny, os três fogem e o hotel explode com Jack dentro). Fica aquela impressão de deus ex machina, de que o final poderia ter sido melhor mas King ficou com preguiça, depois de já ter escrito bastante.

 

Mas Kubrick é um diretor que nunca se rendeu ao óbvio. E, em O Iluminado ele não só foge do óbvio como faz uma piada com ele - e para isso Halloran está no filme, na minha opinião. O cozinheiro, também iluminado, que aparece no início do filme, recebe o chamado do garoto e atravessa o país para salvá-lo. Isso pode não incomodar muita gente, mas o espectador que conhece Kubrick se pergunta "Pô, Stanley, você vai se render a uma saída tão fácil?" E Halloran, depois de sua jornada, que aliás tomou alguns minutos do filme, chega ao hotel, heróico... e morre! Morre sem cerimônia alguma, inclusive. Chega, leva uma machadada e acabou.

 

Para mim, isso é Kubrick fazendo piada com o óbvio; logo no início, Halloran diz "Me peça ajuda, se algo ruim acontecer", e é um filme de terror, logo algo ruim irá sim acontecer. Desde o começo, o espectador já supõe que Halloran reaparecerá, para salvar o dia. E aqui está o reaparecimento. Talvez Kubrick tenha tido a intenção de zoar a cara do King, também, não sei. Para mim, foi genial, de qualquer maneira.

 

4. Sobre as cenas de horror "inúteis". Discordo totalmente dessa parte da resenha. Cinema é primordialmente imagem, e Kubrick sabia disso. Eu acho válido quando um diretor foge um pouco do enredo, ou da lógica, para criar uma cena visualmente bonita, ou perturbadora, no caso. Dessa maneira, se, para criar cenas como a primeira aparição das gêmeas, ou a do quarto 237, que são antológicas, Kubrick deveria deixar um pouco de lado a "relevância que elas teriam à trama", para mim está ótimo.

 

Afinal, tais cenas, mesmo que não acrescentem nada ao enredo do filme, acrescentam muito à sua eficácia em deixar quem assiste perturbado. E, para mim, nesse caso, isso é o que importa.

 

5. Sobre a tomada final, para mim aquilo é uma espécie de generalização. Jack, o Jack pré-Overlook, é basicamente como qualquer um de nós, e qualquer um de nós é como o Jack pré-Overlook. "O zelador sempre foi você", diz Grady. Sempre pessoas como você. Pessoas normais.

 

Será que todos nós não deixaríamos aflorar nosso desejos mais escondidos (no caso de Jack, a dominação sobre a mulher e o filho) em uma situação propícia - isolamento + uma "justificativa"? É essa a pergunta que sempre me fica na cabeça quando sobem os créditos. E isso é o cinema de Stanley Kubrick.
Noonan2007-03-19 14:08:44
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Excelente crítica, Forast!10

Adoro o filme, mas concordo com várias coisas que você disse....

Acho que sou o único que não acho a atuação da Durvall tão ruim assim.... ela é fraquinha e ainda mais ao lado do Jack Nicholson...

É... acho que o Kubrick te persegue por causa de 2001....06
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Discordo, acho que Danny tem sua importância na trama. Sem ele, dificilmente poderiamos distinguir o fato da loucura sofrido por Jack...

Além de ser o principal personagem para gerar preocupação entre os espectadores. O pior dos assassinatos, seria o de Danny, já que é apenas uma criança, e pior, seria sofrido pelo seu próprio pai... (criando um altíssimo clima de tensão e horror...)

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Discordo' date=' acho que Danny tem sua importância na trama. Sem ele, dificilmente poderiamos distinguir o fato da loucura sofrido por Jack...
Além de ser o principal personagem para gerar preocupação entre os espectadores. O pior dos assassinatos, seria o de Danny, já que é apenas uma criança, e pior, seria sofrido pelo seu próprio pai... (criando um altíssimo clima de tensão e horror...)

[/quote']

 

Colocação interessante (e que bate totalmente com a minha) do HAL. Além disso, a primeira evidência de sobrenaturalidade parte de Danny (o encontro dele com as irmãzinhas). Ele é, na minha opinião, o elo de ligação entre o sobrenatural e o não - sobrenatural no filme...
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Excelente crítica do Foras... 10 talvez o Kubrick pare de assombrá-lo' date=' depois dessa. 06 Vou comentar alguns pontos.

 

1.

Houve inclusive quem dissesse que Nicholson fora a escolha errada para o papel, pois teria "cara de louco" desde o começo.

 

Discordo da primeira parte, que Nicholson tenha sido a escolha errada para o papel. Muito pelo contrário, ninguém mais conseguiria interpretar Torrance - é só ver o sofrível Steven Weber, na versão de 1997. Mas concordo com a segunda. Não que Nicholson tenha "cara de louco" desde o começo, mas a mim ele não inspira confiança, por assim dizer, desde o primeiro minuto em que aparece na tela.

 

No entanto, admito que isso talvez se deva ao fato de ter visto o filme após ler o livro, ou seja, tendo consciência do que vinha pela frente. De qualquer maneira, a impressão ficou e sempre que vejo o filme me parece que o personagem já não está totalmente são desde o início.

 

2. Sobre toda a questão sobrenatural do filme. Vejo muita gente dizendo que O Iluminado nunca deixa claro se ocorreram eventos sobrenaturais na história, ou os fantasmas foram simplesmente imaginação de Jack... e discordo completamente. Ora, lógico que existiam fantasmas no Overlook - Danny e Wendy também os viram; e lógico que há a porção sobrenatural - Danny é "o iluminado", Halloran ouviu o "chamado psíquico" do garoto a quilômetros de distância, e assim por diante.

 

Para mim, a grande sacada de Kubrick é deixar no ar a questão se o Overlook foi mesmo o "culpado" por tudo o que aconteceu. Foi mesmo por causa dos tais fantasmas que Jack ficou louco? Ou ele teria ficado de qualquer maneira? Ou os fantasmas foram apenas uma desculpa bem-vinda? Afinal, Grady e os outros dizem a Jack exatamente o que ele quer ouvir, na minha visão... É como se Jack quisesse fazer tudo o que fez, mas estivesse esperando que alguém o incitasse a fazer, para depois poder se justificar - "Foi ele que mandou".

 

E sim, Danny é inútil na trama do filme. Na verdade, mesmo no livro Jack rouba a cena e o próprio King percebe isso... ele faz os porquês da história girarem ao redor de Danny, mas concentra a maior parte do livro em Jack.

 

3. Sobre Halloran. Bem, eu não sou muito fã do final do livro exatamente por causa de Halloran (ele chega, salva Wendy e Danny, os três fogem e o hotel explode com Jack dentro). Fica aquela impressão de deus ex machina, de que o final poderia ter sido melhor mas King ficou com preguiça, depois de já ter escrito bastante.

 

Mas Kubrick é um diretor que nunca se rendeu ao óbvio. E, em O Iluminado ele não só foge do óbvio como faz uma piada com ele - e para isso Halloran está no filme, na minha opinião. O cozinheiro, também iluminado, que aparece no início do filme, recebe o chamado do garoto e atravessa o país para salvá-lo. Isso pode não incomodar muita gente, mas o espectador que conhece Kubrick se pergunta "Pô, Stanley, você vai se render a uma saída tão fácil?" E Halloran, depois de sua jornada, que aliás tomou alguns minutos do filme, chega ao hotel, heróico... e morre! Morre sem cerimônia alguma, inclusive. Chega, leva uma machadada e acabou.

 

Para mim, isso é Kubrick fazendo piada com o óbvio; logo no início, Halloran diz "Me peça ajuda, se algo ruim acontecer", e é um filme de terror, logo algo ruim irá sim acontecer. Desde o começo, o espectador já supõe que Halloran reaparecerá, para salvar o dia. E aqui está o reaparecimento. Talvez Kubrick tenha tido a intenção de zoar a cara do King, também, não sei. Para mim, foi genial, de qualquer maneira.

 

4. Sobre as cenas de horror "inúteis". Discordo totalmente dessa parte da resenha. Cinema é primordialmente imagem, e Kubrick sabia disso. Eu acho válido quando um diretor foge um pouco do enredo, ou da lógica, para criar uma cena visualmente bonita, ou perturbadora, no caso. Dessa maneira, se, para criar cenas como a primeira aparição das gêmeas, ou a do quarto 237, que são antológicas, Kubrick deveria deixar um pouco de lado a "relevância que elas teriam à trama", para mim está ótimo.

 

Afinal, tais cenas, mesmo que não acrescentem nada ao enredo do filme, acrescentam muito à sua eficácia em deixar quem assiste perturbado. E, para mim, nesse caso, isso é o que importa.

 

5. Sobre a tomada final, para mim aquilo é uma espécie de generalização. Jack, o Jack pré-Overlook, é basicamente como qualquer um de nós, e qualquer um de nós é como o Jack pré-Overlook. "O zelador sempre foi você", diz Grady. Sempre pessoas como você. Pessoas normais.

 

Será que todos nós não deixaríamos aflorar nosso desejos mais escondidos (no caso de Jack, a dominação sobre a mulher e o filho) em uma situação propícia - isolamento + uma "justificativa"? É essa a pergunta que sempre me fica na cabeça quando sobem os créditos. E isso é o cinema de Stanley Kubrick.

 

Valeu, Noonan.01 Estamos torcendo por isso.06 Ok, let's:

 

1 - Pode não ter ficado muito claro pelo quote do Noonan, mas eu também discordo da primeira parte.06

 

2 - Não dá mesmo pra esperar menos de Kubrick, seja qual for o filme em questão. Dá pra extrair debate de tudo, é uma fonte inesgotável.10 Achei muito interessante sua visão, Noonan. Apesar de continuar achando que seria melhor se fosse de outra forma.

 

3 - Mais uma vez, muito pertinente a observação. E acredito ser até mais provável que a apontada por mim, de que Halloran seria apenas sobra do material literário. Levando em conta o gênio do qual estamos falando, apesar de que gênios também falham.

 

4 - Mas eu não condeno as cenas, muito pelo contrário. Há inclusive um parágrafo no qual falo que foi pelas cenas extermamente marcantes que compoem O Iluminado que ele se tornou tão imperecível, transformando o tempo em uma irrelevância. A cena citada (da mulher em decomposição), não tem realmente muita utilidade que não seja propôr suspense (muito eficiente, que fique claro). Acho apenas que seria melhor se elas tivessem papel decisivo na trama, que fossem indispensáveis. Kubrick nunca deixou nada sobrando, com exceções aqui, na minha opinião.

 

5 - Sobre a sua pergunta no final, e como disse na resenha, acho que ela ficaria muito melhor disposta caso não houvessem elementos sobrenaturais. Jack Torrance tinha sua justificativa, culpando a mulher por seu fracasso profissional. Acredito que Kubrick deveria ter deixado os fantasmas apenas na imaginação de Jack. De qualquer forma, ele estaria ouvindo o que lhe conviesse, como você apontou anteriormente. Mas acho que o Stan não foi por este caminho porque O Iluminado simplesmente perderia a identidade. Avisei na CMJ que que os "defeitos" que eu enxergava no filme eram bem subjetivos, e os filmes são o que são, afinal, não o que queríamos que eles fossem, como diria David Dunn.

 

 
Forasteiro2007-03-19 20:12:48
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Excelente crítica' date=' Forast!10

Adoro o filme, mas concordo com várias coisas que você disse....

Acho que sou o único que não acho a atuação da Durvall tão ruim assim.... ela é fraquinha e ainda mais ao lado do Jack Nicholson...

É... acho que o Kubrick te persegue por causa de 2001....06
[/quote']

 

Obrigado, Fox.08 Acho que Kubrick teria a oportunidade perfeita de justificar a atuação da Shelley Duvall caso Jack conseguisse matá-la no final, como torcemos (aliás, queria saber: vocês torcem por isso também?). Ele teria conseguido mais um daqueles finais pendentes entre o feliz e o trágico, ou as duas coisas, como acontece em Laranja Mecânica, ou Dogville, do Lars von Trier.
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Discordo' date=' acho que Danny tem sua importância na trama. Sem ele, dificilmente poderiamos distinguir o fato da loucura sofrido por Jack...
Além de ser o principal personagem para gerar preocupação entre os espectadores. O pior dos assassinatos, seria o de Danny, já que é apenas uma criança, e pior, seria sofrido pelo seu próprio pai... (criando um altíssimo clima de tensão e horror...)

[/quote']

 

Danny, como uma criança normal, simplesmente como o filho de Jack Torrance, sim. Ele é o estopim do colapso da relação entre Jack e Wendy. O que não tem cabimento é Danny, "o iluminado". Sobre o clima de tensão, concordo. Mulheres e crianças são quase regra pra jogar o suspense lá em cima (apesar de que pela mulher em questão, o suspense acaba se transformando em paródia trash do próprio gênero).
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Discordo' date=' acho que Danny tem sua importância na trama. Sem ele, dificilmente poderiamos distinguir o fato da loucura sofrido por Jack...
Além de ser o principal personagem para gerar preocupação entre os espectadores. O pior dos assassinatos, seria o de Danny, já que é apenas uma criança, e pior, seria sofrido pelo seu próprio pai... (criando um altíssimo clima de tensão e horror...)

[/quote']

O que não tem cabimento é Danny, "o iluminado".


Discordo novamente 06...
...acredito na teoria "Jack sempre esteve no hotel", sendo assim, Danny é como o fruto de todos esses "loucos" relacionamentos vividos por Torrance, sua mulher, e o hotel.
HAL20002007-03-19 20:36:17
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A Morte Passou Por Perto, por Dan...

 

 

The Killer's Kiss (1955). Com: Frak Silvera, Jamie Smith, Irene Kane, Jerry Jarret e Mike Dana. Roteiro de: Stanley Kubrick e Howard Sackler (não creditado).

 

invernodk9.jpg

 

Alguns diretores conseguem a proeza de, em cada uma de suas obras, implantarem pequenos detalhes que permitem o discernimento automático dos cinéfilos acerca de quem a está dirigindo. Basta visualizarmos um único plano do filme para subitamente percebermos que se trata de um trabalho do autor. Para não ir tão longe, cito dois profissionais que ainda continuam em atividade no cinema contemporâneo: Oliver Stone e Jonathan Demme. Stone prima pela diversidade de técnicas cinematográficas, sempre utilizando-se de artifícios visuais ousados e enquadramentos extremamente inusitados, enquanto Demme possui a irritante mania de filmar os diálogos de seus filmes em câmera subjetiva, algo que me enoja com facilidade. Porém, embora as marcas destes autores sejam bastante perceptíveis para qualquer espectador razoavelmente atento, nenhum diretor em toda a história conseguiu imprimir em suas obras marcas tão autorais quanto as do gênio Stanley Kubrick.

 

Esse detalhe já é perceptível logo em seu longa de estréia (o filme na verdade é o segundo do diretor, que já havia produzido anteriormente Fear and Desire, mas que fora retirado de circulação por Kubrick ter considerado sua qualidade muito discutível), o modesto, porém ótimo film noir A Morte Passou Por Perto. Grande parte dos elementos característicos do diretor, que viriam a marcar incisivamente suas obras subseqüentes, estão presentes, mesmo que em menor escala, neste seu pequeno projeto independente. Narração em off, uso do flash-back, experimentações com enquadramento e montagem, utilização constante de travellings laterais, fotografia pesada e rebuscada, iluminação forte, com luzes estourando na tela e composições visuais detalhadas são algumas das características mais marcantes da filmografia do diretor, e podem ser sentidas ao longo de toda a duração da obra.

 

ninfiasob4.jpg

 

Estruturalmente, A Morte Passou Por Perto é um típico filme da época: na história, um boxeador (Jamie Smith), ao voltar para casa logo após perder uma importante luta, salva uma dançarina de cabaré (Irene Keane) das mãos de seu agenciador, um perigoso gângster Nova Yorkino (Frank Silvera). A partir desta ação, sua vida começa a correr perigo, já que decide proteger a dançarina das ameaças feitas pelo malfeitor, provocando a ira do mesmo e fazendo com que ele e a moça, pela qual acaba se apaixonando, tenham que se esconder dos capangas do mafioso Utilizando de maneira bastante simples os elementos básicos do cinema noir, como a fotografia escura, os ambientes degradados, o retrato do submundo noturno e a femme fatalle, mulher loira cuja maior característica é a capacidade de criar problemas astronômicos para o protagonista, Kubrick nos entrega um filme simples, porém muito eficiente dentro de suas limitações.

 

Limitações estas que, admitamos, são claramente perceptíveis ao longo da projeção. A Morte Passou Por Perto foi uma produção barata, independente, feita com pouco mais de U$ 40 mil, fato que gera alguns problemas principalmente a respeito de sua parte técnica. Os sons e diálogos, por exemplo, tiveram de ser gravados posteriormente às filmagens, em estúdio, pois Kubrick não possuía dinheiro suficiente para gravá-los durante as filmagens. Com isso, podemos notar, eventualmente, alguma falta de sincronia entre voz e imagem, além da falta de profundidade no som, mas nada que possa atrapalhar de forma muito abrupta a imagem da obra perante o espectador. Ademais, a pouca verba também influenciou na metragem do filme, que possui pouco mais de uma hora de duração, já que a aquisição de película e outros materiais necessários para filmagem de maior número de cenas ficara inviável.

 

Mas, ao notificarmos estes pequenos defeitos técnicos da obra, é que percebemos a genialidade incomparável de Stanley Kubrick. Mesmo submerso em tantas adversidades, o jovem diretor (estava com apenas 26 anos na época), que também assinara roteiro, produção, direção de fotografia e edição de som e imagem do filme, ainda conseguira produzir momentos de extrema qualidade, que não deixam a desejar diante de todas as obras-primas que viria a produzir depois, como 2001: Uma Odisséia no Espaço e Dr. Fantástico. Seus criativos enquadramentos de câmera e a ousada fotografia, que acrescentam à obra um charme único, tipicamente “kubrickiano”, nos proporcionam momentos de puro deleite visual, além de terem servido para mostrar ao mundo que o novato diretor não estava adentrando o universo do cinema à toa.

 

prdosoloy0.jpg

 

Para exemplificar meu argumento, citarei e dissertarei acerca de três seqüências, que considero as mais importantes do longa, tanto em sua narrativa quanto para a carreira e aprimoramento técnico do diretor: a primeira, passada ainda na introdução da obra, é a já famosa cena da luta de boxe. Particularmente, não faço parte do grupo de adoradores do esporte, quanto menos de seu retrato no cinema (embora seja um grande entusiasta de Touro Indomável - por motivos que não chegam nem perto dos ringues), mas tenho de demonstrar minha admiração por esta seqüência filmada por Kubrick. Claro, não chegam aos pés das maravilhosas cenas captadas pelas lentes de Martin Scorsese no supracitado filme sobre a vida do boxeador Jake La Motta, mas também não faria sentido algum compará-las.

 

É impressionante a inteligência com que Kubrick posiciona sua câmera ao longo da luta. Inicialmente, suas lentes evitam a entrada no ringue, acompanhando toda a movimentação dos atletas por detrás das cordas, tremendo a imagem e enfocando principalmente a região peitoral, onde são proferidos a maior parte dos socos (reparem também na péssima qualidade dos efeitos sonoros, resultantes da já discutida falta de recursos). Conforme a intensidade da luta aumenta, a câmera passa a fazer parte da briga, sendo posicionada em meio aos dois atletas ou até mesmo tomando o lugar de um deles, subjetivando suas imagens (como na cena em que um atleta cai após ter levado um forte soco no rosto). É um trabalho visual bastante apurado, que intensifica a força das imagens de maneira singular.

 

A segunda cena separada por mim não é tão explícita quanto a anterior, passando despercebida por grande parte dos espectadores. Realmente é uma seqüência bastante sutil, mas permite que constatemos a classe com que Kubrick planejava as cenas de seus filmes. Falo do momento em que Davey, o boxeador, está conversando ao telefone com seu tio, poucos momentos após o término da luta. É incrível o número de informações passadas pelo diretor em uma tela e espaço de tempo tão pequenos. Em primeiro plano, vemos Davey, de costas para um espelho, falando ao telefone com o tio. Ao fundo, através do espelho, podemos enxergar toda a movimentação do apartamento da dançarina, que está se despindo após ter chego com o dono do cabaré. Portanto, temos o primeiro plano, composto pelo boxeador e todos os objetos existentes ao seu redor, um segundo plano, no qual estão presentes os reflexos do boxeador e dos objetos existentes ao seu redor, e, ademais, o terceiro plano, do qual fazem parte a garota e todos os objetos de seu apartamento. Tudo isso em uma tela 4x3. É estupendo.

 

montanhasazuispv3.jpg

 

Já a terceira seqüência, na verdade, é o terceiro ato por completo, extremamente tenso e movimentado, bem ao estilo inconfundível dos filmes policiais da época. Porém, o diferencial aqui é grande: mais uma vez, Kubrick merece grande destaque por suas escolhas no tocante ao posicionamento e à movimentação da câmera, conferindo um realismo irrepreensível à perseguição que envolve o “cafetão” e o boxeador. Em certos momentos, principalmente naqueles passados sobre o telhado de um edifício, o diretor utiliza apenas os sons dos passos como trilha sonora, deixando um longo e interminável silêncio conduzir a cena de forma incrível.

 

Também é no terceiro ato que se encontra a mais famosa cena da obra: a luta entre os dois indivíduos em uma sala cheia de manequins, filmada de maneira extremamente “kubrickiana”, principalmente pelo uso da câmera-de-mão para conferir tensão - e, como de praxe nos filmes do diretor, o recurso funciona maravilhosamente bem. A luta é coreografada com precisão e realismo, fechando com chave de ouro um filme que, embora não seja uma obra-prima, abriu as portas do cinema para aquele que viria a ser o diretor mais importante de toda a história. Mesmo que inferior às suas obras seguintes, é um ótimo trabalho, e merece ser conferido com carinho pelos fãs do diretor. 

montanhasazuisvw1.jpg

Dando continuidade ao nosso Festival, uma crítica sobre um filme escondido na carreira do Kubrick, inclusive por ser um de seus primeiros e não ter um orçamento adequado, A Morte Passou por Perto. Um autor que já se tornou nome marcado pelos Fetivais do Cineclube, mas que também andava escondido, o Dan..., foi quem preparou a resenha. Àcima, o resultado. Uma curiosidade: este foi o último filme de Kubrick em que ele não se baseou em um livro para desenvolver o roteiro.
ltrhpsm2007-03-23 02:08:27
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