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Forum Cinema em Cena

2007: Uma Quinzena Com Kubrick


ltrhpsm
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Tô devendo...Preciso rever O Iluminado,depois ler a crítica do Foras.Acho que farei a primeira parte hoje.A segunda amanhã.E volto aqui.

 

A Morte Passou Por Perto não vi,e só verei se comprá-lo,certamente.

 

Muito legal o festival,Sopa.Sem pompas,objetivo,com críticas novas saindo a cada dois dias,evitando aquela espectativa em cima,criando um climinha competitivo tolo.Muito bom,pretendo acompanhar ele todo.10 Esses "jabás" estão muito criativos,a propósito.

 

Ah,e claro,espero anciosamente pela crítica a Laranja Mecanica,Dr. Fantástico e De Olhos Bem Fechados,meu Top 3 Kubrick.05
Enxak2007-03-20 14:44:21
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Excelente crítica' date=' Forast!10

Adoro o filme, mas concordo com várias coisas que você disse....

Acho que sou o único que não acho a atuação da Durvall tão ruim assim.... ela é fraquinha e ainda mais ao lado do Jack Nicholson...

É... acho que o Kubrick te persegue por causa de 2001....06
[/quote']

 

Obrigado, Fox.08 Acho que Kubrick teria a oportunidade perfeita de justificar a atuação da Shelley Duvall caso Jack conseguisse matá-la no final, como torcemos (aliás, queria saber: vocês torcem por isso também?). Ele teria conseguido mais um daqueles finais pendentes entre o feliz e o trágico, ou as duas coisas, como acontece em Laranja Mecânica, ou Dogville, do Lars von Trier.

 

Eu não torci pra coitada morrer... ô maldade...06

O final já não é perturbador o suficiênte com aquela foto? Acho que ia sobrecarregar o expectador...

E por que você falou no outro tópico que você fica triste no final deste filme? É por causa do Danny e da Duvall ou era só uma propaganda pra sua crítica? 06

Antes de assistir o filme eu achei que o iluminado do título era o Jack... mas apesar do filme não focar tanto no Danny quanto no pai, acho ele fundamental para a trama, pelos memsos motivos que o Hal apontou...
The Fox2007-03-20 15:22:18
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Excelente crítica' date=' Forast!10

Adoro o filme, mas concordo com várias coisas que você disse....

Acho que sou o único que não acho a atuação da Durvall tão ruim assim.... ela é fraquinha e ainda mais ao lado do Jack Nicholson...

É... acho que o Kubrick te persegue por causa de 2001....06
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Obrigado, Fox.08 Acho que Kubrick teria a oportunidade perfeita de justificar a atuação da Shelley Duvall caso Jack conseguisse matá-la no final, como torcemos (aliás, queria saber: vocês torcem por isso também?). Ele teria conseguido mais um daqueles finais pendentes entre o feliz e o trágico, ou as duas coisas, como acontece em Laranja Mecânica, ou Dogville, do Lars von Trier.

 

Eu não torci pra coitada morrer... ô maldade...06

O final já não é perturbador o suficiênte com aquela foto? Acho que ia sobrecarregar o expectador...

E por que você falou no outro tópico que você fica triste no final deste filme? É por causa do Danny e da Duvall ou era só uma propaganda pra sua crítica? 06

Antes de assistir o filme eu achei que o iluminado do título era o Jack... mas apesar do filme não focar tanto no Danny quanto no pai, acho ele fundamental para a trama, pelos memsos motivos que o Hal apontou...

 

Que sobrecarregue!1606 Depois de 2001, qualquer coisa é ficha...06

 

Fico frustrado, eu queria que aquela mulher fosse dilascerada em pedaços. E acho triste sim quando o Jack corre pelo labirinto sem conseguir encontrar seu filho. Estaria mentindo se dissesse que não torci pra ele pegá-lo...

 

Também acho, mas somente pelos motivos que o Hal apontou. Danny como iluminado é inútil.
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Preguiça de ler... Sopa sugiro letras maiores (miopia?) ainda mais tratando-se de texto do Forasta... e que capa essa aí? Foras faz muito tempo que eu vi O Iluminado, na verdade eu li o livro a menos tempo do que vi o filme então não vou dar pitaco...

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Preguiça de ler... Sopa sugiro letras maiores (miopia?) ainda mais tratando-se de texto do Forasta... e que capa essa aí? Foras faz muito tempo que eu vi O Iluminado, na verdade eu li o livro a menos tempo do que vi o filme então não vou dar pitaco...

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Deixa de preguiça e vá rever o filme, oras.1106 Sobre a capa, acho que o Itt quis fugir do óbvio.06

 

A propósito, mesmo não tendo visto A Morte Passou Por Perto, li a crítica do Daniel. O cara escreve muito, tem que entrar na lista do Cineclube já!16 E ninguém pra comentar? Alguém VIU o filme?06
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Muito legal o festival' date='Sopa.Sem pompas,objetivo,com críticas novas saindo a cada dois dias,evitando aquela espectativa em cima,criando um climinha competitivo tolo.Muito bom,pretendo acompanhar ele todo.10 Esses "jabás" estão muito criativos,a propósito.

 

Ah,e claro,espero anciosamente pela crítica a Laranja Mecanica,Dr. Fantástico e De Olhos Bem Fechados,meu Top 3 Kubrick.05
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Obrigado, Enxak! Na verdade, é uma crítica por dia, segunda-feira, foi a do Forasteiro; hoje, a do Dan... e, amanhã, a do Alexei. Quanto aos jabás, foi baseado na brincadeirinha que o Tensor e outros usuários fizeram para o BBBCeC, em que você era a personagem dos Monstros S.A., o Jailcante um ursinho carinhoso e por aí vai... As críticas que vocêa guarda vêm a partir de sexta: eu sobre Laranja Mecânica, rubysun sobre De Olhos Bem Fechados e silva sobre Doutor Fantástico. Agora, tem certeza de que não vai participar? Logo você... 0406

 

Preguiça de ler... Sopa sugiro letras maiores (miopia?) ainda mais tratando-se de texto do Forasta... e que capa essa aí? Foras faz muito tempo que eu vi O Iluminado, na verdade eu li o livro a menos tempo do que vi o filme então não vou dar pitaco... [/Quote']

 

Ah, Nacka, eu sempre sonhei com as críticas no tamanho normal e não em letras garrafais. Não sei porquê, acho que elas ficam mais bem dispostas, ao invés de parecerem um amontoado de letras e paragráfos, haha. Quanto à capa: 1/2 da resposta vai para o Forasteiro - no post anterior - e a outra metade, basta buscar na primeira página do Festival. No resto, trate de acompanhar e ver os filmes, chegou tarde demais... 06

 

Cronograma atualizado:

 

19/03 - O Iluminado, por Forasteiro

20/03 - A Morte Passou Por Perto, por Dan...

21/03 - 2001: Uma Odisséia no Espaço, por Alexei
22/03 - Nascido Para Matar, por The Fox
23/03 - Doutor Fantástico, por silva
24/03 - Laranja Mecãnica, por ltrhpsm
25/03 - De Olhos Bem Fechados, por rubysun
26/03 - Barry Lyndon, por Enxak
27/03 - Spartacus, por Noonan

31/03 - O Iluminado, por G4mbit

 

Ainda faltam: Lolita, O Grande Golpe e Glória Feita de Sangue.
ltrhpsm2007-03-21 00:41:05
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2001: Uma Odisséia no Espaço, por Alexei

2001: A Space Odyssey (1968). Com: Keir Dullea, Gary Lockwood, William Sylvester, Douglas Rain, Margaret Tyzac, Leoanrd Rossiter, Robert Beatty, Sean Sullivan e Daniel Richter. Roteiro de: Stanley Kubrick & Arthur C. Clarke.

invernoiz6.jpg

 

Desde o início da história, a capacidade de olhar para o céu e indagar seu significado é um dos elementos que mais individualizam a espécie humana dos demais animais que habitam o planeta Terra. Todos nós, mamíferos, aves, invertebrados, bactérias, temos invariavelmente as mesmas necessidades básicas: se alimentar, crescer, transmitir nossos genes, perpetuar a espécie. Mas a curiosidade, a reflexão e o respeito pela imensidão do infinito, que fazem tão bem a qualquer ser senciente, estão indubitavelmente entre nossos mais inspirados atributos.
 
Em contraponto, basta olhar ao redor para perceber como o ser humano vem se tornando cada vez mais inadaptado ao meio em que vive. A busca por novos alimentos para o corpo e para o espírito levou, paradoxalmente, à necessidade de uma artificialização progressiva. À medida que o homem invadia novos espaços, precisava cada vez mais de artefatos para subsistir; não bastava conquistar o novo território, era preciso mantê-lo. E isso ele jamais poderia fazer tendo sua própria carne como único veículo.
 
O que produziu essa aberração que é o ser humano? Por que isso aconteceu apenas conosco nesse planeta, e como? No final da década de 60, Arthur C. Clarke e Stanley kubrick propuseram, sob a forma de sons e imagens em película, uma resposta arrojada para tais perguntas: somos produto de uma intervenção externa. Este é o mote central de 2001: Uma Odisséia no Espaço (2001: A Space Odissey, 1968), um filme no qual o ciclo da vida, da morte e da transcendência que lhes permeia é retratado da pré-história a um futuro que ficou no passado e que, por estas e outras razões, foi imortalizado para sempre em nossas consciências.

 

montanhasazuiscq1.jpg
 
O início de 2001 é inteiramente dominado por um grupo de humanos, anônimos, do tempo em que éramos mais assemelhados aos demais símios do que somos hoje. Os afazeres de então, em sua essência, não mudaram muito ao longo dos séculos: alimentação, vestuário, segurança, conforto. O rompimento das preocupações com as tarefas mundanas e a busca pelo significado da própria existência são proporcionados por um monólito negro, a fagulha da auto-consciência materializada em um objeto de formas e dimensões perfeitas.
 
Em um sensacional salto no tempo, o osso que havia sido usado como arma há poucos segundos se transforma em uma estação espacial, momento em que é apresentada uma nova humanidade, mais proficiente tecnicamente porém igualmente orgulhosa de si própria e ainda apegada às mesmas atividades mundanas. O monólito precisa agir mais uma vez e é o que ele faz, apresentando-se na Cratera Raiada de Tycho, na Lua. Se antes ele havia sido a faísca do desenvolvimento tecnológico, agora ele desencadeia reflexões de ordem filosófica: Alguém além de nós fez isso. Quem? E por que? Para obter tais respostas a humanidade rompe novas barreiras físicas e vai a Júpiter a bordo da nave Discovery, em uma missão comandada por três seres. Dois deles são humanos, Dave Bowman (Kleir Dullea, excepcional) e Frank Poole (Gary Lockwood). O terceiro é mecânico: o supercomputador HAL 9000. Independentemente de serem compostos de carbono ou de silício, os três têm aspirações, desejos e medos, os quais invariavelmente colidirão em eventos de proporções trágicas. 

 

prdosolpq2.jpg 
 
Na concepção de 2001, HAL é tão consciente e digno de consideração quanto os demais componentes da tripulação, pois tem memória – o que lhe possibilita criar sentimentos –, curiosidade e desejo de aprender. Um universo de máquinas humanizadas e humanos mecânicos, tecnologicamente dominantes porém amarrados a paradigmas cartesianos, representa uma subversão tão grande dos conceitos da humanidade sobre si própria que não poderia ser apresentado de maneira superficial ou rápida ao espectador. Por esta razão é que Stanley Kubrick optou por uma estrutura narrativa que mais se assemelha a um balé. Seu filme se desenvolve cadenciada e harmoniosamente, associando uma trilha sonora clássica (tendo Assim Falou Zaratustra, de Richard Strauss, como ícone) a imagens de um apuro visual ainda hoje impressionante. Repletos de simbolismos, os poéticos frames de 2001 parecem pinturas dispostas em seqüência, acompanhados e uma música suave e contrastante com a brutalidade das idéias apresentadas.
 
O clímax do filme é, em todos os aspectos, a seqüência final na qual Dave Bowman, já próximo a Júpiter, parte numa expedição extraveicular com o objetivo de salvar a missão e, em último grau, sua própria sanidade. Dave vivencia o mesmo gênero de transição que os humanos primitivos do início, porém numa escala muito maior; na pré-história, o monólito liberta a mente primeva das amarras de uma programação biológica incompleta (o DNA) para desenvolver a tecnologia; no presente/passado/futuro de 2001, o monólito ajuda uma mente um pouco mais evoluída a libertar-se da própria matéria. Caem as últimas barreiras, as da carne e de suas naturais limitações – o que nos remete ao início desse texto. Desta vez sem artefatos, a consciência livra-se de sua prisão corpórea. Dave Bowman vê a si próprio e a sua história; Dave Bowman envelhece; Dave Bowman morre. Vida longa a Dave Bowman, agora renascido sobre a forma da criança-estrela. Toda a experiência, retratada sob a forma de uma verdadeira apoteose de sons e imagens, tem diferentes significados para cada pessoa que a vê, mas o sentido final, de libertação e transcendência, é acessível a qualquer um de nós. Assim como foi para Stanley Kubrick, cuja passagem não deve ter sido menos gloriosa.

 

ninfiasgl1.jpg

 

Texto direto, preciso e emocinalmente harmônico, sem cumprimentos, conferido pelo Alexei à obra-prima da ficção científica, que perdura até os presentes dias com muita polêmica, dúvidas, interpretações e análises - mas marcada pelo conceito da perfeição; 2001: Uma Odisséia no Espaço. Além de conter uma estrutura leve, o texto permite ao espectador saborear o filme e mastigá-lo na direção certa, porém, à vontade.
ltrhpsm2007-03-23 02:12:11
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Chovendo no molhado: Ótimo texto do Alexei sobre 2001. Uau! Foi um texto direto sobre os pontos chaves do filme. Apesar de ser um filme que dá um leque enormes de interpretações, mas o texto dele me agradou muito no sentido de dar até uma ótima base pra quem está conhecendo (eu, ainda...), ou para quem vai conhecer o filme. Parabéns!

 

Os outros textos, eu ainda vou ler.
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Muito boa a crítica... direta e não fica tentando desenvolcer uma teoria (a graça do filme é cada um ter a sua)...

Realmente, como o Jail disse, dá uma boa base pra quem não viu ou está conhecendo (também é meu caso).

 

Toda a experiência' date=' retratada sob a forma de uma verdadeira apoteose de sons e imagens, tem diferentes significados para cada pessoa que a vê, mas o sentido final, de libertação e transcendência, é acessível a qualquer um de nós.

 
[/quote']

Disse tudo! 10

Mesmo não tendo uma teoria completamente formada, quando terminou o filme fiquei com uma sensação ótima....
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Mais uma vez está se confirmando o que o Forasta disse na CMJ ha alguns meses atrás: Esse fórum concentra a melhor equação quantidade/qualidade de textos da internet brasileira...10

O texto do Alexei é sublime. Foca os potnos principais, não é didático demais, e ainda assim levantas pontos bastante pertinentes à obra em questão...

 
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2001: Uma Odisséia no Espaço' date=' por Alexei

2001: A Space Odyssey (1968). Com: Keir Dullea, Gary Lockwood, William Sylvester, Douglas Rain, Margaret Tyzac, Leoanrd Rossiter, Robert Beatty, Sean Sullivan e Daniel Richter. Roteiro de: Stanley Kubrick & Arthur C. Clarke.

invernoiz6.jpg

 

Desde o início da história, a capacidade de olhar para o céu e indagar seu significado é um dos elementos que mais individualizam a espécie humana dos demais animais que habitam o planeta Terra. Todos nós, mamíferos, aves, invertebrados, bactérias, temos invariavelmente as mesmas necessidades básicas: se alimentar, crescer, transmitir nossos genes, perpetuar a espécie. Mas a curiosidade, a reflexão e o respeito pela imensidão do infinito, que fazem tão bem a qualquer ser senciente, estão indubitavelmente entre nossos mais inspirados atributos.

 

Em contraponto, basta olhar ao redor para perceber como o ser humano vem se tornando cada vez mais inadaptado ao meio em que vive. A busca por novos alimentos para o corpo e para o espírito levou, paradoxalmente, à necessidade de uma artificialização progressiva. À medida que o homem invadia novos espaços, precisava cada vez mais de artefatos para subsistir; não bastava conquistar o novo território, era preciso mantê-lo. E isso ele jamais poderia fazer tendo sua própria carne como único veículo.

 

O que produziu essa aberração que é o ser humano? Por que isso aconteceu apenas conosco nesse planeta, e como? No final da década de 60, Arthur C. Clarke e Stanley kubrick propuseram, sob a forma de sons e imagens em película, uma resposta arrojada para tais perguntas: somos produto de uma intervenção externa. Este é o mote central de 2001: Uma Odisséia no Espaço (2001: A Space Odissey, 1968), um filme no qual o ciclo da vida, da morte e da transcendência que lhes permeia é retratado da pré-história a um futuro que ficou no passado e que, por estas e outras razões, foi imortalizado para sempre em nossas consciências.

 

montanhasazuiscq1.jpg

 

O início de 2001 é inteiramente dominado por um grupo de humanos, anônimos, do tempo em que éramos mais assemelhados aos demais símios do que somos hoje. Os afazeres de então, em sua essência, não mudaram muito ao longo dos séculos: alimentação, vestuário, segurança, conforto. O rompimento das preocupações com as tarefas mundanas e a busca pelo significado da própria existência são proporcionados por um monólito negro, a fagulha da auto-consciência materializada em um objeto de formas e dimensões perfeitas.

 

Em um sensacional salto no tempo, o osso que havia sido usado como arma há poucos segundos se transforma em uma estação espacial, momento em que é apresentada uma nova humanidade, mais proficiente tecnicamente porém igualmente orgulhosa de si própria e ainda apegada às mesmas atividades mundanas. O monólito precisa agir mais uma vez e é o que ele faz, apresentando-se na Cratera Raiada de Tycho, na Lua. Se antes ele havia sido a faísca do desenvolvimento tecnológico, agora ele desencadeia reflexões de ordem filosófica: Alguém além de nós fez isso. Quem? E por que? Para obter tais respostas a humanidade rompe novas barreiras físicas e vai a Júpiter a bordo da nave Discovery, em uma missão comandada por três seres. Dois deles são humanos, Dave Bowman (Kleir Dullea, excepcional) e Frank Poole (Gary Lockwood). O terceiro é mecânico: o supercomputador HAL 9000. Independentemente de serem compostos de carbono ou de silício, os três têm aspirações, desejos e medos, os quais invariavelmente colidirão em eventos de proporções trágicas. 

 

prdosolpq2.jpg 

 

Na concepção de 2001, HAL é tão consciente e digno de consideração quanto os demais componentes da tripulação, pois tem memória – o que lhe possibilita criar sentimentos –, curiosidade e desejo de aprender. Um universo de máquinas humanizadas e humanos mecânicos, tecnologicamente dominantes porém amarrados a paradigmas cartesianos, representa uma subversão tão grande dos conceitos da humanidade sobre si própria que não poderia ser apresentado de maneira superficial ou rápida ao espectador. Por esta razão é que Stanley Kubrick optou por uma estrutura narrativa que mais se assemelha a um balé. Seu filme se desenvolve cadenciada e harmoniosamente, associando uma trilha sonora clássica (tendo Assim Falou Zaratustra, de Richard Strauss, como ícone) a imagens de um apuro visual ainda hoje impressionante. Repletos de simbolismos, os poéticos frames de 2001 parecem pinturas dispostas em seqüência, acompanhados e uma música suave e contrastante com a brutalidade das idéias apresentadas.

 

O clímax do filme é, em todos os aspectos, a seqüência final na qual Dave Bowman, já próximo a Júpiter, parte numa expedição extraveicular com o objetivo de salvar a missão e, em último grau, sua própria sanidade. Dave vivencia o mesmo gênero de transição que os humanos primitivos do início, porém numa escala muito maior; na pré-história, o monólito liberta a mente primeva das amarras de uma programação biológica incompleta (o DNA) para desenvolver a tecnologia; no presente/passado/futuro de 2001, o monólito ajuda uma mente um pouco mais evoluída a libertar-se da própria matéria. Caem as últimas barreiras, as da carne e de suas naturais limitações – o que nos remete ao início desse texto. Desta vez sem artefatos, a consciência livra-se de sua prisão corpórea. Dave Bowman vê a si próprio e a sua história; Dave Bowman envelhece; Dave Bowman morre. Vida longa a Dave Bowman, agora renascido sobre a forma da criança-estrela. Toda a experiência, retratada sob a forma de uma verdadeira apoteose de sons e imagens, tem diferentes significados para cada pessoa que a vê, mas o sentido final, de libertação e transcendência, é acessível a qualquer um de nós. Assim como foi para Stanley Kubrick, cuja passagem não deve ter sido menos gloriosa.

 

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 Nófa. Logo no primeiro texto que eu leio do festival me deparo com isso! 10

 

 Acho excelente a interpretação do Alexei sobre o filme, em especial sobre o monólito. E foi muito claro e direto em tudo, o que é muito bom pra quem não conhece muitas palavras, como eu 04

 

 Só vou comentar um trecho por agora:

 Dave Bowman vê a si próprio e a sua história; Dave Bowman envelhece;

Dave Bowman morre. Vida longa a Dave Bowman, agora renascido sobre a

forma da criança-estrela.

 

 Que foda. Agora fica claro pra mim o que eram aquele amontoado de luzes e efeitos. De primeira, eu pensei logo que seria o Big Bang, mas a idéia do próprio Dave se formando é muito mais válida. O legal mesmo na crítica é que o Alexei não comentou nada sobre o confronto de máquina x homem que agora eu considero até dispensável diante de tantos assuntos mais relevantes que o filme nos permite tratar.

 

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Acredito que o Alexei não tenha tocado no assunto porque é do jeito dele, de ser direto e incisivo ao máximo, sem a pretensão de mastigar nada. Coerente com 2001, aliás. É uma resenha bem by Alexei mesmo. Já é um dos poucos aqui no Cineclube que consegue assinar seu nome entre as próprias linhas do texto. Parabéns!

 

 
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Crítica fantástica para aquele que é, na minha opinião, o melhor filme de todos os tempos. O Alexei foi realmente direto e se concentrou nos aspectos principais do filme e numa das poucas partes em que a maioria das interpretações batem: o ser humano se libertando dos limites físicos que sempre lhe foram impostos.

 

Uma coisa que o Ciccarini falou na Moviola dele sobre 2001, e que eu achei extremamente interessante, foi que essa questão da libertação poderia se referir não só ao ser humano como também ao cinema: o cinema se libertando de amarras como a obrigação de agradar a todo mundo, investir sempre na mesma fórmula, e assim por diante... 2001 é um filme bastante incomum, afinal, tanto em sua construção narrativa quanto em conteúdo (como disse o Foras, "sobrecarregar o espectador" provavelmente não era algo que preocupasse Kubrick, especialmente depois desse filme), não esquecendo a liberdade interpretativa que é dada a quem assiste.

 

Enfim, obra-prima.
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Continuem se deliciando.... Desta maneira, eu estou gostando e o esforço está valendo a pena. Noonan e Enxak confirmados, só faltam três críticos para os filmes Lolita, O Grande Golpe e Glória Feita de Sangue. Alguém?

 

22/03, aqui, no Festival do Kubrick:

 

 

southvietnampop1972vd7.jpg + invernohb8.jpg + foxanimationsf2tc4.gif

 

Uma raposa foi chamada para se infiltrar no Vietnã, ou melhor, nas filmagens de Kubrick sobre a Guerra do Vietnã. Será que ela saiu viva?
ltrhpsm2007-03-22 02:06:48
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Preguiça de ler... Sopa sugiro letras maiores (miopia?) ainda mais tratando-se de texto do Forasta... e que capa essa aí? Foras faz muito tempo que eu vi O Iluminado, na verdade eu li o livro a menos tempo do que vi o filme então não vou dar pitaco...

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Deixa de preguiça e vá rever o filme, oras.1106 Sobre a capa, acho que o Itt quis fugir do óbvio.06

 

 

Eu revi. Estava passando na tv a cabo... o filme é do Nicholson, os demais atores gravitam ao seu redor.

 

 
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Olá, pessoal. Como acabei de avisar ao It, tô com uns problemas no pc de casa, faz dias que não tem internet, então tive que vir a uma lan house na última hora pra enviar minha resenha. Acabei tendo que escrevê-la até com um pouco de pressa, então já vou me desculpando se ela estiver fraca pros padrões do festival - admito que não vou ter tempo de ler nenhuma das outras críticas por enquanto.

 

Buenas, quando tudo estiver resolvido eu volto a participar ativamente. Abraços!
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Acabei de ler a do Foras... realmente ótima como de costume.

 

Concordo sobre a Duvall, ela é ridícula, além doq contracenar com o Nicholson torna sua deficiência ainda mais gritante. Tbm concordo sobre o filme ser do Nicholson, este não é do mestre Kubrick e sim do mestre Nicholson com certeza. não lembro de vc ter falado do elevador com sangue Forastes 17 (provável que tenha falado, não lembro now).

 

Líder da Semana no BBBCeC

 

 

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Nascido Para Matar, por The Fox:

Full Metal Jacket (1987). Com: Matthew Modine, Adam Baldwin, Vincent D'Onofrio, R. Lee Ermey, Dorian Harewood, Kevyn Major Howard, Arliss Howard, Ed O'Ross e Kirk Taylor. Roteiro de: Stanley Kubrick, Michael Kerr & Gustav Hasford.

 

24356jb9.jpg

 

Nas décadas de 60 e 70, os Estados Unidos enviaram tropas ao Vietnã para apoiar o Sul Capitalista na luta contra o Norte Comunista. Essa guerra durou mais de uma década, levando milhares de jovens americanos e vietnamitas, além de destruir o país asiático. É justamente nessa época que o filme Nascido Para Matar se passa.


Baseado no livro de Gustav Hasford, a história é dividida em duas partes: a primeira mostra o treinamento de “Joker” (Matthew Modine), “Gomer Pyle” (Vincent D’Onofrio), “Cowboy” (Arliss Howard) e muitos outros pelo Sargento Hartman (R. Lee Ermey) na intenção de prepará-los para a guerra. Já na segunda, esses mesmos garotos, após finalizarem o treinamento, vão para o combate no Vietnã.


Começamos vendo vários rapazes com cara de choro tendo seus cabelos raspados, ao som de uma alegre música country que diz “Adeus minha querida, olá Vietnã”. Em seguida, conhecemos o Sargento Hartman, vivido magnificamente por R. Lee Ermey, que será o responsável por transformar os rapazes em máquinas de guerra, custe o que custar. Como qualquer outro general de filme de guerra, Hartman trata mal seus soldados, mas o nível de crueldade dele é muito maior, chegando a ter toques de humor em muitas partes. Em vários momentos o espectador se vê rindo, como se estivesse vendo uma comédia, como as citações do sargento, como por exemplo, a pergunta: “Qual é a sua altura? – Não sabia que empilhavam merda tão alto” ou com a marcha “Este é meu fuzil e essa é a minha arma”, que envolve movimentos obscenos por parte dos soldados. Destaque também para a parte que mostra eles rezando e dormindo com suas armas.

 

invernopt8.jpg


Mas nem tudo é engraçado. O treinamento é tão perverso que o desgaste mental dos garotos começa antes mesmo deles irem para a guerra. Além de Pyle, que é o principal “alvo” de Hartman, os outros rapazes também mostram que não estão bem, tendo atitudes vingativas terríveis.
Na segunda parte do filme, os garotos se dividem a vários pelotões com funções diferentes, mas nós acompanhamos Joker na unidade de imprensa. Lá ele se depara com a censura e com a alteração de fatos para que a matéria agrade aos outros soldados. Joker e o fotógrafo “Rafterman” (Kevyn Howard) são enviados para o campo de batalha para fazer uma matéria. Lá eles passam a acompanhar o pelotão de Cowboy e acabam encarando a dura realidade da guerra, vendo civis sendo assassinados por soldados americanos e até participam de um violento combate.


Um dos melhores momentos dessa segunda parte é a entrevista que alguns soldados fazem para um documentário. Nessa hora fica claro que muitos deles não sabem porque estão lá. Além disso, vale destacar a resposta que Animal (Adam Baldwin) dá ao ser questionado sobre os vietnamitas aliados: “Estamos matando os amarelos errados”. Isso porque a população vietnamita queria mudanças em suas vidas, apoiando os comunistas, chegando a esconder vietcongues em suas aldeias. Caso semelhante ocorre hoje no Iraque, onde a população não apóia os soldados americanos.

 

southvietnampop1972jg5.jpg


Tecnicamente o filme é ótimo. Tem uma fotografia incrível, assinada por Douglas Milsome. A trilha feita pela filha de Kubrick, Vivian, é muito boa, mas as músicas que ele escolheu são todas excelentes. Elas são agitadas e alegres, muito diferentes das que costumam colocar em filmes de guerra. Essas músicas, junto com as cenas de violência e os toques de humor provocam uma confusão de sentimentos nos espectadores. O soldado Joker também sofre dessa confusão, escrevendo no seu capacete Nascido Para Matar e usando um broche com o símbolo da paz, fazendo-nos sentir as mesmas sensações de um soldado em guerra.


Muitos dizem que a segunda parte ofusca o brilhantismo da primeira, mas sem ela o filme seria incompleto, já que a intenção é mostrar todos os passos de um soldado, dentro e fora do campo de batalha. Assim, Kubrick consegue retratar com uma realidade impressionante as emoções e horrores vivenciados por pessoas comuns que, de repente, precisam virar máquinas de matar. Esse poder de nos fazer refletir como um soldado faz com que este seja um dos melhores filmes de guerra já feito.

 

kubrickfmjby8.jpg

 

Aí está, o trabalho do recluso The Fox, notório pela sua também adoração por Kubrick na seção O Que Você Anda Vendo e Comentando? Mesmo tendo revisto o filme recentemente, ele topou revê-lo e preparar um texto de Nascido Para Matar. O texto é de leitura agradável, pois a Raposa do Fórum narra o essencial e deixa claro os motivos que fazem de Nascido Para Matar uma sessão única, atentando a detalhes ou tendo uma percepção em larga escala. Gosto muito do filme, apesar de não ser uma obra-prima (o que sempre se espera de um filme kubrickiano).
ltrhpsm2007-03-23 02:06:52
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Acabei de ler a do Foras... realmente ótima como de costume.

Concordo sobre a Duvall' date=' ela é ridícula, além doq contracenar com o Nicholson torna sua deficiência ainda mais gritante. Tbm concordo sobre o filme ser do Nicholson, este não é do mestre Kubrick e sim do mestre Nicholson com certeza. não lembro de vc ter falado do elevador com sangue Forastes 17 (provável que tenha falado, não lembro now).

Líder da Semana no BBBCeC
[/quote']

 

Thanks, Bat. Na verdade eu não falei mesmo, só citei por alto:

 

É um clássico, ganhou brilho com o tempo, provocou nas pessoas um desejo estranho de ser visto novamente, porque tem aquela cena, sim, aquela do banheiro, e aquela do labirinto, do rio de sangue...

 

 
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