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Crepúsculo dos Deuses (Billy Wilder - 1950)


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Fantástica obra prima do saudoso Billy Wilder, metalinguístico e ainda assustadoramente real. Deixo aqui a crítica do Kléber Mendonça Filho:

 

 

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Crepúsculo dos Deuses (Sunset Boulevard)

 

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OBRA PRIMA ASSUSTADORA

Por
Kleber Mendonça Filho

Hoje em dia, a imprensa alegre elege, mensalmente, um novo grande clássico do cinema, uma nova obra-prima. Isso pode até funcionar como fachada para o 'agora' de uma banca de revista, mas não sobrevive ao 'depois' dos livros e do sentimento que permanece nas pessoas em relação a uma obra eloqüente. É por isso que é sempre bom poder ver um filme como Crepúsculo dos Deuses (Sunset Boulevard, EUA, 1950), de Billy Wilder, e entender a diferença entre obras-primas e Obras-Primas. Filmes desse tipo precisam ser festejados com paixão, a cada exibição, especialmente quando o seu autor genial acaba de falecer.

Wilder nos deixou um legado de filmes importantes que podem encontrar em Crepúsculo dos Deuses talvez seu maior representante. É um clássico como poucos, uma obra prima assustadora que nunca irá envelhecer. Aos 52 anos de idade, permanece um comentário devastador e lúcido sobre o lado mais sombrio do ser humano, refletido nos espelhos da solidão, da saudade de tempos melhores e da vaidade doentia, crônica irretocável de como Hollywood, 'fábrica de sonhos', funciona, pensa e destrói aqueles que ela própria cria. O filme é o retrato de uma máquina cujas porcas, molas e ruelas são gente de carne, sangue e sentimentos.

Narrado por um defunto ("engraçado como as pessoas ficam gentis depois que você morre") e abrindo com a imagem indelével de flashes estourando sobre um cadáver boiando numa piscina, acompanhamos o roteirista Joe Gillis (William Holden, perfeito como alguém ainda dotado de humanidade), deprimido, falido e tentando entender que o "nome promissor" do ano anterior quer agora apenas pagar as contas. Deixou o meio-oeste para tentar a vida em Hollywood, viver bem, ter uma piscina... Já não consegue mais vender coisa alguma. Seu último roteiro, entregue na Paramount, foi descrito como "produto da fome".

Com problemas no carro, vai parar acidentalmente no número 10086 Sunset Boulevard , mansão decadente (impressionante trabalho de direção de arte) da grande estrela do cinema mudo e de outrora, Norma Desmond (Gloria Swanson). Ela vive nesse mausoléu cercada de lembranças e objetos que ressaltam o brilho do seu passado, e indiretamente o vazio do seu presente. Acompanhada do fiel e dedicado mordomo Max (Eric Von Stroheim), Desmond existe num ferro-velho de história e glórias passadas. É seguramente um dos personagens mais tristes do cinema.

Enlouquecida com a possibilidade de voltar às telas depois de 20 anos, ela pede que Joe leia um roteiro que ela mesma escreveu, calhamaço que inspira no profissional a seguinte pergunta: "até que ponto uma escrita ruim pode mesmo ser ruim?". Quebrado financeiramente, ele vê ali a possibilidade de ganhar um bom dinheiro, dando início a uma relação de dependência material e emocional realmente doentia.

Ao aceitar o emprego, Joe irá mudar-se para a mansão como forma de evitar seus credores, ficar mais perto de Desmond e tornar-se seu pelêgo emocional e sexual, relação que complica-se no que Joe vê-se cada vez mais assustado com o mundo irreal criado pela decadência de Desmond. Ela acredita que Cecil B. De Mille, que a produziu em 12 filmes de sucesso, irá bancar seu roteiro infilmável e que o seu amor por Joe é sólido e inabalável. "Estou pronta para o meu close-up, Mr. De Mille".

Nos apresentando uma análise amarga do que significou para a indústria hollywoodiana aposentar seus grandes astros da fase muda (pré-1930), trocando-os por toda uma nova geração de rostos, nomes e, especialmente, vozes, Crepúsculo dos Deuses tem nas presenças de Swanson e Eric Von Stroheim figuras inesquecíveis, que misturam ficção e realidade de forma que incomoda.

A participação de Swanson e Stroheim (diretor do clássico Ouro e Cobiça, de 1924) é amarrada com a exibição de cenas do desastre que praticamente encerrou, na vida real, a carreira de ambos, em 1929, Queen Kelly, filme mudo inacabado. O filme é projetado por Desmond na sua salinha de cinema particular, com a presença de Max. Swanson e Stroheim também foram esquecidos pelo sistema e, sob o olhar afiado de Wylder, parecem colocar, em cada cena, muita mágoa para fora, contribuindo para o clima amargo e vil do todo.

Esse tipo de coisa lembra relatos cínicos na imprensa recente de que o ator Robert McNaughton, que fez o irmão mais velho em E.T., trabalha hoje nos correios. Sentia-se nas notas e trechos de matéria uma certa cobrança de sucesso e a insinuação de que McNaughton seria um 'perdedor'. Isto é Hollywood, tão bem dissecada por Wylder.

Como clássico, Crepúsculo dos Deuses tem seus herdeiros. Sua narração póstuma foi parar em Beleza Americana (1999), sua melancolia da decadência aplicada à figura de Bela Lugosi em Ed Wood (1994), sua ironia para com Hollywood em O Jogador (1992), seu clima de pesadelo em celulóide não está distante de Cidade dos Sonhos (Mulholand Drive, 2001), de David Lynch.

O filme foi escrito por Wylder, Charles Brackett e D.M. Marshman Jr, que ganharam o Oscar de Roteiro. De um total de 11 indicações, levou mais duas (Direção de Arte e Trilha). Não precisava de Oscars, pois Crepúsculo dos Deuses é inesquecível, faz mal e maltrata. Merece ser aplaudido de pé no seu final ironicamente cinematográfico e mais amargo que féu.
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Gloria Swanson tem algumas das falas mais famosas da história do cinema :

 

" Não precisávamos de diálogos ! Nós tínhamos faces ! "

 

" Eu sou grande . Os filmes é que ficaram pequenos "

 

e , é lógico : " OK , Mr. DeMille , estou pronta para o meu close-up " .

 

Interessante que Swanson não foi a primeira escolha de Billy Wilder . Antes ele cogitou outras antigas estrelas do cinema mudo como Mary Pickford e Pola Negri . Posteriormente , o roteiro foi alterado para incluir citações à carreira de Swanson como a amizade com DeMille , a parceria com Erich Von Stroheim ( que faz o mordomo ) e as imagens de " Queen Kelly " , filme estrelado por ela e dirigido por Stroheim , tido como um gênio  incompreendido do cinema mudo .  

 
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Pois não é que é verdade mesmo ? Heheheh.

 

Além de terem sido lançados no mesmo ano , A Malvada e Crepúsculo dos Deuses são sempre lembrados como uma das maiores dispustas da história do Oscar e como dois simultâneos e brilhantes estudos dos bastidores da produção artística .

 

Faltava um retrato brilhante sobre a TV ( inicipiente no início da década de 1950) e este veio em 1976 , com o veículo já mais do que consolidado , com Rede de Intrigas .

 
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