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Forum Cinema em Cena

60º Festival de Cannes (2007)


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Savage Grace ( Cannes 2007)

 

Quatro%20estrelas

O BEIJO AMARGO

Por
Kleber Mendonça Filho

 

 

Bem mais desconcertante é o segundo título trazido pela Quinzena, exibido hoje à tarde. Savage Grace, do americano Tom Kalin, com mais um papel destemido da atriz Julianne Moore (Magnólia). Ela interpreta a personagem real Barbara Daly, que casou com herdeiro da indústria de plásticos e com ele teve um filho, Tony. O filme analisa a vida de uma família que nunca teve a preocupação de trabalhar para existir, e a existência que eles têm é marcada pelo ócio e a noção de que são seres especiais, mudando de endereços europeus ao longo de duas décadas (Londres. Majorca, Paris). Isso traz problemas a longo prazo.

Kalin fez um filme bem interessante nos anos 90, um dos poucos ttulos que permanecem de respeito de safras Sundance, Swoon, relato em preto e branco da historia real que havia inspirado Festim Diabolico (Rope), de Hitchcock.

No seu novo filme, a relação entre mãe e filho, em especial, irá ganhar contornos cada vez mais delicados, numa série de carências afetivas e sexuais que levam a uma incrível momento filmado onde o incesto ganha uma das suas imagens mais fortes e bem articuladas.

Essa parte de cima eu escrevi pouco depois de ter tido visto o filme, e agora retomo o texto jah tardao da noite e o filme passou por um processo maravilhoso de expansão. Melhora cada vez que penso nele.

Primeira coisa adoravel em Savage Grace: é claramente um filme barato, feito na marra e de época. "Paris" é apenas um plano timidamente aberto, e logo cortamos para interiors bem decorados e ajudados por uma fotografia afinada não apenas no sentido de luz, mas também (e principalmente) na mise en scene do Kalin. Vez ou outra, o filme me lembrou o franzino cinema brasileiro de época, que na falta de recursos, grana, etc, filma mirradinho e você percebe constrangido as deficiencies de produção.

Acontece que o filme de Kalin tem qualidades que fazem das suas visíveis dificuldades um charme e uma prova de que existe ali roteiro, conflitos humanos, diálogos significativos, e um elenco que defende o filme com os dentes, Moore, claro, sendo o destaque.

Toda vez que eu vejo essa mulher atuando eu lembro da cena de Magnólia onde ela pergunta ao atendente da farmácia se ele sabe o que é perder alguém, e ele já viu a morte na casa dele. Em Savage Grace, ela é bem definida pelo próprio filho como "histriônica" (a legenda francesa traduziu como "teatral"), uma socialite doidivanas que Moore nunca deixa que fiquemos totalmente irritados com ela, mas com ela.

Numa cena onde obriga o filho a ler um trecho de Justine, em francês (durante estadia em Paris), ela reverte o quadro soltando uma metralhadora formidável de impropérios que revelam a sempre comentada tensão entre europeus e americanos, que por mais ricos que sejam, estão sempre em situação de desvantagem cultural. Isso me fez lembrar de algo nas linhas de Tender is the Night, ou Great Gatsby.

O tom do filme traz também uma carga cinéfila deliciosa que parece honrar Douglas Sirk ou mesmo Sam Fuller. Talvez tenha me lembrado Fuller, em especial, por ser um filme barato, realizado por um cineasta de visão que filma em termos pessoais e fora do alcance do radar de Hollywood. Savage Grace é diferente de qualquer coisa que o cinema dos EUA está fazendo, e imagino a contovéersia que irá gerar quando lançado.

Logo depois da exibição, Moore participou de uma coletiva, onde disse que não pensou duas vezes em fazer o papel, "mas tenho que admitir que meu marido pensou sim". "Sempre me interesso por filmes onde o drama humano e a maneira como as pessoas lidam com dores e dificuldades de viver estão em destaque".

Filme visto no Noga Hilton, Cannes, 18 de maio 2007

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Magnolia
O Beijo Amargo
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No Country For Old Men ( Cannes 2007)

 

Quatro%20estrelas

A HISTORY OF VIOLENCE

Por
Kleber Mendonça Filho



Saí agora há pouco do novo filme dos Irmãos Coen, No Country For Old Men, que está na competição. Detesto essas comparações fáceis, mas o tempo é curto, esse espaço wi-fi da Orange (Palais des Festivals) fecha em 35 minutos, e quero facilitar referenciando Fargo, lançado há 11 anos.

Desde aquela época que os Coen não tinham feito algo tão malvado, violento e molhado de sangue. Como vocês que conhecem a marca dos irmãos bem sabem, eles têm esse talento para rascunhar histórias caricaturais, com personagens caricaturais que falam muito bem e funcionam como arquétipos.

O grande destaque nesse aqui é Javier Bardem como uma besta do apocalypse chamado - ahem - Chigurh, que um dos personagens logo pergunta, "sugar??!!". Doce essa figura não é, o monstrinho é capaz de estrangular um policial ao ponto de deixar o chão parecido com uma pista de pouso (vítima debate-se e risca o piso butalmente), ou também identificável como vilão pela capacidade que Chigurh tem de usar uma bomba de ar como arma mortal. A presença de Bardem, ator geralmente tido como de presença masculina forte, emula um maluco beleza que mistura The Terminator com capacidade oral e verbal capaz de soletrar ameaças via peculiar escrita Coen, afinada como sempre.

Ele vem atrás de um dinheiro grande achado no que mais parece um pequeno cemitério no meio do deserto texano, com 6 cadáveres trucidados e deixados ao lado de carros abandonados. A coisa mais próxima de um herói no filme é o outro com nome estranho, Llewelyn (Josh Brolin), ao que parece decendente de uma longa lista de ancestrais caubóis.

Curiosamente, filme se passa em 1980. Há também um xerife, Tommy Lee Jones, personagem irmão do seu outro caubói texano de Os 3 Enterros de Melquiades Estrada.

Os Coen sabem criar um inferno perfeitamente orquestrado, e longas sequências do filme transcorrem sem fala, uma em especial deixou a platéia gigante da Debussy totalmente petrificada, no silêncio. Quando os personagens abrem a boca, mais uma vez temos a esperança de que as legendas no Brasil façam justiça ao lero especial e muito engraçado desse filme que, surpreendentemente, dá uma guinada especial ao final e revela-se um comentário reflexivo sobre os EUA e seu histórico de violência. O filme de Cronenberg, bem longe dali, está também perto, de certa forma, assim como Os Três Enterros de Melquiades Estrada, mas tudo redimensionado para as especificações Coen.

Filme visto na Debussy, Cannes, maio 2007

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Les Chansons D'Amour (Cannes 2007)

Nenhuma%20estrela


Por Kleber Mendonça Filho

Ano passado, a Quinzena dos Realizadores foi
encerrada com um filme que eu gostei bastante, Dans Paris,
de Christopher Honoré. Esse ano, o diretor foi promovido
para a competição da mostra official com Les Chansons
D'Amour, que passou na competição hoje de manhã. Não parece
ter empolgado muita gente, e o filme investe em mais um
formato musical onde, de repente, personagens começam a
cantar para externar suas dores, felicidades e observações
sobre a vida. A música termina tendo papel irrelevante no
filme, que desenvolve personagens e situações com o bom e
velho diálogo entre as pessoas, em situações naturais. Pouco
inspirador esse filme, uma aliga crítica espanhola pôs a pá
de cal em cima associando-o ao espanhol Do Outro Lado da
Cama. Louis Garrel, incorporando claramente Jean Pierre
Léaud sempre sob o comando de Honoré (em Dans Paris,
especialmente), sempre um ator de interesse.

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Dans Paris
Fernando2007-05-19 15:09:56
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U2 3D (Cannes 2007)

Quatro%20estrelas

 

 

WHERE THE IMAGES HAVE NO NAME

Por Kleber Mendonça Filho

As pretensões pop do Festival de Cannes se concretizaram na noite do sábado em enorme estilo com um show surpresa da banda U2 nas escadarias do Palais des Festivals, com certeza um dos momentos mais inusitados já testemunhados por mim nesses nove anos de cobertura. O boato de que a super banda irlandesa se apresentaria antes da première mundial de meia noite do seu filme U2 3D começou a correr na tarde do sábado, estimulando uma multidão bem maior do que a normal para o tapete vermelho. Às 23h30, com o início da instalação de bateria, guitarra, baixo e microfones, o público começou a transformar a Croisette numa arena de rock.

Esperados no tapete por uma pequena multidão de celebridades em black-tie, a mais energizada delas o ator espanhol Javier Bardem, em Cannes com No Country For Old Men, dos Irmãos Coen, o U2 desembarcou dos carros diante de uma tempestade de flashes fotográficos, selando de vez a vocação pop do Festival de Cannes que, ao longo da sua história, recebeu de John Lennon a David Bowie, Michael Jackson e Madonna.

Bono, The Edge, Adam Clayton e Larry Mullen Jr. chegaram ao topo das escadas, assumiram os microfones e deram início a uma versão enérgica de Vertigo com a saudação de Bono para os 60 anos do festival com um bem pronunciado ""Bon Anniversaire, Cannes!!!". A segunda música do micro-show foi Where The Streets Have no Name, que gerou imagens históricas na Croisette, e ver os mundialmente mau humorados seguranças do festival tirando fotos e gritando a letra da música pode dar uma idéia do abalo U2 nessa noite de sábado. A sala de imprensa, com vista privilegiada da cena, também virou uma inesperada pista de dança.

O show, na verdade, ainda estaria por vir e aconteceria dentro do Grand Theatre Lumiere, a maior sala de Cannes, que exibiu U2 3D com lotação esgotada (capacidade três mil), de longe o ingresso mais cobiçado do dia. Na entrada, cada um dos espectadores recebeu um par de óculos estilo Woody Allen, com claras informações de que o mesmo não deveria ser usado como óculos de sol.

O sistema de projeção digital que vimos a seguir tem sido auto-promovido como uma revolução na imagem de cinema, e, de certa forma, há espaço para ficar impressionado. Exibido na tela gigante da Lumiere, e com som que não parecia ser de cinema, mas de show de rock em cristalino formato digital 5.1, U2 3D pode ser descrito como uma irresistível (para não fãs, os já convertidos irão se descabelar por completo), e também esquisitíssima janela aberta para dentro de um estádio repleto. Diferente de uma janela, no entanto, as imagens mudam com cortes! O efeito do terceira dimensão é presença constante, especiamente na espacialidade do show e sensação de distância entre cada integrante da banda. Em alguns planos, meninas montadas no ombro de namorados inspiram no espectador a vontade de gritar "SAI DA FRENTE!!!", tamanho o realismo que beira o bizarro.

Diferente do também empolgante U2 Rattle and Hum, lançado nos cinemas em 1988, que misturava documentário, entrevistas e a banda em ação, U2 3D é só música, traduzindo o show da turnê Vertigo (que passou pelo Brasil, ano passado). Pontos altos incluem Bullet the Blue Sky e The Fly, com perfeita integração de grafismos projetados como fundos, ou melhor, caindo do que mais parece ser dentro da sala. Ângulos de dentro da platéia, com milhares de braços erguidos na sua frente em efeito 3D, dão sensação desconcertante de estar no show, e não vendo um filme.

Essa experiência luxuosa em 3D configura-se atualmente como a grande aposta da indústria cinematográfica para o futuro da imagem. Sabe-se que o filme que fará o formato chegar aos cinemas do mundo em grande escala será o novo projeto do diretor James Cameron (Titanic), Avatar, que tem lançamento previsto para 2009. O filme do U2 chega com certo ar de pioneirismo, e deverá ajudar a divulgar a tecnologia quando do seu lançamento nos cinemas ainda esse ano. U2 3D funciona como uma demonstração empolgante e poderá cair como uma luva para os cerca de 700 cinemas nos EUA já equipados para apresentar o formato, e famintos por programação em 3D (ainda rara). No Brasil, atualmente, existem duas salas equipadas (uma no Rio, outra em Sao Paulo).

Na tarde do sábado, a co-diretora de U2 3D, Catherine Owens, e os produtores Sandy Climan e John Modell, se reuniram com jornalistas. Owens, que desde a turnê Pop Mart (1997) é a responsável pelo conteúdo audio-visual projetado nos telões gigantes de LED nos shows da banda, informou que a versão mostrada em Cannes é um aperitivo para o filme final de 80-90 minutos.

Perguntei a Owens se, como diretora, ela tomou procedimentos especiais para pensar o filme em 3D. "Por causa da sensibilidde das câmeras, precisamos baixar um pouco o nível de luminosidade dos telões. Por eu conhecer um show do U2 tão bem, diria que tinha já uma boa idéia do que filmar. A própria arquitetura do palco fala por si só, e o filme é uma combinação de material captado na Cidade do México, Buenos Aires, Santiago do Chile e São Paulo. No Brasil, rodamos planos dos lados direito e esquerdo do palco, na Cidade do México ao fundo da platéia, em Buenos Aires ângulos altos e m Santiago um ângulo alto de Larry com a mono-bateria. A banda achou que registrar o filme na América Latina, onde a banda não ia há oito anos, seria garantia de shows maravilhosos".

Filme visto no Lumiere, Cannes, 19 Maio 2007
Fernando2007-05-21 08:02:35
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Sicko (Cannes 2007)

Três%20estrelas

 

 

Por Kleber Mendonça Filho

O novo documentário de Michael Moore, Sicko, teve première mundial no sábado, em Cannes, atraindo enorme atenção da imprensa internacional. Moore, um imã de controvérsia e um estrategista hábil aliou-se nos seus últimos filmes aos irmãos Bob e Harvey Weinstein, ex-Miramax, agora à frente da Weinstein Company. É como casar fogo com gasolina. Os Weinsteins, que saíram da Miramax (empresa deles, mas vendida à Disney) por causa da controvérsia em torno de Fahrenheit 911, filme que a Disney não queria lançar, vão distribuir Sicko internacionalmente, com lançamento previsto para os EUA no final de junho. Sicko terá ainda longa quilometragem de mídia, uma radiografia demolidora do sistema desumano de saúde nos EUA.

Na verdade, a quilometragem já começou a contar semanas antes da projeção de Sicko em Cannes. Já amplamente divulgado na imprensa, Moore está sendo investigado pelo Departamento do Tesouro do governo dos EUA por ter, supostamente, quebrado o embargo comercial a Cuba, numa sequência importante do filme. Depois de levar sobreviventes do massacre em Columbine numa loja da Wal Mart para comprar munição (em Tiros em Columbine), desta vez ele leva um grupo de trabalhadores que sacrificaram suas saúdes durante o trabalho de resgate e limpeza do que sobrou do World Trade Center, nos meses que sucederam o 11 de setembro, para tratamento em Cuba, onde saúde é gratuita. "Segundo a ONS, cubanos vivem um ano a mais do que americanos", informa Moore.

Desconsiderados pelo governo dos EUA pelo fato de que o trabalho nas ruínas do WTC foi voluntário (não faziam parte do quadro municipal ou federal), e movidos pelo patriotismo, esses heróis do 11 de setembro desenvolveram problemas respiratórios depois de semanas de exposição contínua a gases tóxicos. Em Cuba, o grupo é tratado gratuitamente. É talvez a maior provocação de Moore neste filme, que pode ser considerado relativamente sóbrio em relação aos seus outros.

Abrindo o filme com mais uma trapalhada de George W. Bush na frente das cameras, achada pela hábil equipe de pesquisa de Moore - "espero que ginecologistas ao redor do país mostrem o amor que têm pelas mulheres", diz Bush, sorridente, a um grupo de médicos -, Sicko ilustra o seu ponto de vista sobre um sistema que, como no Brasil, lucra com a necessidade básica de todo o ser humano em sociedade, a de cuidar da saúde. Sicko, aliás, será visto no Brasil com especial ranger de dentes, o que, mais uma vez, nos leva a pensar no porquê da total inexistência de uma obra com esse teor crítico na mídia brasileira.

Moore explica o lobby anti-saúde no congresso Americano, protegio a ferro e fogo pelas grandes empresas seguradoras, inclusive dando nome a uma dezena de politicos. Moore ainda põe etiquetas com preços em cada um deles. Hilary Clinton, que tentou no governo do marido empurrar um sistema forte de saúde, foi derrubada pelo lobby, mas, sugere Moore, sua atual vida política rumo à presidência vem sendo fartamente recompensada por aquele fracasso.

Com causos perfeitamente ilustrativos como o do homem sem seguro de saúde que perdeu dois dedos numa serra, e foi obrigado a escolher qual o dedo que seria reimplantado (só tinha dinheiro para um), Moore, investiga, na verdade, a América que paga uma fortuna por um plano e, mesmo assim, não é servida humanamente. Com depoimentos de ex-funcionários de grandes empresas, entendemos que a noção de lucro está diretamente relacionada à negação do atendimento.

Como em Tiros em Columbine, Moore vai ao Canadá mostrar que canadenses não pagam nada num sistema de saúde socializado. Vai também à Inglaterra e à França, que têm seus sistemas elogiadíssimos. Num hospital de Londres, Moore prega peça típica sua, saindo à procura de algum lugar com caixa registradora - "deve entrar dinheiro aqui, de alguma forma, não é possível" -. Acha uma, mas dessa caixa não entra dinheiro, apenas sai, pois o governo paga o transporte dos que tiveram alta, caso não tenham como voltar para casa.

Na coletiva de imprensa, Moore, super articulado, neutralizou a crítica de um jornalista de Toronto que acusou o filme de transformar o SUS canadense "numa coisa linda". "O sistema canadense não está entre os melhores do mundo, como o inglês ou o francês, é subfinanciado, mas lhe pergunto, você trocaria o seu sistema pelo americano?" O canadense respondeu "nunca", agradeceu e sentou-se.

Moore é atualmente o tema de pelo menos três documentários que o acusam de mentir e maquiar a realidade - Manufacturing Dissent (Fabricando a Discórdia) e Michael & Eu são dois deles). Qual sua reação a esse tipo de pedra na sua vidraça?

"Eu respondo lembrando que meus filmes trabalham com a verdade. Roger & Eu (1989) abordou a GM, se passaram quase 20 anos e a GM está praticamente falida. Tiros em Columbine abordou massacres na escolas e armas de fogo, e recentemente vimos que esse problema persiste piorado, Fahrenheit 911 questionou a Guerra do Iraque através de um governo fictício, mentiroso, e as coisas hoje comprovam ainda tudo isso. Trabalho com a verdade". K.M.F


Links:

Fahrenheit 9/11
Tiros em Columbine
Fernando2007-05-21 08:02:56
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Angelina Jolie Film About Slain Reporter Daniel Pearl Filmmaking of Highest Order

 

 

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"A Mighty Heart," Angelina Jolie's film about the kidnapping and murder of Wall Street Journal reporter Daniel Pearl, had its first screening Monday morning at the Cannes Film Festival.

Simply put, the Michael Winterbottom film is an exceptional piece of work, deeply affecting and filmmaking of the highest order.

In purely Hollywood terms, the film is a certain Oscar nominee. Everyone involved in "A Mighty Heart" — from Winterbottom to Jolie as Pearl's widow, Mariane, to Dan Futterman as Daniel Pearl — can be proud of a job very well done.

Based on the book by Mariane Pearl, the film follows the pregnant Mariane as searches for her husband following his disappearance in Karachi, Pakistan, in 2002. At the time, Daniel Pearl was writing a story about shoe bomber Richard Reid.

Winterbottom's cinema verité-style only adds to the immediacy of the Pearl tragedy. This director has done a remarkable job.

http://www.foxnews.com/story/0,2933,274172,00.html

 

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Ps; ela tá linda, mas continua magrela demais 09

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A Mighty Heart (Cannes 2007)

 

Três%20estrelas

Também ontem o glamourômetro de Cannes subiu alguns graus com a projeção de A Mighty Heart, do operário padrão SESC do cinema mundial, Michael Winterbottom. Angelina Jolie é a estrela do filme, que dramatiza o triste fim do jornalista Daniel Pearl, do Wall Street Journal, sequestrado e executado cruelmente na frente de uma câmera de video em Janeiro de 2002, no Paquistão, por um grupo ligado ao Al Qaeda.

Filmado como um documentário, estilo que Winterbottom vem aperfeiçoando em filmes como A Festa Nunca Termina e Caminho Para Guantanamo, A Mighty Heart automaticamente, finda a sessão, iniciou os trabalhos rumo ao Oscar 2008, com Jolie sendo apontada como candidata desde já. Ela interpreta Mariane, a esposa francesa de Pearl, que estava grávida dele quando o marido foi morto, apontado como espião da CIA. O fato de ser judeu também não ajudou, vítima de uma operação cuidadosamente planejada. O filme adapta o livro de Mariane de mesmo título. Resultado é sóbrio e competente dentro desse cinema de reconstituiçoes históricas pós-11 e setembro.


Links:

A Festa Nunca Termina
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Paranoid Park (Cannes 2007)

Quatro%20estrelas

Por Kleber Mendonça Filho

Acabo de sair do Paranoid Park, do Gus Van Sant, e na inha opinião ele se supera. Elephant visto agora seria uma experiência de erro e acerto, Last Days uma experiência radical mais segura e esse novo filme o formato bem desenvolvido e, ao que parece, no ponto. Super bom.

O Americano, Palma de Ouro 2003 por Elefante e que esteve na competição com Last Days em 2005, apresentou Paranoid Park, mais um de uma série de filmes sobre jovens, rodados com não-atores, e com resultados empolgantes. Van Sant vem fazendo um cinema sofisticado e de coração aberto para os adolescentes e este filme enfoca skatistas de Portland, Oregon, cidade natal do diretor. Feito com dinheiro francês, aponta para um autor americano trabalhando bem longe das rédeas de Hollywood, onde já obteve enorme sucesso com filmes como Gênio Indomável (1997), com Matt Damon e Ben Affleck.

Narrado em tom constante de sonho, utilizando super8, cameras lentas imprevistas e música de Nino Rota (colaborador de Fellini), o filme acompanha o misterioso envolvimento de Alex, um garoto, na morte de um vigia do parque titular. Vendo o filme, e colocando-o numa obra recente que inclui alguns dos outros acima citados, percebe-se uma série de obras com olhar incomum sobre a adolescência, com a escrita inconfundível de um diretor que está fazendo um cinema que passa ao largo do tipo de coisa feita para os multiplexes do mundo. Filme parece ter a lógica e o torpor da juventude, fazendo de Van Sant um dos cineastas americanos mais curiosos do cenário atual.




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Elephant
Last Days
Fernando2007-05-21 21:26:13
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Death Proof (Cannes 2007)

Saí agora da sessão do Death Proof, de Quentin Tarantino, que passou para uma Debussy especialmente lotada, mostra competitiva. Bom começar dizendo que é fantástico passar por uma descarga elétrica de cinema desse tipo, e também tão rara. Se a obra de Tarantino tem uma carga toda especial de eloquência, até agora ele não havia se dedicado especificamente ao gênero "ação", e, em tratando-se de Tarantino, ele parece entender que a palavra significa movimento, deslocamento, solavanco e ruído. Efeito sobre a platéia indescritível, o que me leva a crer que o objetivo do projeto Grindhouse (resgatar a experiência comunal do cinema B) foi amplamente atingida, não apenas no sentido cerebral e conceitual, mas especialmente de maneira visceral.

Esse efeito de empolgação da experiência de cinema é algo que ilustra alguns dos temas discutidos em Cannes desde que o festival começou, seja no alarde de "uma revolução na imagem de cinema o futuro" trazido pelos responsáveis por U2 3D, exibido sábado, ou a afirmação via Cronenberg de que "o cinema acabou", defendido no seu curta do projeto Chacun Son Cinèma que traz 35 filmes dedicados a pensar sobre a própria experiência de ir ao cinema. Curioso que dois dias depois de ver a demonstração cristalina do que seria a imagem asséptica do futuro em U2 3D, passa Death Proof com suas apaixonadas piscadelas de olho para uma experiência cinematográfica ótica-analógica, com pulos na cópia, riscos, pedaços errados de celulóide e trechos de cópia refeitos em laboratório para substituir estragos perdidos. Viva a diversidade.

Eu tinha previsto com amigos, e acertei, a organização escolheu o curta do Lars Von Trier para o Chacun Son Cinema, para abrir a sessão do Death Proof, e a combinação foi devidamente aplaudida. Os dois filmes, de maneiras muito semelhantes, parecem defender violentamente a experiência do ir ao cinema.

O que me chama a atenção particularmente nesse novo Tarantino é o tema recorrente do poder das fêmeas. Mais uma vez (Jackie Brown; Kill Bill), a mulher é força da natureza, e Tarantino não apenas parece celebrá-las via fetiches generalizados que situam o filme como tendo sido feito por um macho (bunda, pezinhos), mas a coisa vai ficando mais sofisticada além da punheta visual básica (nada contra) quando vemos que Death Proof é todo construído em cima do lero de meninas.

Me parece quase bizarro que um cineasta que surgiu com Cães de Aluguel, filme que sugeria algo não muito longe do homo com total ausência de mulheres e uma camaradagem de caserna que oferecia espaço para ambiguidades, firme-se cada vez mais como um fã totalmente devoto do poder que as mulheres têm. Em Death Proof, ele atinge níveis Almodovar de feminilidade, mas sem nunca perder o ponto de vista interessado de um homem.

Tarantino construiu seu filme em torno de dois grupos de mulheres, ambos lindamente delineados com o tipo de investimento em construção e diálogos que a grande maioria dos filmes não têm interesse de fazer, ou capacidade para construir. São quilômetros de diálogos sobre homens, moda, maconha, álcool, paquera, namoro, sexo, e as atrizes seguram a onda nesse lero maravilha. Numa discussao sobre andar ou não armado, uma delas manda "Você sabe o que acontece com quem usa faca pra se defender? Leva tiro" - é uma das pquenas jóias.

De longe, os dois grupos (o primeiro no lado A do filme, o segundo no lado B) são observados por um predador chamado Stuntman Mike (Kurt Russell) que usa como arma letal um carro preto todo preparado para o trabalho em cinema. Protegido dentro de uma cixa de aço, Stuntman Mike considera o carango "à prova de morte", e as citações a filmes pouco conhecidos dos anos 70, para mim clássicos não exatamnte de cinemas de segunda categoria, mas do Corujão da Globo, tipo Corrida Contra o Destino (Vanishing Point), sao constantes. Stuntman Mike diz também que trabalhou em Vega$, seriado do final dos anos 70 e início dos 80, acrescentando sabor delicioso de verdade. Quem mais lembraria de Vega$, exibido na Globo, acho que nas quartas-feiras?

E Tarantino, dominando totalmente a languagem, leva o filme do longo lero ao filme de horror e ação num tempo espetacularmente curto. A perseguição, tortura automobilística e grotesca execução do primeiro grupo de mulheres é desagradável e pavorosa, e totalmente coerente com o espírito do filme, do cinema irresponsável de exploitation que simplesmente nao é feito mais. Eu só lamento que Tarantino não tenha feito qualquer referência a dois filmes essenciais do tipo, os dois primeiros Mad Max australianos, de George Miller, embora a ferocidade filmada de Death Proof só encontre parceiros à altura nesses dois.

Quando vamos para o segundo grupo de meninas, numa ação que se passa 14 meses depois do primeiro incidente, Death Proof estabelece magistralmente a idéia de "pay off", e o filme, o espectador e as mulheres vão à forra espetacularmente. Acontece que Stuntman Mike tem o azar de ir mexer com quatro meninas que trabalham com cinema, no Tenessee, em locação fazendo um filme, todas de folga. Duas delas, alias, também são dublês e logo o jogo vira rumo a um final sensacional que descarrega energia incomum de agressividade visual, nonsense de primeira categoria e perfeito senso de diversão. Bravo!

Filme visto na Debussy, Cannes, Maio 2007

Fernando2007-05-21 21:28:59
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Achei que a Jolie ia vir como surpresa nessa temporada (ganhar acho que não, mas a indicação é bem provável)... Fico feliz, pelo visto tem chances de ser o primeiro trabalho BOM MESMO dela desde Garota Interrompida.

 

 

E preciso ver Death Proof, já 131313
Beckin Lohan2007-05-21 21:51:52
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Sobre o que o KMF anda dizendo por aí: se o Gus Van Sant continua subindo uma escada a cada filme que passa, daqui a pouco ele chega no Olimpo. E no que se refere ao que ele fez anteriormente, eu compartilho da mesma opinião que o Kléber, ou seja, esse Paranoid Parker deve ser descaralhal.

KMF quase lambendo o saco do Tarantino. Não é novidade, mas também não o culpo. Dever ser sensacional mesmo.

 

Estou começando a achar que os Coen vão levar a Palma de Ouro.

 

 
Carioca2007-05-21 22:59:41
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Coletiva Death proof (Cannes 2007)

 

"Para alguém como eu que já tem uma Palma de Ouro em casa, ver a lista de quem já ganhou me enche de orgulho. Agora, existe uma outra coisa capaz de me encher ainda mais de orgulho: ver a lista dos que nunca ganharam", disse ontem Quentin Tarantino na coletiva de imprensa do seu filme Death Proof (no Brasil, À Prova de Morte, na França, Boulevard de la Mort), tentando estabelecer sua relação com o Festival de Cannes. Com jeito e postura de super star, Tarantino chegou à coletiva com Kurt Russell, Rosario Dawson, Rosie McGowan e Zoe Bell. O chefão da Weinstein Company (ex-Miramax), Harvey Weinstein, e o amigo e colaborador do projeto Grindhouse, Robert Rodriguez, ficaram ali no cantinho acompanhando a conversa com jornalistas.

"O ponto alto de toda a minha vida foi ter sido respeitado nesse festival. Quando eu era criança e via a marquinha da Palma nos cartazes dos filmes, eu não tinha nem a noção do que seria um festival de cinema, mas já imaginava que Cannes deveria ser muito importante, um tipo de olimpo do cinema. Eu, inclusive, proibo meus atores de ver os filmes antes, pois eles têm que vê-los no Palais, em Cannes", continuou.

Tarantino discutiu as diferenças entre a versão do seu Death Proof lançada nos EUA, e esta versão mais longa que irá para o mercado internacional. "No Grindhouse original, quando meu filme começa a platéia já viu 95 minutos de filme, portanto, a primeira cena com as meninas no carro é bem mais curta. Agora, tenho mais tempo de apresentar as personagens como eu queria".

Ele falou também de uma cena que no original era cortada abruptamente como se a cópia estivesse faltando um pedaço, uma dança erótica que Stuntman Mike ganha de presented a personagem de McGowan. "Fora dos EUA, a dança passa inteira, os americanos não lidam muito bem com esse tipo de coisa", disse. Por outro lado, eu gostava de torturar a platéia com a promessa de uma dança erótica - lap dancing - e negar o desejo, sempre rolava um "Ahhhhhhhhhh. Tarantino filho da puta".

Kurt Russell levou a conversa para um lado claramente azêdo ao dar a sua opinião, dizendo, "eu preciso deixar claro que, para mim, é lamentável que os filmes sejam separados, porque ver Planet Terror e Death Proof juntos, numa sessão única, era uma experiência indescritível sem concorrência no mundo do cinema. Eu ainda não vi o Death Proof sozinho, mas lamento muito".

Harvey Weinstein pediu a palavra para vender o filme bem, que é a melhor coisa que ele sabe fazer. "Ao se liberar do Grindhouse, eu acho que cada filme ganha espaço e respiração. Tanto Robert como Quentin foram obrigados a cortar pedaços importantes para entrarem na sessão dupla. Death Proof é uma experiência totalmente diferente do filme anterior, e creio que o filme ganhou bastante nesse sentido. Estava semana passada na Inglaterra, onde inicialmente a imprensa me atacou muito por ter separado os filmes, mas depois de terem visto Death Proof, a reação é unânime de que a decisão foi a certa". Ele ainda adiantou que o Festival de Veneza está louco pelo filme.

Sobre a gênese da idéia de Death Proof, Tarantino disse que surgiu da vontade de fazer um slasher film, tipo assassino à solta. "Isso, claro, traz toda a bagagem da mulher forte que sempre foi muito presente no cinema B e exploitation. Nos anos 70, a única demonstração de força pelas mulheres estava no cinema B. Cadê que exitiu uma Pam Grier branca? Nos filmes de terror, nos slasher movies, a mulher era a que sobrevivia a tudo, de Massacre da Serra Elétrica a Halloween e Sexta-Feira 13. Tudo isso me interessa."

Perguntado sobre a sua capacidade de influenciar/estimular não apenas jovens cineastas, mas também a crítica, Tarantino definiu que "sempre quis fazer filmes que estimulassem gente como eu a fazer filmes". Lembra que ao ver filmes, ainda muito jovem, como Totalmente Selvagem (Something Wild), de Jonathan Demme, ou O Enigma do Outro Mundo (The Thing), de John Carpenter (apontando diretamente para Kurt Russell, do seu lado), ele entrava num transe que só dissipava depois de voltar e ver esses filmes mais três ou quatro vezes. "Esse era meu remédio".

Dawson interviu e relatou que Cães de Aluguel teve esse efeito sobre ela. Eu não cresci vendo filmes, cresci vendo televisão, mas tive a sorte de fazer Kids aos 15 anos de idade. Logo depois, meu pai chegou pra mim e me deu uma fita, "veja esse filme", e terminei vendo Cães de Aluguel sete vezes. Fiquei tão chapada vendo aquele filme, tão vidrada que posso afirmar hoje que foi ali que surgiu essa vontade de continuar trabalhando como atriz".

"Antes de fazer meus filmes, eu era tão pobre que mal tinha saído do condado de Los Angeles durante boa parte da minha vida. Com os meus filmes, e trabalhando com cinema, eu ganhei o meu passaporte para o cinema. Com Cães de Aluguel, eu virei cidadão do mundo, e tirei um ano inteiro só para viajar pelo mundo".

 

 

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Fox vai distribuir novo filme de Zé do CaixãoDeu na Variety, a mais importante revista da indústria, que a Fox vai distribuir no Brasil e em Portugal o novo filme de Zé do Caixão, Encarnação do Demônio, acordo fehado em Cannes. Este é seu primeiro longa em 28 anos, e fecha a trilogia até agora inacabada composta pelos hoje clássicos (pouco apreciados no Brasil, onde filme de horror é ainda mais desrespeitado do que em outros países) À Meia-Noite Levarei Tua Alma e Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver. Encarnação é uma produção da Gullane Filmes e Olhos de Cão. Zé do Caixão precedido pela vinheta da Fox, mundo estranho.

 

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O Homem de Londres (Cannes 2007)

Duas%20estrelas

 

 

Eu não lembro de ter visto um filme tão lento e enlouquecedoramente monótono em toda a minha vida como The Man From London (O Homem de Londres), do húngaro Béla Tarr. Também na competição, passou terça à noite e viu a maior debandada até agora esse ano da sala, que sempre vem acompanhada do sinistro ruído das cadeiras, que batem nos encostos toda vez que alguém as deixa. E, claro, não estamos contando os que fizeram da Debussy um dormitório. Curiosamente, este que vos escreve não dormiu, talvez estimulado pela vontade mórbida de ver aonde aquilo ia dar.

Com duas horas e 20 minutos que passam como sete horas e 80 minutos, The Man From London poderia ser exibido para franco atiradores em tropas de elite no mundo inteiro como teste de atenção e paciência. Depois de meia hora sendo testado, comecei a desenvolver passatempos como cronometrar a duração de qualquer um dos planos. Uma porta, por exemplo, é trancada e permanecemos um minuto e dez segundos olhando para a mesma. Dois minutos e 30 vendo um homem comendo de costas. Quando o plano não é fixo, a câmera está muito lentamente tentando chegar a algum lugar, de uma luminária de teto até vermos a sala, a imagem leva 45 segundos para baixar. Hmm.

Para dar algum crédito a Tarr, não há dúvida de que ele fez um filme como nenhum outro, e que a repetição faz parte de uma trama que envolve culpa, morte e dor à beira de um mar europeu. As atuações (Tilda Swinton dublada em húngaro é uma das inúmeras excentricidades) que parecem querer destituir Robert Bresson do seu estilo bressoniano chamam a atenção pela estilização total do ator e da idéia de drama. Um rosto chora não pela face em si, mas apenas pelos olhos. De qualquer forma, a experiência completa de ver esse filme nos leva perdidos aos pântanos da visão torturante de um cinema que ainda vem acompanhado de uma partitura musical enervante (re-re-re-re-re-repetitiva), Tarr reforça a sensação de estarmos vendo uma piscina olímpica sendo enchida com uma xícara.
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Import Export (Cannes 2007)

Duas%20estrelas%20e%20meia

 

Import Export não ficaria deslocado numa sessão dupla miserável com Baixio das Bestas, o filme pernambucano de Claudio Assis.

No filme de Seidl, um olhar brutamontes sobre a miséria social e humana na Europa, promove-se uma troca de lugares entre uma ucraniana que vai para Viena tentar ganhar a vida como babá e faxineira, e um jovem austríaco, aprendiz de segurança, que vai à Ucrânia tentar trabalho, fugindo de uma vida sem perspectivas em casa. Os dois personagens, ambos jovens, não se relacionam durante o filme, que é claramente dividido em duas partes que correm paralelas.

Eidl, cujo filme anterior, Dogdays, passou no circuito internacional de festivais na temporada 2002/2003 (não teve distribuição brasileira) era um retrato dantesco de um universo austríaco humano de classe media, perdida em perversões sexuais, parece ter melhorado um pouco. Sua personagem principal, Olga (Ekaterina Rak), mãe solteira que deixa o filho pequeno com a mãe, inspira nossa total simpatia, e as dores dela são as nossas.

Trabalhando num asilo para idosos, há muita humanidade nessa garota que, antes de abandonar seu país, tentou um emprego num site de pornografia. Os problemas do filme começam quando Seidl engata a sua marcha perversa ao mostrar um prazer/desejo peculiar em escancarar a miséria humana, aumentada via sua preferência de trabalhar com não atores. A linha que separa o documentário da ficção nesse filme é realmente muito tênue. Especialmente questionável é a utilização de idosos em estado vegetativo ou terminal, no asilo real, ao que parece inconscientes de que estão num filme.

A viagem de Paul (Paul Hoffmann) à Ucrânia na companhia do seu padrasto canalha num caminhão (vão entregar máquinas ultrapassadas de videopoker, "só o melhor para os russos") também é estranhamente repelente. Fazem um tour por alguns dos piores bairros do leste europeu, passando pela Eslováquia e entrando na Ucrânia, restos decrépitos de moradias soviéticas, uma delas especialmente assustadora que faz qualquer favela brasileira parecer um lugar bem mais humano. E é frio, Seidl fez questão de filmar tudo isso gelado e inóspito em dois invernos (2005/2006).

Na marca dos 90 minutos, qualquer tentativa de respeitar o filme esvai-se numa longa sequência em que padrasto e enteado humilham uma prostituta (provavelmente verdadeira), e o espectador começa a suspeitar que o diretor parece estranhamente interessado na cena. As semelhanças com Baixio acabam aí, pois Seidl partiu para fazer um documentário ficcionalizado com a sua visão de mundo, enquanto Assis fez um retrato claramente fabricado da sua visão de mundo.


Links:

Baixio das Bestas
A Beira do Paraíso
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Auf Der Anderen Seite

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Passou ontem na motra competitiva com boa receptividade o filme Auf Der Anderen Seite (em inglês, Edge of Heaven, À Beira do Paraíso), do alemão de origem turca Fatih Akin. Há três anos, Akin ganhou o Urso de Ouro no Festival de Berlim com Contra a Parede. Mais uma vez, o cinema europeu reflete a questão das fronteiras e das diferenças entre culturas e países, entre o rico e o pobre, algo visto na segunda-feira na produção austríaca Import Export, de Ulrich Seidl, também competição.

Akin faz um filme de enorme coração, analisando as relações íntimas que unem alemães e turcos. Como no filme de Seidl, há duas histórias paralelas. Ali (Tuncel Kurtiz) é um alemão de origem turca, professor universitário sem muita convicção. Seu pai apaixona-se por Ayten (Nurgul Yesilkay), uma prostituta que não vê Yeter (Nursel Kose), a filha de 27 anos, há muito tempo. A paixão do pai por Ayten acaba tragicamente, deixando o filho dele, Ali, com o desejo moral de procurar a filha em Istanbul, e tentar garantir algum futuro para a garota.

Paralelamente, Lotte (Patrycia Ziolkowska), uma estudante alemã, conhece Yeter, que fugiu da Turquia por causa de problemas politicos. Lotte leva a turca para dentro de casa, sob a compreensiva observação da mãe de Lotte, Susanne (Hanna Schygulla). As meninas apaixonam-se e Lotte terá que
lidar com a deportação de Yeter de volta para o seu país.

Não deixa de ser maravilhoso observar que, num país tão marcado historicamente pelo ódio às diferenças, surja um filme feito por um imigrante turco que relate uma Alemanha tão mãe. A personagem de Schygulla (atriz maravilhosa, veterana de Fassbinder) parece simbolizar a Alemanha de hoje, compreensiva, experiente e dona de um coração aberto que parece ter lugar para muitos.



Links:

Import Export
Contra a Parede
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Entrevista de Abel Ferrara (Cannes 2007)

 

 

24-mai-07

O novo filme de Abel Ferrara, Go Go Tales, é delicioso, e a palavra não é exatamente frequente para filme de Abel Ferrara, diretor de O Assassino da Furadeira/Driller Killer, Vício Frenético e, ano passado, Mary, em cartaz atualmente no Recife. Essa pequena crônica em tom farsesco, filmada na Cinécitta, em Roma, e ambientada numa boate nova-iorquina, foi programada fora de competição em Cannes como "midnight movie" (exibido quarta à noite), e seu status de "meia-noite" só pode ser interpretado como tendo sido colado automaticamente via reputação de Ferrara, uma vez que Go Go Tales pouco tem de "midnight movie". Passa como um Woody Allen, ou um Altman, sem nunca deixar de ser do homem em si.

Fomos entrevistar Ferrara num dos hotéis de Cannes. Às 11 horas da manhã, ele estava sóbrio, com muita vontade de conversar e aparentemente feliz. A interpretação é a de que ele já está entendendo que o filme agradou em Cannes, motivo de alívio para qualquer realizador. "Nós finalizamos o filme em cima da hora, sem mostrar para ninguém, e à essa altura, você só espera que a coisa não naufrague por completo", disse Ferrara à reportagem do JC.

O comentário sobre Ferrara estar sóbrio não é injusto ou deslocado. Notório bebum, suas histórias de festivais são lendárias, uma delas transmitida pelo canal HBO Brasil, que o entrevistou no Festival de Veneza anos atrás, e Ferrara dormiu na frente da câmera, durante a entrevista. Cada vez mais filmando com dinheiro europeu, Ferrara está no formato atual de produção que tem dado asilo artístico a alguns dos principais autores dos EUA (vide Allen na Inglaterra, Van Sant e Lynch na França).

Go Go Tales lembra bem de longe The Cotton Club, exceto pela leveza que aquele filme de Coppola não tinha. Willem Dafoe é o dono/gerente da espelunca chic Ray Ruby's Paradise, onde tudo pode ser visto, mas não tocado. A dona do imóvel reclama que o aluguel está atrasado quatro meses, as meninas em exposição reclamam o pagamento também atrasado, os clientes animados com os estímulos sensuais não percebem a ameaça constante de falência. E Ray cria uma maneira de ganhar na loteria para salvar o seu paraíso.

A narrativa flui como água num teatro de egos e beleza comercial, muitos seios à mostra, numa série de pequenos incidentes relacionados à satisfação ou a falta dela, seja sensual ou financeira. É um espaço dominado pelas mulheres, razão de ser do Ray Ruby's Paradise.

"Eu só fui me dar conta do quanto aquela boate lembrava Cannes quando eu cheguei aqui essa semana, e fiquei esperando por Tarantino, que deu um bolo na festa do seu próprio filme. mentira, ele chegou umas três da manhã. Mas Cannes é um go-go club, não tenha dúvida", disse Ferrara so seu padrão oral que não conhece pontuações.

Ferrara disse que o papel de Ray Ruby foi escrito para Christopher Walken, que não se interessou. "Oito anos atrás eu estava em Cannes tentando vender o filme como um Sopranos, antes de Os Sopranos existir. Depois, o filme foi quase feito com baixo orçamento tendo Harvey Keitel no papel principal, em Nova York, mas não deu certo".

Sobre a grande discussão em Cannes esse ano, as mudanças no fazer e ver filmes, perguntamos a Ferrara se ele resiste à idéia de trabalhar com digital, uma vez que seus filmes continuam sendo rodados em película 35mm. "Não é isso, quando levantamos dinheiro para fazer um filme, os gastos com película terminam sendo o mínimo, mesmo se você considerar que o ator vai receber um décimo do que ele recebeu por O Homem Aranha. Os caras da Kodak, das empresas de negativo, não estão entregando os pontos, e há muitas facilidades", diz.

De qualquer forma, eu quero lançar um filme na internet, digamos, em capítulos. Eu, Mathew Modine e Willem Dafoe queremos fazer uma versão de O Médico e o Monstro, em capítulos de dez minutes, e ir lançando aos poucos".

Para um cineasta que assinou diversas crônicas feitas em Nova York, com forte sabor de locação, perguntamos se filmar na Cineccitá não teve sabor diferente. "Eu tive a liberdade de ir atrás daquele lugar que eu tinha na cabeça e construí-lo na Cineccitá. Isso me deu a chance de criar do zero o lugar das minhas lembranças boêmias, o Limelite, que ficava no cruzamento da rua 20 com a Broadway, a dois passos do ateliê de Andy Warhol. Não sei bem porque, mas aquela área virou paraíso das boates de strip tease, e hoje ela está praticamente irreconhecível. Na Cineccitá, nós filmávamos e fizemos festas incríveis nos finais de semana, ali mesmo no estúdio. Foi a perfeita recriação, para o filme e para as minhas lembranças. Só faltou cobrar ingresso e consumo".
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