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Poesias


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Me deparei agora de manha com essa aqui, é simplesinha, quase poema de primario, mas achei bem bonitinho, e sei la pq me lembrou um poeminha que li numa revistinha do Chico Bento acho que pro Zé Lelé uma vez06

 

Se amigos dizem: Te amo!

 

Não custa, te direi, sim.

 

Gostei desse teu jeitinho

 

Com que disseste pra mim.

Amor, leal amizade,

 

Sentimentos de alto preço,

 

Fico assim tão radiante,

 

Se de ti tanto mereço.

Quando lembrares de mim

 

Saiba que nunca te esqueço

 

Já disse, amor e amizade,

 

São algo que não tem preço.

MÍRIAN WARTTUSCH

 

--------------------------------------

"NEGUE"

 

 

 
[/quote']

 

Putz, essa me lembra totalmente minha mãe, ela vive cantarolando essa música desde que eramos pequenos (não que eu tenha crescido muito nesses anos todos, mas enfim06)

 

J.McClane2010-12-05 07:35:14

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ISMÁLIA

 

 

 

Quando Ismália enlouqueceu,

 

Pôs-se na torre a sonhar...

 

Viu uma lua no céu,

 

Viu outra lua no mar.

 

 

 

No sonho em que se perdeu,

 

Banhou-se toda em luar...

 

Queria subir ao céu,

 

Queria descer ao mar...

 

 

 

E, no desvario seu,

 

Na torre pôs-se a cantar...

 

Estava perto do céu,

 

Estava longe do mar...

 

 

 

E como um anjo pendeu

 

As asas para voar...

 

Queria a lua do céu,

 

Queria a lua do mar...

 

 

 

As asas que Deus lhe deu

 

Ruflaram de par em par...

 

Sua alma subiu ao céu,

 

Seu corpo desceu ao mar...

 

 

 

(Alphonsus de Guimaraens)

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A última viagem de Jayme Ovalle

 

Vinicius de Moraes

 

 

 

 

 

Ovalle não queria a Morte

 

Mas era dele tão querida

 

Que o amor da Morte foi mais forte

 

Que o amor do Ovalle à vida.

 

 

 

E foi assim que a Morte, um dia

 

Levou-o em bela carruagem

 

A viajar – ah, que alegria!

 

Ovalle sempre adora viagem!

 

 

 

Foram por montes e por vales

 

E tanto a Morte se aprazia

 

Que fosse o mundo só de Ovalles

 

E nunca mais ninguém morria.

 

 

 

A cada vez que a Morte, a sério

 

Com cicerônica prestança

 

Mostrava a Ovalle um cemitério

 

Ele apontava uma criança.

 

 

 

A Morte, em Londres e Paris

 

Levou-o à forca e à guilhotina

 

Porém em Roma, Ovalle quis

 

Tomar a sua canjebrina.

 

 

 

Mostrou-lhe a Morte as catacumbas

 

E suas ósseas prateleiras

 

Mas riu-se muito, tais zabumbas

 

Fazia Ovalle nas caveiras.

 

 

 

Mais tarde, Ovalle satisfeito

 

Declara à Morte, ambos de porre:

 

– Quero enterrar-me, que é um direito

 

Inalienável de quem morre!

 

 

 

Custou-lhe esforço sobre-humano

 

Chegar à última morada

 

De vez que a Morte, a todo pano

 

Queria dar uma esticada.

 

 

 

Diz o guardião do campo-santo

 

Que, noite alta, ainda se ouvia

 

A voz da Morte, um tanto ou quanto

 

Que ria, ria, ria, ria...

 

 

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Li essa hoje no metrô, achei muito bonita - (as 3 ultimas linhas são engraçadas06)

 

Saudade

 

Saudade dentro do peito

 

É qual fogo de monturo

 

Por fora tudo perfeito,

 

Por dentro fazendo furo.

 

 

 

Há dor que mata a pessoa

 

Sem dó e sem piedade,

 

Porém não há dor que doa

 

Como a dor de uma saudade.

 

 

 

Saudade é um aperreio

 

Pra quem na vida gozou,

 

É um grande saco cheio

 

Daquilo que já passou.

 

 

 

Saudade é canto magoado

 

No coração de quem sente

 

É como a voz do passado

 

Ecoando no presente.

 

 

 

A saudade é jardineira

 

Que planta em peito qualquer

 

Quando ela planta cegueira

 

No coração da mulher,

 

Fica tal qual a frieira

 

Quanto mais coça mais quer.

 

 

 

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Como vai você?

Como vai você?
Eu preciso saber da sua vida
Peça alguém pra me contar sobre o seu dia
Anoiteceu e preciso só saber

Como vai você?
Que já modificou a minha vida
Razão de minha paz já esquecida
Nem sei se gosto mais de mim ou de você

Vem que a sede de te amar me faz melhor
Eu quero amanhecer ao seu redor
Preciso tanto me fazer feliz

Vem que tempo pode afastar nos dois
Não deixa tanta vida pra depois
Eu só preciso saber...
Como vai você?

 

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Grande Roberto! Quer dizer, nao foi ele que escreveu, mas ficou famoso na voz dele06

 

Uma letra que ouvi e achei linda demais do roberto é "As canções que você fez pra mim", o cara sabia escrever! 10

Ja a musica, a versão cantada por ele acho meia boca, mas na voz da Sandy ficou nota 10.

 

As Canções Que Você Fez Pra Mim

Composição: Roberto Carlos / Erasmo Carlos

 

Hoje, eu ouço as canções que você fez pra mim

 

Não sei por que razão tudo mudou assim

 

Ficaram as canções e você não ficou

 

Esqueceu de tanta coisa que um dia me falou

 

Tanta coisa que somente entre nós dois ficou

 

Eu acho que você já nem se lembra mais

 

É tão difícil olhar o mundo e ver

 

O que ainda existe

 

Pois sem você meu mundo é diferente

 

Minha alegria é triste

 

Quantas vezes você disse que me amava tanto

 

Tantas vezes eu enxuguei o seu pranto

 

E agora eu choro só sem ter você aquí

 

 

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  • 3 months later...
  • Members

Recordo ainda, e nada mais me importa

 

Aqueles dias de uma luz tão mansa

 

Que me deixavam, sempre, de lembrança,

 

Algum brinquedo novo à minha porta.

 

 

 

Mas veio um vento de Desesperança

 

Soprando cinzas pela noite morta!

 

E eu pendurei na galharia torta

 

Todos os meus brinquedos de criança...

 

 

 

Estrada afora após segui, mas ai,

 

Embora idade e senso eu aparente,

 

Não vos iluda o velho que aqui vai:

 

 

 

Eu quero os meus brinquedos novamente!

 

Sou um pobre menino, acreditai

 

Que envelheceu, um dia, de repente.

 

 

 

(Quintana eterno!)

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Eu sei que determinada rua que eu já passei

 

Não tornará a ouvir o som dos meus passos.

 

Tem uma revista que eu guardo há muitos anos

 

E que nunca mais eu vou abrir.

 

Cada vez que eu me despeço de uma pessoa

 

Pode ser que essa pessoa esteja me vendo pela última vez

 

A morte, surda, caminha ao meu lado

 

E eu não sei em que esquina ela vai me beijar

 

Com que rosto ela virá?

 

Será que ela vai deixar eu acabar o que eu tenho que fazer?

 

Ou será que ela vai me pegar no meio do copo de uísque?

 

Na música que eu deixei para compor amanhã?

 

Será que ela vai esperar eu apagar o cigarro no cinzeiro?

 

Virá antes de eu encontrar a mulher, a mulher que me foi destinada,

 

E que está em algum lugar me esperando

 

Embora eu ainda não a conheça?

 

Vou te encontrar vestida de cetim,

 

Pois em qualquer lugar esperas só por mim

 

E no teu beijo provar o gosto estranho

 

Que eu quero e não desejo,mas tenho que encontrar

 

Vem, mas demore a chegar.

 

Eu te detesto e amo morte, morte, morte

 

Que talvez seja o segredo desta vida

 

Morte, morte, morte que talvez seja o segredo desta vida

 

Qual será a forma da minha morte?

 

Uma das tantas coisas que eu não escolhi na vida.

 

Existem tantas... Um acidente de carro.

 

O coração que se recusa abater no próximo minuto,

 

A anestesia mal aplicada,

 

A vida mal vivida, a ferida mal curada, a dor já envelhecida

 

O câncer já espalhado e ainda escondido, ou até, quem sabe,

 

Um escorregão idiota, num dia de sol, a cabeça no meio-fio...

 

Oh morte, tu que és tão forte,

 

Que matas o gato, o rato e o homem.

 

Vista-se com a tua mais bela roupa quando vieres me buscar

 

Que meu corpo seja cremado e que minhas cinzas alimentem a erva

 

E que a erva alimente outro homem como eu

 

Porque eu continuarei neste homem,

 

Nos meus filhos, na palavra rude

 

Que eu disse para alguém que não gostava

 

E até no uísque que eu não terminei de beber aquela noite...

 

Vou te encontrar vestida de cetim,

 

Pois em qualquer lugar esperas só por mim

 

E no teu beijo provar o gosto estranho que eu quero e não desejo,mas tenho que encontrar

 

Vem, mas demore a chegar.

 

Eu te detesto e amo morte, morte, morte

 

Que talvez seja o segredo desta vida

 

Morte, morte, morte que talvez seja o segredo desta vida

 

 

 

(Raul Eterno!)

 

 

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Eu sei que determinada rua que eu já passei
Não tornará a ouvir o som dos meus passos.
Tem uma revista que eu guardo há muitos anos
E que nunca mais eu vou abrir.(...)
(Raul Eterno!)

 

 

Ismália tinha no meu livro na época do colégio, sempre achei linda!!!

 

E para continuar com o eterno Raul, essa é pq estamos chegando no dia 31/03, e é uma letra que diz tudo sobre o início do longo período macabro da história recente do nosso pais.

 

Metrô Linha 743

Raul Seixas

Ele ia andando pela rua meio apressado
Ele sabia que tava sendo vigiado
Cheguei para ele e disse: Ei amigo, você pode me ceder um cigarro?
Ele disse: Eu dou, mas vá fumar lá do outro lado
Dois homens fumando juntos pode ser muito arriscado!
Disse: O prato mais caro do melhor banquete é
O que se come cabeça de gente que pensa
E os canibais de cabeça descobrem aqueles que pensam
Porque quem pensa, pensa melhor parado.
Desculpe minha pressa, fingindo atrasado
Trabalho em cartório mas sou escritor,
Perdi minha pena nem sei qual foi o mês
Metrô linha 743

O homem apressado me deixou e saiu voando
Aí eu me encostei num poste e fiquei fumando
Três outros chegaram com pistolas na mão,
Um gritou: Mão na cabeça malandro, se não quiser levar chumbo quente nos cornos
Eu disse: Claro, pois não, mas o que é que eu fiz?
Se é documento eu tenho aqui...
Outro disse: Não interessa, pouco importa, fique aí
Eu quero é saber o que você estava pensando
Eu avalio o preço me baseando no nível mental
Que você anda por aí usando
E aí eu lhe digo o preço que sua cabeça agora está custando
Minha cabeça caída, solta no chão
Eu vi meu corpo sem ela pela primeira e última vez
Metrô linha 743

Jogaram minha cabeça oca no lixo da cozinha
E eu era agora um cérebro, um cérebro vivo à vinagrete
Meu cérebro logo pensou: que seja, mas nunca fui tiete
Fui posto à mesa com mais dois
E eram três pratos raros, e foi o maitre que pôs
Senti horror ao ser comido com desejo por um senhor alinhado
Meu último pedaço, antes de ser engolido ainda pensou grilado:
Quem será este desgraçado dono desta zorra toda?
Já tá tudo armado, o jogo dos caçadores canibais
Mas o negócio aqui tá muito bandeira
Dá bandeira demais meu Deus
Cuidado brother, cuidado sábio senhor
É um conselho sério pra vocês
Eu morri e nem sei mesmo qual foi aquele mês
Ah! Metrô linha 743

 

 
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  • 4 weeks later...
  • Members

Morreu hoje o poeta chileno Gonzalo Rojas.  04 

 

EL PRINCIPIO Y EL FIN

(Gonzalo Rojas)

 

Cuando abro en los objetos la puerta de mí mismo:

¿quién me roba la sangre, lo mío, lo real?

¿Quién me arroja al vacío

cuando respiro? ¿Quién

es mi verdugo adentro de mí mismo?



Oh Tiempo. Rostro múltiple.

Rostro multiplicado por ti mismo.

Sal desde los orígenes de la música. Sal

desde mi llanto. Arráncate la máscara riente.

Espérame a besarte, convulsiva belleza.

Espérame en la puerta del mar. Espérame

en el objeto que amo eternamente.

laure2011-04-25 11:46:57
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Li essa hoje, achei legal:

Saudade




Saudade é solidão acompanhada,

é quando o amor ainda não foi embora,

mas o amado já...



Saudade é amar um passado que ainda não passou,

é recusar um presente que nos machuca,

é não ver o futuro que nos convida...



Saudade é sentir que existe o que não existe mais...



Saudade é o inferno dos que perderam,

é a dor dos que ficaram para trás,

é o gosto de morte na boca dos que continuam...



Só uma pessoa no mundo deseja sentir saudade:

aquela que nunca amou.



E esse é o maior dos sofrimentos:

não ter por quem sentir saudades,

passar pela vida e não viver.



O maior dos sofrimentos é nunca ter sofrido.

Pablo Neruda




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  • 2 months later...
  • Members

Lindissima101010

 

Ausência

Eu deixarei que morra em mim
o desejo de amar os teus olhos que são doces
Porque nada te poderei dar
senão a mágoa de me veres eternamente exausto
No entanto a tua presença
é qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto
existe o teu gesto e em minha voz a tua voz
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado
Quero só que surjas em mim
como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar
uma gota de orvalho
nesta terra amaldiçoada
Que ficou sobre a minha carne
como nódoa do passado
Eu deixarei...
tu irás e encostarás a tua face em outra face
Teus dedos enlaçarão outros dedos
e tu desabrocharás para a madrugada.
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu,
porque eu fui o grande íntimo da noite.
Porque eu encostei minha face na face da noite
e ouvi a tua fala amorosa.
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa
suspensos no espaço.
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só
como os veleiros nos pontos silenciosos.
Mas eu te possuirei como ninguém
porque poderei partir.
E todas as lamentações do mar,
do vento, do céu, das aves, das estrelas
Serão a tua voz presente,
a tua voz ausente,
a tua voz serenizada.

                                                                                                                                                        Vinícius de Moraes
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  • 1 month later...
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Gregório de Matos

 

 

Descrição da Cidade de Sergipe

D'el-Rei


 

Três dúzias de casebres remendados,

 

Seis becos, de mentrastos entupidos,

 

Quinze soldados, rotos e despidos,

 

Doze porcos na praça bem criados.

 

 

 

Dois conventos, seis frades, três letrados,

 

Um juiz, com bigodes, sem ouvidos,

 

Três presos de piolhos carcomidos,

 

Por comer dois meirinhos esfaimados.

 

 

 

As damas com sapatos de baeta,

 

Palmilha de tamanca como frade,

 

Saia de chita, cinta de raqueta.

 

 

 

O feijão, que só faz ventosidade

 

Farinha de pipoca, pão que greta,

 

De Sergipe d'El-Rei esta é a cidade.

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  • 6 months later...
  • Members

Esse é provável a  coisa  mais linda que li esse ano clap :

 

 

"VIGÍLIA"

 

Adormeceu em meus braços o meu amado

Seus cabelos e sua boca exaustos de tantos beijos

Adormeceu, plácido, feito um anjo

Em meu abraço

 

E eu não pude dormir, pois a luz do seu rosto

 

Tornava a noite tão resplandecente quanto o dia

Eu o contemplava embevecida, em verdadeira adoração

E meu espírito sorria

 

Não pude dormir, pois tive medo

 

Que ao acordar, meu amado houvesse ido

E permaneci em vigília, noite adentro

Sentinela dos seus sonhos tranquilos

 

Que ele estivesse sonhando comigo, desejei

 

Que eu habitasse seus devaneios

Como ele habita meus pensamentos

Noite e dia

 

Doce insônia que me acometeu

 

Morfeus, comovido de tanta ternura

Se esqueceu de mim

E foi suave a minha vigília

 

Então irrompeu a alvorada

 

E suas tintas douradas e rubras

Tornaram ainda mais belo

O meu amado

 

Meio dormindo, meio acordado; mas todo belo

 

Ele me enlaçou em seus braços fortes

E, mesmo que eu temesse não mais encontrá-lo

Quando eu acordasse

 

Renunciei à minha vigília

 

E adormeci, plácida

Feito um anjo, talvez ele diria

Em seu abraço

 

 

Emília Schemering

 

 

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  • 1 month later...
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Não sei se já postaram, mas uma das minhas prediletas:

 

Madrigal melancólico

(Manuel Bandeira)

 

O que eu adoro em ti,

 

Não é a tua beleza.

 

A beleza, é em nós que ela existe.

A beleza é um conceito.

 

E a beleza é triste.

 

Não é triste em si,

 

Mas pelo que há nela de fragilidade e de incerteza.

O que eu adoro em ti,

 

Não é a tua inteligência.

 

Não é o teu espírito sutil,

 

Tão ágil, tão luminoso,

 

- Ave solta no céu matinal da montanha.

 

Nem a tua ciência

 

Do coração dos homens e das coisas.

O que eu adoro em ti,

 

Não é a tua graça musical,

 

Sucessiva e renovada a cada momento,

 

Graça aérea como o teu próprio pensamento,

 

Graça que perturba e que satisfaz.

O que eu adoro em ti,

 

Não é a mãe que já perdi.

 

Não é a irmã que já perdi.

 

E meu pai.

O que eu adoro em tua natureza,

 

Não é o profundo instinto maternal

 

Em teu flanco aberto como uma ferida.

 

Nem a tua pureza. Nem a tua impureza.

 

O que eu adoro em ti - lastima-me e consola-me!

 

O que eu adoro em ti, é a vida.

 

 

 

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Tk u, Tica, por reavivarar o tópico !01

 

Linda! Essa ainda não tinha lido!

 

 

São duas terras unidas,

 

São duas flores nascidas

 

Talvez no mesmo arrebol.

 

Vivendo no mesmo galho,

 

Da mesma gota de orvalho,

 

Do mesmo raio de sol.

Autor desconhecido

 

 

 

 

 

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Jujuba, não dava pra deixar um tópico lindo desse mofando!!

 

E como uma boa parnasianista:

 

Dualismo (Olavo Bilac)

Não és bom, nem és mau: és triste e humano...
Vives ansiando, em maldições e preces,
Como se, a arder, no coração tivesses
O tumulto e o clamor de um largo oceano.

Pobre, no bem como no mal, padeces;
E, rolando num vórtice vesano,
Oscilas entre a crença e o desengano,
Entre esperanças e desinteresses.

Capaz de horrores e de ações sublimes,
Não ficas das virtudes satisfeito,
Nem te arrependes, infeliz, dos crimes:

E, no perpétuo ideal que te devora,
Residem juntamente no teu peito
Um demônio que ruge e um deus que chora.



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Muito bonita essa Madrigal Melancolico, Tica!

 

 

Uma que achei bonitinha é essa:

 

Tu és

 

Tu és

pura como a água cristalina,

 

Suave

como a brisa do mar,

Brilhante

como a estrela matutina,

Bela como

a noite de luar...

 

Tu és

doce como o mel,

 

Forte

como a leoa,

Infinita

como o céu,

Livre

como o pássaro que voa...

 

Tu és

preciosa como uma jóia rara,

 

Encantada

como um oásis no deserto,

Maravilhosa como a rua clara,

Penetrante como um olhar tão perto...

 

Tu és

sincera como a palavra verdadeira,

 

Gostosa

como a doce loucura,

Eficaz

como uma flecha certeira,

Cativante

como uma paixão sem cura...

 

Tu és

ingênua como a flor,

 

Delicada

como a nobreza,

Eterna

como o verdadeiro amor,

Perfeita

como à própria natureza.

 

 

 

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Cara, muito linda!

Quem é o autor, sabe? Ele respeitou bastante a sequência de rima intercalada ( AB-AB- C...) :P

 

 

Essa acredito que não seja das mais conhecidas desse autor, mas acho muito profunda:

 

Soneto a Quatro Mãos

(Paulo Mendes Campos
e Vinícius de Moraes)


Tudo de amor que existe em mim foi dado.

Tudo que fala em mim de amor foi dito.

Do nada em mim o amor fez o infinito

Que por muito tornou-me escravizado.



Tão pródigo de amor fiquei coitado

Tão fácil para amar fiquei proscrito.

Cada voto que fiz ergueu-se em grito

Contra o meu próprio dar demasiado.



Tenho dado de amor mais que coubesse

Nesse meu pobre coração humano

Desse eterno amor meu antes não desse.



Pois se por tanto dar me fiz engano

Melhor fora que desse e recebesse

Para viver da vida o amor sem dano.


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Com licença, gente, mas aí vai mais uma do Antonio Brasileiro. Grande poeta, dá vontade de ficar aqui postando suas obras sem parar. Mas, se vcs gostarem, irei postando aos poucos.

 

 

 

ESTUDO 179

 

 

 

"Quero fazer um poema reto.

 

Sem emoções – que essas nos embaraçam.

 

Sem sutilezas semânticas ou glaxúrdias

 

gramáticas.

 

                    Quero fazer

 

um poema simples, sem sentido.

 

(Que o essencial não tem sentido.)

 

Quero escrever como se uma árvore

 

soubesse olhar as nuvens: um poema

 

que só por existir se explique e me explique."

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  • Members

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

<>

 

 

 

 

 

 

 

BEETHOVEN

 

 

Meu caro Luís, que vens fazer nesta hora

 

de antimúsica pelo mundo afora?

 

 

 

Patética, heróica, pastoral ou trágica,

 

tua voz é sempre um grito modulado,

 

um caminho lunar conduzindo à alegria.

 

Ao não-rumor tiraste a percepção mais íntima

 

do coração da Terra, que era o teu.

 

Urso-maior uivando a solidão

 

aberta em cântico: entre mulheres

 

passando sem amor. Meu rude Luís,

 

tua imagem assusta na parede,

 

em medalhão soturno sobre o piano.

 

Que tempestade passou em ti e continua

 

a devastar-te no limite

 

em que a própria morte exausta se socorre

 

da vida, e reinstala

 

o homem na fatalidade de ser homem?

 

 

 

Nós, os surdos, não captamos

 

o amor doado em sinfonia, a paz

 

em allegro enérgico sobre o caos,

 

que nos ofertas do fundo

 

de teu mundo clausurado.

 

Nós, computadores, não programamos

 

a exaltação romântica filtrada

 

em sonatino adágio murmurante.

 

 

 

Nós, guerreiros nucleares, não isolamos

 

o núcleo da paixão de onde se espraia

 

pela praia infinita essa abstrata

 

superação do tempo e do destino

 

que é razão de viver, razão florente

 

e grave.

 

 

 

Tanto mais liberto quanto mais

 

em tua concha não acústica cerrado,

 

livre da corte, da contingência, do barroco,

 

erguendo o sentimento à culminância

 

da divina explosão, que purifica

 

o resíduo mortal, angústia mísera,

 

que vens fazer, do longe de dois séculos,

 

escuro Luís, Luís luminoso

 

em nosso tempo de compromisso e omisso?

 

 

 

Do fogo em que te queimaste,

 

uma faísca resta para incendiar

 

corações maconhados, sonolentos,

 

servos da alienação e da aparência?

 

 

 

Quem comporá a Apassionata de nosso tempo,

 

que removerá as cinzas, despertará a brasa,

 

quem reinventará o amor, as penas de amor,

 

quem sacudirá os homens do seu torpor?

 

 

 

Boto no pickup o teu mar de música,

 

nele me afogo acima das estrelas.

 

 

 

 

 

 

 

Carlos Drummond de Andrade

 

 

 

 

 

 

 

 

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  • Members

 

NUANÇA

 

 

 

"Meus caminhos' date=' meus mapas,

 

meus caminhos.

 

 

 

Tudo está em ordem

 

em minha vida.

 

 

 

Como se faltasse

 

alguma coisa."

 

 

 

Antonio Brasileiro

 

 

 

para Tica[/quote']

 

Há! LOTHAR, adorei conhecer este autor!

Bom que vai ficar postando as obras dele aqui!

 

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O Gregório de Matos não poderia ter outro apelido que não fosse "boca do inferno". Adoro o modo como ele critica, o incrível é que sua obra se encaixa perfeitamente na nossa sociedade contemporânea (o que mostra que não evoluímos tanto assim!).

 

 

Do Século XVII para o XXI:

 

 

 

Epigrama

Gregório de Mattos e Guerra

 

I

Juízo anatômico dos achaques que

padecia o corpo da República em todos os membros, e inteira definição do que em todos

os tempos é a Bahia.

Que falta nesta cidade?... Verdade.

 

Que mais por sua desonra?... Honra.

 

Falta mais que se lhe ponha?... Vergonha.

 

 

 

O demo a viver se exponha,

 

Por mais que a fama a exalta,

 

Numa cidade onde falta

 

Verdade, honra, vergonha.

 

 

 

Quem a pôs neste rocrócio?... Negócio.

 

Quem causa tal perdição?... Ambição.

 

E no meio desta loucura?... Usura.

 

 

 

Notável desaventura

 

De um povo néscio e sandeu,

 

Que não sabe que perdeu

 

Negócio, ambição, usura.

 

 

 

Quais são seus doces objetos?... Pretos.

 

Tem outros bens mais maciços?... Mestiços.

 

Quais destes lhe são mais gratos?... Mulatos.

 

 

 

Dou ao Demo os insensatos,

 

Dou ao Demo o povo asnal,

 

Que estima por cabedal,

 

Pretos, mestiços, mulatos.

 

 

 

Quem faz os círios mesquinhos?... Meirinhos.

 

Quem faz as farinhas tardas?... Guardas.

 

Quem as tem nos aposentos?... Sargentos.

 

 

 

Os círios lá vem aos centos,

 

E a terra fica esfaimando,

 

Porque os vão atravessando

 

Meirinhos, guardas, sargentos.

 

 

 

E que justiça a resguarda?... Bastarda.

 

É grátis distribuída?... Vendida.

 

Que tem, que a todos assusta?... Injusta.

 

 

 

Valha-nos Deus, o que custa

 

O que El-Rei nos dá de graça.

 

Que anda a Justiça na praça

 

Bastarda, vendida, injusta.

 

 

 

Que vai pela clerezia?... Simonia.

 

E pelos membros da Igreja?... Inveja.

 

Cuidei que mais se lhe punha?... Unha

 

 

 

Sazonada caramunha,

 

Enfim, que na Santa Sé

 

O que mais se pratica é

 

Simonia, inveja e unha.

 

 

 

E nos frades há manqueiras?... Freiras.

 

Em que ocupam os serões?... Sermões.

 

Não se ocupam em disputas?... Putas.

 

 

 

Com palavras dissolutas

 

Me concluo na verdade,

 

Que as lidas todas de um frade

 

São freiras, sermões e putas.

 

 

 

O açúcar já acabou?... Baixou.

 

E o dinheiro se extinguiu?... Subiu.

 

Logo já convalesceu?... Morreu.

 

 

 

À Bahia aconteceu

 

O que a um doente acontece:

 

Cai na cama, e o mal cresce,

 

Baixou, subiu, morreu.

 

 

 

A Câmara não acode?... Não pode.

 

Pois não tem todo o poder?... Não quer.

 

É que o Governo a convence?... Não vence.

 

 

 

Quem haverá que tal pense,

 

Que uma câmara tão nobre,

 

Por ver-se mísera e pobre,

 

Não pode, não quer, não vence.

 

Obs.: Achei esse vídeo que é uma adaptação cantada pelo Rappin Hood ( a pessoa filmou a apresentação lá no Museu da língua Portuguesa ):

Tica2012-05-24 22:08:19

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Tu eras

também uma pequena folha

 

(Pablo Neruda)

 

 

 

Tu eras também uma pequena folha

 

que tremia no meu peito.

 

O vento da vida pôs-te ali.

 

A princípio não te vi: não soube

 

que ias comigo,

 

até que as tuas raízes

 

atravessaram o meu peito,

 

se uniram aos fios do meu sangue,

 

falaram pela minha boca,

 

floresceram comigo.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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