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Forum Cinema em Cena

Poesias


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Gostaria que você adivinhasse pensamentos,
para que eu não precisasse escrever...
para que eu não precisasse dizer...
que penso muito em você...

Gostaria de compartilhar mais momentos,
para ter coragem de dizer...
que gosto muito de você...

Meus pensamentos...
em muitos momentos...
estão com você.

                                                      080808
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Lábios que não beijei
Agora lhes beijo,
e agradeço a sobrevivência do sonho,
a sobrevivência dos sons, dos ruídos.
A hipótese de ser libidinoso e bom.
Risos mordidos, escrachados...
O escândalo na rua, na calçada,
atrás do poste, do muro pichado nas bocas, 
com bocas coladas.
Lábios que não beijei
Agora lhes beijo, e agradeço o guia, mil vezes, 
refeito pelas mãos velozes.
Dedos doidos, inquietos, exploradores;
A permanente expedição pela carne.
A idéia de ferro e fogo
em nossos tecidos desalinhados.
A linha rompida, rasgada...
A invasão do privado.
Os músculos impacientes,
a eminente explosão dos botões
e a incontinência dos zíperes,
na busca do mais fundo...
E vem à tona bocas
de pernas para o ar em levitação.
Lábios que não beijei
Agora lhes beijo, e agradeço o aroma de 
maçã, cereja,
outra fruta...
Gosto de amor condensado, intenso.
A cisma de apalpar uma escultura,
bolinar...
Sugar língua clandestina
E, por fim, desvendar uma identidade pelo tato.
Lábios que não beijei
Agora lhes beijo, e agradeço a graça e a 
ilusão de bocas
que se bifurcam como nos jardins de Alá,
e do além.
A falta da úmida saliva,
bactérias,
o atordoado gesto sumário,
a extensão do que não houve...
O estado grave, o coma e a cama que não 
chegamos.
Lábios que não beijei
Beijo-lhes agora, de joelhos,
e agradeço a distância sensata que nos 
manteve.
O que fomos depois
E nossos lábios desunidos jamais souberam
O que somos, e a certeza de quilômetros 
rodados em outras bocas.
O beijo partido...
O que me coube nos lábios,
a cama que poderia ter sido,
poderia ter dado,
poderia ser, mais não foi.
E não houve...
E nem foi ouvido...

                                                

                                                     080808
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Não é uma poesia propriamente dita, mas muito interessante para uma reflexão:

 

Para ver a si mesmo

Para que o homem possa ver a si mesmo,

basta dar uma olhada nos outros. A começar pela prole: a Natureza, ao

fazer os filhos se parecerem com os pais, permite que uma geração se

veja refletida na outra: os pais podem ver na criança aquilo que já não

são, enquanto os filhos podem antecipar, mais ou menos, aquilo que

poderão vir a ser. A mãe que observa a filha brincando com a boneca

pode ter uma boa idéia - às vezes, até surpreendente - do seu próprio

comportamento. O princípio é universal: olha bem como o outro é, e vais

te reconhecer. Os espartanos, que sabiam disso, costumavam embriagar

deliberadamente alguns escravos, a fim de que os jovens constatassem o

efeito degradante da bebida sem precisar experimentá-la.

 

Na

Antiguidade, quando surgiu o espelho, essa auto-observação ficou muito

fácil e mais direta, passando a ser recomendada como uma forma

eficiente de conscientização. Em Atenas, Sócrates propunha que o bêbado

fosse obrigado a se olhar no espelho, para ver o quanto o vinho havia

desfigurado sua fisionomia; da mesma forma, Sêneca, em Roma, punha um

espelho na mão do colérico, a fim de que ele percebesse como suas

feições estavam alteradas e deformadas por seu nefasto sentimento. Não

é por acaso que esses dois autores só falassem do rosto, pois os

espelhos, feitos de metal polido, ainda eram tão pequenos que neles era

só isso o que se podia ver. O homem gastou vários séculos para poder

contemplar por inteiro a sua imagem refletida, e um outro tanto para se

acostumar a ela. No séc. 18, quando a indústria do vidro já permitia a

fabricação de espelhos de grande tamanho, não passou despercebido a um

libertino experimentado como Casanova o fascínio excitante que

representava, para as moças simples de aldeia, contemplar, pela

primeira vez, a imagem inteira do próprio corpo desnudo. Em pouco

tempo, porém, olhar-se no espelho deixou de ser uma novidade, e o homem

se tornou, para o bem e para o mal, um eterno espectador de si mesmo.

 

 

Já na Grécia antiga, no entanto, Platão alertava para o quão imperfeita

e incompleta é a imagem vista no espelho, pois ele pode devolver o

reflexo das formas e das cores, mas não das palavras e do pensamento.

Para o filósofo, nosso verdadeiro e valioso espelho é a pessoa a quem

amamos, porque em seus olhos - e, por conseqüência, em sua alma - eu

posso entrever uma imagem preciosa de mim mesmo que só ali pode ser

encontrada. O que a Física explica, na Óptica, vale também para o amor:

a figura de quem olha aparece refletida na pupila de quem é olhado; por

isso, quando um olho olha no olho do outro, ele reconhece a si mesmo. E

para não deixar dúvida de que é assim mesmo que acontece, a vida segue

mostrando que é daí que provém o sofrimento maior de qualquer amor

desfeito: dói muito perder o outro, mas ainda dói muito mais perder

aquilo que só o olhar dele fazia existir em mim.

                                                                                          Claudio Moreno

 

 

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Distâncias

 

 

 

Dos meus aos teus braços

 

o caminho é bem curto.

 

Nossas bocas fazem o encontro

 

do desejo incontido e longo.

 

Depois, tudo é posse louca.

 

Músculos, carinho, seiva.

 

Paixão da carne que transvasa

 

nas vontades de todos os tempos.

 

Terminou. Músculos lassos. Vontades esgotadas.

 

É longo agora o caminho dos meus

 

para os teus braços

 

 

 

 

 

Conceição da Costa Neves

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Debruçada na sacada

O vento esfria minha face afogueada

Corada pela ansiedade de estar contigo

É madrugada

 

Fujo

Escondo-me de todos

Noite bela

Céu límpido

Estrelas brilhantes

E a Lua...

Ah...a lua ...linda, clara, luz leitosa.

Ilumina os amantes

A brisa fria envolve

E arrepia meu corpo

Lembrando a minha mente

Que estas aqui

 

Na carícia do vento

Sinto teu toque em meus cabelos

E de olhos fechados

Percebo teus dedos tocarem meu rosto

Perco-me em devaneios loucos

Em desejos tantos

A fuga de suspiros poucos

E estamos juntos

Em sentimentos mútuos

Em amor profundo

Em sentido puro

... e felizes seguimos juntos.

Amando mais a cada minuto

 

E na beleza da madrugada

A lua ainda clara

Ilumina nosso amor e fortalece o momento

Deixando escorrer o instante, que marca profundo.

Dentro do meu eu

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Tenho você comigo

Tendo você comigo tenho vida

Tendo vida sinto

Sentindo me aproximo

Me aproximando amo

Amando te quero

Te querendo sonho

Sonhando te vejo

Te vendo me apaixono

Me apaixonando sou tua

Sendo tua me tens

Tendo-me amas

Amando me buscas

Me buscando me encontras

Nos encontramos então

E vivemos este amor

Com sabor de fruta doce

Sabor romântico da vida que cresce

Do novo que nasce

Do calor que desperta

Neste sentimento puro e belo , que é só nosso

E de tão nosso que é

Invade nosso ser e arrebata nossas vidas

Para vivermos

Este intenso amor.

Srta Moore2007-07-05 01:37:49
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  • Members

Como posso eu saber o que sinto

Se simplesmente de mim,

O que tenho é você?

Não sei de nada

Apenas sinto

Pois é no toque da tua pele

E no pulsar do teu sangue que o meu coração arde.

Como sentir sem saber de onde vem,

Mas exatamente onde vai me levar?

Tudo que sei é que te quero.

Tudo que sei é que sem você

Eu não encontro a mim mesma

Tudo que sinto é meu corpo inflamar

Quando escuto tua voz

Tudo que sinto é meu coração pular

Quando penso em você

E o que mais sei é que sinto...

Um amor muito louco...

Por você!!!!

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Sempre a Razão vencida foi de Amor

 

Sempre a Razão vencida foi de Amor;

Mas, porque assim o pedia o coração,

Quis Amor ser vencido da Razão.

Ora que caso pode haver maior!

 

Novo modo de morte e nova dor!

Estranheza de grande admiração,

Que perde suas forças a afeição,

Por que não perca a pena o seu rigor.

 

Pois nunca houve fraqueza no querer,

Mas antes muito mais se esforça assim

Um contrário com outro por vencer.

 

Mas a Razão, que a luta vence, enfim,

Não creio que é Razão; mas há-de ser

Inclinação que eu tenho contra mim.

 

                   Luís de Camões Srta Moore2007-07-06 03:22:24

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Quem diz que Amor é falso ou enganoso

 

Quem diz que Amor é falso ou enganoso,

Ligeiro, ingrato, vão desconhecido,

Sem falta lhe terá bem merecido

Que lhe seja cruel ou rigoroso.

 

Amor é brando, é doce, e é piedoso.

Quem o contrário diz não seja crido;

Seja por cego e apaixonado tido,

E aos homens, e inda aos Deuses, odioso.

 

Se males faz Amor em mim se vêem;

Em mim mostrando todo o seu rigor,

Ao mundo quis mostrar quanto podia.

 

Mas todas suas iras são de Amor;

Todos os seus males são um bem,

Que eu por todo outro bem não trocaria.

 

                   Luís de Camões

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A Um Ausente

 

 

 

 

 

Tenho razão de sentir saudade,

 

tenho razão de te acusar.

 

Houve um pacto implícito que rompeste

 

e sem te despedires foste embora.

 

Detonaste o pacto.

 

Detonaste a vida geral, a comum aquiescência

 

de viver e explorar os rumos de obscuridade

 

sem prazo sem consulta sem provocação

 

até o limite das folhas caídas na hora de cair.

 

 

 

Antecipaste a hora.

 

Teu ponteiro enloqueceu, enloquecendo nossas horas.

 

Que poderias ter feito de mais grave

 

do que o ato sem continuação, o ato em si,

 

o ato que não ousamos nem sabemos ousar

 

porque depois dele não há nada?

 

 

 

Tenho razão para sentir saudade de ti,

 

de nossa convivência em falas camaradas,

 

simples apertar de mãos, nem isso, voz

 

modulando sílabas conhecidas e banais

 

que eram sempre certeza e segurança.

 

 

 

Sim, tenho saudades.

 

Sim, acuso-te porque fizeste

 

o não previsto nas leis da amizade e da natureza

 

nem nos deixaste sequer o direito de indagar

 

porque o fizeste, porque te foste.

 

 

 

 

 

Carlos Drummond de Andrade

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Srta Moore' date=' você pensa noutra coisa sem ser Amor? [/quote']

SE O TÓPICO É SOBRE AMOR' date=' VC QUER QUE EU FALE DE QUE ???? DE CULINÁRIA??????17
[/quote']

 

1: Uh... Foices, terra, números, anjos, núvens, eletricidade, madeira, computador, som, verde, estojo, intestino, dedos, bicicletas, sapatos, cachorros, tratores, professores, Holanda, terrorismo... e é claro, vômito.

 

2: É.

 

 

Nem sei quando poesia virou sinônimo de amor...

Master Miller2007-07-07 12:19:03

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  • Members
Srta Moore' date=' você pensa noutra coisa sem ser Amor? [/quote']

SE O TÓPICO É SOBRE AMOR' date=' VC QUER QUE EU FALE DE QUE ???? DE CULINÁRIA??????17
[/quote']

1: Uh... Foices, terra, números, anjos, núvens, eletricidade, madeira, computador, som, verde, estojo, intestino, dedos, bicicletas, sapatos, cachorros, tratores, professores, Holanda, terrorismo... e é claro, vômito.

2: É.


Nem sei quando poesia virou sinônimo de amor...

 

 

O fulano, se eu posto uma poesia sobre o amor, é pq tem a ver sim.

Agora, faça o que tiver que fazer aqui sem ser desagradável com ninguém.
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  • Members
  • 3 weeks later...
  • Members

 
Último Pouso

A morte a china ma leva

 

Traçoeira que até dá pena

 

Vive a pealar gente buena

 

Sem se importar com o gaudério

 

Não sei que estranho mistério

 

Na minha emoção se espelha

 

Quando minha alma se ajoelha

 

Ante a Cruz de um cemitério

 

 

Fico por horas bombeando

 

Fingindo frases ficticias

 

Que ali ficam com as noticias

 

Penduradas sobre a losa

 

Dizendo ó tu boa esposa

 

Dorme em paz aos pés de Deus

 

Que dirão então os meus

 

De mim que sou qualquer coisa

 

 

Basta morrer pra ser bueno

 

Basta sofrer pra ser junto

 

Quem nasce ou morre de susto

 

Nem frases fingidas tem

 

E dizer que no além

 

As almas são tão iguais

 

Pra que estes luxos demais

 

Depois que somos ninguém

 

 

Mais feliz é a cruz solita

 

longe no ermo da estrada

 

Sem fita sem flor sem nada

 

Marcando o fim de uma vida

 

Fica dormindo aquecida

 

No sol que logo a desbota

 

Sem frase fria ou lorota

 

Nesta sesteada comprida

 

 

Gosto da cruz do proscrito

 

Na solidão da campanha

 

Tendo a garrafa de canha

 

Por promessa recebida

 

Me dêem esta cruz perdida

 

Pra que o gaúcho passando

 

Viva sempre me acenando

 

Numa eterna despedida

 

 

Tomara que Santo Onofre

 

Seja no céu meu parceiro

 

Garanto que o dia inteiro

 

Vamos beber canha e vinho

 

E assim farei meu cantinho

 

Na invernada do Senhor

 

Serei mais um pecador

 

Tendo um santo por padrinho

 

 

Sei que vão falar de mim

 

Por mulherengo ou andejo

 

Mas fica aqui meu desejo

 

Expresso nesta oração

 

Não falem de um coração

 

Que no céu não terá luz

 

E amarrem bem minha cruz

 

Com as cordas do meu violão.

 

                                                       
Luís Menezes

 

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Cântico II

Cecília Meirelles

Não sejas o de hoje.
Não suspires por ontens...
não queiras ser o de amanhã.
Faze-te sem limites no tempo.
Vê a tua vida em todas as origens.
Em todas as existências.
Em todas as mortes.
E sabes que serás assim para sempre.
Não queiras marcar a tua passagem.
Ela prossegue: É a passagem que se continua.
É a tua eternidade.
És tu.

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O filho do homem

 

 

 

O mundo parou

 

A estrela morreu

 

No fundo da treva

 

O infante nasceu.

 

 

 

Nasceu num estábulo

 

Pequeno e singelo

 

Com boi e charrua

 

Com foice e martelo

 

Ao lado do infante

 

O homem e a mulher

 

Uma tal Maria

 

Um José qualquer.

 

 

 

A noite o fez negro

 

Fogo o avermelhou

 

A aurora nascente

 

Todo o amarelou.

 

 

 

O dia o fez branco

 

Branco como a luz

 

À falta de um nome

 

Chamou-se Jesus.

 

 

 

Jesus pequenino

 

Filho natural

 

Ergue-te, menino

 

É triste o Natal.

 

 

 

Vinicius de Morais

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Soneto de Amor

 

 

 

Talvez não ser é ser sem que tu sejas,

 

sem que vás cortando o meio-dia

 

como uma flor azul, sem que caminhes

 

mais tarde pela névoa e os ladrilhos,

 

 

 

sem essa luz que levas na mão

 

que talvez outros não verão dourada,

 

que talvez ninguém soube que crescia

 

como a origem rubra da rosa,

 

 

 

sem que sejas, enfim, sem que viesses

 

brusca, incitante, conhecer minha vida,

 

aragem de roseira, trigo do vento,

 

 

 

e desde então sou porque tu é,

 

e desde então é, sou e somos

 

e por amor serei, serás, seremos.

 

 

 

Pablo Neruda

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CIGANA ERRANTE

 

 

 

Cigana errante,

 

já amou bastante

 

nesta tua vida nômade...

 

Procure um porto seguro,

 

quem sabe, um amor puro,

 

alguém que ainda não

 

vistes em teu baralho,

 

nem tua bola de cristal detectou,

 

mas que em tua vida já entrou...

 

Procure esse teu cigano,

 

e não caia em outro engano...

 

Tua liberdade,

 

é tua felicidade,

 

e dela tens necessidade,

 

como do ar que respiras...

 

Teu cigano também é livre

 

e apenas quer amar,

 

e do amor jamais se fartar...

 

Encontre-o...

 

Ame-o...

 

Caminhe com ele pela vida,

 

sem pensar que ela está perdida...

 

A vida apenas está começando,

 

quando se está amando...

 

Teu cigano está te procurando...

 

Por aqui e por ali caminhando...

 

Ouça teu coração,

 

vai bater mais forte na emoção

 

do encontro mágico...

 

Mas será trágico,

 

se não souber encontrá-lo,

 

pois não poderá amá-lo...

 

Que te diz teu baralho, cigana?

 

Ele nunca se engana,

 

pois, "as cartas não mentem jamais..."

 

 

 

 

 

Marcial Salaverry

 

 

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Não é uma poesia, mas é um bom texto para refletirmos sobre o assunto:

 

O ocasional e o essencial

Os dias que

correm, hoje, indicam que nossa vida amorosa irá se intensificar ainda

mais. Mas este barulho todo não oculta nosso questionamento mais

secreto: haverá alguém que, entre todos, poderia ter justificado nossa

existência de forma mais intensa?

 

Uma das razões que

torna o escritor Ian McEwan um dos grandes nomes da literatura

contemporânea é que ele escreve tão bem que consegue nos capturar para

dentro de seus livros. Você não lê: você vive aquilo que está escrito.

No seu mais recente lançamento, Na Praia, os personagens Edward e

Florence, recém casados, travam uma conversa que definirá o futuro de

cada um. É um diálogo difícil, delicado, forte, emocionante,

verdadeiro, triste e nenhum destes adjetivos vêm em nosso socorro para

ajudar a compreender a cena, não é preciso: a gente está ali com eles,

ouvindo tudo, sofrendo junto. Enquanto eles conversavam, escutei não

apenas suas vozes, mas o barulho das ondas, a interferência da brisa e

a lenta batida do coração de cada um. Quase paramos todos de respirar -

o casal e eu.

 

A questão dolorosa do livro é uma pergunta para a

qual dificilmente encontramos resposta: a pessoa que você amou e perdeu

no passado era essencial na sua vida?

 

Uns tiveram muitos amores

entre os 16 e os 80 anos, outros tiveram poucos, mas todos nós

possuímos um passado, não há quem tenha vivido com o coração

desocupado. Os dias que correm, hoje, indicam que nossa vida amorosa

irá se intensificar ainda mais, uma vez que as possibilidades de

encontro se multiplicam (a Internet fazendo sua parte), os preconceitos

diminuem (aumentando a oferta de "composições") e a necessidade de

desejar e ser desejado tem se imposto à necessidade de casar e ter

filhos. Na prática, estas mudanças já vêm acontecendo. Há diversas

formas de se relacionar, e se o número de adeptos de formas menos

tradicionais ainda não é volumoso, o respeito por todas elas está, ao

menos, quase sedimentado.

 

Este entre-e-sai de homens e mulheres

na vida uns dos outros dinamiza as relações, incrementa biografias, dá

uma sensação de estarmos aproveitando bem o nosso tempo. E o amor não

está excluído da festa, pode marcar presença forte em quaisquer dos

novos padrões de comportamento. Mas este barulho todo não oculta nosso

questionamento mais secreto: haverá alguém que, entre todos os que

cruzaram nosso caminho, poderia ter nos transformado, nos acrescido,

nos desviado desta eterna experimentação e justificado nossa existência

de uma forma mais intensa? Terá esta pessoa cruzado por nós e a

perdemos por causa de uma frase mal colocada, por uma palavra dita com

agressividade, por uma precipitação, por um medo ou um equívoco?

 

Não

é uma resposta que chegue cedo para todos. Sorte de quem já a tem. Em

Na Praia, Ian McEwan não oferece um final infeliz a seus personagens,

mas não os priva de uma dúvida comum a todos: que destino teríamos se

um amor vivido errado tivesse sido vivido certo. Como assumir este amor

sem sofrer as influências da época, da sociedade e da nossa própria

imaturidade. Como valorizar o que se tem no momento em que se tem, e

não depois. Como livrar-se do fantasma do "se eu tivesse dito, se eu

tivesse feito, se eu...".

 

O maravilhoso mundo das relações

amorosas progride, se reinventa, se liberta das convenções, se

movimenta para um lado e para o outro, mas seguimos mantendo a íntima

esperança de que, entre todos os "muitos" que nos fizeram felizes,

possamos reconhecer aquele "um" que calaria todas as nossas perguntas.

 

                                                                                       Martha Medeiros

 

 

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Sentimento do mundo

 

 

 

 

 

Tenho apenas duas mãos

 

e o sentimento do mundo,

 

mas estou cheio de escravos,

 

minhas lembranças escorrem

 

e o corpo transige

 

na confluência do amor.

 

 

 

Quando me levantar, o céu

 

estará morto e saqueado,

 

eu mesmo estarei morto,

 

morto meu desejo, morto

 

o pântano sem acordes.

 

 

 

Os camaradas não disseram

 

que havia uma guerra

 

e era necessário

 

trazer fogo e alimento.

 

Sinto-me disperso,

 

anterior a fronteiras,

 

humildemente vos peço

 

que me perdoeis.

 

 

 

Quando os corpos passarem,

 

eu ficarei sozinho

 

desfiando a recordação

 

do sineiro, da viúva e do microscopista

 

que habitavam a barraca

 

e não foram encontrados

 

ao amanhecer

 

 

 

esse amanhecer

 

mais noite que a noite.

 

 

 

Carlos Drummond de Andrade

 

 

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  • Members

Amor... Amizade...

Sentimentos que tem o poder de fazer com

que possamos sentir-nos

"juntos ainda que distantes..."

É muito mais interessante,

estar junto ainda que distante,
do que sofrer em conjunto,

estando distante ainda que junto...
Mais do que lamentar a ausencia,

é melhor "sentir" a presença...

Para sentir essa felicidade,

é preciso um tanto de sensibilidade...
É preciso saber "sentir" com a alma...
E "ver" ao lado, quem está longe...

 

 

 

 

Acabaram de me passar essa. Achei linda. 01
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