Members Administrator Posted August 2, 2007 Members Report Share Posted August 2, 2007 Infância Meu pai montava a cavalo, ia para o campo. Minha mãe ficava sentada cosendo. Meu irmão pequeno dormia. Eu sozinho menino entre mangueiras lia a história de Robinson Crusoé, comprida história que não acaba mais. No meio-dia branco de luz uma voz que aprendeu a ninar nos longes da senzala – e nunca se esqueceu chamava para o café. Café preto que nem a preta velha café gostoso café bom. Minha mãe ficava sentada cosendo olhando para mim: - Psiu... Não acorde o menino. Para o berço onde pousou um mosquito. E dava um suspiro... que fundo! Lá longe meu pai campeava no mato sem fim da fazenda. E eu não sabia que minha história era mais bonita que a de Robinson Crusoé. Carlos Drummond de Andrade Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members Administrator Posted August 2, 2007 Members Report Share Posted August 2, 2007 De Repente (Vinícius de Morais) De repente do riso fez-se o pranto Silencioso e branco como a bruma E das bocas unidas fez-se a espuma E das mãos espalmadas fez-se o espanto. De repente da calma fez-se o vento Que dos olhos desfez a última chama E da paixão fez-se o pressentimento E do momento imóvel fez-se o drama. De repente, não mais que de repente Fez-se de triste o que se fez amante E de sozinho o que se fez contente. Fez-se do amigo próximo o distante Fez-se da vida uma aventura errante De repente, não mais que de repente. Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members Moviolavídeo Posted August 14, 2007 Members Report Share Posted August 14, 2007 Mais uma história de amor... Ganhar e perderTerminada a guerra de Tróia, Ulisses levariamais dez anos para chegar a Ítaca, seu lar, onde Penélope ainda o aguardava. Nesse longo caminho de volta, tudo parecia conspirar contra o seu retorno. Obrigado a aportar em ilhas desconhecidas, Ulisses foi enfrentando um perigo após o outro. Tempestades terríveis, povos selvagens e seres monstruosos foram destruindo seus navios e dizimando seus companheiros, até que, no seu último naufrágio, foi lançado completamente sozinho numa costa desconhecida, junto à boca de um rio, quase morto de exaustão. Cauteloso, conseguiu arrastar-se para dentro de um arbusto, onde adormeceu instantaneamente. Ele não sabia, mas era uma precaução desnecessária, porque estava agora na terra dos Feácios, povo próspero e pacífico que ia acolhê-lo muito bem - talvez até bem demais. O perigo era Nausícaa, a graciosa filha do rei. Nos sonhos, uma deusa a avisou para estar preparada para casar quando aparecesse o homem certo. Assim, ao despertar, ela e suas aias colocaram os baús do enxoval num carro de bois e foram até o rio para arejar seu conteúdo. Enquanto as roupas secavam ao sol, elas se divertiam em jogar com uma leve bola de vime, e seus gritos de alegria fizeram Ulisses acordar. Ao vê-las tão inofensivas, cobriu sua nudez com um galho cheio de folhas e deixou o arbusto. Com os cabelos e a pele cobertos de sal, ele estava assustador, e todas correram apavoradas, menos Nausícaa, que manteve sua dignidade de princesa. Foi a ela que Ulisses se dirigiu, com palavras escolhidas que caíam suavemente como flocos de neve: comparou-a a uma jovem palmeira verdejante, de inacreditável beleza, que um dia contemplara com espanto junto ao templo de Apolo, e implorou por sua proteção. Impressionada, a jovem mandou que lhe dessem roupas secas e óleo para banhar-se; quando Ulisses voltou do rio, limpo, ela admirou a nobreza de seus traços e pressentiu que aquele era o homem a que o sonho se referia. Antes de chegarem ao palácio, ela já o estava amando. Os feácios exultaram ao saber que ali estava Ulisses, um dos heróis de Tróia; o rei Alcino, candidamente, ofereceu-lhe a mão de Nausícaa e, com ela, o futuro poder sobre toda aquela gente rica e feliz. A tentação dessa oferta fez Ulisses vacilar, mas, como todos sabemos, preferiu voltar para Penélope. Na hora de partir, numa despedida tocante, ela lançou-lhe um olhar apaixonado e pediu, bela como uma jovem deusa, que nunca mais a esquecesse. Ulisses, tomado de emoção, confessou que pensaria nela enquanto estivesse vivo. Disse, e virou-lhe as costas, para não ver mais aquele rosto suplicante, cheio de promessas. A tristeza que o invadia era velha conhecida, pois vinha da dor que sentimos pela perda irreparável que se esconde em cada escolha. Deixava Nausícaa, é verdade, mas em nome de um amor que o tinha mantido vivo ao longo de tantos anos. Agora, ia voltar para Ítaca e reencontrar sua mulher. Cláudio Moreno (Texto publicado no jornal Zero Hora, edição de 14.08.07) Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members jujuba Posted August 19, 2007 Members Report Share Posted August 19, 2007 Aff! Bravo, Mov mala Qui êtes-vous ? Vou lhe dizer o que farei e o que não farei. Não vou servir àquilo em que não acredito mais, seja meu lar, minha pátria ou minha religião; e tentarei exprimir-me num certo modo de vida ou de arte tão livre e tão plenamente quanto puder, usando em minha defesa as únicas armas que me permito usar: silêncio, exílio e sagacidade. James Joyce (Stephen Dedalus, em "Retrato do artista quando jovem") (não sei francês, mas deve ser algo como "Quem seria vc?") Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members Moviolavídeo Posted August 19, 2007 Members Report Share Posted August 19, 2007 Castigo Desencaixo-me displicente.Esvaziei-me, enfim.Teu corpoainda queima,tua mão ainda afaga.Jamaiso prazer fora tão perverso.Escondo meus lábiosatrás do batom.Teus olhos– canibais marinhos –começam a se desfazer.Não consigo te acompanhar.És tão tolo...Ainda me engasgocom um último orgasmo.Venci.Sou aquelaque pela primeira vezamas.Mas a noite se esvai.Sei que vais me tocar:deixarei?Não quero me amarrotar.Tua boca me implora,só que as estrelas se apagaram.Vou-me emborapara nunca mais...Se fosse amor, não acabaria. Agostina Akemi Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members Administrator Posted August 19, 2007 Members Report Share Posted August 19, 2007 Soneto da saudade Quando sentires a saudade retroarFecha os teus olhos e verás o meu sorriso.E ternamente te direi a sussurrar:O nosso amor a cada instante está mais vivo! Quem sabe ainda vibrará em teus ouvidosUma voz macia a recitar muitos poemas...E a te expressar que este amor em nós ungindoSuportará toda distância sem problemas... Quiçá, teus lábios sentirão um beijo leveComo uma pluma a flutuar por sobre a neve,Como uma gota de orvalho indo ao chão.Lembrar-te-ás toda ternura que expressamos,Sempre que juntos, a emoção que partilhamos...Nem a distância apaga a chama da paixão. Guimarães Rosa. Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members Jorge Soto Posted August 19, 2007 Members Report Share Posted August 19, 2007 de uma porta de banheiro de colegio estadual.. cag.. é uma sensacao profunda. a bost.. bate na agua, a agua bate na bunda.. Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members jujuba Posted August 19, 2007 Members Report Share Posted August 19, 2007 Aff! Xico! Que blasfêmia literária! Eu te desafio a postar uma poesia . ... please, nada de frases de banheiro de rodoviária ou frases de caminhão Algo "lível", tá? Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members Moviolavídeo Posted August 21, 2007 Members Report Share Posted August 21, 2007 Mulher Não quero uma mulherQue seja gorda ou magraOu alta ou baixa Ou isto e aquilo.Não quero uma mulherMas sim um porto, uma esquinaOnde virar a vida e olhá-la De dentro para fora.Não espero uma mulher Mas um barco que me navegueUma tempestade que me aflijaUma sensualidade que me altere Uma serenidade que me nine.Não sonho uma mulherMas um grito de prazer Saindo da boca pendurada No rosto emolduradoNo corpo que se apoieNas pernas que me abracem. Não sonho nem esperoNem quero uma mulher Mas exijo aos meus devaneios Que encontrem a única Que quero sonho e espero Não uma, mas ela.E sei onde se esconde E conheço-lhe as senhasQue a definem. O sexo Ardente, a volúpia estridente A carência do espasmoO Amor com o dedo no gatilho. Só quero essa mulherCom todos seus desertos Onde descansar a minha peleExausta e a minha boca sedentaE a minha vontade famintaE a minha urgência aflita E a minha lágrima austeraE a minha ternura eloquente. Sim, essa mulher que me excite Os vinte e nove sentidosA única a saberO que dizer Como fazer Quando parar Onde Esperar. Essa a mulher que espero E não espero Que quero e não quero Essa mulherportoesquinaQue desejo e não desejo Que outro a tenha. Que seja alta ou baixa Isto ou aquilo Mas que seja ela Aquela que seja minha E eu seja dela Que seja eu e elaEuela eu lá nela Que sejamos ela. E eu então terei encontradoA mulher que não procuroO barco, a esquina, Você. Sim, você, que espreita Do outro lado da esquina, no cais,A chegada do marinheiroComo quem apenas me espera. Então nos amarraremos sem vergonhaÀ luz dos holofotes dos teus olhos,E procriaremos gritos e gemidos Que iluminarão todas as esquinas.Será o momento de dizerAchei/achamos amei/amamos E por primeira vez vocalizar o Somos, pluralizando-nos Na emoção do encontro.Essa a mulher que não procuronem espero.Você, viu? Você! Bruno Kampel Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members Administrator Posted August 22, 2007 Members Report Share Posted August 22, 2007 Mãos dadas Não serei o poeta de um mundo caduco.Também não cantarei o mundo futuro.Estou preso à vida e olho meus companheirosEstão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.Entre eles, considere a enorme realidade.O presente é tão grande, não nos afastemos.Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.Não serei o cantor de uma mulher, de uma história.Não direi suspiros ao anoitecer, a paisagem vista na janela.Não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida.Não fugirei para ilhas nem serei raptado por serafins.O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,a vida presente. Carlos Drummond de Andrade Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members Administrator Posted August 22, 2007 Members Report Share Posted August 22, 2007 Vale postar conto por aqui? Espero que sim Adoro muito, muito esse aí: A Moça TecelãPor Marina Colasanti Acordava ainda no escuro, como se ouvisse o sol chegando atrás das beiradas da noite. E logo sentava-se ao tear.Linha clara, para começar o dia. Delicado traço cor da luz, que ela ia passando entre os fios estendidos, enquanto lá fora a claridade da manhã desenhava o horizonte Depois lãs mais vivas, quentes lãs iam tecendo hora a hora, em longo tapete que nunca acabava.Se era forte demais o sol, e no jardim pendiam as pétalas, a moça colocava na lançadeira grossos fios cinzentos do algodão mais felpudo. Em breve, na penumbra trazida pelas nuvens, escolhia um fio de prata, que em pontos longos rebordava sobre o tecido. Leve, a chuva vinha cumprimentá-la à janela.Mas se durante muitos dias o vento e o frio brigavam com as folhas e espantavam os pássaros, bastava a moça tecer com seus belos fios dourados, para que o sol voltasse a acalmar a natureza.Assim, jogando a lançadeira de um lado para outro e batendo os grandes pentes do tear para frente e para trás, a moça passava os seus dias.Nada lhe faltava. Na hora da fome tecia um lindo peixe, com cuidado de escamas. E eis que o peixe estava na mesa, pronto para ser comido. Se sede vinha, suave era a lã cor de leite que entremeava o tapete. E à noite, depois de lançar seu fio de escuridão, dormia tranqüila.Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer.Mas tecendo e tecendo, ela própria trouxe o tempo em que se sentiu sozinha, e pela primeira vez pensou em como seria bom ter um marido ao lado.Não esperou o dia seguinte. Com capricho de quem tenta uma coisa nunca conhecida, começou a entremear no tapete as lãs e as cores que lhe dariam companhia. E aos poucos seu desejo foi aparecendo, chapéu emplumado, rosto barbado, corpo aprumado, sapato engraxado. Estava justamente acabando de entremear o último fio da ponto dos sapatos, quando bateram à porta.Nem precisou abrir. O moço meteu a mão na maçaneta, tirou o chapéu de pluma, e foi entrando em sua vida.Aquela noite, deitada no ombro dele, a moça pensou nos lindos filhos que teceria para aumentar ainda mais a sua felicidade.E feliz foi, durante algum tempo. Mas se o homem tinha pensado em filhos, logo os esqueceu. Porque tinha descoberto o poder do tear, em nada mais pensou a não ser nas coisas todas que ele poderia lhe dar.— Uma casa melhor é necessária — disse para a mulher. E parecia justo, agora que eram dois. Exigiu que escolhesse as mais belas lãs cor de tijolo, fios verdes para os batentes, e pressa para a casa acontecer.Mas pronta a casa, já não lhe pareceu suficiente.— Para que ter casa, se podemos ter palácio? — perguntou. Sem querer resposta imediatamente ordenou que fosse de pedra com arremates em prata. Dias e dias, semanas e meses trabalhou a moça tecendo tetos e portas, e pátios e escadas, e salas e poços. A neve caía lá fora, e ela não tinha tempo para chamar o sol. A noite chegava, e ela não tinha tempo para arrematar o dia. Tecia e entristecia, enquanto sem parar batiam os pentes acompanhando o ritmo da lançadeira.Afinal o palácio ficou pronto. E entre tantos cômodos, o marido escolheu para ela e seu tear o mais alto quarto da mais alta torre.— É para que ninguém saiba do tapete — ele disse. E antes de trancar a porta à chave, advertiu: — Faltam as estrebarias. E não se esqueça dos cavalos!Sem descanso tecia a mulher os caprichos do marido, enchendo o palácio de luxos, os cofres de moedas, as salas de criados. Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer.E tecendo, ela própria trouxe o tempo em que sua tristeza lhe pareceu maior que o palácio com todos os seus tesouros. E pela primeira vez pensou em como seria bom estar sozinha de novo.Só esperou anoitecer. Levantou-se enquanto o marido dormia sonhando com novas exigências. E descalça, para não fazer barulho, subiu a longa escada da torre, sentou-se ao tear. Desta vez não precisou escolher linha nenhuma. Segurou a lançadeira ao contrário, e jogando-a veloz de um lado para o outro, começou a desfazer seu tecido. Desteceu os cavalos, as carruagens, as estrebarias, os jardins. Depois desteceu os criados e o palácio e todas as maravilhas que continha. E novamente se viu na sua casa pequena e sorriu para o jardim além da janela. A noite acabava quando o marido estranhando a cama dura, acordou, e, espantado, olhou em volta. Não teve tempo de se levantar. Ela já desfazia o desenho escuro dos sapatos, e ele viu seus pés desaparecendo, sumindo as pernas. Rápido, o nada subiu-lhe pelo corpo, tomou o peito aprumado, o emplumado chapéu. Então, como se ouvisse a chegada do sol, a moça escolheu uma linha clara. E foi passando-a devagar entre os fios, delicado traço de luz, que a manhã repetiu na linha do horizonte. Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members **N@!r@** Posted August 23, 2007 Members Report Share Posted August 23, 2007 Lobos? São muitos. Mas tu podes ainda A palavra na língua Aquietá-los. Mortos? O mundo. Mas podes acordá-lo Sortilégio de vida Na palavra escrita. Lúcidos? São poucos. Mas se farão milhares Se à lucidez dos poucos Te juntares. Raros? Teus preclaros amigos. E tu mesmo, raro. Se nas coisas que digo Acreditares. Hilda Hilst Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members Srta Moore Posted August 23, 2007 Members Report Share Posted August 23, 2007 Pela vida inteira Meu coração vive festa Alegra-se com tua chegada Amado, sou tão feliz... Contigo faço minha morada; Acalentas todo meu ser Me amas, como nunca antes fui amada Com tuas palavras, teus gestos Fazes de mim, mulher apaixonada; Contigo, esqueço amarguras Me acompanhas onde vou Me sinto bela, resolvida Apaguei de vez, tudo o que antes de ti, passou; Nossas vidas, juntas finalmente Nos queremos tanto Que sejamos sempre felizes... Viveremos para sempre este encanto; Sou tua mulher, és meu homem Nossos destinos já estão traçados Nada nos separará então Seremos pela vida inteira, apaixonados! Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members Administrator Posted August 23, 2007 Members Report Share Posted August 23, 2007 Moore, é bom te ver por aqui TeresaA primeira vez que vi TeresaAchei que ela tinha pernas estúpidasAchei também que a cara parecia uma perna Quando vi Teresa de novoAchei que os olhos eram muito mais velhos que o resto do corpo(Os olhos nasceram e ficaram dez anos esperando que o resto do corpo nascesse) Da terceira vez não vi mais nadaOs céus se misturaram com a terraE o espírito de Deus voltou a se mover sobre a face das águas. Manuel Bandeira. Kah*2007-08-23 17:49:55 Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members Administrator Posted August 24, 2007 Members Report Share Posted August 24, 2007 Remorso Às vezes uma dor me desespera...Nestas ânsias e dúvidas em que ando,Cismo e padeço, neste outono, quandoCalculo o que perdi na primavera. Versos e amores sufoquei calando,Sem os gozar numa explosão sincera...Ah ! Mais cem vidas ! com que ardor quiseraMais viver, mais penar e amar cantando ! Sinto o que desperdicei na juventude;Choro neste começo de velhice,Mártir da hipocrisia ou da virtude. Os beijos que não tive por tolice,Por timidez o que sofrer não pude,E por pudor os versos que não disse ! Palavras As palavras do amor expiram como os versos, Com que adoço a amargura e embalo o pensamento: Vagos clarões, vapor de perfumes dispersos, Vidas que não têm vida, existências que invento; Esplendor cedo morto, ânsia breve, universos De pó, que o sopro espalha ao torvelim do vento, Raios de sol, no oceano entre as águas imersos -As palavras da fé vivem num só momento... Mas as palavras más, as do ódio e do despeito, O "não!" que desengana, o "nunca!" que alucina, E as do aleive, em baldões, e as da mofa, em risadas, Abrasam-nos o ouvido e entram-nos pelo peito: Ficam no coração, numa inércia assassina, Imóveis e imortais, como pedras geladas. Ambas de Olavo Bilac. Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members **N@!r@** Posted August 31, 2007 Members Report Share Posted August 31, 2007 ...Teresa é lindo Kah...nunca tinha visto... RECORDO AINDARecordo ainda... e nada mais me importa...Aqueles dias de uma luz tão mansaQue me deixavam, sempre, de lembrança,Algum brinquedo novo à minha porta...Mas veio um vento de DesesperançaSoprando cinzas pela noite morta!E eu pendurei na galharia tortaTodos os meus brinquedos de criança...Estrada afora após segui... Mas, aí,Embora idade e senso eu aparenteNão vos iludais o velho que aqui vai:Eu quero os meus brinquedos novamente!Sou um pobre menino... acreditai!...Que envelheceu, um dia, de repente!...Mario Quintana Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members Administrator Posted August 31, 2007 Members Report Share Posted August 31, 2007 Eu conheci na aula de Literatura. Achei linda também... E essa tua aí, gostei bastante Cárcere das Almas Ah! Toda a Alma num cárcere anda presa, soluçando nas trevas, entre as grades do calabouço olhando imensidades, mares, estrelas, tardes, natureza. Tudo se veste de uma igual grandeza quando a alma entre grilhões as liberdades sonha e sonhando, as imortalidades rasga no etéreo Espaço da Pureza. Ó almas presas, mudas e fechadas nas prisões colossais e abandonadas, da Dor no calabouço, atroz, funéreo! Nesses silêncios solitários, graves, que chaveiro do Céu possui as chaves para abrir-vos as portas do Mistério?! Cruz e Sousa Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members **N@!r@** Posted August 31, 2007 Members Report Share Posted August 31, 2007 ...ahhh...nem é minha Kah...é do Mário Quintana......(piadinha sem graça..) ..mais dele: ESPERANÇA Lá bem no alto do décimo segundo andar do AnoVive uma louca chamada EsperançaE ela pensa que quando todas as sirenasTodas as buzinasTodos os reco-recos tocaremAtira-seE— ó delicioso vôo!Ela será encontrada miraculosamente incólume na calçada,Outra vez criança...E em torno dela indagará o povo:— Como é teu nome, meninazinha de olhos verdes?E ela lhes dirá(É preciso dizer-lhes tudo de novo!)Ela lhes dirá bem devagarinho, para que não esqueçam:— O meu nome é ES-PE-RAN-ÇA... Mario Quintana Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members jujuba Posted August 31, 2007 Members Report Share Posted August 31, 2007 Refém Eu...Que de nada, sentia falta...Agora sintoUma falta danada !Doamigo, que tive,Que não tenho,Que apenas tive,Por alguns poucos momentos...Que falta que sintoDa presença amigaCarinhosa, meigaDa simplicidadeDe menina...Ah! Logo eu,Que de nadaSentia falta...Agora sintoUma falta danada Do meu amigo!!! Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members Administrator Posted August 31, 2007 Members Report Share Posted August 31, 2007 Naira, nem conheço muitos do Quintana... To gostando deles! Mãos dadas Não serei o poeta de um mundo caduco.Também não cantarei o mundo futuro.Estou preso à vida e olho meus companheirosEstão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.Entre eles, considere a enorme realidade.O presente é tão grande, não nos afastemos.Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.Não serei o cantor de uma mulher, de uma história.Não direi suspiros ao anoitecer, a paisagem vista na janela.Não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida.Não fugirei para ilhas nem serei raptado por serafins.O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,a vida presente. Carlos Drummond de Andrade Kah*2007-08-31 18:26:45 Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members Ruoppolo Posted September 2, 2007 Members Report Share Posted September 2, 2007 Drummond é meu poeta favorito. E o melhor é que o cara tb é bom nas crônicas. Se tiverem oportunidade, procurem o livro "Os dias lindos". São histórias mto divertidas. Gosto do "O amor natural". Ele fala tudo com muita naturalidade, hehe. Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members jujuba Posted September 2, 2007 Members Report Share Posted September 2, 2007 Acho que sei pq não postou nenhum dos poemas de "Amor Natural" aqui... afff! língua girava no céu da boca. Girava! Eram duas bocas, no céu único.O sexo desprendera-se de sua fundação, errante imprimia-nos seus traços de cobre. Eu, ela, ela eu.Os dois nos movíamos possuídos, trespassados, eleu. A posse não resultava de ação e doação, nem nos somava. Consumia-nos em piscina de aniquilamento. Soltos, fálus e vulva no espaço cristalino, vulva e fálus em fogo, em núpcia, emancipados de nós.A custo nossos corpos, içados do gelatinoso jazigo, se restituíram à consciência. O sexo reintegrou-se. A vida repontou: a vida menor.<?:namespace prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" /> Sem que eu pedisse, fizeste-me a graçade magnificar ...Sem que eu esperasse, ficastes de joelhosem posição devota.O que passou não é passado morto.Para sempre e um diao falo recolhe a piedade osculante de tua boca.Hoje não estás nem sei onde estarás,na total impossibilidade de gesto ou comunicação.Não te vejo não te escuto não te apertomas tua boca está presente, adorando.Adorando. Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members Ruoppolo Posted September 2, 2007 Members Report Share Posted September 2, 2007 Sim Shy... hhuahua São os poemas "pornográficos" que o Drummond fazia. Diria eu que são quase pornográficos. O pessoal costuma chamar esses poemas dele desse jeito pq Drummond falava tudo sem cerimônias. E curto mto isso. Acho que todo homem pensa muito da maneira que o Drummond coloca as coisas nesses poemas. O cara que diz que nunca pensou nisso, na verdade é um hipócrita. Tem sempre aquela coisa do libido, mesmo que suave, na mente do homem, seja por poucos segundos ou por horas, mas a gente pensa. Hehe Até Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members Administrator Posted September 3, 2007 Members Report Share Posted September 3, 2007 Eu gosto do Drummond, apesar de ele fazer parte de uma época literária que não me agrada muito... Futuros Amantes Não se afobe, não Que nada é pra já O amor não tem pressa Ele pode esperar em silêncio Num fundo de armário Na posta-restante Milênios, milênios No ar E quem sabe, então O Rio será Alguma cidade submersa Os escafandristas virão Explorar sua casa Seu quarto, suas coisas Sua alma, desvãos Sábios em vão Tentarão decifrar O eco de antigas palavras Fragmentos de cartas, poemas Mentiras, retratos Vestígios de estranha civilização Não se afobe, não Que nada é pra já Amores serão sempre amáveis Futuros amantes, quiçá Se amarão sem saber Com o amor que eu um dia Deixei pra você (salve, salve) Chico Buarque de Holanda Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members jujuba Posted September 3, 2007 Members Report Share Posted September 3, 2007 Sim Shy... hhuahua São os poemas "pornográficos" que o Drummond fazia. Diria eu que são quase pornográficos. O pessoal costuma chamar esses poemas dele desse jeito pq Drummond falava tudo sem cerimônias. E curto mto isso. Acho que todo homem pensa muito da maneira que o Drummond coloca as coisas nesses poemas. O cara que diz que nunca pensou nisso' date=' na verdade é um hipócrita. Tem sempre aquela coisa do libido, mesmo que suave, na mente do homem, seja por poucos segundos ou por horas, mas a gente pensa. Hehe Até [/quote'] É mas ele tinha vergonha, receio ou sei lá o que, desses mesmos poemas. Tanto que pediu que somente fosse publicado após sua morte. Talvez por timidez. Não são poemas menores. Concordo ctg. Alguns deles descrevem o ato de amor, com força e logo depois com suavidade e depois com sutileza, e então de modo velado e explícito... alternação... afff! Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
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