Members Administrator Posted September 4, 2007 Members Report Share Posted September 4, 2007 Depois do sol... Fez-se noite com tal mistério,Tão sem rumor, tão devagar,Que o crepúsculo é como um luarIluminando um cemitério . . . Tudo imóvel . . . Serenidades . . .Que tristeza, nos sonhos meus!E quanto choro e quanto adeusNeste mar de infelicidades! Oh! Paisagens minhas de antanho . . .Velhas, velhas . . . Nem vivem mais . . .— As nuvens passam desiguais,Com sonolência de rebanho . . . Seres e coisas vão-se embora . . .E, na auréola triste do luar,Anda a lua, tão devagar,Que parece Nossa SenhoraPelos silêncios a sonhar . . . Cecília Meireles Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members Ruoppolo Posted September 5, 2007 Members Report Share Posted September 5, 2007 sobre os dois últimos posts tenho uma reflexão: dah hora mano Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members jujuba Posted September 5, 2007 Members Report Share Posted September 5, 2007 Aff! Pq v cnunca posta nenhuma poesia, se diz gostar tanto??!! Lua nova Cassandra Wilson Eu quero tua figura explorando meu íntimo, rasgando meu peito num fogaréu de muitas línguas. Eu quero tua cor ampliando meu horizonte, ofuscando minha íris — a negra paisagem que eu ainda não vira. Eu quero teu perfume penetrando minhas narinas — meus pulmões pressentindo o aroma de tua pele indígena. Eu quero tua voz aguçando meus sentidos, fazendo vir à tona sonoridades e timbres que eu nunca ouvira. Eu quero tua nudez despindo meus temores, celebrando no ato tua beleza selvagem, intrínseca. Maria shy2007-09-05 12:37:57 Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members Moviolavídeo Posted September 5, 2007 Members Report Share Posted September 5, 2007 Razões de amor... IGosto desse teu ar tristonho,desse olhar de melancolia,mesmo nos momentos de prazer e de sonho,ou nos instantes de amor e de alegria...Gosto dessa tua expressão de ternuratão suave e feminina,desse olhar de venturacom um brilho úmido a luzir num profundo langor...Desse teu olhar de meiguice que me cativa e domina,tu que dás sempre a impressão de quem precisade proteção e amor...Desse teu ar de menina, desse teu arque te faz mais mulherao meu olhar...Gosto de tua voz, tranqüila, do tom mansocom que falas, como se acariciassesaté as palavras que dizes;de tua presença, que é assim como um quieto remanso,um pedaço de sombra onde me abrigoquando somos felizes...Gosto desse teu jeito calmo, sossegado,com que te encostas em meu peitoe te deixas ficarentre ternuras e embaraços,como se tudo ficasse, de repente, parado,e teu mundo pudesse ser delimitadopelos meus braços...Gosto de ti assim, pequenina, macia,quando te aperto contra mim e te sintominha(inteiramente nua)e tens um ar abandonado, como quem caminhasonâmbula, por um estranho caminhofeito de céu e de lua...IIGosto de tidesesperadamente:dos teus cabelos de tardeonde mergulho o rosto,dos teus olhos de remansoonde me morro e descanso;dos teus seios de ambrósias,brancos manjares trementescom dois vermelhos morangospara as minhas alegrias;de teu ventre – uma enseada– porto sem cais e sem mar –branca areia à espera da ondaque em vaivém vai se espraiar;de teus quadris, instrumentode tantas curvas, convexo,de tuas coxas que lembramas brancas asas do sexo;– do teu corpo só de alvuras– das infinitas ternurasde tuas mãos, que são ninhosde aconchegos e carinhos,mãos angorás, que parecemque só de carícias tecemesses desejos da gente...Gosto de tidesesperadamente;gosto de ti, toda, inteiranua, nua, bela, bela,dos teus cabelos de tardeaos teus pés de Cinderela,(há dois pássaros inquietosem teus pequeninos pés)– gosto de ti, feiticeira,tal como tu és... J. G. de Araújo Jorge Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members Administrator Posted September 5, 2007 Members Report Share Posted September 5, 2007 Adorei, Movio. Doce sonho, suave e soberanoDoce sonho, suave e soberano,se por mais longo tempo me durara!Ah! quem de sonho tal nunca acordara,pois havia de ver tal desengano!Ah! deleitoso bem! ah! doce engano,se por mais largo espaço me enganara!Se então a vida mísera acabara,de alegria e prazer morrera ufano.Ditoso, não estando em mim, pois tive,dormindo, o que acordado ter quisera.Olhai com que me paga meu destino!Enfim, fora de mim, ditoso estive.Em mentiras ter dita razão era,pois sempre nas verdades fui mofino. Camões. Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members Administrator Posted September 9, 2007 Members Report Share Posted September 9, 2007 Desalento Sim, vai e diz Diz assim Que eu chorei Que eu morri De arrependimento Que o meu desalento Já não tem mais fim Vai e diz Diz assim Como sou Infeliz No meu descaminho Diz que estou sozinho E sem saber de mim Diz que eu estive por pouco Diz a ela que estou louco Pra perdoar Que seja lá como for Por amor Por favor É pra ela voltar Sim, vai e diz Diz assim Que eu rodei Que eu bebi Que eu caí Que eu não sei Que eu só sei Que cansei, enfim Dos meus desencontros Corre e diz a ela Que eu entrego os pontos Vinicius de Morais Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members jujuba Posted September 9, 2007 Members Report Share Posted September 9, 2007 O SEU SANTO NOME Não facilite com a palavra amor.Não a jogue no espaço, bolha de sabão.Não se inebrie com o seu engalanado som.Não a empregue sem razão acima de toda razão (e é raro).Não brinque, não experimente, <?:namespace prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" /> não cometa a loucura sem remissão de espalhar aos quatro ventos do mundo essa palavraque é toda sigilo e nudez, perfeição e exílio na Terra.Não a pronuncie. Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members Locke Posted September 9, 2007 Members Report Share Posted September 9, 2007 Shy quem escreveu essa poesia que acabou de citar? Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members jujuba Posted September 9, 2007 Members Report Share Posted September 9, 2007 É do Drummond, uai! Qd fui a SãoPaulo, estava tendo uma mostra de várias poesias. Daí cruzaram versos dessa poesia do Drummond declama do por um homem com outra poesia (não me lembro qual era) declamada por uma mulher. Afff! Afff! Afff! Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members Administrator Posted September 10, 2007 Members Report Share Posted September 10, 2007 Arte de amarSe queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma.A alma é que estraga o amor.Só em Deus ela pode encontrar satisfação.Não noutra alma.Só em Deus — ou fora do mundo.As almas são incomunicáveis.Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.Porque os corpos se entendem, mas as almas não. Manuel Bandeira Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members Administrator Posted September 10, 2007 Members Report Share Posted September 10, 2007 VAGA A BUNDA DA VAGABUNDA (Adaga de Almeida) Rogo para que matem a ignorância Porque indivíduos fazem dela sua melhor amiga Meninas tornam-se pequenas vagabundas Bundas moribundas, sem substância Falam de inveja, reclamam de ciúmes Na verdade sonham em ser imitadas São bundas, vagabundas, vagas bundas Ó idiotas, invejam e não são invejadas Têm atraentes bundas, futilidades deprimentes Fingem ser alguém melhor, mentem São só bundas que vagam Vagando vagas, alegremente Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members Administrator Posted September 10, 2007 Members Report Share Posted September 10, 2007 RÉQUIEM PARA UM AMORDesde o momento em que eu te vi morrendo,apercebi-me: estava te perdendo.Olhei pro tempo, andei léguas pra trás.A vida veio inteira em minha mente.Um filme surrealista, tocha ardente,como um vulcão, uma fera voraz. Desejei ser a autora do destino. Vi-me menina, como o Deus Menino,nos braços da Senhora Mãe donzela.Ou era uma criança na janela,olhando os “mascarados” na avenida,todos querendo se esconder da vida.A vida, então, pra mim era um brinquedo, eu não entendia porque tanto medo.O mesmo medo que me assombra agora,ao ver você saindo do teu corpo.Espírito de luz num corpo morto,querer ficar, mas tendo que ir embora.A dor maior era te ver calada,sangrando a vida em plena madrugada.Vi-me sozinha. Não entendi mais nada.E a morte veio como erva daninha,matando tudo. E eu ali, parada.Que gosto amargo, que cansaço imenso.Você virando um anjo em minha frente.Deixando de ser mãe e de ser gente,agonizando no extertor final.Que sensação sinistra, ver teu funeral!Loucura, ver a terra te cobrindo,e eu te pedindo pra não ir embora. Rezando, mesmo sem saber rezar, buscando alguma força pra me dar.Vi Deus virar Diabo aquela hora!A casa parecia um templo antigo,mal assombrado, sem qualquer amigo.Uma cena delirante, teatral.E eu fui me dando conta, de repente,que eu já não era eu, eu era alguém.Sem pai, sem mãe, um animal sem vida.Um cão lambendo a própria ferida.Sentei no chão, chorei amargamente.E desejei ser terra e ser semente.Fazer você voltar, sobrevivente.Você saiu de mim como uma ladra.Silenciosa, cabisbaixa, errante.E me deixou sozinha e desarmada,como uma marginal principiante.Você roubou meus últimos brinquedos.Você levou todos os meus segredos.O meu maiô de elástico vermelho.O meu batom, o meu primeiro espelho.A bicicleta, o álbum de retratos.Meus quinze anos, meus sapatos altos.Meus carnavais e minhas fantasias.A minha serpentina, o meu confete.O meu Colégio Santa Bernadete, minhas colegas, minhas alegrias.Levou minhas cigarras, meus oitis,a minha Madragoa, os bem-te-vis.Levou minha Avenida Beira-Mar.Levou Jauá, levou meus veraneios, o barco de painho e meus passeios.Levou meu São João, meu milho verde. Meus doces sobre a mesa, meus natais.O meu acordeon, o meu piano, os meus concertos e os meus festivais.Me diga mãe, o que é que eu faço agora,se sem você eu já nem sonho mais?Você me levou tudo mãe, até minh’alma!Em que ternura eu vou buscar a calma?Em que calor eu vou guardar meu frio,se até meu coração ficou vazio?Em qual abraço eu vou guardar meus medos,se hoje estou em todos os degredos,se fui deixada ao sabor do vento,amargurando a cara do meu tempo,mortificando a dor todo o momento?Responda, mãe, de onde estás agora.Dê-me o sinal que eu te pedi outrora. Se não existe nada além da morte,entrego a minha vida à própria sorte.Responda mãe, o que eu pedi um dia,em nome da esperança que eu perdi,em nome do poeta e da poesia.Por cada ideal, cada utopia,faça os meus versos ter algum sentido,faça vibrar o eco universal.Atenda mãe, meu último pedido.Responda mãe, num gesto maternal.Valeu ou não, um dia ter nascido?Valeu ou não, um dia ter vivido?A morte é o começo, o meio ou o final? Kátia Drummond Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members Administrator Posted September 11, 2007 Members Report Share Posted September 11, 2007 Soneto da fidelidade De tudo, ao meu amor serei atento Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto Que mesmo em face do maior encanto Dele se encante mais meu pensamento. Quero vivê-lo em cada vão momento E em seu louvor hei de espalhar meu canto E rir meu riso e derramar meu pranto Ao seu pesar ou seu contentamento. E assim, quando mais tarde me procure Quem sabe a morte, angústia de quem vive Quem sabe a solidão, fim de quem ama Eu possa (me) dizer do amor (que tive): Que não seja imortal, posto que é chama Mas que seja infinito enquanto dure. Vinicius de Morais Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members jujuba Posted September 11, 2007 Members Report Share Posted September 11, 2007 A chama insensível do desejo Eu amo seus olhos, meu querido<?:namespace prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" /> e a centelha do fogo esplêndido dele, quando de repente você os levanta assim como a moldar um rápido relance de envolver como o relâmpago no céu mas há um encanto que é um destilador maior: quando os olhos do meu amor se abaixam quando tudo está em fogo pelo beijo das paixões e através dos chicotes eu vejo a chama insensível do desejo e através dos chicotes eu vejo a chama insensível do desejo chama insensível eu vejo a chama saciada eu vejo a chama insensível eu vejo a chama saciada e através dos chicotes eu vejo a chama insensível do desejo Poema do russo Fyodor Tyutchev (1803-1973), utilizado, no filme Stalker . Maria shy2007-09-11 16:17:49 Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members GustavoFarias Posted September 11, 2007 Members Report Share Posted September 11, 2007 Pronominais Dê-me um cigarro Diz a gramática Do professor e do aluno E do mulato sabido Mas o bom negro e o bom branco Da Nação Brasileira Dizem todos os dias Deixa disso camarada Me dá um cigarro (Oswald de Andrade) Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members GustavoFarias Posted September 11, 2007 Members Report Share Posted September 11, 2007 Lembrança de morrer(...) Descansem o meu leito solitário Na floresta dos homens esquecida, À sombra de uma cruz, e escrevam nela: - Foi poeta - sonhou - e amou na vida. Sombras do vale, noites da montanha, Que minh'alma cantou e amava tanto Protegei o meu corpo abandonado E no silêncio derramai-lhe um canto! Mas quando preludia ave d'aurora E quando à meia-noite o céu repousa Arvoredos do bosque, abri os ramos... Deixai a lua prantear-me a lousa! (Álvares de Azevedo) Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members Administrator Posted September 12, 2007 Members Report Share Posted September 12, 2007 Ausência Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces.Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto.No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado. Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada.Que ficou sobre a minha carne como nódoa do passado. Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face. Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada. Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite. Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa. Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço. E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado. Eu ficarei só como os veleiros nos pontos silenciosos. Mas eu te possuirei como ninguém porque poderei partir. E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas. Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada. Vinícius de Moraes Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members Administrator Posted September 13, 2007 Members Report Share Posted September 13, 2007 Saudades Foi por ti que num sonho de venturaA flor da mocidade consumi...E às primaveras disse adeus tão cedoE na idade do amor envelheci! Vinte anos! derramei-os gota a gotaNum abismo de dor e esquecimento...De fogosas visões nutri meu peito...Vinte anos!... sem viver um só momento! Contudo, no passado uma esperançaTanto amor e ventura prometia...E uma virgem tão doce, tão divina,Nos sonhos junto a mim adormecia! ... Quando eu lia com ela... e no romanceSuspirava melhor ardente nota...E Jocelyn sonhava com LaurenceOu Werther se morria por Carlota... Eu sentia a tremer e a transluzir-lheNos olhos negros a alma inocentinha...E uma furtiva lágrima rolandoDa face dela umedecer a minha! E quantas vezes o luar tardioNão viu nossos amores inocentes?Não embalou-se da morena virgemNo suspirar, nos cânticos ardentes? E quantas vezes não dormi sonhandoEterno amor, eternas as venturas...E que o céu ia abrir-se... e entre os anjosEu ia despertar em noites puras? Foi esse o amor primeiro! requeimou-meAs artérias febris de juventude,Acordou-me dos sonhos da existênciaNa harmonia primeira do alaúde. ... Meu Deus! e quantas eu amei... ContudoDas noites voluptuosas da existênciaSó restam-me saudades dessas horasQue iluminou tua alma d'inocência. Foram três noites só... três noites belasDe lua e de verão, no val saudoso...Que eu pensava existir... sentindo o peitoSobre teu coração morrer de gozo. E por três noites padeci três anos,Na vida cheia de saudade infinda...Três anos de esperança e de martírio...Três anos de sofrer - e espero ainda! A ti se ergueram meus doridos versos,Reflexos sem calor de um sol intenso,Votei-os à imagem dos amoresPra velá-la nos sonhos como incenso. Eu sonhei tanto amor, tantas venturas,Tantas noites de febre e d'esperança...Mas hoje o coração parado e frio,Do meu peito no túmulo descansa. Pálida sombra dos amores santos!Passa quando eu morrer no meu jazigo,Ajoelha ao luar e entoa um canto...Que lá na morte eu sonharei contigo. Álvares de Azevedo Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members Administrator Posted September 14, 2007 Members Report Share Posted September 14, 2007 A morte de madrugada UMA CERTA madrugada Eu por um caminho andava Não sei bem se estava bêbedo Ou se tinha a morte n’alma Não sei também se o caminho Me perdia ou encaminhava Só sei que a sede queimava-me A boca desidratada. Era uma terra estrangeira Que me recordava algo Com sua argila cor de sangue E seu ar desesperado. Lembro que havia uma estrela Morrendo no céu vazio De uma outra coisa me lembro: ... Un horizonte de perros Ladra muy lejos del río... De repente reconheço: Eram campos de Granada! Estava em terras de Espanha Em sua terra ensangüentada Por que estranha providência Não sei... não sabia nada... Só sei da nuvem de pó Caminhando sobre a estrada E um duro passo de marcha Que eu meu sentido avançava. Como uma mancha de sangue Abria-se a madrugada Enquanto a estrela morria Numa tremura de lágrima Sobre as colinas vermelhas Os galhos também choravam Aumentando a fria angústia Que de mim transverberava. Era um grupo de soldados Que pela estrada marchava Trazendo fuzis ao ombro E impiedade na cara Entre eles andava um moço De face morena e cálida Cabelos soltos ao vento Camisa desabotoada. Diante de um velho muro O tenente gritou: Alto! E à frente conduz o moço De fisionomia pálida. Sem ser visto me aproximo Daquela cena macabra Ao tempo em que o pelotão Se punha horizontal. Súbito um raio de sol Ao moço ilumina a face E eu à boca levo as mãos Para evitar que gritasse. Era ele, era Federico O poeta meu muito amado A um muro de pedra-seca Colado, como um fantasma. Chamei-o: Garcia Lorca! Mas já não ouvia nada O horror da morte imatura Sobre a expressão estampada... Mas que me via, me via Porque eu seus olhos havia Uma luz mal-disfarçada. Com o peito de dor rompido Me quedei, paralisado Enquanto os soldados miram A cabeça delicada. Assim vi a Federico Entre dois canos de arma A fitar-me estranhamente Como querendo falar-me Hoje sei que teve medo Diante do inesperado E foi maior seu martírio Do que a tortura da carne. Hoje sei que teve medo Mas sei que não foi covarde Pela curiosa maneira Com que de longe me olhava Como quem me diz: a morte É sempre desagradável Mas antes morrer ciente Do que viver enganado. Atiraram-lhe na cara Os vendilhões de sua pátria Nos seus olhos andaluzes Em sua boca de palavras. Muerto cayó Federico Sobre a terra de Granada La tierra del inocente No la tierra del culpable. Nos olhos que tinha abertos Numa infinita mirada Em meio a flores de sangue A expressão se conservava Como a segredar-me: A morte É simples, de madrugada... Vinicius de morais Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members jujuba Posted September 14, 2007 Members Report Share Posted September 14, 2007 Um lugar que só nós conhecemosEu andei por uma terra desabitadaEu conhecia o caminho como a palma da minha mãoEu senti a terra sob meus pésEu sentei ao lado do rio e ele me completouCoisa simples por onde você tem andadoEu preciso de algo em que confiarEntão me fala quando você vai me deixar entrarEu estou ficando cansada Eu encontrei por acaso uma árvore caídaEu senti seus ramos olhando para mimEsse é o lugar que nós costumavamos amar?Esse é o lugar com o qual eu tenho sonhadoE se você tiver um minutopor que nós não vamosfalar sobre isso num lugar que só nós conhecemos?Isso poderia ser o final de tudo Somewhere Only We Know - Natasha Bedingfield Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members Administrator Posted September 15, 2007 Members Report Share Posted September 15, 2007 Tua CaminhadaTua caminhada ainda não terminou....A realidade te acolhe dizendo que pela frenteo horizonte da vida necessita de tuas palavrase do teu silêncio. Se amanhã sentires saudades,lembra-te da fantasia esonha com tua próxima vitória.Vitória que todas as armas do mundojamais conseguirão obter,porque é uma vitória que surge da paze não do ressentimento.É certo que irás encontrar situaçõestempestuosas novamente,mas haverá de ver sempreo lado bom da chuva que caie não a faceta do raio que destrói.Tu és jovem.Atender a quem te chama é belo,lutar por quem te rejeitaé quase chegar a perfeição.A juventude precisa de sonhose se nutrir de lembranças,assim como o leito dos riosprecisa da água que rolae o coração necessita de afeto.Não faças do amanhão sinônimo de nunca,nem o ontem te seja o mesmoque nunca mais.Teus passos ficaram.Olhes para trás...mas vá em frentepois há muitos que precisamque chegues para poderem seguir-te. Charles Chaplin (porque não? ) Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members Administrator Posted September 17, 2007 Members Report Share Posted September 17, 2007 Encarnação Carnais, sejam carnais tantos desejos, carnais, sejam carnais tantos anseios, palpitações e frêmitos e enleios, das harpas da emoção tantos arpejos... Sonhos, que vão, por trêmulos adejos, à noite, ao luar, intumescer os seios láteos, de finos e azulados veios de virgindade, de pudor, de pejos... Sejam carnais todos os sonhos brumos de estranhos, vagos, estrelados rumos onde as Visões do amor dormem geladas... Sonhos, palpitações, desejos e ânsias formem, com claridades e fragrâncias, a encarnação das lívidas Amadas! Cruz e Sousa Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members Srta Moore Posted September 20, 2007 Members Report Share Posted September 20, 2007 Adeus Amor... Flor menina tão queridaNunca mais penses em mimVou sair da tua vidaPois a vida quis assimVou chorar a realidadeNas esquinas da saudadeNo coração do meu fim...Mas não chore vida minhaTenha sempre na memóriaDentre todas minha rainhaA beleza é tua gloriaAdeus meiga e doce amadaLinda flor da natureza...Se queres minha jornadaNos mares da incertezaUm mar na tempestadeNaufragando na tristeza...brisa mansa que me afagaAmeniza os prantos meusNo horizonte o sol se apagaComo a luz dos olhos teus... Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members Srta Moore Posted September 20, 2007 Members Report Share Posted September 20, 2007 Ciúmes Eu ti amo tantoE de tanto não sei explicarO ciúmes me atormentaO amor que só aumentaEu não sei quando parar...É a vontade de estarSempre perto de vocêE nem uma brecha deixarPra ninguém mais te querer...É um ciúmes doentioQue eu quero curarPor isso peço um consoloVem depressa ! vem me ajudar...Para o nosso amor voar livre e suavePerto das ondas do mar... Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members jujuba Posted September 20, 2007 Members Report Share Posted September 20, 2007 O INSECTO Das tuas ancas aos teus pés quero fazer uma longa viagem. Sou mais pequeno que um insecto. ... Há aqui um monte. Nunca dele sairei. Oh que musgo gigante! E uma cratera, uma rosa de fogo umedecido! Pelas tuas pernas desço tecendo uma espiral ou adormecendo na viagem e alcanço os teus joelhos duma dureza redonda como os ásperos cumes dum claro continente. Para teus pés resvalo para as oito aberturas dos teus dedos agudos, lentos, peninsulares, e deles para o vazio do lençol branco caio, procurando cego e faminto teu contorno de vaso escaldante! Pablo Neruda Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
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