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Forum Cinema em Cena

Poesias


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MERDA E OURO

 

 

 

Merda é veneno.

 

No entanto, não há nada

 

que seja mais bonito

 

que uma bela cagada.

 

Cagam ricos, cagam padres,

 

cagam reis e cagam fadas.

 

Não há merda que se compare

 

à bosta da pessoa amada.

 

-

 

Paulo Leminski

 

(Do livro Distraídos Venceremos)

 

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Nunca te entregas rosto de imutável força
Na palma da mão um coração lateja
E o ser preso entre tentáculos,
É meu coração

 

Serpenteias entre os dedos dos meus pés
Sobes entre as minhas coxas, inexorável,
Governando todos os sentidos que perco.

 

Ah! Dragão que se implanta
Entre meus desejos
Temo e não respeitas meu pânico.

Abstraída toda consciência,
Subtraída toda decência

Mitológicas cordas do teu ventre
Que aciono qual bomba atômica

Trazes os fantasmas que apavoram
Exorcizas os demônios
E cataclismicamente
Me lanças no teu abismo pálido e róseo


Teu astro em queda ferido
Pelo movimento impetuoso do cosmos
Nas fendas do meu corpo
Colocas todas as dúvidas da existência.

 

 

 

Autoria ainda desconhecida

 
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Onde anda você.

 

E por falar em saudade, onde anda você<?:NAMESPACE PREFIX = O />

Onde andam seus olhos que a gente não vê

Onde anda esse corpo que me deixou morto de tanto prazer

E por falar em beleza onde anda a canção

Que se ouvia nas noites dos bares de então

Onde a gente ficava, onde a gente se amava em total solidão

Hoje eu saio na noite vazia, numa boemia sem razão de ser

Na rotina dos bares, que apesar dos pesares me trazem você

E por falar em paixão, em razão de viver

Você bem que podia me aparecer nestes mesmos lugares

Na noite, nos bares, onde anda você

 

 

 

Vinícius de Moraes
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Revolta

 

Alma que sofres pavorosamente

A dor de seres privilegiada

Abandona o teu pranto, sê contente

Antes que o horror da solidão te invada.

 

Deixa que a vida te possua ardente

Ó alma supremamente desgraçada.

Abandona, águia, a inóspita morada

Vem rastejar no chão como a serpente.

 

De que te vale o espaço se te cansa?

Quanto mais sobes mais o espaço avança...

 

Desce ao chão, águia audaz, que a noite é fria.

Volta, ó alma, ao lugar de onde partiste

O mundo é bom, o espaço é muito triste...

Talvez tu possas ser feliz um dia.

 

 

Vinícius de Moraes
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A lucidez perigosa

 

 

 

 

 

Estou sentindo uma clareza tão grande

 

que me anula como pessoa atual e comum:

 

é uma lucidez vazia, como explicar?

 

assim como um cálculo matemático perfeito

 

do qual, no entanto, não se precise.

 

 

 

 

 

Estou por assim dizer

 

vendo claramente o vazio.

 

E nem entendo aquilo que entendo:

 

pois estou infinitamente maior que eu mesma,

 

e não me alcanço.

 

Além do que:

 

que faço dessa lucidez?

 

Sei também que esta minha lucidez

 

pode-se tornar o inferno humano

 

- já me aconteceu antes.

 

 

 

 

 

Pois sei que

 

- em termos de nossa diária

 

e permanente acomodação

 

resignada à irrealidade -

 

essa clareza de realidade

 

é um risco.

 

 

 

 

 

Apagai, pois, minha flama, Deus,

 

porque ela não me serve

 

para viver os dias.

 

Ajudai-me a de novo consistir

 

dos modos possíveis.

 

Eu consisto,

 

eu consisto,

 

amém.

 

 

 

Clarice Lispector

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Soneto da posse

 

 

 

Amar é possuir. Não mais que o gozo

 

quero. Não sei porque desejas tanto

 

escravizar-me; escravizar-te. Quanto

 

menos me tens, mais me terás. Gostoso

 

é ser-me livre, alegre, escandaloso –

 

o peito aberto pra cantar meu canto;

 

os olhos claros pra ver todo encanto;

 

as mãos aladas, pássaros sem pouso.

 

Abre-me o corpo, vem dá-me o teu vale,

 

e a esconsa flor que ocultas hesitante,

 

pois o que falo o falo sem que fale

 

em tom de amor. Quero vaivem, espasmo -

 

um corpo a corpo num só corpo palpitante,

 

dois no galope até o sol de um só orgasmo.

 

 

 

 

 

Ildásio Tavares

 

 

 

 

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Feroz

 

Beije-me...
Mas que seja despudoradamente...
Pegue-me entre seus dedos
Incendei-me com o seu calor

Faça-me sua!
E seja meu!
Intenso e feroz...
É assim que o necessito...
Tão e somente meu !

...

Navegue em mim
Percorra as minhas águas
Sublimes dedos a desvendar-me
Faça do sentir a exatidão

É com você que eu quero ir
É com você que eu quero rir
É com você que eu preciso estar...


Mara Regina d´Almeida

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Maldição

 

 

 

 

 

Se por vinte anos, nesta furna escura,

 

Deixei dormir a minha maldição,

 

_ Hoje, velha e cansada da amargura,

 

Minha alma se abrirá como um vulcão.

 

E, em torrentes de cólera e loucura,

 

Sobre a tua cabeça ferverão

 

Vinte anos de silêncio e de tortura,

 

Vinte anos de agonia e solidão...

 

 

 

Maldita sejas pelo ideal perdido!

 

Pelo mal que fizeste sem querer!

 

Pelo amor que morreu sem ter nascido!

 

 

 

Pelas horas vividas sem prazer!

 

Pela tristeza do que eu tenho sido!

 

Pelo esplendor do que eu deixei de ser!...

 

 

 

Olavo Bilac

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Ainda Te Levarei

Ainda te levarei
Amor
Para comer nozes frescas
Na montanha
E pendurar cerejas nas orelhas
Como se fossem flores
Ou rubis.

As nozes
Meu amor
Mancham os dedos
E são verdes e exatas
Como ovos
...

 

Estará tudo lá
à nossa espera
morangueiras quebradas
lagartixas.

 

Só não estará meu medo
de menina
aquele mais escuro que os ciprestes
ecos no mato passos sobre a ponte
garras na saia vento nos cabelos
e o latejar das veias repetindo
estou sozinha
e ninguém me salva

 

 

(Marina Colassanti)

 

 



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Quem diz que Amor é falso ou enganoso

Quem diz que Amor é falso ou enganoso,
ligeiro, ingrato, vão, desconhecido,
sem falta lhe terá bem merecido
que lhe seja cruel ou rigoroso.

Amor é brando, é doce e é piadoso.
Quem o contrário diz não seja crido;
seja por cego e apaixonado tido,
e aos homens, e inda aos deuses, odioso.

Se males faz Amor, em mi se vêem;
em mi mostrando todo o seu rigor,
ao mundo quis mostrar quanto podia.

Mas todas suas iras são de amor;
todos estes seus males são um bem,
que eu por todo outro bem não trocaria.

 

Camões

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Chão de Giz

Eu desço dessa solidão, espalho coisas sobre um chão de giz
Há meros devaneios tolos a me torturar
...

Há tantas violetas velhas sem um colibri
Queria usar quem sabe uma camisa de força ou de vênus
Mas não vão gozar de nós apenas um cigarro
Nem vou lhe beijar gastando assim o meu batom

...

Pra sempre fui acorrentado no seu calcanhar
Meus vinte anos de "boy, that's over, baby" , Freud explica
Não vou me sujar fumando apenas um cigarro
Nem vou lhe beijar gastando assim o meu batom
Quanto ao pano dos confetes já passou meu carnaval
E isso explica porque o sexo é assunto popular
No mais estou indo embora...

 

 

 

Zé Ramalho

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Inconfesso Desejo

Queria ter coragem
Para falar deste segredo
Queria poder declarar ao mundo
Este amor
Não me falta vontade
Não me falta desejo
Você é minha vontade
Meu maior desejo
Queria poder gritar
Esta loucura saudável
Que é estar em teus braços
Perdido pelos teus beijos
Sentindo-me louco de desejo
Queria recitar versos
Cantar aos quatros ventos
As palavras que brotam
Você é a inspiração
Minha motivação
Queria falar dos sonhos
Dizer os meus secretos desejos
Que é largar tudo
Para viver com você
Este inconfesso desejo

 

 

 

Carlos Drummond de Andrade
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"MERDA E OURO"

 

 

 

Merda é veneno.

 

No entanto' date=' não há nada

 

que seja mais bonito

 

que uma bela cagada.

 

Cagam ricos, cagam padres,

 

cagam reis e cagam fadas.

 

Não há merda que se compare

 

à bosta da pessoa amada.

 

-

 

Paulo Leminski

 

(Do livro Distraídos Venceremos)

 

 

 

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Apenas digo Não

Apenas digo Não
Negando somente tudo
Em mim existente,
Sem qualquer razão.

Procuro no ar, em ti
Busco o porquê da solidão
Contida em mim, mas em vão,
Somente um Não me respondi.

 

Nego para fugir, fingir
Que sou forte perante a multidão
Tirana que me sufoca a emoção,
Que me renega o sentir.

Apenas o digo, apenas
Para esconder o meu Ser,
Encobrir o padecer
Ofuscando minhas penas.

 

Nego tudo, procuro a razão,
Resisto, desisto, insisto
Num sonho seguro, revisto
No eterno negar,
No eterno afirmar do Não. <?:namespace prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" />


.

Maria shy2007-10-14 20:10:37
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O Amor, Quando Se Revela

O amor, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p'ra ela,
Mas não lhe sabe falar.

Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há-de dizer.
Fala: parece que mente...
Cala: parece esquecer...

Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
Pra saber que a estão a amar!

Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!

Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar...

 

 

Fernando Pessoa
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Soneto da intimidade

 

 

 

 

 

Nas tardes de fazenda há muito azul demais.

 

Eu saio as vezes, sigo pelo pasto, agora

 

Mastigando um capim, o peito nu de fora

 

No pijama irreal de há três anos atrás.

 

 

 

 

 

Desço o rio no vau dos pequenos canais

 

Para ir beber na fonte a água fria e sonora

 

E se encontro no mato o rubro de uma amora

 

Vou cuspindo-lhe o sangue em torno dos currais.

 

 

 

 

 

Fico ali respirando o cheiro bom do estrume

 

Entre as vacas e os bois que me olham sem ciúme

 

E quando por acaso uma mijada ferve

 

 

 

 

 

Seguida de um olhar não sem malícia e verve

 

Nós todos, animais, sem comoção nenhuma

 

Mijamos em comum numa festa de espuma.

 

 

 

Vinicius de Moraes

 

 

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Presença

É preciso que a saudade desenhe tuas linhas perfeitas,
teu perfil exato e que, apenas, levemente, o vento
das horas ponha um frêmito em teus cabelos...
É preciso que a tua ausência trescale
sutilmente, no ar, a trevo machucado,
a folhas de alecrim desde há muito guardadas
não se sabe por quem nalgum móvel antigo...
Mas é preciso, também, que seja como abrir uma janela
e respirar-te, azul e luminosa, no ar.
É preciso a saudade para eu sentir
como sinto - em mim - a presença misteriosa da vida...
Mas quando surges és tão outra e múltipla e imprevista
que nunca te pareces com o teu retrato...
E eu tenho de fechar meus olhos para ver-te!

 

 

 

Mário Quintana
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Motivo

 

(Cecília Meireles)

 

 

 

Eu canto porque o instante existe

 

e a minha vida está completa.

 

Não sou alegre nem triste:

 

sou poeta.

 

 

 

Irmão das coisas fugidas,

 

não sinto gozo nem tormento.

 

Atravesso noites e dias

 

no vento.

 

 

 

Se desmorono ou se edifico,

 

se permaneço ou se me desfaço,

 

- não sei, não sei. Não sei se fico

 

ou passo.

 

 

 

Sei que canto. E a canção é tudo.

 

Tem sangue eterno a asa ritmada.

 

E um dia sei que estarei mudo:

 

- mais nada.

 

 

 

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 Aff! Edu, li essa poesia num sarau

 

Paixão

 

Amo tua voz e tua cor
E teu jeito de fazer amor
Revirando os olhos e o tapete
Suspirando em falsete
Coisas que eu nem sei contar

 

Ser feliz é tudo que se quer
Ah! Esse maldito fecho eclair
De repente a gente rasga a roupa
E uma febre muito louca
Faz o corpo arrepiar
...
Não quero ficar na tua vida
Como uma paixão mal resolvida
Dessas que a gente tem ciúme
E se encharca de perfume
Faz que tenta se matar

Vou ficar até o fim do dia
Decorando tua geografia
E essa aventura em carne e osso
Deixa marcas no pescoço
Faz a gente levitar

 

Tens um não sei que de paraíso
E o corpo mais preciso
Do que o mais lindo dos mortais
Tens uma beleza infinita
E a boca mais bonita
Que a minha já tocou

 

Kleiton e Kledir

 

 
Maria shy2007-10-16 17:34:59
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Eu já conhecia, Shy. Mas li de novo hoje num livro de poesias variadas. Aqui outro do livro:

 

 

 

Três Cabeças

 

(Fernando Paixão)

 

 

 

Uma cobra de três cabeças

 

com qual delas vai comer

 

o sapo gordo e distraído

 

na tarde de domingo?

 

 

 

A cabeça esquerda está mais perto.

 

É ela que vi dar o bote - acredito.

 

- Que nada! É com a direita -

 

dis meu vizinho com voz de pato.

 

 

 

Veja. Três cabeças se mexendo

 

para atacar o bofe do sapo...

 

- A do meio vai conseguir -

 

Alguém aposta e grita.

 

 

 

Mas olha lá - rápido!

 

O sapo está saltando - Vupt!

 

Fugiu e deixou a pergunta no ar.

 

 

 

E a cobra? Chora arrependida.

 

Três cabeças que não se entendem

 

passam fome de tanto pensar.

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Os Versos Que Te Fiz

Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que a minha boca tem pra te dizer !
São talhados em mármore de Paros
Cinzelados por mim pra te oferecer.

Têm dolência de veludos caros,
São como sedas pálidas a arder ...
Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que foram feitos pra te endoidecer !

Mas, meu Amor, eu não tos digo ainda ...
Que a boca da mulher é sempre linda
Se dentro guarda um verso que não diz !

Amo-te tanto ! E nunca te beijei ...
E nesse beijo, Amor, que eu te não dei
Guardo os versos mais lindos que te fiz!

 

Florbela Espanca
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Lá vai ela<?:namespace prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" />

Lá vai  ela
Lá vai ela outra vez
Correndo pelo meu cérebro
E eu só não posso conter
Esse sentimento que nós fizemos

Lá vai ela
Lá vai ela outra vez
Pulsando pelas  minha veias
Correndo pelo meu cérebro

Lá vai ela
Lá vai ela outra vez
ela chama meu nome
 Puxa  meu trem
Ninguém mais poderia
cicatrizar  minha  dor
 
Lá vem ela
Perseguindo o meu caminho
E eu só não posso conter
Esse sentimento que nós fizemos

 Lá vai ela
Lá vai ela outra vez

Sixpense None The Richer

 

 

 

Aff! Nem sabia que haviam mudado o tópico!!

09

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Tão sutilmente em tantos breves anos

Tão sutilmente em tantos breves anos
foram se trocando sobre os muros
mais que desigualdades, semelhanças,
que aos poucos dois são um, sem que no entanto
deixem de ser plurais:
talvez as asas de um só anjo, inseparáveis.
Presenças, solidões que vão tecendo a vida,
o filho que se faz, uma árvore plantada,
o tempo gotejando do telhado.
Beleza perseguida a cada hora, para que não baixe
o pó de um cotidiano desencanto.

Tão fielmente adaptam-se as almas destes corpos
que uma em outra pode se trocar,
sem que alguém de fora o percebesse nunca.

 

 

 

 

Lya Luft

 

O texto acima foi extraído do livro "Secreta Mirada", Editora Mandarim - São Paulo, 1997, pág. 151.
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