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Forum Cinema em Cena

Poesias


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Poema do Menino Jesus

Num meio-dia de fim de Primavera

Tive um sonho como uma fotografia.

Vi Jesus Cristo descer à terra.

Veio pela encosta de um monte

Tornado outra vez menino,

A correr e a rolar-se pela erva

E a arrancar flores para as deitar fora

E a rir de modo a ouvir-se de longe.

 

Tinha fugido do céu.

Era nosso demais para fingir

De segunda pessoa da Trindade.

No céu tudo era falso, tudo em desacordo

Com flores e árvores e pedras.

No céu tinha que estar sempre sério

E de vez em quando de se tornar outra vez homem

E subir para a cruz, e estar sempre a morrer

Com uma coroa toda à roda de espinhos

E os pés espetados por um prego com cabeça,

E até com um trapo à roda da cintura

Como os pretos nas ilustrações.

Nem sequer o deixavam ter pai e mãe

Como as outras crianças.

O seu pai era duas pessoas -

Um velho chamado José, que era carpinteiro,

E que não era pai dele;

E o outro pai era uma pomba estúpida,

A única pomba feia do mundo

Porque nem era do mundo nem era pomba.

E a sua mãe não tinha amado antes de o ter.

Não era mulher: era uma mala

Em que ele tinha vindo do céu.

E queriam que ele, que só nascera da mãe,

E que nunca tivera pai para amar com respeito,

Pregasse a bondade e a justiça!

 

Um dia que Deus estava a dormir

E o Espírito Santo andava a voar,

Ele foi à caixa dos milagres e roubou três.

Com o primeiro fez que ninguém soubesse que ele tinha fugido.

Com o segundo criou-se eternamente humano e menino.

Com o terceiro criou um Cristo eternamente na cruz

E deixou-o pregado na cruz que há no céu

E serve de modelo às outras.

Depois fugiu para o Sol

E desceu no primeiro raio que apanhou.

Hoje vive na minha aldeia comigo.

É uma criança bonita de riso e natural.

Limpa o nariz ao braço direito,

Chapinha nas poças de água,

Colhe as flores e gosta delas e esquece-as.

Atira pedras aos burros,

Rouba a fruta dos pomares

E foge a chorar e a gritar dos cães.

E, porque sabe que elas não gostam

E que toda a gente acha graça,

Corre atrás das raparigas

Que vão em ranchos pelas estradas

Com as bilhas às cabeças

E levanta-lhes as saias.

 

A mim ensinou-me tudo.

Ensinou-me a olhar para as coisas.

Aponta-me todas as coisas que há nas flores.

Mostra-me como as pedras são engraçadas

Quando a gente as tem na mão

E olha devagar para elas.

 

Diz-me muito mal de Deus.

Diz que ele é um velho estúpido e doente,

Sempre a escarrar para o chão

E a dizer indecências.

A Virgem Maria leva as tardes da eternidade a fazer meia.

E o Espírito Santo coça-se com o bico

E empoleira-se nas cadeiras e suja-as.

Tudo no céu é estúpido como a Igreja Católica.

Diz-me que Deus não percebe nada

Das coisas que criou -

"Se é que ele as criou, do que duvido." -

"Ele diz por exemplo, que os seres cantam a sua glória,

Mas os seres não cantam nada.

Se cantassem seriam cantores.

Os seres existem e mais nada,

E por isso se chamam seres."

E depois, cansado de dizer mal de Deus,

O Menino Jesus adormece nos meus braços

E eu levo-o ao colo para casa.

 

Ele mora comigo na minha casa a meio do outeiro.

Ele é a Eterna Criança, o deus que faltava.

Ele é o humano que é natural.

Ele é o divino que sorri e que brinca.

E por isso é que eu sei com toda a certeza

Que ele é o Menino Jesus verdadeiro.

 

E a criança tão humana que é divina

É esta minha quotidiana vida de poeta,

E é por que ele anda sempre comigo que eu sou poeta sempre.

E que o meu mínimo olhar

Me enche de sensação,

E o mais pequeno som, seja do que for,

Parece falar comigo.

 

A Criança Nova que habita onde vivo

Dá-me uma mão a mim

E outra a tudo que existe

E assim vamos os três pelo caminho que houver,

Saltando e cantando e rindo

E gozando o nosso segredo comum

Que é saber por toda a parte

Que não há mistério no mundo

E que tudo vale a pena.

 

A Criança Eterna acompanha-me sempre.

A direcção do meu olhar é o seu dedo apontado.

O meu ouvido atento alegremente a todos os sons

São as cócegas que ele me faz, brincando, nas orelhas.

 

Damo-nos tão bem um com o outro

Na companhia de tudo

Que nunca pensamos um no outro,

Mas vivemos juntos e dois

Com um acordo íntimo

Como a mão direita e a esquerda.

 

Ao anoitecer brincamos as cinco pedrinhas

No degrau da porta de casa,

Graves como convém a um deus e a um poeta,

E como se cada pedra

Fosse todo o universo

E fosse por isso um grande perigo para ela

Deixá-la cair no chão.

 

Depois eu conto-lhe histórias das coisas só dos homens

E ele sorri porque tudo é incrível.

Ri dos reis e dos que não são reis,

E tem pena de ouvir falar das guerras,

E dos comércios, e dos navios

Que ficam fumo no ar dos altos mares.

Porque ele sabe que tudo isso falta àquela verdade

Que uma flor tem ao florescer

E que anda com a luz do Sol

A variar os montes e os vales

E a fazer doer aos olhos dos muros caiados.

 

Depois ele adormece e eu deito-o.

Levo-o ao colo para dentro de casa

E deito-o, despindo-o lentamente

E como seguindo um ritual muito limpo

E todo materno até ele estar nu.

 

Ele dorme dentro da minha alma

E às vezes acorda de noite

E brinca com os meus sonhos.

Vira uns de pernas para o ar,

Põe uns em cima dos outros

E bate palmas sozinho

Sorrindo para o meu sono.

 

Quando eu morrer, filhinho,

Seja eu a criança, o mais pequeno.

Pega-me tu ao colo

E leva-me para dentro da tua casa.

Despe o meu ser cansado e humano

E deita-me na tua cama.

E conta-me histórias, caso eu acorde,

Para eu tornar a adormecer.

E dá-me sonhos teus para eu brincar

Até que nasça qualquer dia

Que tu sabes qual é.

 

Esta é a história do meu Menino Jesus.

Por que razão que se perceba

Não há-de ser ela mais verdadeira

Que tudo quanto os filósofos pensam

E tudo quanto as religiões ensinam ?

 

                                                                                      Fernando Pessoa

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Creio no mundo como num malmequer,

 

Porque o vejo. Mas não penso nele

 

Porque pensar é não compreender...

 

O mundo não se fez para pensarmos nele

 

(Pensar é estar doente dos olhos)

 

Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...

 

 

 

Eu não tenho filosofia; tenho sentidos...

 

Se falo na natureza não é porque saiba o que ela é,

 

Mas porque a amo, e amo-a por isso,

 

Porque quem ama nunca sabe o que ama

 

Nem sabe porque ama, nem o que é amar...

 

 

 

Amar é a primeira inocência,

 

E toda a inocência é não pensar...

 

 

 

 

 

(Fernando Pessoa) 16.gif

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O teu riso

 

 

 

Tira-me o pão, se quiseres,

 

tira-me o ar, mas não

 

me tires o teu riso.

 

 

 

Não me tires a rosa,

 

a lança que desfolhas,

 

a água que de súbito

 

brota da tua alegria,

 

a repentina onda

 

de prata que em ti nasce.

 

 

 

A minha luta é dura e regresso

 

com os olhos cansados

 

às vezes por ver

 

que a terra não muda,

 

mas ao entrar teu riso

 

sobe ao céu a procurar-me

 

e abre-me todas

 

as portas da vida.

 

 

 

Meu amor, nos momentos

 

mais escuros solta

 

o teu riso e se de súbito

 

vires que o meu sangue mancha

 

as pedras da rua,

 

ri, porque o teu riso

 

será para as minhas mãos

 

como uma espada fresca.

 

 

 

À beira do mar, no outono,

 

teu riso deve erguer

 

sua cascata de espuma,

 

e na primavera , amor,

 

quero teu riso como

 

a flor que esperava,

 

a flor azul, a rosa

 

da minha pátria sonora.

 

 

 

Ri-te da noite,

 

do dia, da lua,

 

ri-te das ruas

 

tortas da ilha,

 

ri-te deste grosseiro

 

rapaz que te ama,

 

mas quando abro

 

os olhos e os fecho,

 

quando meus passos vão,

 

quando voltam meus passos,

 

nega-me o pão, o ar,

 

a luz, a primavera,

 

mas nunca o teu riso,

 

porque então morreria.

 

 

 

Pablo Neruda

 

 

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A Outra

Amamos Sempre no Que Temos

 

AMAMOS sempre no que temos 
O que não temos quando amamos. 
O barco pára, largo os remos 
E, um a outro, as mãos nos damos. 
A quem dou as mãos? 
À Outra. 

Teus beijos são de mel de boca, 
São os que sempre pensei dar,  
E agora e minha boca toca 
A boca que eu sonhei beijar. 
De quem é a boca? 
Da Outra. 
 Os remos já caíram na água, 
O barco faz o que a água quer. 
Meus braços vingam minha mágoa 
No abraço que enfim podem ter. 
Quem abraço? 
A Outra. 

Bem sei, és bela, és quem desejei... 
Não deixe a vida que eu deseje 
Mais que o que pode ser teu beijo 
E poder ser eu que te beije. 
Beijo, e em quem penso? 
Na Outra. 

Os remos vão perdidos já, 
O barco vai não sei para onde. 
Que fresco o teu sorriso está, 
Ah, meu amor, e o que ele esconde! 
Que é do sorriso 
Da Outra? 
 Ah, talvez, mortos ambos nós, 
Num outro rio sem lugar 
Em outro barco outra vez sós 
Possamos nos recomeçar 
Que talvez sejas 
A Outra. 

Mas não, nem onde essa paisagem 
É sob eterna luz eterna 
Te acharei mais que alguém na viagem 
Que amei com ansiedade terna 
Por ser parecida  
Com a Outra. 

Ah, por ora, idos remo e rumo,  
Dá-me as mãos, a boca, o ter ser. 
Façamos desta hora um resumo 
Do que não poderemos ter. 
Nesta hora, a  única, 
Sê a Outra.  

Fernando Pessoa
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Manuel Bandeira

 

 

 

TEU CORPO CLARO E PERFEITO

 

 

 

Teu corpo claro e perfeito,

 

 

 

– Teu corpo de maravilha,

 

Quero possuí-lo no leito

 

Estreito da redondilha...

 

 

 

Teu corpo é tudo o que cheira...

 

Rosa... flor de laranjeira...

 

 

 

Teu corpo, branco e macio,

 

É como um véu de noivado...

 

 

 

Teu corpo é pomo doirado...

 

 

 

Rosal queimado do estio,

 

Desfalecido em perfume...

 

 

 

Teu corpo é a brasa do lume...

 

 

 

Teu corpo é chama e flameja

 

Como à tarde os horizontes...

 

 

 

É puro como nas fontes

 

A água clara que serpeja,

 

Quem em antigas se derrama...

 

 

 

Volúpia da água e da chama...

 

 

 

A todo o momento o vejo...

 

Teu corpo... a única ilha

 

No oceano do meu desejo...

 

 

 

Teu corpo é tudo o que brilha,

 

Teu corpo é tudo o que cheira...

 

Rosa, flor de laranjeira...

 

 

 

 

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Ausência - Vinicius de Moraes

 

(lindo! 04)

 

Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces

 

Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto.

 

No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida

 

E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.

 

Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado

 

Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados

 

Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada

 

Que ficou sobre a minha carne como uma nódoa do passado.

 

Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face

 

Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada

 

Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite

 

Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa

 

Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço

 

E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.

 

Eu ficarei só como os veleiros nos portos silenciosos

 

Mas eu te possuirei mais que ninguém porque poderei partir

 

E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas

 

Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.

 

 

 

 

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Não: não digas nada!

 

Não: não digas nada!
Supor o que dirá
A tua boca velada
É ouvi-lo já 

É ouvi-lo melhor
Do que o dirias.
O que és não vem à flor
Das frases e dos dias. 

És melhor do que tu.
Não digas nada: sê!
Graça do corpo nu
Que invisível se vê.
 

Fernando Pessoa

 

 
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  • 2 weeks later...
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O Rebanho<?:namespace prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" />

 

Oh! Minhas alucinações!

Vi os deputados, chapéus altos,

Sob o pálio vesperal, feito de mangas-rosas,

Saírem de mãos dadas do Congresso...

Como um possesso num acesso em meus aplausos

Aos salvadores do meu estado amado!...

 

Desciam, inteligentes, de mãos dadas,

Entre o trepidar dos taxis vascolejantes

A rua Marechal Deodoro...

 

Oh! Minhas alucinações!

Como um possesso num acesso em meus aplausos

Aos heróis do meu estado amado!...

 

E as esperanças de ver tudo salvo!

Duas mil reformas, tres projectos...

Emigram os futuros nocturnos...

E verde, verde, verde!...

Oh! Minhas alucinações!

Mas os deputados, chapéus altos,

Mudavem-se pouco a pouco em cabras!

Crescem-lhes os cornos, descem-lhes as barbinhas...

 

E vi que os chapéus altos do meu estado amado

Com os triangulos de madeira no pescoço,

Nos verdes esperanças, sob as franjas de oiro da tarde

Se punham a pastar

Rente do palácio do senhor presidente...

Oh! Minhas alucinações!

 

Mário de Andrade

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Posso escrever os versos mais tristes esta noite.

Escrever, por exemplo: "A noite está estrelada,


e tiritam, azuis, os astros lá ao longe".

O vento da noite gira no céu e canta.




Posso escrever os versos mais tristes esta noite.

Eu amei-a e por vezes ela também me amou.

Em noites como esta tive-a em meus braços.

Beijei-a tantas vezes sob o céu infinito.




Ela amou-me, por vezes eu também a amava.

Como não ter amado os seus grandes olhos fixos.

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.

Pensar que não a tenho. Sentir que já a perdi.




Ouvir a noite imensa, mais imensa sem ela.

E o verso cai na alma como no pasto o orvalho.

Importa lá que o meu amor não pudesse guardá-la.


A noite está estrelada e ela não está
comigo.




Isso é tudo. Ao longe alguém canta. Ao longe.


A minha alma não se contenta com havê-la perdido.


Como para chegá-la a mim o meu olhar procura-a.

O meu coração procura-a, ela não está
comigo.




A mesma noite que faz branquejar as mesmas árvores.


Nós dois, os de então, já não
somos os mesmos.

Já não a amo, é verdade, mas tanto que
a amei.

Esta voz buscava o vento para tocar-lhe o ouvido.




De outro. Será de outro. Como antes dos meus beijos.


A voz, o corpo claro. Os seus olhos infinitos.

Já não a amo, é verdade, mas talvez a
ame ainda.

É tão curto o amor, tão longo o esquecimento.




Porque em noites como esta tive-a em meus braços,


a minha alma não se contenta por havê-la perdido.


Embora seja a última dor que ela me causa,

e estes sejam os últimos versos que lhe escrevo.




Pablo Neruda


star




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Revivo em silêncio,
doces despedidas.
Perdidas nos tempos
e estradas da vida.


Relembro palavras,
de fé e de calma,
carinhos, doçuras,
calando na alma.

Envolvendo meus braços,
os teus, calor que senti.
Aquecendo meus lábios,
beijos, tantos, que tremi.

Olhar, que o meu refletiu.
Pensar, que ao meu se fundiu.

Momentos tão nossos,
encantos e votos,
fizeram-se meus,
como se em mim coubessem,
teus cânticos roucos,
teus desejos loucos,
que eram tão meus,
como se em mim vivessem.

Repasso, em curtos flashes,
tão pouco foi, tanto se tornou,
em mim, fizeram-se raízes,
profundas, lembrança que restou,
de outros tempos mais felizes.
Hoje, não mais me aqueces.

Nem teus lábios mais me tocam,
ou sequer meu nome, pronuncias,
não carregam ecos os ventos,
apenas minhas memórias provocam,
envolto em silêncio, noites frias,
imagens de tí, fixos pensamentos.

Golden

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Amar dentro do peito...

 

 

 

Amar dentro do peito uma donzela;

 

Jurar-lhe pelos céus a fé mais pura;

 

Falar-lhe, conseguindo alta ventura,

 

Depois da meia-noite na janela:

 

 

 

Fazê-la vir abaixo, e com cautela

 

Sentir abrir a porta, que murmura;

 

Entrar pé ante pé, e com ternura

 

Apertá-la nos braços casta e bela:

 

 

 

Beijar-lhe os vergonhosos, lindos olhos,

 

E a boca, com prazer o mais jucundo,

 

Apalpar-lhe de leve os dois pimpolhos:

 

 

 

Vê-la rendida enfim a Amor fecundo;

 

Ditoso levantar-lhe os brancos folhos;

 

É este o maior gosto que há no mundo.

 

 

 

Bocage

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Não é uma poesia, mas é uma grande história de amor que vale a pena relembrar:

Corpo e alma

A melhor representação visual do amor que

conheço é o Eros desperta Psiquê com um Beijo, um belíssimo e

perturbador conjunto em mármore polido que Antônio Canova esculpiu em

1793. Mesmo quem não acredita neste indefinível sentimento poderá

apreciar o que o artista soube extrair da pedra fria; mesmo os mais

céticos, mesmo os que reduzem o amor a uma espécie de loucura

provisória haverão de concordar que esta escultura é um daqueles raros

momentos em que o tema se encontra com a forma e a intenção, para criar

uma obra que jamais nos deixará indiferentes.

 

Primeiro, Canova acertou ao escolher um mito como motivo,

contentando assim a gregos e troianos - uns porque vêem no amor uma

realidade mais profunda, como o mito, que não se deixa capturar

inteiramente pelas malhas da razão; outros, ao contrário, porque

consideram o sentimento amoroso, assim como a religião, uma fantasia

que ainda sobrevive só porque tem seguidores. Segundo, acertou porque

escolheu exatamente este mito, que narra os encontros e desencontros -

até o final feliz, o que é tão raro - de dois encantadores e

especialíssimos personagens: ele é Eros, o ardente Deus do Amor, o

filho alado de Afrodite; ela é Psiquê, belíssima princesa, cujo nome,

não por acaso, também significa "alma", na língua grega.

 

Os dois casam secretamente e vivem felizes, mas o deus só vem

encontrá-la depois que as luzes se apagam, pois ela não pode saber quem

é ele. Psiquê concorda, mas, certa noite, devorada pela curiosidade,

espera que ele adormeça e acende uma vela; maravilhada com o que vê,

deixa cair uma gota de cera quente no ombro dele. Ela rompeu o trato, e

Eros se afasta, magoado, disposto a não a vê-la nunca mais. Psiquê,

então, arrependida, vaga pelos caminhos e pelos campos, procurando em

vão encontrá-lo, até que é atraída por Afrodite para uma fatal

armadilha que a prostra num sono mortal. É quando, avisado pelos

deuses, que viam o jovem casal com grande simpatia, Eros desce onde ela

está e a faz voltar à vida com um beijo salvador.

 

Pois foi bem esta a cena que o cinzel do escultor eternizou.

Eros, com as asas ainda abertas, parece ter descido do céu naquele

instante; Psiquê, de olhos cerrados, enlaça-o com delicadeza e ergue o

rosto para oferecer-lhe os lábios. Os corpos são modelados suavemente

para não desviar nosso olhar das duas cabeças que se aproximam, naquele

momento culminante de todas as histórias de amor, aquele segundo

infinito em que vai se encurtando o espaço que separa as duas bocas que

estão a ponto de se unir. Canova conseguiu fixar toda a magia do beijo,

esta genial criação do Ocidente que põe em contato, ao mesmo tempo, o

corpo e a alma de duas pessoas e permite que elas troquem entre si a

ternura, o desejo e a paixão que sentem reciprocamente. Às vezes, a

tudo isso ainda vem se somar o amor, algo que não sabemos definir, mas

que sabemos reconhecer quando aparece - ou quando simplesmente se

acaba.

 

Claúdio Moreno

 

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 Hummmm ! Movio... Afff! 1010101010

 

 

 Sedução

Rubras faces
Rubros lábios
molhados
Caio de joelhos
cai a fina camisola perfumada
Inebriante
mais que o melhor néctar
e sem mais...

Te seduzo!

Abuso,
Lambuzo tudo
com meu arfar molhado
com leite e mel romano
com palavras e defeitos.
Mundano,
Humano...

Te seduzo!

Com carinho.
Delicada porcelana.
te envolvo e te engano.
Há malícia no ar.
A vontade inundando tudo
a nós...
mas ainda não!

Te seduzo!

Seus olhos já não estão em mim.
Estão fechados, advinhando
meus toques.
Suas mãos suadas
Me conduzindo...
... aprendo seu corpo.

Te seduzo!

Cada pêlo
cada poro,
cada milímetro quadrado
dessa tez morena
implorará por mim
E de repente afundo

Reparo, então
que no fim do fundo
não mais seduzo...
Seduzido me confundo,
com você.

Claudio de F.Barboza

 

 
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O inseto

 

 

 

Das tuas ancas aos teus pés

 

quero fazer uma longa viagem.

 

 

 

Sou mais pequeno que um inseto.

 

 

 

Percorro estas colinas,

 

são da cor da aveia,

 

têm trilhos estreitos

 

que só eu conheço,

 

centímetros queimados,

 

pálidas perspectivas.

 

 

 

Há aqui um monte.

 

Nunca dele sairei.

 

Oh que musgo gigante!

 

E uma cratera, uma rosa

 

de fogo umedecido!

 

 

 

Pelas tuas pernas desço

 

tecendo uma espiral

 

ou adormecendo na viagem

 

e alcanço os teus joelhos

 

duma dureza redonda

 

como os ásperos cumes

 

dum claro continente.

 

 

 

Para teus pés resvalo

 

para as oito aberturas

 

dos teus dedos agudos,

 

lentos, peninsulares,

 

e deles para o vazio

 

do lençol branco

 

caio, procurando cego

 

e faminto teu contorno

 

de vaso escaldante!   

 

 

 

Pablo Neruda

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O Amor do Soldado

 

 

 

(1952)

 

(Dos Versos do capitão)

 

 

 

Em plena guerra levo-te a vida

 

a ser o amor do soldado.

 

 

 

Com teu pobre vestido de seda,

 

tuas unhas de pedra falsa

 

te toco caminhar pelo fogo

 

 

 

Vem aqui, vagabunda,

 

vem beber sobre meu peito

 

rubro sereno.

 

 

 

Não querias saber onde andavas,

 

eras a companheira do baile

 

não tinhas partido nem pátria.

 

 

 

E agora a meu lado caminhando

 

vês que comigo vai a vida

 

e que detrás está a morte.

 

 

 

Já não podes voltar a dançar

 

com teu traje de seda na sala.

 

 

 

Te vais a rasgar os sapatos,

 

mas vais crescer na marcha.

 

 

 

Tens que andar sobre as espinhas

 

deixando gotinhas de sangue.

 

 

 

Beija-me de novo, querida

 

Limpa o fuzil, camarada

 

 

 

 

 

Pablo Neruda

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CANSADO

 

 

Estou cansado...

 

Cansado das novelas e dos filmes saturados

 

Cansado dos abraços vazios e dos olhares gelados

 

Cansado dos amores descartáveis e das inutilidades

recicláveis

 

Cansado dos programas de domingo

 

Cansado de ficar dormindo

 

Cansado dos programas para adultos

 

Cansado dos políticos corruptos

 

Cansado de ver baixaria virar atração e violência diversão

 

Cansado da moda e dos estilos

 

Cansado das modelos e dos seus vestidos

 

Cansado do julgar e da beleza vulgar

 

Cansado do dia e da noite

 

Cansado das letras e dos números

 

Cansado dos quase famosos e das estrelas de Hollywood

 

Cansado das reclamações

 

Cansado das sugestões

 

Cansado dos perdões

 

Cansado das objeções

 

Cansado do sonho americano

 

Cansado do punk rock original

 

Cansado do pop comercial

 

Cansado das mentes fechadas, comercialmente preparadas

 

Cansado das idéias pré-concebidas

 

Cansado das bebidas

 

Cansado das mudanças ainda não digeridas

 

Cansado da censura e do falso moralismo

 

Cansado do estresse e da depressão

 

Cansado do sim e do não

 

Cansado dos sentimentos desvalorizados

 

Cansado dos segredos revelados

 

Cansado das fórmulas, dos módulos, dos rótulos

 

Cansado da arte moderna e da natureza morta

 

Cansado dos sorrisos plásticos e das lágrimas artificiais

 

Cansado dos quase amigos

 

Cansado dos inimigos

 

Cansado dos supermercados

 

Cansado dos rostos esteticamente modificados

 

Cansado do sarcasmo, do egoísmo, do individualismo

 

Cansado do amar sem ser amado

 

Cansado de ser ignorado

 

Cansado dos clichês dos cinemas

 

Cansado de tentar

 

Cansado de bater e ninguém abrir

 

Cansado dos sonhos e das ilusões

 

Cansado de recolher os pedaços que caem

 

Cansado dos pensamentos que não saem

 

Cansado do amor

 

Cansado da paixão

 

Cansado de esperar que alguém estenda a mão.

 

 

 

 

 

                                                                 Gabriel Conceição de Oliveira

 

 

 

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O Mar de Tuas Mãos

 

 

 

O mar avança

 

suavemente, sobre a areia

 

E você suavemente

 

sobre meu corpo

 

 

 

 

 

Corpo que exala paixão

 

E de tuas mãos, ávidas

 

carinhosas a me percorrer

 

 

 

 

 

A lua continua linda,

 

Não ofereço resistência

 

mas estremeço a teu toque

 

 

 

 

 

Mãos que afagam

 

num frenesi ardente

 

levando-me a explosão

 

total de sentimentos

 

 

 

Marici Bross

 

 

 

 

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     Você quer ficar comigo de manhã<?:namespace prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" />

Mas você só me abraça quando eu durmo

Fui feito para caminhar sobre a água

Agora fui fundo demais

 

Para cada pedaço meu que quer você

Há um outro pedaço que se afasta

 

Porque você me faz sentir uma coisa

Que me assusta

 

Você esperou durante horas

Só para ficar um pouco sozinha comigo

E eu posso dizer que nunca

comprei flores para você

Não sei o que elas significam

 

Nunca pensei que eu amaria alguém

Que fosse o sonho de outra pessoa

 

Talvez seja tarde demais

E as palavras que nunca consegui dizer

Virão à tona mesmo assim

 

Algum dia,

poderei te chamar

 do meu coração

 

(J. Morrison)

 
Maria shy2007-06-27 11:30:57
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Sou sua,
desde o dia em que me viu pela primeira vez,
desde que me tomou como mulher,
desde que olhei em teus olhos
e vi neles todos os meus sonhos...

Sou sua,
acho que desde sempre,
talvez eu seja sua mesmo antes de nascer,
porque em mim
bate um coração compassado com o seu,
ou o mesmo coração em nós dois...

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Às vezes não sei quem sou... ando perdida nestas encruzilhadas que a vida me propõe... por vezes sigo mesmo o caminho errado, somente para me aperceber de que já não me é dada a oportunidade de trilhar o certo... Aprendi que há coisas que simplesmente não estão destinadas a acontecer, enquanto outras são simplesmente inevitáveis, independentemente da minha vontade de querer ou não contrariá-las... Quando a vida me magoa deixo que a chuva se misture às minhas lágrimas e sigo em frente... sempre em frente... uma folha jogada no vento... à mercê das suas correntes... com nada mais que uma ténue esperança de chegar a bom porto... Esta sou eu... e estas as minhas palavras... parte daquilo que fui, parte daquilo que sou... necessariamente parte do que serei... 01
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Amo-te… amo-te… amo-te… Quero encher a boca com esta palavra, da mesma forma com que me encheste o coração. Ainda não consegui deixar de sorrir desde que desliguei o telefone. Às vezes dou por mim a pensar o quão desatinado é este sentido de se estar apaixonado, prestes a levantar voo ao som de uma única palavra. Adoro ouvir-te dizer que me amas, sabias? É como encontrar um oásis ao fim da milésima duna de areia quando nos achávamos já prontos a sucumbir à sede do deserto… como abrir uma janela de manhã e enfrentar o sol de frente com um sorriso quando temêramos um minuto antes encontrar a tristeza da chuva… Mas, mesmo essa, é música para os meus ouvidos… porque tamborila o teu nome para mim no vidro das janelas enquanto me aconchego no calor dos cobertores e deixo que os meus sonhos divaguem por esses caminhos ocultos que me levam sempre até ti…<?:namespace prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" />

 

       Gosto de te trazer assim, bem perto de mim… dentro do meu coração… E gosto de te sentir pular dentro do meu peito quando ouço a tua voz…Eu nasci para te encontrar e tentar fazer-te feliz… É essa certeza que me impede de soçobrar quando erro… quando te magoo, quando me magoas a mim… Esse sentido de saber que há pessoas que temos que conseguir manter na nossa vida porque são demasiado importantes para as deixarmos partir… Essa vontade de mudar, de ir para além de nós mesmos para nos tornarmos melhores que aquilo de que somos feitos…

 

       Quando te vejo sei que fui feita para amar-te… para ansiar o momento em que vais cingir-me entre os braços e fazer-me parte de ti… Amar-te é fácil demais. Por isso quero fazer de manter-te o desafio da minha vida… Porque faz parte de nós amar ainda mais o que nos dá luta… o que nos custa a conseguir… aqueles por quem nos obstinamos em jamais baixar os braços. Não vou desistir de ti… porque mesmo naqueles momentos em que nos levamos à loucura sei que vou amar-te para sempre… tal e qual como és… a pessoa linda e doce por quem me apaixonei… a pessoa que me faz sorrir durante horas com uma só palavra… o homem que amo do fundo do coração e a quem quero dar tudo de mim… até ao último grão de magia…08 TE AMO MEU LINDO

 

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Finá de ato

 Dispóis de tanto amor
de tanto cheiro cheiroso
de tanto beijo gostoso, nós briguemos
Foi uma briga fatá

 Eu disse : cabou-se !
 Ele disse: cabou-se !

E nós fiquemos mudo, sem vontade de falá.
Xinguemos, sim, nóis se xinguemos

Quarta-feira, nóis si encontraremus
Nenhum vai tenta disfarçá
Eu vo parti para riba dele
Cum fogo aceso nu oiá

 Vai sê  tanto cheiro cheiroso
 Vai sê tanto beijo gostoso...

Antonce nóis si alembraremos
O Brasil é tão pequeno
Nem vai pode nos separá !

Afff! 08
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O dia amanheceu chuvoso.

A natureza chora.

Chora também meu coração.

A saudade 

que sua ausência me trás,

Aperta-me o peito.

Sufoca em mim a voz

Que teima em querer

Gritar alto e para todos,

o quanto amo você.

Mas o grito fica retido

No vazio da solidão 

Em que me encontro.

Resta-me apenas o consolo 

De poder molhar meu rosto

Nas águas da chuva

E misturar minhas lágrimas

Às lágrimas da natureza

Deixando-as, juntas, caírem 

Fertilizando o solo que nos sustenta.

080808

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