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Forum Cinema em Cena

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1) Tijuana Me Faz Feliz (Tijuana Makes Me Happy, México, 2005). Dirigido por Dylan Verrechia. Com: Pablo Tendilla Ortiz, Pablo Tendilla Rocha, Aidee Gonzalez, Darina Rabago Soto, Jorge Hernández.

 

            Buscando seguir uma linha neo-realista que confere um caráter documental à narrativa, o filmeacompanha o garoto mexicano Índio (Ortiz) em seu cotidiano na fronteiriça Tijuana. Obcecado em comprar um belo galo de briga, ele tenta levantar o dinheiro necessário vendendo empanadas, lavando carros e, eventualmente, trabalhando como mula para traficantes locais.

            A opção por escalar atores amadores que supostamente interpretam personagem bem parecidos consigo mesmos ajuda, por um lado, a conferir autenticidade ao projeto, mas, por outro, compromete o longa em função da inexpressividade do elenco selecionado (o que fica ainda mais óbvio graças à narração sem vida feita pelo jovem Pablo Tendilla Ortiz).

            Enquanto isso, o diretor Dylan Verrechia exibe uma aborrecida predileção por efeitos de montagem deselegantes, mais apropriados a vídeos produzidos na década de 80, como denuncia o excesso de cortinas verticais e horizontais. Igualmente preocupante, aliás, é sua decisão de encenar a primeira experiência sexual de Índio ao enfocar o jovem protagonista tocando e sendo tocado por uma garota seminua – e o claro desconforto do garoto nem sequer pode ser atribuído ao fato deste ser um bom ator, já que ele não o é. Além disso, as várias brigas de galo retratadas ao longo da projeção certamente incomodarão àqueles que combatem – ou apenas lamentam – a crueldade contra animais.

            Para finalizar, o cineasta demonstra um déficit de atenção quase infantil, já que permite que sua câmera se “distraia” com praticamente qualquer elemento que entre em campo, tirando o foco da narrativa e tornando o filme bem mais longo do que o ideal. (2 estrelas em 5)

 

2) Wholetrain (Idem, Alemanha, 2006). Dirigido por Florian Gaag. Com: Mike Adler, Florian Renner, Elyas M’Barek, Jacob Matschenz, Alexander Held.

 

            Não sou uma destas pessoas que consideram o grafite e a pichação como atos semelhantes de vandalismo. Enquanto este último limita-se a um ato criminoso e anti-social de demarcação de território, o primeiro envolve ambição e visão artísticas, mesmo que nem sempre as honre.

            Infelizmente, neste sentido, a produção alemã comandada por Florian Gaag não é particularmente lisonjeira com relação ao grafite, já que é focada em um grupo de jovens que, apesar da preocupação estética que dedicam aos seus trabalhos, parecem mais interessados em vencer uma disputa territorial com um grupo de grafiteiros rivais. Para piorar, a cena em que surgem assinando seus nomes de guerra em bancos e janelas de um vagão de metrô escancara a triste verdade: a de que os protagonistas de Wholetrain são meros pichadores travestidos de grafiteiros.

            E isto é uma pena, já que as seqüências nas quais vemos os personagens praticando sua arte trazem uma energia similar àquelas vistas em obras como Pollock, com a diferença de que, aqui, as tintas e pincéis cedem lugar às latas de spray. Aliás, particularmente fiquei bem mais interessado na “gangue” ATL, rival dos protagonistas, já que ali a arte parece ter bem mais importância do que a rivalidade barata.

            Como se não bastasse, Wholetrain parece se esforçar para fazer drama rasteiro a partir do destino de um personagem em particular, Tino (vivido unidimensionalmente por Florian Renner) – e o problema, neste caso, é que o sujeito, além de não ter o carisma que o filme acredita, ainda é um imbecil irritante e irresponsável. Longe, portanto, de ser o candidato ideal para suscitar nosso interesse.

            Apesar de tudo, os grafites criados ao longo da projeção (especialmente aqueles assinados pela ATL) são memoráveis. (2 estrelas em 5)

 

3) Mutum (Idem, Brasil/França, 2007). Dirigido por Sandra Kogut. Com: Thiago da Silva Mariz, Wallison Felipe Leal Barroso, João Miguel, Izadora Fernandes, Rômulo Braga, Eduardo Moreira, Paula Regina Sampaio da Silva, Maria das Graças Leal Macedo, Flávio Bauraqui.

 

            Deveria se transformar em lei: todo filme brasileiro deveria ter, em sua equipe, um preparado de elenco como Sérgio Penna ou Fátima Toledo. Esta última, aliás, está por trás das magníficas atuações de dois dos filmes mais eficazes que vi até agora na Indie 2007: A Casa de Alice e este Mutum.

            Inspirado na novela “Campo Geral”, presente no livro “Manuelzão e Miguilim”, de Guimarães Rosa, o filme acompanha o garotinho Thiago (leia-se: Miguilim) em sua difícil vida no miserável interior do país, onde a brutalidade de um pai machista e ignorante torna a infância dos filhos ainda mais dura. Retratando com talento e sensibilidade as brincadeiras (e também as dores) do dia-a-dia de Thiago e seus irmãos (especialmente Felipe – leia-se: Dito – com quem ele divide o quarto e seus questionamentos sobre a vida), a diretora Sandra Kogut transporta o espectador até aquele universo rural, cercando-nos com os sons e as texturas do cotidiano na roça.

            Enquanto isso, o elenco impecável preenche cada centímetro daquele mundo: João Miguel é a síntese perfeita e assustadora de um homem criado como um bruto e que, naturalmente, retribui o favor em sua família, ao passo que Izadora Fernandes, com sua beleza de mulher real, da “terra”, traz uma necessária doçura desesperançada ao filme.

            Mas o destaque reside mesmo nas surpreendentes performances dos pequenos Thiago da Silva Mariz e Wallison Felipe Leal Barroso, que comovem, fazem rir e, acima de tudo, convencem o público de estar testemunhando algo tristemente real. (4 estrelas em 5)

 

4) Os Vivos e os Mortos (The Living and the Dead, Inglaterra, 2006). Dirigido por Simon Rumley. Com: Leo Bill, Roger Lloyd-Pack, Kate Fahy, Sarah Ball.

 

            Há um curta-metragem interessante aprisionado em Os Vivos e os Mortos, longa de 83 minutos de duração escrito e dirigido pelo britânico Simon Rumley. Nele, um jovem psiquicamente instável (esquizofrênico, possivelmente) torna-se temporariamente responsável por cuidar de sua mãe adoentada, com resultados previsivelmente desastrosos. Não é uma história interessante por si só, mas que oferece uma rica oportunidade para bons invencionismos narrativos.

            Aliás, este é o problema do longa: sem ter uma trama suficientemente elaborada para sua duração, o filme depende excessivamente da criatividade de seu diretor – e este simplesmente não corresponde às expectativas. Sim, a primeira vez em que ele emprega a trilha sonora para indicar a intensidade da perturbação mental de James (Bill) e sua aquietação após tomar o medicamento, o resultado é eficiente (mesmo que não original). Porém, quando ele repete o procedimento duas, três ou quatro vezes, a técnica se desgasta de maneira rápida, tornando-se enfadonha – e, lamentavelmente, a repetição é algo constante na abordagem adotada pelo cineasta, como podemos constatar pelas várias seqüências com câmera acelerada.

            Enquanto isso, o roteiro se encarrega de complicar as coisas ao mostrar-se terrivelmente inconsistente e ao apelar para choques baratos em seu absurdo terceiro ato. Entre estas inconsistências, vale apontar, encontra-se o estranho isolamento no qual vivem os três personagens principais: como conciliar, por exemplo, a suntuosidade da mansão na qual residem e a ausência dos mais básicos itens, como telefones celulares ou mesmo extensões para a linha fixa (a motivação narrativa para isto é óbvia: isolar a Mãe, impedindo-a de solicitar ajuda, já que isto acabaria com a história. Ainda assim, soa implausível.). E por que a mansão encontra-se em claro estado de decadência (notem o papel de parede descascado e a ausência de mobília) se o tal Lorde Brocklebank (Lloyd-Pack) tem recursos suficientes para providenciar uma cirurgia particular em sua residência, incluindo a contratação de uma grande equipe médica e a instalação de uma sala de operações completa?

            De todo modo, Os Vivos e os Mortos cumpre aquele que é certamente seu objetivo principal: criar uma forte atmosfera de desconforto e inquietamento. O problema é que esta se dilui na duração excessiva de um longa que, repito, tem alma de curta. (3 estrelas em 5)

 

5) O Dia em que o Porco Caiu no Poço (Daijiga umule pajinnal, Coréia do Sul, 1996). Dirigido por Hong Sang-soo. Com: Kim Eui-sung, Lee Eung-kyung, Park Jin-seong, Cho Eun-sook.

 

            O primeiro filme do cineasta sul-coreano Hong Sang-soo é claramente um projeto ambicioso demais para as mãos de seu então inexperiente diretor. Prejudicado por um ritmo irregular e por uma narrativa com pouco foco, o filme salta de um personagem a outro de maneira quase sempre abrupta, deixando conflitos sem resolução (ou resolvendo-os artificialmente) apenas para manter algo acontecendo na tela, por menos interessante que este “algo” se revele.

            Com isso, o espectador acaba sofrendo mais do que os personagens, cujos dramas e obstáculos tornam-se não um recurso dramático capaz de envolver ou comover o público, mas algo do qual queremos nos ver livres o mais rapidamente possível.

            Um sentimento frustrado pelos intermináveis 115 minutos de projeção. (2 estrelas em 5)

 

6) Irina Palm (Idem, Inglaterra, 2007). Dirigido por Sam Garbarski. Com: Marianne Faithfull, Miki Manojlovic, Kevin Bishop, Siobhan Hewlett, Corey Burke, Jenny Agutter, Dorka Gryllus.

 

            Se O Barato de Grace trazia uma habitante de meia-idade de uma pacata e conservadora cidadezinha britânica cultivando maconha para pagar as dívidas deixadas pelo marido suicida, este Irina Palm investe no contraste entre uma habitante de meia-idade da periferia de Londres e o submundo do comércio sexual, com resultados não tão bem-sucedidos quanto aquele longa estrelado por Brenda Blethyn.

            Não que Irina Palm não seja um filme interessante ou mesmo divertido, pois é – e é neste aspecto que residem seus problemas, já que, para justificar sua trama principal, o longa cria um drama pesado demais, sendo obrigado a praticamente ignorá-lo quando este já cumpriu sua função. Este drama diz respeito ao pequeno Ollie (Burke), neto da desinteressante Maggie (Faithfull, excelente), que se encontra gravemente enfermo e precisando de um novo tratamento disponível apenas na Austrália. Para levantar o dinheiro necessário para a viagem, Maggie acaba aceitando um emprego numa boate de strip-tease como “punheteira”: posicionada em uma cadeira ao lado de um buraco na parece, ela passa as horas masturbando os pênis que os clientes da boate (situados no aposento ao lado) enfiam no orifício – e suas mãos macias logo a transformam em sucesso, o que leva o dono do lugar a batizá-la de Irina Palm, transformando-a em “marca” junto aos freqüentadores locais.

            O contraste entre os modos conservadores de Maggie e a natureza sexual de seu trabalho acabam servindo, obviamente, como pretexto para a comédia – e esta é bastante eficaz, garantindo o sucesso do filme como divertido passatempo. Por outro lado, o humor freqüente e rasgado compromete irremediavelmente os elementos mais dramáticos da história, tornando difícil, para o público, que a figura adoentada de Ollie se torne algo mais do que uma desculpa para que possamos ver a protagonista se adaptando à vida de punheteira (o termo é dela; estou apenas repetindo). Para piorar, o roteiro escancara sua falta de interesse na subtrama envolvendo o neto doente, chegando a sacrificar sua lógica em prol de tudo que envolve as atividades de Maggie na boate: em certo momento, por exemplo, um médico com expressão preocupada informa que Ollie tem apenas seis semanas para fazer a viagem para a Austrália – e, pouco depois, descobrimos que mais duas semanas se passaram, deixando apenas outras quatro para que o garotinho tenha seu tratamento iniciado. Assim, quando Maggie entrega uma determinada quantia para o filho e a nora, esperamos que estes providenciem com urgência a viagem, mas outras três semanas se passam e nada parece mudar (ao contrário: o dinheiro nem parece ter sido tocado!).

Por que isto ocorre? Simples: para que Tom (Bishop), filho de Maggie, ainda possa estar na Inglaterra a fim de entrar em conflito com sua mãe e para que a ida para a Austrália funcione como clímax dramático – o que não seria possível caso esta ocorresse no meio da projeção. Com isso, o roteiro sacrifica a própria lógica apenas para arrancar mais uma ou outra risada e para criar um desfecho artificial no qual os conflitos são resolvidos rápida e insatisfatoriamente, dependendo daquelas velhas cenas nas quais um personagem sorri levemente para outro enquanto, com um aceno de cabeça, indica que “agora está tudo bem”.

Pena. Um filme divertido como Irina Palm merecia ser trabalhado com mais cuidado. (3 estrelas em 5)

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