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Forum Cinema em Cena

A Crítica de Cinema Está em Crise?


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Texto do blog da Ilustrada, caderno da Folha de SP:

25/10/2007

A crítica de cinema está em crise?

Há uma crise na cinefilia? Os espectadores deixaram de acompanhar a opinião dos críticos? Essas questões motivam um interessante debate nas páginas da versão impressa da Ilustrada de ontem e de hoje. A tese da cinefilia em xeque foi apresentada por Leon Cakoff, diretor da Mostra, na entrevista coletiva do festival, em 6 de outubro. Naquela ocasião, Cakoff afirmou: "Sou crítico. Caiu a ficha. Estamos perdendo a platéia. Hoje, a cinefilia não é mais como no meu passado".

A Folha decidiu então, em 8/10, convidar Cakoff para desenvolver mais seu raciocínio e aprofundar a discussão. O resultado foi o artigo "Não cabe à crítica querer educar o cinema", publicado na Ilustrada de ontem. Nele, o diretor do festival (e também cineasta, distribuidor e exibidor de cinema) escreveu:

"Críticos e cinéfilos precisam reaprender que filmes e seus autores podem existir independentemente de suas opiniões. Críticos e cinéfilos precisam parar de querer educar os cineastas com suas opiniões ou desconsiderações excludentes. [...] Críticos devem conduzir filmes e seus pensamentos com as fragilidades requeridas. Não devem entregar produtos aos consumidores finais já destruídos na embalagem. Devem deixar a própria vida sedimentar os fragmentos de filmes que dão base a nossos conceitos e sabedorias. Os filmes devem voltar a ser vistos como materiais de construção."

A resposta ao diretor da Mostra está na Ilustrada desta quinta. Na réplica "Cabe à crítica dividir o amor ao cinema", o crítico da Folha Cássio Starling Carlos rebate a afirmação de Cakoff contra as "opiniões e considerações excludentes" de críticos e cinéfilos:

"Tal tipo de acusação reproduz o estereótipo que separa os filmes entre 'os que a crítica aprova, e o público detesta' e 'os que o público adora, e os críticos odeiam'. Tal separação, quando radicalizada, leva a supor que, de um lado, os críticos só escrevem para eles e que, de outro, o público não se interessa pela opinião da crítica."

O crítico da Folha avalia ainda que houve uma democratização da crítica de cinema no Brasil devido à recente expansão de sites e revistas dedicados ao assunto, casos das publicações virtuais Cinética e Contracampo e das impressas Paisà e Teorema. "Tal democratização vem aos poucos suprimindo o totalitarismo do gosto e abalando os resíduos de dogmatismo, na medida em que se permite publicar argumentos contrastados e/ou opostos, ampliando os horizontes de quem apenas lê e ainda mais de quem escreve", aponta Starling Carlos.

*

Antes de tudo, recomendo a leitura da íntegra dos dois artigos. Pessoalmente, estou de pleno acordo com o crítico da Folha. Não há crise na cinefilia nem na crítica, ao menos não no sentido de decadência. Há sim uma transformação em curso, em que as fontes de informação sobre cinema se ampliam rapidamente. De uns tempos para cá, os espectadores têm à disposição não só as resenhas dos cadernos culturais dos grandes jornais e revistas mas também uma gama crescente de publicações especializadas, a maioria delas na internet.

A mídia virtual, de custo sensivelmente menor que a mídia impressa, permite a criação desses novos espaços de análise cinematográfica, que conseguem se manter mesmo com baixo (às vezes nenhum) retorno financeiro.

Com o encolhimento físico dos jornais diários ao longo dos anos, o espaço dedicado à crítica de cinema (e ao noticiário como um todo) foi obviamente reduzido.  Em contrapartida, a cada semana há um número maior de estréias nos cinemas. Nesse cenário, os cadernos culturais tentam selecionar, de forma ainda mais criteriosa, quais filmes serão resenhados, levando em conta os muitos perfis de seus leitores.

É natural, então, que uma parte da crítica migre para a internet e se desenvolva nela. Ao contrário do que argumenta Leon Cakoff, não há "menos críticos empenhados na formação de platéias". Há mais. Eles continuam nos diários impressos, porém com menos espaço do que em décadas passadas, e se multiplicam na rede. Basta saber onde procurá-los.

*

E você, caro leitor, cinéfilo ou crítico? O que pensa desse debate?

=======================

 

Alguém aí é assinante da UOL? Os artigos na íntegra só estão disponíveis para quem é assinante. Quem for, favor pegar os textos na íntegra e postar aqui.

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Artigo

 

 

 

Não cabe à crítica querer educar o cinema

 

 

LEON CAKOFF

 

 

ESPECIAL PARA A FOLHA

 

 

 

As evidências são flagrantes. Há menos espectadores seguindo

críticos, e há menos críticos

empenhados na formação de

platéias. Críticos e cinéfilos

precisam reaprender que filmes e seus autores podem existir independentemente de suas

opiniões. Críticos e cinéfilos

precisam parar de querer educar os cineastas com suas opiniões ou desconsiderações excludentes.

 

 

Vamos promover uma discussão sadia e necessária. Afinal, sem os críticos não haveria

história do cinema. O cinema

escrito e pensado é também

base de nossa formação e muitas vezes ajuda a traduzir o que

não vemos.

 

 

Críticos devem conduzir filmes e seus pensamentos com

as fragilidades requeridas. Não

devem entregar produtos aos

consumidores finais já destruídos na embalagem. Devem deixar a própria vida sedimentar

os fragmentos de filmes que

dão base a nossos conceitos e

sabedorias. Os filmes devem

voltar a ser vistos como materiais de construção.

 

 

Não é por acaso essa discussão sobre a crise da crítica e da

cinefilia. A 31ª Mostra Internacional de Cinema lança (em

parceria com a editora Cosac

Naify) "A Rampa", com textos

exemplares do crítico Serge

Daney (1944-1992), escritos

entre 1970 e 1982 para os

"Cahiers du Cinéma".

 

 

Para embasar essa discussão,

conseguimos reunir os dois

elos do movimento que significou o resgate da credibilidade

da mítica revista francesa com

os seus leitores-cinéfilos. Os

prefácios de "A Rampa" são assinados por Serge Toubiana,

contemporâneo de Redação de

Daney, hoje presidente da Cinemateca e do Museu de Cinema de Paris, e por Jean-Michel

Frodon, atual redator-chefe

dos "Cahiers".

 

 

Toubiana vê em Daney o seu

ponto forte pela "capacidade

de inventar e unir, a partir da

visão de um filme, um corpo-linguagem que permita dialogar com o autor, transcender a

visão subjetiva do filme e conduzi-la a um nível de inteligência superior".

 

 

O que Serge Daney fez é

exemplar. Ele limpou os templos do cinema de seus profanadores, dos afetados ideológicos que nem sequer permitiam

a divulgação de fotos como os

talebans de hoje. Daney resgatou a vocação dos "Cahiers"

com textos apaixonados por cinema ao reagir contra uma Redação afetada pelas infantilices

ideológicas, precisamente do

nefasto maoísmo e sua raivosa

revolução cultural excludente.

 

 

Graças à coragem de Daney,

Frodon herdou uma revista

mais livre de preconceitos. Ainda experimental, mas aberta a

todos os segmentos do cinema.

 

 

E é dele a observação no livro

de que o "canteiro de obras teórico" de Daney recompôs a

rampa que separava o palco/tela das platéias.

 

 

 

 

Vítimas da crítica

Mas a discussão não se encerra com os bons exemplos do

passado e suas heranças. Vamos ver o que acontece dentro

da própria seleção da 31ª Mostra, onde temos um novo filme

de Manoel de Oliveira e um novo de Claude Lelouch.

 

 

Ambos fazem quase que um

filme por ano, só que Oliveira

não faz o sucesso que merece, e

Lelouch faz (o sucesso que merece). Ambos são vítimas de

uma boa parcela da crítica, inconformada com as suas existências. Só que o insucesso de

Oliveira se consegue justificar,

e o sucesso de Lelouch, não.

 

 

É óbvio que Manoel de Oliveira não faz um filme primoroso do ponto de vista dos que

têm o cinema como referência

de ação. Mas ele é um pensador

que se vale do cinema como

instrumento de reflexão. Há

críticos que fazem chacota de

Oliveira e de seus defensores,

como se fôssemos sustentáculos de uma mentira indefensável. Num outro segmento há

críticos inconformados com

sucessos que fogem de seu

controle.

 

 

E é obvio que Claude Lelouch, embora faça um cinema

primoroso, apegado a emoções,

desagrade a uma categoria de

críticos inconformados pela

traição das platéias à sua cartilha de verdades dogmáticas.

Pode haver absurdo maior do

que críticos ignorarem um autor como Claude Lelouch por

ele fazer sucesso de público,

contrariando todas as suas vontades? A própria Folha se recusou a pautar uma entrevista

com Lelouch nesta sua passagem pela Mostra.

 

 

Não existe nem "crise de cinefilia", muito menos "perda

da credibilidade da crítica",

contesta-me o crítico da Folha

Cássio Starling Carlos no caderno Mais! de 14/10. Como

prova, cita revistas e sítios na

internet "com uma produção

inquieta e estimulante de

idéias". Sugiro que, na sua próxima resenha de um filme de

Lelouch, ele dê um link a esses

endereços que ousaram ouvir o

que Lelouch tem a dizer sobre

afeição pelo cinema.

 

 

 

 


LEON CAKOFF é diretor da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.

 

 

---

 

 

31ª Mostra de SP

 

 

 

Réplica

 

 

 

Cabe à crítica dividir o amor ao cinema

 

CÁSSIO STARLING CARLOS

 

CRÍTICO DA FOLHA

 

 

 

Em artigo na Ilustrada

de ontem, com o título

"Não cabe à crítica querer educar o cinema", Leon Cakoff voltou a insistir na suposta

crise da crítica e da cinefilia,

provocada, segundo ele, por excesso de "opiniões ou desconsiderações excludentes".

 

Tal tipo de acusação reproduz o estereótipo que separa os

filmes entre "os que a crítica

aprova, e o público detesta" e

"os que o público adora, e os

críticos odeiam". Tal separação, quando radicalizada, leva a

supor que, de um lado, os críticos só escrevem para eles e que,

de outro, o público não se interessa pela opinião da crítica.

 

Dois profissionais de enorme

prestígio explicam seu campo

de trabalho com argumentos

que nos ajudam a pensar. O

francês Jean Douchet define a

crítica como "a arte de amar".

O crítico da Folha Inácio Araujo gosta de reiterar que na palavra "crítica" está embutido o

termo "crise" e que "criticar"

consiste em "pôr em crise".

 

A "arte de amar" de Douchet

explicita o crítico como um

amante nada egoísta, pois seu

esforço essencial consiste em

fazer o objeto de sua paixão ser

amado pelo maior número possível de pessoas. O "pôr em crise" de Araujo lembra que os filmes não são blocos fechados e

acabados de sentido, e que uma

das funções da crítica é abrir as

janelas destas construções, deixá-las respirar, serem visitadas

e, em alguns casos, abaladas se

seus pilares forem frágeis.

 

Evoco essas duas concepções

complementares para lembrar

que, a despeito do clichê, a crítica não se satisfaz nem tem

sentido quando voltada para si

mesma. Trata-se de um esforço

de comunicação, publicada em

meios de comunicação. É, portanto, como "rampa" que se

justifica a existência da crítica.

 

O que ressaltei, de passagem,

no artigo "Política da representação", publicado no caderno

Mais!, em 14/10, foi a expansão

de esforços críticos espalhados

em revistas e sites de internet

no Brasil nos últimos anos.

 

Com eles, se instaurou uma

democracia na crítica, antes

restrita ao exercício do poder

de quem detém postos oficiais

na grande mídia. Ao contrário

do que Cakoff argumenta, tal

democratização vem aos poucos suprimindo o totalitarismo

do gosto e abalando os resíduos

de dogmatismo, na medida em

que se permite publicar argumentos contrastados e/ou

opostos, ampliando os horizontes de quem apenas lê e ainda

mais de quem escreve.

 

Meu trabalho nesta Folha,

por exemplo, se alimenta semanalmente da leitura dos veículos impressos e dos textos de

Cléber Eduardo, Eduardo Valente e Paulo Santos Lima, do

site Cinética (www.revistacinetica.com.br), de Daniel

Caetano, Luiz Carlos Oliveira

Jr. e Ruy Gardnier, do Contracampo (www.contracampo.com.br), de Filipe Furtado e

Sérgio Alpendre, da revista

"Paisà", de Marcus Mello, da

"Teorema", e tantos outros.

 

Quanto à rejeição de Lelouch

por parte da crítica brasileira,

ela não consiste num complô

elitista por "ele fazer sucesso

de público". Não nos encontramos isolados nesta recusa. Era

também a opinião de Serge Daney, o mesmo do livro "A Rampa", publicado agora pela Cosac

Naify e pela Mostra. Em 1984,

ele escreveu no "Libération":

"A exaltação ideológico-publicitária da Vida sempre carrega

um sabor de derrota de quem

vive. Tanatos é que conclui tudo com "é assim a vida!...", não

Eros (Eros não conclui, ele deixa rolar). O que alguns filmes

celebram -entre nós, os de Lelouch- é a pulsão de morte".

 

 

 

 

 

 

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Valeu Veras. Consegui o texto que começou parte desse imbróglio:

 

Política da representação

"A Rampa" reúne textos publicados pelo crítico Serge Daney, entre 1970 e 1982, nos "Cahiers du Cinéma"


CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA

Partamos do senso comum que supõe que existam dois públicos de cinema. De um lado, encontra-se o espectador que busca na sala escura um par de horas movidas a distração. De outro, membros de uma espécie muitas vezes olhada com estranheza e desconfiança, composta de cinéfilos e críticos, gente cuja paixão se explica pela razão de ver o cinema como uma continuidade da vida e do mundo, uma potência que os recarrega de novos, outros e múltiplos símbolos e significados.
Para aqueles que se contentam com a diversão, um livro como "A Rampa" (Cosac Naify, 248 págs., R$ 65) assim como parte da crítica publicada em jornais, revistas e sites de internet não trazem nenhum interesse. Já para o segundo público, cuja invisibilidade não é motivo para suspeitar de seu tamanho, a primeira edição no Brasil de escritos do crítico francês Serge Daney (1944-1992) é motivo de sobra para muita festa.
Pois, ao contrário do que se alardeia (ver declaração de Leon Cakoff em "Mostra discute "crise da cinefilia'", na Ilustrada de 8/10), não existe nem "crise da cinefilia" muito menos "perda da credibilidade da crítica".
Só no Brasil, basta abrir as páginas de revistas como "Paisà" e "Teorema" e sites como "Contracampo", "Cinética" e "Cinequanon" para descobrir uma produção inquieta e estimulante de idéias, abastecida por uma geração de jovens cinéfilos e críticos que vêm, em anos recentes, restaurando o vigor de análise e o prazer de decifrar como participante a galáxia audiovisual em que estamos imersos.
"A Rampa" reúne uma seleção, feita pelo próprio Daney, de textos publicados nos "Cahiers du Cinema" entre 1970 e 1982. Ao longo dessa fase não é apenas o cinema que passa por incessantes mutações. Também a revista francesa, espécie de bíblia dos cinéfilos, teve de enfrentar sucessivas rupturas (teóricas, financeiras, gráficas) para preservar o poder de influência que conquistara desde sua fundação, nos anos 1950.
Em primeira instância, os escritos de "A Rampa" são testemunhos dessas duas histórias.
Na subdivisão interna da obra, "Plano Geral" e "Pontos de Vista 1 e 2" resgatam do limbo uma produção que ficou condenada em conseqüência dos engajamentos políticos e teóricos da redação dos "Cahiers" nos anos pós-68.
Sua presença na edição, contudo, em vez de prova de anacronismo, ajuda a abastecer de respostas (e mais polêmicas) a questão-dilema que acompanha a reflexão sobre o cinema desde que ela surgiu: para que serve a crítica?
Outras tantas respostas o leitor encontrará nos capítulos seguintes de "A Rampa", ironicamente intitulados "Perdas de Vista 1 e 2". Neles, que reúnem textos de Daney a partir de 1975, observa-se um reenfoque, uma espécie de retorno à matéria que constitui o cinema: os próprios filmes.
Ao mesmo tempo, ganha amplitude (e clareza) o arriscado jogo textual que Daney perseguia como particularidade e assinatura desde a primeira fase.
O arcabouço teórico de predominância estruturalista (com Barthes e Lacan como estandartes) perde aos poucos a pretensão de pureza e se contamina da visão e, sobretudo, da experiência provocada pelos filmes. Desse modo, opera-se um curto-circuito intelectual, na medida em que a teoria cessa de conformar a interpretação do cinema, e este passa a informar a teoria, dando-lhe novo alcance.

"Tubarão"
Essa gradação se dá com tal intensidade que permite a Daney escapar dos limites da mera análise, produzindo um corpo teórico que se expande muito além dela, como no caso de suas vigorosas observações sobre a voz no cinema partindo de um comentário de "O Diabo Provavelmente", de Bresson.
Muito mais que na primeira fase, assumidamente ideológica, é nesta segunda que Daney empreende uma releitura produtiva da "Política dos Autores", promovida pelo grupo de Truffaut, Godard, Rohmer, Chabrol, Rivette e companhia, primeira geração de críticos da revista.
Em sua lucidez, Daney condena de cara os artifícios do que ele chama de "retrô". Na medida em que o "autor" substituiu a "estrela" como objeto de culto, ele escreve, "não é mais o que se passa na tela que realmente conta, mas o que podemos aproveitar do querer-dizer do Autor".
Em vez de reproduzir o institucionalizado, Daney desloca o foco para o primeiro termo da fórmula, afirmando sistematicamente a "política" tanto no sentido dos não-ditos e das escolhas éticas e estéticas do artista quanto nas recargas de significados que o público tem a liberdade de conferir às obras.
Daí provêm, por exemplo, as geniais desmontagens de "Tubarão", de Spielberg, e de "Hitler", de Syberberg. São textos a anos-luz da concepção de crítica como guia de consumo e que comprovam a tese deleuziana de que o cinema, mais que dar temas para pensar, é, ele mesmo, um pensamento.

 

====================

Por ora, fico com o Cakoff... O Cássio levantou pontos bem interessantes, mas na essência, não entendeu nada que o Cakoff disse.
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Antes de mais nada quero agradecer ao Dook por trazer essa discussão ao fórum ... é um tema muito apropriado, principalmente para nós, amantes do cinema e internautas de plantão.

Não quero apenas me colocar a favor ou contra as opiniões do Cakoff ou do Cássio, mas eu acho que essa "crise" está sendo muito considerada ultimamente pela popularização da Internet que permite que qualquer pessoa crie um espaço para comentários, ou seja, todo mundo está se achando no direito de se colocar como "crítico". Isso é ruim? Não exatamente. Talvez isso exija que tenhamos um filtro ainda mais apurado para avaliar o que estamos lendo. Eu, por exemplo, de uns tempos pra cá fiz um BLOG e a minha maior pretensão é que um leitor apenas considere a leitura, mesmo que seja apenas pra dizer que eu não tenho nada o que dizer.

Essa popularização gera uma banalização, mas não descrédito para a profissão do crítico. Afinal a crítica é extremamente necessária. Essa definição do Inácio Araújo é ótima. "Pôr em crise" é condição essencial para as artes de uma maneira geral. Não podemos apenas achar que existe uma crise na crítica apenas porque filmes ruins fazem sucesso (aqueles que os críticos odeiam e o público, aparentemente, adora). Eu até entendo que é um fato, mas será que diante disso o papel da crítica não se tornaria ainda mais válido? E não estou me referindo que a crítica é a única capaz de mostrar a "verdade", que ela é a única capaz de permitir que se diga se o que está sendo exibido é bom ou não, mas considero a crítica como um mal necessário, como uma espécie de "mãe" do cinema. O filho pode seguir o caminho que ele quiser, mas a mãe o orienta, se preocupa, repreende, mas é ela quem sempre estará de braços abertos ao que ele fizer desde que ela entenda que há razão de ser para aquilo e que seja algo que o filho realmente acredite. Por mais que "mãe" e "filho" briguem, eles sempre estarão juntos.

Enfim, não vou me prolongar muito inicialmente, pois sei que essa discussão vai longe ...

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Não acho que o Cakoff tenha como mote de seu 'discurso' o problema da popularização da crítica na internet. Ele está falando de algo que considero muito mais grave e que vejo realmente acontecendo em alguns críticos, de renome inclusive: a mania deles de objetivizarem sua análise passando o filme por filtros que eles colocam como objetivos quando na verdade é apenas uma forma (tacanha) deles verem os filmes.

 

É essa mania de alguns críticos insistirem que o cinema tem que ser retraído, não pode ser surtado que Cakoff critica; é essa obcessão de 'normatizar' o cinema, de criar regrinhas estapafúrdias como se a arte cinematográfica boa obedecesse sempre a um padrão.

 

É essa 'pegada' que o Cássio não sacou. Aliás, quando Cakoff o encostou na parede, em sua réplica o Cássio saiu pela tangente, o que retrata o quadro que o Cakoff pintou.
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Então eu tb não "peguei" ...

O que vc aponta é um problema, mas acho que é mais restrito ao profissional em si do que propriamente como um contexto geral da crítica. Eu sou contra regras, mas sou a favor de que existam pessoas dispostas a discutir o cinema que está sendo praticado hoje em dia de maneira íntegra e imparcial.

 
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Mas é isso que o Cakoff fala!

 

Olha só:

 

"Há menos espectadores seguindo críticos, e há menos críticos empenhados na formação de platéias. Críticos e cinéfilos precisam reaprender que filmes e seus autores podem existir independentemente de suas opiniões. Críticos e cinéfilos precisam parar de querer educar os cineastas com suas opiniões ou desconsiderações excludentes."

 

Aqui ele diz que não somente a crítica tenta objetivizar a arte como também os cinéfilos. Cansei de ler neste fórum aquela baboseira 'clichê é ruim'.

 

E ele também aponta um dado triste: a crítica não é levada a sério pelos espectadores (Transformers tá aí de exemplo). Por que isso acontece?

 

E tem mais:

 

"Críticos devem deixar a própria vida sedimentar os fragmentos de filmes que dão base a nossos conceitos e sabedorias. Os filmes devem voltar a ser vistos como materiais de construção. " 

 

Auto explicativo...

 

E o exemplo do quadro desenhado:

 

"Há críticos que fazem chacota de Oliveira e de seus defensores, como se fôssemos sustentáculos de uma mentira indefensável. Num outro segmento há críticos inconformados com sucessos que fogem de seu controle.
E é obvio que Claude Lelouch, embora faça um cinema primoroso, apegado a emoções, desagrade a uma categoria de críticos inconformados pela traição das platéias à sua cartilha de verdades dogmáticas. Pode haver absurdo maior do que críticos ignorarem um autor como Claude Lelouch por ele fazer sucesso de público, contrariando todas as suas vontades?"
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Ok, Dook.

 

Eu tb acho que o crítico não pode ser visto apenas como um cara que quer impôr regras ou filtros. Essa não é a função dele.

 

Vc comenta sobre o sucesso de "Transformers", mas a maneira que o público responde a um filme ruim é através da bilheteria de um filme (se ele quer ou não assistir aquele tipo de filme) e não podemos achar que o sucesso do filme é apenas pq o público não quis ouvir a crítica. A crítica é importante e existe pra mostrar que qualitativamente "Transformers" e isso independe o sucesso do filme. Temos exemplos de filmes que foram mal de bilheteria por causa das críticas ruins? Temos, mas nenhuma crítica ruim impede o público de assistir um filme que ele realmente queira ver.

 

Deixar a própria vida sedimentar os fragmentos dos filmes é algo natural, caso contrário todo mundo teria a mesma opinião sobre um mesmo filme. Mas os críticos são pessoas que ajudam a escrever a história do cinema, eles são as vozes do que está sendo praticado hoje em dia. Não se trata de determinar regras, mas registrar padrões de cinema e do comportamento da própria sociedade.

 

O sucesso de um filme ruim não deve ser visto como um desprestígio da crítica, pq quem manda no comportamento do espectador é ele próprio. A crítica não existe pra dizer o que deve ser visto ou não visto.
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Incrível como um assunto tão bom como esse possa ter gerado tão pouco "hype" aqui no fórum.

Parabéns Dook pela sua tentativa de promover uma boa discusão no fórum.05

 

Enfim,

acho que,caso a intenção dos críticos,é "guiar" os espectadores para o que eles devem ver ou não,eles estão completamente errados e são todos completamente prepotentes.

O dever do crítico é apenas comentar o filme,de uma forma mais técnica,falando curiosidades do filme em sua crítica,falando sobre fotografia,câmera,etc.

Mas ele não pode,em momento algum,achar que as pessoas devem seguir aquilo que ele acha bom ou ruin.

 

Sobre essa "revolução" do cinema com os blogs e tudo mais.Vejo como algo bom.Dentro dessa "revolução" podemos ter um bom,ou mal resultado.

Essa "revolução" está acontencendo em vários seguimentos da arte,quer seja na música,quer seja no cinema (aqui englobando a pirataria dos filmes,a democratização da crítica ao cinema,entre outras áreas),quer seja na literatura,quer seja em outra área.

Devemos temer o futuro?Não.Devemos ter esperança.Esperança essa de acabar com a monopolização,a exploração da arte.

A crítica ao cinema vai acabar?Não.

As pessoas estão desconsiderando a crítica ao cinema?Não.

O que acontece é que mais pessoas estão indo ao cinema.Com a violência urbana cada vez maior,mais pessoas estão indo às salas de cinema,por considerarem tal lugar um lugar seguro,sem brigas nem beberrões para acabar com a noite das pessoas.

O problema é que essa grande massa que está indo ao cinema,têm um perfil diferente daquela pessoa que gosta de cinema,que procura pesquisar sobre o filme,saber quem é o diretor,atores,e ler críticas de críticos que eles consideram bons.Esse perfil de pessoa,vai ao cinema por conta da sinopse ,se o diretor está com todo aquele "hype" sobre ele,se os atores são os "galãs" fazendo com que filmes muitas das vezes considerados "bombas" pela crítica e pelos amantes de cinema,tenham uma alta bilheteria.
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Ok' date=' Dook.

 

Eu tb acho que o crítico não pode ser visto apenas como um cara que quer impôr regras ou filtros. Essa não é a função dele.

 

Vc comenta sobre o sucesso de "Transformers", mas a maneira que o público responde a um filme ruim é através da bilheteria de um filme (se ele quer ou não assistir aquele tipo de filme) e não podemos achar que o sucesso do filme é apenas pq o público não quis ouvir a crítica. A crítica é importante e existe pra mostrar que qualitativamente "Transformers" e isso independe o sucesso do filme. Temos exemplos de filmes que foram mal de bilheteria por causa das críticas ruins? Temos, mas nenhuma crítica ruim impede o público de assistir um filme que ele realmente queira ver.

 

Deixar a própria vida sedimentar os fragmentos dos filmes é algo natural, caso contrário todo mundo teria a mesma opinião sobre um mesmo filme. Mas os críticos são pessoas que ajudam a escrever a história do cinema, eles são as vozes do que está sendo praticado hoje em dia. Não se trata de determinar regras, mas registrar padrões de cinema e do comportamento da própria sociedade.

 

O sucesso de um filme ruim não deve ser visto como um desprestígio da crítica, pq quem manda no comportamento do espectador é ele próprio. A crítica não existe pra dizer o que deve ser visto ou não visto.
[/quote']

 

Concordo, Tiago. Dentro da sua função de comentar tecnicamente os filmes - e através de um conhecimento teórico e de um apuro sensitivo que em geral a massa não possui - o crítico exerce, e bem, o papel de qualificar um filme. Não no sentido de rotulá-lo e daí definir o que deve ou não ser visto, ou o que deve ou não fazer sucesso, mas no sentido de mostrar para os não-técnicos pontos positivos e negativos da produção, deixando o espectador livre para o gostar e o desgostar.

 

Mas entendo um pouco o que o Dook quer dizer. O que a gente vê muito hoje é que a massa - pouco preocupada com a verdadeira qualidade da arte cinematográfica, e mais ligada aos seus vícios, ídolos e ao simples divertimento - chega a desprezar a posição contrária do crítico, ridicularizando sua produção e seu próprio conhecimento acumulado, em virtude de uma paixão cega e pouco interessada no teor técnico, mas única e exclusivamente nas emoções (seja uma paixão ou um simples divertimento) que o cinema o trouxe.

 

Assim é que se levanta o questionamento da presença dessa crise: Estaria o prestígio do crítico sendo engolido pelo desprezo dessa massa pouco interessada em suas opiniões. Estaria ele perdendo seu caráter de formador de opiniões?

 

Não tenho opinião totalmente formada sobre isso. Mas por enquanto, penso que pessoas interessadas e desinteressadas sempre existiram. Ainda noto que se dá valor à crítica, mesmo naquelas pessoas que não são exatamente cinéfilas. O que podemos notar é que o público de cinema em geral aumentou: tanto cinéfilos quanto espectadores de massa. E, graças à difusão da internet, as relações entre esses dois grupos se estreitaram, tornando a opinião de um muito mais acessível ao do outro. E é assim que notamos ainda mais o desprezo da massa pela crítica.

 

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Incrível como um assunto tão bom como esse possa ter gerado tão pouco "hype" aqui no fórum.

 

 

 

 

 

 

O tópico foi aberto ontem, com textos longos e idéias que precisam ser amadurecidas. As pessoas precisam de tempo. Nem todo tópico no fórum anda no ritmo da CMJ.

 

 

 

 

 

 

 

 

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Como um crítico pode não impor seu lado pessoal na resenha? A crítica é o quê senão o ponto de vista pessoal do crítico sobre a obra? Ademais, é o diretor o responsável pelo sucesso ou fracasso de seu filme e não o produtor executivo. Quando o Spielberg faz merda em seus filmes, culpamos ele e não seus produtores Frank Marshall e Kathleen Kennedy...

 

Enfim, se o maior problema dos críticos fosse a exposição de seu lado pessoal nas resenhas, seríamos mais felizes.
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O problema dos críticos é que eles sempre impõem seu lado pessoal nas resenhas' date=' como o já citado Transformes, que a critica brasileira em geral não gostou, mas isso vem do fato do Diretor ser o Bay, não vi ninguém criticando Spielberg que produziu, parece até perseguição a pessoa, outro perseguido é o Uwe Boll (que é ruim mesmo) que já até saiu na mão com um dos seus mais ferozes críticos, e venceu.

[/quote']

 

Como você pode afirmar isso?

Isso é um exemplo dos ataques que os críticos sofrem ao exporem seus trabalhos. Quem gosta do filme sempre acha um motivo genérico para desmercer uma crítica contrária a ele.

 

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Falta comunicação. A critíca em geral, seja de qual arte for, no meu conceito é um meio de incitar o leitor a refletir sobre a obra em questão. Por mais que a internet tenha colocado crítico e leitor em um contato mais direto, não vejo uma aproximação real. O leitor não se sente representado por um crítico que não gosta de nada que ele aprecia e o crítico se fecha dentro de seus conceitos.

Tá... mas não é uma idiotice um crítico passar a ser mais light para se tornar mais popular? Claro que é, mas não é exatamente esse o ponto. Já que foi citado bastante vezes por aqui, peguemos Transformers então: é uma bosta. Ok... mas por que é uma bosta? Mais: qual é a razão de um filme que é uma bosta fazer tamanho sucesso? A resposta aqui poderá irritar profundamente o leitor, mas não o deixará indiferente. E é essa a aproximação que deve ser buscada, dialogar com o leitor, deixar que a partir das suas impressões ele possa afinar e amadurecer a própria, mesmo que seja exatamente a oposta do crítico. Até porque não estamos falando de absolutos.
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Por mais que a internet tenha colocado crítico e leitor em um contato mais direto' date=' não vejo uma aproximação real. O leitor não se sente representado por um crítico que não gosta de nada que ele aprecia e o crítico se fecha dentro de seus conceitos.[/quote']

 

Simplesmente sublime. É isso que o Cakoff aponta e que NENHUM outro crítico que o replicou entendeu (ou fingiu que não entendeu)...
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O que a gente vê muito hoje é que a massa - pouco preocupada com a verdadeira qualidade da arte cinematográfica

O que é "qualidade da arte cinematográfica" senão o efeito que tal arte causa em você pessoalmente?

A arte não vive de pragmatismos e regras absolutas.Ela atinge cada pessoa de formas diferentes.

Tecnicamente um filme pode ser falho.Seja por uma estória mal contada ou diálogos estapafúrdios.

Mas,quanto arte,ou seja,o efeito de atingir a pessoa,ele pode ser válido.

E isso varia de pessoa para pessoa.Uma pessoa pode ter gostado de Transformers mas a outra não.O que isso quer dizer,ele é bom ou ruin?

Para uma pessoa ele foi bom,para outra ele foi ruin.

O problema com os críticos é que,ao analisar um filme tanto pelo lado artístico (completamente subjetivo) quanto pelo lado técnico (Aqui um pouco mais objetivo) ele acabar por classificar aquele filme (estrelinhas?).Não que isso seja algo ruin.Mas os críticos não podem querer que as pessoas sigam suas opiniões.

 
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A crítica não existe para dizer o que o público deve assistir. O espectador só assiste aquilo que ele quer. Podemos falar sobre a influência do MKT que coloca 3 filmes sendo exibidos em 3 salas de um Multiplex com 10 salas no total? Até podemos, é uma variável que faz parte da equação ...

A crítica até pode educar o público, fazer com que ele pense o cinema de uma outra maneira, mas nunca determinar o que é bom ou não, afinal cada um tem o seu olhar.

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Incrível como um assunto tão bom como esse possa ter gerado tão pouco "hype" aqui no fórum.



O tópico foi aberto ontem' date=' com textos longos e idéias que precisam ser amadurecidas. As pessoas precisam de tempo. Nem todo tópico no fórum anda no ritmo da CMJ.



[/quote']

Quanto tempo mais elas precisam?Já se passaram 6 dias....

 

edit:Já estamos em Novembro......será que esse povo ainda não amadureceu a idéia?06
Rafal2007-11-06 11:21:37
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