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Forum Cinema em Cena

Alain Resnais


Forasteiro
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01. Providence (Alain Resnais, 1977)

02. O Ano Passado em Marienbad (Alain Resnais, 1961)

03. Hiroshima, Meu Amor (Alain Resnais, 1959)

04. Muriel ou o Tempo de um Retorno (Alain Resnais, 1963)

05. Guernica -curta- (Alain Resnais, 1950)

 

Estou quase iniciando uma campanha por aí. É muito sério, VEJAM Providence.

 

providencegt7.jpg

O andar compassado, evanescendo vagarosamente para dentro daquela velha propriedade como que para um organismo – porque tudo ali é extensão do corpo e da mente de Clive – , na primeira cena, é um prelúdio fúnebre de reverência. Atravessando o portão com a inscrição “Providence”, Resnais nos convida para entrar num santuário, e o respeito que ele demonstra, passeando contemplativo pelo bosque, mantendo a câmera de baixo para cima, distinguindo um discreto azul celeste entre as árvores, subindo lentamente as escadas e observando muros riscados pela vegetação como varizes de um sangue parado pelo tempo, é coisa de quem sabe e nos avisa que, a partir daí, estamos acessando de alguém o íntimo mais profundo já alcançado no cinema. Memória, imaginação, medos, angústias, mágoas, desejos reprimidos e só manifestados livremente através de sua arte. Somos turistas, visitantes de um Clive Langham totalmente descarnado pela câmera deste francês; um voyeur da alma.

Antes de mais nada é preciso deixar claro que, apesar de inicialmente não parecer, Providence é um filme muito, muito divertido, de um humor jocoso e cruel o bastante até mesmo para os padrões ingleses. Quando aquele percurso descrito acima, aquela trajetória de quase resignação do diretor perante o seu grande personagem, é bruscamente interrompida pelo próprio Clive Langham com um indignado “merda! merda! merda! MERDA!”, Resnais apenas posiciona a câmera dentro da mente do escritor, e ele é quem conduz seu filme, sua história (que começa e termina, aliás, no respaldo clássico de uma ficção: a transformação de alguém num lobisomem).

Toda a evolução do processo criativo de Langham é inspecionada em detalhes por Resnais (e mesmo que seja um escritor, a experiência pode ser estendida a qualquer forma de arte). Logo no início, numa conversa profissional consigo mesmo - e a narração inteira em off é um diálogo interior -, Langham se questiona sobre o que fazer com os personagens. E é maravilhoso, porque a criação autoral é toda um produto das experiências, dos conceitos e das emoções de seu criador. Daí que utilizando sua família como personagens de seu romance, Clive se vê constantemente submetendo-os a algo que secretamente deseja, porque é escrevendo que ele se liberta numa dolorosa noite de insônia, e todas as pequenas peças do seu trabalho são pinçadas e ampliadas por Resnais, como a difícil relação com a morte, incluindo aí seu médico que aparece como um pensamento intruso, e que Clive tenta descartar, mas que termina voltando de vez em quando numa cena crua e repulsiva, cuja identificação atingida com um espectador encarnando no próprio Clive pela visão incômoda é própria do apuro e da sensibilidade de Alain Resnais.

Idéias recorrentes e indesejáveis, aliás – grande merda de quem usa a criatividade como matéria-prima do seu trabalho – aparecem representadas de um jeito bem divertido pelo francês (o que é aquele jogador de futebol? Hahaha), que são os olhos do espectador dentro da imaginação desse velho doido. Porque é exatamente assim que alguém se sente vendo claramente quando Clive não está satisfeito, quando volta atrás e reescreve, ou outras em que adorou o que escreveu. Há inclusive um trecho em que ele se diverte com a sonoridade da palavra “fornicar” e ri sozinho, num nível inviolável de intimidade e introspecção nunca antes acessado.

É onde aparecem principalmente as confissões, onde se nota todo o peso e a dor de coisas feitas e não feitas entremeadas na garganta. A todo momento Clive está punindo seus filhos, punindo sua nora, sua mulher morta por ter lhe deixado muito cedo (e que ele ressuscita e faz amante do próprio filho), mas acima de tudo, está se punindo, se atacando sem a mais ínfima piedade. É triste e assustador quando ele coloca seu filho Claude (um Bogarde que ninguém explica) do outro lado da tela e chora do lado de cá enquanto é desmontado numa inquisição, ou quando o mesmo lhe redige uma carta cheia de ódio (que é a face encontrada pra um desprezo por si mesmo) convertido num remorso que aparece muito através da esposa Molly/Helen Wiener quando ela conta coisas das quais ele não se permitiria arrepender sozinho. Porque Clive é indefeso, é carente, e pede socorro à sua arte pra enfrentar um mundo do qual morre de medo.

Escritor: o onipotente deus do seu mundo. Imperativo no seu silêncio e absoluto na amplitude deste seu universo que tem o tamanho da imaginação. Longe dele, no entanto, as coisas perdem o controle. Talvez o simples fato de que o poder de matar alguém está a mais de uma frase de distância o apavora profundamente. O escritor é um eterno inconformado, arquiteto de uma realidade como ela devia ser. A meia hora final de Providence se passa na tarde do dia seguinte à noite de insônia e epifania de Clive Langham, e é uma tarde pálida e maçante, em que tudo ocorre como se tivesse sido planejado. Seus filhos, seus criados, sua nora e a própria tarde que ele respira têm o cheiro aversivo de uma antevéspera de funeral. Tudo parece minuciosamente armado, pintado, escrito como uma encenação de encontro e agrado ao pobre velho moribundo, e o dia termina com uma realidade muito mais artificial que o seu romance.

O melhor filme do Resnais e um dos dez maiores do cinema. A inventividade, o escárnio, a materialização irretocável do imaginário, o Dirk Bogarde inacreditável, a narrativa de descoberta do real através do irreal muito antes de Cidade dos Sonhos, e ao fim de tudo, o socorro à arte e sua consagração sobre o mormaço inodoro da realidade; Providence não é apenas uma homenagem à 7ª, mas a todas as outras.

4/4

Luis Henrique Boaventura

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Começa mostra com todos os filmes de Alain Resnais
(19/08/2008 - 10h31)

Da Redação www.cineclick.com.br

 

img_news_19082008medos.jpg

Cena de
Medos Privados em Lugares Públicos
Nesta terça-feira (19/8), tem início, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) do Rio de Janeiro, uma mostra integral de um dos mais importantes diretores da Nouvelle Vague francesa, Alain Resnais (Hiroshima, Meu Amor).

Pela primeira vez, todos os seus filmes, entre curtas e longas-metragens, poderão ser apreciados pelos cinéfilos brasileiros, que terão contato com a evolução de uma obra tida como das mais instigantes do cinema mundial. Com mais de 80 anos, Resnais nos encantou ano passado com seu mais recente filme, Medos Privados em Lugares Públicos.

Alguns filmes serão exibidos em cópias novíssimas, trazidas pela Embaixada Francesa: Guernica, As Estátuas Também Morrem, Noite e Nevoeiro, Hiroshima, Meu Amor, O Ano Passado em Marienbad, Muriel ou O Tempo de um Retorno e Stavisky.

A mostra Alain Resnais: A Revolução Discreta da Memória segue até dia 7 de setembro no Rio. Em São Paulo, ocorre entre os dias 4 e 21 de setembro e em Brasília entre os dias 16 de setembro e 5 de outubro.

Veja a programação completa da mostra no Rio de Janeiro:

Dia 19/8 (terça-feira)
15h - Hiroshima, Meu
17h30 - Abordando Alain Resnais, Um Revolucionário Discreto
20h - Meu Tio da América

Dia 20/8 (quarta-feira)
15h - O Ano Passado em Marienbad
17h30 - Morrer de Amor
20h - Stavisky ou O Império de Alexandre

Dia 21/8 (quinta-feira)
15h - Quero Ir para Casa
17h30 - Na Boca, Não
20h - Melô

Dia 22/8 (sexta-feira)
15h - Muriel ou O Tempo de um Retorno
17h30 - Curtas 1: Van Gogh, Paul Gauguin, Guernica
20h - Hiroshima, meu amor

Dia 23/8 (sábado)
18h45 - Curtas 2: As estátuas também morrem, Noite e nevoeiro
20h - O Ano Passado em Marienbad

Dia 24/8 (domingo)
12h - Eu te amo, eu te amo
17h30 - Curtas 3: Toda a memória do mundo, O canto do estireno
20h - A Guerra Acabou

Dia 26/8 (terça-feira)
15h - A Guerra Acabou
17h30 - O Ateliê de Alain Resnais: em torno de Amores Parisienses
20h - Amores Parisienses

Dia 27/8 (quarta-feira)
15h - Eu te amo, eu te amo
17h30 - Muriel ou O tempo de um retorno
20h - No Smoking

Dia 28/8 (quinta-feira)
15h - Curtas 2: As estátuas também morrem, Noite e nevoeiro
17h30 - Medos Privados em Lugares Públicos
20h - Smoking

Dia 29/8 (sexta-feira)
15h - Stavisky ou O império de Alexandre
17h30 - A vida é um romance
20h - Morrer de amor

Dia 30/8 (sábado)
19h - Providence

Dia 31/8 (domingo)
12h - Quero ir para casa
17h30 - Melô
20h - Meu tio da América

Dia 2/9 (terça-feira)
15h - Providence
17h30 - Hiroshima, meu amor
20h - Curtas 1: Van Gogh, Paul Gauguin, Guernica

Dia 3/9 (quarta)
15h - Meu tio da América
17h30 - O ano passado em Marienbad
20h - Curtas 2: As estátuas também morrem, Noite e nevoeiro

Dia 4/9 (quinta-feira)
15h - Abordando Alain Resnais, um revolucionário discreto
17h30 - Muriel ou O tempo de um retorno
20h - Curtas 3: Toda a memória do mundo, O canto do estireno

Dia 5/9 (sexta-feira)
15h - A vida é um romance
17h30 - Smoking
20h - No Smoking

Dia 6/9 (sábado)
19h - O ateliê de Alain Resnais: em torno de Amores Parisienses
20h - Na boca, não

Dia 7/9 (domingo)
12h - Stavisky ou O império de Alexandre
17h30 - Amores Parisienses
20h - Medos Privados em Lugares Públicos

Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro
R. Primeiro de Março, 66 - Centro - Rio de Janeiro
Informações pelo telefone (21) 3808-2020
Ingressos: R$6
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10

01. Providence (Alain Resnais' date=' 1977)

02. O Ano Passado em Marienbad (Alain Resnais, 1961)

03. Hiroshima, Meu Amor (Alain Resnais, 1959)

04. Muriel ou o Tempo de um Retorno (Alain Resnais, 1963)

05. Guernica -curta- (Alain Resnais, 1950)

 

Estou quase iniciando uma campanha por aí. É muito sério, VEJAM Providence.

 

providencegt7.jpg

O andar compassado, evanescendo vagarosamente para dentro daquela velha propriedade como que para um organismo – porque tudo ali é extensão do corpo e da mente de Clive – , na primeira cena, é um prelúdio fúnebre de reverência. Atravessando o portão com a inscrição “Providence”, Resnais nos convida para entrar num santuário, e o respeito que ele demonstra, passeando contemplativo pelo bosque, mantendo a câmera de baixo para cima, distinguindo um discreto azul celeste entre as árvores, subindo lentamente as escadas e observando muros riscados pela vegetação como varizes de um sangue parado pelo tempo, é coisa de quem sabe e nos avisa que, a partir daí, estamos acessando de alguém o íntimo mais profundo já alcançado no cinema. Memória, imaginação, medos, angústias, mágoas, desejos reprimidos e só manifestados livremente através de sua arte. Somos turistas, visitantes de um Clive Langham totalmente descarnado pela câmera deste francês; um voyeur da alma.

Antes de mais nada é preciso deixar claro que, apesar de inicialmente não parecer, Providence é um filme muito, muito divertido, de um humor jocoso e cruel o bastante até mesmo para os padrões ingleses. Quando aquele percurso descrito acima, aquela trajetória de quase resignação do diretor perante o seu grande personagem, é bruscamente interrompida pelo próprio Clive Langham com um indignado “merda! merda! merda! MERDA!”, Resnais apenas posiciona a câmera dentro da mente do escritor, e ele é quem conduz seu filme, sua história (que começa e termina, aliás, no respaldo clássico de uma ficção: a transformação de alguém num lobisomem).

Toda a evolução do processo criativo de Langham é inspecionada em detalhes por Resnais (e mesmo que seja um escritor, a experiência pode ser estendida a qualquer forma de arte). Logo no início, numa conversa profissional consigo mesmo - e a narração inteira em off é um diálogo interior -, Langham se questiona sobre o que fazer com os personagens. E é maravilhoso, porque a criação autoral é toda um produto das experiências, dos conceitos e das emoções de seu criador. Daí que utilizando sua família como personagens de seu romance, Clive se vê constantemente submetendo-os a algo que secretamente deseja, porque é escrevendo que ele se liberta numa dolorosa noite de insônia, e todas as pequenas peças do seu trabalho são pinçadas e ampliadas por Resnais, como a difícil relação com a morte, incluindo aí seu médico que aparece como um pensamento intruso, e que Clive tenta descartar, mas que termina voltando de vez em quando numa cena crua e repulsiva, cuja identificação atingida com um espectador encarnando no próprio Clive pela visão incômoda é própria do apuro e da sensibilidade de Alain Resnais.

Idéias recorrentes e indesejáveis, aliás – grande merda de quem usa a criatividade como matéria-prima do seu trabalho – aparecem representadas de um jeito bem divertido pelo francês (o que é aquele jogador de futebol? Hahaha), que são os olhos do espectador dentro da imaginação desse velho doido. Porque é exatamente assim que alguém se sente vendo claramente quando Clive não está satisfeito, quando volta atrás e reescreve, ou outras em que adorou o que escreveu. Há inclusive um trecho em que ele se diverte com a sonoridade da palavra “fornicar” e ri sozinho, num nível inviolável de intimidade e introspecção nunca antes acessado.

É onde aparecem principalmente as confissões, onde se nota todo o peso e a dor de coisas feitas e não feitas entremeadas na garganta. A todo momento Clive está punindo seus filhos, punindo sua nora, sua mulher morta por ter lhe deixado muito cedo (e que ele ressuscita e faz amante do próprio filho), mas acima de tudo, está se punindo, se atacando sem a mais ínfima piedade. É triste e assustador quando ele coloca seu filho Claude (um Bogarde que ninguém explica) do outro lado da tela e chora do lado de cá enquanto é desmontado numa inquisição, ou quando o mesmo lhe redige uma carta cheia de ódio (que é a face encontrada pra um desprezo por si mesmo) convertido num remorso que aparece muito através da esposa Molly/Helen Wiener quando ela conta coisas das quais ele não se permitiria arrepender sozinho. Porque Clive é indefeso, é carente, e pede socorro à sua arte pra enfrentar um mundo do qual morre de medo.

Escritor: o onipotente deus do seu mundo. Imperativo no seu silêncio e absoluto na amplitude deste seu universo que tem o tamanho da imaginação. Longe dele, no entanto, as coisas perdem o controle. Talvez o simples fato de que o poder de matar alguém está a mais de uma frase de distância o apavora profundamente. O escritor é um eterno inconformado, arquiteto de uma realidade como ela devia ser. A meia hora final de Providence se passa na tarde do dia seguinte à noite de insônia e epifania de Clive Langham, e é uma tarde pálida e maçante, em que tudo ocorre como se tivesse sido planejado. Seus filhos, seus criados, sua nora e a própria tarde que ele respira têm o cheiro aversivo de uma antevéspera de funeral. Tudo parece minuciosamente armado, pintado, escrito como uma encenação de encontro e agrado ao pobre velho moribundo, e o dia termina com uma realidade muito mais artificial que o seu romance.

O melhor filme do Resnais e um dos dez maiores do cinema. A inventividade, o escárnio, a materialização irretocável do imaginário, o Dirk Bogarde inacreditável, a narrativa de descoberta do real através do irreal muito antes de Cidade dos Sonhos, e ao fim de tudo, o socorro à arte e sua consagração sobre o mormaço inodoro da realidade; Providence não é apenas uma homenagem à 7ª, mas a todas as outras.

4/4

Luis Henrique Boaventura

[/quote']

 

Cara acabei sair do cinema e ver pela primeira vez Providence e gostei muito, e o mais legal e que aqui lendo tua opiniao sobre o filme me fez gostar mais, me abriu mais para os detalhes talvez para entender algumas coisas que ficaram em duvidas pq esse filme é ate legal ver de novo. na verdade todo filme é bom ver de novo mais esse em especial, é uma obra-genial tenho gostado muito do Resnais realmente ele é mestro do tempo. O jogador de futebol é unico. filme arte,dramatico mas tbm mto engraçado uma obra unica de um dos maiores genios do cinema pouco conhecido pelos Brasileiros. Ele é o Pai da nouvelle-vague pessoas!

Detalhe que quando eu fui ver o filme eu nao me preocupei e saber sobre o q era o filme, qual a sinopse..sempre me preocupe e nem fui atras para saber se era um dos filmes bons dele ou mixurucas(se é q ele tem filme fraco), ai quando cheguei la..falei putz sera q o filme é um dos melhores dele, sobre o q sera? a curiosidade me tomou, ai o cara apresento o filme nao dizendo sobre o q era, mas só dizendo q estava entre os 3 melhores filme dele talvez o melhor, isso me conforto. Ai logo no primeira cena eu falei nossa isso me lembra cidadao kane...isso vaiser f***.

ASSISTAM.

1010

 

Amigo os curtas dele sao sobre os pintores? guarnica, va gogh? como é?

abc

 

10

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Jess, parece que o Resnais fez alguns curtas encomendados na década de 40 exatamente sobre pintores, mas não sei muito a respeito. Os mais importantes são Guernica e Noite e Neblina mesmo - este último ainda por ver-.

 

E é praticamente consenso em todo lugar que Marienbad - que é obra-prima absoluta, um delírio visual, um desbunde, um troço absurdo - é seu melhor filme, mas Providence é coisa de outra dimensão, meu favorito um pouco de longe inclusive. E que BOM QUE MAIS ALGUÉM VIU, tchê. O cec tá foda hahaha
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Jess' date=' parece que o Resnais fez alguns curtas encomendados na década de 40 exatamente sobre pintores, mas não sei muito a respeito. Os mais importantes são Guernica e Noite e Neblina mesmo - este último ainda por ver-.

 

E é praticamente consenso em todo lugar que Marienbad - que é obra-prima absoluta, um delírio visual, um desbunde, um troço absurdo - é seu melhor filme, mas Providence é coisa de outra dimensão, meu favorito um pouco de longe inclusive. E que BOM QUE MAIS ALGUÉM VIU, tchê. O cec tá foda hahaha
[/quote']

 

Com Certeza, assim como Marienbad tá para Resnais, 2001 ta para o Kubrick. Marienbad é um dos filmes mais absurdos que eu ja vi na minha vida cara, acho mto interessante gosto bastante, mas tbm como voce eu acho que eu prefiro o Providence. Porem é uma dificil escolha até pq acho muito otimo o Hiroshima tbm , é dificil falar de um cara tão bom e unico.

 

Eu ia assistir esses curtas hojes porem nao acabo rolando, semana q vem ou domingo vou ver mais filmes desse nessa a mostra, queria conhecer pelo menos mais 2 trabalhos dele. Fiquei muito interessado em Smoking e No Smoking.

Depois coloco as notas dos quatro filmes dele que eu vi.

 

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Legal pra gente que vai ver mais filmes dele conhecer:

 

 

A%20Vida%20é%20um%20Romance

FILMOGRAFIA COMENTADA ALAIN RESNAIS

Por Sérgio Alpendre

ALGUNS CURTAS

Resnais

realizou uma série de curtas de encomenda sobre pintores. Assim, os

coloridos de Van Gogh e Gauguin, por exemplo, se metamorfoseavam num

p&b sombrio. Guernica (1950) é, de longe, o mais

impressionante. Co-dirigido por Robert Hessens, parte de várias telas

de Picasso, além de usar gravuras e esculturas do artista espanhol. A

tela Guernica serviu de base para o argumento, e dela só

vemos alguns detalhes e esboços, enquanto outros trabalhos, mais ou

menos em ordem cronológica (de 1902 a 1949), comentam e sofrem os

horrores da guerra. Com Chris Marker realizou o formidável Les Statues Meurent Aussi (1953), um pequeno ensaio sobre a arte africana e o racismo. Em seguida, realizaria o filme mais célebre dessa fase inicial, Noite e Neblina

(1955), que contrapõe imagens tomadas para o filme, com o campo

desativado e as ruínas das construções, a imagens de arquivo, mostrando

que onde vemos bucolismo, calma e mato crescendo, houve o genócídio,

com a narração impactante perpassando todo o filme. É o filme mais

triste e político a que já assisti, e um dos filmes chave da Nouvelle

vague que iria se cristalizar poucos anos depois. No ano seguinte, nova

obra-prima, Toute la Mémoire du Monde, um documentário sobre

a Biblioteca Nacional de Paris, em que fica clara a obsessão do

cineasta pela capacidade da memória humana, e pelas tentativas de

registro dessa memória. Aos poucos, vamos passando de pilhas de livros

amontoados para uma construção absurdamente labiríntica, a da

biblioteca, e somos convidados a acompanhar os estágios de trabalho

dentro dela, e a maneira que os livros chegam aos leitores. O último

curta de Resnais antes da elogiada estréia com Hiroshima Mon Amour foi Le Chant du Styrène,

em cinemascope, sobre uma das matérias primas das coisas feitas com

plástico. Já como cineasta consagrado, realizou com vários diretores o

longa Loin du Vietnam, além de um episódio de Cinetrácts,

uma série de documentários de esquerda super curtos, cada um dirigido

por um diretor francês. Em 1973 ainda contribuiria com a estréia de

Jacques Doillon, L'An 01, dirigindo o segmento passado em

Nova York, o mais engraçado do longa – que teria também um pequeno

segmento dirigido por Jean Rouch, passado na África.

Muriel

LONGAS

Hiroshima Mon Amour (1959)

 

quatro_estrelas.gif

 

Memória e Guerra. Sob esses dois pilares se constrói o longa de estréia

de Resnais, roteirizado por Marguerite Düras. Hiroshima

é melhor quanto mais se aproxima de um impressionismo da imagem – a

granulação nas peles dos amantes, os flashbacks tratados como

instâncias nebulosas.

O Ano Passado em Marienbad (L'Année Dernière à Marienbad, 1960)

 

cinco_estrelas.gif

 

Movimento. Imagens fugidias. Travellings dominando. A memória que trai,

que insiste em se desmanchar. As obsessões de Resnais nunca foram tão

longe quanto neste filme. Nem ele nem ninguém se aprofundou nas

experiências com fluxos de memória realizados em Marienbad.

Muriel, ou Le Temps d'um Retour (1963)

 

cinco_estrelas.gif

 

Muriel não é sedutor à primeira vista, como Marienbad.

Talvez porque os cortes afobados se pareçam com erros. Na verdade,

Resnais pretendeu excluir tudo que não é essencial a cada cena ou bloco

de cenas, e assim perde-se alguns planos que serviriam de conexões, bem

como as introduções das cenas. Tudo é direto, atirado aos nossos

sentidos; a montagem parece nos puxar incessantemente para uma

aceleração que não é tão clara na narrativa. Um filme esquisito e

difícil de se escrever em tão pouco espaço, e também fundamental.

A Guerra Acabou (La Guerre est Finie, 1966)

 

quatro_estrelas.gif

 

A experimentação com o tempo encontra aqui um excelente ator, que alia

profundidade dramatúrgica à falta de linearidade tão peculiar dos

filmes dessa fase do diretor.

Je T'Aime, Je T'Aime (1968)

 

tres_estrelas.gif

 

Filme de máquina do tempo. E a máquina se assemelha a um gigantesco cérebro. Um retrocesso em relação a Marienbad,

pois os experimentos de Resnais são inseridos dentro de um contexto

óbvio, usando como cobaia um homem com a mente perturbada, um

verdadeiro rato de laboratório. Ainda assim, o filme é suficientemente

forte em sua estrutura fragmentada e não linear.

Providence

Stavisky (1974)

 

quatro_estrelas.gif

 

Roteirizado por Jorge Semprún, o mesmo de A Guerra Acabou,

desta vez há uma linearidade bem definida por trás das constantes idas

e vindas no tempo, com passado e futuro se fundindo ao presente

narrativo harmoniosamente.

Providence (1977)

 

cinco_estrelas.gif

 

Filme desconcertante em todos os sentidos. É o mais próximo de Marco

Ferreri que Resnais poderia chegar, com um tipo de humor que voltaria a

ser explorado em Quero ir Para Casa e No Smoking,

até os vinte minutos finais, quando fica mais próximo de Ingmar

Bergman. Um escritor às voltas com seus personagens inspirados nas

pessoas que o rodeiam. É seu primeiro filme rodado em inglês.

Meu Tio da América (Mon Oncle d'Amérique, 1980)

 

quatro_estrelas.gif

 

Muitos chiaram, com certa razão, da categorização dos personagens de

acordo com as teorias behaviouristas de Henri Laborit, que vira e mexe

aparece no filme. São ratinhos de laboratório, mas Resnais se inclui

entre eles. Tolice não reconhecer que a linguagem cinematográfica

utilizada aqui é irretocável.

A Vida é um Romance (La Vie est un Roman, 1983)

 

cinco_estrelas.gif

 

Três histórias correndo em paralelo no mesmo lugar, mas em épocas

diferentes. Entre as três, uma é de conto de fadas, que prega o amor e

termina por instaurar o tempo das cirandas amorosas no filme, e, por

consequência, no cinema de Resnais. Um musical delicioso, que daria

novos ares à carreira do diretor. É o primeiro trabalho do diretor com

Sabine Azéma, que se tornaria constante nos filmes seguintes.

L'Amour à Mort (1984)

 

quatro_estrelas.gif

 

O negativo de A Vida é um Romance. Um dos filmes mais densos do diretor, e o primeiro em scope desde Marienbad.

Confesso que tenho problemas com sua estrutura que se divide em

minúsculos atos (alguns com menos de um minuto) separados por flocos de

neve caindo à noite. O efeito é incômodo, pois atenua o drama. Mas

mesmo com os interlúdios jogando contra, a meia hora final é de

antologia.

Mélo

Mélo (1986)

 

cinco_estrelas.gif

 

Sabine Azéma, Pierre Arditi, André Dussollier. A trupe Resnais reunida

para uma ciranda amorosa apaixonante. Um dos melhores filmes dos anos

80, e o primeiro filme legitimamente de câmara do cineasta. Espaço

delimitado, diálogos literários, cortinas vermelhas dividindo os atos,

mas também cortes e elipses puramente cinematográficos, como bem notou

Miguel Tamen, num texto para a Cinemateca Portuguesa.

Quero Ir Para Casa (I Want To Go Home, 1989)

 

quatro_estrelas.gif

 

Resnais e sua agradável e inteligente homenagem aos quadrinhos, num filme de humor inusitado como em Providence. Na época poucos entenderam esse tipo de humor. É o filme dele que foi mais massacrado pela crítica.

Smoking / No Smoking (1993)

 

tres_estrelas.gif / quatro_estrelas.gif

 

Acender um cigarro ou não? Abrir uma porta ou não? Parar para conversar

ou não? Resnais divagando sobre as possibilidades do acaso, e as

consequências de nossos pequenos atos. Smoking é um tanto sóbrio demais para o que o tema pretende. No Smoking, com o humor típico do diretor, é muito mais feliz em não se levar a sério.

Pas%20sur%20la%20bouche

Amores Parisienses (On Connait La Chanson, 1997)

 

quatro_estrelas.gif

 

Se da boca de um general nazista pode sair a voz de Edith Piaf num de

seus momentos de glória, então tudo é permitido na fábula musical de

Resnais. A proposta contorna o que poderia ter de ridículo dentro de um

rigor do patético, uma ordem maior que é a de viver e sorrir, que

contagia tudo e a todos. Uma delícia de filme.

Pas Sur la Bouche (2003)

 

quatro_estrelas.gif

 

Já ouvi que esse filme é teatro filmado. Basta um corte: quando Azéma

está na cozinha e ouve o nome Eric Thomson, ela passa mal, mas cai em

sua cama. A elipse puramente cinematográfica – como as de Mélo – servem

para afastar qualquer acusação imprópria. Se em A Vida é um Romance lembramos constantemente de Demy, em Pas Sur la Bouche é Lubitsch que vem à mente. Mesmo a ausência de André Dussollier, habitué nos filmes do diretor, não impede a constatação de que o filme é puro Resnais.

Medos Privados em Lugares Públicos (Coeurs, 2006)

 

cinco_estrelas.gif

 

Histórias que se cruzam, mas que não são diminuídas, nem têm seus

personagens transformados em joguetes de roteiro, graças a Resnais, que

chega ao crepúsculo de sua vida nos dando ainda do melhor cinema que se

pode fazer. Eric Gautier já havia trabalhado como assistente de câmera

para Resnais nos anos 80, mas é a primeira vez que faz direção de

fotografica para um filme do diretor. Seu trabalho no filme é

irrepreensível. Também devo destacar os flocos de neve, que, como em L'Amour à Mort,

existem entre uma cena e outra. Mas aqui não há a interrupção, e sim a

intenção bem sucedida de tornar os cortes mais suaves, quase

invisíveis.

 

 

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