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O Diário de Namor


DarkMarcos
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NAMOR, O PRÍNCIPE SUBMARINO (1939)

- Marvel Comics 1 (Novembro de 1939)
- Marvel Mystery Comics 2 (Dezembro de 1939)

Namor é mais conhecido no Brasil por seu desenho animado da década de 60 (é... faz tempo). E chamar aquela série de "animada" é até ser bonzinho demais, já que o termo mais aproximado seria "des-animado". Acontece que o recurso utilizado era pegar os desenhos diretos das revistas em quadrinhos e ir mexendo partes do corpo do personagem, na maioria das vezes a boca, mostrando algum movimento quando o herói falava. Os que ainda lembram desse desenho talvez nem mesmo conheçam o personagem pelo seu nome, lembrando mais a sua alcunha de Príncipe Submarino.  Porém, isso também ocorre nos Estados Unidos, onde, apesar de ser chamado de Namor, é mais popular usar o nome Sub-Mariner para identificá-lo.

O Príncipe Submarino, ou Namor se preferirem, apesar de pertencer ao Universo de super-heróis Marvel, surgiu bem antes da editora se firmar com esse nome (na década de 60). Por pouco nem mesmo pertenceria a Marvel. Surgiu nas páginas da revista Motion Picture Funnier Weekly, espécie de revsta-pulp com histórias em quadrinhos que era distribuídas em cinemas, em Abril de 1939. Criado pelo desenhista e escritor Bill Everett, meses depois passaria a publicar suas aventuras (desde sua primeira história) na revista Marvel Comics, primeira publicação de uma, então, nova editora de quadrinhos chamada Timely Comics. Futuramente, esta mesma editora viria a se tornar a editora Marvel que conhecemos hoje, como o nome homenageando sua primeira publicação.

Namor, no entanto, não poderia ser chamado exatamente de herói naquela época. De comportamento selvagem, há quem diga que este foi o primeiro super-anti-herói a surgir nos quadrinhos. Nem mesmo esse termo lhe cabe. Sua atitudes estavam mais para vilão de suas histórias. Histórias estas que pouco tinha de aventura de super-herói, mais parecendo um conto de ficção onde a humanidade enfrentava os ataques desse novo personagem, que buscava vingança pelo "povo da superfície" invadir os mares. Era como se fosse um conto de invasão alienígena, trocando seres do espaço por seres vindo do fundo do mar.

Ao contrário do que se pode imaginar, as histórias daquela época pouco tinham de ingênuas. Na verdade, para os mais puritanos, é difícil acreditar que uma aparentemente inocente história em quadrinhos pudesse ser produzida para crianças. A revista Marvel Comics (que, já no segundo número muda seu nome para Marvel Mystery Comics) não poupava a sanguinolência em suas páginas. Vistas hoje, algumas cenas só são mais amenas pela simplicidade dos desenhos. Para época, porém, o tom já era outro.

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Em sua primeira aparição, por exemplo, Namor não pensa duas vezes em esmagar a cabeça de um mergulhador. O roteiro até tenta mostrar certa ingenuidade do personagem, quando este diz ter destruído e matado mergulhadores, por pensar que se tratava de robôs (as roupas dos mergulhadores, por estarem procurando destroços no fundo do oceano, eram mais robustas devido a pressão). Mas o clima de "foi sem querer" logo se dissipa nas águas quando a mãe e o avô (que era o rei) de Namor de certa forma comemoram o feito de seu pequeno príncipe. Devido a sua "bravura", o então jovem príncipe é destacado para atacar o mundo dos homens da superfície e vingar seu povo de todas as invasões que o homem tem feito nos mares.

Através de lembranças, a mãe de Namor, a Princesa Fen, conta como seu filho surgiu e o motivo dele ser diferente dos demais atlantes. Afinal, ele é um homem que pode sobreviver nas profundezas do oceano, fora dele (tendo sua força ampliada em relação a um ser humano normal) e também pode voar. Essa última habilidade, graficamente, é explicada por pequenas asas que saem de seu calcanhar. Tempos atrás, a princesa foi designada para servir de espiã atlante em uma embarcação. Com feições mais próximas de uma bela mulher (e, de fato, o avô de Namor e outros de sua espécie mais pareciam peixes deformados), foi fácil para Fen se misturar a tripulação. Mas essa caracterização deve ter sido levada muito a sério, já que a jovem se envolveu como o capitão do navio. Após um breve romance entre a princesa e o capitão, a embarcação foi atacada pelo povo das profundezas e a tripulação foi morta. Meses depois, nasceria o híbrido Namor, fruto desse romance.

Em suas primeiras histórias, Namor era só vingança, destruindo tudo que encontrasse pelo mundo da superfície. Não apenas navios, mas chega a atacar um farol e seus seguranças, vai até Nova Iorque e causa o maior dano possível e até sequestra uma novaiorquina para fazê-la refém, pouco se importando se ela respira ou não embaixo d'água. Por intervenção da polícia, essa última tentativa é frustrada e a moça é salva. Mas este era o Namor em início de carreira. Não apenas um selvagem. Não apenas um anti-herói. Mas, de fato, uma ameaça vinda das profundezas dos mares.

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A inspiração para Bill Everett criar o personagem veio do poema "The Rime of The Ancient Mariner", de Samuel Coleridge. Este mesmo conto foi adaptado pela banda Iron Maiden na música homônima, do álbum Powerslave, de 1984. Segue a letra traduzida desta música que, além de manter a história do conto original, também preserva o clima sobrenatural e fantástico que inspirou a criação deste herói... digo... ainda não-herói. E para quem quiser conferir o poema (traduzido) na íntegra é só acessar http://www.geocities.com/Athens/Troy/8413/balada.htm

RIME OF THE ANCIENT MARINER
(A BALADA DO VELHO MARINHEIRO)

Escute o conto do Velho Marinheiro
Veja seu olho quando ele pára um em três
Maravilha um dos convidados para o casamento
Fique aqui e ouça os pesadelos dos Mares
E a música toca, enquanto a noiva passa
Atingido por sua maldição
O Marinheiro conta sua história.

Guiado para as terras de neve e gelo do Sul
Para um lugar onde ninguém nunca esteve
Através da névoa voa o albatroz
Saudado em nome de Deus,
Esperando pela sorte que ele traz.

E o navio continua a navegar, de volta ao Norte
Através da neblina e do gelo
E o albatroz continua

O marinheiro mata o pássaro da boa sorte
Seus companheiros reclamaram contra o que ele fez
Mas quando a neblina se afasta, eles o perdoam
E se colocam como parte do crime.
Navegando adiante e adiante e ao Norte pelo mar
Navegando adiante e adiante e ao Norte até que tudo se acalme

O albatroz começa sua vingança
Uma terrível maldição, uma seca começa
Seus companheiros desejam má sorte ao Marinheiro
E o pássaro morto é pendurado em seu pescoço.
E a maldição prossegue no mar
E a maldição prossegue para eles e para mim.

"Dia após dia, dia após dia,
Encalhamos, não respiramos, nem nos movemos
Tão parados quanto um navio pintado sobre um oceano pintado
Água, água por todos os lados e
Toda a comida se escasseou
Água, água por todo lado, nenhuma gota para beber."

Lá, grita o Marinheiro
Lá vem uma nau além do horizonte
Mas como ele pode navegar sem vento
Em suas velas e sem maré.

Vejam… para frente ela vai
Para frente, ela se aproxima, fora do sol
Vejam… ela não tem tripulantes
Ela não tem vida, esperem, mas há duas

Vida e ela, Vida-na-Morte
Elas jogam seus dados para os tripulantes
Ela ganha o Marinheiro e ele pertence a ela agora.
Daí, duzentos tripulantes
Caem mortos de um por um
Ela… Ela, Vida-na-Morte
Ela o deixa viver, seu escolhido.

Um após o outro diante da lua rodeada de estrelas,
Muito rápido para gemer ou suspirar
Cada um virou sua face em horrível angústia
E me amaldiçoou com seu olho
Quatro vezes cinqüenta homens vivos
(e eu não ouvi nem suspiro, nem gemido),
Com passos pesados, um aglomerado sem vida,
Eles caíram de um por um."

A maldição persiste em seus olhos
O Marinheiro ele desejou ter morrido
Junto com as criaturas do mar
Mas elas viveram e ele também.

E à luz da lua
Ele reza pela beleza e não pela condenação deles
Com o coração, ele os abençoa
E também todas as criaturas de Deus.

Então, a maldição começa a quebrar
O albatroz cai de seu pescoço
Afunda como sonda no Mar
Então, numa queda d'água vem a chuva.

Ouça os gemidos dos marinheiros à muito mortos
Veja-os se agitar e eles começam a levantar
Corpos levantados por bons espíritos
Nenhum deles fala
E eles estão sem vida em seus olhos

E a vingança ainda é procurada, penitência começa outra vez
Envolvida num êxtase e o pesadelo continua.

Agora a maldição é finalmente suspensa
E o Marinheiro avista sua casa
Espíritos saem dos grandes corpos mortos
Formam sua própria luz e
O Marinheiro é deixado sozinho.

E então um barco veio navegando em sua direção
Foi uma alegria na qual ele não podia acreditar
O barco do Piloto, seu filho e o ermitão
Penitência cairá sobre Ele.

E o navio afunda como chumbo no mar
E o ermitão liberta o marinheiro de seus pecados

E o marinheiro conta sua história
E é condenado a sempre contar
Levando ao mundo o que Deus lhe ensinou
Que ame todas as coisas que Ele fez.

E o convidado do casamento é um homem triste e sábio
E a história continua...

Matéria publicada originalmente no blog Âmago: www.quadrinhosdarkmarcos.blogspot.com

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