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Babel, de Alejandro González


-felipe-
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Crítica do KMF:

 

Babel (Jan 2007)

 

 

Duas%20estrelas%20e%20meia

A ARTICULAÇÃO DA AUTO-IMPORTÂNCIA

Por
Kleber Mendonça Filho

Depois de Amores Brutos, 21 Gramas e Babel, tudo me leva a crer que o próximo filme de Alejandro Gonzalez Iñarritu mostrará o efeito devastador de um peido sobre as vidas de um grupo de 20 personagens. O fato é que Iñarritu dirige como um arrojado cheio de auto-importância. Sua direção lembra, de alguma forma, Bono do U2 nos seus piores momentos, e o discurso desse diretor (eu o ouvi pessoalmente em Cannes e no Rio, há alguns meses) corrobora o filme que ele fez.

Bom, mas o fato é que desde sua exibição em Cannes, em maio passado, que Babel já demonstrava pedigree para o tipo de coisa que a chamada "temporada de prêmios" valoriza. É uma produção de gente graúda em Hollywood (Brad Pitt, ele também atua), com um verniz de filme realizado fora do esquema e que tem ainda a aparente vantagem de deixar transparecer que existe um mundo grande, povoado por diferentes culturas por aí a fora, algo geralmente inexistente na produção hollywoodiana.

Babel também parece casar bem com um certo estado de ânimo político cultural (11 de setembro? Iraque? Saddam?) que faz, pelo menos no cinema (via Hollywood) a janela abrir um pouco mais para coisas externas e estrangeiras. Crash já parecia brincar com isso ano passado, naquele desfile de escola de samba de todas as coisas étnicas dentro de Los Angeles. Crash, de Paul Haggis, soa como uma crônica mais bem dirigida, mas com essa visão meio simplória de mundo, um filme estarrecido com a informação de que o mundo é grande e que nele existem muita gente...

Com o prêmio de Melhor Diretor para Iñarritu em Cannes, o filme acumulou prestígio desde então e começa a confirmar sua vocação para os grandes prêmios, ou pelo menos para indicações. Na última segunda-feira, ganhou o Globo de Ouro de Melhor Filme na categoria drama e firma-se como um candidato forte para outros prêmios no Oscar.

O lançamento no Brasil estava previsto para outubro passado, mas foi adiado para esta época devido ao "zum-zum-zum" do filme em relação ao Oscar. A UIP está lançando Babel no país com 70 cópias, número conservador que parece refletir misto de entusiasmo e preocupação dos distribuidores (o atual sucesso Uma Noite no Museu está com 500 cópias).

A Warner deu as mesmas 70 cópias para o excelente O Labirinto do Fauno, do também mexicano Guillermo del Toro, e a mesma UIP acreditou menos ainda no terceiro filme de um mexicano nesta temporada, o muito mal batizado no Brasil (e visualmente interessantíssimo) Filhos da Esperança (Children of Men), de Alfonso Cuaron.

Depois de Amores Brutos (2000) e 21 Gramas (2003), Iñarritu chega ao seu terceiro filme repetindo a fórmula "um acidente muda a vida de muitos", e se a piada de mau gosto do primeiro parágrafo provavelmente não corresponde a uma futura possibilidade, ela certamente manda a mensagem de que há algo de uma fórmula repetida, ao meu ver, à exaustão. Soa melhor se utilizarmos a versão divulgada de que trata-se de uma trilogia. No primeiro filme, era um acidente de trânsito na Cidade do México que afetava as vidas de muitos, no segundo, um outro acidente de trânsito, já nos EUA, e agora temos um tiro de rifle nas montanhas do Marrocos.

Em Amores Brutos (Amores Perros, originalmente), Iñarritu parecia honrar uma certa brutalidade, com um filme docemente malvado, sujo e sangrento. Em 21 Gramas, ele parece ter escolhido dizer e musicar aspectos que talvez melhor tivessem ficado calados e ficou uma sensação desagradável de publicidade de seguro de vida com duas horas de duração. Babel segue em frente com a ambição de abraçar o mundo com palavras de ordem sem muita expressão via comentário frouxo sobre globalização e comunicação. Toda a trilogia tem narrativa não-linear, motivo de piada involuntária durante a sessão de imprensa do filme em Cannes, onde o pobre operador trocou um rôlo durante a projeção, sem necessariamente fazer muita falta. O problema foi logo solucionado e soube-se que o projecionista foi sumariamente demitido.

Em seja lá que ordem narrativa, o tiro de largada é literalmente dado a partir de uma família que mora nas montanhas, no Marrocos. As duas crianças do casebre vão treinar tiro ao alvo com um rifle potente quando um dos tiros acerta uma americana (Cate Blanchett), de férias com o marido (Pitt) a bordo de um ônibus de turismo que por ali trafegava.

O fato tem repercussões na casa californiana da família americana, junto à empregada mexicana Amelia (Adriana Barraza) e seu sobrinho Santiago (Gael Garcia Bernal). Com o casal isolado em aflição no Marrocos, o filme também nos leva um tanto artificialmente ao Japão via explicação que o espectador deve talvez descobrir durante o filme.

No Japão, somos apresentados ao que mais parece uma dissidência do próprio filme, uma história independente que talvez rendesse um outro filme, mas que ainda comunga, mesmo assim, da visão de mundo manipuladora e embevecida de humanidade kitsch que Iñarritu traz para a sua obra. O final entrega particularmente essa textura ambiciosa de um novelão de aspirações artísticas.

Primo próximo do oscarizado Traffic (2000), de Steven Soderbergh, onde imagens nos EUA eram limpas e no México sujas e amareladas, Babel comunga também de visão um tanto dura de México, mesmo sendo Iñarritu mexicano há seis anos nos EUA. Os desdobramentos do segmento Califórnia/México incluem escolhas estúpidas dos personagens, uma galinha de pescoço torcido e ingenuidade perante a dureza de uma das fronteiras mais notoriamente brutais do mundo. Fica a sensação de estarmos vendo um filme onde é necesseario termos "grandes eventos" para que seja lá que mensagem importante seja transmitida.

No segmento marroquino, o casal americano é pouco mais do que um mecanismo artificial usado para dar início ao filme, depois esquecido como um cartucho usado, enquanto Babel mostra os personagens marroquinos com a distância típica guardada para figurantes. Iñarritu esbalda-se mesmo no segmento japonês que mais parece lhe interessar, em especial na personagem mais bem desenvolvida de todo o filme, Cheiko (Rinko Kikuchi), a adolescente surda que lida com a sua sexualidade e amadurecimento, algo que claramente me pareceu um desvio dos desdobramentos do tiro proposto.

Preenchendo a nova queda da Academia por filmes de estilo e aspereza incomuns como vimos ano passado no muito ruim Crash e no muito bom Brokeback Mountain, Babel, de qualquer forma, tem uma energia de diretor e dos seus atores que ainda sobrevive às suas ambições de um folhetim sério e desordenado.

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Eu não concordo com a maior parte do comentário do KMF, mas quem sou eu para discordar do "grande" KMF ... "Babel" não é o filme especial que pretendia ser, mas ainda assim é um filme que não merecia o desdém que este dedicou a produção de Iñarritu. Aquilo que ele critica no filme, ele esbanja na crítica ... qta hipocrisia ...

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KMF não é um fã do Iñárritu... Desceu a lenha no ótimo 21 Gramas' date=' portanto acho que pegou até leve com Babel. [/quote']

 

Eu percebi que ele não gostou muito de "21 Gramas" ( não li a crítica dele ) ... eu comentei do que ele escreveu sobre "Babel", isoladamente, e continuo achando que fez desdém a um filme que, se não é excelente, no mínimo é um projeto importante ( menos importante que "21 Gramas", vale dizer ).
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Acho que se a gente for levar em consideração a 'importância' de um filme' date=' todo mundo que odiou Crash vai ter q rever a posição.

[/quote']

 

"Importante" não é a melhor das qualidades que se pode dar a um filme, devo reconhecer ... só acho que o desdém não era necessário. 
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a 'importância' de um filme pra mim é ZERO se eu desgostei da execução.

 

e ora, é a opinião dele sobre o filme, então nada errado nele desprezá-lo. até onde sei ler, ele criticou os aspectos que desgostou em Babel. não vejo porque ele não possa tratar com desdém (se o desdém for o que a crítica dele diz, por exemplo) um filme que ele não gostou...
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a 'importância' de um filme pra mim é ZERO se eu desgostei da execução.

 

e ora' date=' é a opinião dele sobre o filme, então nada errado nele desprezá-lo. até onde sei ler, ele criticou os aspectos que desgostou em Babel. não vejo porque ele não possa tratar com desdém (se o desdém for o que a crítica dele diz, por exemplo) um filme que ele não gostou...
[/quote']

 

Concordo, concordo ... retiro o "importante" que eu disse ... fui infeliz ... só acho que aquilo que ele critica no filme, ele esbanja naquilo que escreveu ... mas como eu disse, quem sou eu pra discordar do "grande" KMF ... permitem-me desdenhar dele ... 03
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Sei dos defeitos de Babel, mas que filmes não os tem? Crash é horrível, não gosto de compará-lo com Babel. Babel tem um certo charme e a condução dos atores profissionais ou não é maravilhosa. Tá certo que alguns personagens ficaram largados lá pelo meio do caminho... Mas como cinema Babel me satisfez em suas duas horas e pouco de projeção... 

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Eu tb fui assistir o filme com a maior das boas vontades... Já conheço o trabalho do Iñárritu (e adoro seus filmes anteriores) e acredite, não li UMA crítica sequer ANTES de ver o filme justamente para não ser influenciado. E o que eu vi? Um mexicano obcecado com a xana de uma japonesa...

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Ok, se um cara faz dois filmes bons, interessantes e de certa forma com uma edição refrescante como o caso de 21 gramas. Ai ele se acha e parte pra um projeto mais ambicioso. Contrata duas estrelas para fazerem papeis sem muita relevância a não ser alavancar a estória. Faz um roteiro em que tudo tem que ter uma ligação forçada ou não... Devido a já conhecer seus filmes anteriores(inclusive tenho os dois em minha coleção),dou um voto de minerva ao rapaz e aprovo esse seu filme pretencioso sim, mas não menos cinema por isso.

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Não me refiro a respeitar o gosto do outro, mas sim do ranço que a gente nutre com determinados filmes, se recusando a ver virtudes neles que são óbvias...

 

Iñárritu filma super bem, planos maravilhosos, fotografia idem... Mas se embananou num tema que é maior do que ele gostaria que fosse...
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Resumidamente: eu gostei tanto de "21 Gramas" que recomendo, comprei o DVD e sempre que posso dou uma revisada.

Resumidamente: eu gostei tanto de "Babel" que recomendo e talves volte a revê-lo.

 

"Babel" é um filme menos especial, porém não é por causa disso que mereça desdém e/ou descrédito. Só é um filme que apesar de tentar ser mais universal acabou tendo um apelo menor ...
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Eu já acho que por tentar ser mais universal' date=' ele tropeça em diversos pontos e, por isso, teve um apelo menor... [/quote']

 

Foi o que eu falei ... o filme por ser mais universal deveria ter um apelo maior, mas não é o que acontece com "Babel", o que penaliza o filme, mas não o desqualifica por completo.
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Ós pontos de ligação são absurdos. O roteiro é precário em vários aspectos' date=' desde esteriotipar as personagens, até as interconexões das estórias, ponto este, muito bem esclarecido pelo KMF, quando fala sobre o peido.[/quote']

 

Sinceramente ... diferentemente de "21 Gramas" as conexões entre as histórias não são importantes ... saber que foi o japonês que entregou a arma pro marroquinho é um mero detalhe assim como todos os elos ... afinal já sabemos deles ( com exceção do japonês ) facilmente, existem elos que pulverizam os incidentes, mas o que importa é cada uma delas tem uma carga independente ...
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Ós pontos de ligação são absurdos. O roteiro é precário em vários aspectos' date=' desde esteriotipar as personagens, até as interconexões das estórias, ponto este, muito bem esclarecido pelo KMF, quando fala sobre o peido.[/quote']

 

Sinceramente ... diferentemente de "21 Gramas" as conexões entre as histórias não são importantes ... saber que foi o japonês que entregou a arma pro marroquinho é um mero detalhe assim como todos os elos ... afinal já sabemos deles ( com exceção do japonês ) facilmente, existem elos que pulverizam os incidentes, mas o que importa é cada uma delas tem uma carga independente ...

 

Nessa linha de raciocínio, então, você coloca por terra abaixo a premissa do filme!!! Você mesmo disse tudo Thiago, apenas não percebeu que este seu ponto de vista, mesmo sendo colocado de forma "elogiosa" ao filme, na realidade, acaba por ridicularizá-lo, entende?
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