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Livros de Terror


RAZIEL
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Blz, Conan? Desculpe a demora em responder, semaninha ocupada essa, rsrs. Mas li sua história O Estranho Caso da Pizza 57, e gostei! Até dei umas risadas (espero que tenha sido sua intenção, rsrsrs). A ironia é bem perceptível, já que você faz graça com clichês das histórias de fantasmas, e ainda termina com uma frase típica daquelas "correntes" que recebemos por email. Muito engraçado, um humor sutil (e que não ridiculariza as histórias do gênero, o que faz com que seja apreciada por quem gosta de terror). Além do mais, você escreve bem. Parabéns.

 

 

 

Vou dar duas dicas práticas então, já que por enquanto, é o que posso dar (não há o que criticar na história em si): primeiro, tome cuidado com o uso exagerado de advérbios terminados em "ente". Dá uma olhada nessa frase, por exemplo:

 

 

 

"A atendente, como que arracanda de um pesadelo para se encontrar em um pior, volta a si e imediatamENTE registra: "O seu pedido, senhor, é o de número 57!”. O velho, tão rapiamENTE foi acometido pela fúria, voltou a exibir um olhar melancólico . Ele pagou com uma nota de 10 reais velha e desgastada, pegou o bilhete e vagarosamENTE se retirou para esperar a sua pizza…"

 

 

 

Pode parecer chatice minha, mas muita gente percebe isso, e acaba virando uma "cacofonia", algo um pouco incômodo, uma mancha em uma história boa. Mas esse hábito de exagerar nos advérbios é hiper-comum, e eu usava ainda mais que você. Só fui perceber isso quando me avisaram, então, acho que é útil alertar os outros.

 

 

 

Enfim, há várias formas de diminuir os advérbios, e particularmente, acho que uns dois por página são perfeitamente assimiláveis. Mas isso já é opinião pessoal, e é lógico, as vezes surgem situações onde o uso desse tipo de advérbio se faz necessário. Isso vai do seu discernimento.

 

 

 

Em segundo lugar, só tome um pouco de cuidado com a repetição de palavras muito próximas das outras. A palavra "atendente", por exemplo, é repetida algumas vezes mais do que necessário (nas mesmas frases). Use sinônimos quando possível! E é claro, para reforçar certas idéias, as vezes é nécessário repetir. Novamente, vai tudo do seu bom-senso.

 

 

 

Lerei a outra história do blog logo logo. Ah, e se quiser escrever o conto que vc disse que tem uma idéia parecida com O Lençol, eu leio. Taí seu tema, rsrs.

 

 

 

Adoro livros de folclore, livros que falam sobre criaturas mitológicas, criptozoologia, etc. Tiro altas idéias disso (se você ler O Confessionário, você vai entender, rs). Abraço!RAZIEL2010-02-06 13:12:24

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O PAÍS DE OUTUBRO, de Ray Bradbury

 

 

 

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Vou falar sobre um dos meus livros favoritos, certamente uma das melhores antologias da literatura do horror e do sobrenatural: O País de Outubro, de Ray Bradbury.

 

 

 

Ray Bradbury, para quem não sabe, é um dos autores norte-americanos (de ficção científica, horror e fantasia) mais premiados de todos os tempos. Publicou mais de 30 livros e 600 contos, recebendo prêmios importantes como o Nebula e o Hugo. Entre suas obras mais conhecidas, podemos citar Algo Sinistro Vem por Aí, Fahrenheit 451, O Homem Ilustrado, O Homem Ilustrado, Remédio para a Melancolia, o Vinho da Alegria, As Crônicas Marcianas, etc e etc.

 

 

 

Suas histórias possuem uma qualidade única, a poesia. Mesmo um conto sobre algo particularmente escabroso (como um bebê assassino, por exemplo) é recheado de poesia e encantamento, uma aura de mistério e nostalgia que nenhum outro escritor consegue igualar. Os contos de Bradbury são pura poesia em forma de prosa, o que não diminui em nada o fator horripilante de seus textos. Muito pelo contrário, o cara escreveu história que são verdadeiras fábricas de calafrios.

 

 

 

Pois bem, Ray Bradbury atingiu seu ápice (na minha opinião, é claro) com o livro O País de Outubro (editora Francisco Alves, 1981, coleção Mestres do Horror e da Fantasia). A obra (prima) reúne 19 histórias incríveis, fantásticas, lindas e aterrorizantes. Nem todas são de terror, mas todas valem muito à pena. Como de costume, vou falar um pouco de algumas delas, para vocês terem uma idéia do que os aguarda (sim, pois vocês VÃO comprar esse livro! Não há desculpa para um apreciador do horror não ter um exemplar na estante!).

 

 

 

O livro abre com O Anão, uma tocante história sobre um anão (dãã) que vai todos os dias no Labirito de Espelhos de um parque de diversões. Uma funcionária do local fica fascinada com seu comportamento, despertando o ciúme de um colega de trabalho.

 

 

 

O Esqueleto mostra o medo doentio que um homem sente do próprio esqueleto. Para sua sorte (ou azar), alguém pode resolver seu problema... Enfim, uma obra de arte do macabro.

 

 

 

A Jarra fala sobre um homem simples, que fica maravilhado com o deformado conteúdo de um jarro numa exposição de aberrações. Ele compra o jarro, esperando conseguir o respeito das pessoas em seu povoado. Uma idéia que funciona a princípio, porém a esposa megera resolve acabar com sua alegria. O final é um primor.

 

 

 

O Lago é um conto de terror capaz de causar calafrios e lágrimas ao mesmo tempo, o tipo de coisa que poucos escritores são capazes (mas algo fácil para Ray Bradbury): um homem volta com a esposa para o lago onde, durante sua infância, uma amiga querida se afogou. O corpo nunca foi encontrado, mas será que isso significa que ela nunca mais vai voltar?

 

 

 

O Emissário é perfeito. Daqueles que não dá pra falar nada além de LEIA.

 

 

 

O Pequeno Assassino fala sobre uma mãe com aparente depressão pós-parto. Das sérias, já que ela acredita que seu bebê quer assassiná-la! Mais uma trama delirante (do tipo "Além da Imaginação"), mais um conto perfeito. Um dos meus favoritos de todos os tempos, aliás.

 

 

 

Em A Multidão, o interesse mórbido que as pessoas sentem ao ver um acidente de trânsito é visto por outro prisma: e se houver um interesse escuso nesse fascínio todo?

 

 

 

A Segadeira mostra o destino de uma família pobre que encontra uma casa desocupada no meio de uma gigantesca plantação de trigo. Há um homem morto lá dentro, e a comida parece brotar magicamente na despensa. Parece a resposta para as preces de todos eles, no entanto há um preço muito alto para qualquer um que deseje morar lá. É outra das minhas histórias preferidas, com um desfecho magistral.

 

 

 

E por enquanto é o bastante, pois acho que já falei demais. Como já disse, é uma obra obrigatória, portanto, se tiver a chance de comprar, manda ver. Mais uma recomendação sem erro do Raziel aqui. 03.gifRAZIEL2010-02-06 13:16:35

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 Caralho' date=' Raziel!!!!  Antes não tivesse lido sua indicação e resenhas dos contos do Bradbury... Porra!!! Agora fiquei com vontade de ler esse livro de qualquer jeito!!!!!   

 

 

 

 É fácil de encontrar nas livrarias ou é mais fácil de achar em sebos?
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Só em Sebos, cara. Mas eu sugiro a Estante Virtual, que facilita muito sua vida (nem que seja para você descobrir quais sebos em sua cidade possuem o livro). Clique no link abaixo, que você vai direto:

 

 

 

Estante Virtual - Livro País de Outubro

 

 

 

Abraço!

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Obrigado por ter lido Razi, hehe. Pode descer a lenha mesmo sem medo de parecer desagradável.

A intenção do conto foi esta mesma, ter toques de humor. Já o outro conto a dosagem de humor é menor, mas não significa que seja mais terror, pois eu tenho a mania (deve ser meu estilo, sei lá, rsrs) de não ficar preso a um gênero. Gosto de ficar passeando por lá e para cá e não ter algo único. Na verdade a única coisa fixa é o elemento fantástico.

Mas acho porque sei disso. Acho a criação e escrita de um conto de horror puro um processo muito desgastante, sabe? (Vale também para histórias mais trágicas). Eu me envolvo com a história que estou escrevendo de tal modo que eles me afetam. Quando resolvo escrever coisas macabras pela noite, surgem cada imagens bizarras na cabeça que dá medo em mim mesmo! heheh... mais ou menos aquele papo de quem lê se deixar leva r pela história, isto é, ter envolvimento na história e de sentir o horror.

 

Eu confesso que a primeira metade do conto ficou a desejar. Eu mesmo não fiquei satisfeito, principalmente com a parte do velho fazendo o pedido e a atendente. Ficou confuso e disperso. Não gostei mesmo desta parte, ficou falha, mas na hora não conseguia criar uma passagem adequada. Para mim pecou também no ritmo. Gostaria que fosse mais fluída, e que um trecho levasse a outro quase como uma sequência evoluindo gradualmente e naturalmente para o clímax. Mas tem que ser assim: você escreve uma história, deixa ela guardada numa gaveta por um bom tempo, e só depois de um bom tempo você volta nela e vê com outros olhos. Ambos os contos do blog estão mais ou menos no estado bruto, não passei o pente fino ainda, e tem erros grosseiros até.

Mas vou levar em consideração o ue você disse. Realmente nunca tinha parado para perceber os advérbios.

 

Agora uma coisa complicada a respeito de ler muitas coisas no gênero: se por um lado a falta da leitura limita o seu "vocabulário" de idéias, por outro a ler muito acaba também por limitar a possibilidade de criar algo original. Paradoxo? Deixe-me explicar. É que a gente vai estocando imagens e idéias na cabeça e, se elas dão variedade, acabam sendo também aquilo que a gente vai usar, consciente ou insconsciente, nos textos. E o problema vem quando você jura que criou algo original, mas na verdade você recuperou, sem perceber, um conceito que estava engavetado lá no fundo da sua cabeça. E nesta preocupação de tentar não repetir o que já foi dito, afinal seria um pecado capital falar o mais do mesmo, a história original acaba ficando meio segundo de lado.

Meio assim: quando inocente, agente escreve segundo a nossa cabeça. Mas depois do "pecado original" temos uma responsabilidade na hora da criação do texto.

Sinto isso agora que vou escrever o conto sobre o Lençol. Agora tenho uma preocupação a mais de não repetir o seu conto. Não que eu faça por mal, mas depois que eu li, o seu texo está armazenado no repertório de idéias. Aí posso repetir involuntariamente...

Mas é só uma viagem, hehe

 

Eu li o seu texto homenageando o Lovecraft. Ficou bem legal. Conseguiu recriar o clima, os jargões, o vocabulário, a forma e as idéias. Mas ao mesmo tempo você introduziu elementos pessoais na história.

Como exercício de percepção e discussão posso tentar apontar os elementos que são peculiares de cada texto? (pois a homenagem já é visíveil por si só).

- O seu texto é feito em cima de diálogos, que ocupam um espaço importante no desenvolvimento da trama. Nos contos do Lovecraft, os diálogos não têm esta posição tão importante, exceto quando surgem os monólogos, que servem como uma narrativa dentro da narrativa, isto é, apresentar uma situação dentro daquele conto. Geralmente os contos do Lovecraft são narrados em primeira pessoa, com uso de palavras subjetivas que expressam o estado mental e de espírito degradados do protagonista. Ou então é um narrador observador total que penetra a psique do protagonista (dos outros geralmente não) desenvolvendo longos trechos descrevendo este estado psicológico dele. É um autor que descreve não somente o cenário como também o estado mental, o que cria uns lapsos de tempo psicológico dentro do tempo cronológico. E o tempo cronológico, além destas incursões na psique, é quebrado pela inversão cronológica. Um dos artifícios que ele usa recorrentemente para prender a atenção do leitor logo no início da história é apresentar uma situação e a partir daí ele volta no tempo para contar como que tudo terminou assim.

- Você introduziu também a ameaça física estrita com toques de "sadismo". A ameaça feita com faca e a arma dentro da boca é algo incomum dentro do universo de Lovecraft, pelo menos não ocupa um espaço importante. No seu texto funciona como aquilo que conduz o perigo, constante, e o que torna a situação tensa por uma ameaça física imediata (que deliciosamente se concretiza ao final)

- E por fim, você fez uma sítese legal do universo do Lovecraft, passando por muitos elementos. Mas no caso dele, os "grandes deuses antigos" geralmente aparecem em novelas e não em contos. E são elementos soltos e esparsos dentro de várias histórias, e muitas vezes são apenas sugestões. Você faz sintese competente deste elementos em um único texto.
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Blz, Conan! Valeu pelos comentários ao meu conto, você é bem observador. E também manja das histórias do Lovecraft, é bem isso que você falou: de fato, o autor raramente usava diálogos (se não me engano, ele mesmo admitia sentir dificuldade nisso). Mas valeu pelos elogios! Escrevi aquele conto para participar de uma revista, que publicou contos baseados no universo do escritor.

 

 

 

Agora, falando sobre o seu conto: bom, eu não vi problemas muito graves de ritmo, dado o tipo de história, acho que fluiu bem (é claro que, como autor, você pode ser mais crítica nisso). Mas, se você quer melhorar o ritmo, só editando mesmo, cortando o que parece excessivo para você, etc. Embora não tenha me incomodado, talvez seja uma boa idéia se, na segunda metade da história, você cortar alguns dos "elementos sobrenaturais" que aconteceram após a morte do velho. Concentre-se mais no encontro do segurança com o fantasma, e depois, apenas um tipo de acontecimento sobrenatural que passou a se repetir, deixando claro que o lugar continuou assombrado: ou eles sempre viam o velho andando; ou as pizzas 57 sumiam; ou eles sentiam o cheiro de pizza, etc. Isso já deixa mais redondinho. Ah, mas o desfecho estilo "corrente" é ótimo, eu não tiraria!

 

 

 

Agora, comentários sobre isso aqui:

 

 

 

Agora uma coisa complicada a respeito de ler muitas coisas no gênero: se por um lado a falta da leitura limita o seu "vocabulário" de idéias' date=' por outro a ler muito acaba também por limitar a possibilidade de criar algo original. Paradoxo? Deixe-me explicar. É que a gente vai estocando imagens e idéias na cabeça e, se elas dão variedade, acabam sendo também aquilo que a gente vai usar, consciente ou insconsciente, nos textos. E o problema vem quando você jura que criou algo original, mas na verdade você recuperou, sem perceber, um conceito que estava engavetado lá no fundo da sua cabeça. E nesta preocupação de tentar não repetir o que já foi dito, afinal seria um pecado capital falar o mais do mesmo, a história original acaba ficando meio segundo de lado.

 

Meio assim: quando inocente, agente escreve segundo a nossa cabeça. Mas depois do "pecado original" temos uma responsabilidade na hora da criação do texto. Sinto isso agora que vou escrever o conto sobre o Lençol. Agora tenho uma preocupação a mais de não repetir o seu conto. Não que eu faça por mal, mas depois que eu li, o seu texo está armazenado no repertório de idéias. Aí posso repetir involuntariamente... Mas é só uma viagem, hehe[/quote']

 

 

 

De fato, cara, de fato é um problema. E sim, a gente fica cuidando pra não repetir certas coisas, mas o segredo é não perder o sono por causa disso: se a melhor alternativa para uma história for fazer algo igual a outra coisa que já foi escrita, então vá em frente (só não pode ficar TUDO igual, é claro). O importante é não deixar a narrativa em segundo plano, conforme você mencionou.

 

 

 

Eu ainda acho que ler muito é mais aconselhavel. Já li histórias de pessoas que estavam se aventurando pela primeira vez no horror, que nunca tinham lido muito do gênero, etc... E o interessante é que muitas dessas pessoas escreveram coisas que julgaram como "inovadoras e revolucionárias" no gênero, quando na verdade, tudo aquilo já tinha sido escrito antes (e beeem melhor)... Claro que, muito pelo preconceito desses escritores, eles acharam que estavam fazendo algo novo em terror sem nem conhecer o gênero...

 

 

 

Mas enfim, embora tenha seus poréns, acho que ler bastante ainda é bem melhor e mais aconselhável. Paradoxalmente, quem lê pouco acaba plagiando mais (involuntariamente, mas enfim... rsrsrs). Fora outras vantagens de ler bastante, que você já conhece e não vou perder tempo falando, ahauahau!

 

 

 

Abraço!

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NOTURNO, de Guillermo del Toro e Chuck Hogan

 

 

 

noturnodeltoro.jpg

 

 

 

Você, fã do horror, já deve ter ouvido falar desse livro sobre vampiros, que está disponível nas principais livrarias do país. E com destaque digno dos maiores best sellers! E não é para menos, afinal, um dos autores é o famoso cineasta Guillermo del Toro, diretor de preciosidades como A Espinha do Diabo e O Labirinto do Fauno (embora seja mais conhecido por ter dirigido os dois filmes do Hellboy). Associado com o escritor Chuck Hogan, Guillermo nos trás uma premissa diferente da maioria dos livros sobre vampiros, que parece originalíssima para aqueles que pouco conhecem sobre o tema, mas que infelizmente não trás muitas novidades para os mais escolados.

 

 

 

Noturno começa em um delicioso tom de fábula, que lembra bastante o início de Hellboy 2 (falar mais detalhes poderia ser considerado como spoiler); a narrativa logo dá um salto no tempo, quando o Boeing 777 aterrisa em Nova York. Logo após o pouso, o avião permanece misteriosamente parado na pista com as luzes apagadas, como se fosse um gigantesco túmulo. A equipe de emergência vai averiguar o acontecimento bizarro em um início tenso e bastante eficiente, quando descobrimos o que aconteceu com a tripulação e os passageiros. A partir disso, o epidemiologista Eph Goodwheather se vê envolvido com uma estranha epidemia vampírica, que parece ter sido planejada por forças maiores do que poderia imaginar.

 

 

 

Muito mais que um livro de horror, a obra se trata de um thriller escrito segundo a cartilha de um Robin Coock ou um Michael Crichton menos detalhado: privilegia-se a ação e o suspense (é preciso impedir uma tragédia que está prestes a acontecer, numa corrida contra o tempo), em detrimento dos personagens que, quase sempre, são bastante rasos (apresenta-se um personagem; fala-se um pouco sobre sua vida; coloca-se o personagem em ação, sem voltar a aprofundá-lo). Em resumo, o mesmo esquema de nove entre dez thrillers disponíveis no mercado, o que pode ser vantagem para alguns leitores e desvantagem para outros. O bacana nos livros nesse estilo é que eles costumam ser de leitura agradável e ágil, do tipo que prendem o até a última palavra. No entanto, Noturno é um pouco falho nesse aspecto, pois lhe falta aquele "algo mais" que motiva a leitura ininterrupta.

 

 

 

Um autor como Michael Crichton, por exemplo, fazia amplas pesquisas antes de escrever seus livros, o que gerava obras repletas de informações interessantes e inesperadas sobre ciência, antropologia, tecnologia ou qualquer outro tema que importasse para a trama; Dan Brown, por sua vez, tem a capacidade de formular enigmas interessantes em um contexto histórico e artístico, que despertam uma curiosidade imensa para chegar ao desfecho; Tom Clancy escreve sobre a guerra moderna e todos os seus aspectos mais fascinantes, o que faz de seu trabalho um prato cheio para quem é chegado em assuntos bélicos. Enfim, os autores de best sellers conseguem destaque por suas características próprias, que os tornam queridos por determinado nicho de leitores. E é isso que falta em Noturno, algum diferencial de verdade. Escrever um thriller com temática de horror, além de não ser novidade, ainda é muito pouco para sustentar uma narrativa nesse estilo.

 

 

 

O livro é até agradável de ler, mas ao menos em mim, não despertou aquela dificuldade de deixar o livro de lado para ir cuidar de meus afazeres diários. Não é o tipo de obra que se lê em uma tacada só, pois embora mantenha o interesse em alguns trechos, se torna bastante cansativo em outros. Por exemplo, acompanhamos com interesse as primeiras transformações dos infectados e seus ataques, porém tais situações vão apenas aumentando (para dar o tom da ameaça crescente), e como não mudam muito, acabam se tornando repetitivas . O tom científico dado ao tema do vampirismo, com explicações para a metamorfose, o apetite por sangue e tudo mais, certamente será novidade para muitos leitores, mas não para aqueles que já leram o espetacular (e muuuuito superior) Eu Sou a Lenda, de Richard Matheson. Se você ainda não conferiu essa preciosidade, acredite: as explicações de Matheson eram muito melhor equilibradas e faziam mais sentido.

 

 

 

Talvez por ser o primeiro romance do cineasta, de vez em quando nos deparamos com um ou outro erro grosseiro na escrita (mas era de se esperar que o outro escritor não deixasse isso passar em branco). Por exemplo, em determinado trecho, um dos personagens precisa se defender de uma das monstruosidades com o que tem à mão; para sua sorte ele está em um hospital, e o que encontra mais próximo é uma daquelas serras usadas para cortar crânios... Só que o autor literalmente interrompe a ação para dizer o nome do aparelho e explicar detalhadamente sua função, aparência, etc! Enfim, um trecho que tinha por objetivo causar aflição acaba comprometido por um didatismo forçado.

 

 

 

Sobre o livro em si, a impressão que se tem é que del Toro resolveu testar um roteiro antes de filmar, lançando-o em forma de romance para fazer pesquisa de mercado. Além disso, as criaturas de Noturno lembram vagamente os sanguessugas do competente Blade 2, também dirigido pelo cineasta. Aliás, interessante notar que em determinado momento do livro, alguns personagens se armam com traquitanas ao estilo do personagem de Wesley Snipes, inclusive utilizam uma arma IDÊNTICA a uma que é usada no filme do caçador de vampiros da Marvel. Isso me faz pensar que a idéia para o livro deve ter surgindo enquanto Blade 2 era filmado, mas não posso provar nada. :)

 

 

 

Mas é claro, ainda é um livro com um dedo (ou dez) de Guillermo del Toro, então muita coisa se salva. As tais explicações científicas, embora rasas e um tanto confusas, são grotescas o bastante para satisfazer o apetite de sangue dos leitores mais mórbidos (eu incluso, he he). Por exemplo, aqui você encontrará a resposta para uma questão que há muito tempo desafia a humanidade: o que os vampiros defecam? :P

 

 

 

Os sanguessugas aqui são do tipo monstruoso, e não os mortos-vivos aristocráticos (ou que brilham ao sol) que estamos mais habituados. O vilão principal, inclusive, é mauzão pra valer! Além disso, muitas passagens de suspense e terror funcionam a contendo, e é possível sentir o coração acelerando e um ou dois calafrios (o que, convenhamos, é mais do que muitos outros livros de horror). Há passagens de uma inventividade que beira o genial, como aquela em que um astro de rock recém-contaminado vai limpar a maquiagem que usa nos shows (com olheiras negras e face pálida), apenas para descobrir que o rosto por baixo está quase igual! Infelizmente, tais aspectos são insuficientes para tornar a obra memorável.

 

 

 

Resumindo, Noturno não é um livro ruim. É gostoso de ler e é competente em diversos aspectos. Porém, é cansativo em algumas partes, e seus personagens não conseguem a empatia do leitor. Essa falta de empatia é até algo comum em livros do estilo, só que aqui fica faltando aquele "algo mais" que compensa a falta de personalidade dos heróis. Não sei o quanto a escrita à quatro mãos atrapalhou (ou ajudou) no processo, mas enfim, apesar de todos os poréns, fiquei curioso para ler a continuação. Só me resta torcer para que o segundo livro seja melhor.RAZIEL2010-02-18 22:45:08

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  • 10 months later...
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Estou me assustando com The Mysteries of Udolpho. Mas o terror leva pouco mais de 200 páginas pra começar (a autora deve ser uma vida passada de Tolkien), e não sei se vai até o fim (são 620 páginas). O livro fica melhor quando o terror começa, mas mesmo antes é bom, exceto na viagem onde cada paisagem é descrita. O castelo gótico quase vazio no final do século XVI mais os acontecimentos ocultos criam imagens aterrorizantes. louco

 

 

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