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Forum Cinema em Cena

O Que Você Anda Vendo e Comentando?


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Vou confessar uma coisa para vocês, eu não gosto muito quando uma pessoa recebe seu Oscar em sua primeira indicação, e depois nunca mais é indicada. Então, por anos a fio, sempre desejei ver o Sam Mendes indicado de novo em Direção (ele é só um dos casos: Rachel Weisz é outro, finalmente recebeu sua indicação posterior; agora transferi esse sentimento bobo para a Vikander). É muita coincidência que, 20 anos depois de "Beleza Americana", o diretor inglês esteja de novo no páreo da Academia, novamente em um ano fortíssimo, e, devo dizer, num momento em que "Beleza Americana" (pelo qual sou apaixonado) vem sendo bastante relativizado, com muita gente dizendo que aquele filme não é bom assim, e, principalmente, não teria uma história "profunda", apenas algo que tangencia a hipocrisia americana."1917" é um filme excelente, mesmo, do ponto de visto técnico. Mas creio que não vai demorar 20 anos para as pessoas começarem a criticar seu roteiro.

Minha experiência vendo o filme: nos primeiros 25 minutos, que se concentram basicamente em trincheiras, eu sentia tudo coreografado demais. O que me parecia artificial e programado em excesso. Nessas 25 minutos, a câmera se concentrava por tempo demais atrás dos protagonistas, ou tempo demais na frente exata deles, com os elementos cênicos acontecendo - se me faço compreender - pelos lados dos protagonistas (soldados passando, bombas, fumaça, tendas). Isso me cansou um pouco. Mas depois do primeiro terço, quando se liberta das trincheiras, o filme ganha tantas movimentos incríveis e embasbacantes de câmera, que meu lado cinéfilo começou a se empolgar. Dali pra frente, foi só "ual!!".

Destaco 3 momentos de profundo "uaaall":  casamata; avião; cidade à noite. Roger Deakins, pode abrir espaço na prateleira, seu segundo e merecido Oscar de Fotografia. Daqui pra frente, ele deveria ser hors-concours. Ninguém na indústria é melhor do que ele.

Em "Beleza Americana" havia um elemento que se destacava também, mas que, insanamente, não venceu o Oscar naquele ano de 2000. A Trilha Sonora de Thomas Newman, em sua quarta indicação. Em 2020, ele está na sua 15º indicação, e eu sempre escrevi nesse fórum, ano após ano: "Ele só vai ganhar quando estiver em um Best Picture novamente". Ele está. Ele vai ganhar. Finalmente. Sinto muito por "Joker".Por mais que o plano noturno seja absolutamente maravilhoso, ele não seria nada sem aquela música que o acompanha. O trabalho inteiro é lindo, mas esse momento é um deleite para os ouvidos.

O design do Dennis Gasner é de tirar o fôlego. Não duvido que ganhe também. Eu não consigo mensurar a trabalheira. Quantos caminhões de brita, quantos caminhões de lama para sujar tudo, quantas pessoas para cavar aquilo tudo... Ele é outro também que ganhou cedo a estatueta...Tá mais que na hora de ganhar pela segunda vez.

George MacKay está excelente. Dando muita emoção e elegância ao filme. Todo mundo virou fã dele após "Capitão Fantástico", e agora seu star quality só vai aumentar.

Não tenho gostado dessa propaganda falsa "filmado em um único take", ou coisa semelhante. Não o é. Ele é filmado para "parecer" que é. Mas não é. Além de inúmeros cortes invisíveis, quando os personagens adentram ambientes fechados; existe um "fade-out", lindo e significativo, no meio do filme! Acho uma bobeira ter essa divulgação enganosa, pois o filme poderia tranquilamente ter conquistado mais uma indicação em Montagem para o Lee Smith (que está creditado!). A montagem foi muito bem feita, toda pensada, pré-contruída, ensaiada, realizada internamente. Ela só não é externa, para fora.

Um filmaço! 

Sam Mendes, depois de 20 anos, a história se repete. Outro de seus filmes ganhará Direção e Melhor Filme, em um ano considerado fortíssimo.

E também se repete a experiência da guerra. Quase vimos uma no início do ano. A gente supõe que essas coisas não acontecem de novo. Acontecem. Se a paz não é uma cultura, acontece. Repetem-se! As coisas se repetem.

1917 (2019)

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Jay and Silent Bob Reboot é a sequência razoável do melhorzinho Jay e Silent Bob Strikes Back que, em formato de road movie, dispara pras demais obras do diretor, Kevin Smith. É resumidamente um besteirol repleto de pontas (algumas geniais e outras desnecessárias, que só enchem linguiça) mas o melhor mesmo são ás referências á cultura geek e a crítica aos reboots/remakes. Destaque pra ponta do Ben Affleck e Jason Mewes, e a sequência que parodia Batman vs Superman, com o Val Kilmer e a Melissa Benoist. Atente pra emocionante cena pós-créditos. 8-10

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Two Lottery Tickets é uma divertida comédia dramática romena que faz dum plot simpório uma comédia de ocasião com personagens bastante verossímeis, lembrando até uma sitcom. Com boas e simpáticas interpretações e um desfecho bastante razoável, este filme oferece um leque amplo de situações interessantes e explora a mentalidade provinciana ccom poucos recursos, num esquema meio minimalista. 8,5-10

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The Shasta Triangle é um scy-fy de orçamento merreca que começa prometendo uma trama bacana de mundos paralelos e realidades alternativas, mas se perde no meio termo sem dizer a que veio. A trama é frouxa e confusa e as atuações estão dentro do aceitável, embora falta de orçamento não seja desculpa pra falta de criatividade e dum roteiro decente. Vade retro, tem coisa bem melhor no gênero. 6-10

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"Just Mercy" foi ao longo do ano de 2019 um possível contendor na batalha para chegar ao Oscar, alcançando seu maior feito no SAG: a indicação de Jamie Foxx em Ator Coadjuvante. Às vezes a gente se esquece que ele é excelente ator. Consegue a proeza de parecer até mais jovem, como nesse filme. Bom, em termos de atuação, ele está bem ao longo do filme todo, mas o final é previsivelmente seu maior momento; muito emocionante.

Pena que até chegar ao final, temos que passar por duas horas e mais um tanto de enorme fastio, de enorme lenga-lenga. O filme tem um ritmo muito ruim (montagem de Nat Sanders, de "Moonligth" e "Se a Rua Beale Falasse"). Cansamos de ver esse tipo de filme na vida, então tudo se torna extremamente previsível. E escrever isso - previsível - estou falando como cinema, pois "previsível" na vida real é ultrajante e inadmissível; é, infelizmente, "previsível" que nossa sociedade comporte tantos casos de "racial profiling".

O hawaiano Destin Daniel Cretton é bom diretor, mas em "Just Mercy" não acrescenta nada cinematicamente novo à história. Saudade da potência de "Temporário 12".

Michael B. Jordan está bem no papel de advogado, mas poderia ter explorado mais sentimentalmente a nuance de que....o personagem também , pela cor da pele, poderia estar na situação...faltou esse sentimento de transferência no roteiro e na atuação a meu ver. Brie Larson está desperdiçada, não tem momento algum para brilhar. 

Michael B. Jordan in Just Mercy (2019)

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Uma das apostas da Amazon para o Oscar, "Seberg" não alcançou grandes feitos - uma temporada de marketing para esquecer da Amazon ( Prejudicando até mesmo a candidatura do Brasil. Pensávamos que seriam os reis da campanha e...não deu em nada.)

O filme conta uma história pouco comentada, de como o FBI espionou e prejudicou a vida da atriz Jean Seberg, em virtude de seu envolvimento político  ( e amoroso) com uma liderança do Panteras Negras.

Foi dirigido por Benedict Andrews do difícil "Una". Olha...eu gostei razoavelmente do filme, por que desconhecia os fatos por completo, mas fiquei pensando no que essa história poderia ter virado nas mãos do Spike Lee.

Kristen Stewart, ótima.

Falador vai sempre falar mal dela e do Robert Pattinson pelo simples prazer de falar mal. No entanto, é como eu sempre digo: "peixes pequenos crescem".

Seberg (2019)

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Já que o mundo está na onda do cinema coreano graças a "Parasita" ( Três pessoas já comentaram algo do tipo: "Virou modinha"; "nunca tinha visto filme coreano, vc já?"; "engraçado, ser um filme coreano...), quem sabe, depois dos Thrillers e filmes de terror, elas caiam sem querer no mundo lírico de Hong Sang-Soo?!

"Na Praia à Noite Sozinha" , que, em Berlim,  rendeu o Urso de Prata de Melhor Atriz para Min-Hee Kim (de "A Criada")  em 2017, é uma história de perda amorosa ( e consequente perda do emprego, perda de prestígio, perda de posição social) e preconceito, realizada de uma maneira completamente inusual. Nada é mostrado, tudo é apenas "pontuado". Sabemos que a personagem é uma atriz que se envolveu com um diretor casado, e que ele a abandonou. Ela parte para a Alemanha, esperando que o cara vá viver com ela, mas ele não vai, e depois ela volta para a Coreia, e tem de recomeçar. Na Coreia, o adultério, até pouco tempo, era crime. Isso é o que o espectador depreende, em uma fala e outra, em uma situação constrangedora e outra. Conseguimos perceber que os antigos amigos têm um pouco de pena dela, bem como a consideram moralmente perigosa. O machismo oriental também é denunciado, com todos as pessoas ressaltando apenas a beleza da atriz, portanto, graças a isso, apta a reerguer-se profissionalmente.

O estilo de filmar de Hong Sang-Soo é quase anti-espetáculo: natural, verdadeiro, puro, e, claro, estático. Um enquadramento pode durar 15 minutos fácil. Mas eu gosto. 

O texto é lindo:

" Então você está procurando pelo amor?" 

"Para procurá-lo, é preciso vê-lo."

Queria ter escrito isso.

 

Min-hee Kim in Bamui haebyun-eoseo honja (2017)

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Honey Boy é uma ótima cinebio indie que, em duas linhas temporais disseca a vida do problemático Shia LaBeouf. Vivido por dois bons atores (principalmente o mirím) o filme, que é bem intenso, é mais uma forma do ator se redimir e fazer as pazes com o pai, interpretado pelo Shia. É um drama triste, sombrio e melancólico, mas real e honesto. Sim, é um filme pequeno, mas infinitamente superior a outra cinebio, a da Judy. Só achei curto demais, dava mais caldo, mas beleza, a moral no final foi dada: filho de peixinho, peixinho é... 8,5-10

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Countdown é um divertido terror teen que lembra muito a franquia Premonição, só que mais light. O plot do aplicativo "do mal" tem uma mitologia interessante, embora o gore e as mortes não sejam tããão memoráveis, mas ao menos prende a atenção. Com atuações corretas e um desfecho que deixa gancho pra sequência, eis um terror descompromissado, acerebrado e, mesmo assim, bom passatempo. 8-10

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Viy 2 é uma sequência frouxa do curioso filme russo original, baseado num conto fantástico daquele país, só que aqui a produção é chinesa. Este blockbuster de ação e fantasia chega a ser entediante em suas duas horas, mesmo tendo Jackie Chan e o Schwarzza (cujas atuações somadas não dá nem 15min). Esteticamente é bem curioso e lembra um Mortal Kombat com dragões e chinezinho voando e soltando raio.. Fraco. Parece feito apenas pro mercado oriental. 7-10

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"Mormaço" é um filme brasileiro ambicioso: propõe-se a equiparar a gentrificação da cidade ( especialmente do Rio de Janeiro, nas vésperas dos Jogos Olímpicos) a uma doença, que acomete sua protagonista. A denominada "esquerda caviar" faz a festa, incentivando o espectador a crer que teria sido mais negócio, é dizer,  "mais igualitário", um Parque Olímpico com uma favela dentro! (a chamada Vila Autódromo) - Uma coisa bem brasileira, afinal as pessoas moravam ali há décadas (maravilhoso: na Barra da Tijuca, sem pagar IPTU, nem nada). Era só deixar. Ou seja, no fundo no fundo, é um filme pró-favelização. Não sei o acontece no Rio de Janeiro, mas a noção de posse/propriedade é tão desvairada, que se fosse possível o povo apoiaria a ocupação do Monte Olimpo na Grécia, ou do Monte Fuji, no Japão. 

Fora o discutível plano das ideias, o filme tem alguns bons momentos. Como criticar os políticos cariocas, afinal, todos os seus próceres já foram ou estão presos, por corrupção em níveis olímpicos. O que mais gostei, no entanto, foi de alguns planos fotográficos equiparando a ideia de "mormaço" (de um verão muito quente) à poeira das obras de construção, bem como ao fumacê da dengue, ou  à névoa de respingos causada por uma onda assim que acerta a areia . Achei isso muito inteligente, e muito bem sacado. Parabéns por isso.

Mormaço (2018)

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"Sócrates" é um dos filmes brasileiros mais premiados nos últimos meses, sendo o maior deles o Prêmio no Spirit Awards, para seu diretor, Alexandre Moratto, com o "Someone To Watch Award".

Conta a história de um adolescente, que perde a mãe repentinamente, e se vê completamente desassistido, emocional e financeiramente, e terá então que se virar. Passado na periferia do litoral paulista (Praia Grande?), realizado por um grupo audiovisual de Santos com pessoas em situação vulnerável, "Sócrates" leva muitos pontos pelo seu contexto. É o tipo de projeto que dificilmente conseguirá financiamento público via editais, no Brasil de hoje, já que o personagem principal é um adolescente gay.

As pessoas amam o filme, se emocionam e tudo, mas...eu que tenho uma cabeça muito estruturalista ...eu, de verdade, achei tudo mal feito. As atuações são horríveis. Não curti a montagem, não curti o roteiro: Há uma passagem de homofobia tão forçada dentro da história, tão mal feita a cena...

Mas minha maior desavença com esse tipo de cinema feito aos baldes no Brasil  é o registro da pobreza. Eu não sabia que os brasileiros pobres comem obrigatoriamente feito animais; que as casas dos brasileiros pobres são muquifos sem nenhuma dignidade, sem nenhuma arrumação; que os brasileiros pobres falam completamente errado sempre com palavrões. E que isso é a "Realidade" !!! As casas de pessoas mais pobres que eu visito não são assim. Os pobres com quem eu me relaciono mastigam com a boca fechada. Os pobres com quem eu me relaciono são até muito econômicos com as palavras, e são educados também. 

Enfim, sempre que eu vejo um filme brasileiro atual registrando a nossa desigualdade social (Tirando os maravilhosos "Temporada", e "Arabia"), eu noto menos verossimilhança e mais "lacração". É com pesar que escrevo isso, mas entendo de onde vem o horror que a ala bolsonarista do Brasil enxerga nos nossos filmes. Eu entenderei se algum idiota quiser nivelar "Sócrates" como um filme do PT. Eu entenderei. Sei de onde surge essa crítica.

O retrato da pobreza no Brasil, e das minorias no Brasil, precisa de muita atenção. Precisa sem dúvida nenhuma ser representada. Mas principalmente com um pouco mais de nuance. É isso.

Falta muita nuance.

Jayme Rodrigues, Christian Malheiros, Tales Ordakji, Caio Martinez Pacheco, and Rosane Paulo in Socrates (2018)

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Concordo em número, gênero e grau. Porém (sempre o porém), você não acha que se não fizer assim, não choca, e o pessoal deixa de vez de se importar com isso?

O que eu quero dizer é, você não acha que isso pode ser intencional, e não por achar que é assim de fato?

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47 minutes ago, Gust84 said:

Concordo em número, gênero e grau. Porém (sempre o porém), você não acha que se não fizer assim, não choca, e o pessoal deixa de vez de se importar com isso?

O que eu quero dizer é, você não acha que isso pode ser intencional, e não por achar que é assim de fato?

Sim, acho que é intencional. Mas resulta, para mim, em mau cinema.

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Ontem à noite, me deparei com essa supresa boa na Netflix. Um curta de ficção do David Lynch, escrito, dirigido e estrelado pelo próprio (e faz o Som também)! Não estava sabendo!

É um curta de ficção muito maneiro, bem lynchiano, quase um noir de comédia! Fotografia misteriosa e nostálgica, esburacada pelo tempo remoto. Eu adorei. Pena que a tradução brasileira não ficou tão boa assim, pois o texto é repleto de expressões idiomáticas envolvendo o mundo animal, que talvez acabem perdidas na tradução. Mas a ideia é ótima.

De como interrogar um macaco falante sobre um crime passional.

17 minutos.

David Lynch in What Did Jack Do? (2017)

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Alguém anotou a placa?

Impecavelmente belo e de uma inteligência flamejante, "Retrato de uma Jovem em Chamas" ganhou Roteiro em Cannes, e muitos prêmios pela sua admirável Fotografia. Não é certo dizer que a França bobeou, pois o filme escolhido pelo país Hexágono entrou no Oscar de Filme Internacional, mas posso dizer que o estúdio ( acho que é a Neon, de Parasite) bobeou em não ter feito campanha intensa por esse filme mais cedo, pelo menos em Fotografia, para Claire Mathon ( de "Atlantique", "Um Estranho no Lago"). Acho que dava para entrar.

Eu amo "Tomboy" e gosto de "Minha Vida de Abobrinha", entã fico feliz em ver Céline Sciamma ser tão reverenciada pelo seu novo trabalho. Não está 100% correto, mas posso dizer que esse é um filme infenso aos homens, é dizer, os homens não têm direito àquele mundo, nem como atores. É um filme feminino, de cima a baixo.

Estamos no Século XVIII, o casamento não era uma expressão do amor, era um negócio, um acordo. Uma pintura - para os noivos se visualizarem - funcionava como um pré-contrato. Esse era o retrato da época. Mas e o que fica fora do quadro? Se o amor entre as duas personagens parece óbvio, sua execução não o é. Tudo é construído de maneira seca, austera ( até por que o Mito do Amor Romântico nem tinha sido inventado pela cultura) quando então tudo se incendeia, num erotismo muito sofisticado. Ademais, adorei constatar que existe ainda um outro tema no filme - não só um romance - se desenvolvendo naquele ambiente, com a serviçal do local, e que rende cenas muitas belas também. 

No fim, é o Inverno de Vivaldi que apaga a chama.

(Prevejo uma  explosão de número 28 tatuado mundo afora)

Adèle Haenel in Portrait de la jeune fille en feu (2019)

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A vontade é de nem falar nada. 

Revendo pela terceira vez essa obra-prima, essa coisa preciosa, essa coisa foderosa!

Ontem à noite, amigos extasiados com "Parasita" e eu  ficamos uns 10 minutos conversando em rodinha, bebendo cerveja gelada, celebrando o filme. Hoje, me deu uma vontade louca de ver "Memórias de um Assassino" pós-"Parasita", pra ver qual é o melhor. E o que percebi?

Há um pêssego na história! A fruta era colocada nas vaginas das mulheres assassinadas. Eu tinha me esquecido completamente. A fruta, em "Parasita", também simboliza uma coisa ruim.

E sabem o que mais? Em uma cena, o personagem de Song Kang-ho (absolutamente EXTRAORDINÁRIO) dirige a viatura da polícia, quando é confrontado pelo colega detetive, que estudou mais do que ele, que veio de Seul, que é superior a ele: "Que cheiro ruim é esse?"

Obrigado, Bong Joon-Ho!

Não dá pra saber qual o melhor filme. Talvez só com um teste de DNA. Ou não.

Kang-ho Song and Sang-kyung Kim in Salinui chueok (2003)

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"Cão que Ladra não Morde", de 2000, é a estréia de Bong Joon-Ho no cinema. Nunca tinha visto. 

É uma comédia muito louca, a respeito de um cara desempregado, sustentado pela esposa, humilhado por ela, que se vê atormentado pelos latidos incessantes de um cachorro no imenso condomínio em que vive. Ele planeja se livrar do cão, e acaba enrolado em uma história muito maior do que podia imaginar. Foi uma supresa encontrar aqui um dos elementos primordiais de "Parasita". Perdoem-me lançar um mega Spoiler - mas preciso ressaltar isso: * Há um homem vivendo escondido no porão do prédio.

Estou achando muito curioso encontrar essas repetições imagéticas nos filmes dele, bem como suas já presentes preocupações com os animais ( crítica aberta ao antigo hábito de se comer cachorros na Coreia), com a desigualdade social, e com a corrupção em seu país.

É um bom filme, que mostra o potencial dele como diretor e roteirista, mas que perde sua força por ter como protagonista um anti-herói ridículo, que só desperta nossa aversão.

Flandersui gae (2000)

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Os Inocentes (The Innocents, Dir.: Jack Clayton, 1961) 2/4

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Tive que rever esse filme já que saiu um remake dele agora anos EUA (não sei se é um remake em si, ou um "filme baseado no mesmo livro que esse aqui se baseou" - no fim, acho que dá na mesma...) e fiquei curioso em saber do que se trata (assumo que esqueci do que se tratava esse filme, já que o assisti há um tempo). O remake está sendo duramente criticado, já esse aqui já considerado clássico do gênero.

Filme fala sobre uma mulher que vai ser governanta numa mansão pra cuidar de 2 crianças. Aos poucos, ela acredita que crianças estão sobre influência de fantasmas que residem na mansão. O lance principal do filme é saber se isso realmente está acontecendo ou é tudo imaginação da mulher (que fica cada vez mais agressiva com as crianças). O filme tenta deixar isso na dúvida e interpretação livre do público, e é eficiente nisso.

Achava difícil mesmo um remake atual, já que o filme tem que deixar as coisas pra mãos do público (e sei lá se povão gosta disso hoje em dia), e de certa forma, já teve um remake indireto que foi o Babadook (e pelo jeito foi mais eficiente que o remake oficial).

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"Tokyo!" , de 2008, veio na onda daqueles filmes em homenagens a cidades, mas dessa vez, sem pecar pelo excesso, com apenas 3 curtas inseridos para interpretar a capital do Japão.

Começa com o segmento de Michel Gondry, "Interior Design", uma história muito louca (e profunda) sobre a inutilidade dos indivíduos nas grandes cidades. Aquele ponto fora da curta que existe em tudo que o Gondry faz ( lembro da sensação única de ver os clipes da Bjork nos anos 1990) está presente aqui, mais para o final do curta, quando uma das personagens se transforma.

Em sequência, vem o segmento de Leos Carax, "Merde". Título do curta e nome do personagem de Denis Lavant. Curtas servem muitas vezes como experimentação para projetos de longa-metragem futuros, caso aqueles sejam bem sucedidos. E foi o que aconteceu. De "Merde" surgiu "Holy Motors", em 2012, aquele filme maravilhoso. O mesmo personagem, saído do esgoto, incorporação do incontrolável instinto natural, vai zoar a cidade e depois será caçado e julgado pelos aparelhos do Estado. O curta é genial, com diálogos  incríveis (!!!) que ninguém entende (!!!!). Franz Kafka teria um orgasmo! Consigo ver a homenagem à Tóquio na ideia de um monstro andando pela cidade, algo que tantas produções japonesas nos incutem desde a infância. Mas na verdade há uma crítica bem pesada a como o sistema penal japonês pode ser duro com quem sai da linha.

Fechando o filme, o segmento "Shaking Tokyo" de Bong Joon-Ho. É lindamente concebido. Fala da solidão das grandes cidades, a partir de um termo japonês sobre homens que se isolam totalmente do convívio social. O protagonista está há 10 anos sem sair de casa. Desistiu da vida. Mas será só ele? Há sempre um elemento surpresa nos filmes dele, que deliciam o espectador. Contra a solidão, talvez um terremoto possa ajudar...

Um trabalho ousado e metafórico dos três grandes diretores.

 Mas uma metáfora para a cidade que está longe de romantizá-la, e infantizá-la - o que, de resto, são a mesma coisa.

Yû Aoi in Tokyo! (2008)

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1917 (idem, Dir.: Sam Mendes, 2019) 3/4

1917_poster.jpg

 

Primeiro, curti muito o filme e não estou incomodado em ele, provavelmente, ganhar Oscar (ok, tem filme melhores ali, mas acho que já deixei de me importar um pouco), mas vamos lá: Porque esse filme vai ganhar Oscar? Porque a velharada que vota lá, nunca deve ter triscado num videogame na vida e visto um 'Call of Duty' na frente... Sim, o filme é totalmente 'Call of Duty'. Tira o tiroteio, inclui o drama, coloca em 3ª pessoa,  e mesma coisa. Claro, que tudo muito bem fotografado e encenado (parte técnica invejável mesmo, lindíssimo), mas poderia até ter esse nome: 'Call of Duty'. A gurizada iria louca ir ver o filme, achando que é baseado no game hehehe. Você vai acompanhando 'in loco' a missão dos caras lá. Diferença que no videogame você faz parte da ação, você é o soldado, tem que executar as coisas. Aqui você vai só acompanhando mesmo. Meio até como parque de diversões. Uma montanha russa. Se a cadeira do cinema balançasse nas cenas de ação, poderiam colocar esse filme sendo exibido num parque da Disney ou da Universal (sei lá, se não vão fazer isso algum um dia!). E o Martin Scorsese reclamando da Marvel ser parque de diversões, mas esse filme daqui que, provavelmente, vai tirar o Oscar dele, ele não viu, não?! Pois é... (E só pra constar: tem até 2 atores da Marvel no filme, ou seja...).

Ok, claro, que fiz uma crítica zoada mesmo - propositalmente - mas o filme tem muitas qualidades e eu curti mesmo (até porque gosto de videogames), e a intenção principal de deixar o público exausto no final é alcançada. Saí achando que era eu que tinha andando aquilo tudo ali. Canseira. Imersão mesmo (mas tenho essa mesma imersão num 'Call of Duty', por exemplo). Não é algo novo (nem tinha obrigação de ser), mas é muito bem executado.

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Candidato da Colômbia ao Oscar, "Monos" chamou a atenção na temporada desde Berlim e Sundance, e alcançou alguns feitos no Spirit Awards e que tais, mas principalmente menções elogiosas à trilha sonora de Mica Levi e à Fotografia de Jasper Wolf, ambas conseguindo ressaltar a esplêndida força da natureza amazônica, principalmente em sua feição de "perigo".

O roteiro é completamente despolitizado. A sigla FARC - Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia - não é mencionada nenhuma vez. Inclusive, pela crítica brasileira e internacional.  Estou lendo algumas críticas e é impressionante como a menção ao grupo tomou chá de sumiço. Os adolescentes vulgarmente militarizados são tratados apenas como "um grupo de jovens". Entendo um colombiano não precisar explicar a situação, mas não entendo essa interpretação cândida das pessoas. Será por que aquela organização terrorista tem tentáculos mais que sabidos, por exemplo, na nossa política nacional? Socorro! 

As FARC são aqui emuladas como um grupo de despreparados, boçais, violentos, que se aproveitam da situação de vulnerabilidade social das comunidades para recrutar jovens sem perspectivas. A trilha e a Fotografia já elogiadas têm o papel primordial de mostrar como a Natureza protege e esconde a ação daquela proto-organização.

Para completar, os atores jovens e a (como sempre ótima) Julianne Nicholson, que faz a refém do grupo, estão todos muito bem. 

Monos (2019)

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O cinema ‘blockbuster’ dos anos 90 nos presenteou com verdadeiros arrasa-quarteirões de ação policial, incluindo a pequena franquia “Bad Boys”. Mesmo naquela época, o gênero ‘buddy cop’ já estava um pouco defasado, e os dois filmes da saga (especialmente o segundo) não chegaram a atingir seu pleno potencial. Agora temos “Bad Boys Para Sempre” (2020), a obra que finalmente eleva a história dos nossos queridos policiais imorais a outro patamar...

Na narrativa, os parceiros Mike (Will Smith) e Marcus (Martin Lawrence) precisam lidar com a misteriosa motivação da vilanesca família Aretas (Kate del Castillo e Jacob Scipio). O roteiro pode ser de alguma forma simples e clichê, mas os diretores Adil e Bilall nos levam muito além das bombásticas cenas de ação e da comédia propositalmente deslocada que permearam os filmes anteriores. Aqui temos algumas reviravoltas tensas e corajosas, e elementos dramáticos que nunca haviam sido explorados com tanta competência na saga.

Óbvio que a dupla principal ainda é o epicentro do filme. Will Smith e Martin Lawrence apresentam a mesma química maravilhosa de antes, e suas crises da meia-idade os fazem passar por várias mudanças de perspectivas e paradigmas à medida que a história avança. E quando somos informados das reais motivações dos dois quase caricatos vilões, o personagem de Lawrence abraça a autoindulgência ao se referir àquilo como sendo “coisa de novela”... o que ironicamente não tira a intensidade do empolgante ato final do filme.

Somos apresentados também a uma nova e tecnológica divisão policial, da qual se destacam muito mais os seus carismáticos membros secundários do que a sua desinteressante líder Rita (Paola Nuñez). Nesse ponto, o filme pode render ainda boas discussões sobre como unir mentalidades antigas e novas em prol de uma boa polícia na atualidade.

Até mesmo no quesito ação, o novo trabalho supera os anteriores, pois temos finalmente um senso real de perigo. Mike e Marcus não são mais os heróis quase indestrutíveis de outrora, e assim há menos absurdo nos momentos de tiros, pancadaria, perseguições e explosões. E a parte técnica é de alguma forma elegante e bem dosada em seus elementos, sem perder alguns dos padrões estabelecidos anteriormente pelo frenético diretor Michael Bay.

O fato é que “Bad Boys Para Sempre” é a sequência que não sabíamos que queríamos. Ele se mostra não apenas como o melhor e mais completo filme da franquia, como também se alterna bem entre a ação empolgante, a comédia cheia de humor negro, e uma fresca adição de emoção familiar. Ah, e uma cena durante os créditos pode indicar uma possível continuidade desse “bad universe”. Será que teremos Will Smith e Martin Lawrence para sempre, afinal?

Nota: 8

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  • Administrators

Color Out of Space

 

Nao sei como esse filme está com 84% no Rotten Tomatoes. Eu achei bem genético, cheio de junho scares. O se salva eh a atuação do Nicolas Cage. 

Perdi tempo. Eh meio daqueles filmes de terror daqueles que vem algo maligno do espaço. Um vírus? Ninguém sabe.  Cai um meteoro do espaço e todo mundo pira. Tem bicho se decompondo em carne viva pessoas virando monstros. Muito barulho. Ficava fazendo aqueles ruído tipo um zumbido. Chegou uma hora que eu não sabia se era do filme ou se era eu.   Muito ruim. Incômodo. Ainda bem que comem casa onde pude controlar o volume da tv. No cinema .lascou. 

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"The Cave", indicado ao Oscar na categoria de Melhor Documentário, retrata a vida em um hospital da cidade de Ghouta Ocidental na Síria, há alguns anos atrás (acho que 2013), portanto, não está "atualizado" - digamos assim. A particularidade desse hospital é que ele é chamado de "The cave" pois, para fugir dos bombadeios, ele foi sendo escavado, e alargado para uma rede subterrânea, que também virou lugar de refúgio de parte da população (na época ao redor de 400.000 pessoas).

Irmão de "For Sama", a câmera segue uma médica, majoritariamente; e outros funcionários do hospital. E também consegue capturar o registro de uma festa, piadas, a luta pela alimentação racionada, todas essas situações presentes em "For Sama" também.  A médica é muito inteligente e completamente descrente da religião, que, claro, não ajuda ninguém ali naquela situação desesperadora. 

Eu estava assistindo e a certo ponto pensei: "Poxa, quantas criancinhas, como alguém pode pensar em ter filhos nessa situação?!' E então - de agnóstico para agnóstico -  a médica falará a mesma coisa, até ser repreendida por um crente: "Que Deus te perdoe pelo que você falou". 

Os 15 minutos finais são muito fortes, com o hospital se superlotando de crianças vítimas de armamento químico russo. Revoltante, nojento, um horror.

Feras Fayaad alcança aqui sua segunda indicação, a anterior foi pelo brilhante e emocionante "Last Men In Aleppo", de 2018.

Será que a National Geographic conseguirá bisar, levar a sua segunda estatueta consecutiva?

Amani Ballour in The Cave (2019)

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"A Sun" é um pretensioso filme Taiwanês, veiculado pela Netflix, que, em suas quase 3 horas procura mostrar a vida de uma família em pedaços depois do inconsequente filho mais novo ser preso. Pai, mãe, irmão mais velho, e o próprio garoto precisarão se transformar. A história, em si, não traz novidade. História de regeneração pós-prisão. Será que a vida do crime deixará o garoto seguir em frente?

Dinheiro não faltou, pode-se notar o cuidado da produção, mas...Tem até animação no meio da parada! Uma confusão de linguagens, revelando falta de controle do diretor. Do nada, há canções. Do nada, sonhos. Sei lá, acho que precisaria de uma boa limpada. Enxugaria não só os minutos, como também o estilismo bobo.

A cena do cartaz é a única realmente boa, já no final do filme, quando um segredo é revelado. 

A Sun (2019)

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O diretor e roteirista Trey Edward Shults investe pesado no drama. Seu "Krisha", de 2015, é um dos filmes mais difíceis que já assisti. Bom, "Waves" também é triste e melancólico, tentando abordar lentamente a dinâmica familiar até chegar a um evento traumático (que só acontece lá pelo minuto 50). O lance do filme é que acontece uma troca inesperada de protagonista. Há anos escrevo que essa estratégia de roteiro sempre me fascina. Acho ousado e difícil de fazer.

O problema é que falta enredo demais. O que tem de estilo, de músicas elegantes bem escolhidas, o que tem de boa fotografia, o que tem de gabarito, tem, em contraste, com falta de enredo. Não há resolução de conflitos. Ficam todos em suspenso, sem respostas. Pra mim é incompreensível pensar que alguém considerou o filme para Melhor Roteiro, só por causa do redirecionamento da história. Mais incompreensível é a consideração de Sterling K. Brown para Ator Coadjuvante, mormente em um ano tão forte na categoria. Ele está muito bem, mas, do nada, desaparece do filme por uns 40 minutos. Desaparece do verbo desaparecer. Vai ver não pagaram os dias de filmagem dele (risos); esburacou a história.

É bonito, é chic, é estiloso, e não tem nada de mais.

Waves (2019)

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Bombshell 2019

O Escândalo Poster

Curiosidade, o ator Mark Duplass faz o marido da Charize Theron, trabalha também  na série da Apple+ The Morning Show (muito boa por sinal) que trata do mesmo tema...aqui ele é o marido que defende a esposa. Sobre o filme, meu, preciso revê-lo dublado, sério, os diálogos e a edição são tão ágeis que fica difícil ler a legenda e perder alguma cena, tem muito closes em reações, olhares, dicas, insinuações e se vc está lendo a legenda vc está perdendo algo na cena. Eu sabia somente do escândalo envolvendo o Bill O' Relly e mesmo assim bem superficialmente e realmente foi uma bomba...velhos predadores, que coisa de louco, o que essas mulheres tiveram que passar.

O trio (Charlize, Nicole e Margot (esta a única personagem fictícia do filme)) estão excelente não só pela maquiagem, caracterização e postura qto na interpretação.

 

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