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Revi essa maravilha aqui, "Ascensor para o Cadafalso", um Louis Malle de seu ano mágico de 1958, quando também realizou "Les Amants". Em ambos, claro, Jeanne Moreau interpretando esposas infiéis com grande garbo: "Estou horrível, ou estou louca".

Roteiro fascinante, principalmente nos seus irônicos 20 minutos iniciais.

Miles Davis assinando a Trilha Sonora.

"Não deixe fotos por aí". 

Ascensor para o Cadafalso poster - Poster 1 - AdoroCinema

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De 1998, "Flores de Xangai", do chinês Hou Hsiao-Hsien.

Chama a atenção como um filme passado em uma casa de prostituição não tem sexo. Estamos em Xangai, final do século XIX. Os homens poderosos fumam ópio, bebem, e jogam mahjong, enquanto as cortesãs, chamadas de flores, ficam ao redor, esperando (e tramando). A câmera destaca não um personagem principal ou uma trama, à moda ocidental, mas prefere captar a impressão da suntuosidade do bordel, sua ambientação única em vermelho e amarelo.

Formado basicamente por muitos planos-sequência, o tempo se esvai, bem como a trama. Todos os filmes do HHH são desossados. Entendemos vagamente que um dos mestres está apaixonado por uma das flores, o que deixa outra enciumada, ou seja, é como se houvesse "fidelidade", como se a forma de se relacionar fosse criar obrigatoriamente um casamento adulterino, o que satisfaz as mulheres, que têm neles sua única forma de ascensão social, já que são consideradas escravas do recinto.

Um filme difícil, mas bonito.

Flowers of Shanghai

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Depois de muitos anos, revi "Contra a Parede", do Fatih Akin, pelo qual o diretor ganhou o Urso de Ouro em Berlim, em 2004.

Gênero: Romance. Valeu muito ter visto "In July", de 2000, recentemente, outro casal improvável do Akin. Mas se lá a aura é positiva, aqui é uma aura pesada. Quer dizer, tem de tudo nesse filme. Como tem enredo em "Contra a Parede". Enredo, enredo, enredo... Acontecem coisas demais! Tem música, tem humor, tem comentário social sobre a imigração turca na Alemanha, tem tragédia, tem sexo, tem violência extrema, tem ...

Não dá pra falar desse filme sem enaltecer os dois atores. Atuações espetaculares, colossais, de Sibel Kekilli e Birol Ünel...Que tristeza!! Fui averiguar sobre ele e descubro que morreu ontem!!! Lutava contra um câncer. ?

Que minha audiência sirva de estranha homenagem.

Contra a Parede poster - Poster 1 - AdoroCinema

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The One and Only Ivan é uma matinê família que parece remake não oficial do Dumbo feito pela Disney. Vai vendo, é quase a mesma coisa só que o elefante aqui não voa. Pior que funciona bem melhor que o recente live action por muitos motivos. A dose de melodrama, mensagem ecológica e ação é redondinha. Outra, pruma produção streamming ta muito bem feita, principalmente o CGI dos bichos, pau a pau com Rei Leão. As atuações humanas são frouxas enquanto a dos bichos leva o filme nas costas, principalmente a do Danny de Vito. 8,5-10

The One and Only Ivan Review: Enjoyable and Heart-Warming

 

Get Duked! é uma hilária comédia negra britânica que parece uma versão survival de Superbad e Conta Comigo. É um filme de caçada humana levado na galhofa e se sai muito bem. O diretor vem da seara de videoclipes e manda bem no ritmo e visu do longa e, principalmnete, nas hilárias sequências psicotrópicas que os protagonistas tem. As atuações estão todas corretíssimas e dentro do que se espera dum filme deste naipe. Os coadjuvantes não deixam por menos e tem seu tempo de brilhar, inclusive a sempre ótima Alice Lowe. 9-10

Вздрюченные / Парни в лесу! смотреть онлайн фильм бесплатно в хорошем HD  720p качестве

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Como vocês sabem, eu li o livro há alguns meses, e o considero a minha pior leitura do ano até aqui. Sem beleza textual, bem comercialzão, cheio de truques baratos; não gostei mesmo. Vi a adaptação de Charlie Kaufman "Estou Pensando em Acabar com Tudo" , nessa madrugada e me surpreendi. Kaufman conseguiu fazer uma adaptação 90% fiel, mas fez alterações que funcionaram melhor, principalmente no final, que, sim, é bem diferente do livro, no que tange ao destino do personagem principal.  Dito isso, penso que pela própria natureza do cinema, torna-se muito mais fácil adivinhar o segredo da trama. No livro, há o adiamento da descoberta até próximo ao final.

Em suma, sem adentrar aos Spoilers, o filme é muito melhor do que o livro!  A parte da casa, com Toni Colette mitando de louca, ficou ótima. Além dela, adorei o trabalho de maquiagem e de Design (Molly Hughes, da franquia "Harry Potter").

Gostei das referências cinematográficas a "Oklahoma!", de 1955, e a "Uma Mulher Sob Influência" (1974). Isso vem da mente do Kaufman, não da mente do Iain Reid. 

No início do ano, apontava Toni Colette com alguma chance de indicação em Atriz Coadjuvante. Mas o filme é bem divisivo. Muita gente não entendeu nada. E a data de lançamento na Netflix também não ajuda. 

Estou Pensando em Acabar com Tudo': Suspense psicológico da Netflix ganha o  1º pôster oficial; Confira! – CinePOP

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Primeiro longa do diretor Asghar Farhadi, "Dancing in the Dust", de 2003, é, ora ora, ora, a respeito de um divórcio. Dois jovens se casam açodadamente, até que a família do rapaz descobre que a mãe da menina é - no entender deles - uma "prostituta". Exigem portanto a dissolução do matrimônio, mas, para isso, o rapaz precisa pagar o dote. Mas ele não tem dinheiro e então arrisca-se caçando serpentes no deserto, para vendê-las como cobaias de um instituto de vacinação.

A questão social envolvida no primeiro terço do filme é muito mais interessante do que o restante dele. Pois conseguimos entender que a sogra é encarada como prostituta por que usa maquiagem e por que dizem que adentrou em alguns carros sozinha. Infelizmente, o que poderia ter sido o foco do filme não o é. A caça às serpentes no deserto rende cenas odiosas de maus-tratos à animais, bem como renderá ao personagem do menino um encontro um caçador, de passado conturbado,então o filme se transformará em uma relação pai-filho ad hoc.

É um filme claramente filmado sem muita grana. Tem essa parte intragável de caça às cobras também. Mas o que torna o filme INSUPORTÁVEL é o personagem principal,  que fica gritando sem parar no deserto, reclamando com o caçador mais velho, rogando-lhe atenção. Um pé no saco! Não temos qualquer empatia por ele. Poderia até dizer que é um burro, pois ama a menina, mas se rende aos preconceitos sociais. Eu torci o tempo inteiro para as cobras.

Mas foi ótimo ver como o cinema do Farhadi evoluiu desde então, e como ele passou a entender, doravante, qual de fato é o cerne de seus filmes. Um grande artista, como ele hoje o é, não pode jamais ter medo de seu objeto.

Raghs dar ghobar (2003)

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A Netflix, quem diria, fez o favor de disponibilizar aos assinantes o excelente e histórico "Boyz in the Hood"/ Os Donos da Rua, de 1991. Não resisti! É bom demais. 

John Singleton tornou-se o primeiro diretor negro indicado ao Oscar, logo em seu primeiro longa, bem como foi indicado a Roteiro Original, no qual dá vazão às suas experiências de vida nos bairros negros de Los Angeles. Mas se fosse apenas isso...

É todo linguagem de rua, podrona, alegre, sexy, ampliando os dicionários. Mas a consciência social autêntica paira sobre o filme, como um som de helicóptero da polícia. Negros morrem, negros matam, praticam, em repetição da história, racismo perverso entre eles. O que é aprendido é passado para a frente. E na escola, a cultura negra é anulada, como brinde para as crianças. Gentrificação; superação social por meio do esporte; encarceramento juvenil; gravidez precoce; são muitos os temas do filme. Mas muito bem costurados por dentro da narrativa. Um show.

A certa altura, a personagem de uma jovem Regina King reclamará de um Deus masculino. A personagem de Angela Basset tentará o Mestrado, na tentativa de superar suas condições iniciais. O personagem de Cuba Gooding, Jr recusará a violência. O personagem de Laurence Fishburne espalhará a paz, não pela devoção mística - que só se preocupa com virgindades, com frustrar a vida sexual -  mas pela sabedoria racional.

Os Donos da Rua poster - Poster 1 - AdoroCinema

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Em outro descalabro da Academia, tem-se que engolir o fato de Werner Herzog não ter ganhado um Oscar competitivo, ou Honorário. Sem dúvida, um dos diretores que mais ousou em todo o mundo. 

"Coração de Cristal", de 1976, talvez seja um dos seus maiores experimentos. Falamos em público hipnotizado como uma metáfora para um olhar mesmerizado diante da beleza. Mas o que dizer de um filme em que o elenco está hipnotizado de fato? Reagimos com incredulidade, "Será?", mas Herzog sustenta isso até hoje, excluindo os participantes de uma ou outra cena. 

É incrível como o olhar chapado pode transmitir a sensação do tema do filme: Um profeta que antevê um período de destruição, um apocalipse de fogo, em uma cidadezinha que vive ao redor da fabricação do vidro-rubi, e que tem de lidar com a morte do único morador da cidade que conhece a fórmula para fabricá-lo. Mediante a hipnose, os personagens da cidade ficam abobalhados, ou depressivos, com olhares vagos, até um pouco engraçados...Um ambiente de terror, mistério, e devaneio, enquanto aquele pequeno mundo se transforma.

E Hergoz consegue ao final unir dois de seus principais temas: Loucura e Visão (negativa) do futuro.

Herz aus Glas (1976) Turkish movie poster

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Leão de Ouro em Veneza em 2001, "Um Casamento à Indiana", de Mira Nair, tornou-se um queridinho mundo afora. Conquistou uma indicação ao Globo de Ouro, mas, pra surpresa geral, não chegou no Oscar. Talvez muita gente o encare apenas como uma reles comédia de costumes, que se aproveita do exostimo e da cultura diferenciada do país.  Mas eu não penso assim, não. Seria um menosprezo. 

O filme é muito agradável, carismático, gostoso de ver, com muitos personagens legais. Agora, indubitavelmente, ele pegou a onda de "O Banquete de Casamento", e outros tantos filmes que exploraram a celebração naquela época. E essa estratégia de se discutir a cultura, ou, melhor, a revisão da cultura de um país, através do matrimônio, é uma estratégia usada até hoje pelos roteiristas. Penso rapidamente nos recentes "Crazy Rich Asians", ou "The Farewell".

Eu amo ver os indianos dançando! Aquele jogo de mãos e balançar de cabeças me encanta. Então sou suspeito, pois há inúmeras cenas de dança aqui. Além disso, Mira Nair consegue mostrar vários aspectos da cultura, seja um livro de poemas de Tagore ao lado da cama, opulentos frascos de perfumes nas prateleiras, flores de açafrão na decoração; cita a diáspora indiana para a Austrália ou para os Estados Unidos; e toca no ocultamento dos gays...bem como ela não se furta a mostrar a separação de classes. Aqui estamos diante de um casamento de pessoas ricas. Mas ela dedica parte do filme a mostrar o casamento de pessoas de outra casta, mais simples e mais sincero.

Este amplo painel só funciona a contento por que espertamente o principal casamento do filme, da lindíssima protagoniosta, é apenas uma das histórias a ser trabalhada, por sinal uma das menos interessantes.

Vale a pena.

Monsoon Wedding (2001)

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"Viva Zapata", do turco Elia Kazan, obra de 1952. Queria rever a cena de Zapata no poder repetindo constrangido o comportamento de Porfirio Díaz. Que cena!

Infelizmente, vivemos num momento de patrulha tal que Marlon Brando, se vivo fosse, jamais poderia interpretar o líder mexicano. Que era estamos vivendo! Quanta tolice! Atores interpretam, não "são". Vale aumentar sim o representatividade na produção, diversificar. Com isso, concordo. Mas quão maravilhoso é ver alguém interpretar justamente o que não é. Com bigode falso, maquiagem, olhos puxados falsos, sotaque, não importa. A atuação vem de dentro.

Segunda indicação para o monstro de ator que foi o Brando. Primeiro Oscar, para, esse sim, mexicano, Anthony Quinn.

"Um povo forte não precisa de um homem forte".

Viva Zapata! (1952) | A Grande Ilusão

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Quem a viu morrer? (Chi l'ha morire vista, Dir.: Aldo Lado, 1972) 3/4

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Giallo ambientado em Veneza, estrelado pelo ex-James Bond George Lazenby, que aqui está até bom, interpretando o pai de uma menina que morreu nas mãos de um assassino misterioso, e ele assim passa a investigar. Lembra Inverno de Sangue em Veneza, que saiu depois desse. Tem mesmo tema, mesmo ambiente, mas esse aqui tem um final mais reto. O final do Inverno de Sangue em Veneza achei bem bagunçado, nisso brochei com ele. Já esse aqui funcionou melhor pra mim. Trilha do Ennio Morricone ajuda muito.

 

A Iguana da Língua de Fogo ( L'iguana dalla lingua di fuoco, Dir.: Riccardo Freda, 1971) 2/4

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Assassinatos ocorrem em volta de um Embaixador e sua família. Um ex-investigador da polícia acaba se envolvendo no caso. A coisa mais destacável desse giallo é o cenário Dublin - Irlanda, fora isso, é mais um. Nem bom, em ruim. Tá na média ali.

 

Terror em Veneza (Solamente Nero, Dir.: Antonio Bido, 1978) 2/4

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Outro giallo em Veneza. Dessa vez é sobre um jovem que volta a Veneza pra visitar o irmão que é padre. E assassinatos começam a ocorrer no local, todos talvez ligados ao assassinato de uma adolescente que ocorreu por ali alguns anos atrás. Outro Giallo que não tenho muito a falar, não é ruim, mas não é tão memorável. Cumpre o básico que promete.

 

Morte Suspeita de uma Adolescente (Morte sospetta di una minorenne, Dir.: Sergio Martino, 1975) 2/4

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O box de DVD diz que esse é um Giallo, mas não é Giallo nem aqui e nem na china. O diretor Sergio Martino é conhecido por seus giallos, mas aqui fez um filme policial puro. É um Dirty Harry com humor. Aliás, o humor dá uma estragada no filme, já que é bem nível Os Trapalhões, e meio estranho ver esse tipo de humor num filme que tem uma organização que prostitui adolescentes com cenas fortes e tensas no meio. Mas achei válida a tentativa de fazer um Dirty Harry soft.

 

Vi todos esse nesse box aqui:

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Giallo Vol. 8

No geral, o box peca por colocar um filme que nitidamente não é um Giallo. Mas nível dos filmes está bom, só que distribuidora continua pecando em só colocar a dublagem em italiano, sendo que todos foram filmados em inglês. Custa colocar o som original?

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Estou pensando em acabar com tudo (I'm thinking of Ending Things, Dir.: Charlie Kaufman, 2020) 1/4

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É daqueles filmes bem confusos, e que o final torna mais confuso ainda (pelo que entendi, no livro o final é explicado, aqui não, é aberto). Já disse que não sou fã desse tipo de filme que deixa nas mãos do público resolver absolutamente TUDO. Gosto que por mais confusa for a trama, o filme deixa pelo menos uma linha ali do que rolou. Do Kaufman, adoro o Quero Ser John Malkovich, Adaptação e Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças, mas esse aqui eu passo.

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Continuando a maratona Hong Sang-soo, fui conferir o longa "Hotel By The River", de 2018, mesmo ano do já resenhado "Grass". Como são os dois últimos lançamentos, percebi algumas semelhanças entre eles. Parece que o diretor coreano deu um tempo com os ciclos, com as repetições, as voltas; parece ter cansado do truque. Uma pena. Porque eu, confesso, adorava.

A narrativa agora está ainda mais mínima. Não há história, há um indício de história. Sabemos algo da trajetória, das motivações, ou dos dilemas dos personagens por que eles lançam uma frase ou outra, aqui ou acolá. O restante é preenchido com banalidades, soju, elogios à natureza. Quem reclama disso, deve refletir sobre a própria vida, pois quase sempre as conversas são preenchidas exatamente por "não-conversas". Os filmes dele são o cotidiano em guerra contra a narrativa dramática.

O que posso extrair do, vamos dizer assim, mérito do filme é que o personagem do poeta goza da credibilidade social dos homens sensíveis, mas na vida pessoal foi relapso com os filhos, deixando-os com a mãe, e, em certo momento, quando um dos filhos tenta explicar suas dificuldades com as mulheres ( talvez confessando uma homossexualidade), o pai poeta se alvoroça, se irrita. Sensibilidade é só na ficção.

O elenco é a patotinha de sempre, já acostumados a acertarem o tom nos planos-sequências longuíssimos. Kim Min-Hee tem um papel menor, mas achei engraçado ela, dessa vez, ser a "desquitada", passando para o outro lado do espelhamento com sua vida real com o diretor. Em certo momento, sabemos que sua personagem é poeta, gosta de escrever, assim como era a personagem de "Grass". Talvez perceber a repetição fique, doravante, à cargo dos cinéfios.

Fotografia em preto-e-branco de Kim Hyung Koo, outro habituée do diretor.

Hotel by the River (2019) French movie poster

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"N`um vou nem falar nada!!!""

Palma de Ouro em Cannes em 1985,  consagrado por unanimidade,  "Quando Papai Saiu em Viagem de Negócios" é apenas o segundo longa de Emir Kusturica, mas já têm suas grandes marcas, embora o próprio não assine o Roteiro. O filme também concorreu ao Oscar de Filme Estrangeiro em 1986, mas perdeu para "A História Oficial", a quem batera em Cannes.

Ele nunca explica didaticamente o que se passa. O processo é de absorver, em vez de entender. Mas de todo jeito sacamos que há um confronto político, na Iugoslávia do final dos 1940- início dos 1950, entre os apoiadores de Stálin e os apoiadores de Tito. Por um simples comentário, um pai de família, denunciado pelo próprio cunhado, terá de ir à uma "viagem de negócios" (Alow, "O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias"!!), eufemismo para cadeia, em regime de trabalhos forçados. Seu filho menor, o protagonista do filme, terá então de passar dois anos sendo criado por sua batalhadora mãe, ao lado de seu irmão que toca acordeon o tempo todo, e cercado pelo resto da dividida família.

Tudo poderia cair na mesmice, no sentimentalismo. Mas Kusturica é um gênio. E pra começar, o pai aqui é desmitificado, está longe de ser flor que se cheire. É mulherengo, violento, trabalha pouco...Contei um pouco da trama. Mas não é preciso. Basta absorver o clima do filme: Animais, música, futebol, tiradas de humor, sonambulismo, sexo sem pudor, confusão familiar... Só acho que esse pacote de ambientação será muito melhor desenvolvido, posteriormente, filme por filme, até chegar ao auge em "Gata Preta, Gato Branco", de 1998, uma comédiazona. Aliás, me chamou a atenção uma personagem secundária, uma mulher, pioneira da aviação, na ponte temática com "Arizona Dream", de 1993.

É um clima de "A Grande Família",  uma italianada/ ou uma iogoslavaiada, para refletir algo capital: Entre Tito ou Stálian, fique quieto, na sua, cantando em espanhol, que ninguém te ouça, ninguém te entenda.  Entre Tito ou Stálin, não fique com ninguém.

( Agora que me dei conta que está virando uma Maratona Emir Kusturica também...Oh, este ano não passa!)

When Father Was Away on Business - Emir Kusturica 1985 - DVD03887 - Palme  d'Or Cannes Film Festival -- "A 6-year-old boy tells his versio… | Dor,  Cineasta

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"O Tempo que Resta", de 2005, é mais um - pleonamo - ótimo filme de François Ozon. A história não tem muita inovação - um protagonista tem de lidar com a descoberta de uma doença terminal - mas seu texto contemporâneo, e sua encenação realista, em bandeira contra o vitimismo,  em bandeira contra o melodrama, tocam o espectador.

O protagonista vivido pelo ótimo Melvil Poupaud é insensível a ponto de ser grosseiro, ou arrogante. Mas a característica da insensibilidade tem a faceta da racionalização. É ela que o fará sacar que se não tem o futuro, pelo menos poderá se despedir de seu passado. Mas, depois, também pela racionalização, compreenderá que pode sim criar um futuro, para despojar-se de tudo.

Rápido, menos de 80 minutos. Com bela participação de Jeanne Moreau.

O Berro: 'O Tempo Que Resta', filme de François Ozon, em exibição na Mostra  21

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Tudo em Sergey Loznitsa é complicado. Ucraniano nascido na ex-União Soviética, hoje Belarus. Seu primeiro longa-metragem, depois de anos como documentarista, "Minha Felicidade", de 2010, é um roadie movie fantasmagórico por uma estrada da Rússia atual, no qual passado e presente se confundem. A estrada não é para lugar nenhum. Em certa altura do filme, diz-se que a estrada é a "direção". E essa direção do país é assombrosa: Crimes cimentados; prostituição infantil; abuso de poder; roubo; abuso sexual, tem de tudo nessa estrada, nessa direção.

Um filme muito difícil, cujo personagem principal é um caminhoneiro e depois não o é mais. Mas os acontecimentos continuam terríveis.

A maioria das pessoas detestou. Eu gostei.

Minha Felicidade (2010) Torrent Legendado - Download Filme

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The New Mutants era um filme fadado ao fracasso dado aos pepinos que teve desde sua produção, o Covid seria a pá de cal final. No entanto fui com hype baixo e curti até que bem, mas não sem ressalvas. É um filme divertido que mistura de forma leve terror com filme de super heroi, algo que o assemelha muito a Hora do Pesadelo 3: Dream Warriors e isso o favorece muito. As atuações são corretas mas quem se destaca de longe é a A Bruxa Anya Taylor-Joy. Resumindo, eu esperava uma bomba e me enganei, curti. Melhor que Aves de Rapina. Visto numa cópia torresmo bem porca. ? 8-10

THE NEW MUTANTS "Special Look" And Posters Released After Tickets For The  Movie Finally Go On Sale

 

Centigrade é um bom thriller de sobrevivência que faz muito com pouco. Vai vendo, casal fica com carro preso na neve e passa perrengue semanas a fio(!?), pior que é caso real o que garante o interesse. Misto de Buried com Ice Storm, o espaço limitado do veículo gera incômodo e claustrofobia mesmo, mas os personagens não estão bem desenvolvidos. Resumindo, é filme pra quem gosta de survivals pois se passa todo num lugar só. De duração enxuta, eu fiquei grudado até o final somente pra saber como sairiam dessa. 8,5-10

Centigrade (2020) - IMDb

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Um telefilme de Rainer Werner Fassbinder em 1975. Imagino que o público-alvo era composto por muitas donas de casa. E que petardo na vida doméstica dos alemães! "Medo do Medo" mostra uma família aparentemente nos eixos, sólida, às vésperas da mãe ganhar um segundo filho. Depois da gravidez, ela desmorona. Hoje em dia, diagnosticaríamos fácil: Crise de Ansiedade/Ataque de pânico/Depressão. 

Um filme muito feminino, não só pelo trio excelente, habituées da trupe do diretor alemão: Margit Carstensen, Brigitte Mira, Irm Hermann; mas pelas questões que o envolvem. Uma dona de casa se vir aflita com a criação dos filhos, sem ajuda ativa do marido, obrigada socialmente a dedicar sua vida aos outros, sob os olhares vigilantes da sogra e da cunhada. Punida por querer se embelezar, punida por não querer cozinhar, punida por querer ser um indivíduo e não uma "função". Ela desmorona; natural.

Fassbinder é um mestre das composições. O prédio em que vive a família é mostrado em seus espelhos, escadas, portas, bifurcações, janelas, degraus, como se fossem parte do subconsciente em apuros da protagonista.

Fear of Fear (1975) - Watch on The Criterion Channel or Streaming Online |  Reelgood

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Eu vejo "A Chinesa" quantas vezes for possível, pois é tão rico, mas tão rico, que à medida que nossa cultura cresce, que nosso conhecimento do mundo se amplia, esse filme fica cada vez melhor. É atualíssimo, se tomarmos os revolucionários digitais de agora, os guerrilheiros de política do Twitter, ou os Youtubers lacradores. A política para eles, como para os personagens do filme, também é quase um entretenimento.

No filme, há uma fascinante incorporação de brinquedos, seja um arco e flecha, ou uma rádio-metralhadora. As estantes estão abarrotadas de exemplares do caderno vermelho de Mao, o qual o personagem de Jean-Pierre Léaud recita o tempo todo, tentando importar para a França a ideia da Guarda Vermelha chinesa, grupo que ia às escolas, vilas, cidades, incentivar os ditames da Revolução Cultural, bem como perseguir os identificados como capitalistas. Mas o show nas atuações fica por conta de Anne Wiazemsky, excepcional como uma estudante entedida de Filosofia, filha de banqueiros - a mãe de todos os socialistas de IPhone de hoje em dia - que deseja a revolução de rua, a luta de classes enquanto "práxis", mormente cansada de teoria acadêmica. Tanto que planeja explodir as Universidades, pois enxerga nelas uma educação classista.

É, enfim, um claríssimo deboche aos jovens universitários que acredit(av)am ingenuamente na pureza do Marxismo-Leninismo. Este filme é de 1967, um ano antes de 1968, suas cristalização física. Mas lembro que há alguns poucos anos antes a China de Mao tinha passado pela Grande Fome que matou entre 15 milhões de pessoas, admitidos pelo Partido Comunista de lá, a 50 milhões de pessoas... Seja como for, parece demais com um D.A. de alguma universidade pública brasileira de hoje, a começar pelo da minha "Alma Mater".

Ambientado com cores primárias em destaque; montagem entremeada de fotos ou telas de texto; trilha sonora excelente; homenagens tributárias aos cinema de Nicholas Ray...

Este filme não terminará nunca, Godard! A juventude, em todo o sempre, almeja o poder. Só não sabe como chegar lá.

A Chinesa filme - Veja onde assistir online

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Jovem de esquerda, de família rica, prepara uma explosão antissistema. É "A Chinesa", resenhado ontem? Não, é "Movimentos Noturnos", de 2013, da diretora Kelly Reichardt.

A política neste filme dessa vez está vestida de ativismo ecológico. Três jovens planejam destruir uma represa que foi construída sem os cuidados devidos com a migração do salmão. Para isso, adquirem uma quantidade enorme de Nitrato de Amônia, cuja força assistimos em Beirute neste ano. 

"First Cow" me fez correr atrás de todos os filmes da diretora americana que não tinha visto. "Movimentos Noturnos" é tido como o menos bom, e eu ainda sim gostei. Estou muito admirado com a forma dela escrever e de dirigir. Ela constantemente se aproxima e foge dos clichês. É muito legal pensar o que "Movimentos Noturnos" não é. Poderia ser um thriller, mas ela foge da trilha de suspense, dos cortes rápidos, etc. Poderia ser um estudo de personagem, mas aqui ela apresenta mais um "tema", uma causa, do que uma persona. Poderia ser um drama policial, mas, mesmo assim, os acontecimentos decorrentes da ação do grupo não se dirigem para isso. Ela é uma mulher muito inteligente, todos os filmes dela são meio assim: Temos de pensar o que eles não são.

Mas esta obra é com certeza a que mais tem texto, e olha que também é bem contemplativo. Se juntar todos os filmes dela, não dá a quantidade de diálogos que há aqui. Mais uma vez passado no Oregon, mais uma vez em um bosque, mais uma vez sobre o capitalismo americano como consequência para os indivíduos.

Jesse Eisenberg está muito bem - gosto dele - mas creio que ele precisa procurar novos perfis de personagem, que inclusive modifiquem seu físico. Aqui, com a mesma cara, cabelo, e roupa, de sempre.

Movimentos Noturnos: Fotos e Pôster - AdoroCinema

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Ainda com "A Chinesa" na cabeça, revi "Johnny Guitar", nessa noite de sexta, em que não posso ir para o meu saloon encher a cara. Citado especialmente no filme de Godard (e mais uma vez em "Pierrot le Fout"), agora sei de onde vieram as cores primárias fortíssimas do clássico francês: do figurino de Joan Crawford. Ninguém escreveu isso por aí. Eu vi os dois filmes, um dia depois do outro, e afirmo isso. Vermelho, amarelo e azul; as cores verdadeiras. Aliás, primeiro filme em cores de Nicholas Ray.

Amo o título. Pois ele é uma fraude. Este faroeste não é sobre um homem. É sobre uma mulher (Isso me faz lembrar da obra-prima "Anna Karênina" de Tolstói, que, quem já leu sabe, é muito menos sobre ela, e mais sobre o proprietário de terras Levin Konstantin), um western feminino. Dessa forma, enganado, o público teria que se acostumar em ver uma mulher empreendedora, de arma na mão, domando a situação conflituosa, no deserto de arenito. Seu principal adversário no filme é outra mulher.

Joan Crawford e Mercedes McCambridge, diz a lenda, tornaram-se rivais também na vida real. Sabendo disso, as cenas finais são ainda mais saborosas. Em sua autobiografia, Joan revela que odiou o filme, escrevendo que não havia desculpa para o filme ser tão ruim ou para ela ter trabalhado nele.

Trilha de Victor Young, que, absurdo, só ganhou seu Oscar postumamente.

Johnny Guitar poster - Poster 1 - AdoroCinema

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Segunda vez que vejo "Incêndios" do Denis Villeneuve. Será que o efeito é o mesmo, conhecendo o segredo do filme? As pessoas reclamam das coincidências da trama, mas eu não tenho problemas com elas. Pois a tragédia clássica de Édipo, na qual se inspira claramente o texto teatral que dá origem ao filme, também é cheia de coincidências. E as semelhanças entre eles não param: É a busca pela origem; as marcas no pés, tal como Édipo;  uma região cheia de pragas ou desgraças, que no filme é apenas indicada como sendo o Oriente Médio.

Então, as coincidências, que muitos acham forçadas, não me desagradam. Meu problema é com a caracterização dos atores. Não entendo como eles não escalaram atores com idades mais condizentes com a revelação da trama. Difícil comentar sem spoilers.

Dito isso, continua um filmão.

Indicado ao Oscar de Filme Estrangeiro em 2011. Primeiro contato do Denis com a Academia.

Dvd Incêndios ( Denis Villeneuve ) Original, Novo, O Último! - R$ 145,00 em  Mercado Livre

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"Songs My Brothers Taught Me" é o primeiro longa-metragem da diretora do momento, (a nascida em Pequim) Chloé Zhao. É um filme de 2015, pouco visto, aliás, no Filmow não tem nenhum comentário sobre ele. Não encontrei legenda para ele também, então me esforcei para entender o inglês da comunidade. Mas acho que passei no teste. Gente...Que filmão! Fiquei bem emocionado.

Totalmente encenado por não atores; é passado em uma reserva indígena nas Badlands, focando a pobreza rural dos habitantes dali, vítimas costumeiras do alcoolismo. Num primeiro momento, entendemos que o filme é sobre a relação de um irmão e de uma irmã, criados por uma mãe ex-adicta com vida amorosa atribulada mas agora entregue à religião; e depois entendemos que o irmão mais velho deles está na prisão; para num momento posterior ampliarmos ainda mais o nosso olhar, e compreendermos que o "Brothers" do título tem a ver com a comunidade como um todo. O pai dos dois adolescentes é, na verdade, o patriarca da região, envolvendo - se entendi bem - vinte e três irmãos e nove mulheres distintas. Todos mais ou menos envolvidos com rodeios, criações, mecânica, ou, perigosamente, tráfico de bebidas. O garoto, personagem principal, deseja a todo custo fugir com sua namorada daquela região, daquela situação. Mas seu grande conflito é deixar a sensível irmã menor para trás.

A Fotografia é lindíssima, também a cargo de Joshua James Richards, como em "The Rider" e agora "Nomadland", captando a luz laranja do entardecer daquela região e seus belos azuis claros do amanhecer. Tem muito de Terrence Malick, muito. Só que com mais contexto social. Ele e Chloé Zhao conseguem mostrar a natureza específica da região de uma maneira bela, mas também como uma forma de prisão. Explico: as pradarias são sempre vistas como sinônimos de liberdade, mas no final deste filme, o protagonista em off diz que "é o mesmo horizonte para todos"! Achei isso muito forte. Nunca tinha pensado assim. É meio estranho falar em liberdade, quando todos só conseguem ver a mesma coisa.

Outra questão que está presente neste filme e em the "The Rider" é a questão da virilidade. Em ambos os filmes o ideal masculino dos jovens é a figura do cowboy. Domar touros é o mecanismo de ascensão social. O problema é que este cowboy está machucado como em "The Rider", ou é jovem e inexperiente demais como em "Songs My Brothers Taught Me".

Excelente!

Songs My Brothers Taught Me Movie Poster (#2 of 2) - IMP Awards

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