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Forum Cinema em Cena

O Que Você Anda Vendo e Comentando?


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Enquanto o mundo aguarda o novo trabalho de Villeneuve, eu sigo com a tarefa de casa de assistir aos trabalhos antigos dele.

Aqui está "Maelström"/ Redemoinho, de 2000, segundo longa do diretor canadense. Agora...como qualificar? Uma fábula? Uma dramédia fantasiosa? Pra começar, o filme é narrado por um peixe, na tábua sanguinolenta de um abatedouro. 

O peixe, que é sempre decepado e substituído por outro, encarna a ideia de que há sempre uma segunda chance na vida. Conta a história de uma jovem empresária, que está sofrendo com a decisão de fazer um aborto, bem como com problemas em seu negócio, e, numa noite ruim, acaba atropelando um empresário do ramo da pesca. Atordoada com o assassinato involuntário, foge. Mas por vias tranversas acaba conhecendo o filho da vítima, vinda da Noruega, que se apaixona por ela.

Bom, taí a história. Mas tem muita coisa por trás. Por exemplo, eu encarei o filme como uma inteligente mensagem pró-aborto disfarçada. Por que digo isso? Porque a protagonista não sofre pelo feto, pelo, digamos assim,"assassino consciente". Sofre, ao contrário, pelo seu assassínio culposo, acidental. Mas essa interpretação não está de graça no roteiro,"prima facie". Se alguém quiser encarar "Redemoinho" apenas como uma irônica história de amor, tá valendo igual.

Todo pontuado pela cor azul, de roupas, a objetos; e fotografado de maneira saturada; a câmera não larga também de outra beleza, a da ótima atriz Marie-Josée Croze, de "O Escafandro e a Borboleta". 

Na expectativa por "Dune".

Redemoinho poster - Poster 2 - AdoroCinema

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On 9/13/2020 at 3:01 PM, Big One said:

Pessoal, o tópico O Que Você Anda Vendo? agora está nos dispositivos Alexa. Resolvi criar essa skill para que as pessoas tenham acesso ao conteúdo deste tópico que é muito rico. Foi criada uma skill de Flash Briefing onde as críticas deste tópico são reproduzidos em áudio  diariamente pela Alexa tanto em dispositivos Echo Dot e Echo Show, quanto no aplicativo Amazon Alexa. Segue link da Skill. 

https://www.amazon.com.br/O-Que-Você-Anda-Vendo/dp/B08JVF31QQ/ref=mp_s_a_1_1?dchild=1&keywords=o+que+voce+anda&qid=1601507462&s=alexa-skills&sr=1-1

 

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"N`aum vou nem falar nada!!!"

Um dos melhores filmes de Agnès Varda, quiçá o melhor, "Le Bonheur"/ "As Duas Faces da Felicidade", de 1965, foi um estouro entre os críticos da época, sendo premiado com o Urso de Prata em Berlim. Penso que esse filme visto de hoje ganha camadas ainda mais significativas.

Um carpinteiro, sempre de bom humor, pai de duas crianças encantadoras, vive os prazeres de um casamento feliz, ao lado de sua jovem esposa. Porém, conhecerá outra moça, com quem acabará se relacionando. E a amante aceitará seu papel de reserva, com tranquilidade e bonomia. O homem então terá o melhor dos dois mundo: A felicidade em casa; e a felicidade fora de casa, ele que, em momento de reflexão, dirá: "A felicidade se acumula".

Ao som alegre de Mozart, captando belíssimas paisagens campestres, filmado em ambientes alegrados pelo vinho, pela comida, pela empatia entre as pessoas, aos poucos surge uma interrogação no espectador: Será isso uma fábula? Pois não há tristeza, nem desacordo, nem malogros. Até que nos damos conta: Agnès Varda filmou como seria a vida ideal do homem! Não é uma fábula, é uma sátira!

As mulheres não criam "problemas", aceitam a situação. O homem ainda se gaba de sua sinceridade. Veja bem, era uma época de reconstrução de valores, de abertura sexual. Mas, neste filme, abertura para o total benefício masculino. O que encanta é que não há a tal "problematização", não há um tom severo de crítica, como 99 em cada 100 cineastas faria. Estamos em um mundo encantado masculino, onde tudo dá certo para ele, onde tudo é prazer e satisfação egóica; e para o homem, essa vida de felicidade redobrada é algo "da natureza", e não uma construção social.

Quanto à linguagem: belíssimos planos-detalhes; fades-out de todas as cores (azul, rosa, vermelho, amarelo), como para insistitir na ideia de uma vida colorida.

Os lindos Jean-Claude Druout e Claire Druot, que vivem o casal oficial, são igualmente casados na vida real, e estão vivos ainda hoje. Seus filhos no filme, são filhos igualmente na vida real. A amante é vivida por Marie-France Boyer, também ainda entre nós. Os três, hoje oitentões, estão excelentes. E permanecem os três, juntos!, na grande galeria do cinema.

Uma obra-prima.

 

Le Bonheur - Film (1965) - SensCritique

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Exterminadores do Além Contra a Loira do Banheiro é um terrir tupiniquim que dá pro gasto e surpreende numa seara pouca explorada no cinema nacional. Mistura de Caça-Fantasmas com a trasheira de Evil Dead ou Fome Animal, a película é muito bem feita, seu gore e desenho de produção escondem bem a deficiência do roteiro, mas seu mérito é fazer terrir com lendas nacionais. Mas as vezes é terrir de gosto duvidoso, misógino e preconceituoso. Outra, o pior são suas atuações forçadas do elenco principal. Gentili, Calabresa e Lins são comediantes, não atores. Surpresa boa mesmo são as pontas do Ratinho e Sikêra Jr. 8-10

Casting du film Ghost Killers vs. Bloody Mary (2017) : réalisateur,  acteurs, producteur, scénariste ...

 

Let It Snow é um thriller de sobrevivência ucraniano 9porém falado em inglês) apenas razoável pois poderia ser melhor do que é. Bem feitinho, boa produção, fotografia caprichada,  o elenco é esforçado e imagens deslumbrantes de cartão postal não conseguem segurar a deficiência do roteiro, que não se resolve se quer ser slasher ou survival. Fora isso tem personagens que entram mudos e saem calados sem dizer a que vieram. A metade final se arrasta feito a final girl da vez até não poder mais, e por aí vai. Tem uma deixa pra sequência no final, mas acho que não vai rolar não. 7-10

Snowboarding action-horror Let It Snow gets a poster and trailer

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O Hospedeiro (Gwoemul, Dir.: BongJoon-Ho, 2006) 3/4

260x365_519eb9c31e478.jpg

 

Uma criatura mutante ataca uma cidade da Coreia. Filme foca a busca de uma família que tem uma criança sequestrada pela criatura.

Um dos primeiros filmes do hoje aclamado BongJoon-Ho (Oscar de diretor por Parasita), que funciona muito bem, talvez única reclamação é a duração de 2h, o que faz o filme ficar esticado demais (algumas coisas ali poderiam ser limadas). É um filme de terror até diferente já que foca muito no drama da família que persegue a criatura.Ora estão juntos, ora estão separados e filme consegue acompanhar muito bem eles. Tem uma crítica interessante de como os americanos acabam dominando muito ali o terreno coreano (eles chegam, dizem umas tolices, que todo mundo acredita e segue). O final é simplesmente foda. Altamente recomendado.

** Curioso que filme previu o coronavírus, já que se fala em vírus altamente contagioso que causa sintomas de resfriado, e que todos tem que usar máscaras pra andar na ruas. (!!!)

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5 hours ago, Jailcante said:

O Hospedeiro (Gwoemul, Dir.: BongJoon-Ho, 2006) 3/4

Um dos primeiros filmes do hoje aclamado BongJoon-Ho (Oscar de diretor por Parasita), que funciona muito bem, talvez única reclamação é a duração de 2h, o que faz o filme ficar esticado demais (algumas coisas ali poderiam ser limadas). É um filme de terror até diferente já que foca muito no drama da família que persegue a criatura.Ora estão juntos, ora estão separados e filme consegue acompanhar muito bem eles. Tem uma crítica interessante de como os americanos acabam dominando muito ali o terreno coreano (eles chegam, dizem umas tolices, que todo mundo acredita e segue). O final é simplesmente foda. Altamente recomendado.

 

Um paralelo com "Parasita" é a parte do abrigo social.

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Nunca tinha assistido a esse "Os Amores de uma Loira", de 1965, filme da assim chamada fase theca do diretor Milos Forman, aqui em seu segundo longa. É uma comédia de costumes, filmada em preto-e-branco, com uma câmera bastante documental, com a presença de vários não atores, e com várias cenas de nudez, que eram uma desafio ao cinema do período comunista. Foi indicado ao Oscar de Filme Estrangeiro em 1967.

Engraçado que começa com uma cantora se apresentando para a câmera, o que me remeteu ao início do soberbo "Taking off" , de 1971, primeira obra da fase americana do diretor. Quanto à história, a diretoria de uma fábrica de sapatos, localizada em uma cidade em que há 16 mulheres para cada homem,  está preocupada com a situação de fastio das suas funcionárias, e decide - se bem entendi - trazer um batalhão para a região, e promover um baile de integração. A protagonista (vivida por uma ex-cunhada de Forman) irá se envolver não com os soldados, notoriamente mais velhos, mas com o pianista do evento.

Só quando terminei de ver, houve o "click", e me dei conta da puta crítica social embutida: o dirigismo estatal não apenas na economia, mas no campo amoroso. Como se ordens superiores pudessem controlar os corações da nova geração...Em certo momento, uma professora tenta ensinar as virtudes do recato sexual às garotas. Os pais se horrorizam com a ideia dos filhos fazerem sexo. E o mais importante: quem era para ser amado, o exército, não o foi.  A nova geração, incontrolável, seria salva pela arte.

Eram os sopros da nouvelle vague chegando à Europa do Leste...

The Loves of a Blonde | One Sheet | Movie Posters | Limited Runs

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"Fata Morgana" é um documentário de Werner Herzog, de 1971, bastante curioso enquanto forma.

Uma narração do mito da criação maia, o Popo Vuh, é sobreposta à imagens do deserto do Saara, em sua porção do norte da República Centro-Africana, e também em Camarões. Ou seja, imagens do universo sem o homem, pré-civilização, quando a terra, com sua força, expulsou a água e o ar, diz o texto. Dunas, areia, ondas de calor, emolduram as palavras míticas. Aos poucos vão aparecendo sinais do homem (carcaças de tanques, ou de pequenos aviões, ou torres de petróleo). Depois aparecem imagens dos sofridos animais. Então o filme entra em uma segunda parte, enfocando as populações do deserto, seus nômades, seus caçadores...  E depois há uma terceira parte, já em uma região mais estruturada, no qual aparecem imagens aleatórias de um homem tocando piano, ou de um mergulhador em um parque marinho, simbolizando, a meu ver, a "conquista" do homem daquele espaço africano.

Bom, eis aqui um dos primeiros exemplos de Herzog mostrando a relação homem-natureza. Mas o grande diferencial do doc para mim é como o diretor conseguiu comparar o "realismo" próprio do documentário com as miragens - o tal efeito fata morgana - ocasionado pela inversão térmica. Isso fica claro desde o princípio, quando o espectador assiste a 8 aterrissagens de aviões. As imagens nos vêm tremelicando, sem nitidez. Sabemos, por experiência, é dizer, com o cérebro, que trata-se de um avião pousando em uma pista quente, mas não estamos vendo, é dizer, com os olhos, aquilo nitidamente. É realismo, ou apenas uma miragem? Nosso ato de ver, sob certas circunstâncias, fica distorcido.

Assim como beduínos, ou aventureiros perdidos, enxergavam um lago no meio da areia; depois de assistirmos a essa obra, fica a pergunta: é isto um documentário, ou é uma miragem de um filme?

Seleção musical de  Mozart, Händel, e Leonard Cohen. 

Werner Herzog's Fata Morgana | Fata morgana, Poster prints, Original movie  posters

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Sou a pessoa menos indicada para comparar a animação de 1998 com este "Mulan" de 2020, em Live-action, pois não vejo o predecessor há muito tempo. Mas se tem algo de que eu me lembro é que a personagem é uma garota comum, não uma super-girl chinesa. 

A primeira meia-hora pra mim foi uma tortura, por que já tomei birra com esse entendimento (até em desacordo com o neofeminismo de nossos tempos) do roteiro, e também por que desgostei de cara com o trabalho excessivo de maquiagem, que faz parecer os habitantes da vila figurantes de novela da Record. O CGI também caiu mal aos meus olhos. Quando falamos de um desenho qualquer que ele "parece real", trata-se de um elogio. Mas desse adornamento excessivo, em live-action, só podemos dizer "parece irreal". Não é um elogio.

A segunda meia-hora, o segundo ato, quando Mulan substitui o pai na convocação, pra mim foi a melhor parte. Mas...gente...ela não corta o cabelo! Como assim? Eu não consigo aprovar essa decisão, desculpe Niki Caro.  A terceira parte é a tentativa de se fazer um wuxia. Pena que deram um banho de loja, um banho de Hollywood, com cortes que acabaram tirando a beleza humana dos movimentos. 

O final é redobradamente edificante, como todo filme da Disney.

Não gostei. Pra mim, de todos os live-action do estúdio este é o pior.

E "Aladdin", a quem possa interessar, continua o melhor.

Em termos de Oscar, talvez a música dos créditos "Loyal Brave True" entre em "Canção".

Disney libera novo pôster de Mulan com referência da animação - Quarto Nerd

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Tenho pouquíssima coisa a criticar em "The Devil All the Time"/ "O Diabo de Cada Dia", de Antonio Campos, para a Netflix. Talvez só a apresentação dos personagens, em várias linhas temporais, que talvez seja um pouco confusa para a maioria das pessoas. Citada essa pequena falha, mesmo assim, eu não tornaria a ver esse filme jamais!

A trama é pesadíssima, com várias cenas detestáveis, inclusive a crucificação de um cachorro. Não dá! Aliás, de uma maneira ou de outra, os filmes dele têm sempre alguma coisa que passa do ponto, de modo que eu não consigo criar uma empatia verdadeira, embora reconheça os méritos.

O elenco está fantástico! Mas pra mim Robert Pattinson é o grande destaque, com uma voz e um sotaque sensacionais, completamente diferente de tudo que ele já fez.

Fotografia, trilha, design, tudo ótimo. Mas realmente tem algo na filmografia dele de querer ser um descendente de Lars Von Trier que absolutamente não me ganha. Acho que é por que em Trier há um discurso intelectual forte por trás de tudo.

THE DEVIL ALL THE TIME HD-DVD 3187 | Vidéothéque THE BEATLES

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"N`aum vou nem falar nada!!!"

Se contarmos que conforme a tradição de um lugar, o primogênito tem de abandonar o pai ou a mãe, no alto de uma montanha, quando eles completarem certa idade (70 anos), as pessoas vão pensar naquele episódio de "A Família Dinossauro". Mas essa história vem de um romance japonês, que foi levado ao cinema duas vezes, e esta é a versão mais famosa, "A Balada de Narayama", de 1983, Palma de Ouro em Cannes, a primeira Palma de Shôhei Imamura.

A personagem da anciã vivida pela atriz Sumiko Sakamoto (viva até hoje! Felizmente sem subir a montanha) está feliz em poder cumprir seu dever de honrar a tradição do vilarejo, e ir-se morrer na montanha Narayama, embora esteja muito bem de saúde, com todos os dentes saudáveis. Feliz também por que haverá uma boca a menos para comer em sua grande família, em sua pobre casa, da pobre vila, do Japão paupérrimo, antes da Revolução Meiji. Ela na verdade se sente até envergonhada por estar hígida e disposta, e, em duas cenas pavorosas, quebra os próprios dentes. Quer apressar o ciclo da vida, que, pela tradição, o dela já deveria estar no fim

Ciclo da vida que é a tônica desse filme. A todo momento, humanos e animais, e também plantas, ou mesmo estações do ano, são mostrados como partes de um todo, integrado. Integrado e implacável. Cobras se acasalam, sapos se acasalam, mariposas saem de seus casulos, aves caçam coelhos...É um filme que mostra a natureza sem retoques. E a sociedade humana, também, sem retoques (corcunda, fedorenta, queimada, pensando constantemente em sexo). Quando uma família da vila anda mal, esconde a colheita, sua punição, em uma cena fortíssima, será mais do que cruel.

As primeiras partes do filme se concentram em mostrar a vila, seus costumes, as relações familiares. A matriarca precisa deixar tudo mais ou menos encaminhado para a sua partida, resolvendo pequenos conflitos, explicando como fazer determinada coisa, satisfazendo últimos desejos de seus familiares...

Mas por mais cenas inesquecíveis que tenha, esse filme é o seu final. Os últimos vinte minutos de subida da íngreme montanha, e a chegada ao local de despedida de mãe e filho são de cair o queixo. Um cemitério, um cemitério em que se chega vivo. Em nome da tradição.

Obra-prima máxima a absoluta.

[ Vou fazer um aparte. 99 em cada 100 pessoas que conheço defenestram o capitalismo. Dá vontade de mostrar esse filme para eles, para verem como era o Japão antes do capitalismo. Antes do desenvolvimento do capitalismo mais industrial, mais de 90% da população mundial vivia na pobreza extrema, e muitos, muitos, imersos na duríssima pobreza rural, como mostrada nesse filme. Hoje a estatística é o contrário. O capitalismo é uma máquina de tirar pessoas da pobreza, mas as pessoas - doutrinadas erradamente pelos dourados falsos do Marxismo - não se dão conta. Qualquer assalariado hoje, ou qualquer pessoa que receba um "auxílio emergencial",  nos primeiros escalões da pirâmide, vive melhor do que a maioria da humanidade já viveu.]

 

Crítica: 'A Balada de Narayama'(1983), de Shôhei Imamura - Cinefilia  Incandescente | Filmes, Pôsteres de filmes, Cartazes de filmes

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7 hours ago, SergioB. said:

Tenho pouquíssima coisa a criticar em "The Devil All the Time"/ "O Diabo de Cada Dia", de Antonio Campos, para a Netflix. Talvez só a apresentação dos personagens, em várias linhas temporais, que talvez seja um pouco confusa para a maioria das pessoas. Citada essa pequena falha, mesmo assim, eu não tornaria a ver esse filme jamais!

A trama é pesadíssima, com várias cenas detestáveis, inclusive a crucificação de um cachorro. Não dá! Aliás, de uma maneira ou de outra, os filmes dele têm sempre alguma coisa que passa do ponto, de modo que eu não consigo criar uma empatia verdadeira, embora reconheça os méritos.

O elenco está fantástico! Mas pra mim Robert Pattinson é o grande destaque, com uma voz e um sotaque sensacionais, completamente diferente de tudo que ele já fez.

Fotografia, trilha, design, tudo ótimo. Mas realmente tem algo na filmografia dele de querer ser um descendente de Lars Von Trier que absolutamente não me ganha. Acho que é por que em Trier há um discurso intelectual forte por trás de tudo.

THE DEVIL ALL THE TIME HD-DVD 3187 | Vidéothéque THE BEATLES

Eu também gostei bastante, mas o filme é meio monocromático, não?

Eu senti falta de um respiro de vez em quando. É muita tragédia, de tudo que é jeito, o tempo todo, haha. 

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Há alguns meses, deixei aqui um longo texto sobre "Os Rapazes da Banda" de 1970, do Friedkin, um filme realmente estupendo, histórico. Então não vou tecer maiores interpretações sobre a temática, já que um dos méritos desta versão de 2020, de Joe Mantello, para a Netflix, foi manter integralmente o texto. O outro ponto de relevância é - em nível social, não cinematográfico - contar dessa vez com um elenco inteiramente gay.

O filme também optou por ser um "filme". O clássico do Friedkin optou por manter sua teatralidade na encenação. Na versão deste ano, há espaço para uns bons flash backs, durante os depoimentos do "jogo do telefone", tornando o filme não dependente enormemente das palavras. As cenas finais, sem texto, acrescentadas como novidade, na verdade, não me disseram tanta coisa. 

Os atores estão todos ótimos, mas, devo dizer, que o elenco de 1970 conseguiu brilhar ainda mais. O único ator que eu acho que superou a atuação do seu correspondente do passado foi Andrew Rannels- que eu nem conhecia - que fez um Larry  mais sexy, sem traço de culpa por ser mais safado.

Também vi o ótimo curta paralelo que acompanha o filme, dos atores com o autor Mart Crowley, morto este ano, explicando a origem da peça, e os desafios do filme naquela época. Aliás, pelo sabor sa novidade, gostei ainda mais desse programinha. Foi maravilhoso ver o próprio autor explicando a origem da fala antológica do personagem do go go boy, quando sai do apartamento.

Filme ótimo, que faz jus ao filme do passado. Não o supera, mas é um serviço às novas gerações, que desconhecem, ou têm preguiça de ver filmes antigos.

Obrigado, Netflix.

Netflix's The Boys in the Band gets a poster

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Se perguntarem qual é o melhor filme argentino do século, creio que as respostas se dividirão entre "O Segredo dos seus Olhos" ou "Relatos Selvagens", mas entre a turminha cult, indie, quem ganharia seria "La Ciénaga"/ "O Pântano", de 2001 da diretora Lucrecia Martel, seu primeiro longa-metragem, premiado em Berlim, e em várias partes do mundo.

Pra começar, seu rítmo é tão fluido, é tão natural, é o oposto de um pântano. Não que tenha cortes rápidos, ou acontecimentos sucessivos, um atrás do outro. O fluxo vem da espontaneidade das atuações, dos diálogos, dos enquadramentos. A beleza está nisso, por que história, história mesmo, quase não tem.

São dois lados de uma enorme família compartilhando um sítio na quente região de Salta, no Noroeste da Argentina. O cinema..vocês sabem...vivo repetindo...é um professor de geografia. Salta é uma cidade colonial, mais perto da Bolívia, em costumes, em aparências humanas, do que o Puerto Madero de Buenos Aires. É bom ver isso, pra gente tirar essa ideia boba da Argentina como uma Europa no sul. Ora, é um país enorme, o 8º maior do mundo, também ele, multicultural, abrangendo descendentes de índios, como não?!

O maior desafio aqui é achar o tema. Este filme é sobre o quê? Não há narrativa, comoe stamos acostumados. Temos um grande cotididano. Uma família gigante tomando sol ao lado de uma piscina meio suja. Notem, os homens são nulos. Não fazem nada, não se responsabilziam por nada. As crianças andam armadas, arriscam-se, adolescentes dirigem sem carteira. Alguém se machuca, eles não tão nem aí. As mulheres são a força da família. Tudo gira ao redor delas. Como na maioria das famílias. Brigam, fazem planos, infantilizam os homens mais jovens...Nesse sentido, sim, há um pântano. Porque estão atolados no calor, estagnados ao redor das camas, criticando o cabelo alheio, assistindo a tv, sem muitos planos, sem muita ideia de sucesso.

Aplausos ao incrível controle da direção. Um filme sobre nada, em que todos os momentos, por mais pequenos, contam.

Devo ser indie.

O Pântano - Filme 2001 - AdoroCinema

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O Sócio Silencioso (The Silent Partner, Dir.: Daryl Duke, 1978) 3/4

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Caixa de banco descobre que bandido planeja roubar o banco, ele pega o dinheiro antes do assalto, e começa um jogo de gato e rato entre ele e o assaltante.

Eficiente suspense, e bem tenso, valorizado ainda mais pela dupla de atores principais (Eliott Gould e Christopher Plummer) fazendo uma boa parceira, com perseguido e perseguidor. 

 

Mãos sujas sobre a Cidade (Busting, Dir.: Peter Hyams, 1974) 2/4

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Dupla de policiais tenta dar um fim no reinado do chefão de drogas da cidade.

É um filme policial mais convencional. Não traz nada de novo, e não se aprofunda muito, mas é eficiente. Tem um final pessimista e isso valoriza um pouco, tornando ele algo um pouco mais notável dentro do gênero.

 

O Limite da Traição (Extreme Prejudice, Dir.: Walter Hill, 1987) 2/4

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Xerife numa cidade na fronteira do EUA e México é amigo de infância do chefão de drogas local. A relação estremecida entre eles piora quando um grupo de ex-militares planeja um roubo ao banco local.

Tem mais cara de um faroeste moderno do que um filme policial em si (ok, protagonista é policial então é um 'filme policial'). Produzido pela mesma dupla responsável pelo Rambo (abertura e final do filme até parece um filme do Rambo mesmo), que não escondem que gostam de colocar americanos dando de machões em território alheio. Walter Hill era um nome grande nos anos 80 e aqui entrega outro filme notável.

 

Um Policial Acima da Lei (Cop, Dir.: Andrew Davis, 1988) 3/4

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Policial ao investigar assassinado de uma repórter, descobre que pode ter sido cometido por um serial killer que poderia ter feito outras vítimas.

Considero que foi uma tentativa de fazer um "Dirty Harry anos 80", nisso o filme é eficiente. Título nacional até que acertou mesmo, o cara passa por cima de muita coisa pra fazer sua investigação. James Woods até que foi uma escolha certeira nisso. Altamente recomendado.

 

Todos visto aqui:

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Box Cinema Policial Vol. V

Continua com uma seleção boa de filmes (não tem filme ruim nesses boxes desde o 1º box). Primeiro disco traz 2 filmes com o Eliott Gould, curiosamente. Disco 1 com dois filmes dos anos 70, e Disco 2 com dois dos anos 80. Ponto negativo: Colocaram extra de Sócio Silencioso no disco 2, e filme está no disco 1. Mesma coisa com O Limite da Traição, que está no disco 2, mas extra está no disco 1. Porque filme e extra não está no mesmo disco em ambos os casos? Versátil sempre comete esse tipo de coisa nesses boxes, não sei porque. Mas ok.

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F I N A L M E N T E !

Um dos filmes que mais desejei ver na vida, difícil de achar, difícil de ver, quase 4 horas de duração, encontrei-o apenas em inglês, mas valeu a pena. É "A Viagem dos Comediantes", de 1975, de Theodoros Angelopoulos, um filme sempre na lista dos melhores de todos os tempos, ou dos mais importantes de todos os tempos - que são coisas diferentes...

Exige demais do espectador. Não só o esforço físico das 4 horas, mas o esforço mental, bem como demanda que o espectador tenha algum conhecimento de como foi a Segunda Guerra Mundial na Grécia, seu efeitos, suas consequências...E acrescento que para perceber o quanto ele é notável, há de se ter um conhecimento acerca dos planos cinematográficos. 

Já escrevi aqui que ele é o cinesta dos planos-médios, mas aqui é quase uma extrapolação. Li em um comentário que não tem nenhum primeiro-plano. Na verdade, há 3. São os 3 testemunhos, de 3 personagens, sobre as agruras do que se passou no período entre 1939-1952, período histórico retratado no filme. O resto é só planos à média distância para mais. E, como enaltecido mundialmente, vou confiar na informação, 80 planos-sequência! Fiquei observando como essa estratégia de filmar de longe realça na tela o chão das locações. Talvez por isso ele escolha tanto praias, ou linhas de trem, ou pátios antigos. Mas divago...

Uma trupe de atores reúne-se em 1952 para levar aos palcos uma popular peça grega do século XIX. Passa um carro anunciando o processo de eleição que culminaria na vitória do Marechal Papagós, que derrotara os comunistas da guerra civil que se seguiu à libertação grega do regime nazista, e colocaria o país na Guerra Fria ao lado dos americanos, e na adesão à OTAN. Mas como se trata de Angelopoulos, já sabemos que tempo e espaço se dissolverão, e logo estamos em 1939, ou 1944, ou 1946. O filme viaja.

Esse mecanismo nos permite depreender - porque nunca é explicado tintim por tintim - quais integrantes da trupe eram aliados dos ingleses, quais eram informantes do nazismo, quais estavam do lado comunista. Bem como nessa viagem entre épocas vamos conhecendo o passado ou o futuro dos integrantes da companhia. Assim, como é um passeio sobre a história da metade do Século XX da Grécia. Tal como a Alemanha, o país foi um dos palcos da divisão entre dois regimes político-econômicos. A Grécia parece um caso sem muito glamour, ninguém fala disso.

Planos longuíssimos, alguns belíssimos, outros chatíssimos, como sempre em seus filmes têm alguém dependurado na forca, cenas de música, cenas de dança, helenismo...

Um filme muito rico, muito difícil, mas que é cinefilia na veia.

 

The Travelling Players - O Thiasos (DVD) – trigon-film.org

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The Doorman é um thriller de pancadaria marromenos que tenta emplacar a Ruby Rose como atriz de filmes de ação. O problema é que tudo já foi visto antes em outras produções, o que o torna genérico até o talo. Imagina um misto de Esqueceram de Mim e Duro de Matar..é isso! A atriz até que se empenha mas deixa a desejar como bad ass, quiçá pra não cronificar as lesões adquiridas em Batwoman, onde ela realmente tava bem. Pena que ela deixou esse seriado pra cair nesta barca furada. 7,5-10

Ruby Rose and Jean Reno Star in THE DOORMAN Premiering on VOD - Action  Reloaded


 

The Glorias é uma biografia bacana de uma famosa ativista histórica ianque que nunca vi pintada, mas o filme me colocou bem a par da retratada. O filme foge da biografia convencional mas a estrutura, formato e grandes atuações fazem a diferença tornando a película atraente. Até os efeitos especiais e animações se justificam criativamente pra ilustrar momentos intelectuais. Moore e Vickander brilham nas diferentes fases da protagonista principal. 9-10

THE GLORIAS – Rated R – 2 hrs. 19 mins.

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9 hours ago, Jorge Soto said:

The Glorias é uma biografia bacana de uma famosa ativista histórica ianque que nunca vi pintada, mas o filme me colocou bem a par da retratada. O filme foge da biografia convencional mas a estrutura, formato e grandes atuações fazem a diferença tornando a película atraente. Até os efeitos especiais e animações se justificam criativamente pra ilustrar momentos intelectuais. Moore e Vickander brilham nas diferentes fases da protagonista principal. 9-10

THE GLORIAS – Rated R – 2 hrs. 19 mins.

 

Ah, que legal você ter gostado do filme! Essa mulher é brilhante. Uma lição de inteligência, e independência! Li a autobiografia e fiquei mais fã ainda. Que bom que esse reconhecimento em forma de filme veio há tempo, pois ela já tem 86 anos. 

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"Ana e os Lobos", de Carlos Saura, de 1973. Como todo filme político de um país governado por uma Ditadura, precisa se valer de metáforas. Não tenho muita admiração por metáforas no cinema, e as desse filme são meio óbvias. No entanto, gostei. Vamos lá...

Uma babá estrangeira é contratada para servir em uma casa de campo espanhol, governada por uma idosa chiliquenta, que domina seus três filhos; um que almejava ser militar; um de veia místico-religiosa; e um homem reprimido, meio tarado, infeliz no casamento. Os filhos, os lobos, representando o poder do Exército; o poder da Igreja, o poder da repressão sexual; ficam de olho na beleza e graça da jovem (A sedução estrangeira, a influência americana) Geraldine Chaplin, rondando-a, cortejando-a. A mãe é a velha Espanha: meio caduca, supersticiosa, preconceituosa, dominadora.... Juntos, a família e a casa são a expressão visual do Regime franquista, àquela altura, em decadência.

O curioso é que esperaríamos um drama sobre abuso - hoje diríamos - moral, mas a maior parte do filme flerta bastante com a comédia, por que os três filhos são ridículos em suas personas; e a personagem de Geraldine Chaplin (casada com Saura de 1967-1979) tira de letra todas as inconveniências. Só que como é praxe nos filmes do Saura, o final é excelente, muito forte, e então entendemos que todo esse ridículo, por mais que pareça e seja ridículo, pode ser violento.

Nós brasileiros estamos sabendo tudo atualmente sobre ridículos violentos....

ana y los lobos - poster cartel original - carl - Buy Classic Spanish Film  Posters at todocoleccion - 154160774

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Maratona Kelly Reichardt - agora uma revisão - com o lindo "Wendy and Lucy", de 2008.

Adaptando um curta de seu parceiro Jonathan Raymond, Kelly entrega seu filme com final mais emotivo. Uma jovem, de quem sabemos pouco, viaja para o Alasca em busca de emprego, em sua caranga velha, ao lado de sua cachorra Lucy. Agora que entendi a chave de seu cinema - pensar no negativo, o que não é - temos aqui um filme que não é um road movie, nem é um filme sentimental clássico entre homem e animal.

Engraçado, esse filme vir um ano depois de "Na Natureza Selvagem" (como vocês sabem, meu filme número 1). Lá o road movie está cheio de grandes encontros e grandes aprendizados para a vida (algo que Reichardt já havia desossado em "River of Grass"),mas principalmente naquele filme o Alasca é quase um sonho, um último refúgio da natureza, versado e cantado pelas suas belezas naturais. Neste filme, o Alasca é, ao contrário, um refúgio econômico, uma oportunidade empregatícia para a jovem de Indiana.

O problema é que ela perde o cachorro (Palm Dog, em Cannes, 2008, para a cachorrinha "Lucy" - por sinal a mesma do filme anterior de Reichardt, o soberbo "Antiga Alegria". O bom de fazer maratona é conseguir pescar as referências). O filme então se torna a garota perdida na vida buscando sua cachorra perdida. Vira aquele tipo de drama sentimental que envolve animais? Não. O cinema de Reichardt é negativo.

Durante a procura, vamos perceber uma insensibilidade mais geral da sociedade. Garotas passam comentando que alguém dorme no carro. Informações erradas são passadas, ou então informações duríssimas são passadas com pouco tato. Bem como na frase síntese do filme, alguém sem a menor sensibilidade, em tom moralista, um evidente republicano, dirá algo como: "Não se pode ter um cachorro, se você não tem condições para isso". Evidentemente, trata-se da chamada "Posse Responsável". Concordo. Mas não dá pra simplesmente ignorar o amor, a amizade, entre um ser humano e um animal, pois essa ligação não passa pelo dinheiro. Ou seja, não é filme de estrada, não é um filme de cachorro, é uma intimista reflexão sobre os valores da América.

Em termos de direção, reparei no planos laterais. Seja a câmera buscando o cachorro atrás de um pau atirado em um bosque, seja a câmera que passeia tristemente pelas "celas" desoladoras de um canil, seja Wendy andando a pé pelos bairros pouco familiares da cidade.

Um filme muito rico, cujo final, sim, é construído para pegar um lenço. Michelle Willliams desenvolve sua personagem de maneira parecida com o que ela geralmente faz: econômica econômica econômica, para em uma cena "x", o dique da emoção se romper. Sempre dá certo.

Bravo!

Wendy e Lucy poster - Poster 3 - AdoroCinema

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Maratona Hong Sang-soo.

Com muito custo, consegui achar a estreia do diretor coreano no cinema, em 1996. "O Dia em que o Porco Caiu no Poço" infelizmente é uma primeira apariação fraca, aliás fraquíssima. De longe, é o pior filme de Hong Sang-soo, que aqui não apresenta uma voz original. Pelo contrário, parece que está macaqueando aqueles filmes dos anos 1990, de Altman, e outros, de narrativas fragmentadas, ligadas por um fio tênue.

Um monte de personagens inúteis, vários cenários, vários cortes, várias cenas, nenhum plano de longa duração (talvez só 1), nada do minimalismo, nada das características que o distinguem hoje em dia. Consegui percerber uma ligaçãozinha visual com "Grass", de 2018, no princípio do filme, do vaso de planta na parte exterior de um café...

Leva este filme um título intrigante, mas só no finalzinho entenderemos a razão. Uma armadilha. A trama? A trama é a geleia da vida de 4 personagens. Um escritor iniciante sem dinheiro; uma esposa infiel amante desse escritor; uma jovem que é de fato a namorada do escritor; e o marido da esposa que, por sua vez, a trai com prostitutas. 

Só consegui extrair a crítica ao machismo oriental, muito próximo da misoginia; e a submissão das personagens femininas a esses homens bem mequetrefes.

Os atores estão péssimos; e sabem quem faz aqui sua estreia no cinema? Song Khang-ho, uma reles pontinha.

Não recomendo de jeito algum. Só por curiosidade. Ou num caso de maratona obsessiva, que ninguém pediu. :)

O Dia em Que o Porco Caiu no Poço - 1996 | Filmow

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Há alguns dias terminei de ler a coletânea de peças de Arthur Miller, e uma das que eu mais gostei foi "Um Panorama Visto da Ponte", peça de 1955, que me fez procurar sua adaptação para o cinema mais famosa, das mãos do grandicíssimo Sidney Lumet, em 1962.

Claro, não somos bobos, o filme veio na onda da obra-prima, vencedora do Oscar,  "Sindicato de Ladrões" de 1954. O "social" de lá, como dizem os demagogos, foi substituído pela tragédia. É uma tragédia grega passada no cais do porto, aos pés da ponte do Brooklyn. Claro que há a questão da imigração clandestina, a pobreza da Itália, etc, mas nessa peça o que sobressai é a questão incestuosa. Um tio enciumado, que não se deita mais com a mulher, e que não suporta perder a bela sobrinha para um recém-chegado imigrante.

O filme é fidelíssimo ao texto, talvez mesmo integral, palavra por palavra.  Lumet prova mais uma vez como sabia perfeitamente onde colocar a câmera, mesmo nos ambientes mais fechados, mais pequenos. Fazendo um agrado, consciente ou inconsciente, a Miller, ao final, coloca mais personagens secundários em cena - Miller lamentava quando as montagens da peça eliminavam os figurantes das cenas finais, passadas na rua. É a cidade (a pólis) condenando o protagonista.

O elenco é um sonho, todos estão perfeitos, excelentes. Mas Maureen Stapleton era além do excelente, uma interpretação realmente divina.

No Brasil, o antigo TBC - Teatro Brasileiro de Comédia - encenou a peça em 1958 com, entre outros, Leonardo Villar e Nathália Timberg. "Saudades do que a gente não viveu".

A View from the Bridge (1962) - IMDb

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"N`aum vou nem falar nada!"

Na leitura das peças de Arthur Miller, adivinhem qual a que mais me conquistou? As Bruxas de Salém. Nunca tinha lido esse texto de 1953, anti-Macartismo, antidelação política (tal como "Um Panorama Visto da Ponte" tem este lado também), em analogia com fatos históricos realmente sucedidos nos Estados Unidos.

Lembro-me que "As Bruxas de Salém", de 1996, bateu recordes de permanência nos cinemas do Brasil. Mais de um ano e tanto de lançado, ele ainda estava em cartaz, merecendo até reportagem de tevê sobre isso. É impossível não gostar. É impossível não bater palmas efusivamente para Paul Scofield, Winona Ryder, Elizabeth Lawrence, Bruce Davison, Daniel Day-Lewis, e Joan Allen, e todo o elenco brilhante brilhante. No Oscar de 1997, meu voto seria para a Allen.

Deve ser a décima vez que vejo o filme. E o "Because it`s my name"  gritado do fundo da alma, com a Joan Allen pondo as mãos no rosto como uma concha, ainda me emociona. Na peça, a indicação do grito abissal é textual. Está lá. Grande Arthur Miller! Que se recusou a denunciar seus colegas escritores de ideologia comunista, perante o odioso Comitê Parlamentar.

O filme do inglês Nicholas Hytner foi roteirizado pelo próprio Miller, o que lhe valeu sua única indicação Oscar. Há algumas diferenças quanto  à peça, mormente a cena final, que não é "descrita", e no cinema é "mostrada". Também, no começo, o ritual da floresta é apenas relatado indiretamente, não é vivido na peça. E, lembrei, a "fuga" é apenas relatada na peça, uma fuga acompanhada. A maior diferença é a quantidade de momentos em que Abigail e Proctor passam juntos. No filme, optou-se por colocar mais momentos.

Nada que perturbe o conceito de fidelidade.

Eu amo os filmes do Hytner. Adoro "As Loucuras do Rei George", sou apaixonado por "A Razão do Meu Afeto", mas é que "As Bruxas de Salém" é realmente um trabalho ímpar.

As Bruxas de Salém poster - Poster 1 - AdoroCinema

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Maratona Emir Kusturica.

"Crianças Invisíveis" é um filme coletivo de 2005, com múltiplos diretores, em parceria da UNICEF com governos europeus, para chamar a atenção das pessoas para a cruel problemática infantil ao redor do mundo.

Em um segmento, de menos de 20 minutos, está "Blue Gipsy", de Emir kusturica. É o momento de humor do filme, tatuando sua personalidade cômica-musical no mar de tristeza que é o todo.

Bebendo da tradição do cinema com internatos infantis, sejam eles de Sica com "Vítimas da Tormenta"; "Os Incompreendidos", de Truffaut; ou Babenco com "Pixote"; Kusturica fugiu do drama óbvio, ou da mera violência. A situação de uma instituição penal já é lamentável de cara, mas - vamos dizer - há cores na ruína. É possível construir o riso.

Foca um interno adorável, prestes a sair de lá, aprendiz de barbeiro, cujos pais são especializados em colocar os filhos para furtar. E foi assim que ele foi parar lá. Mostra os internos jogando bola, carecas (cabeças raspadas) x com cabelo (haha); mostra a bandinha de música cigana da instituição; mostra - claro - os animais da prisão, como os patos e os perus. Enfim, todo o universo comum de Kusturica está presente - em doses pequenas - nesse segmento também.

O homem é o seu estilo.

All the Invisible Children (2005) - Photo Gallery - IMDb

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"N`um vou nem falar nada!!"

Se "Wendy & Lucy" , (re)visto esta semana, tiver um pai cinematográfico será "Umberto D.", de 1952, do mestre Vittorio de Sica - meu diretor italiano favorito.

As semelhanças são muitas. Um velho necessitado (lá, uma jovem; aqui um idoso), endividado, prestes a ser expulso de seu quartinho em uma pensão, faz de tudo para proteger seu pequeno cachorro. Outra semelhança entre os filmes, uma dolorosa cena de procura em canil, mas aqui de Sica faz um perturbador paralelo, não dito, entre o canil com os fornos crematórios de um campo de concentração, mostrando onde vão parar os cães abandonados...Uma cena angustiante. Outra semelhança, no final de ambos os filmes, há uma cena de um trem, em marcha para a (des)esperança. Por fim, a acusação de insensibilidade social é comum aos dois. A maior diferença é o lado sentimental. Em Reichardt, um tom mais baixo; aqui o tom sentimental e humanístico no volume máximo.

A cena da esmola é de tirar sangue das palmas das mãos, de tanto aplaudir.

O roteiro deste filme foi indicado ao Oscar em 1957, com a assinatura de Cesar Zavattini, que também assinou "Ladrões de Bicicleta" e "Vítimas da Tormenta", suas duas outras indicações prévias.

Brilhante o ator Carlo Battisti, nunca perdendo a dignidade do personagem. Aliás, fui olhar, fiquei emocionado, ele nasceu exatamente em um 10 de outubro, tal dia como hoje, em 1882. Oh, que bonito o regime das coincidências...

 

Umberto D. / Vittorio De Sica - Criterion Collection Film Afişi (45x56 cm)  | Nadir Kitap

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