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Mais uma adaptação de uma peça de Arthur Miller, "A Morte do Caixeiro Viajante", de 1951, dois anos após a vitoriosa estreia da peça, o Prêmio Pulitzer, e o Tony. Aproveitou-se o elenco principal, menos - detalhe - o protagonista. O grande Lee J. Cobb foi substituído por Fredric March.

O filme não fez sucesso de bilheteria, mas conquistou várias indicações ao Oscar: March em Ator; Atriz Coadjuvante, Ator Coadjuvante; Fotografia; e Trilha. Não ganhou nenhum. O problema é que naquele ano haveria outra adaptação de uma peça tão famosa quanto: "A Streetcar named Desire", de Tennessee Williams, que , como sabemos, faturou 3 estatuetas de atuação.

Trata-se de uma boa adaptação, fidelíssima ao texto; que incorpora bem os flash backs; e que consegue dar conta de ser cinematográfica o bastante para uma uma peça muito "vocal", digamos assim. Méritos do diretor húngaro Laslo Benedek. Pra se ter uma ideia, Miller pensou em intitulá-la "O Interior da Cabeça Dele", então é preciso conjugar várias camadas de passado/presente, realidade/alucinação, fantasia/desespero, para a tarefa ficar bem cumprida.

Até pensei em ver todas as adaptações possíveis, mas...são mais de 15! Até a minha já longa vida é curta para isso.

Tinha lido a peça na adolescência. E por aqueles anos, foi o mais brilhante texto que já havia lido. Adulto, vi a ótima montagem com Marco Nanini, Gabriel Braga Nunes, e Juliana Carneiro da Cunha. Nessa releitura, de 2020, o texto já estava presente demais em minha mente, assaz conhecido, para me surpreender...Mas permanece a vontade irrealizável de haver visto a montagem de Philip Seymour Hoffman e Andrew Garfiel, em 2012. Quão brilhante terá sido isso?

Death of a Salesman (1951) | Golden Globes

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Em virtude da morte recente de Cecil Thiré, fiquei pensando na funcão de "escada". Há muitos anos, o vi no teatro, em "Variações Enigmáticas", escada para Paulo Autran brilhar. No cinema, só consegui pensar na cena de Dan Stulbach, de cuequinha vermelha, insinuando-se para ele, um paulistano burguês no armário, no brilhante "Cronicamente Inviável". 

É de 2000, mas poderia ser deste ano. A longuíssima e crudelíssima cena da Floresta pegando fogo, por exemplo. Amo este título! Não só por que cronicamente é uma palavra sonoramente bem bonita, mas por que ela nos induz a dois sentidos: o sentido da contínua falta de solução para o país, e também o sentido literário, de "Crônica" - já que o filme é narrado por um intelectual urbano. No texto, estão presentes algumas características daquele gênero, como a preocupação com os fatos sociais, a rapidez, a coloquialidade, e a contemporaneidade. Era um filme para o Brasil pós-quebra da bolsa de 1999.

O paranaense Sergio Bianchi fez um filme esplêndido, reunindo tudo o que há de pior no Brasil. Até mesmo a evidente falta de grana para a produção, ou para a beleza do filme (design/figurino/fotografia) têm a ver - ironicamente - com a miserabilidade brasileira. Se esses elementos fossem luxuosos, o filme seria falso. Eu amo bossa nova, de verdade, mas não posso deixar de ressaltar como ela cai bem como pano de fundo de uma classe média que se quer mais do que é. É usada ironicamente no filme, assim como sua contracara, o detestável axé, pano de fundo da felicidade entorpecente ignorante. 

Meu único senão é com algumas atuações. Alguns atores, como Dira Paes, tiveram nítidas dificuldades de dizer o texto. Outros tiraram de letra, como Daniel Dantas e Maria Alice Vergueiro.

No mais, depois de todos esses anos, continua um filme crônico. De seu tempo.

Fica a minha homenagem mental para Cecil Thiré.

 

Dvd - Cronicamente Inviável - ( De Sergio Bianchi ) - R$ 81,60 em Mercado  Livre

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Minha vez de assistir a "The Glorias", cinebiografia - o gênero mais difícil - sobre a escritora ativista Gloria Steinem, baseado em sua autobiografia "Minha Vida na Estrada". Eu amei o livro, ele é extremamente bem-escrito, divertido, cheio de informações, não à toa, virou livro de cabeceira entre as meninas mais jovens preocupadas com a causa.

A adaptação em si ficou ótima, embora a primeiríssima parte, em que Gloria elogia a "vida na estrada", e convida as pessoas a simplesmente viajarem sozinhas, sem luxos, sem planos, tenha ficado um pouco "no ar". No livro, há histórias saborosíssimas sobre esse período, que muito a ajudou a ser essa mulher simples, modesta, descomplicada. Os outros períodos da vida dela foram melhor cobertos no filme.

As quatro atrizes que a interpretam na tela estão ótimas, e muito bem caracterizadas. Meu problema com o filme é, o que já adivinhava...Eu não gosto muito da Julie Taymor como diretora de cinema. Ela traz aqui aquelas mesmas intervenções visuais de "Frida" ou "Across the Universe", aquelas animaçõezinhas, que ferem a linguagem, e  depois retorna-se para algo puramente convencional, arroz com feijão. Talvez haja discursos demais, também. Quando o que mais se destaca no trabalho da Steinem ao longo de sua vida é sua capacidade de ouvir pessoas com muito a contar, e organizá-las. 

Mais do que um bom filme, é uma boa homenagem a essa mulher linda, calma, e brilhante.

Movie Review ~ The Glorias « The MN Movie Man

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"A Vizinhança do Tigre" é um espanto, puro cinema. Sei lá se é documentário ou drama, tão diluídas são as fronteiras. O mineiro Affonso Uchôa retrata a vida de alguns garotos do bairro Nacional na periferia de Contagem, bairro natal do diretor. Filmou o que via na região, com próprios moradores, mostrando seu cotidiano real, seus gostos musicais de verdade, e, melhor que isso, suas palavras, seu jeito de falar.

É hiperrealismo, mas tem coração. Não tem nada apelativo, ou uma violência gráfica como o cinema do subúrbio do Rio de Janeiro. A violência é mais uma questão social que paira no ar. É diferente. Isso se reflete numa dimensão de respeito e amizade pelos retratados.

 Quanto mais informações se sabe do bastidor, mais o filme impressiona, como o fato do ator Aristides de Sousa, o Juninho, ser realmente um ex-presidiário, e ex-usuário de drogas. Em entrevista, ele diz que já foi preso 18 vezes. Ouviu da cela, em um radinho, que o filme tinha ganhado o Festival de Tiradentes, em 2014, embora o filme seja registrado como de 2016. Um ano depois, ele seria o protagonista de "Arabia" - aquela coisa! - aquela obra-prima. É um ator nato. Impressionante. Qualquer palavra na boca dele se torna verdade revelada. Daniel Day-Lewis, ou Al Pacino, não fariam melhor.

Penso que o que faz de "A Vizinhança do Tigre" um ótimo filme, mas num degrau abaixo de "Arabia" é o aprofundamento artístico da primeira pessoa. Ok, nos dois filmes há o registro ficcional da vida real de seus atores, mas em "Arabia" a questão da primeira pessoa se espraia em várias direções, atingindo a questão do "off", por exemplo. 

Em "A Vizinhança do Tigre" as conversas registradas são basicamente tirações de sarro entre garotos, disputadas de rap, "lutinhas", modos de ser. Não importa tanto o conteúdo, não há precisamente uma trama;  importa outrossim a captação do ambiente, do entorno, a captação da energia da periferia. Em "Arabia", há o contraste entre a imagem da vida dura do trabalhador exercendo seu ofício com o off extraordináriamente poético e filosófico sobre a vida.

Estou divagando. Assistam! Muito do grande cinema brasileiro se faz na periferia de Belo Horizonte. Dê a ele uma chance, assim como o diretor deu à garotada mais largada, mais marginalizada, uma oportunidade.

A Vizinhança do Tigre poster - Poster 1 - AdoroCinema

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On 10/11/2020 at 7:36 PM, SergioB. said:

Em virtude da morte recente de Cecil Thiré, fiquei pensando na funcão de "escada". Há muitos anos, o vi no teatro, em "Variações Enigmáticas", escada para Paulo Autran brilhar. No cinema, só consegui pensar na cena de Dan Stulbach, de cuequinha vermelha, insinuando-se para ele, um paulistano burguês no armário, no brilhante "Cronicamente Inviável". 

É de 2000, mas poderia ser deste ano. A longuíssima e crudelíssima cena da Floresta pegando fogo, por exemplo. Amo este título! Não só por que cronicamente é uma palavra sonoramente bem bonita, mas por que ela nos induz a dois sentidos: o sentido da contínua falta de solução para o país, e também o sentido literário, de "Crônica" - já que o filme é narrado por um intelectual urbano. No texto, estão presentes algumas características daquele gênero, como a preocupação com os fatos sociais, a rapidez, a coloquialidade, e a contemporaneidade. Era um filme para o Brasil pós-quebra da bolsa de 1999.

O paranaense Sergio Bianchi fez um filme esplêndido, reunindo tudo o que há de pior no Brasil. Até mesmo a evidente falta de grana para a produção, ou para a beleza do filme (design/figurino/fotografia) têm a ver - ironicamente - com a miserabilidade brasileira. Se esses elementos fossem luxosos, o filme seria falso. Eu amo bossa nova, de verdade, mas não posso deixar de ressaltar como ela cai bem como pano de fundo de uma classe média que se quer mais do que é. É usada ironicamente no filme, assim como sua contracara, o detestável axé, pano de fundo da felicidade entorpecente ignorante. 

Meu único senão é com algumas atuações. Alguns atores, como Dira Paes, tiveram nítidas dificuldades de dizer o texto. Outros tiraram de letra, como Daniel Dantas e Maria Alice Vergueiro.

No mais, depois de todos esses anos, continua um filme crônico. De seu tempo.

Fica a minha homenagem mental para Cecil Thiré.

 

Dvd - Cronicamente Inviável - ( De Sergio Bianchi ) - R$ 81,60 em Mercado  Livre

 No meu primeiro ano de faculdade participei de um simpósio com o Sérgio Bianchi, depois de vermos "quanto vale ou é por kg?".

Um baita cara, e um baita filme. 

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O Mundo Perdido - Jurassic Park (The Lost World Jurassic Park, Dir.: Steven Spielberg, 1997) 2/4

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Revendo o filme hoje, noto que o Spilba perdeu um pouco a mão aqui (ri quando o REF falou em uma das críticas dele que o Spilba dirigiu diretamente o Lista de Schindler, ao mesmo tempo que dirigiu esse aqui por telefone). A parte da ilha tem muita coisa boa, mas nada que o original não tenha feito melhor. E sempre achei que ele perdeu muito tempo na ilha (que era algo que já tinha sido feito), e deveria ter ido logo com o 'dinossauro na cidade' (que seria a novidade aqui, mas dura pouco). Só que até essa parte da cidade, Spilba não tava muito inspirado já que muita coisa lá parece paródia (tem o guri falando pro pai que tem um dinossauro no quintal; ou grupo de japoneses correndo do dinossauro - era pra ser homenagem pro Godzilla mas pareceu paródia; ou a polícia e a zoonose fugindo quando vê o tiranossauro solto ali). Enfim, ainda é a melhor sequel de JP, mas nenhuma delas foi grande coisa mesmo.

 

Matrix (The Matrix, Direção.: Lilly e Lana Washowski, 1999) 5/4

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Não tem o que dizer, continua um dos clássicos do gênero (só esse papo de 'escolhido' é que enche um pouco a paciência, já que muito filme - antes e depois desse - usa isso a tordo e a direita, mas ok). Fico com pena das continuações, que não chegam nem na unha do pé do original (considero que as irmãs Washowski tinham ideia boa pra sequels, mas não executaram tão bem assim). Esperando que o Matrix 4 seja algo mais notório.

Verdade ou Desafio 'Versão do Diretor' (Blumhouse's Truth or Dare: Extented Director's Cut, Dir.: Jeff Wadlow, 2018) 1/4

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Já tinha assistido esse filme e não curtido, mas no Netflix apareceu 'Extented diretor's cut', 'versão estendida do diretor', aí fiquei curioso com o que o diretor deixou de por na versão original pra resolver fazer essa "Director's Cut". Na verdade, acabei não sabendo, porque nem lembro tanto assim da versão original, aí não senti o filme diferente em nada, nem em gore nem em cenas extras. Tudo continua a mesma imbecilidade. Perca de tempo. Tanto a versão original como essa.

Creep (Creep, Dir.: Patrick Brice, 2014) 3/4

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Creep 2 (Creep 2, Dir.: Patrick Brice, 2017) 2/4

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Continuo não curtindo filmes "found footage", mas esse Creep acaba sendo um diamante dentro desse meio. Cria uma tensão braba mesmo. Pior que sabia o final, fui spoilerado,  mas até que não atrapalhou tanto assim.

Segundo filme, até que é ok, problema é que no começo do filme direcionava pra algo diferente do original, mas logo desistem disso e filme acaba como clone do original sem acrescentar muita coisa. Mas ok, é assistível. Carrega um boa tensão também.

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Enquanto o último não vem, vou com o primeiro longa de Denis Villeneuve. "32 de Agosto na Terra", a estreia do canadense, em 1998. Um filme esquecido, ignorado, que não conheço ninguém que tenha visto.

É uma comédia romântica, ou uma dramédia, meio esquisita...Uma mulher chegada aos 30 anos sofre um acidente automobilístico e decide finalmente ter um filho - na costumeira onda do choque diante da morte. Escolhe seu melhor amigo para o papel de pai, um cara que sempre foi apaixonado por ela, mas que finalmente está em outro relacionamento.

Um argumento básico, rotineiro, de comédia romântica tradicional. Mas algo está fora de lugar, por que, como o próprio título indica, o mês de agosto prossegue, e talvez a protagonista esteja morta...O roteiro do próprio Villeneuve não tem a coragem ou a criatividade de se aprofundar nas questões.

É apenas legalzinho. Não tem nada demais, em nenhum aspecto, seja intelectual, ou técnico.

De curioso, há muitas cenas passadas no deserto de Utah. Fiquei, evidentemente, esperando um verme de areia gigante aparecer...

Tendo visto todos os filmes da carreira dele, meu ranking Denis Villeneuve fica assim:

1) "A Chegada";

2) "Blade Runner 2049";

3) "Os Suspeitos";

4) "Incêndios";

5) "Sicário: Terra de Ninguém"

August 32nd on Earth (1998) - Backdrops — The Movie Database (TMDb)

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Eu tiraria os suspeitos desse top5 pelo homem duplicado, por achar aquele o mais "comum". Ainda que eu goste muito. Acho o filme com a identidade/assinatura menos definida dele, tem um quê de Fincher talvez (no bom sentido).

Mas subindo os dois remanescentes, e o deixando em 5.

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1 hour ago, Gust84 said:

Eu tiraria os suspeitos desse top5 pelo homem duplicado, por achar aquele o mais "comum". Ainda que eu goste muito. Acho o filme com a identidade/assinatura menos definida dele, tem um quê de Fincher talvez (no bom sentido).

Mas subindo os dois remanescentes, e o deixando em 5.

São, curiosamente, dois filmes de 2013. Concordo totalmente contigo, com parecer Fincher. Aquele elencão trabalhando junto azeitadinho me ganha, com destaque para a cena da Viola Davis abrindo a porta do banheiro...

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Hubie Halloween é um terrir fraquinho protagonizado pelo boçal Sandler, que acredito termina mais prejudicando o filme que ajudando. É filme pra criança, com piada física, de peido e por aí vai. É pra quem curte as comédias dele mesmo, que não é meu caso. Fui mesmo pelo fator "terrir" e mesmo assim é bem fraquinho. Pra não só descer sarrafo, é bem produzido, tem muitas referências ao gênero e coloca todas as pontas de seus amigos famosos em papéis bem divertidos. Mas na boa, acho que a partir de agora so assisto o ator se for em dramas, pois pra mim ele é intragável em comédias. Pior que tem quem ache que ele é o "novo Chaplin".. 7-10

El Halloween de Hubie de Netflix: Crítica de la película

 

 

Alone é um bacanudo survival que apresenta sua narrativa em capítulos e se vale unicamente da ótima performance de seus dois protagonistas. Este indie começa feito Encurralado e A Morte Pede Carona, flerta com Silencio dos Inocentes e se desenvolve como Doce Vingança, é isso. É um survival correto que se bobear se presta como metáfora grotesca do assédio. Outro ponto positivo é que a duração é enxuta, sem enrolação nenhuma, ta tudo bem enxugadinho narrativamente. Misto de thriller e road movie, ele pega muitos clichês do gênero mas ao mesmo tempo tem identidade própria..e o melhor, te prende. 9-10

Review: Misery Is Company in Tense Thriller 'Alone' | The Daily Courier

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De madrugada, revi "A Criança", dos irmãos Jean-Pierre e Luc Dardenne, que lhes valeu a segunda Palma de Ouro, em Cannes 2005. Acho o filme ótimo, mas o prêmio, dada a concorrência, um tanto exagerado.

Impressiona como um filme sem trilha sonora, sem belezas exógenas à ação, sem grandes diálogos, consegue prender a atenção. E isso, sem cortes; os planos em geral são longos, mas não estáticos. É que a câmera se movimenta, sôfrega, desejante por saber dos rumos dos personagens, não larga as crianças. Não o recém-nascido, mas o pai e a mãe, jovens irresponsáveis, eles sim, completamente imaturos. 

Mesmo com protagonistas odiavéis, o filme ainda tem um outro mérito. Não é moralista. No final, pasmem, estamos torcendo, com alguma esperança, por este péssimo pai, vivido por Jérémie Renier. Que, numa ponte dramatúrgica, pode uma cabeça cinéfila vir a pensar que o pai fracassará, pois em "O Garoto da Bicicleta", de 2011, o ator viverá novamente um pai relapso, que abandona sua criança.

Bravo.

L'enfant (2005) ( The Child) Film. Directors : Jean-Pierre Dardenne, Luc  Dardenne | teeterboard

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Maratona Emir Kusturica, agora com "Promessas", de 2007. Um filme também ignorado, esquecido, embora estivesse na seletiva de Cannes daquele ano.

Um garoto que vive com o avô nas montanhas de uma isolada comunidade rural está se convertendo em adolescente. O avô, que liga isso a seu próprio fim, crendo que em breve irá morrer, pede ao neto que lhe prometa 3 coisas: Ir à cidade vender uma vaca, e com o dinheiro comprar-lhe um ícone de São Nicolau; comprar algo para si; e - na verdade, o principal motivo - arranjar uma noiva para si. Uma vez na cidade, esse garoto se envolverá com criminosos locais, fará amizades bizarras, e conhecerá uma bela mulher.

O argumento guarda bastante semelhança com as desventuras italianas de "Vida Cigana"; mas tem um clima de comédia bem escrachada, de "Gata Preta, Gato Branco", porém num nível acima: é quase um pastelão. Pastelão, mesmo, do tipo, jogar um frango assado na cabeça, soprar-se uma bota velha e criar-se uma nuvem de poeira, paredes de tijolos que se desfazem. Essa comicidade gritante se reflete nas atuações, mais do que caricatas, cartunescas.

A mise-en-scène se repete: gatos, vacas, gansos, galinhas, cachorros - os animais de sempre - e até javali, na intimidade dos ambientes. É um cinema que precisa de espaço, espaço físico. Correrias, explosões, alusões ao futebol com uma piada sobre a beleza de Ronaldinho, acidentes, elementos voadores, casamentos que viram uma turba de confusões, tudo embalado pela música balcã, no intuito de glorificar a alegria intimorata de viver.

Ri-se. Mas falta o pensar, ou, senão, pior, falta a singularidade. Nesta maratona, vi este filme várias vezes.

Zavet (Promise Me This) (2007) - Filmaffinity

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E essa maratona Hong Sang-soo acaba ou não acaba? De madrugada, o curtinho "Montanha da Liberdade", de 2014.
 
Como gênero, um romance. Um professor japonês, meio mal de saúde, desempregado, retorna à Coreia, para tentar reencontrar um amor do passado. Hospeda-se em uma espécie de hostel, e dá azar: a ex não está na casa dela, sumiu. Ao longo dos dias, vai deixando cartas para ela, dando conta da viagem (que inclui também um outro romance paralelo). Quando ela retorna a casa, o bolo de cartas cai, e ela não sabe a ordem exata dos papeis. É o motivo formal para Hong Sang-soo ter a licença para espatifar a narrativa. 
 
Fora de ordem, testemunhamos vários momentos diferentes do protagonista. Que, por acaso, lê um livro chamado "Time", e explica a uma pessoa, que o tempo - passado, presente, futuro - podem não estar adstritos necessariamente a uma ordem. O curioso é que foi essa a estratégia adotada. É dizer, não temos aqui o replay, a volta de cenas, por sua vez, a estratégia que se tornará sua característica célebre já em seu filme seguinte, o extraordinário "Certo Agora, Errado Antes".
 
O filme é uma história de amor bem simpática, simples, inteligente, que tem a oportunidade de comentar muito sutilmente sobre a vizinhança asiática. Em certo momento, um personagem usa a palavra "praga" para falar de chineses; enquanto os japoneses são exaltados por sua polidez e limpeza - o que o protagonista, cansado de ouvir isso, responderá algo como se isso não fosse exatamente uma vantagem. Como o personagem não sabe falar coreano, o filme é falado majoritariamente em inglês. Como a apontar a globalização também chegada àquela parte do mundo.
 
O elenco é composto por vários atores excelentes. Como So-Ri Moon ("Oasis", "A Criada"), Yuh-Jung Youn (cotada ao Oscar de Coadjuvante este ano por "Minari"), e Ryô Kade ("Silêncio", "Cartas de Iwo Jima"). Tal como a globalização dos personagens, há a globalização dos atores. Parabéns ao cinema coreano, por fazê-los serem conhecidos mundo afora.
 
Gostei muito.
 
Montanha da Liberdade - Filme 2014 - AdoroCinema
 
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"N`um vou nem falar nada!!"

Cada revisita, uma descoberta em "O Criado", de 1963, a obra-prima do americano expatriado pelo macarthismo Joseph Losey.

Desta vez, notei que a porta da casa, logo no início, está entreaberta...

Este filme é uma enganação. Depois do segundo ato, quando todas as mentiras são descobertas, o espectador pensa: "O que mais pode acontecer?". E tem-se o insano terceiro ato. Muita gente reclama que não é factível a reviravolta, mas é só pensarmos que a vaidade extrema pode acarretar a consequência de um indivíduo não saber fazer nada, o que gera a total dependência alheia.

Roteiro do Prêmio Nobel Harold Pinter, que faz uma pontinha na cena do restaurante.

Quantos diálogos a invocar o Brasil como terra de negócios...O protagonista sonhando com um megaempreendimento urbano para "limpar a floresta", e construir três cidades, com trabalhadores asiáticos (no limite, também alguém que fará algo para ele). O filme é de 1963, vale lembrar, pouco depois da inauguração de Brasília, em 1960.

UK one sheet poster for The Servant (1963) #8030907 Framed Prints

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O Pentelho (The Cable Guy, 1996) - 2/5

Mais um que não desceu...

Sou fã do Jim Carrey e praticamente todos os filmes dele achei ótimos, mas como alguém já havia me alertado uma vez, O Pentelho (e essa tradução de título é talvez ao lado de O HOMEM QUE MATOU A FACÍNORA a mais bem sacada do português brasileiro) não é divertido, e sim ridiculamente forçado e repleto de momentos gratuitos que no final das contas apenas causam repulsa ao personagem. Poderia ter sido bom se tivessem tomado outro rumo (o final, aliás, foi modificado a contragosto de Carrey, mas se tivesse sido mantido o que ele queria não teria feito sentido, pois o roteiro não foi construído pra tal).

Assim como não gostei de Os Doze Macacos por me chamar de idiota e tirar do RAINBOW uma série de consequências convenientes (sem nunca explicar satisfatoriamente nada, apenas senta aí, cala a boca e aceita o "show" esquizofrênico), esse daqui é praticamente uma cena após a outra tentando ser engraçadão e muitas vezes inverossímil.

Numa primeira assistida você pode até achar engraçadinho, mas analisando friamente conclui que é uma bosta, muito chato.

Quando CABLE GUY tenta fazer comédia é estranho, e quando tenta ser sinistro, é bobo. É uma salada só feita pra promover Jim Carrey, que ganhou US$ 20 milhões de cachê.

E Matthew Broderick é totalmente inadequado (ou melhor: engessado). Alguns filmes desse ator foram ótimos, inegável, mas aqui esse personagem certinho e sem carisma/personalidade não funciona.

E novamente friso que o roteiro é LIXO. Por exemplo: apenas atribuir a personalidade de STALKER de Chip (Carrey) por ele ter crescido solitário em frente a TV é não desenvolver nada. Aliás, se alguma "mensagem" (moral) quis ser passada pela história, ela foi dissolvida pelo resto. Um filme que consegue isso com maestria é O SHOW DE TRUMAN. Esse aqui em momento algum.

Tá explicado o porquê O PENTELHO foi esquecido e execrado, enquanto outras comédias dele até hoje são bem lembradas.

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Never Hike in the Snow (fan-made, 2020) 2/4

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Novo fan-made do Sexta-feira 13. Continuação de 'Never Hike Alone' (na verdade seria um prequel, mas não tenho certeza). É muito bem produzido se considerando que é um fan-made, mas a parte da neve não é bem explorada (me senti meio engando, que nem na Parte 8 que prometia um filme em NY). Mas o maior problema pra mim, é que não é um filme inteiro como foi o anterior, que tinha começo meio e fim, aqui é só um começo. Planejaram mais 3 filmes, e pelo jeito fizeram um filme só e dividiram em 4 partes. Então, não dá pra julgar um filme vendo só começo, por isso não dá pra falar mais muita coisa, mas gostei de ter 2 atores da Parte 6, indicando meio que sendo continuação desse.

 

Aqui o filme:

 

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O cinema sofreu através dos anos vários processos de extinção, e passa por um deles, neste momento. Nesses processos de morte, as grandes salas de cinema de rua, chamadas também de "teatro", entraram em decadência há algumas décadas. Viraram Igrejas Evagélicas, ou shoppings populares, ou foram derrubadas. 

O malaio Tsai Ming-liang fez de "Adeus, Dragon Inn", de 2003, o seu "Cinema Paradiso". E, como não poderia deixar de ser, tatuou seu filme com sua personalidade, sua mente, seu estilo. Mandou às favas o sentimentalismo (embora haja, claro, muita sensibilidade), minimizou ao máximo a necessidade de uma trama ou de personagens, com quase nenhum diálogo, novamente deu valor estético a goteiras, infiltrações, baldes, escadas, e, fez, outra vez, um filme estupendo.

Estamos em uma noite de chuva em Taiwan, na última exibição de uma outrora popular sala de cinema, veiculando um clássico filme chinês de arte marciais chamado "Dragon Inn". O filme começa mostrando o antigo teatro lotado, e depois o cinema atualmente, vazio.  O que era um enorme point para a diversão transformou-se em um ambiente lúgubre, quase vazio, sujo, com o papel de parede rasgado, e num ponto ideal para encontros sexuais anônimos.

Um turista japonês se abriga da chuva dentro do teatro, e logo é atacado por homossexuais inconvenientes. Uma ida ao decadente banheiro, e alguns espectros lentamente, tristemente, se aproximam, esperando uma oportunidade, um chamado. Quem é gay entende isso perfeitamente...Não é filmado com moralismo, é mais com uma autêntica tristeza, é como se os homossexuais atuassem fantasmagoricamente, saindo do breu do enorme teatro, saindo do mundo das sombras onde se refugiam da sociedade...

Enquanto isso, uma bilheteira/administradora manca de uma perna vasculha os bastidores do cine-teatro, dando uma última olhada, efetuando às últimas descargas, conferindo o fechamento das torneiras, passando pelo empoierado almoxarifado, e, depois, inferimos, que ela está esperando o projecionista (provavelmente está apaixonada por ele) interpretado pelo muso do diretor, o ator Lee Kang-sheng. Quando, em certo momento, ela olha para a tela do filme, pela última vez, pensei que ela estava vendo não o último filme do recinto, mas o seu amor, pela última vez.

O cinema, como sala de projeção, não morreu (Ainda!). Estamos no terrível 2020, e o negócio tenta - até com subsídio - sobreviver. Mas morreu sim enquanto única e mais popular e mais barata forma de diversão, como já o fora no passado. Tsai fez um filme incrível a respeito dessa morte. A nostalgia pelo que foi alguma vez o cinema está presente apenas na lágrima contida de um senhor espectador (que não cai em prantos, como na obra-prima de Tornatore. Ele se contém.). Usa Tsai o espaço como psicologia, usa o espaço fisico decadente para mostrar a solidão ou a perseverança homossexual, usa o espaço, enfim, para falar do tempo que passa silenciosamente - e destrói.

Há uma tomada longa da sala vazia, já acesa, sem ninguém. Algo que ele repetiria no documentário, já resenhado, "Your Face", de 2018.

Brilhante! E muito premiado; entre outros, com o Prêmio da Crítica em Veneza.

Meu ranking Tsai Ming-liang, agora, atualiza-se:

1) Rebeldes do Deus Neon;

2) Adeus, Dragon Inn;

3) O Sabor da Melancia;

4) O Rio;

5) Eu Não Quero Dormir Sozinho

 

Goodbye, Dragon Inn (2003) - IMDb

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Gostei apenas moderadamente de "Os 7 de Chicago". A cena final (historicamenete falsa) foi muito sentimental, a meu ver, destoando das facetas cômica e racional do filme. Me lembrou muito a cena famosa de James Stewart em "A Mulher Faz o Homem", de 1939, em seu discurso infinito. Ou mesmo, "Sociedade dos Poetas Mortos".

A melhor coisa é o elenco excelente. Todos estão ótimos, mas as atuações que eu mais gostei foram, preferencialmente, as de Frank Langella e Yahya Abdul-Marten II. 

O texto de Aaron Sorkin, rapidíssimo e cheio de frases marcantes, preenche bem o filme, mostra bem a personalidade dos envolvidos, como também realça a multifacetada composição de um partido político (as pessoas tedem a pensar que é um bloco monolíptico, mas é por isso que chama "partido"), com pessoas mais radicais, outras de perfil mais moderado, sonhadores, ou carreiristícos.

Design de Shane Valentino; e Figurino de Susan Lyall. Creio que ambos os trabalhos serão indicados ao Oscar, o que será a primeira indicação dos dois. Trilha sonora, boba e dramática.

A intenção inconfessa do filme foi mostrar que o sistema judicial americano está mancomunado com a polícia para prejudicar às aspirações democratas de um mundo melhor? Porque não acredito em pura reconstituição histórica.

Pra falar a verdade, gostei mais do filme anterior de Sorkin, "Molly`s Game", mais sacana e despretensioso.

Os 7 de Chicago”, filme novo da Netflix, ganha pôster e teaser - Blog  Amaury Jr. - BOL

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Esse é o "N`um vou nem falar nada!!" elevado ao cubo!

Estava - o quê? - há uns 12 anos sem ver "Rocco e Seus Irmãos", obra-prima imortal, absoluta, transcendental, de Luchino Visconti. Foi muito bom rever o filme, depois deste tempo, com outros filmes coabitando dentro de mim. É o que me permite destoar da maioria das opiniões fáceis e apressadas que classificam este filme como exemplo do "neorrealismo".

Ora, Visconti foi talvez o precursor daquele movimento com "Obsessão", de 1943, e filmou posteriormente a obra mais neorrealista de todas, a meu ver, o magnífico "A Terra Treme", mas aqui, em "Rocco e Seus Irmãos", o que eu observo não é a confirmação daquele movimento, e sim o seu distanciamento.

Pra começar, onde estão os não atores ( os correspondentes pescadores interpretando a si mesmos, do filme de 1948)? Não. O elenco é profissional, no nível mais espetacular possível da palavra: Katina Paxinou (inclusive oscarizada em 1944, em "Por Quem os Sinos Dobram"); o excelente Renato Salvatori já era conhecidíssimo; a espetacular Annie Girardot, que aqui só não faz chover, também; e Alain Delon também já tinha alguns créditos em seu currículo, bem como Claudia Cardinale. De importante, só o ator que faz o irmão Ciro estreou no filme.

Na verdade, para mim, esse filme é Visconti fazendo um grande drama convencional, com trama, personagens, etc, mas em termos de direção, direção mesma, muito mais variada, com utilização de gruas, por exemplo, na cena do pôster aí de baixo; muita profundidade de campo; não é um estilo documental. É realismo, mas não é documental. As pessoas confundem...

A característica mais forte que o manteria no neorrealismo seria, digamos assim, o "tema". O retrato da classe operária no pós-guerra, da Itália pobre, paupérrima, tentando se reerguer economicamente, bem como sair politicamente da sombra do fascismo. Este argumento me levaria a dar o braço a torcer. Mas mesmo assim, não temos exatamente o nível de miserabilidade de lá. Vemos os personagens em Milão, um centro econômico, onde é muito mais fácil arrumar emprego, um centro automobilístico, onde Ciro se emprega na fábrica da Alfa Romeo, local de uma das cenas finais, com centenas de personaens uniformizados adentrando o portão. É dizer, a Itália está no limiar do crescimento. Há competições esportivas, há centros de treinamento, há os luminosos noturnos, que, no iníciozinho do filme, impressionam a família migrante....

Sem contar os elementos técnicos do filme que são muito mais ricos, seja a fotografia deslumbrante do (ainda vivo) Giuseppe Rotunno; a Trilha clássica de Nino Rota; Figurinos do grande Piero Tosi...O filme não tem aquele aspecto "natural desajeitado" em nenhum aspecto, muito longe disso. Mas a maior riqueza está na montagem espetacular deste filme, assinada por Mario Serandrei, com modernas divisões episódicas, e que lega às lutas de boxe muito requinte e qualidade; montagem que, por sua vez, torna este filme o autêntico pai de "Touro Indomável", de 1980. Tudo que está lá, está aqui.

Bom, taí a opinião de quem reviu o filme, com mais filmes dentro de si. É como versa a maior escritora que o Brasil já teve:

"Olha-me de novo. Com menos altivez. E mais atento." (Hilda Hilst)

 

 

Rocco e seus Irmãos - Filme 1960 - AdoroCinema

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Let´s Scare Julie é um thriller de terror indie bem batido mas o formato é seu diferencial. Feito unicamente num único plano sequência (com cortes bem escondidos, diga-se de passagem) ele consegue gerar tensão e interesse pelo que vem a seguir. As atuações do desconhecido elenco são tremendamente boas, bem naturais. No entanto, o terceiro ato final é decepcionante pra caramba e não está a altura do resto. A impressão que fica é que não souberam concluir e optaram pela pior opção imaginável. 8-10

Pin em Terror, Suspense, Ficção e Fantasia


 

Books of Blood é mais uma razoável antologia de 3 contos de terror da aclamada série de livros do Clive Barker. Como toda antologia seus curtas são irregulares dos quais o melhor disparado é o segundo segmento. O primeiro enrola demais até ir nos finalmentes e o terceiro parece que serviu de recheio pro resto, uma vez que os filmes dialogam entre si e as estórias se entrecruzam. Dá pra ver de boas, mas eu realmente esperava bem mais pois ja li os livros e realmente esperava mais mesmo. Do autor o melhor continua mesmo sendo Hellraiser. 8-10

aylin (@iliensss) | Twitter

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Maratona Leos Carax.

O último desconhecido para mim era "Sangue Ruim", de 1986. Já tinha ouvido falar na cena de Denis Lavant, com seu corpo de acrobata, correndo pelas calçadas de Paris ao som de "Modern Love" do David Bowie ( que seria refeita, anos depois, com Greta Gerwig, em "Frances Ha"), mas vê-la, vê-la é outra coisa. Belíssima, bem-feita demais! Depois, claro, aumentada em tempo, espaço, lanchas, em "Os Amantes de Pont-Neuf".

A premissa é excelente e atual: um perigoso vírus STBO cega, complica, e mata as pessoas que fazem sexo casual, sem amor. Uma preciosa vacina, ou antídoto, foi desenvolvida, e será alvo da cobiça de um bando. Alex (repetindo a alcunha de "Boy Meets Girl"), um ex-presidiário, personagem de Lavant, cheio de dívidas seu pai, é o escolhido para roubá-la, em virtude da sua notável agilidade com as mãos. Porém, ele se apaixonará pela namorada do "chefe" da empreitada. Quer dizer...isso foi o que eu depreendi! Porque a história na tela é muito mais difícil do que isso, bem mais lacunosa. Segundo consta, o título tem a ver com a segunda parte de um poema de Rimbaud. A história em si tem a ver também com Tristão e Isolda. Não catei todo o contexto, não.

Mais do que um particular filme de roubo, é um filme de romance. Romance sem beijo, romance sem sexo. Mas mais do que um filme romântico, é um comentário alusivo à situação da AIDS. Uma epidemia desconhecida que freou o ímpeto amoroso. Me chamou muito a atenção uma cena do início em que a personagem de Julie Delpy, namorada do protagonista, exibe didaticamente uma camisinha antes do ato. Bem como me chamou a atenção o uso de uma máscara, uma citação à hemofilia, e ao compartilhamento de seringas. Há vermelhos por toda a encenação, um vermelho não amoroso, mas de perigo. Nunca escapando de sua época, cita algumas vezes a passagem do cometa Haley, mensageiro ora de uma tempestade de neve, ora de uma onda de calor, ora também da epidemia.

Que tempos eram aqueles! Que tempos são esses!

Ano que vem melhora!; na expectativa por "Annette".

Mauvais sang de Leos Carax (1986) - UniFrance

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Sei que a maioria detesta, mas nessa segunda assistida me pareceu ainda mais maravilhoso. Sou encantado pelo cinema do "Joe", o senhor Apichatpong Weerasethakul. Sua Palma de Ouro em Cannes, em 2010, veio com seu filme mais esotérico, mais hipnótico, "Tio Boonmee, Que Pode Recordar Suas Vidas Passadas", cheio de imagens belíssimas, conceitos, mas sem esquecer da técnica, num trabalho de som fabuloso, por exemplo.

Ele demole a linha entre racional e irracional, constantemente, como na questão da saúde no ótimo "Síndromes e um Século", de 2005. E não estará errado quem disser que neste filme ele demole a linha entre vida e morte. Não, não estará, mas o que mais me fascina neste filme é ele demolir a linha entre homem e natureza. 

Como ateu, acompanho de longe, mas curioso, como os brasileiros crentes da reencarnação têm pudor em admitir que uma alma humana possa vir adiante como um animal. E quão maravilhoso é ver este filme da Tailândia exibir a possibilidade de um contato posterior com um fastama, seja ele um macaco de olhos vermelhos, ou um bagre sedutor. E quão maravilhoso é vermos uma cachoeira artificalmente iluminada; do mesmo jeito que Apichatpong nos mostra uma das fascinantes cavernas de seu país, onde o protagonista irá morrer - o lugar em que ele também nasceu - com milhares de pedrinhas reluzentes incrustadas, e a luz dessas pedras, em determinado momento, quando a fogueira se apaga, converte a parede em um céu estrelado. Um céu estrelado naturalmente feito dentro da montanha. Fica difícil competir quando a natureza, através dos séculos, ergue sua própria tela de cinema!

No fim, no terceiro ato, estamos na Tailândia com sua modernidade acanhada. Em vez do verde rutilante das árvores de Tamarindo do início do filme, ou da penumbra da floresta à noite para onde as vacas escapam; temos um pequeno apartamento, de paredes brancas sem graça, cama de casal ocidental, e uma televisãozinha pequena, que consegue hipnotizar o restante da família, e um monge que usa jeans e All Star. O terceiro ato é puramente os atores vendo televisão. Ou depois os atores em um restaurante ouvindo música pop. O público em geral não entende como esse tipo de coisa pode ser cinematográfica. Só pode, digo eu, pela contradição.

Pelo contraste com a Tailândia mágica que se perdeu.

"O céu é superestimado, não tem nada lá", diz um espírito. Também acho, sempre soube disso. O mato crescido ao redor da minha casa é mais divino.

Estupendo!

 

Tio Boonmee, que Pode Recordar Suas Vidas Passadas - Vertentes do Cinema

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