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Império dos Sonhos - Inland Empire


rubysun
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Texto que achei no G1 sobre o filme, é bem interessante.

 

 

 

 

NOVO FILME DE DAVID LYNCH É DIFÍCIL DE DIGERIR

 

"Inland empire" tem o poder de afetar o humor dos espectadores.

 

Filme traz "loucura" e elenco já tradicionais do diretor.

 

“Inland empire” pode ser a obra-prima de David Lynch buscar, ou apenas uma loucura total. De qualquer forma, é um filme que se encaixa na tradição do cineasta, criado exclusivamente para superfãs ou, quem sabe, somente para o próprio diretor.

 

Uma coisa é certa (na verdade, a única coisa que é certa): “Inland empire” vai mudar o seu humor radicalmente por horas após a sessão. E quando um filme consegue ser tão poderoso, tão penetrante, não há como ignorá-lo.

 

A princípio, o longa parece familiar, com o elenco costumeiro de Lynch (Laura Dern, Harry Dean Stanton, Justin Theroux) e uma série de imagens loucas e assombradas que lembram pesadelos, marca registrada do cineasta há tempos. Se a intenção do diretor foi recriar a sensação surreal dos sonhos, com personagens, imagens e diálogos que brotam do fundo do subconsciente e não fazem sentido algum, ele alcançou seu objetivo.

 

O filme corre por três sólidas e, às vezes, insofríveis três horas de duração e desafiadoramente tem menos história do que qualquer outro trabalho da longa e bizarra filmografia de Lynch. “Inland empire” está mais para uma enlouquecedora montagem de momentos que giram em torno deles próprios.

 

É quase como se Lynch nos desafiasse a agüentar, a permanecer em nossas poltronas e a tentar resolver um quebra-cabeça, cuja solução ele guarda para nos provocar. (Numa recente exibição para a imprensa em Los Angeles, várias pessoas levantaram e foram embora no meio da sessão. Covardes.)

 

Lynch rodou o filme em vídeo digital, que pode gerar um clima de mistério, e escreveu o roteiro para as cenas de cada dia à medida em que filmava. Além disso, o diretor escolheu um método nada ortodoxo de lançamento do longa: ele mesmo vai distribuí-lo, sem a ajuda de um estúdio. Portanto, “Inland empire” pode entrar em cartaz em um cinema perto de você ou não. Nem mesmo sabemos se o longa vai chegar à área que dá lhe nome, a leste de Los Angeles.

 

Numa paisagem em que tantos filmes são medrosos e derivados, devemos ao menos reconhecer a iniciativa de Lynch, sua visão autêntica e sua voz única, além da lucidez de sua técnica narrativa.

 

Sim, “Inland empire” tem uma história enterrada em algum lugar. Dern interpreta Nikki Grace, uma atriz que acaba de ser escalada como protagonista de um filme que pode trazê-la de volta aos holofotes. Porém, assim que se iniciam as filmagens, Nikki começa a ter um caso com o ator Devon Berk (Theroux), seu par romântico no filme. Os diálogos entre os atores na vida real lembram suas conversas em cena, até o ponto em que fica difícil para eles (e para o público) dizer se são Nikki e Devon ou seus personagens, Sue e Billy. Pessoas e lugares, arte e vida se misturam.

 

Estrela de outros dois filmes de Lynch (“Blue Velvet” e “Coração Selvagem”), Dern está incrivelmente fantástica em dois papéis extremamente diferentes: a elegante Nikki e a grosseira Sue. Sua performance demonstra uma grande versatilidade e lembra a dualidade hipnotizante de Naomi Watts buscar em “Cidade dos sonhos”.

 

A trama muda de rumo a partir da visita obscura de uma vizinha, vivida por Grace Zabriskie, logo no início de “Inland empire”. Ela conta a Nikki uma fábula de ciganos poloneses que a faz estremecer. Mais tarde, Julia Ormond aparece em uma sala de investigação policial com uma chave de fenda enfiada em seu corpo sangrento. Então aparecem belas e jovens prostitutas dançando em fila na sala de estar de uma casa brega do subúrbio.

 

E ainda nem mencionamos os coelhos. De vez em quando, Lynch mostra imagens inspiradas em sua série de curtas “Rabbits”, em que três pessoas (dubladas por Watts, Laura Harring e Scott Coffey) fantasiadas de coelhos se espalham por um apartamento sombrio. As imagens são pontuadas por eventuais sons de risos.  Como tudo mais em “Inland empire”, no princípio essas cenas podem fazer você rir de seu absurdo. Entretanto, mais tarde, você verá que elas mexeram com o seu íntimo.

 

(Traduzido por Carla Meneghini)

 

Fonte G1

 

 

Em negrito: Algo comum nos filmes do Lynch, e penso a mesma coisa, covardes...06

 

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A crítica dele pra Cidade dos Sonhos é uma jóia do crítico mais famoso do Brasil. 06

 

 

 

 

 

Nunca havia lido essa crítica. Que coisa porca, qualquer pseudo-intelectual de 16 anos poderia ter escrito isso no seu blog... ou no verso de um saco de pão. 14

 

Sabe, se eu não entendo um filme, não vou criticá-lo. E vou ter a humildade de reconhecer isso, sobretudo se eu for um crítico de respaldo.

 

Sou bastante tolerante com esse cara nas transmissões do Oscar, até simpatizo com ele. Mas depois dessa mancada...

 

 

 

 

Bom, sobre "Inland Empire", me parece que se o anterior foi um quebra-cabeças de mil peças, esse será um de cinco mil. Se eu só fui compreender "Mulholland Drive" depois de consultar a crítica do Pablo sobre o mesmo, não tenho muitas esperanças de decifrar esse de primeira. Mas isso não quer dizer que eu não vá tentar. 05 
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"Entender" o filme é superestimado.

 

 

No caso do Rubens, não me referi ao simples entendimento do roteiro, mas à proposta de David Lynch com sua obra. Como o próprio está deixando bem claro com essas entrevistas a respeito de "Inland Empire". Muito distante da "encheção de lingüiça" e "trapaça" que esse crítico insensível interpreta como.
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  • 7 months later...
  • 4 weeks later...
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19/9/2007 - "Inland Empire" já tem distribuidor no Brasil

 

Um

dos filmes de maior destaque da programação deste ano do Festival do

Rio é "Inland Empire", último longa-metragem dirigido por David Lynch.

Pois quem não puder assisti-lo na maratona cinematográfica que começa

nesta sexta não precisa se desesperar. O filme, que por aqui ganhou o

título "Império dos Sonhos", já tem distribuidora e data de lançamento:

2 de novembro, pela Europa Filmes. (Adoro Cinema)

 

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  • 4 weeks later...
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Acabei de sair do cinema, e putz, como diz a crítica aí em cima, mexeu e muito com meu humor.

 

Pouco posso escrever sobre o filme, não me sinto confortável para fazer isso, mas é MUITO perturbador. A trilha sonora e o jogo de sombras em certas partes da trama remetem a um horror psicológico tão intenso quanto poucos.

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  • 1 month later...
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O novo filme do David Lynch estreou em 4 salas de cinema em SP. Como o filme tem 180 minutos de duração constam apenas 3 horários para assistí-lo em cada uma dessas salas, ou seja, 12 sessões possíveis por dia. E o melhor. Amanhã, em uma dessas sessões, estarei eu lá assistindo o meu primeiro filme do David Lynch na telona do cinema.

Seja o que Deus quiser ... 06
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De boa nem vou ver esse filme....cidade dos sonhos preciso rever ainda, porque na época que vi ja achei arrastado e confuso demais. E desinteresante para se ficar revendo.

 

 

 

Esse novo ja dizem ser uma confusão só, e por mais de 3 horas de filme...eu num aguento isso...depende do filme se ele fizer vc pensar e tal, tudo bem, mas apenas ficar confuso e ainda por cima ter cenas sem noção, não vale a pena, tem que ter saco para um filme desse, e mais ainda para ficar tentando entender

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IMPÉRIO DOS SONHOS - 5/10 - Em 120 dos seus 180 minutos de duração, “Império dos Sonhos” faz jus a todas as críticas negativas que Lynch recebe pelos seus filmes, tornando-se exatamente um enorme exercício pretensioso e vazio de estilo por parte do diretor. Será que a tal “peça dos coelhos” e a reação do público podem ser válidas também ao público que gostar desse filme? Lynch é um gênio ou uma farsa? De qualquer forma este filme irá despertar discussões e terá seus ardilosos admiradores que tentarão desvendar os mistérios do filme (assim como aconteceu com "Cidade dos Sonhos"). Porém, dessa vez, eu prefiro aguardar pelo próximo. E, mesmo assim, aguardarei ansiosamente. Vale pela primeira hora de filme, a prerrogativa do "filme dentro do filme" sendo bem incorporado na narrativa por Lynch e os bons trabalhos de Laura Dern e Justin Theroux.<?:namespace prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" />

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De boa nem vou ver esse filme....cidade dos sonhos preciso rever ainda' date=' porque na época que vi ja achei arrastado e confuso demais. E desinteresante para se ficar revendo.

Esse novo ja dizem ser uma confusão só, e por mais de 3 horas de filme...eu num aguento isso...depende do filme se ele fizer vc pensar e tal, tudo bem, mas apenas ficar confuso e ainda por cima ter cenas sem noção, não vale a pena, tem que ter saco para um filme desse, e mais ainda para ficar tentando entender[/quote']

 

Dessa vez eu vou ter que concordar com vc, apesar de achar "Cidade dos Sonhos" uma obra-prima. Pode ser subjetivo, mas o que me "ganhou" neste filme foi o fato de depois de ter assistido, queria revê-lo para juntar as peças.

 

Agora com "Império dos Sonhos", essa sensação foi se dissipando ao longo do filme e ao final a sensação foi que o filme me frustrou. É uma experiência cinematográfica inusitada e exótica como todo filme do Lynch, mas me pareceu um enorme exercício de estilo pretensioso e vazio, em sua maior parte.

 

PS: Mesmo assim comprei "Coração Selvagem" para assistir. Pela primeira vez. 03
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IMPÉRIO DOS SONHOS - 5/10 - Em 120 dos seus 180 minutos de duração, “Império dos Sonhos” faz jus a todas as críticas negativas que Lynch recebe pelos seus filmes, tornando-se exatamente um enorme exercício pretensioso e vazio de estilo por parte do diretor. Será que a tal “peça dos coelhos” e a reação do público podem ser válidas também ao público que gostar desse filme? Lynch é um gênio ou uma farsa? De qualquer forma este filme irá despertar discussões e terá seus ardilosos admiradores que tentarão desvendar os mistérios do filme (assim como aconteceu com "Cidade dos Sonhos"). Porém, dessa vez, eu prefiro aguardar pelo próximo. E, mesmo assim, aguardarei ansiosamente. Vale pela primeira hora de filme, a prerrogativa do "filme dentro do filme" sendo bem incorporado na narrativa por Lynch e os bons trabalhos de Laura Dern e Justin Theroux.<?:namespace prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" />

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acho q dessa vez não thiago, império dos sonhos é algo q nem o + hardcore admirador de lynch terá paciência de conseguir desvendar, o q pelo visto foi o total propósito requerido pelo diretor, surrealismo é isso, embarque nessa viagem e não faça planos onde e como vc irá parar ... o filme começou tão bem, pq ele tinha q colocar tudo a perder, ou não? 06

 

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3h realmente me pareceu tb algo bem pretencioso pra esse tipo de exercício cinematográfico
D4rk Schn31d3r2007-12-15 23:42:16
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IMPÉRIO DOS SONHOS - 5/10 - Em 120 dos seus 180 minutos de duração, “Império dos Sonhos” faz jus a todas as críticas negativas que Lynch recebe pelos seus filmes, tornando-se exatamente um enorme exercício pretensioso e vazio de estilo por parte do diretor. Será que a tal “peça dos coelhos” e a reação do público podem ser válidas também ao público que gostar desse filme? Lynch é um gênio ou uma farsa? De qualquer forma este filme irá despertar discussões e terá seus ardilosos admiradores que tentarão desvendar os mistérios do filme (assim como aconteceu com "Cidade dos Sonhos"). Porém, dessa vez, eu prefiro aguardar pelo próximo. E, mesmo assim, aguardarei ansiosamente. Vale pela primeira hora de filme, a prerrogativa do "filme dentro do filme" sendo bem incorporado na narrativa por Lynch e os bons trabalhos de Laura Dern e Justin Theroux.<?:namespace prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" />

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acho q dessa vez não thiago, império dos sonhos é algo q nem o + hardcore admirador de lynch terá paciência de conseguir desvendar, o q pelo visto foi o total propósito requerido pelo diretor, surrealismo é isso, embarque nessa viagem e não faça planos onde e como vc irá parar ... o filme começou tão bem, pq ele tinha q colocar tudo a perder, ou não? 06

 

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3h realmente me pareceu tb algo bem pretencioso pra esse tipo de exercício cinematográfico

 

Então cara ... eu tb achei o começo muito promissor, mas certamente terão espectadores que curtirão o filme assim como muita gente não gostou de "Cidade dos Sonhos" assim como tem muita gente que gosta de "Veludo Azul" e por aí vai ... Eu, por exemplo, não sinto vontade de rever "Império dos Sonhos" pra tentar captar as "sutilezas", as "metáforas", as "analogias", etc e tal ... 09

 

E realmente ... o filme poderia ser mais curto ...09
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Pra confirmar o que eu disse ... segue o texto de Bernardo do ZETA FILMES ... algumas vezes ele consegue ser engraçado, em outras ele fica desse jeito mesmo ...

 

 

IIMPÉRIO DOS SONHOS (INLAND EMPIRE) de David Lynch - 21/08/07
David Lynch escolhe deixar o espectador mais atônito ainda ao colocar em exposição sua habilidade sobrenatural de transformar pontos de interrogação em uma única e gigantesca exclamação. “Inland Empire” é inegavelmente vida pura, bruta, terrível.
Bernardo Krivochein (Rio)

“Eu não sei o que veio antes ou depois. Não consigo distinguir o ontem do amanhã e isso está fodendo com a minha cabeça.” Essa fala da personagem de Laura Dern, que acontece por volta das duas horas do total de três do longa-metragem, surge como um bem-vindo perdão ao espectador completamente desnorteado pelos saltos no tempo, no espaço, na história e nas personalidades da protagonista, que se empilham por minuto. É também tudo o que o espectador não deveria ouvir: quando a impossibilidade de resolução é reconhecida, o espectador perde por completo a rede de segurança. Aqui temos o diretor assumindo ao público que o barco está desgovernado e insinuando que tanto o criador quanto o receptor encontram-se igualmente reféns de um universo sombrio, vivo e independente. Não haverá ninguém para nos resgatar.

Hollywood precisa fabricar passado e futuro no presente para realizar obras que ficam suspensas no tempo. Uma vez pronto, o filme é uma entidade que passa a existir na dimensão cinematográfica, onde nunca mais envelhece, nunca mais morre, mas de vez em quando é esquecido. E quando isso acontece, remakes são providenciados. Diferentes das montagens teatrais (uma vez que o teatro é sempre acontecimento real, nunca é ilusão), o remake cinematográfico, uma vez realizado, é lançado para a mesma dimensão que o seu original. Remakes são justificados de várias formas: podem ser atualizações de clássicos muito bem amados para gerações deslumbradas com os astros da contemporaneidade, ou apresentarem evoluções técnicas que trariam o filme muito mais perto da visão originalmente concebida pelo diretor. Crise de identidade, auto-questionamento, o filme original se defronta com seu remake e se questiona o motivo de ter sido substituído: não era bom o bastante? Era mal feito? Foi ultrapassado? Filmes são as fundações sobre a qual Hollywood se sustenta e remakes não são uma mera reforma, mas a substituição completa do esqueleto estrutural da indústria cinematográfica em questão. Nesse constante reinventar, temos o risco da perda de referência, uma esfera definida por um estado de esquizofrenia galopante (afinal, sua realidade é a fabricação de ilusões) que se auto-sustenta, que se auto-consome, regida por leis e gramática próprias, na qual o tema dos filmes deixa de ser a vida, mas os próprios filmes. A fantasia deixou de ser as aventuras na tela, mas todo o universo além-tela: o indivíduo idealiza-se celebridade, estar não na ação fantasiada e sim no processo de fabricação da ação.

Não por acaso, "INLAND EMPIRE" começa com uma imagem familiar: uma imagem chuviscada de uma televisão fora de sintonia, a mesma forma que o diretor abre "Twin Peaks: Os Últimos Dias de Laura Palmer". De dentro dessa imagem, surge uma transmissão de "Rabbits", sitcom de Lynch anteriormente só disponível na Internet (e a sobreposição do cenário da sitcom com a habitação primeira da personagem de Dern já indica o intercâmbio sem barreiras alfandegárias entre real e perturbação mental). Os bastidores da boate de burlesque são cobertos por cortinas vermelhas tal qual a famosa sala dos sonhos do Agente Cooper no seriado televisivo. Até os créditos finais, personagens de outros filmes poderão reaparecer aqui. Remake. Referência. Reaproveitamento. Nenhuma das obras de Lynch é encerrada, mas permanece viva na cabeça de seu autor como um sonho ainda a ser decifrado e sonhos subseqüentes que pegam emprestados momentos dos anteriores, auxiliando na sua compreensão ou transformando o seu sentido por completo.

Artífices presos dentro do turbilhão, David Lynch e Laura Dern encontraram numa Sony PD-150 (uma câmera digital de nível profissional, mas de preço acessível ao consumidor, daí o termo "prosumer") o escafandro para o mergulho mais profundo no subconsciente em toda obra cinematográfica de ambos. "INLAND EMPIRE" é um jogo de associações regido pela maior liberdade tanto na sua fabricação quanto na sua recepção, ao que, sem uma linha clara, Lynch e os atores decidiam casualmente que cenas filmariam juntos meros minutos antes de ligarem as câmeras. O resultado final é um exercício exasperante e perturbador, igualmente irritante e hipnotizante, mas em nenhum momento irresponsável: cada cena se liga com as anteriores numa teia complexa demais para ser concebida propositalmente, como ordenadas por uma lógica indescritível. Se Lynch revela que ele não é tão refém assim das maquinações independentes da mente (há uma reviravolta "acordada" demais em seus minutos finais e que revela um tecido narrativo pré-concebido – isso não é uma negação direta do que afirmo no final do primeiro parágrafo, mas coloca a possibilidade de interpretação proposta em cheque), ele parece menos um auteur malicioso e mais solidário com a angústia do espectador ao tentar ele mesmo aplicar uma interpretação possível a toda enxurrada de imagens assombrosas (e nunca Lynch chegou tão perto de fazer um filme de horror assumido como aqui; uma das cenas finais que envolve um confronto armado entre Laura Dern e seu marido polonês no corredor azulado de uma espécie de hotel parece impressa diretamente de um pesadelo febril - e o longa está repleto de idéias visuais de fazer a pele formigar). Não seria a primeira vez.

Se "INLAND EMPIRE" alonga-se por 3 horas, isso é reflexo da liberdade técnica e artística que o formato digital lhe permitiu. David Lynch constantemente foi obrigado a terminar suas obras com finais artificiais, enganadores, talvez até improvisados, abruptos: falo do final criado para a versão VHS do piloto de "Twin Peaks" que sugeria um assassino próprio e fechava-se enquanto um longa-metragem independente do seriado televisivo, falo do final de “Mulholland Drive" (do qual "INLAND EMPIRE" pode ser considerado obra-irmã, já a partir mesmo de sua referência titular a Los Angeles: o título refere-se à área ao sudeste de Los Angeles que apreende as cidades mais antigas da região), anexado a um piloto de um seriado não-aprovado e também transformado em longa-metragem, assim recebendo um destino muito mais generoso do que o ostracismo reservado a tantos projetos como esse. O que era apenas um projeto casual - iniciado a partir da cena entre Dern e seu sombrio psiquiatra mudo - se revelou um projeto de fascínio para o diretor que continuou explorando o significado da trama através da filmagem de mais cenas, inicialmente instintivas e sem relação obrigatória com um todo. As 3 horas são o produto final de dois anos e meio de pesquisa cinematográfica em sua melhor forma: a filmagem. Lynch é capaz de explorar o pesadelo com pesquisa de campo.

Um filme inacabado é também o desafio da personagem de Dern, uma atriz caída no ostracismo que consegue um papel no longa enigmaticamente intitulado “On High In Blue Tomorrows”, ao lado do galã interpretado por Justin Theroux. Ao longo das filmagens, eles descobrem estar trabalhando num remake... ou quase: o roteiro, baseado numa fábula cigana e originalmente intitulado em alemão “Vier Sieben” (47), que seriam números malditos, já teria inspirado um filme que nunca foi acabado, uma vez que a atriz enlouquecera durante a produção. A própria história do filme não terminado – vivida repetidas vezes por Lynch durante sua carreira, como já falamos – é um dos folclores mais populares na indústria cinematográfica norte-americana: podemos citar como exemplos “Four Men On A Raft” de Orson Welles, “Dark Blood” de George Sluizer (interrompido pela morte de River Phoenix), ou até mesmo “The Brave”, roteiro considerado maldito pelos produtores (o ator principal teria morrido de conseqüências misteriosas) e por isso mesmo escolhido por Johnny Depp para ser seu primeiro (e curioso) filme enquanto diretor. Um filme inacabado lança uma aura maléfica em cima de todos os envolvidos, como se abrisse um portal para uma outra dimensão ou que fundisse as esferas do real e do imaginário/fabricado. Ou pelo menos, coloca suas carreiras em suspenso.

A Hollywood construída na primeira parte de “INLAND EMPIRE” é uma impossível de ser real, uma vez que concentra a maioria dos cameos célebres em aparições de pequena importância, como se insinuasse um universo onde o anunciante de programa de TV não poderia ser ninguém outro do que William H. Macy. Ou a apresentadora trash de programa de entretenimento não poderia ser nenhuma outra do que Diane Ladd (retornando à companhia de Lynch e sua filha Dern após “Coração Selvagem” – sinto-me tentado a relembrar a insubordinação de Ladd, quando sua filha foi parar no blockbuster “O Parque dos Dinossauros”, aceitando o papel de cientista no oportunista “Carnossauro” de Roger Corman, dispondo-se a pôr um ovo gigante em cena, mesmo embora essa anedota nada acrescente à análise). Tal mundo contrastará diretamente com aquele povoado por imigrantes poloneses, prostitutas fantasmagóricas, casas de subúrbio e nenhum glamour, contraste tamanho que virá a negar por completo a existência dos personagens – que podem ser ou não idealizações de protagonistas invisíveis. “INLAND EMPIRE” rompe o complexo projeção-identificação enfiando-lhe ao meio um espelho deformador, separando-o em duas realidades nada ideais, odiosas, aterrorizantes. Lynch encontra em Dern o “cavalo” ideal para submeter às suas manipulações e poucas vezes se viu um ator se permitir afetar-se tão profundamente pelo subconsciente de terceiros. A gradual demolição do universo de fantasia do filme está imediatamente representado na forma como o rosto de Dern parece se derreter na tela. 

Não surpreende a feiúra estética de grande parte dos momentos de “INLAND EMPIRE”, fazendo a produção aparentar os valores de um filme de terror tipo Z feito no quintal de casa por um bando de adolescentes (afinal, esta é uma produção que a StudioCanal resolveu bancar mesmo com o diretor admitindo que não sabia o que estava fazendo e tendo como equipe estagiários e universitários recém-graduados), mais do que ela é encorajadora, contrastando com os planos-assinatura de Lynch – sempre envolvendo luzes vibrando por um mau contato que pode ser elétrico ou espiritual. O efeito, pela textura do novo meio, é diferenciado: o vídeo digital tenta simular o efeito cinematográfico não através do “flickering” da projeção 24fps, mas com a suavidade das linhas nos movimentos. Película e Vídeo Digital têm diretrizes diferentes para induzir o efeito hipnótico no espectador e é necessário dizer que o segundo ainda não o alcançou com sucesso. “INLAND EMPIRE” é um filme mais assustador do que “Mulholland Drive” pela aspereza e imediatismo na sua textura que traz aquele universo sombrio para o nível do real, ao que o filme anterior, até nos seus momentos mais aterradores, preservava aquela artificialidade tão idealizada pelo cinema em sua encarnação clássica, permitindo ao espectador um afastamento saudável, mas que o mantinha numa esfera segura. Se o diretor declarou publicamente que jamais voltará a produzir filmes em película novamente (mesmo embora eu pessoalmente acredite que é possível que ele retire o que disse em algum momento futuro e retorne aos “velhos métodos”; para falar a verdade, eu até espero que isso aconteça), imagino que seja tanto pelas facilidades e liberdades que o Vídeo Digital lhe permite, como também pelo efeito final se aproximar muito mais do que ele almejava: mais delírio do que devaneio. Tudo é auxiliado por um design de som cujos graves vibram caixa afora, como se as placas tectônicas da Califórnia estivessem finalmente se acomodando para o grande choque que a separará do continente. Talvez o grande terremoto seja a expressão psicossomática da artificialidade hollywoodiana do estado, uma dimensão paralela não apenas dos EUA, mas de todo o planeta.

David Lynch acredita na maldição e não se permitirá ser afetado por ela. No que parece um grande exorcismo, Lynch termina “INLAND EMPIRE” com o maior final capaz de conceber, uma despedida em grande escala do redemoinho (ao que tudo indica, uma interpretação bastante peculiar de “Alice no País das Maravilhas”, tocas de coelhos e tudo o mais), ao que seus créditos finais envolvem dança contemporânea, Ben Harper (marido de Laura Dern), um orangotango de circo e um lenhador, todos dentro de uma mansão ao som de “Sinner Man” na voz de Nina Simone. Num universo cinematográfico reinado pela caretice de pontos finais, David Lynch escolhe deixar o espectador mais atônito ainda ao colocar em exposição sua habilidade sobrenatural de transformar pontos de interrogação em uma única e gigantesca exclamação. Joseph Mankiewicz disse: “A única diferença entre um filme e a vida real é a que o filme tem que fazer sentido.” Assim sendo, “INLAND EMPIRE” é inegavelmente vida pura, bruta, terrível.
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De boa nem vou ver esse filme....cidade dos sonhos preciso rever ainda' date=' porque na época que vi ja achei arrastado e confuso demais. E desinteresante para se ficar revendo.

Esse novo ja dizem ser uma confusão só, e por mais de 3 horas de filme...eu num aguento isso...depende do filme se ele fizer vc pensar e tal, tudo bem, mas apenas ficar confuso e ainda por cima ter cenas sem noção, não vale a pena, tem que ter saco para um filme desse, e mais ainda para ficar tentando entender[/quote']

 

Pare de "pensar" os filmes e divirta-se... 03
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