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Festival CeC de Cinema Francês


Jack Ryan
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Acabei de mandar as respostas, amanhã segue a lista. Uma pena que eu não consegui entregar em tempo a resenha que mais aguardava fazer, 35 Doses de Rum. Dos 5 filmes que escolhi para comentar, é o melhor, feito pelo maior cineasta na ativa atualmente, a francesa Claire Denis. Mas eu vou dar um jeito de escrevê-la e postar aqui, mesmo depois que o festival acabar. Vai que o pessoal anima e vê o filme...

 

 

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A gente tem que tocar o Festival pra não se estender demais' date=' mas o tópico (e as conversas) não acabam. Posta sim, Alexei, não vamos deixar o cinema francês perder espaço depois do encerramento do evento. 03.gif   [/quote']

 

 

 

Faço minhas as palavras do Jack.

 

 

 

Vou comentar sobre os textos postados ainda essa semana. Mas acredito que todos devam levar 3/3 de reputação. O Festival está fantástico.

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Os guarda-chuvas do amor. Não conhecia o filme apesar de conhecer vagamente o cinema de Demy. Gostei muito da resenha principalmente por enfatizar os aspectos emocionais retratados pelo roteiro. Tentarei assistir com certeza! Parabéns ao Silva!

 

O Filho Preferido. Já conhecia esse filme e me lembro até de ter visto um trailer ou uma cena ou algo assim. Me lembrava da estória mas nunca tinha lido nada tão descritivo quanto o texto do Alexei. Legal ele falar sobre o andamento porque ás vezes eu me pergunto se a lentidão de determinados filmes foi usada propositadamente, para dar maior ênfase ao significado, criar tensão ou se o diretor o fez sem nenhum objetivo específico. Parece que aqui foi um meio bem sucedido de mostrar a dificuldade do personagem. Geralmente me identifico com filmes assim e vou procurar esse pra assistir urgentemente.

 

Tá virando clichê dizer que seus textos são muito bons, alexei!!!!! 02
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Os guarda-chuvas do amor. Não conhecia o filme apesar de conhecer vagamente o cinema de Demy. Gostei muito da resenha principalmente por enfatizar os aspectos emocionais retratados pelo roteiro. Tentarei assistir com certeza! Parabéns ao Silva!

 

 

 

O Filho Preferido. Já conhecia esse filme e me lembro até de ter visto um trailer ou uma cena ou algo assim. Me lembrava da estória mas nunca tinha lido nada tão descritivo quanto o texto do Alexei. Legal ele falar sobre o andamento porque ás vezes eu me pergunto se a lentidão de determinados filmes foi usada propositadamente' date=' para dar maior ênfase ao significado, criar tensão ou se o diretor o fez sem nenhum objetivo específico. Parece que aqui foi um meio bem sucedido de mostrar a dificuldade do personagem. Geralmente me identifico com filmes assim e vou procurar esse pra assistir urgentemente.

 

 

 

Tá virando clichê dizer que seus textos são muito bons, alexei!!!!!02.gif
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Valeu pelos comentários, bs11ns. Aliás, uma coisa que esqueci de acrescentar na resenha é o uso das cores nesse filme, que é fantástico, especialmente no início. As cores vibrantes fazem uma dobradinha perfeita com o tom alegre do filme, além de darem um tom bem intenso ao relacionamento amoroso dos dois personagens principais. A partir da segunda metade do filme, há uma pequena dimiuição da intensidade das cores, como se elas estivessem um pouco mais "lavadas", o que casa perfeitamente com o tom mais realista que aparece nesse momento.

 

 

 

E tudo isso combinando com a trilha sonora perfeita do Legrand. Sem dúvida um dos mais belos filmes já feitos.

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Chegou a hora de conhecer as listas e respostas dos participantes. Vamos lá, por ordem alfabética, começamos com o:

 

 

 

Alexei

 

 

 

LISTA

 

 

 

A França em cinco grandes filmes

 

 

 

 

 

 

 

Optei por eleger apenas cinco filmes que eu considero seminais, verdadeiras obras de arte de cinco grandes diretores, e que, em minha opinião, expressam bem o cinema francês. São eles, sem ordem específica:

 

 

 

 

 

 

 

Viver a Vida (Vivre sa Vie, 1962), de Jean-Luc Godard. Além de ser um dos melhores filmes do mais arrojado, mais intelectualmente agressivo de todos os diretores franceses, Viver a Vida é um triunfo de experimentação estética e também de argumento: a estória de uma mulher (Anna Karina) que, em um processo autodestrutivo, abraça a prostituição como forma de “viver a vida”. Pungente, amargo e doce ao mesmo tempo.

 

 

 

 

 

 

 

Conto de Inverno (Conte d'hiver, 1992), de Eric Rohmer. Os diretores franceses sabem tratar bem a palavra, e Rohmer é o expoente máximo dessa virtude. Mais do que isso, seus filmes são formados de pequenos e luminosos momentos, breves instantes de magia e beleza. Quem diria que o dilema de uma jovem, que se vê tendo que escolher entre esperar por um grande amor do passado (que lhe rendeu uma filhinha) e seguir com sua vida, resultaria em um dos mais lindos finais (sem qualquer exagero) da história do cinema?

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Beau Travail (Idem, 1999), de Claire Denis. Não é apenas Billy Budd, de Herman Melville, revisitado. Não é apenas a estória de amor, ciúmes e ódio entre dois integrantes da Legião Estrangeira em serviço no Djibouti. É também um filme de uma diretora visionária, que transforma treinamento militar em uma dança fluida, graciosa, e que funde céu e inferno numa coisa só, um deserto alucinógeno. É também um dos melhores filmes da mais habilidosa e mais inteligente entre todos os cineastas em atividade atualmente. Não é pouca coisa.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A Liberdade é Azul (Trois couleurs: Bleu, 1993), de Krzysztof Kieslowski. Julie (Juliette Binoche), por ter perdido o marido e a filha em um acidente de carro, resolve se fechar para o mundo e se enterrar viva. Mas não é assim que as coisas funcionam, ensina Kieslowski: pessoas são serem sociais, é assim que elas se definem como gente, e o prazer dessa descoberta pode vir de onde menos se espera.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Jules e Jim – Uma Mulher Para Dois (Jules et Jim, 1962), de François Truffaut. Para mim, o filme francês definitivo. Dizer que a estória de Catherine (vivida pela grande Jeanne Moreau), a francesa linda e maluquinha que ama dois amigos, Jules (Oskar Werner) e Jim (Henri Serre), ao mesmo tempo, é o mais belo triângulo amoroso dos cinemas é reduzir em muito a importância e o impacto desse filme extraordinário. Truffaut, o grande humanista, um cineasta dotado da rara habilidade de imbuir cada frame, cada travelling com lirismo e beleza, fez uma ode à complexidade e ao dinamismo das relações entre as pessoas, e um lembrete do porquê de o coração – e não o cérebro, os cientistas estão errados! – ser o órgão que verdadeiramente guia o nosso comportamento.

 

 

 

 

 

RESPOSTAS

 

 

 

Que gênero você acha que o cinema francês produz com mais qualidade? Por quê?

 

 

 

Resposta: Embora boas comédias tenham sido feitas na França (Tati, Resnais), penso que o gênero no qual eles se saem melhor é o drama. Os franceses têm essa propensão à filosofia, à investigação profunda das pessoas e das coisas, e o drama é o melhor ambiente para esse tipo de análise.

 

 

 

A produção cinematográfica francesa contemporânea (Denis, Téchiné, Honoré, Audiard, Breillat, Claudel, Chéreau) é composta, majoritariamente, por dramas. Muitos de excelente qualidade, diga-se de passagem.

 

 

 

Qual filme não-francês melhor representa a França ou seu cinema? Por quê?

 

 

 

Antes do Amanhecer é o filme não francês que melhor representa a França e seu cinema, penso eu. Primeiro, ele tem alguns dos elementos característicos do cinema francês que eu venho enfatizando: humanismo, poesia, ritmo cadenciado, cuidado com os personagens e com os diálogos, argumento inteligente.

 

 

 

Mas não é só isso, ele tem aquele jeitão de "deixa a vida me levar, eu não quero saber aonde vou acabar" que se vê tanto no cinema francês (especialmente os filmes do Eric Rohmer). Existe uma alegria de viver (joie de vivre), tipicamente francesa, que foi muito bem captada pelo Richard Linklater. Embora o filme se passe, em sua maior parte, em Viena!

 

 

 

 

 

 

 

Quais as semelhanças e as diferenças mais notáveis entre o cinema francês e o americano?

 

 

 

Eu só vejo diferenças, hehe. No ritmo, na construção dos personagens, na forma como os diálogos são trabalhados. É como se fossem opostos exatos: um (o francês) é modulado, leva tempo pra desenvolver, é mais imersivo, convida o público a trabalhar junto; o outro é mais rápido, mais agudo, mais intrusivo, expõe mais do que convida, quase se dando ao trabalho de pensar pelo espectador (só o que me vem à cabeça é o cinema do Christopher Nolan, hehe). Essas regras não são absolutas, e os dois estilos podem produzir coisas muito boas e coisas ruins também.

 

 

 

Mas a maior diferença está no escopo, na minha opinião. Todos os filmes franceses tinham algo a dizer, ainda que existisse o objetivo financeiro (até porque os filmes têm que se pagar, do contrário a produção se inviabiliza). No cinema americano, há muitos filmes feitos com objetivo unicamente comercial, de ganhar dinheiro mesmo. Geralmente, não são bons filmes, embora essa não seja uma regra absoluta (mais uma vez).

Jack Ryan2011-09-19 21:36:17
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Tentei ser o mais sintético possível nas respostas! Hehe

 

Brincadeiras à parte, minha idéia ao resenhar 5 filmes foi justamente enfatizar quatro traços que considero marcantes no cinema francês: humanismo, agressividade intelectual (ou consistência de argumento), ritmo cadencial e cuidado com a palavra, com os diálogos. Escolhi quatro filmes que representariam bem tais características, nessa mesma ordem : Belleville, Fat Girl, O Filho Preferido e Gabrielle.

 

O quinto filme seria aquele que teria todos esses elementos destacados, que é 35 Doses de Rum. O melhor deles. Infelizmente, não consegui entregar as duas últimas resenhas, por pura falta de tempo.

 

Optei por cinco filmes mais recentes, como forma de tentar passar a idéia de que esses traços existem independentemente da época em que os filmes foram feitos. Encontra-se humanismo poético em quase todos os filmes do Truffaut, mas também em obras contemporâneas de Chomet e de Denis. São atributos sintéticos, portanto; perpassam a história inteira do cinema francês.

 
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E agora é a vez do:

 

 

 

bs11ns

 

 

 

LISTA

 

 

 

1. O Escafandro e a Borboleta. Já escrevi bastante sobre esse filme. Só posso dizer que ele é o meu francês preferido porque é uma ovação á vida, á arte de viver, de saber viver, de comemorar o simples fato de estar vivo. Poderia ter resultado em algo melodramático, melancólico, meloso e não significativo. Mas, graças aos deuses do cinema, o roteiro caiu nas mãos de um diretor brilhante, que contou com uma produção brilhante, com atores incríveis e com um protagonista tão absurdamente estupendo que consegue se desconstruir pra viver um personagem único e magistral, assim como é o próprio Mathieu. Tem um significado muito especial pra mim pois me fez ver a vida de outro modo, me fez enxergar outras coisas, parar de ligar pra muita coisa que antes eu dava uma importância excessiva. É de uma beleza raríssima e de uma sensibilidade inacreditavelmente real. Simplesmente perfeito! 10/10

 

 

 

2. A Bela da Tarde. Contundente obra do magnífico Buñuel sobre as válvulas de escape que criamos quando nosso mundo não é tão perfeito quanto parece. O mundo feminino e suas particularidades é retratado com muita verdade pelo cineasta que conta com uma das mais belas atrizes de todos os tempos pra representá-lo. Uma excepcional construção sobre a feminilidade e sobre todo o complexo universo das mulheres e das pessoas que se sentem presas em algum lugar que não consideram como delas. Obra-prima do Buñuel que me fez conhecer mais sobre a alma humana sob um outro ponto de vista. Mais um filme indispensável. 10/10

 

 

 

3. Há Tanto Tempo que te Amo. Essa estória sobre uma mulher que comete um crime e sai da cadeia quinze anos após pagar por ele passou completamente batida por mim aqui no festival e não sei como deixei isso acontecer pois queria muito ter escrito sobre ela. Tem um trabalho de direção espetacular onde cada detalhe é pensado no sentido de dar vazão a todos os sentimentos das duas personagens centrais. Há falta de cor, falta de som, ás vezes e de vida e esse clima condiz exatamente com o espírito da protagonista que parece não estar satisfeita com o tempo reclusa: considera seu crime sem perdão. Tal visão, porém, é dela e em nenhum momento o diretor julga seus atos ou de sua família. Pelo contrário: apenas os retrata da forma mais crua e natural possível. Para o êxito desse retrato de uma vida destruída por uma fatalidade, seria necessária a imersão completa de uma atriz em todo esse universo de agonia e tristeza irremediáveis. É exatamente o que faz a sensacional Kristin Scott Thomas. Ajudada pela também brilhante Elza Zylberstein (aqueles olhares condescendentes dela são de matar), Kristin extrai do mínimo o máximo. Praticamente sem maquiagem, a atriz emana culpa por todos os poros e a exala onde quer que passe ao mesmo tempo em que sabe da irreversibilidade de sua condição. Uma atuação simplesmente fantástica que coroa esse minimalista e comovente drama francês. 10/10

 

 

 

4. O Sol Por Testemunha. Um maravilhoso estudo sobre a falta de limites de uma mente humana perturbada. Filmada com maestria e muita beleza por Clement, essa estória vem pra evidenciar o quanto podemos ser vis, podres e vazios quando não enxergamos nada além de nossa própria vaidade. O que mais me atrai aqui é a incrível facilidade com que o Ripley manipula a todos e os métodos que ele utiliza pra tal. Esse encantamento pelo cara surge do modo como o Delon utiliza-se de sua beleza incontestável a favor do personagem e, por conseqüência, do filme. Sabe trabalhar muito bem as várias facetas de Ripley, sobretudo a que apaixona e a que nos faz odiá-lo. Bem realizado sobre todos os aspectos, o filme te pega desde a primeira cena e só te larga uma meia hora depois que Ripley já fez tudo o que queria com todos, inclusive contigo. 10/10

 

 

 

5. Viagem à Lua. Uma obra-prima escondida nos confins da França. Essa pérola de curta-metragem é tão bem realizada que não há nem muito o que falar dela. Só dá pra dizer que poderia ter sido feito há um mês, uma semana ou mesmo ontem pela modernidade e necessidade de abordagem do tema. Me encantou demais o modo quase primitivo com que o diretor expõe suas ideias, fazendo parecer uma obra teatral. Filme incrível! 10/10

 

 

 

6. La Jeteé. Outro grande filme que tem na montagem seu principal trunfo. Frenético até o fim, mostra a importância de se debater questões que envolvem grandes investimentos por conta das nações responsáveis por pesquisas, sejam elas de quais natureza forem. De uma originalidade surpreendente para a época, o diretor consegue extrair grandes cenas e deixar o espectador com água na boca pelo final. As fotos são impressionantes de tão bem tiradas à medida que evidenciam o papel de cada um no filme. Totalmente atual, La Jeteé é precursor e referência de muitos outros filmes que abordaram temáticas idênticas ou parecidas alguns anos mais tarde. Obrigatório! 9,8/10

 

 

 

7. O Mágico. Uma belíssima descoberta pra mim! Um filme de animação mudo que tinha dois personagens de idades absolutamente diferentes e que se encontram quando ambos não esperam muito mais da vida poderia até naufragar de modo irrecuperável. Mas tudo é tão bem realizado, que você sai do cinema com a alma lavada por tanta emoção que jorra da tela. A criação do cenário é perfeita e faz parte da vida de todos os personagens até quando eles saem de cena (caso do coelho). A trilha sonora é fundamental e encantadora pra mostrar um pouco da relação daquelas pessoas com o mundo em que vivem e o melhor mesmo são personagens e roteiro que de tão bem arquitetados, levam o filme tranquilamente até a sensacional última cena. A única coisa que não condiz com o restante do filme é o andamento inicial trôpego e cambaleante: demora a engrenar. Quando o faz, porém, nos traz de volta a magia de nossa infância e a sensação de que ainda dá pra acreditar na existência de humanidade dentro do ser humano! Comovente! 9,5/10

 

 

 

8. Caché. A forma como Haneke utiliza sua câmera é sempre sensacional. Embora eu goste mais de A Fita Branca, esse aqui também não deixa de perturbar por um segundo sequer. O posicionamento estático do vídeo te dá a sensação de que você está assistindo o filme para presenciar algo muito trágico. E, de fato, conforme passam os minutos você se dá conta de que é isso mesmo. As referências da infância do personagem são fundamentais pra construção da vida daquele casal e de seu entendimento. Os dois, aliás, dão um banho de atuação até o desfecho. A única coisa que falta aqui talvez seja um complemento, uma cereja em cima do bolo, um clímax final tão intenso quanto o que ocorre durante boa parte da projeção. Ainda assim, o desespero é latente por sentir que nossa vida, na verdade, nem a nós pertence. Entre outros assuntos, Haneke esfrega isso em nossas faces até desfigurá-las quase que por completo! 9,4/10

 

 

 

9. Fat Girl. Uma estória bem dosada, bem contada, equilibrada e bastante pertinente. Breillat atinge o seu foco com bastante segurança na direção e artifícios muito ousados na construção de atmosferas tensas onde você sente que tudo está por um fio. Interpretações naturais, quase espontâneas, para personagens totalmente verossímeis. Me chamou a atenção o modo como trabalhou com a virgindade sem glamourizá-la ou precisar de cenas escandalosas para torná-la palpável. Palatável a todos os públicos justamente por essa facilidade de comunicação, só achei que pecou ao optar por um final muito repentino indo na contramão da montagem sutil e insidiosa que tinha exposto até ali. Contudo, Breillat entrega um filme poderoso e relevante. 9,3/10

 

 

 

10. O Tempo Que Resta. Em geral amo os filmes do Ozon e esse aqui, até agora, é o melhor pra mim. Enxuto, coeso, coerente, bem acabado, objetivo, sem excessos e triste na medida certa. Ozon extrai bastante significado da tardia consciência de finitude que se atira sobre o protagonista. Tem paisagens belíssimas, cenas fortes, decisões acertadas e interpretações simples mas pontuais e funcionais. É lindo do começo ao fim só não é melhor porque só há espaço pro Romain. Um filme sobre a vida e sobre a importância de vivê-la, simplesmente. Além disso tudo, tem o Poupaud que é o máximo! 9,2/10

 

 

 

RESPOSTAS

 

 

 

Que gênero você acha que o cinema francês produz com mais qualidade? Por quê?

 

 

 

Os dramas franceses estão entre os melhores do mundo pra mim. Sempre têm algo a dizer e o fazem com perfeição à medida que sempre se preocupam com o objetivo de seus filmes. O foco principal na maior parte dos dramas franceses é discutir os aspectos de crescimento e evolução da mente e do espírito por meio de situações cotidianas geralmente humanas a ponto de gerarem uma identificação imediata com quem assiste.

 

 

 

O estofo dramático das estórias se sustenta por bases bem fundamentadas e fortes e dificilmente escorregam no melodrama barato. Exceto nos momentos em que tentam investigar psicologicamente a vida de seus personagens, os cineastas franceses conseguem falar a todos os públicos de forma simples porém bastante eficiente.

 

 

 

Qual filme não-francês melhor representa a França ou seu cinema? Por quê?

 

 

 

Vou ser bem imediatista e votar num filme recente porque é o que melhor retrata Paris dos que eu me lembro de ter assistido. Meia-Noite em Paris, do Allen, não só mostra os encantos da cidade atualmente como também no passado ao expor sua efervescência cultural nos anos 20. Todo o espírito de uma vida cultural intensa e rica é passado pra tela através dos diálogos vívidos e inteligentes característicos do cinema de Allen.

 

 

 

Além de explorar com maestria o estilo de vida parisiense pelo texto, o diretor também consegue dar um tratamento estético impecável ao filme fazendo com que a cidade-luz fique ainda mais bonita na chuva, como o personagem de Owen Wilson (ótimo, por sinal) vive repetindo, inclusive na belíssima cena final. Pode até não ser o que melhor representa a França mas é o que mais me fez ficar com vontade de conferir a beleza pluvial de Paris.

 

 

 

 

 

Quais as semelhanças e as diferenças mais notáveis entre o cinema francês e o americano?

 

 

 

No cinema francês, o tratamento estético e visual é extremamente caprichado e aplicado ao roteiro e há um maior aprofundamento de suas estórias principalmente pela construção de personagens mais críveis e humanos. O modo como a maioria dos cineastas franceses constroem seus universos, mesmo quando eles vêm acompanhados de um tom mais leve ou musical, evidencia que na França se pensa em cinema sem muita importância com efeitos especiais que levem milhares ás bilheterias. É claro que cinema é uma indústria, um comércio. Mas o produto que os franceses exigem de seus diretores e que o consagram como sucesso tem um padrão de qualidade muito maior e mais voltado para o debate de questões relevantes á vida do que o exigido pelo público americano. Sempre vejo solidão, tristeza, melancolia, relacionamentos familiares e suas dificuldades, homossexualismo, valorização a vida sendo expostos nas estórias. O cinema francês foge de estereótipos e dificilmente entrega algo que não envolva debates sobre assuntos sérios, mesmo nas comédias, diferentemente do americano.

 

 

 

Talvez a maior semelhança se dê quando algum diretor americano consegue se preocupar com a questão de fotografia, enquadramento de câmeras, posicionamento da luz de modo a ajudar na composição da atmosfera dos personagens, melhorando a qualidade de seus filmes (os exemplos mais recentes que me vêm á cabeça são as diferenças de coloração de acordo com o estado de espírito do personagem de Joseph Gordon Lewitt em 500 Dias com Ela e a colocação de tons neutros e frios ou quentes e fortes para evidenciar a falta de vontade de viver ou a excitação que permeavam o úlitmo dia de vida do personagem de Colin Firth em A Single Man).

 

 

 

Fora isso, as diferenças são mais gritantes do que as semelhanças e mais vantajosas pro lado francês.

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E, por fim, chegou a vez do:

 

 

 

leomaran

 

 

 

LISTA

 

 

 

Como não tenho conhecimento ou competência para fazer uma lista de melhores filmes franceses por gênero ou por década, escrevi uma lista geral, dos meus 10 filmes favoritos. Se colocasse mais, nem todos seriam obras-primas. Também não pus em ordem de preferência, só escolhi os que considero os melhores e tentei explicar porque.

 

 

 

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Os Incompreendidos (François Truffaut, 1959)

 

 

 

François Truffaut é hoje considerado um cânone da cinematografia francesa e este, que é um de seus primeiros filmes, mostra bem porque. Um sistema de ensino autoritário, aliado à difícil relação entre seus pais, oprime o jovem Antoine, que procura escapar de todas as maneiras. A cena da roda no parque de diversões, em que o jovem tem a impressão de estar sendo jogado para fora do brinquedo, é a única em que se sente realmente descontraído, arriscando até alguns sorrisos. Apesar do desejo de fugir, fica claro que Antoine, assim como todos os que se sentem presos pela sociedade, não faz idéia do que fazer se conseguir a sua sonhada liberdade.

 

 

 

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O Discreto Charme da Burguesia (Luis Buñuel, 1972)

 

 

 

Um teatro de bizarrices e cenas oníricas, O Discreto Charme da Burguesia é um prato cheio para que Buñuel explore a artificialidade de uma burguesia caída no ridículo. O diretor atinge o ápice da sua comicidade nas cenas que retratam os sonhos de seus personagens. O filme é a história de um jantar que nunca se completa, sempre interrompido pelos acontecimentos mais inacreditáveis. Frente a isso, os burgueses apenas sorriem, puxam uma cadeira a mais à mesa e prosseguem a inutilidade de suas vidas não vividas.

 

 

 

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Brinquedo Proibido (René Clément, 1952) - Resenha

 

 

 

A incorporação da guerra pela inocência de duas crianças. Brinquedo Proibido é tão poético que, quando trata mais diretamente de uma realidade violenta e crua (em seu início e final), choca e deixa uma sensação amarga. O verdadeiro destaque é da relação espontânea entre as duas crianças, cujo amor chega a ser doloroso de tão verdadeiro. Você nunca mais vai ouvir o nome Michel sem uma reverberação triste no coração.

 

 

 

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O Escafandro e a Borboleta (Julian Schnabel, 2007)

 

 

 

Inicialmente, o filme traz uma interessante oposição entre a sensação de estar preso em seu próprio corpo, trazida por uma câmera fixa e alinhada na posição dos olhos, e as imagens belíssimas que Jean-Dominique Bauby tem da vida. Depois, com uma perspectiva mais ampla de seu estado e de sua vida pregressa, percebemos que ele não é o único que está preso. Todos têm bons e maus momentos. Ao olhar para o passado, o filme mescla arrependimentos e alegrias e mostra uma visão interessante. De que, enquanto se está vivo, se vive. A imprevisibilidade de tudo é a chave para a adaptação.

 

 

 

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O Atalante (Jean Vigo, 1934)

 

 

 

As interações dentro do barco O Atalante são afetadas pela chegada da esposa do capitão.

 

Jean Vigo conta uma história febril de amor, paixão e ciúme, todos eles exagerados. O filme consegue ser profundamente encantador e poético até mesmo ao retratar o sexo à distância entre marido e mulher, que sentem saudades um do outro. A obra não passa uma mensagem explícita, mas deixa um sentimento final de pura felicidade e beleza.

 

 

 

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A Bela e a Fera (Jean Cocteau, 1946)

 

 

 

Esta versão nada infantil de A Bela e a Fera conta com um fetichismo incomum, aproveitando-se do cenário do castelo da Fera como terreno para exploração de desejos e imagens interiores. As velas não são seguradas por candelabros, mas por mãos humanas que saem da parede. Os cômodos são vazios e tortos. A tensão sexual entre Bela e o monstro é palpável e a fantástica maquiagem torna a feiúra da Fera estranhamente atraente. O final incorpora um outro conto de fadas e é agradável e insatisfatório ao mesmo tempo, já que o belo príncipe jamais terá o mesmo carisma que tinha a horrenda Fera.

 

 

 

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O Salário do Medo (Henri-Georges Clouzot, 1953) - Resenha

 

 

 

O Salário do Medo é uma obra-prima do suspense, em que Clouzot utiliza diferentes técnicas para deixar o espectador grudado na tela. Os personagens são bem construídos, dando profundidade e importância aos momentos em que eles são obrigados a arriscar a vida. A forma como a história, relativamente simples, é desenvolvida e mostrada é o principal mérito do longa.

 

 

 

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O Demônio da Algéria (Julien Duvivier, 1937)

 

 

 

O filme conta a história do gângster Pépé le Moko, que é um verdadeiro rei dentro da ululante comunidade de Casbah. A polícia está a postos para capturá-lo assim que colocar o pé para fora. Envolvendo uma frustrada história de amor e um detetive de duas caras, O Demônio da Algéria eleva a receita do thriller convencional por meio da poesia e delicadeza com que a história é contada. O Casbah parece um organismo vivo, onde a corrupção e banditismo adquirem uma conotação romântica. E o filme ganha ainda mais com uma cena, aparentemente desconectada do resto da trama, em que uma matrona envelhecida vai às lágrimas enquanto canta o seu passado. Belíssimo!

 

 

 

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O Demônio das Onze Horas (Jean-Luc Godard, 1965)

 

 

 

A tresloucada aventura de Godard não tem uma ordem cronológica ou narrativa definida. Um casal, no estilo Bonnie e Clyde, foge pela França, cometendo crimes por onde passa. Mesmo quando é difícil saber o que está acontecendo, o ritmo furioso e diálogos inteligentes do filme mantêm um ótimo equilíbrio com o material mostrado. E é essa dinâmica que cativa e garante o interesse. O maior mérito é que consegue fazer isso com uma narrativa tão tênue que chega a ser quase transparente.

 

 

 

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Piaf – Um Hino ao Amor (Olivier Dahan, 2007)

 

 

 

Se é verdade que um ator pode elevar o valor do filme de que participa, a Piaf de Marion Cotillard é o máximo exemplo disso. Ela não vive a cantora. Cotillard simplesmente se tornou Piaf. Embora o filme siga à risca a ideia das cinebiografias de pessoas famosas, sua estrutura não é linear e o roteiro é apenas correto. Mas a grande emoção causada pela vida da artista vem da interpretação profundamente sincera de sua personagem, que, acompanhada de uma maquiagem tecnicamente perfeita, transforma o filme na melhor cinebiografia que já assisti. E a Je ne regrette rien final é libertadora, quase uma catarse.

 

 

 

O Léo mandou apenas a lista.

 

 

 

E quando eu escrevi "por fim" lá em cima, é pq acabou mesmo. Alexei, bs11ns e leomaran foram os únicos três usuários a participar das etapas competitivas do Festival. Portanto, podem dar nota pra eles, pra ver quem fica com qual prêmio, pq é óbvio que os três serão premiados. Nunca foi tão fácil, hehehe.

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Foi muito difícil de fazer minha lista. E olha que não assisti às grandes OPs do cinema francês hein?? Tive que deixar o Piaf, que o leomaran citou, de fora embora a interpretação da Cotillard seja absolutamente espetacular! Eu saí chorando do cinema cantando Non, Je ne Regrette Rien durante semanas! Fiz a lista baseado no que os filmes significaram pra mim pq não tenho conhecimento suficiente pra fazer algo por gênero ou década.

 

Parabéns ao leo e ao Alexei que, pra variar, escreve e justifica tão bem suas ideias que dá até raiva rsrs.
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Gostei das listas e das tuas respostas também, Bs. E valeu pelo elogio!

 

Enquanto não sai o resultado, um link pra curtir: Jeanne Moreau cantando Le Tourbillon em Jules et Jim. A cena não só é muito poética, como também permite constatar que Truffaut - é, sou fã do cara, vocês já devem ter percebido -, pela composição do cenário, enquadramentos, panorâmicas e direção dos atores, manjava muito de técnica cinematográfica:

 

 

 
Alexei2011-09-27 09:59:43
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Se eu soubesse que seria o único jurado, poderia ter me vendido a algum dos três, hehe.

 

 

 

Brincadeira à parte, apesar de eu também não ter cumprido com 1/3 do que pretendia - até porque, quando fui tentar escrever sobre Adeus, Meninos, já fora do período, notei que ninguém estava participando, daí desanimei -, lamentável mais ninguém ter sequer votado. Você não podia votar, Jack?

 

 

 

Parabéns ao Jack pela paciência e aos quatro (três concorrentes + organizador) pela enorme disposição mostrada.ltrhpsm2011-09-29 22:21:42

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Peço deesculpas por não ter enviado as notas para as listas e respostas. To na correria estudando até tarde da noite e acabei esquecendo de verdade, rs. Mas pra mim tbém não foi surpresa o Alexei ter ganho e me arrisco a dizer que mesmo se o restante tivesse continuado até o final, ele teria vencido (não desmercendo ninguém, por favor não me levem a mal) pois o talento dele pra expressar em letras o que pensa e o que sente é inacreditável de tão bom. To feliz porque ele venceu pois foi merecido e por ter participado!

 

By the way, eu acho que prefiro o primeiro conjunto: A Igualdade é Branca + Medo por causa do filme do Kieslowski (que nome difícil, Jesus!). Embora falem muito bem do Boon Joon aqui, eu não sou tão chegado a filmes de terror. Bom, valeu pelo prêmio e pela votação!
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Parabéns ao Alexei e a todos que se mantiveram bravamente até o final. Acabei não dando nota para as últimas resenhas porque juntou um monte de coisas na faculdade e fiquei viajando por umas duas semanas, então não tive muito tempo. As respostas não dei porque realmente achei que não tinha ainda condições.

 

Como já tinha assistido os dois filmes do prêmio A, fico feliz em receber o outro. Até hoje não assisti um único filme do Bong Joon-Ho. Vou poder reparar um pouco essa falha.
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Puxa, ganhei pelo voto do Ltr! Hehe

 

 

 

Primeiramente, gostaria de esclarecer que, com apenas três concorrentes, não me senti muito à vontade para atribuir notas às listas e respostas. Também não poderia esperar que tivéssemos apenas um votante. De qualquer forma, valeu, Ltr, Jack, Bs e Leomaran! Muito obrigado pelos comentários elogiosos e pelo prêmio. Fiquei feliz, de verdade!

 

 

 

Quanto ao festival em si, estou com uma sensação paradoxal. Sob o aspecto positivo, tivemos a grande qualidade das resenhas e dos textos de uma maneira geral. Dos três festivais que tivemos recentemente, esse foi o melhor nesse quesito, penso eu. Pelo lado negativo, poderia ter sido bem melhor, não fosse tão baixa a adesão. Há muitos usuários por aqui que poderiam ter contribuído bem mais. Não foi por falta de incentivo que isso não ocorreu, hein.

 

 

 

De qualquer forma, agradeço muito a esse usuário incrível, o Jack_Ryan, tanto pela iniciativa quanto pela excelência na organização da coisa toda. Parabéns e obrigado, Marcelo!

 

 

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