Jump to content
Forum Cinema em Cena

Luis Buñuel


Travis Bickle
 Share

Recommended Posts

  • Members

Acabei de assistir "Um cão andaluz" e estou sem palavras para descrever o que vi, por isso abri esse tópico: para discutirmos esse genial diretor.
Segue abaixo um artigo interessante que li na internet, quem tiver tempo e saco para ler, aproveite, é bem legal, cita até o brasileiro Glauber Rocha.

Ah, pra quem gosta de cinema, achei um site muito bom, com várias coisas pra baixar, em arquivos pequenos, e o que é melhor: grátis. (tem até o "Um cão andaluz" aí, coisa de 150mb, vale muitissimo a pena). O link é http://www.ubu.com/film/ .
--------------------------------------

LUIS BUÑUEL – 20 anos sem o mestre espanhol *

“Sigo sendo Ateu, graças ao meu bom Deus”

No vigésimo ano da morte do mais importante cineasta espanhol, retrospectiva de filmes, documentário na TV, artigos e exposições reafirmam a importância e atualidade da obra de Luis Buñuel.

bunuel%20-%20foto.jpg

Tido por anarquista e iconoclasta, Buñuel é autor de uma das obras mais influentes e agressivas da história da sétima arte. Seus filmes contestam a ordem estabelecida, são insólitos, obsessivamente transgressores sempre impregnados com o tema da morte, do sexo e da religião.

Nascido em Calanda, província de Aragão (Espanha), Buñuel vai para Madri estudar Engenharia Agronômica em 1917. Posteriormente abandona o curso. Nessa época conhece e fica amigo de Salvador Dali e Federico Garcia Lorca. Nos anos seguintes, escreve poemas, dirige peças e organiza mostras no cineclube que funda no início dos anos vinte.

Em 1924 vai para Paris, onde fortemente influenciado pelos filmes de Fritz Lang, surge a idéia de fazer cinema. Trabalha como assistente do filme A queda da casa Ursher (La chute de la Maison Ursher - 1928) de Jean Epstein.

Sua estréia no cinema se dá através do curta-metragem surrealista Um Cão Andaluz (Un Chien Andalou -1929), co-dirigido por seu amigo catalão Salvador Dali e, segundo o poeta mexicano Octávio Paz, a primeira incursão da poesia na arte cinematográfica. É nessa película que aparece a celebre cena de um olho sendo vazado por uma navalha. Ainda sob a tutela do mecenas Visconde de Noailles, Buñuel dirige outro curta, A Idade do Ouro (L’age D’or - 1930), experiência surreal ainda mais radical, com uma temática anticlerical e forte ataque à tradição burguesa da continuidade. O curta é banido da exibição pública e a Igreja Católica considera a película um sacrilégio.

unchiena1.jpg
Um Cão Andaluz (Un Chien Andalou -1929)

Após esses dois filmes, o cineasta espanhol realiza na Espanha o documentário Las Hurdes - Tierra sin Pan (1932), produção modesta e incômoda pela crueza com que retrata a situação de miséria de uma pequena comunidade de seu país.

Depois de Las Hurdes, Buñuel passa alguns anos sem dirigir, embora estando envolvido em diversas atividades ligadas ao cinema. Fugitivo do regime fascista do general Franco,refugia-se nos EUA, onde tem uma breve passagem por Hollywood.

No ano de 1946 vai para o México onde volta a filmar num país no qual a tradição cinematográfica atende pelo nome de melodrama. Ë uma época de grande atividade para o cineasta, em que chega a rodar três filmes por ano, em ritmo industrial. São dessa fase mexicana as obras primas Los Olvidados(1950) e Nazarin (1958). O primeiro trouxe de volta o reconhecimento internacional com o prêmio de melhor direção no Festival de Cannes de 1951 e o segundo recebeu um prêmio especial em Cannes e arrancou elogios até do Vaticano.

1961 é o ano em que Buñuel lança Viridiana, obra anticlerical rodada em plena ditadura de Franco e que ficou proibida na Espanha, mesmo ganhando a Palma de Ouro em Cannes, depois de ser atacada pelo Vaticano. Até hoje o filme é considerado por muitos críticos de cinema como um dos 100 melhores de todos os tempos.

Realiza em seguida O Anjo Exterminador (1962), retorno do mestre espanhol ao universo surreal e a crítica dos valores burgueses.

É Somente com A Bela da Tarde (1966), que Buñuel obtêm sucesso de público no mundo inteiro ao contar a história de uma dona de casa rica e bem casada que decide ocupar suas tardes trabalhando em um bordel. Com Catherine Deneuve o filme ganha o prêmio do Festival de Veneza de 1967. Sempre bem humorado, Buñuel costumava atribuir a boa bilheteria do filme às prostitutas do filme, mais do que ao seu trabalho de direção.

Em sua fase européia, Buñuel refinou ainda mais o seu humor corrosivo contra a Igreja, a hipocrisia moral dos burgueses e o poder constituído. São dessa época os filmes O Estranho caminho de Santiago (1969), Tristana (1970), O Discreto Charme da Burguesia (1972), O Fantasma da Liberdade (1972) e seu último suspiro artístico Esse Obscuro Objeto de Desejo (1977). Nele, um chauvinista apaixonado por sua empregada busca conseguir o amor que se revela, além de impossível, incompreensível.

obscure2.jpg
Esse Obscuro Objeto de Desejo (1977)

Depois de Esse Obscuro Objeto de Desejo, Buñuel voltou para o México e aproveitou os últimos anos que lhe restavam. Velho, surdo, adoentado, não dispensava seus martinis diários. Não abdicava também do bom humor mórbido que o acompanhou por toda a vida e era herança híbrida do surrealismo francês e do anarquismo espanhol. Faleceu em 29 de julho de 1983 na Cidade do México.

Influenciado pelas idéias surrealistas e por Freud, Buñuel pôs as forças do irracional a serviço de um projeto libertário. Ironizava impiedosamente tudo aquilo que considerava entrave à emancipação do homem. Usava para isso elementos como o sonho, a obsessão por insetos e animais, o corpo e seus gestos, objetos cotidianos, rituais e símbolos.

Como dizia seu amigo Glauber Rocha, “A história do cinema situa Buñuel como um autor e será ele um dos poucos cineastas que, no futuro, terão citação destacada entre os pensadores de nossa época. Um pensamento, quase um sistema que, não tendo sido racionalmente criado, deixa aos críticos um tema fecundo, de onde se pode extrair uma ética-estética. Raros, mesmo entre os autores cinematográficos de hoje, os que podem ser considerados, além de poetas, pensadores.”

( * ) Murilo da Silva Navarro – Mestre em Física pela Universidade Federal de Sergipe e Cinéfilo.

Link to comment
Share on other sites

  • Replies 50
  • Created
  • Last Reply

Top Posters In This Topic

  • Members

não vi todos os seus filmes, mas até agora achei quase todos obras-primas, e os que não são, não deixam de ser excelente.

até agora, acho que meu preferido é o anjo exterminador.

buñuel foi um gênio, simples assim.

e além do mais, o que dizer do diretor preferido do melhor diretor de todos os tempos?

Link to comment
Share on other sites

  • Members

Esse é mais um erro grave que eu tenho que corrigir...

Silva' date=' se voce quiser, aí no site que eu mandei no primeiro post tem o curta "Um cão andaluz", se voce tem banda-larga em 1 hora no maximo você baixa. Vale a pena. smiley2.gif

[/quote']

E você acha que eu não fiz isso agora???smiley2.gif

Link to comment
Share on other sites

  • Members

buñuel, revi viridiana ontem:

Revendo Viridiana, é fascinante observar como uma obra de arte se enforma ( e transforma) no tempo.

O que à primeira vista se contentava com os signos convencionais de uma crítica ( acerba , é verdade), mas unilateral e ideologicamente sacramentada, agora toma os rumos imprevistos de um desvio de rota. A mira de ataque do mestre não é exatamente a caridade, tomada qui como o "estigma" essencial da instituição cristã, mas o seu uso laico, subjetivo. De alguma maneira irônica e não convencional, Buñuel está do lado da instiuição católica.

Ele é contra o uso laico, individual, não mediado institucionalmente da benemerência. E por isso mesmo semeia o filme de signos blasfemos, floresta de associações encobridoras e politicamente ambíguas.

A mascarada da blasfêmia, saboreada com a ausência de compromissos típica de um humorista, encobre uma mais essencial. A razão da crítica à caridade laica é ditada a Buñuel, assim como ao catolicismo oficial, pelo ceticismo diante das paixões humanas, dos caminhos a que podem conduzir a pobre marionete que fala e morre. Pôr a caridade nas mãos da instituição, mediar sua ação através do exercício dos limites de sua disciplina, é garantir um uso mais objetivo e universal à fé. É depurá-la dos abismos da subjetividade, de seus jogos e engenhos. Ao menos formalmente.

Buñuel tem menos de surrealista do que de um moralista na linha de Peres Galdós, Quevedo e qualquer padre da Idade de ouro. Se lhe interessa o olho ácido e atento na promiscuidade entre paixões humanas e objetivos transcendentes é menos na posição de um hedonista anti-clerical que na de alguém que sabe, assim como sempre soube a Igreja, dos limites e misérias humanas. Que sabe que, antes de tudo, é preciso tentar proteger o humano de si mesmo.

Viridiana, antes de ser um afresco irônico, gótico e em tom de parábola, é um documento desta postura. E assim igualmente merece ser visto (e revisto).

.................................__......................... .............__................................

e pra quem gosta de ler:

O ANJO EXTERMINADOR

Ontem, revi algumas cenas do filme, e me veio um insight: este filme contém uma metafísica, e isto não é delírio de estudante de Filosofia. A COAÇÃO A QUE OS PERSONAGENS SÃO SUBMETIDOS CORRESPONDE, NA VERDADE,A UMA ABOLIÇÃO DO TEMPO, O EQUIVALENTE A NOSSA CONCEPÇÃO DA ETERNIDADE POST-MORTEM. Buñuel nos dá a dica: o filme é eivado de repetições e lapsos que nos fazem entrever uma vivência circular do tempo, em que o devir ( e seu potencial transformador, aberto para o futuro) está definitivamente abolido. A frase de Letícia que serve como uma espécie de passe encantatório para a cessação do pesadelo é evidente: as combinações múltiplas favorecidas pelo azar os levam a sair da casa, mas não a vontade dos personagens. Assim como na visão cristã da eternidade, não é o homem que dá as cartas, mas o cosmo. Os cristãos inventam um demiurgo supremo que, de seu nicho imperturbável, manipula, a seu bel-prazer, os inefáveis caminhos dos homens. Buñuel, com sua indefectível ironia, elege um deus muito particular:o acaso. Como em Nietzche, o acaso e a necessidade dão-se as mãos, neste complot diabólico, cuja função é destituir a concepção burguesa do mundo, centrada na possibilidade de domínio/controle racional do tempo: o tempo do trabalho e do descanso, da festa e da despedida. Nesta eternidade regida pelo azar, pelo acaso, os tempos se embaralham, e isto pelo recurso de sua espacialização: a coação na sala equivale a uma "geometrização" do contínuo espaço temporal. Isto parece teorema, mas é simples como a aurora: o tempo é marcado, na noção ordinária da temporalidade, por atos metódicos, transcorridos ao longo de uma linha contínua: acordamos, trabalhamos, evacuamos, comemos, vamos a festas, voltamos, morremos. Ora, tudo isto acontece no filme, mas no espaço; os biombos tem esta função. Lá, os personagens satisfazem suas necessidades mais elementares, seu exercício de transcendência ( simbolizado pelo amor de Beatriz e do noivo) e, finalmente, morrem, cumprindo o círculo do tempo ( morte do casal e do doutor). Nesta eternidade infernal, irônica réplica da celestial fantasia burguesa, o tempo é abolido pela literal "espacialização", mas não só: os personagens contribuem para esta supressão do fluxo temporal. O que vemos é um desfile de manias,de repetições,de rituais: estes elementos tem a função de indicar que o tempo está "parado", que a vida se esclerosou, estacionou. A deambulação dos personagens ao longo da sala,deambulação sem rumo, mas movida por uma imperiosa e cega necessidade de deslocamento, indica o círculo vazio desta eternidade espúria. Eles não vão a lugar nenhum, não podem sair; e, no entanto, arrastam-se, morosamente. Executam movimentos reiterados, penteam os cabelos mecanicamente, dizem palavras desconexas; o ritual em si já perdeu o sentido, mas conserva a forma. Buñuel, a fim de denunciar a esterilidade, o caráter estereotipado dos rituais burgueses, tão vazios e espúrios quanto a Eternidade de fachada sob o fundo ( e a ideologia) da qual se deslocam, cria uma espécie de alegoria farsesca, de conto irônico-metafísico. No fundo,se os personagens não podem sair dali, isto não se dá tão somente pela inércia da vontade, o que parece evidente, mas sobretudo pelo fato de que, no fundo, eles se sentem familiarizados com aquele ambiente: a sua amorfa atmosfera, a vacuidade metódica de suas representações, gestos e palavras remete à vida burguesa de todos os dias. Em verdade, estão no ambiente próprio, cotidiano. Mas a couraça da razão, este artifício limitado,que ratifica a idéia convencional de que mantemos o controle sobre os eventos da vida( através do controle das atividades transcorridas no tempo e seu consequënte planejamento) ,por alguma razão misteriosa, foi rompida, e o que restou foi a sombria verdade, oculta por detrás da regularidade dos ritos; o caráter metódico dos mesmos,assim como a idéia de uma eternidade redentora ( na verdade, de um tempo, um devir anulado, cujo ideal é o controle e planejamento burgueses do tempo) na verdade são devedores, em suas distintas manifestações, de um único deus: o deus da Morte, que preside aos festins da inércia burguesa, de sua ausência de vontade e transformação. Buñuel nos desvela, com vários clin d'oeil, que a Eternidade( de que ele nos dá sua versão), o corolário do idealismo, enquanto concepção essencialmente burguesa, nada mais é do que um eufemismo para inércia da vontade, imobilidade da ação, inexistência de um impulso transformador, vivo. Mas sobretudo para esta abertura, constitutiva de toda vida plena ( vide Nitzsche), para os caminhos afortunados do devir, do acaso. Ou seja:o rígido controle do tempo, até a sua completa anulação,de que a noção de eternidade é devedora, são sinônimos de Morte, de valores que renegam a vida. Remeta-mo-nos a Nietzsche e sua crítica dos valores reativos, mesmo quando travestidos de idealismo, de valores cristãos. Na denúncia do conformismo e do caráter retrógrado, repetitivo, neurótico de organização da vida social, Buñuel encontra, nesta metáfora "cósmica e picaresca", um ponto de distância, apartir do qual nosso vícios mais sórdidos são dissecados com a serenidade impassível de um cientista -ou pior, de uma criança- a dissecar um réptil.
A imobilidade de seus ritos se volta contra a própria burguesia; o conto de fadas forjado para sustentar o caráter supostamente natural, divino da injustiça, chamado de Eternidade, também.O juízo final está instaurado.

ps: Se deu a entender que a principal crítica de Buñuel é de caráter "socialista" ( se é que isto tem algum sentido) esqueçam. O principal ponto de ataque é a mentalidade conformista, uniformizante, estagnada da burguesia, e não a sua situação sócio-histórica. A noção de Eternidade é, digamos assim, a construção depurada, sublime, deste ideal de "negação do devir, da transformação ou, se quiserem, da revolução". Contra-ideal, contra-revolução. O mal do burguês( ou de qualquer outra mentalidade que lhe tome o lugar, proletariada ou não) não é tomar champanhe, mas pugnar pela manutenção de uma ideologia conformista e hipócrita, que tem nos cavalos de batalha da razão a superfície de um processo mais profundo de negação do devir, repito, da mudança.

Katsushiro2006-7-8 9:5:33
Link to comment
Share on other sites

  • 1 month later...
  • 9 months later...
  • Members

 

 

 

 

01. O Anjo Exterminador

02. Nazarín

03. Viridiana

04. O Discreto Charme da Burguesia

05. Os Esquecidos

06. O Fantasma da Liberdade

07. A Bela da Tarde

08. O Alucinado

09. A Idade do Ouro

10. Diário de Uma Camareira  

11. Ensaio de Um Crime

12. A Ilusão Viaja de Trem

 

Uma filmografia e tanto, hein.

Gago2009-07-23 15:19:01

Link to comment
Share on other sites

  • Members

Gênio! Gênio!

 

Buñuel é um dos diretores de mais fascinante filmografia que já pintaram no cinema. Mergulhando seus filmes em um surrealismo delicioso, faz grandes críticas aos convencionalismos sociais, aos costumes burgueses e à igreja, além de normalmente construir personagens com grandes obsessões sexuais (implícita e explicitamente). Ademais, é incrível como ele consegue utilizar temas semelhantes em grande parte de seus filmes e produzir obras tão diferentes entre si (como é o caso de O Anjo Exterminador e O Discreto Charme da Burguesia, por exemplo). Tudo o que eu vi dele até agora é muito, muito foda mesmo, como disse o Carioca, e mesmo quando não chega a ser genial, como em Diário de uma Camareira, ainda imprime sua marca na película e cria coisas interessantíssimas. Fazendo um Top-5 do diretor, ficaria mais ou menos assim (lembrando que O Anjo Exterminador é um dos meus preferidos da história):

 

01. O Anjo Exterminador (1962)

02. Os Esquecidos (1950)

03. O Discreto Charme da Burguesia (1972)

04. A Bela da Tarde (1967)

05. Viridiana (1961)
Dan...2007-06-03 12:11:19
Link to comment
Share on other sites

  • Members

O Diário de uma Camareira é subestimado. Há muitas preciosidades escondidas nesse filme, além de ser bem engraçado também.

 

E O Anjo Exterminador é maravilhoso do começo ao fim mesmo, até porque é possui um dos melhores desfechos da história, né?

 

 

 

Gago2009-07-23 15:16:32

Link to comment
Share on other sites

Join the conversation

You can post now and register later. If you have an account, sign in now to post with your account.

Guest
Reply to this topic...

×   Pasted as rich text.   Paste as plain text instead

  Only 75 emoji are allowed.

×   Your link has been automatically embedded.   Display as a link instead

×   Your previous content has been restored.   Clear editor

×   You cannot paste images directly. Upload or insert images from URL.

Loading...
 Share

Announcements


×
×
  • Create New...