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Cineclube em Cena


Nacka
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Enxak,

 

não acho que em momento algum foi desvirtuado o foco principal do Fórum. A análise do filme caminha junto com a clareza com que as idéias são expostas. Caso não se ativesse á maneira de se expor um pensamento, só poderíamos nos identificar com análises que reflitam o nosso gosto pessoal. Eu, sinceramente, gosto muito mais de um texto bem escrito de alguém relevante do Contracampo, por exempo, ainda que seja contrário á minha opinião do que de uma crítica de alguém que tenha a mesma opnião, que goste do mesmo filme, mas que mal saiba expor suas idéias. Não preciso concordar com a pessoa para admirar e a construção do texto é o alicerce para essa identificação, já que a opinião pode ser oposta.

Fico imensamente grato aos elogios ao texto, mesmo daqueles que não concordam com minha visão. Não acho que ficou tão bom, mal pude reler porque mandei correndo, mas agradeço o elogio. E ainda assim estramos falando sobre a análise de um filme!

 

Sobre essa questão de especular sobre o filme ser do Spielberg ou do Kubrick...não gostaria que isso tivesse sido o foco principal da análise. Pontuei o Kubrick na crítica pois acho importante saber que foi dele a idéia de fazer o filme, foi um projeto que ele dividiu com o Spielberg e tal...mas é interessante lembrar o estilo de cineasta que era Stanley Kubrick, sua visão sobre o homem. Isso possivelmente influenciaria no andamento do projeto, no corpo do filme. Foi isso que eu quis fazer lembrando Kubrick, afinal de contas não dá pra dizer que filme ele faria ao certo. E se você prestar bem atenção eu não afirmei em nenhum momento que ele faria uma obra prima, apenas um filme diferente e possivelmente mais cínico. E isso porque eu acho que era o foco da narrativa, o cinismo e o egoísmo aliados ao amor...sobre o desenrolar, bem, já entrei nos méritos.

Agora, você afirmar que eu não deveria ter assistido ao filme com uma visão de "fanático" por Kubrick é meio demais, não acha? Em primeiro lugar, você me conhece pra dizer que eu sou fanático por este ou aquele cineasta? No meu texto isso não fica implícito, eu simplesmente faço uma menção ao Kubrick, afinal ele estava envolvido no projeto. E dizer que sua filmografia foi basicamente impecável é atestar a verdade, ainda mais se você estuda cinema e se liga nos mais diversos aspectos da construção fílmica. Mas eu não sou fanático por Kubrick, apenas admiro sua notável carreira cinematográfica. Ele não é meu diretor favorito (nem o segundo) e você nem faz idéia de quem são os meus favoritos (e garanto que seguem "estilos" bem diferentes do de Kubrick e entre si), ou seja, "fanático" foi um pouco demais. Ainda mais prestando atenção que, fora o prólogo, não volto ao cineasta.

 

Ainda que você diga que não tenha muita habilidade com as palavras, acho que pontuou suas idéias muito bem. Mas eu não consigo achar bom um filme que "vai perdendo o rumo etapa a etapa", onde o diretor usa de artifícios que podem ser classificados como "melosidade", e que seria melhor caso acabasse mais cedo (segundo você mesmo). Sinceramente, prefiro os filmes que são mais coesos! 05

 

E sobre meu nick...não sei por que o povo implica tanto com isso...06...é tão simples. Meu nome é Thiago, tem gente que me chama de "Thi", outras pessoas me chamam de "Thiaguinho" (de sacanagem, porque eu sou bem alto) e uma amiga em especial me chama carinhosamente de "Tico". Numa pequena adaptação, eu cooquei o H e pronto. Não sei porque é tão ruim...06

Pelo menos eu tô sendo citado para o Pablito!!! 0306
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Dook,

sou péssimo nesse negócio de quote...aliás, sou um analfabeto! 06

Então, vou citar algumas coisas e colocarei em itálico, ok?! 03

 

"Pra começar, dá pra perceber que vc espera que o filme encerre quaisquer discussões que eventualmente venha a suscitar o que eu considero um erro primário. Filmes não são um fim e sim um meio. Filmes servem para levantar questões, não respondê-las. Spielberg levanta questões e, como Kubrick sempre fez, não nos dá respostas."

 

Concordo plenamente, filmes não devem encerrar as discussões, seria muito breve. Gosto de filmes que levantem questões, que me façam pensar, colocar a cabeça pra trabalhar sem fazer com que eu saia do cinema com respostas prontas e fáceis (Michael Haneke, por exemplo, é um mestre nessa questão. Com CACHÉ ele me colocou num questionamento constante que durou duas semanas, até eu elaborar uma "teoria" que me satisfizesse e, ainda assim, não acredito que seja A RESPOSTA. Ou mais, que exista uma resposta). Isso é sim importante. Só que T R A B A L H A R as questões levantadas é também fundamental, sem que para isso elas tenham que ser entregues de mão beijada. Falar qualquer coisa e não tentar, pelo menos, desenvolver um pouco, isso chega a ser leviano. Ele poderia ter falado muito mais coisas já que não precisaria trabalhar os temas; fazer isso através de citações no roteiro é tão fácil...

 

"A sutileza com que Spielberg leva o primeiro ato remete imediatamente aos filmes de Stanley: ritmo lento, pausado, com alguns cortes bruscos entre uma situação e outra e por aí vai. "

 

Certamente nos baseamos em coisas muito diferentes para empregar palavras como "sutileza" ou termos como "ritmo pausado". Eu não consigo visualizar nada de sutil no desenrolar do primeiro ato...a não ser que a chegada de David, a aceitação, o retorno do filho e a facilidade com que se livram dele, tudo isso em meio à "complexa" adaptaçào do robô seja sinônimo de sutileza...e que os personagens, breves e rasos como pires sejam exemplos de construção dramática, que cá pra nós, é plenamente necessária levando-se em conta o intúito de Spielberg. Portanto, não entendendo o contexto que esses termos são empregados, me recolho a meus erros primários.

 

"Sobre as crianças na festa, outro erro de percepção primário: o filme menciona que há uma sanção sobre a gravidez o que não significa que as mulheres estão proibidas de terem filhos. Sanção significa restrição e não proibição. Não entrando em detalhes e partindo para a cena em questão, deduz-se que era permitido ao casal ter apenas UM filho biológico. Vc viu na cena algum casal com 3, 4 filhos? Além do mais, a sanção de gravidez nem sequer é algo de relevância para o contexto, apenas um detalhe para que o universo apresentado no filme seja compreendido."

 

Eu sei o que significa sanção, caro Dook, não se preocupe. E não disse que estariam todos proibidos de terem filhos. Mas gostaria, sim, de saber quais eram os termos para que os casais os tivessem, se envolvia o contexto econômico, classes sociais...o que você disse é bem provável, mas não passa de uma hipótese. Desenvolver esse tema seria interessante, ao menos para mim, que tenho por hábito achar legal saber o contexto das histórias que me são "contadas", ainda mais se elas pretendem estabelecer um futuro imaginário. Mas se você não faz questão de saber de nada, que bom, se decepciona menos! 01

 

 

"Ok e como seria o oposto? Como seria se Spielberg fizesse a atriz encarar sua personagem com extrema frieza e crueldade?"

 

Sugiro que você descubra o significado para o conceito do "meio termo" (precisamos mesmo de opostos? Ou se ri ou se chora? Que coisa interessante isso...Bergman deveria ter sido avisado). É nele que está inserida a tal sutileza...mas acho que temos visões divergentes sobre esses conceitos.

 

 

"Óbvio! Uma história de um menino que sai à caça de uma personagem de historias de ninar não poderia ter uma outra abordagem senão a que teve: a de uma fábula e todas as fábulas são ingênuas. E mesmo assim, Spielberg confere um tom relativamente sombrio aí, pois nada é colorido, nada é bunitinho, apenas a forma como David vê a sua situação e o mundo à sua volta, o que é bem diferente, pois o filme é em 3ª pessoa."

 

Claro, por que haveria ele de tentar ousar, subverter um estilo, fazer algo diferente? A "fábula" dele não é supostamente uma análise cruel? Por que não dar esse tom? Porque as fábulas são assim? É...cinema é uma arte fechada e finalizada, sem lugar para a experimentação. Quem diria Lars Von Trier, que nem esquentou a cabeça em fazer um "musical" baseado na tristeza...ele precisa ser avisado que no cinema tudo deve ser óbvio!

 

 

*Sobre a fotografia:

Se você não notou que todas as cenas do primeiro ato são iluminadas excessivamente no lado mais forte da tela, perceba melhor.

 

*Sobre a arte:

Conexão lógica sim, o mundo foi totalmente criado, deveria ter algo a seguir...não é pra criar encantamento? Que se crie com base; obras de arte não são obras de arte simplesmente por serem belas, elas tem história também. Mas, enfim...subjetividades...

 

*Sobre Rouge City:

Se não é marginal, então por que somente robôs fugidos ou os que não são tão "importantes" (os que servem às indústrias ou os domésticos, somente os do "tipo" de Joe, que é um "garoto de programa"), ou pessoas que buscam diversão onde não tem vão até lá? Que TODO MUNDO é esse? A cidade é marginal sim (deveria) e por "marginal" não leia apenas o conceito de meliante ou coisas do tipo...marginal à sociedade!

 

*Sobre o final:

Não concordo com a leitura de não ser um final feliz, de não ser manipulador, de não ser maniqueísta, e de ser tudo muito cruel trazer a mãe de volta ao menos por um dia...quer coisa mais melodramática, propensa ao choro?

 

Ahhhh, são visões diferentes mesmo. Mas fico contente que tenha despertado você a criticar minha crítica. Admiro sua competência ao expor seus pontos, pena que tenhamos visões tão opostas (mas ainda assim, com meio termo...06)...ou não, afinal, pra quê pensar igual, não é? Eu pelo menos passo longe de ser um robô programado pra qualquer coisa...06

 
Thico2006-10-27 20:27:27
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Alexei, assisti A.I. a primeira vez em outro contexto e o filme até que começou a me envolver. Digamos que eu era mais propenso á ser manipulado (Não estou dizendo que gosta do filme é manipulado, mas acho que Spielberg tenta maniuplar o tempo todo...e descaradamente, mas enfim), estava querendo me encantar com tudo sem com isso perceber a visão real do que seria o filme. cabe dizer que nem sabia que o filme seria feito pelo Kubrick e qual era o contexto da história.

Então o filme entro no terceiro ato, as situações só pioravam e, quando o tal ursinho entrega o cabelo da mãe de David...ah, aí eu me lembrei de A LISTA DE SCHINDLER e de qual era a intenção de Spielberg. Toda a explicaçào decorrente foi meramente preenchimento de espaço pra mim; o filme já estava morto e enterrado. E isso foi uma visão puramente de espectador, sem nenhum tipo de embasamento ou visão técnica.

 

Só depois de muito tempo, muito mesmo, quando comecei a estudar cinema com mais afinco e ler sobre Kubrick que soube do envolvimento com o projeto. E então tudo fez sentido, o quanto a visão empregada por Spielberg era deturpada para mim.

 

Como tive que rever A.I. agora, já sabendo do contexto e com conhecimento maior sobre cinema, achei interessante pontuar isso na crítica. Apenas quis deixar o texto mais rico para quem, como eu, não sabia a partir de onde o filme "foi "concebido". Mas não era minha intenção que minha análise fosse lida apenas como um texto restrito a "o Kubrick faria assim, o Kubrick faria assado", "se não é dessa maneira é errado", não é isso. Mas tenho uma idéia geral sobre qualquer filme que vejo...se o desenrolar toma rumos que não cabem à proposta, bem, não costuma me agradar.

Caso deste filme.
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Só que T R A B A L H A R as questões levantadas é também fundamental' date=' sem que para isso elas tenham que ser entregues de mão beijada. Falar qualquer coisa e não tentar, pelo menos, desenvolver um pouco, isso chega a ser leviano. Ele poderia ter falado muito mais coisas já que não precisaria trabalhar os temas; fazer isso através de citações no roteiro é tão fácil...[/quote']

 

Bom... eu disse onde acho que Spielberg trabalha as questões levantadas, portanto não vou me repetir aqui.

 

Certamente nos baseamos em coisas muito diferentes para empregar palavras como "sutileza" ou termos como "ritmo pausado". Eu não consigo visualizar nada de sutil no desenrolar do primeiro ato...a não ser que a chegada de David' date=' a aceitação, o retorno do filho e a facilidade com que se livram dele, tudo isso em meio à "complexa" adaptaçào do robô seja sinônimo de sutileza...e que os personagens, breves e rasos como pires sejam exemplos de construção dramática, que cá pra nós, é plenamente necessária levando-se em conta o intúito de Spielberg. Portanto, não entendendo o contexto que esses termos são empregados, me recolho a meus erros primários.
[/quote']

 

Talvez eu tenha colocado de forma errada... Spielberg utiliza o primeiro ato (o mais lento de todos) para levantar as questões de forma sutil. Claro que vc vai continuar dizendo que não, mas prossigamos...

 

Eu sei o que significa sanção' date=' caro Dook, não se preocupe. E não disse que estariam todos proibidos de terem filhos. Mas gostaria, sim, de saber quais eram os termos para que os casais os tivessem, se envolvia o contexto econômico, classes sociais...o que você disse é bem provável, mas não passa de uma hipótese. Desenvolver esse tema seria interessante, ao menos para mim, que tenho por hábito achar legal saber o contexto das histórias que me são "contadas", ainda mais se elas pretendem estabelecer um futuro imaginário. Mas se você não faz questão de saber de nada, que bom, se decepciona menos! 01
[/quote']

 

O contexto já foi dado Thico... desenvolver detalhes (e a sanção para gravidez é exatamente isto: um detalhe) atrasaria a narrativa e levaria o filme para outro caminho. O plot do filme não é um mundo onde existem sanções para gravidez.

 

E, sim, dependendo da situação, não quero explicações, pois não raro, a explicação mina a capacidade de imaginação do expectador...

 

Sugiro que você descubra o significado para o conceito do "meio termo" (precisamos mesmo de opostos? Ou se ri ou se chora? Que coisa interessante isso...Bergman deveria ter sido avisado). É nele que está inserida a tal sutileza...mas acho que temos visões divergentes sobre esses conceitos.

 

E como seria o meio termo? Desenvolva' date=' por favor.

 

Claro, por que haveria ele de tentar ousar, subverter um estilo, fazer algo diferente?

 

A partir do momento que ele dá um tom sombrio, submetendo seu protagonista a uma jornada furada e cruel, ele está ousando e subvertendo o estilo... É por isso que filmes como Rei Leão, por exemplo, viram clássicos, pois são filmes que fogem do tradicional (apesar de usar alguns elementos tradicionais do gênero). Quantas fábulas vc conhece em que o protagonista busca algo que só ele acredita e, mesmo crendo que obteve esse algo por um curtíssimo período de tempo, a própria história tira isso dele? Sinto, mas as fábula de A.I. passa longe do que eu tenho por tradicional...

 

E, para deixar a discussão mais interessante, mister se faz a utilização de exemplos para evidenciar e embasar os argumentos. Portanto, na hora do reply, não utilize o espaço para dizer que temos conceitos diferentes pq isto já está claro. Eu citei o meu. Se vc acha que A.I. é igual a todas as outras fábulas, cite uma que se enquadre exatamente no mesmo estilo e que seja considerada uma fábula tradicional.

 

É...cinema é uma arte fechada e finalizada' date=' sem lugar para a experimentação. [/quote'] 

 

Nope... quem está querendo achar (e demonstrar) que cinema é uma arte fechada e finalizada (e que ainda por cima está submetida às regras) é você...

 

Senão vejamos:

 

A fotografia de Janusz Kaminski se perde na super iluminação' date=' ainda mais acentuada no ato final, deixando escapar a possibilidade de retratar a ambigüidade e frieza do ambiente, usando luz excessiva ao invés de sombras.[/quote']

 

Eis um exemplo: quem foi que disse que sombras necessariamente acentuam a frieza e ambiguidade de um ambiente? Isto é uma 'regra' objetiva? Felizmente não conheço tanto de fotografia a ponto de me prender a esse tipo de coisa. Cinema se aprende para que a cabeça possa estar mais aberta a vários tipos de escolhas, não para atrofiá-la ainda mais, IMO.

 

Nessas horas não consigo parar de pensar no personagem do crítico em A Dama na Água.

 

*Sobre a fotografia:

Se você não notou que todas as cenas do primeiro ato são iluminadas excessivamente no lado mais forte da tela' date=' perceba melhor.
[/quote']

 

Não revi o filme antes de analisar a sua crítica e mesmo que o fizesse, pq deveria achar que o excesso de iluminação em algumas cenas é necessariamente prejudicial?

 

*Sobre a arte:

Conexão lógica sim' date=' o mundo foi totalmente criado, deveria ter algo a seguir...não é pra criar encantamento? Que se crie com base; obras de arte não são obras de arte simplesmente por serem belas, elas tem história também. Mas, enfim...subjetividades...
[/quote']

 

Totalmente subjetividades... Kubrick era um cineasta de imagens (assim como DePalma hoje)... qual a história de 2001? Blow-Up? Cinema é a arte da imagem e som... quem quer história, leia um livro.

 

*Sobre Rouge City:

Se não é marginal' date=' então por que somente robôs fugidos ou os que não são tão "importantes" (os que servem às indústrias ou os domésticos, somente os do "tipo" de Joe, que é um "garoto de programa"), ou pessoas que buscam diversão onde não tem vão até lá? Que TODO MUNDO é esse? A cidade é marginal sim (deveria) e por "marginal" não leia apenas o conceito de meliante ou coisas do tipo...marginal à sociedade!
[/quote']

 

O que seria 'marginal' então? Estou curiosíssimo...

 

*Sobre o final:

Não concordo com a leitura de não ser um final feliz' date=' de não ser manipulador, de não ser maniqueísta, e de ser tudo muito cruel trazer a mãe de volta ao menos por um dia...quer coisa mais melodramática, propensa ao choro? [/quote']

 

Onde está escrito que o melodrama é necessariamente ruim? Mais regras, mais eu vejo o personagem do crítico de A Dama na Água... Peguemos dois exemplos: Menina de Ouro e Crash. Ambos são melodramáticos. Pq só um deles é bem quisto?

 

Sobre a questão de vc não achar o final infeliz, sinto, mas fechamos aqui... Mas fico curioso de saber qual seria o 'maniqueísmo' por trás do final de A.I.?

 

Ahhhh' date=' são visões diferentes mesmo. Mas fico contente que tenha despertado você a criticar minha crítica. Admiro sua competência ao expor seus pontos, pena que tenhamos visões tão opostas (mas ainda assim, com meio termo...06)...ou não, afinal, pra quê pensar igual, não é? Eu pelo menos passo longe de ser um robô programado pra qualquer coisa...06[/quote'] 

 

Esta é a primeira crítica sua que leio. Embora eu ache que vc escreva bem pra caramba, não consigo deixar de pensar que vc me parece meio preso à regras... O enquadramento tem que ser desse jeito; a luz tem que ser colocada daquela forma; enfim...

 
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Alexei' date=' assisti A.I. a primeira vez em outro contexto e o filme até que começou a me envolver. Digamos que eu era mais propenso á ser manipulado (Não estou dizendo que gosta do filme é manipulado, mas acho que Spielberg tenta maniuplar o tempo todo...e descaradamente, mas enfim), estava querendo me encantar com tudo sem com isso perceber a visão real do que seria o filme. cabe dizer que nem sabia que o filme seria feito pelo Kubrick e qual era o contexto da história.

Então o filme entro no terceiro ato, as situações só pioravam e, quando o tal ursinho entrega o cabelo da mãe de David...ah, aí eu me lembrei de A LISTA DE SCHINDLER e de qual era a intenção de Spielberg. Toda a explicaçào decorrente foi meramente preenchimento de espaço pra mim; o filme já estava morto e enterrado. E isso foi uma visão puramente de espectador, sem nenhum tipo de embasamento ou visão técnica.

 

Só depois de muito tempo, muito mesmo, quando comecei a estudar cinema com mais afinco e ler sobre Kubrick que soube do envolvimento com o projeto. E então tudo fez sentido, o quanto a visão empregada por Spielberg era deturpada para mim.

 

Como tive que rever A.I. agora, já sabendo do contexto e com conhecimento maior sobre cinema, achei interessante pontuar isso na crítica. Apenas quis deixar o texto mais rico para quem, como eu, não sabia a partir de onde o filme "foi "concebido". Mas não era minha intenção que minha análise fosse lida apenas como um texto restrito a "o Kubrick faria assim, o Kubrick faria assado", "se não é dessa maneira é errado", não é isso. Mas tenho uma idéia geral sobre qualquer filme que vejo...se o desenrolar toma rumos que não cabem à proposta, bem, não costuma me agradar.

Caso deste filme.
[/quote']

 

Ninguém pode falar melhor de suas próprias motivações ao ver o filme do que você mesmo. Mas continuo com a sensação de que você viu o filme preparado para não gostar. Perspicaz como você é, me dê ao menos o benefício da dúvida, Thiago.

 

Por pura coincidência eu estava vendo a enquete sobre os filmes do Spielberg (por causa do Contatos Imediatos, maravilhoso, que acabei de rever) e me deparei com isso aqui, que reforçou minha impressão:

 

Putz' date=' eu ODEIO A.I.!!!!
O Spielberg destriu um projeto que o Kubrick teria feito de maneira sublime. Até hoje não entendo porque o Kubrick não o fez...smiley5.gif

E o final é o que acaba com tudo. Você pára, pensa e diz: "Não pode piorar"
E vem o Spielberg, te cutuca e mostra que SEMPRE é possivel piorar! smiley11.gif

Vou te dizer...água, pinóquio, fadas desgraçadas...isso é o supremo do final ruim!
[/quote']

 

Negritei a segunda frase para você pensar a respeito.
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Fazendo propaganda enquanto a crítica nova não vai ao ar:

 

Filme x Filme

 

http://www.vs-versus.de/Bilder/mainlogo.JPG

Você já passou no novo Filme x Filme do Cineclube em Cena? Calma, não se trata daquele tópico imbecil onde você apenas escolhe um dos filmes propostos e lança um novo "desafio". Neste aqui, temos duas novidades:

 

- Justificação de escolha

- Acúmulo de embates

 

O que está esperando? Passe lá agora mesmo, responda a pergunta em cartaz, lance seu desafio e discuta os filmes propostos !!! 01

 

Link: http://www.cinemaemcena.com.br/forum/forum_posts.asp?TID=12487&PN=5

 

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Caso interesse aos administradores desse tópico (ou de outro, se este for o errado) eu, katsushiro (em completo espasmo de boa vontade ou uma força-não-controlável pela melhoria dos filmes em discussão), me proponho a divagar (ha) sobre Blow-up, Antonioni (revisto por minha pessoa há pouco tempo).

aliás, já tenho escrito (pois tive que fazer um trabalho sobre), é só postar?

 

 

 

aliás, Nacka, você que é o cara aqui da parada:

(reprodução de um post meu em outro tópico)

já frequentei alguns fóruns de cinema.

 

esse aqui é o único em que ninguém (nenhum dos usuários assíduos, nem os moderadores atuantes) se disponibiliza para os usuários votarem os melhores filmes de cada década.

as listas (em ordem de preferência de 1 a 10) de cada um deveriam ser postadas e alguém contabilizaria um certo número de pontos para cada filme dependendo da sua posição no ranking.

 

é lógico que de década em década. começando (sei lá, é uma sugestão, assim como isso tudo) pela de 70 ou 80 (já que antes disso acredito que a maioria aqui tem conhecimento cinematográfico nulo, mas posso estar errado)...

 

em todos os lugares que vi isso, sairam coisas interessantes, nem sempre satisfatórias do meu ponto de vista, mas interessantes.

 

e aí, alguém?
Katsushiro2006-10-30 18:59:47
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Uma discussão sobre Blow-Up seria fodástica, embora pouquíssimos aqui tenham assistido (e duvido que o resto assistirá - e compreenderá - no momento em que o filme estiver na pauta do Cineclube).

 

Mas por ora, até onde sei, o próximo filme a ser discutido é Sob o Domínio do Mal, do Peckimpah.

 

Katsu, mande MP pro Nacka e combine com ele.
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Gostaria de pedir desculpas por parecer meio relapso com relação a esta discussão, mas meu tempo anda cada vez mais corrido e tento visitar todas as partes do Fórum que eu freqüento de uma vez só, o que acaba impedindo que eu consiga comentar em qualquer uma delas. Enfim, erro de cálculo aliado á burrice geram isso, atraso nas respostas. 0906

Mas vamos aos pontos que devo comentar.

Dook, você me pede para definir o meio termo para uma interpretação de uma atriz. Cá pra nós, essa leitura é dela. O que eu disse foi que EXISTE o meio termo entre uma performance que beira a caricatura em determinados momentos (Frances O’Connor está ofegante em quase todas as cenas, ressaltando da forma mais barata a sua “angústia” interna) e um trabalho que poderia ser mais sutil na expressão das emoções de sua personagem. Agora, esse meio termo na construção quem deve encontrar é o ator. E é isso que define os bons atores e os não tem bons assim. Um ator que consegue “descobrir” o personagem, verdadeiramente construí-lo a partir de um texto básico, fazer a leitura do que está incutido nele, desenvolver os sub-textos e criar alguém tridimensional e que não pareça vazio, que seja capaz de exteriorizar suas emoções de forma verossímil (caso seja o ponto)...enfim, esse é o trabalho do ator. Como ele faz isso e o resultado que alcança...bem, aí é que mora a questão. Ingmar Bergman pegava um roteiro, escolhia seus atores e filmava. No roteiro havia a descrição dos personagens, é claro, e Bergman repassava aos atores o que ele gostaria de obter em determinada cena, é claro. Mas ele certamente sabia que haviam coisas que somente o ator poderia expressar e que não estavam escritas no roteiro, não haviam sido ditas por ele, mas vinham do que este ator entende e conhece por seu personagem. O olhar de Liv Ullmann, por exemplo, em PERSONA é algo que não se pode descrever em linhas quaisquer, não se pode pedir e orientar e não se pode definir...aquilo vem dela, do que ela acha que cabe no desenvolvimento. Se na cena principal do filme ela utilizasse de mais gestos articulados ou expressões mais carregadas, qual seria o resultado? E caso se mantivesse “sem expressão”, seria tão bom? Sendo assim, o que ela faz não pode ser o “meio termo”? E é possível definí-lo? Então...como bem dizia o próprio Bergman: “ Não sei expressar o que eu quero dizer em palavras, se fosse assim escreveria um livro...” (isso é um quote livre, não sei se a frase é exatamente assim, ok?!)

“Se vc acha que A.I. é igual a todas as outras fábulas, cite uma que se enquadre exatamente no mesmo estilo e que seja considerada uma fábula tradicional.”

Mas não existe nenhum filme de ficção que queira fazer uma leitura sobre o amor no futuro e que seja uma fábula tradicional... Agora, se A.I. merece créditos por ser “o único”, bem...aí eu não sei...

Sobre fábulas tristes...elas não existem de verdade, no final das contas TODAS são felizes. Mas tem uma que tem o desenvolvimento de certa forma mais cruel e hostil que A.I. Se chama ALICE NO PAÍS DAS MARAVILHAS. Até mesmo este título é irônico...um lugar que causou tanto sofrimento e angústia à pobre Alice...muito mais sombrio e assustador que o mundo criado por Spielberg. E, cá pra nós, Alice consegue o que quer...mas antes disso o caso não é bonito. E até querem que lhe cortem a cabeça...hahahaha. Eis aí uma fábula mais soturna, só que ainda assim não cabe muita comparação.

 

Sobre as definições e conceitos de cinema e o que foi dito sobre eu me ater muito às regras:

O cinema não é uma arte fechada, claro que não (e ainda bem que não). Mas existem sim certas definições, conceitos e artifícios que constituem a tal técnica cinematográfica, coisas que você faz, escolhas e tal, que servem para que você atinja determinado objetivo. Afinal de contas, se você é um cineasta, certamente tem algum tipo de objetivo com seu filme, ainda que seja provocar o choro histérico na platéia a cada 5 minutos.

Então, certos desses conceitos são empregados visando um fim. E baseando na técnica cinematográfica (que o senhor Spielberg conhece muito bem; já assistiu TUBARÃO, Dook? Pois é, ali está uma aula de emprego de vários recursos para extrair _ muito bem, diga-se de passagem _ determinada reação do público), eu digo que certas coisas foram feitas para determinado fim, outras utilizadas de maneira equivocada, já que foram incapazes de provocar, EM MIM ao menos, a reação esperada por Spielberg (e que ninguém queira me crucificar por imaginar o que ele quis com tal ação, ok? Estou especulando...03). O uso de qualquer artifício no lado mais forte da tela é proposital, a iluminação muitas vezes estourada é proposital...a não ser que ele esteja fazendo as coisas ao vento, sem saber com o que maneja...aí piora pra mim, perdeu a noção. Mas não acho que seja o caso, simplesmente é uma questão de opção equivocada. E não digo que ele queira subverter coisa alguma, ousar...um exemplo de ousadia no uso da técnica cinematográfica pode ser citado com Michael Haneke (peço licença para citar mais uma vez o cineasta austríaco). Em CACHÉ, Haneke cria um filme de suspense sem utilizar de trilha sonora (não é necessário que eu diga o quanto a trilha sonora é importante em filmes assim, haja visto a sua utilização muitas vezes excessiva e que todos nós sabemos a razão) e para atingir o público na cena mais forte do filme (quem viu sabe) ele faz o inverso do que se espera. Ao invés de “preparar” o público com a música (coisa que ele não faz em momento algum) e dar um ar de mistério e angústia, ele faz o extremo oposto. Haneke repete basicamente da mesma forma uma cena feita por ele pouco tempo antes da cena em questão. O mesmo posicionamento de câmera, o mesmo ritmo, o mesmo local...tudo isso para deixar o público familiarizado com o que está acontecendo. Inconscientemente você já “passou” por aquilo e nada demais aconteceu antes, como poderia prever que dessa vez pudesse acontecer algo de novo e inesperado? Assim ele trabalha com a parte psicológica do espectador e extrai dele a reação mais sincera e natural possível: a surpresa plena. Haneke pega você pelo estômago, tira seu ar...e sem te avisar. Ele vai contra ao que se espera nesse caso, e o resultado é nada menos que GENIAL. Isso é subverter um termo cinematográfico, é ousar. Portanto não é necessário se prender 100% à técnica para que o filme saia redondinho (e nem que ele seja redondinho). Mas fazer qualquer coisa, usar de um artifício com efeito contrário de forma gratuita, isso é um tropeço dos grandes na minha opinião.

Tenho que sair agora (atrasadíssimo para o trabalho), mas tentarei voltar ainda hoje caso tenha que responder mais alguma coisa (e ainda ficou um post do Alexei sem resposta).

Abraço

Thico2006-10-31 18:51:46
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 Sob o Domínio do Medo (Straw Dogs) - Dir. Sam Peckimpah

 

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Filme: Sob o Domínio do Medo - Direção de Sam Peckimpah. Elenco: Dustin Hoffman, Susan George, Peter Vaghn, David Warner, ano, 1971.

 

Perturbador. Entre outros adjetivos possíveis, acredito ser esse o que melhor define o filme “Sob o Domínio do Medo” (Straw Dogs). Baseado no livro de Gordon Willians (“O Sítio à Fazenda Trencher”), Sam Peckinpah não só dirigiu como ajudou a roteirizar um filme que além de ter o nome alterado (muito apropriadamente segundo uma alegoria do I Ching que diz que os seres humanos não passam de “cães de palha” perante os deuses: só servem para serem sacrificados...) possui também uma estrutura narrativa que, à primeira vista, renega num blefe magistral o estilo de seu realizador (carinhosamente conhecido como “Bloody Sam”) famoso pelo virtuosismo estético e cru de filmar a violência.

 

Fica claro, desde o primeiro até o último frame do filme, que Peckinpah quer priorizar (acertadamente) o clima de estranhamento, desconforto e inadequação dos personagens e não a violência, seja como um fim em si mesma ou reduto exclusivo dos “maus”; seja como exercício exclusivo de catarse – esse último não deixando de o ser no final das contas. Aqui a violência é tratada como uma característica inevitável da vida, daí explodir insandecida e brutal só no finalzinho do longa, mas com o esteio amoral de tonelada, ou seja, a postura dos personagens perante a violência é meramente pontual dentre as motivações mil que norteiam seus atos. Ela se justifica ou não, mas isso é mero detalhe...  

 

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A premissa do filme é simples: um casal formado por um matemático americano chamado David (Dustin Hoffman) e sua fogosa esposa inglesa Amy (Susan George) se mudam para a casa de campo da família dela, localizada numa perdida cidadezinha do interior da Inglaterra, em busca de uma suposta tranqüilidade bucólica com o intuito de David ter a paz que precisa para realizar suas pesquisas. As coisas não saem como planejado não só pelo fato do casamento não ir muito bem, mas também por Amy reencontrar um antigo namorado “cafajeste” (Charlie) que, com a desculpa de trabalhar na reforma do telhado da garagem junto com outros amigos, passa a atormentar e interferir no cotidiano do casal de maneira cada vez mais invasiva e violenta. Pra entornar o caldo de vez, ocorre um incidente trágico envolvendo um rapaz problemático (John Niles) e a filha do violento Tom, morador da cidade e que também é amigo de Charlie e do seu pessoal.  Sedentos de vingança Tom, Charlie e seus amigos partem ao encalço de Niles. Alheio à tudo isso, David inadvertidamente dá guarida à Niles após um acidente onde o atropela e ao tentar agir de modo correto se vê junto da esposa numa verdadeira batalha pela sobrevivência, onde a civilidade cede lugar à barbárie e a truculência de modo insuspeito.

 

É interessante perceber que o filme começa com a imagem de um jardim onde crianças brincam, mas a imagem aparece “embaçada”. Sintomático, visto que o tom do filme é justamente esse. Realidades distorcidas baseadas naquilo que cada um ACHA ser o real: David não percebe os anseios de sua mulher e se faz de bobo perante olhares e intenções da mesma, de Charlie e seus amigos que, literalmente, “secam” Amy a cada oportunidade possível. Amy não percebe e não respeita a necessidade do marido em trabalhar em paz e finge uma “superioridade” e um controle frente ao mesmo e à tudo à sua volta que NÃO POSSUI o que dá abertura para que seja vítima de uma violência terrível. Charlie e seus amigos só pensam em si mesmos, seus interesses são primários e infantis (mesmo depois de cometerem assassinato, chegam a brincar de triciclo...) como crianças mimadas que sempre conseguem o que quererem à despeito da integridade do outro. Aliás, conceito inexistente para eles: o outro é mero brinquedo, um objeto.

 

A cidadezinha parece ser um microcosmo da sociedade em geral: há os “corretos” (o reverendo, o dono do bar, o Juiz, o irmão de Niles etc), mas que fazem de conta que o errado não precisa ser refreado, ser banido, subjugado. Fazem-se de míopes, têm as vistas embaçadas pela conveniência, pela mesmice do cotidiano (sempre foi assim afinal!). São aqueles que deixam uma situação caótica e potencialmente perigosa atingir sua massa crítica e depois, quando se apercebem, estão no epicentro da explosão. A cena onde o juiz “se ferra” mostra isso muito bem...

 

Aliás, como disse no início do texto, para quem já teve o prazer de assistir “A Cruz de Ferro” (exercício de gênero genialmente subvertido não só pela violência, mas pelo fato do “mocinho” ser um nazista...) e “Meu Ódio Será Tua Herança”, “Sob o Domínio do Medo” pode, à primeira vista, nem parecer ser um filme de Peckinpah, pois a violência demora a acontecer de modo gráfico. O que não quer dizer nada, pois aos mais desavisados posso afirmar que ela acontece já no início do filme quando há um flerte descarado entre Amy e Charlie na frente de David... Ora, a violência não precisa ser apenas uma manifestação física que cause dor e sofrimento à carne, mas também ao espírito e a mente. Uma vez isso sabido, percebe-se que “Sob o Domínio do Medo” é tão violento quanto qualquer outro filme de Peckinpah. Aliás, talvez seja o mais violento, pois há nele violências explícitas do começo ao fim e entre outras coisas há uma das mais perturbadoras cenas de estupro jamais filmadas (proibida durante muitos anos em muitos países...) em todos os tempos: seja pela violência do ato em si, seja pelas reações dos personagens.

 

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E por falar em personagens, de todos, sem dúvida David é o mais complexo. Verdadeiro enigma. Em torno dele é que gira a espiral de eventos e é através de seus olhos (às vezes desnudos, quando evita encarar a verdade e/ou bêbado quando enfrenta francamente provocações – como na conversa com o reverendo - ou com seus indefectíveis óculos – quase um “escudo”, um “filtro” pelo qual através do devido escrutínio da “civilidade”, da lógica, do “bom senso”; embaça, mais que mostra, a realidade das coisas) que vemos se prenunciar a cada minuto uma tragédia iminente. Aliás, é interessante perceber o jogo de “tira-põe óculos” de David durante todo o filme. É como se, devido a inadequação de seu personagem, ele fosse quase que obrigado a ficar sempre se policiando em como reagir frente às coisas que acontecem ao seu redor. E a deixa é o ato de pôr ou tirar os óculos. Ele faz escolhas inconscientes do que quer e não quer ver, baseado no MEDO (daí eu achar o título brasileiro excelente), não dos atos externos, mas de si mesmo e da dimensão das suas reações. Ele vive “Sob o Domínio do Medo” todos os dias (a conversa que tem com a esposa sobre o motivo dele ter escolhido aquela casa perdida no meio do nada é reveladora...). Com um trabalho excelente, feito de expressões (um misto de esgar e contrariedade) e um constante desconforto corporal (trôpego, hesitante, quase cômico), dá para perceber que Dustin Hoffman foi uma escolha perfeita para viver o personagem. Difícil não olhar pra ele e ver personificado “O nerd” em ponto de virar um matador sem hesitação. Aliás, até bem frio e calculista. A cena das panelas de óleo fervente e do ataque com um atiçador de fogo mostra isso perfeitamente.

 

O outro destaque vai para a personagem Amy, que faz contraponto à David e nos surpreende e confunde a todo momento, seja pela postura volúvel (o que nos leva a questionar a qualidade ou a falta do seu caráter...), seja pelo tom sarcástico e desafiador com que trata a todos ao seu redor, aparentemente de modo gratuito - o que uma olhada mais apurada indica não ser verdade, pois à despeito de estar acompanhando o marido, não mostra-se “de fato” companheira e compreensiva. David a chama de “fera”, mas a fera revela-se mesmo sendo David (Amy não passa de uma “gatinha” arisca e voluntariosa, mas que cede com relativa facilidade perante uma pressão devidamente aplicada. O embate sadô-masô e de subjugação na cena do estupro mostra isso, bem como a virada do papel “dominante-dominado” em relação à David numa cena desconcertante quase no final do filme).  

 

Aliás, quando David “se transforma” num guerreiro disposto à tudo para preservar sua casa (mero símbolo de coisas mais sutis e já tão violentadas: sua integridade, suas convicções, sua personalidade) há um momento em que podemos perceber o “click” ocorrer não só pela mudança de expressão e do olhar do personagem, mas no fato dele ter uma das lentes do óculos quebrada e a outra intacta. A cisão externa de algo interno. Ele usa a racionalização (estratégia de defesas da casa) para a realização de algo que é puramente instintivo. Ele não hesita. Sabe o que tem que fazer. E a percepção do impacto disso em sua vida dali pra frente é revelada numa cena assustadora, catártica, incompreensível, mas redentora de saber-se quem se é na verdade e o que carrega dentro de si: David deixa Amy em casa em estado de choque e leva Niles de volta à cidade. À medida que o carro é engolido pela noite escura e de nevoeiro denso, Niles murmura que não sabe o caminho de casa. David surpreso com seus próprios pensamentos e com um sorriso enigmático de satisfação no rosto responde “Eu também não.”    

 

REPARE: Há uma insinuação de "incesto" entre os irmãos filhos de Tom, na cena em que Janice e Bobby estão observando David e Amy transando.   

 

      
Nacka2006-11-04 08:18:05
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Só pra concluir minhas considerações sobre A.I.:

 

Thico, uma das coisas que tento evitar ao máximo é comparar um filme e seu diretor com outros filmes de outros diretores para embasar meu ponto de vista. Quando o faço, tento sempre me ater à essência dos diretores e obras comparadas, seu contexto e o papel dos artistas na arte cinematográfica (exemplo de dois diretores que já comparei: Michael Bay e Roland Emmerich).

 

Dito isto, considero descabidas as comparações entre Bergman, Haneke e Spielberg. Colocando no jargão popular, seria comparar uma BMW e uma Ferrari com um Fusquinha 66. Haneke e Bergman fazem um cinema COMPLETAMENTE DIFERENTE do cinema de Spielberg o que já afasta qualquer comentário comparativo.

 

Spielberg é a síntese da indústria hollywoodiana. Ele faz filmes para as massas ao contrário de Bergman e Haneke. A abordagem desses últimos com a suas obras e com o público é radicalmente diferente.
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Não são comparações do filme do Spielberg com os filmes dos demais,c aro Dook. Se ler mais atentamente perceberá que as citações feitas com relação a determinados cineastas e/ou seus filmes foram estabelecidas para exemplificar os conceitos levantados em nossa discussão. No caso da citação ao Bergman, falo sobre a subjetividade da construção dramática de um personagem. No caso do Haneke, a definição e o questionamento sobre técnica cinematográfica.

Não seja tão extremo na interpretação do texto. As citações são válidas e em nada foram feitas para comparar os filmes e sim para exemplificar os contextos de tais elementos narrativos (interpretação, linguagem, subversão da técnica, etc..).01
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Não são comparações do filme do Spielberg com os filmes dos demais' date='c aro Dook. Se ler mais atentamente perceberá que as citações feitas com relação a determinados cineastas e/ou seus filmes foram estabelecidas para exemplificar os conceitos levantados em nossa discussão. No caso da citação ao Bergman, falo sobre a subjetividade da construção dramática de um personagem. No caso do Haneke, a definição e o questionamento sobre técnica cinematográfica.

Não seja tão extremo na interpretação do texto. As citações são válidas e em nada foram feitas para comparar os filmes e sim para exemplificar os contextos de tais elementos narrativos (interpretação, linguagem, subversão da técnica, etc..).01
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Whatever... a exemplificação tem por base obras e diretores que nada tem a ver com a obra que está sendo discutida... é como se, discutindo Sexta-Feira 13, eu começasse a exemplificar os contextos usando Kubrick e O Iluminado; Polanski e O Bebê de Rosemary e por aí vai...

 

Não se trata de ser extremo, mas sim de evitar a prolixidade da discussão, levando o debate pra outro caminho.
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Deadman cada vez que releio sua crítica tenho vontade de comentar algumas coisas, mas as lembranças que eu tenho do filme estão meio embaçadas e sinceramente ainda não o encontrei para rever e não me sinto confortável para alguns pitacos. 

 

Como a publicação da crítica foi feita com atraso, vou esperar até quarta-feira para só então publicar a crítica do J. Silentio para Cantando na Chuva.
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Nacka, eu já ouvi falar (e muito bem) desse filme, só que eu não consigo encontrá - lo de jeito nenhum...Se o Deadman pudesse dizer onde ele encontrou esse filme, seria de muito bom grado (provávelmente esse será o primeiro filme que comprarei no escuro)...

 

 

 

P.S.: Os comentários do Deadman me deixaram ainda mais alucinado para encontrar esse DVD...

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Nacka' date=' eu já ouvi falar (e muito bem) desse filme, só que eu não consigo encontrá - lo de jeito nenhum...Se o Deadman pudesse dizer onde ele encontrou esse filme, seria de muito bom grado (provávelmente esse será o primeiro filme que comprarei no escuro)...

P.S.: Os comentários do Deadman me deixaram ainda mais alucinado para encontrar esse DVD...
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 Silva, acredite, o filme vale uma conferida. Olha, se você é sócio de alguma locadora que se preze, com certeza ela tem esse filme entre os títulos disponíveis para locação. Se não... Não é uma boa locadora!

 De qualquer forma, como eu disse antes, há pouquissímo tempo atrás, o encontrei sendo vendido por R$ 9,90 na Lojas Americanas e à R$ 13,90 numa agência de revistas perto da minha casa.   

 

PS: Pelo que estou percebendo acho que o filme não despertou o interesse da maioria do pessoal daqui... Uma pena. icon_sad

 
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Pelo contrário Deadman, deve ter gente querendo ver o filme... mas daí encontrá-lo e ainda temos o fato de que a crítica foi publicada com um certo atraso... eu fiz um tour pelas locadoras perto de casa e nada... o jeito é comprar, dá pra encontrar aqui por 19,90: http://www.2001video.com.br/detalhes_produto_extra_dvd.asp?produto=9571 e aqui, http://www.europanet.com.br/euro2003/index.php?cat_id=32 também pelo mesmo preço e por 45,00 (os caras são malucos?!?) aqui http://www.artemusical.com.br/busca.asp.
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Deadman, o problema é justamente encontrar uma locadora que preste...As locadoras perto da minha casa não se dedicam a filmes mais antigos ou não tão hollywoodianos (assim como a maioria das locadoras)...Ainda bem que eu tenho TV a Cabo...

 

 

 

P.S.: Valeu pelas dicas, Nacka

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