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Nacka
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Nacka, posso ficar com Encontros e Desencontros? Seria uma oportunidade para rever o filme e, caso a minha opinião continue a mesma (a de achar o filme absolutamente chato), a discussão pode se tornar mais interessante.

 

Sobre Pulp... Acho não tenho nada pra dizer que seja relevante - o filme é OP incontestável. A primeira vez que o vi, apesar de ter reconhecido suas qualidades, tinha achado apenas mediano. Muito provavelmente que eu estivesse louco. Graças ao Cinéfilo tive que rever o filme e dessa vez só faltou eu enlouquecer. hehehe Não encontro palavra que melhor define Pulp Ficiton que "foda". Ainda assim, prefiro Kill Bill. Ou não? 17 Acredito que estão no mesmo nível... Ih, agora nem eu sei. 09

 

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Boa Tarde,

Andei lendo alguns posts do Fórum Cinema em Cena recentemente, mas como ando muito ocupado, nunca cogitei a idéia de me registrar. Entretanto, quando encontrei este tópico resolvi cadastrar-me rapidamente para procurar participar das discussões dos filmes que serão resenhados em breve.

E como na página anterior os usuários estavam colaborando com sugestões, posto aqui algumas idéias de filmes que poderiam gerar boas críticas e render agradáveis discussões:

Animações como Alice no País das Maravilhas, Alladdin, Rei Leão e Irmão Urso da Disney renderiam ótimas análises, entretanto são considerados ótimos por unanimidades e por isso também sugiro A Viagem de Chihiro e South Park - Maior, Melhor e Sem Cortes, desenhos mais adultos que poderiam gerar interessantes discussões. Musicais recentes como Chicago e Moulin Rouge - Amor em Vermelho dividem bastante a opinião do público e poderiam ter ótimas críticas.

E gostaria de indicar também dois filmes excelentes de Alejandro Gonzáles Iñarritu que são Amores Brutos e 21 Gramas e a bilogia Kill Bill, de Quentin Tarantino.

 

Quanto a análise de Pulp Fiction, discordo de que tenha sido fraca. Muito pelo contrário, esta é a melhor resenha deste excelente filme - um de meus prediletos - que já li, e adianto que já li várias. Nunca havia visto alguém dizendo que Tarantino era mais que músicas legais, diálogos sobre cultura pop e bastante violência, e o melhor: Provando. Parabéns a quem a escreveu e que venha a próxima crítica.

 

P.S.: Editei meu post, pois lembrei agora de mais alguns longas que poderiam entrar na lista de filmes analisados: As Bicicletas de Belleville, Jogos Mortais (apenas o primeiro), Sobre Meninos e Lobos e Corpo Fechado, do Shyamalan, que é muito ofuscado pela qualidade dos outros filmes do diretor, mas que na minha opinião é ótimo.

 

Tarântula
Tarântula2007-01-16 17:46:08
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Boa Tarde' date='

Andei lendo alguns posts do Fórum Cinema em Cena recentemente, mas como ando muito ocupado, nunca cogitei a idéia de me registrar. Entretanto, quando encontrei este tópico resolvi cadastrar-me rapidamente para procurar participar das discussões dos filmes que serão resenhados em breve.

E como na página anterior os usuários estavam colaborando com sugestões, posto aqui algumas idéias de filmes que poderiam gerar boas críticas e render agradáveis discussões:

Animações como Alice no País das Maravilhas, Alladdin, Rei Leão e Irmão Urso da Disney renderiam ótimas análises, entretanto são considerados ótimos por unanimidades e por isso também sugiro A Viagem de Chihiro e South Park - Maior, Melhor e Sem Cortes, desenhos mais adultos que poderiam gerar interessantes discussões. Musicais recentes como Chicago e Moulin Rouge - Amor em Vermelho dividem bastante a opinião do público e poderiam ter ótimas críticas.

E gostaria de indicar também dois filmes excelentes de Alejandro Gonzáles Iñarritu que são Amores Brutos e 21 Gramas e a bilogia Kill Bill, de Quentin Tarantino.

 

Quanto a análise de Pulp Fiction, discordo de que tenha sido fraca. Muito pelo contrário, esta é a melhor resenha deste excelente filme - um de meus prediletos - que já li, e adianto que já li várias. Nunca havia visto alguém dizendo que Tarantino era mais que músicas legais, diálogos sobre cultura pop e bastante violência, e o melhor: Provando. Parabéns a quem a escreveu e que venha a próxima crítica.

 

Tarântula
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Um ps aqui, eu não disse que achei fraca.01 Apenas senti a falta de alguma coisa, mas como falei, talvez por causa do próprio filme, que é meu preferido fora aquela trilogia, e de quem o resenhou. A crítica de Era uma Vez no Oeste É a melhor que eu já li sobre o filme.

 

E Tarântula, seja muito bem-vindo ao fórum.
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O estilo da crítica de Pulp Fiction é bem diferente da de Era Uma Vez no Oeste. confesso que, assim como o Forasta, o estilo de Era Uma Vez no Oeste me deixou com as expectativas lá em cima. Não que esta tenha sido fraca, mas confesso que fiquei com a sensação de que faltou alguam coisa para a crítica ficar excelente.

De qualquer modo, foi extremamente váida a crítica, pois destacou certos aspectos ignorados por boa parte das pessoas (inclusive alguns ignorados por mim, o que me fará rever o filme com outros olhos...)
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Boa Tarde' date='

Andei lendo alguns posts do Fórum Cinema em Cena recentemente, mas como ando muito ocupado, nunca cogitei a idéia de me registrar. Entretanto, quando encontrei este tópico resolvi cadastrar-me rapidamente para procurar participar das discussões dos filmes que serão resenhados em breve.

E como na página anterior os usuários estavam colaborando com sugestões, posto aqui algumas idéias de filmes que poderiam gerar boas críticas e render agradáveis discussões:

Animações como Alice no País das Maravilhas, Alladdin, Rei Leão e Irmão Urso da Disney renderiam ótimas análises, entretanto são considerados ótimos por unanimidades e por isso também sugiro A Viagem de Chihiro e South Park - Maior, Melhor e Sem Cortes, desenhos mais adultos que poderiam gerar interessantes discussões. Musicais recentes como Chicago e Moulin Rouge - Amor em Vermelho dividem bastante a opinião do público e poderiam ter ótimas críticas.

E gostaria de indicar também dois filmes excelentes de Alejandro Gonzáles Iñarritu que são Amores Brutos e 21 Gramas e a bilogia Kill Bill, de Quentin Tarantino.

 

Quanto a análise de Pulp Fiction, discordo de que tenha sido fraca. Muito pelo contrário, esta é a melhor resenha deste excelente filme - um de meus prediletos - que já li, e adianto que já li várias. Nunca havia visto alguém dizendo que Tarantino era mais que músicas legais, diálogos sobre cultura pop e bastante violência, e o melhor: Provando. Parabéns a quem a escreveu e que venha a próxima crítica.

 

Tarântula
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Um ps aqui, eu não disse que achei fraca.01 Apenas senti a falta de alguma coisa, mas como falei, talvez por causa do próprio filme, que é meu preferido fora aquela trilogia, e de quem o resenhou. A crítica de Era uma Vez no Oeste É a melhor que eu já li sobre o filme.

 

E Tarântula, seja muito bem-vindo ao fórum.

 

Olá Forasteiro,

Eu não me referia a você no texto acima e sim ao autor da crítica que não ficou satisfeito com a mesma.

Obrigado pelas boas vindas.

 

Tarântula.
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Nacka' date=' posso ficar com Encontros e Desencontros? Seria uma oportunidade para rever o filme e, caso a minha opinião continue a mesma (a de achar o filme absolutamente chato), a discussão pode se tornar mais interessante.

Sobre Pulp... Acho não tenho nada pra dizer que seja relevante - o filme é OP incontestável. A primeira vez que o vi, apesar de ter reconhecido suas qualidades, tinha achado apenas mediano. Muito provavelmente que eu estivesse louco.
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Acho que vc também está louco com relação a Encontros e Desencontros... 06
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Resumo da minha opinião sobre os debates da semana num comentário:

1. Boa resenha do rubysun para um filme indispensável e merecedor de ser reassistido (prefiri alugar Cães de Aluguel, antes de rever Pulp Fiction); o autor mencionou fatos pitorescos e sutis, mas a argumentação ficou mais de lado para o maior destaque da descrição do filme. Concordo com o silva e o Forasteiro, pela crítica de Era Uma Vez No Oeste, poderia ter sido feita melhor esta aqui. Mesmo assim, o ruby deu-me uma aula via MP sobre o filme (inclusive, eu recusei escrever sobre; dando espaço ou para o Tensor - com quem o Nacka não tem afinidades - ou para o rubysun) e colocou em xeque detalhes cools sobre o filme.

 

2. A escolha de filmes é agradabilíssima, a meu ver. Aos poucos, devemos progredir. Acho que a decisão do Nacka é boa, divulgar o cinema no Fórum vagarosamente, começando com as obras-primas indiscutíveis para trazer mais usuários para a sessão cinematográfica, com arguemntos; para aí, sim, partirmos para obras mais cults. Os filmes citados podem render muito, sim, em qualidade; pelas mãos de seu ator (este foi mais um dos motivos de eu ter recusado Pulp: não promover discussões acirradas nem falar com o devido merecimento). Cidade de Deus é um exemplo. O Alexei odeia e o conceito vem caindo com o passar dos anos, seria de bom agrado reestudá-lo passado o impacto inicial.

 

3. Quanto a mim, estou organizando o Festival Kubrick, provavelmente, um mês depois que o do Hitchcock acabar (o título incial é "Uma Quinzena com Kubrick"). Idéias são bem-vindas, já que sua filmografia e meu dinheiro não permitem listas de melhores nem prêmios (mas, se alguém se oferecer)... Para criticar, pretendo falar de: Beleza Americana ou O Homem Que Não Estava Lá (meu avatar) ou A Liberdade É Azul (porém, este último, acho que seria ideal colocar a trilogia inteira).
ltrhpsm2007-01-16 21:01:50
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Depois comento sobre a crítica do Ruby (que aliás, adorei), mas Lt, é óbvio que sua presença será indispensável nessa edição do Cineclube...portanto trate de escolher logo o filme para você resenhar.

Aliás, ainda não vi o nome de um certo mestre de cerimônias na lista também...não pensou que ficando caladinho não seria notado... ou será que teremos que escolher o filme pra ele e fazer o feitiço virar-se contra o feiticeiro? 19

 

 

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Depois comento sobre a crítica do Ruby (que aliás, adorei), mas Lt, é óbvio que sua presença será indispensável nessa edição do Cineclube...portanto trate de escolher logo o filme para você resenhar.

Aliás, ainda não vi o nome de um certo mestre de cerimônias na lista também...não pensou que ficando caladinho não seria notado... ou será que teremos que escolher o filme pra ele e fazer o feitiço virar-se contra o feiticeiro? 19

 

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Eu acho que nós que devemos escolher o filme pro Nackita resenhar... O que acham?! 17 Meu voto vai para Magnólia. 1906

 

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3. Quanto a mim' date=' estou organizando o Festival Kubrick, provavelmente, um mês depois que o do Hitchcock acabar (o título incial é "Uma Quinzena com Kubrick"). Idéias são bem-vindas, já que sua filmografia e meu dinheiro não permitem listas de melhores nem prêmios (mas, se alguém se oferecer)... Para criticar, pretendo falar de: Beleza Americana ou O Homem Que Não Estava Lá (meu avatar) ou A Liberdade É Azul (porém, este último, acho que seria ideal colocar a trilogia inteira).
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Olá,

Li a proposta do tópico Festival Hitchcock agora mesmo e gostei bastante da idéia. Entretanto, como seria impossível realizar um Festival Kubrick utilizando este mesmo molde, sugiro que disponibilize críticas dos treze filmes do diretor neste seu tópico, escritas por usuários diferentes. Desta forma, você não estará gastando dinheiro e nem promovendo a realização de listas (algo que representa um desafio enorme para mim).

 

Tarântula
Tarântula2007-01-16 21:30:21
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Festival Kubrick? Opa! 05

 

Ainda não li a crítica do Rubysun,farei isso em breve.

 

Cidade de Deus é um exemplo. O Alexei odeia e o conceito vem caindo com o passar dos anos' date=' seria de bom agrado reestudá-lo passado o impacto inicial.

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Está aí um filme que eu teria o maior prazer de falar sobre.O Alexei não gosta é? Hmmm...
Enxak2007-01-17 06:12:31
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A lista ficou assim:

 

Rubysun - Pulp Fiction

Dook - Cidadão Kane e Psicose II

Silva - Crepusculo dos Deuses

Scofield - Submersos

Forasteiro - Dogville

Jailcante - Huckabees

Garami - A Criança

The Deadman - Touro Indomável

Thata - Casa de Areia e Névoa 

Ltrhpsm - O Homem que Não Estava Lá

JeFFs - Encontros e Desencontros

Kain - Os Imperdoáveis

Noonam - Herói

Veras - Os Bons Companheiros

Nacka - O Pianista

Enxak - Cidade de Deus

Alexei - A Liberdade é Azul

 

 

dogville.jpg

 

Dia 21 - Resenhado por Forasteiro 

 

Depois

 

cidadao-kane-poster04.jpg

 

Dia 29 - Resenhado por Dook

 

 

Ficaremos apenas com os filmes das duas listas por enquanto, como ainda temos muitos filmes a serem resenhados, fiquem à vontade para escolher. Lembrando que é um compromisso assumido, se disser que faz a crítica vou confiar e nem pensar mais no assunto. Como sei que imprevistos podem acontecer, se for o caso me mandem mp com antecedência para que eu possa procurar um substituto.

 

Tarântula é? Bem vindo ao fórum...  
Nacka2007-01-17 10:24:26
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Ok' date=' eu sei que eu sou novo no fórum e ninguém me conhece e coisa e tal, mas, se possível, eu gostaria de falar sobre Os Imperdoáveis ou O Homem Que Não Estava Lá.

(Ah, se quiserem sugestão de alguma coisa pra adicionar, eu falaria de bom grado sobre Ghost World/Mundo Cão/Whatever.)

Obrigado.
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Para os fins do Cineclube, ter 60 e poucos posts ou um milhão é irrelevante. Bem-vindo. E eu estou te devendo a discussão sobre Naked, não é?

 

Cheguei atrasado aqui nas escolhas, por razões cuja exposição aqui é inapropriada. Tinha cinco sugestões a fazer (Femme Fatale, Topsy-TurvyA Vida Dupla de Veronique, Spider e De Corpo e Alma, todos recentes e fáceis de achar), mas o tempo já passou. Se A Liberdade é Azul ainda estiver disponível, teria prazer em falar do filme.

 

Obrigado pela menção, ltrhpsm. Você se lembou disso, hein? Hehe
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Nacka, se possível, gostaria de escrever sobre "A Liberdade é Azul". Apenas, como diria Santo Agostinho, "sed noli modo" ("mas não para agora"). Como a lista já é suficientemente grande, creio não haver qualquer problema quanto a isso.

 

 

 

 

 

Edit: Só agora vi que o Alexei já solicitou o filme antes. Como não sei sobre qual filme escrever, não editei o parágrafo acima. Mais tarde, analisando as duas listas com calma, escolho algum filme.J. de Silentio2007-01-17 10:28:09

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Dez minutos são uma diferença irrisória. Como suas aparições aqui são um tanto raras' date=' Silentio, eu até prefiro que você escreva sobre o filme, que eu adoro. Depois vejo outra coisa com o Nacka, se der.

[/quote']

 

Na verdade, Alexei, já me decidi. Vou escrever sobre "O Novo Mundo", pelo qual, ao menos até o momento, ninguém optou. Assim, ficamos ambos satisfeitos e também o Nacka.

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Eu até gostaria de escrever também sobre "O Novo Mundo" de Terrence Malick, mas infelizmente ele ainda não está na minha videoteca de DVD. E olha que não foi por falta de procura, eu não vi este título à venda em lugar algum. Eu procurei em várias lojas da Leitura, Americanas, Blockbuster, e outras.

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E infelizmente tive que alugar e passar para VHS.

Plutão Orco2007-01-17 11:02:12
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O filme de Lars Von Trier, literalmente dissecado pelo Forasteiro. Uma peça de 9 atos, cada um deles esmiuçados até formarem um todo assustador.

 

Se você ainda não assistiu corra... já pensou se você morre amanhã? Para se ter uma idéia, o Bernardo Krivochein declara em sua crítica que o master do filme deveria ser emoldurado e posto em uma galeria... OP obrigatória para todo cinéfilo que se preze.

 

Assim como o filme, econômico em seus cenários, a crítica do Forasteiro terá apenas a imagem do cartaz... ah e se você é daqueles (as) que detestam spoilers tá fazendo o quê aqui?

 

dogville-poster04.jpg

Filme: Dogville (2003), de Lars von Trier<?:namespace prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" /><?XML:NAMESPACE PREFIX = O />

 

Sinopse: Fugindo de gângsters, uma bela mulher recebe a ajuda da população de uma pequena cidade para conseguir se esconder. Dirigido por Lars Von Trier (Dançando no Escuro) e com Nicole Kidman, James Caan, Chloë Sevigny e Lauren Bacall no elenco.

 

Prólogo

(que nos apresenta à história e seus personagens)

 

Lars von Trier, diretor dinamarquês e um dos fundadores do Manifesto Dogma 95 (http://pt.wikipedia.org/wiki/Dogma_95), nunca deveria ter sido provocado. Aqueles que o fizeram, lançaram sobre o cinema a sombra de uma fumaça densa e suja, materialização física do ódio de von Trier que, como uma praga divina, recairia sobre suas cabeças, amaldiçoando a “terra das oportunidades” com a mais terrível e pervertida crítica que jamais havia sofrido. Em Dançando no Escuro (imediatamente anterior a Dogville, sobre uma imigrante que vive o inferno na terra ianque), acusaram-no de incoerência e preconceito xenófobo ao realizar um filme sobre um lugar no qual nunca esteve, como se fosse necessário conhecer a matriz que imprimiu o mundo à sua imagem e semelhança. Motivado pelos ataques, portanto, o dinamarquês decide que o melhor modo de revidar é no ringue, iniciando assim uma trilogia de pretensões ambiciosas, batizada de “USA: The land of opportunities”, composta por Dogville, Manderlay e Washington.

 

Dogville é uma cidadela interiorana e quase auto-suficiente que recheia as montanhas rochosas dos Estados Unidos na década negra de 30, engolida pela Grande Recessão. Nela, vive pouco mais de uma dezena de pessoas dos mais variados tipos, incumbidas das mais comuns e variadas funções. Tudo corria normalmente no lugarejo até que Tom Edison Jr. (Paul Bettany), aspirante a escritor e filósofo, responsável pela organização social e porta-voz de Dogville, ouve tiros no vale e encontra Grace (Nicole Kidman), uma doce e indefesa fugitiva da máfia. Ele a coloca para dentro da cidade e convence seus pacatos moradores a abrigá-la, em troca de algumas tarefas a princípio supérfluas.

 

A primeira coisa que chama a atenção em Dogville é, obviamente, seu cenário. O filme foi todo rodado em um galpão de mil e seiscentos metros quadrados, na gélida e nórdica Suécia. Apesar de parecer que von Trier está, meramente, seguindo à risca os mandamentos cunhados por ele em Copenhagen , a ausência absoluta de requintes tem razões metafóricas poderosas para acontecer. Adornos como jardins e pés de groselha são representados por rudimentares rabiscos de giz, tal como o cachorro Moisés. Não existem portas ou paredes na meia dúzia de casas da Elm Street, e não há horizontes em Dogville, apenas dois fundos de cores diferentes, separando o dia da noite. No entanto, ouvimos os latidos de Moisés e os rangidos das portas imaginárias que vemos os moradores abrindo, até que passamos também, em um processo fantástico de adaptação que não dura mais de meia hora, a ver as montanhas e vales que cercam a vila, a sentir a profundidade e o isolamento do lugar, a enxergar as fissuras nas paredes das casas e a textura dos caminhos de terra (os que eu vi eram de terra). É como se o diretor nos desse o esqueleto de Dogville para que a construíssemos em nossas mentes, como se funcionasse através de uma sobreposição de imagens, que se completa ao encontrar as peças que faltavam quando atravessa retinas diferentes. Em certo momento, Tom conversa com Grace sobre seu livro e não sabe com que nome batizará a cidade fictícia na qual é ambientado. Grace sugere “Dogville”, e Tom responde que isso dissiparia a atmosfera universal da estória. Situando seu povoado nos Estados Unidos e o montando de forma que funcione através de olhos individuais, Lars von Trier eleva ao conceito máximo a frase que ilustra a capa do filme, “uma pacata cidade não muito longe daqui”. Dogville é, até o fim, um resumo claro e pessimista do mundo.

 

-Capítulo 1-

(a cidade dos sonhos...)

 

Mesmo que Trier insista em editar seu filme a partir de “nove capítulos e um prólogo”, o que remete ao tom teatral que o acompanha, ele pode muito bem ser quebrado em três, assim como a maioria dos roteiros e suas trilogias de “plot-points”. Grace chega à cidade, Grace é explorada, Grace se vinga. No tal prólogo, muito mais que ao restante dos personagens, o sarcasmo do narrador nos apresenta a Tom e seus anseios, seus métodos de persuasão através de “exemplos”. Tom quer provar ao mundo suas teorias, começando por Dogville, é claro. Segundo ele, há uma dificuldade muito grande em “aceitar”, que “o país não iria tão mal se houvesse mais aceitação”, e precisa de um exemplo forte e concreto para provar sua pseudo-filosofia. É onde entra Grace. Tom vê em Grace sua oportunidade, fazendo com que os habitantes daquela cidadezinha simpática a abriguem, dando a ela duas semanas de “testes”, para que possam depositar confiança na garota.

 

E ela se encanta por Dogville. Encontra na cidade tudo que procurava quando fugiu, e passa a vê-la como a mais perfeita representação do paraíso bucólico, residente talvez nos seus sonhos e fantasias mais antigos, na infância que desejou, mas que nunca alcançou (como é revelado no ato final). “Dizer que Dogville era bonita, era, ao menos, original”, aponta o narrador, com uma sempre presente carga de ironia. Pois se Grace a havia achado bonita, foi porque a cidade, assim como para seus espectadores, atravessara um filtro óptico, que completou a crueza do que realmente era com os desejos e frustrações do que Grace queria que ela fosse. A partir daí, a forasteira dócil e simpática passa a desejar o que perdera, estando disposta a tudo para ajudar seus sofridos habitantes até, quem sabe, tornar-se um deles. Ela, que conheceu apenas a maldade e a arrogância vivendo entre os gângsteres (“uma infância triste, um homicídio”), refugia-se em Dogville em busca do que nunca teve. E além de querer encontrar, ela, acima de tudo, quer acreditar que vai encontrar.

 

O preço pelo abrigo é trabalho braçal. “Dogville lhe deu duas semanas, o que dará a ela?”, indaga Tom, na noite em que apresenta a Grace o lugar que ama. O problema é que, aparentemente, não havia nada para ser feito. Grace vai a todas as casas, fala com todas as pessoas e, no entanto, não consegue nenhuma ocupação. O trabalho seria o condutor que aproximaria Grace de Dogville, seria o catalisador da confiança, ela precisava disso. Com a intervenção de Tom, porém, pouco a pouco vão surgindo coisas nas quais ela poderá se tornar útil. Grace passa a receber um pequeno salário e, “fazendo tarefas que não precisavam ser feitas”, conversando com um cego muito vaidoso, ajudando Vera com seus sete filhos, Sra. Henson com os copos, Ben com a garagem, o pai de Tom com os remédios, Chuck com o pomar, Bill com os cálculos, Martha com o piano, Olívia com a inválida June, e Ma Ginger com os arbustos de groselha, ela passa a se integrar e conhecer os moradores, sentindo-se parte daquilo e, claro, encantando-se ainda mais. Gradativamente, os pobres citadinos de Dogville percebem o quão maravilhoso é ter alguém fazendo o que não precisava ser feito, e o supérfluo torna-se necessário, fazendo com que a votação na igreja após duas semanas tome resultado óbvio.

 

-Capítulo 2-

(... wake up, Grace)

 

Quando a primavera se deita sobre Dogville, a polícia vai à cidade pela primeira vez, talvez em toda sua existência, trazendo consigo um cartaz. Nele, a foto de Grace é acompanhada pela palavra “desaparecida”, e os moradores acabam se assustando, o que resulta em uma nova reunião. A Sra. Henson se preocupa com a última frase do policial, dizendo que se a vissem deveriam ligar para as autoridades, e que isso “é a lei”. Aparentemente, a idéia de infligir a lei incomodava aquelas pessoas, “que nunca se metiam em nada”. O simples fato de estarem fazendo algo considerado “moralmente questionável” fazia com que a possibilidade de entregar alguém que já conheciam há semanas fosse digna de avaliação, mesmo que o motivo de sua fuga permanecesse oculto.

 

Uma (talvez inevitável) paixão envolve Tom e Grace, agora unidos por teoricamente bem mais que pena e gratidão. Quando chega o feriado e a festa de 4 de Julho, no entanto, Tom perde a primeira chance de tornar seus sentimentos públicos, e ao mesmo tempo, paradoxalmente, revela pela primeira vez sua falta de coragem. Na mesa de jantar, noite da festa, enquanto Dogville cantava orgulhosa o hino dos Estados Unidos da América, Grace já era tida como o que seu nome significa, é considerada enfim o presente do qual Tom falava no início. Logo após Jack Mckay (o cego ante-citado) fazer um discurso emocionado sobre a alegria de todos ao terem Grace por perto, a polícia visita a cidade pela segunda vez. Com outro cartaz. Enquanto a fugitiva se esconde na mina, como combinado, o medo de todos diante daquela autoridade começa a pesar em Dogville, como se evaporasse de cada um, formando uma camada espessa que levitava sobre a cidade, bloqueando a luz do sol e asfixiando os arbustos de groselha. “A palavra ‘perigosa’, no cartaz, assustou a Sra. Henson”, diz Tom a Grace. O policial disse que a moça loira era procurada por assaltos a banco, que haviam acontecido há duas semanas atrás. Mesmo com um álibi em mãos, com grande padrão de confiança conquistado, a palavra “perigosa” havia assustado a Sra. Henson. Neste momento, os moradores da vila revelam uma inviolável dependência e entrega cega às garras do sistema. Não importava o quanto Grace se esforçara, não importava se o que encontrara em Dogville eram amigos, eles estariam dispostos primeiro ao Estado, depois a ela.

 

As coisas mudaram no dia seguinte. Representando seus vizinhos, Tom impõe a Grace que agora Dogville corre mais perigo, e que precisa de mais em troca. E apesar do que Tom sentia por Grace, é ele quem propõe a desgastante nova jornada de trabalho. Mesmo que nada fosse verdade, Vera, Ma Ginger, Chuck e os outros esperavam o momento em que usariam seu presente à vontade. Pois agora, tinham um motivo justificado pra isso, e não queriam a verdade caso esta não lhes conviesse. As tarefas de Grace se intensificaram, mas seu salário (com o qual comprava os bonecos porcelânicos de gosto duvidoso), não. Aliás, pelo contrário.

 

Agora, Grace precisa passar nas casas de cada um duas vezes ao dia, o que lhe dá meia hora de trabalho por vez em cada casa. O dia alucinante de Grace é acompanhado com muita inventividade por von Trier que, em dado momento, sob uma vista aérea da cidade, desenha na tela as casas de um relógio e transforma a sombra da torre da igreja em um ponteiro. Quando Martha toca o sino outra vez, avisando Grace que mais um turno de trinta minutos acabara, ela corre para não chegar atrasada ao pomar de Chuck e pega um atalho pelo caminho de terra través dos canteiros de groselha de Ma Ginger, que a repreende. Para Ma, Grace não podia usar a passagem. Este momento é crucial e revela mais uma das garras do filme contra, não só os Estados Unidos, mas todo e qualquer representante do primeiro mundo procurado por imigrantes. Boa parte do império ianque se apóia com força sobre a imigração ilegal, que no caso, é toda representada por Grace. Grace até podia ser boa para ajudar a todos nas mais diversas funções, a trabalhar quase de graça por mero abrigo, mas não era o bastante para que pudesse passar por entre as groselhas de Ma Ginger. Apesar de ajudar a construir a cidade, Grace apenas poderia ficar grata por Dogville recebê-la e abrigá-la. Ela seria eternamente um peão, uma operária, uma base de descarga, um fio-terra. Tudo, menos um deles. Grace viveria para Dogville, mas jamais teria Dogville. Um quartinho num canto, assim como Moisés, era o máximo que conseguiria. Mesmo cuidando diariamente dos arbustos de groselha, não lhe era permitido usar o caminho entre eles.

 

Após o estafante dia de trabalho atravessado por Grace, Tom a visita, e algo ligeiramente estranho acontece. Durante a conversa inteira, ele parece justificar todas as condenáveis ações dos seus vizinhos.

 

-Capítulo 3-

(primeiro estupro)

 

É irônico e até previsível que a queda das faces em Dogville comece pelas crianças. Jason, um dos sete filhos de Vera e Chuck, é o primeiro entre todos a chantagiar Grace. Revelando uma predileção excêntrica pelo masoquismo, ele pede a Grace que bata nele. No ato final, ela talvez até tenha pensado em Jason antes de fazer o que fez, como parte do futuro da cidade, como o espinho que surgiria nas groselhas com a aurora da próxima primavera. Jason seria um produto de Dogville, provavelmente o máximo que pudesse oferecer ao mundo. Caso a cidade tivesse continuidade, um Jason manipulador e masoquista seria deixado de presente a alguém que passasse por ali anos mais tarde.

 

Basicamente, há dois estupros significativos em Dogville. Um cometido por Chuck, e outro, por Ben. Chuck não gostava da presença de Grace até que, em sua companhia junto ao pomar, seu desejo sexual é despertado. Em outra visita da polícia, para colar outro cartaz, Chuck vê a chance para conseguir o que quer. Usando os policiais e o medo de Grace por ser descoberta, ele a chantageia ao silêncio e a estupra em sua casa. Lembrem que falei, no início, das razões metafóricas poderosas que envolveram a decisão de von Trier pela ausência de paredes. Enquanto Grace é violentada, através das paredes inexistentes é possível ver com clareza os demais habitantes da cidade. Distraídos, displicentes, indiferentes. E acima de tudo, é possível ver Tom, o homem que a ama, há poucos metros de distância.

O espectador aqui é abençoado com a onipresença divina, apenas ele vê e sente o que está acontecendo. É quando a câmera vai para a Elm Street, e percebemos que as aparências começam a despencar. Diferentemente de alguém que estivesse passando pelo lugar, conseguimos enxergar através das paredes, através da face dócil e amena daquela cidadezinha pequena onde todos se conhecem, e nos defrontamos com o horror. Intrínseco. Somos usados como parte da trama para que a passividade conveniente e o pacifismo aparente de Dogville entrem em choque com o absurdo sofrido por Grace. Daria para imaginar a obra de Trier encadernada como um livro, mas não há possibilidade de reprodução do que a cena acima representa. Utilizando seu narrador e suas imagens, von Trier acaba criando uma poesia sutil entre literatura e cinema. Faz com que o sarcasmo do narrador seja tão incomparável quanto o choque que o primeiro estupro produz. Somos apresentados ao funcionamento de duas linguagens diferentes, e como Dogville perderia grande parte da sua mágica caso fossem separadas.

 

Logo após o estupro, quando Chuck bate a porta e encontra Tom do lado de fora, este sem dúvida sabe o que aconteceu. Era inteligente e a obviedade do que acabara de ocorrer lhe saltava aos olhos, ainda mais com a resposta que ouvira de Chuck ao perguntar se Grace estava ocupada. No entanto, deixava sua covardia quase contorná-lo e destacá-lo entre as montanhas rochosas que tragavam a cidade. Ele pára em frente à porta, e enquanto Grace chora dentro da casa, ele faz um gesto como se fosse entrar, mas desiste. Tom teme o que vá encontrar e a responsabilidade que teria que assumir, assim, prefere permanecer admitindo uma falsa ignorância, apenas para preservar seu ócio e indiferença.

 

A esta altura, Chuck violentava Grace todos os dias no pomar. Vera, esposa de Chuck, ao saber da “saliência” de Grace para com seu marido, resolve visitá-la à noite. Um por um, Vera estraçalha no chão os bonecos de porcelana que Grace havia comprado, através de muito trabalho oferecido à cidade. Além que quebrá-los, ela tortura Grace, dizendo que só pára se ela contiver suas lágrimas. Logo no início do filme, quando Tom apresenta Dogville a Grace, os dois param em frente à única loja do lugar e discutem a aparência dos tais bonecos. Grace, que até pouco tempo teria dito que eram horríveis, agora os considera bonitos. Os bonecos funcionam como o termômetro do que Dogville é para Grace. Na noite em que foi apresentada, ela estava rodeada por todos os lados de uma esperança inocente, de um altruísmo verdadeiro combinado com as segundas intenções de se tornar, também, parte daquele lugar. Após semanas de trabalho e salários conquistados, Grace vai comprando um a um os sete bonecos, convicta de que está conquistando, a partir de cada um deles, um pedacinho a mais de Dogville e seus habitantes. Mas quando Vera vai a sua “casa”, depois que o primeiro estupro acontece, e quebra os bonecos, as esperanças de Grace também são quebradas. Seus sonhos de constituir uma vida que sempre desejou e de ser Dogville morrem estilhaçados. Desiludida, Grace decide fugir, e Tom, ajudá-la. Ben, que saía de manhã cedo no caminhão e descia a Georgetown com as maçãs, parece a escolha perfeita no plano de Tom para evadir Grace e dar-lhe a “liberdade”. É quando o segundo estupro acontece.

 

 

-Capítulo 4-

(segundo estupro)

 

Grace deita na parte de trás do caminhão, junto às maçãs, coberta por uma lona que, através da câmera de Lars von Trier, torna-se transparente. Ben pára o caminhão, diz para Grace não fazer barulho porque estavam na frente de uma igreja, e a estupra. Apesar de o ato em si não se diferenciar em nada do praticado por Chuck, os elementos e as circunstâncias o tornam tão cruel, simbólico e único quanto. Não me pareceu coincidência alguma que Ben tenha parado exatamente em frente à igreja, concebendo a própria materialização do barroco, onde o imaculado se encontra com o profano, paradoxo cujo sentido se amplifica no ato final. Também é notória a hipocrisia clássica que verte do momento. Enquanto Ben se sentia envergonhado por ir a um prostíbulo uma vez por mês, mas ia, não se orgulhava do que estava fazendo. No entanto, fazia, e com prazer. Porém, para amenizar qualquer culpa que possa vir a sentir, Ben precisa de um motivo, precisa também de sua justificativa. Ao encurralar Grace, ele diz que precisa cobrar um adicional para transportar “cargas perigosas”. Sabendo que ela não tinha nada, faz questão de receber da pior forma possível.

 

Por fim, a lona transparente nos traz de volta àquela onisciência supracitada, quando ganhamos asas e olhos de deuses, voando sobre o caminhão e apenas observando o que acontece. O que incomoda na cena, o que a torna tão dura e fria, é a opção de von Trier por nos colocar em frente a um estupro, onde não vemos partes do corpo à mostra nem nada que remeta à sexualidade, apenas a expressão sem vida no rosto de Grace. Não sentimos Ben, de costas, sentimos Grace. Parte de um processo pelo qual nos compadecemos gradativamente com a dor da personagem, e começamos a ter idéias das quais, certamente, não nos orgulharíamos. Ao menos não antes do ato final. Depois do estupro, ela adormece tranqüila, pensando já estar longe de Dogville e seus habitantes. A (também aparente) fragilidade de Grace é capaz de desenhar aqui a cena mais bonita de todo o filme, tornando-se inclusive seu rosto em cartazes e locadoras.

 

Traída por Ben (como se já não bastasse) ela é levada de volta à vila e julgada por, além da fuga, um crime que não cometeu: o roubo do dinheiro do pai de Tom. Quem pegou o dinheiro, na verdade, fora o próprio Tom, confessando a Grace que ajudou a convencer os habitantes de Dogville sobre sua injusta culpa, exercendo sua vocação à manipulação. Tom havia pegado o dinheiro, mas não iria a lugar algum, pois apesar de pregar contra o sistema, dependia dele. Tom não podia ignorar a pensão que seu pai lhe dava. Apesar de tudo, nosso iluminista se justifica com Grace, e muito bem.

 

-Capítulo 5-

(a coleira)

 

A esta altura, Dogville depende de Grace. As tarefas que não precisavam ser feitas, através do condicionamento, tornam-se essenciais. Bill Henson, cuja habilidade em engenharia evoluiu unicamente a partir dos auxílios de Grace, constrói agora uma espécie de coleira que a prende à cidade. Contudo, superando seus limites, Bill concebe o aparelho com tal inventividade que permite a Grace realizar suas tarefas, apesar do cárcere. É clara a intenção de Lars von Trier ao nos fazer olhar Grace rastejando de lá pra cá, arrastando uma roda de ferro e com um sino no pescoço, como se fosse uma vaca ou algum animal criado para servir. Dogville tem, agora, mais uma razão para explorar a fugitiva e, conseqüentemente, encontrando na vingança falsa um pretexto para abusar dela de todas as maneiras. Grace conhece a fúria e a crueldade debaixo daquela atmosfera nostálgic. Os homens da cidade, à exceção de Tom, passam a visitá-la periodicamente. Os estupros se seguem incontáveis, punindo a garota através de pecados fabricados.

 

Preocupado com a situação, Tom resolve que é hora de convocar uma reunião para que Grace denuncie cada um de seus agressores face a face. “Mentiras, mentiras deslavadas!”, esbravejam eles, quando Grace os confronta com a verdade. Suas acusações acabam servindo como estopim para uma reação defensiva da cidade: entregar Grace. Na noite da reunião, depois que ela é mandada para sua “casa”, Tom sai e vai até lá. Declarando seu amor por Grace, ele tenta possuí-la argumentando que era o único em Dogville sem ainda tê-la tocado. Apesar de amá-la e de “planejar a seu favor”, Tom, voltado para seus interesses (no momento, comuns aos do resto da cidade), tenta também explorar Grace. No entanto, ela também o confronta com a verdade por um instante. Diz que pode fazer como os outros e ameaçá-la também. Ele enrijece. O terceiro estupro explícito não ocorre. Tom sai da casa de Grace, pensa, pega um número de telefone e volta para a reunião.

 

No dia seguinte, surpreendentemente, Grace dorme até meio-dia sem ser incomodada. Quando sai, é tratada com uma cordialidade absurda pelos cidadãos de Dogville, e descobre que ganhou dois dias de folga. Tom teve a idéia, obviamente, e confessa a Grace que se inspirou com o acontecido na noite anterior, podendo assim finalmente iniciar seu livro. Parecia que Tom, enfim, havia encontrado o exemplo que queria, e nada mais o impedia para que começasse a cavar nas almas humanas, “bem onde criam bolhas”. Apesar de tudo, o jovem filósofo parecia estar obtendo êxito, parecia enfim ter provado a Dogville que ele tinha razão. Para ele, tudo não passa de um experimento egoísta, e, portanto, não precisando mais de Grace, ele a devolve, e Dogville também. Alimentada pelas acusações de Grace na reunião e pelo forte poder de persuasão de Tom Edison Jr.

 

-Capítulo 6-

(ELES visitam Dogville)

 

O ato final, permeado pela conversa no carro e a chacina, concentra os minutos e palavras mais importantes desta obra-prima de Lars von Trier. Depois de descobrirmos que Grace é filha de um gângster poderoso e que ele só está ali a fim de levá-la para casa, um diálogo recheado de metáforas e referências é travado. A primeira coisa que se sobressai é a personificação clara de Cristo e Deus em Grace e seu pai (cujo nome nunca é revelado, interpretado por James Caan) quando, para tentar trazê-la de volta, lhe oferece parte de seu “poder”. O que se segue vem a confirmar esta visão, como quando Grace diz “não sou eu quem está julgando, pai, você está”, e ele a responde “você não julga ninguém porque tem pena deles”. A esta altura, já presenciamos uma espécie de debate divino para decidir o destino de meros mortais. Grace tenta justificar a inocência de seus agressores, o que pode ser traduzido como um “perdoai-lhes, eles não sabem o que fazem!”, seguido de uma argumentação promotorial protagonizada por seu pai:

 

- Estupradores e assassinos podem ser vítimas pra você, mas pra mim são cachorros.

- Os cães obedecem à sua própria natureza, por que não merecem perdão?

- Podemos ensinar muitas coisas úteis para os cães, mas NÃO se lhes perdoarmos sempre que obedecem à sua natureza.

 

Segundo o pai de Grace, portanto, o livre-arbítrio é passaporte válido para um julgamento que pode levar os seres humanos tanto à punição, quanto à redenção. Grace, encarnando o messias que desce a Dogville para salvar suas almas, não acredita nisso, e é onde entra a arrogância da qual ela e seu pai tanto falam. Perdoando toda e qualquer ação, Grace estaria lhes negando o julgamento garantido através do livre-arbítrio. “Todo ser humano deve responder pelos seus atos, mas você nem dá a eles esta chance”. O braço misericordioso de Grace é falso, e ela ergue-se sobre ele permanecendo acima do resto, tomando para si o conceito de “perdoar é divino”. “Você perdoa às pessoas com desculpas que nunca permitiria dar a si mesma”, diz-lhe seu pai.

 

Depois que Grace repete várias vezes suas intenções de permanecer na cidade, seu pai pede que saia, pense um pouco, porque ele tem certeza de que ela mudará de idéia. Dando uma volta na Elm Street, decorada agora por sombras com metralhadoras e os rostos pálidos de seus habitantes, a compadecida e não mais fugitiva Grace coloca-se no lugar da carne fraca e pergunta a si mesma se, sinceramente, não teria feito o mesmo caso morasse em uma daquelas casas.

 

-Capítulo 7-

(ela muda de idéia)

 

No entanto, uma lua cheia e simétrica se acende no céu de Dogville, derramando sobre ela uma luz ácida e áspera. Finalmente, Grace vê a cidadezinha sem as paredes e sem as portas. Vê reveladas as feras por baixo dos homens e assiste aquela luz que “penetra nas falhas e frestas das pessoas”, incandescente, forjar sua opinião, agora afiada e inquebrável.

 

Grace volta para o carro e pede pelo poder, imediato. Como que para extinguir quaisquer dúvidas que ainda poderia ter, ela é chamada por Tom para uma conversa. O porta-voz do lugar desculpa-se e usa o medo como sua justificativa, logo a seguir diz que o exemplo ali superou suas expectativas, construindo ao redor de Grace um pilar de certeza inabalável, e a fazendo voltar ao carro.

 

Grace julga Dogville (“o mundo ficaria bem melhor sem esta cidade”) e pede a seu pai um apocalipse. O que ela diz antes que a ordem seja executada lhe retira qualquer argumento de que estivesse agindo por legítima defesa ou algo que resguardasse um hipotético direito seu. Isto caso fosse usá-los, é claro. Nesta parte, von Trier começa a brincar com nossas noções de moralidade, fazendo com que a frase dita por Grace seja saboreada como um molho que passasse pelo azedume do choque inicial, um certo agridoce do súbito questionamento para que, só no fim, percebêssemos o suculento e voraz sabor carnal da vingança descendo e massageando nossa garganta.

 

“Há uma família com filhos...”, o silêncio de Grace é interpretado como o prenúncio de uma resposta óbvia pelo espectador, que recebe isto: “mate os filhos primeiro e faça a mãe olhar. Diga que se ela chorar, vai matá-los. Eu devo isso a ela”. Vera, a mãe em questão, esposa de Chuck, quebrou os sete bonecos de porcelana que Grace sofrera tanto pra comprar. O que ela devia a Vera era um julgamento, no lugar do falso perdão como instrumento de superioridade. Matar os sete filhos de Vera na sua frente era um modo de saldar a dívida, de dar àquela mulher a chance de pagar pelo que cometeu, conforme dissera seu pai.

 

-Capítulo 8-

(o julgamento final)

 

 

Grace, sem temer a maldição da estátua de sal, pede para que as cortinas do carro se abram e revelem a nova Gomorra sob a luz encarnada das chamas, diluindo-se em si mesma. Ao acaso, Tom permanece como o último cidadão de Dogville vivo. Grace pega a arma de seu pai, caminha até ele, e ouve suas últimas e ainda arrogantes palavras, silenciadas por um tiro na cabeça. Ela retorna ao carro e diz a seu pai que “há coisas que temos que fazer com nossas próprias mãos”. Trata-se da sentença final para Tom Edison Jr., cuja ambigüidade retratada e construída ao longo do filme é quase poética nas mãos de von Trier. Desde o início, somos apresentados a Dogville guiados pela voz sarcástica do narrador e pelos passos de Tom. Trier faz com que gostemos dele, afinal, está se falando do iluminista da história, o homem com idéias à frente de seu tempo, quanto mais de Dogville. Ele é o apaixonado pela mocinha e faz de tudo para libertá-la. “Mas tudo que tinha feito não era bom o bastante”. Tom é o intelectual ocioso, passivo como é da natureza de todo crítico social. Hipócrita ao dizer se rebelar contra um sistema do qual depende, e que terminará por proteger. “Há coisas que temos que fazer com nossas próprias mãos” é um recado dado a todos os personagens que vivem em Tom Edison.

 

Ao fim de tudo, pai e filha se preparam para deixar a cidade, quando ouvem os latidos de Moisés. Ela outra vez sai do carro e vai até ele que, como sempre fez, rosna em resposta a sua presença. Grace impede que o matem, deixando-o em paz, dizendo que “ele só está bravo porque um dia peguei seu osso”. Moisés não gostou de Grace desde o início, apenas ele foi sincero e apenas ele teria motivos para sentir ódio e querer se vingar dela. Desde sempre, Moisés foi o que foi, um cão. Ele não se fez passar por nada, não se cobriu de moralidades, não se escondeu por trás da fachada inocente de Dogville. Por outro lado, os demais habitantes da cidade foram cachorros travestidos de humanos. A violência de sono leve, inerente ao homem, surgiu como a face real da cidade, encoberta pelo traje bucólico e encantador que conquistou Grace. Em contraponto, Moisés nunca fez nada para conquistá-la. Com isso, as esperanças de Grace em ver um mundo melhor através de perdão saem de cena derrotadas, engolidas pelo desfiladeiro junto com a Canyon Street.

 

-Capítulo 9-

(um inquietante final feliz)

 

Durante os créditos finais (compostos por fotos em preto e branco de pessoas comuns, estampadas no fundo musical irônico e provocativo de David Bowie, Young Americans), o espectador tem a chance de começar a digerir a experiência pela qual acaba de passar. E talvez perceba apenas no dia seguinte, se tiver sorte, mas se sair da seção fazendo as perguntas certas, é possível, inclusive, que tenha dificuldades para dormir. Pode até ser subjetivo, mas o fato é que a grande maioria de nós se sentirá muito bem durante aqueles créditos, mesmo sem saber exatamente o porquê. Talvez os assassinatos e a queda de Dogville não tenham surpreendido o espectador (até porque, a primeira frase do narrador é “esta é a triste história da cidade de Dogville”), mas certamente, o que ele sentiu ao presenciar o banho de sangue lhe fará questionar seus princípios.

 

Lars von Trier nos prova que está certo ao nos fazer sentir podres por termos gostado de ver uma chacina, mesmo quando as metralhadoras eram apontadas para velhos e crianças. Assim, nos damos conta, perplexos, de que o final triste é feliz, o mais feliz possível, na verdade. Apenas uma vez tive a chance de provar desta sensação, e ela tinha um sabor esquisito de laranja e graxa, daqueles que, depois de engolir, você não sabe se gostou ou não, ainda que escondesse certeza da resposta, por medo dela.

 

O dinamarquês conseguiu, definitivamente, bem mais que irritar alguns críticos ianques. Tenho certeza de que não foi seu ódio que construiu Dogville, este apenas serviu de faísca para que o parto desta nova obra-prima acontecesse. Todas as referências, as metáforas, a poesia com imagens cruas, e todas as maravilhosas metamorfoses que levam a elas, ocorrem através do irrefutável pessimismo do diretor, que perigosamente, nos invade durante os créditos. O pior (ou melhor) de tudo é concluirmos que talvez não estejamos em frente a uma obra de ficção, talvez a verdade esteja ali, retratada como nunca fora. Talvez mereçamos que um deus intolerante olhe de volta aqui pra baixo e nos esmague. Talvez não haja redenção onde os cães se escondem sob peles de homens... Mas onde, onde é isso? Talvez, “em uma pacata cidade não muito longe daqui”.

 

Preste atenção:

 

Nos dois estupros e no diálogo entre Grace e seu pai.

 

Por que não perder:

 

Porque é uma obra-prima, me chocou de tal forma que não consegui pensar em outra coisa durante uma semana toda. Um filme pra pendurar na parede da sala, cujas questões levantadas renderiam livros inteiros.

 

O que já se disse:

 

“Uma sensação plena de satisfação, de que uma história foi explorada ao seu máximo. Definitivamente, menos é mais.”

Bernardo Krivochein ( Zeta Filmes)

 

Dados do DVD (Ed. De Colecionador e fora de catálogo):

 

Imagem

 

Fullscreen

 

Áudio

 

Dolby Digital 5.1 (Inglês), Dolby Digital 2.0 (Inglês e Português)

 

Extras (Disco 2)

 

Documentário Dogville Confessions

 

Entrevista com Lars Von Trier

 

Trailer

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Terminei de ler a crítica, impressionante. O Forasteiro captou toda a essência do filme e o viés manipulativo que ele tem - não que isso seja algo ruim. Muito pelo contrário, ser guiado para ver algumas verdades óbvias é muito bom, vez em quando. Dogville é soberbo e as analogias que o Forasteiro fez com a xenofobia dos EUA, constrastando com a dependência do trabalho barato que os imigrantes proporcionam a eles, foram perfeitas. Parabéns!

 

E concordo plenamente com a interpretação do final, a maior dádiva do filme. Quem não teve prazer ao ver Dogville sucumbir, que atire a primeira pedra (e se candidate à canonização pelo Vaticano).

 

Duas coisas, Foras: seu uso de palavras é maravilhoso, tem umas passagens na resenha que são lindas, de cair o queixo. Mas procure trabalhar sua capacidade de síntese, de forma que o texto não fique tão longo ao ponto de se poder se tornar contraproducente (desencorajando a leitura). A segunda é o fato de que o Manifesto Dogma primava pela tentativa de buscar a maior proximidade possível da realidade, e cenários riscados no chão com giz são o oposto do real. Ainda assim, muito da essência do Dogma, da centralização absoluta nos personagens e no seu desnudamento perante o público, estão lá. Dogville confirma e desconfirma o Dogma ao mesmo tempo.

 

Numa só palavra: estupendo.
Alexei2007-01-21 12:45:53
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Sobre o final: quando Dogville vai se aproximando da conclusão, a vontade do espectador de ver sangue sendo derramado fica cada vez maior - comigo foi assim, ao menos. O desejo de vingança faz parte da natureza humana - pode-se refreá-lo, ou tentar, mas não acabar com ele.

 

Eu inclusive não consigo conter um sorriso quando vem a fala que o Foras citou sobre matar as crianças primeiro. Posso até me sentir um pouco mal depois, pensar "Caramba, ela mandou matar crianças e eu fiquei feliz com isso", mas quando se está vendo o filme a satisfação é inevitável.
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Terminei de ler a crítica' date=' impressionante. O Forasteiro captou toda a essência do filme e o viés manipulativo que ele tem - não que isso seja algo ruim. Muito pelo contrário, ser guiado para ver algumas verdades óbvias é muito bom, vez em quando. Dogville é soberbo e as analogias que o Forasteiro fez com a xenofobia dos EUA, constrastando com a dependência do trabalho barato que os imigrantes proporcionam a eles, foram perfeitas. Parabéns!

 

E concordo plenamente com a interpretação do final, a maior dádiva do filme. Quem não teve prazer ao ver Dogville sucumbir, que atire a primeira pedra (e se candidate à canonização pelo Vaticano).

 

Duas coisas, Foras: seu uso de palavras é maravilhoso, tem umas passagens na resenha que são lindas, de cair o queixo. Mas procure trabalhar sua capacidade de síntese, de forma que o texto não fique tão longo ao ponto de se poder se tornar contraproducente (desencorajando a leitura). A segunda é o fato de que o Manifesto Dogma primava pela tentativa de buscar a maior proximidade possível da realidade, e cenários riscados no chão com giz são o oposto do real. Ainda assim, muito da essência do Dogma, da centralização absoluta nos personagens e no seu desnudamento perante o público, estão lá. Dogville confirma e desconfirma o Dogma ao mesmo tempo.

 

Numa só palavra: estupendo.
[/quote']

 

Como disse lá na CMJ, fiquei com medo mesmo de que ficasse longo demais. Por isso mesmo procurei dividí-lo (além da brincadeira com a estrutura do filme), para que ao menos não parecesse tão grande. Além disso, se o leitor sentir cansaço, pode organizar a leitura por partes mais facilmente. Sobre o Dogma, eu nem sabia que existia até semana passada, quando vi o filme. Li alguma coisa na internet mas acho que interpretei errado, valeu por me corrigir, e obrigado pelos elogios.
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Sensacional mesmo. Parabéns.

 

 

 

E não tem como ficar indiferente ao filme. Quando Grace dispara a (já?)

famosa frase das crianças, sempre solto aquele breve sorriso de lado.

 

E esse é sempre meu exemplo de que, sim, uma idéia na cabeça e uma câmera na mão são mais do que suficientes para se fazer um filme.

 

E concordo plenamente com a interpretação do final' date=' a maior dádiva do filme. Quem não teve prazer ao ver Dogville sucumbir, que atire a primeira pedra (e se candidate à canonização pelo Vaticano).[/quote']

 

Até o Papa divide conosco o grande prazer que é ver aquela cidade - e seus habitantes - sendo banida do mapa.

 

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