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Cineclube em Cena


Nacka
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Só eu acho a Bjork uma  piada de mau gosto? Voz angelical? Pfff...

[/quote']

 

Malditos heréges! Blasfemando contra o nome de uma santa!13

 

Bjork é a mulher mais genial quejá pisou nesse planeta. Mesmo quem não gosta da voz dela não pode negar sua criatividade e vanguardismo ímpares.

 

Reveja seus conceitos, Nacka.

 

[Dook Mode On]

 

Reveja, reveja...

 

[Dook Mode Off]

 

Ah! Sobre a comparação, eu só quis dizer que Dancer é o único musical  que me lembro de ter gostado. 01

Eu não acho que a presença de cantores seja garantia de uma apresentação decente...longe disso. Só acho que um musical d everdade, por autodefinição, precisa ter  atores com habilidades vocais. Se não partir daí, game over.03
Scarlet Rose2007-04-20 03:29:34
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Bá, fazia tempo que eu não ouvia nada da Bjork, até baixei umas músicas dela pra relembrar antes de escrever aqui. A voz dela não é nenhuma maravilha mesmo, Nacka, mas não acho que ela seja uma piada, ela tem várias músicas legais e algumas muito boas. Piada, só as roupas que ela usa, aí eu concordo 06

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Adorei a crítica do Fernando, bem boa mesmo, e eu gosto bastante do filme até (principalmente da atuação da Nicole). E concordo com o Nacka e a Veras sobre a Bjork 06, se bem que to mais pro que o Jack Ryan falou aí em cima agora.Beckin Lohan2007-04-20 10:14:24

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Bjork é foda. Vespertine é sensacional.

 

Outro admirador da Björk aqui. E você mencionou logo o meu álbum preferido, Vespertine.

 

 

vesptitle01.gif

 

 

it's not meant to be a strife
it's not meant to be a struggle uphill


you're trying too hard
surrender
give yourself in
you're trying too hard :
y o u ' r e   t r y i n g   t o o   h a r d

 

(Björk, Undo)

 

 

(Pequeno offtopic para trazer um pouco mais de arte conceitual e beleza para o Cineclube em Cena, heh)

 

Líder da Semana no BBBCeC
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(poxa, falem sério se isso não foi o off-topic mais interessante. Começou a ir pro lado de Chicago e foi tomando rumos até Bjork e a maravilha que é seu Vespertine [meu preferido também, Alexei!])

 

O Fórum deveria ter mais disso.

 

Mas sobre o que a Scarlet levantou aí, acho bem coerente, apesar de não necessariamente uma regra. É uma espécie de "empurrãozinho", por assim dizer.

 

 

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Muito, muito boa a resenha do Fernando. Gostei do que ele falou sobre a relação da salada que Moulin Rouge é com a transformação cultural de nossa época, em que as mídias se fundem de diversas maneiras e mesmo as fronteiras culturais estão deixando de existir.

 

Acho Moulin Rouge bem mediano... o filme se equilibra entre um exagero suportável, até mesmo cativante em alguns momentos, e a completa overdose estética, e é uma pena que a tendência seja para este último, na maior parte do tempo. Mas talvez haja algum mérito nisso também, nessa coragem que Luhrmann tem de fazer um filme inegavelmente anormal, às vezes puramente ridículo, que força os limites do imaginário, como o Fernando citou. Seja uma obra-prima ou um lixo completo, merece muito ser visto, e com atenção.
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Anúncio Oficial:

2ª Feira - Dia 23 de Abril - mais uma resenha inédita

no Cineclube em Cena:

 

1632073_4.jpg

 

Sonata de Outono

(Hõstsonaten, Dir.: Ingmar Bergman, 1978)

 

O duelo emocional entre uma mãe e sua filha, num filme que rendeu uma indicação ao Oscar para Ingrid Bergman.

 

E ainda está no ar!

 

moulin-rouge03.jpg

 

Moulin Rouge - Amor em Vermelho

(Moulin Rouge, Dir.: Bazz Luhrmann, 2001) 

 

By Fernando.

 

Não percam!

 

Agenda Cineclube 

 

PRÓXIMOS FILMES

Sonata de Outono (by Thico) – 23 de abril<?:namespace prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" /><?:NAMESPACE PREFIX = O /><?:NAMESPACE PREFIX = O /><?:NAMESPACE PREFIX = O />

Casa de Areia e Névoa (by Th@th@ Patty) – 30 de abril

A Criança (by Garami) – 7 de maio

 Touro Indomável (by The Deadman) – 14 de maio

O Novo Mundo (by J. de Silentio) – 21 de maio

Os Bons Companheiros (by Veras) – 28 de maio

  SUMÁRIO

 

Página 1 = Forasteiro (A Lista de Schindler) 

Página 8 = Mr. Scofield (No Rastro da Bala) 

Página 17 = Dook (A Última Tentação de Cristo) 

Página 28 = Silva (Amnésia 

Página 34 = Garami (Fogo Contra Fogo)

Página 37 = Alexei (Fale Com Ela)

Página 39 = Engraxador (Peixe Grande)

Página 40 = Rubysun (Era Uma Vez no Oeste)

Página 42 = Thico (A.I. - Inteligência Artificial)

Página 44 = The Deadman (Sob o Domínio do Medo)

Página 45 = J. de Silentio (Cantando na Chuva)

Página 46 = ltrhpsm (Estrada Para Perdição)

Página 47 = Nacka (Além da Linha Vermelha)

Página 51 = Rubysun (Pulp Fiction – Tempo de Violência)

Página 53 = Forasteiro (Dogville)

Página 54 = Dook (Cidadão Kane)

Página 55 = Vicking (A Lula e a Baleia)

Página 57 = Juliocf (Se7en – Os Sete Crimes Capitais)

Página 59 = Enxak (Embriagado de Amor)

Página 59 = Jailcante (Huckabees – A Vida é uma Comédia)

Página 60 = ltrhpsm (O Homem que não estava lá) 

Página 61 = silva (Crepúsculo dos Deuses)

Página 62 = Troy Atwood (Beleza Americana)

Página 63 = Noonan (Herói)

Página 68 = Alexei (Blow Up - Depois Daquele Beijo)

Página 70 = Fernando (Moulin Rouge - Amor em Vermelho)
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10 Meu deus.... excepcional a resenha do amigo Fernando.. eu não conseguiria ser tão imparcial quando vc foi...10

Bem , Moulin Rouge é , para mim, o musical mais completo das 3 últimas décadas... é um filme assumido, que grita com o publico, que te deixa imerso em cores e sons, em um mix de imagens e cortes... que uso das acelerações e desacelerações das cenas para confundir e ludibrir....MR é teatro conteporâneo, é música boa, é pop, mmmmuuuuuito Pop... é talvez a maior referência Pop que se pode dar a um filme ( e faz bem melhor o que Maria Antonieta tentou.... rsrsrs), é lindo!

Sim, a história é mais batida que carro de bêbado, mas funciona dentro daquela moldura. O engraçado é ver referências históricas como a Paris imunda e cheia de ruelas ,pré-haussmann  e le corbusier, e grandes artistas impressionistas como Toulouse Lautrec, famosa por seus quadros retratando as dançarinas e o ambiente do Moulin Rouge, inseridos num contexto quase atual.

Os personagens são bidimensionais sim, mas extremamente carismáticos! É isso! Sou uma adoradora (ou como vcs constumas dizer.. fanzóide).

Ah... coincidentemente, esse sábado vai haver a Calourada de Arquitetura e o tema é Moulin Rouge e todos vão ter q ir à carater.... rsrrsrs...!!!!

 

 

 

 

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Voltando a Moulin Rouge, não sei o quanto meus sentimentos acerca da obra do Toulouse-Lautrec interferem em minha apreciação negativa do filme, mas é algo a se pensar.

Lautrec é meu pintor preferido. Foi um sujeito sensacional, que conseguia captar a vida ao seu redor como poucos fizeram. Seus quadros cheiram a sífilis; são repletos daquele falsa sensação de alegria que permeia a boemia desregrada, como um escudo para a tristeza interior. Em suas telas, enquanto os corpos dançam e seduzem uns aos outros, os rostos trazem uma melancolia profunda, que só a ausência de um sentido na vida causa.

 

Mesmo sem sentido, a vida pulsa, real, nos quadros do pintor. Nos frames de Luhrmann, ela me parece tão realista quanto bonecos de um parque de diversões.

 

HenriDeToulouse-Lautrec-AtTheMoulinRouge-TheDance-1889-90-VR.jpg

Bal au Moulin Rouge (1890)

 

Líder da Semana no BBBCeC

 
Alexei2007-04-22 19:35:31
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Alexei , já assistiu a biografia de Toulouse-Lautrec , dirigida por John Huston ? Também é entitulada como Moulin Rouge (1952): http://www.imdb.com/title/tt0044926/ .

 Outro filme famoso e que também se passa na belle èpoque , no bairro boêmio de Montmartre e no cabaré do moinho vermelho é French Can-Can (1954) , de Jean Renoir :  http://www.imdb.com/title/tt0046998/ . O tema musical desse filme , " Complainte de la butte " , foi regravado pelo Rufus Wainwright para a trilha do filme do Luhrmann .

 

 

Eu compreendo os seus problemas com o filme do Luhrmann e , principalmente , no que se refere ao Toulouse e sua obra . Na primeira vez que eu assisti , também estranhei muito .

 

No entanto , acho , que o filme mantém um contraste entre falso e verdadeiro . Segundo o diretor , ele construiu um mundo absurdamente artificial para buscar o que há verdadeiro em uma falsa reprodução da realidade . Esse resquício de realidade , seria o que faz as pessoas assistirem propostas fantasiosas , esperando um ponto de identificação . Esse ponto seria o casal Kidman/Mc Gregor . Seus desempenhos sinceros e emocionados constratam com o todo falso . É a minha opinião e eu sei que um fãzóide um pouco melhorado ,hehehe . Gosto não se discute , se lamenta ,hehehe . 

 

Apesar disso , também esperava ver mais Toulouse-Lautrec na obra ( o pintor boêmio , retratista fiel de  uma era , e não simplesmente um bobo da corte - apesar de divertir com as patetices do John Leguizamo) . Engraçado que uma fala do John Leguizamo foi retirada dos diários do próprio . É um momento que ele fala que podem considerá-lo um anão bêbado , que só tem amizades com cafetões e prostitutas , mas que sabe reconhecer o amor autêntico , pois é o que sempre procura e anseia . É encaixado no filme para Toulouse convencer Christian de que Satine o ama de verdade .

 

Hehehe , eu sei é um guilty pleasure . Mas o que eu posso fazer ? Compreendo e concordo com todas as críticas negativas , mas mesmo assim eu gosto do filme .

 

E aproveito o espaço para agradecer a todos que gostaram do meu texto . Tentei fazer o melhor porque o nível do Cineclube é altíssimo , além de tentar ser o mais parcial possível e conseguir extrair algo digno de nota no polêmico circo luhrmanniano ,hehehe . Um abraço a todos  !
Fernando2007-04-23 20:56:09
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Sonata de Outono, by Thico

 

 

AutumnPoster-1.jpg

 

Filme: Sonata de Outono (Höstsonaten, França/ Alemanha Ocidental/ Suécia, 1978). Direção: Ingmar Bergman. Com Ingrid Bergman, Liv Ullmann, Lena Nyman, Halvar Björk, Erland Josephson.

 

 

Sinopse: Uma pianista famosa (Ingrid Bergman) visita a filha (Liv Ullmann), no interior da Noruega, após longos anos de ausência. Enquanto a mãe é um artista de renome internacional, a filha é tímida e deprimida. Esse encontro tenso, marcado por lembranças do passado, revela uma relação repleta de rancor, ressentimentos e cobranças.

 

 

O que eu acho :

"Mãe e filha. Que mistura terrível de sentimentos, confusão e destruição."

 

O outono é a estação do ano caracterizada pela queda das folhas e renovação da vegetação; é quando as árvores se preparam para ganhar nova "cara", novas folhas e frutos com a chegada da primavera. Mas enquanto não é chegada a estação das flores, as árvores permanecem por um bom tempo na direta situação de nudez aparente, onde podem ser vistas como são, sem enfeites, sem cores, sem máscaras. Foi esta a estação escolhida pelo cineasta sueco Ingmar Bergman para servir de pano de fundo para a história de duas mulheres que se preparam para deixar o que é aparentemente belo de lado e mergulharem na crueza do feio _ e que, na maior parte das vezes, é também mais verdadeiro. Sonata de Outono, a história do reencontro de mãe e filha após um hiato de 7 anos que acaba convergindo para uma dura batalha de verdades e ressentimentos, é mais um filme/estudo de Bergman sobre as relações do ser humano e a maneira como lidamos com nós mesmos. Para retratar a atmosfera outonal, Bergman mais uma vez contou com o primoroso trabalho de Sven Nykvist, criando na fotografia um aspecto impressionista, ainda ressaltado pelos figurinos e a direção de arte, baseados no vermelho, amarelo e verde, cores características da estação. Bergman assina aqui também os planos mais recorrentes de sua carreira pois Sonata de Outono, apesar do tom teatral e de se passar em basicamente um único ambiente, é cinema em sua forma mais pura, com os típicos closes fechados nos rostos das atrizes e as tomadas de perfil que desvendam um tanto mais do que aquele personagem é. Mas são os assuntos abordados que fazem do filme uma espécie de resumo da obra de Bergman, já que é possível encontrar aqui toda a gama de temas que sempre perturbaram e pontuaram a carreira do diretor e que fizeram de seus filmes uma eterna busca pela compreensão de si mesmo. Da infância traumática, matriz de todos os problemas da vida adulta, à citação da existência e importância de Deus, Bergman pontua o drama de mãe e filha como todos seus dilemas pessoais e que, por sua vez, acabam tornando a história ainda mais densa e verdadeira. É quando percebemos que estamos diante de uma narrativa baseada no sentimento do ser humano que clama por amor mas que acaba gerando _em si e nos outros_ uma dor quase irremediável, capaz de acompanhar por toda uma vida, perpetuada pelo medo, a culpa e a busca pelo perdão redentor.

 

Autumn02.jpg

 

Porque Sonata de Outono é sobre o amor. Aquele amor que todos dizemos ter e que, orgulhosos, usamos em palavras fáceis e discursos calorosos, num auto-engano recorrente e gradativo. O amor que Charlotte (Ingrid Bergman) diz ter por sua filha Eva (Liv Ullmann), mas que soa tão supercifial como em todas as vezes em que ela necessita ser reafirmada diante de quem está ao seu redor. Quando sua filha diz estar feliz dando aulas na paróquia local, Charlotte cita o fato de ter feito uma turnê de sucesso em escolas americanas, tocando para milhares de alunos, ressaltando o clima de competição que estabelece com Eva. É essa necessidade que faz dela um personagem forte e fraco ao mesmo tempo, sempre buscando uma fuga mais simples. Mostrar o que sente seria difícil demais, portanto Charlotte acaba optando pela superficialidade de uma provável alegria, por fingir diante dos outros o que estaria passando dentro dela. Como quando reencontra sua filha vítima de uma doença degenerativa, Helena, e se mostra capaz de fazer promessas que claramente não poderá cumprir. E mesmo estando só em seu quarto, refletindo sobre o acontecimento, Charlotte se pega num paradoxal discurso de amor e raiva, ainda mais por Eva tê-la feito passar por tal constrangimento. Ela se vê incapaz de admitir um sentimento isento de raiva ou cobrança por sua filha e acaba atribuindo a Eva sua maneria errônea de agir. Sendo assim, para ela é justificável seu sentimento dúbio e acaba seguindo se enganando e tentando enganar os outros. Sorrisos são dados, olhares são lançados e palavras são caladas. Foi dessa maneira que Charlotte conduziu sua vida e "amou" as pessoas com quem convivia: Leonardo, seu amigo recém-falecido, foi digno de seus cuidados nos momentos finais mas não obteve uma lágrima sequer ao ser relembrado por ela; seu marido, complacente e compreensivo, recebeu palavras elogiosas em cada citação, mesmo que durante a vida em comum só tenha sido presenteado com ausência e traição; Helena foi abandonada quando pequena mas ganhou um relógio de pulso da mãe quando do reencontro _certamente para contar todas as horas que lhe prendem a uma vida morta; e Eva, que sempre amou e admirou incondicionalmente a mãe quando criança mesmo recebendo em troca a mais completa indiferença, foi agraciada com uma infância impossível e nela a não eminência do desenvolvimento. Foi em Eva que Charlotte mais despejou seu falso amor e dele fez nascer um ódio grandioso e assustador.

 

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Porque Sonata de Outono é sobre o ódio. O ódio que Charlotte enxerga nas palavras de Eva quando esta finalmente se vê livre para dizer tudo que manteve guardado durante toda a vida. O ódio que acusa mas que, como Eva cita em determinado momento, não pode ser diminuído diante do ódio da própria Charlotte. Aquele que a fez tomar tantas medidas com relação à filha e machucá-la quase que de maneira irreparável. A constatação de Eva de que seria na sua infelicidade que a mãe encontrava seu triunfo não deixa de ser verdadeira _ e abominável_  levando-se em conta toda a necessidade de Charlotte de se sobressair diante da filha. No momento em que Eva se dispõe a tocar um prelúdio de Chopin, admitindo de antemão uma certa deficiência de técnica, é impossível para Charlotte não viver um misto de sensações: ao observar a filha tocando, ela não esconde no olhar a decepção diante da não-perfeição; mas ao olhar diretamente para o rosto de Eva, Charlotte acaba demonstrando certa compaixão, ainda que isso não a esquive de citar todos os erros cometidos por Eva em sua interpretação, mesmo que esteja ciente de ser a responsável por causar uma imensa dor na filha.

 

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Porque Sonata de Outono é sobre a dor. É sobre um prelúdio de Chopin, interpretado de forma fria e racional por Charlotte, capaz de abdicar das sensações diante da busca pela perfeição. Ela ensina para Eva: "Há dor mas sem parecer. Depois um breve alívio. Mas ele some de repente, e a dor continua a mesma." E ao começar a dedilhar no piano tem sobre intensa observação o olhar de Eva, atenta à técnica que a mãe esbanja e constatando assim sua aparente derrota em mais uma batalha emocional. Mas quando o olhar de Eva é direcionado ao rosto da mãe (exatamente como aconteceu na cena anterior, só que em posições opostas), o que percebemos é toda a amargura reprimida por ela e que acabou gerando uma espécie de medo da figura da mãe.

 

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Porque Sonata de Outono é sobre o medo. O medo que Eva tinha da mãe quando criança e que a fazia não dizer nada, mesmo quando desejava intensamente. E vindo desse medo, a incapacidade de comunicação, a dificuldade de expressão e a aceitação do que lhe era dado. Por conta disso, Eva acabou se tornando uma mulher incapaz de questionar muito as coisas que lhe aconteciam, sendo muito mais espectadora da própria vida do que protagonista da mesma. E Bergman acaba dando a real dimensão dessa situação nos flashbacks que são inseridos ao longo do embate de Eva e Charlotte, quando somos transportados para a infância de Eva (volto a dizer, a origem de todos os problemas emocionais do ser humano, como em todo filme de Bergman) mas não participamos dos acontecimentos ativamente; o que é dito não pode ser ouvido e acabamos mantendo, através da câmera sempre parada e em plano aberto, uma distância considerável do que está sendo retratado. Como se aquilo realmente só pudesse ser visto e não reparado. E assim, numa bola de neve de impossibilidades, os personagens vão se tornando cada vez mais incapazes de se comunicarem e sentirem. O marido de Eva não sabe como dizer para a mulher que a ama, Charlotte diz que sempre necessitou do carinho da filha mas que encarava o amor desta como exigências, e Helena assume o papel alegórico da mais completa impossibilidade de comunicação, ficando isolada à dependência da irmã para estabelecer qualquer contato com a mãe. E sendo a doença de Helena, mais que uma metáfora da destruição da relação familiar, a culpa incutida no futuro de Charlotte.

 

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Porque Sonata de Outono é sobre a culpa. A culpa do ser humano em não perceber o que está ao seu redor, de deixar passar o que não tem mais retorno e que acaba abrindo caminho para uma único desfecho aparente: a solidão. A negligênica de Charlotte com relação à família em detrimento da carreira, a levou a uma vida de sucesso e riquezas. Mas nem ela é capaz de negar que sente falta de um lar quando está longe, ainda que não saiba o que poderia buscar lá. Talvez por Charlotte nunca ter tido um lar verdadeiro, seja ele físico ou emocional. E a dor perene nas costas que acompanha a pianista acaba sendo reflexo da própria culpa pelo abandono de si e dos outros. A perda do que lhe poderia ser caro desperta em Charlotte uma necessidade de redenção, a tentativa de algo que lhe isente da culpa eterna. E nesse âmbito, a perda dela poderia ser relativizada diante da perda de Eva: o próprio filho, morto num afogamento. Mas Eva se mantém ligada ao filho (o que não deixa de ser interessante nessa fase de Bergman, mesmo depois de ele ter negado a existência de Deus, em Luz de Inverno) e acredita que ele continua vivo em algum tipo de plano paralelo. Em determinado momento ela diz para a mãe que: "É medo e presunção acreditar em limites. Não existem limites, nem para os pensamentos, nem para os sentimentos." Resta a Charlotte realmente acreditar na existência de uma mudança que a possibilite o perdão pelos erros cometidos.

 

Autumn05.jpg

 

Porque Sonata de Outono é sobre o perdão. Ou sobre a não possibilidade dele, já que certas coisas não tem mais volta e algumas mágoas são eternas. A vida de Eva ou de Helena não poderia mais ser mudada por conta de um arrependimento da mãe, ainda que este fosse verdadeiro. E no caso de Charlotte, a necessidade de ser perdoada seria o que lhe restava para se manter ainda próxima de uma certa humanidade, mas até que ponto ela realmente estaria disposta a mudar? Todas as revelações e verdades são culminadas na mais dura fala de todo o longa, quando Eva diz á mãe sobre o que aconteceu entre Helena e Leonardo e o estado daquela diante da partida deste, ocasionada por culpa de Charlotte e, obrigada a constatar a dura realidade, fulmina: "Não há desculpas. Só há uma verdade e uma mentira. Não pode haver perdão."

 

No pragmatismo aparente se encerraria mais uma obra-prima de Ingmar Bergman, mas cabe lembrar que o filme é sobre o outono, e que a estação tem fim. Com a queda das folhas, as árvores acabam sendo reveladas em sua essência mais crua e feia. Mas ainda que as folhas caídas não possam mais retomar vida nas árvores e fiquem perdidas no chão, em algum momento a primavera virá e com ela o nascimento de novas folhas e novas possibilidades de cores. Porque Sonata de Outono é sobre a esperança.

 

Autumntitle.jpg 

 

Preste atenção: Em toda a intensidade da seqüência de execução do prelúdio de Chopin, uma das mais belas _e fortes_ cenas de toda a história do cinema. Amparado pelas brilhantes interpretações de Liv Ullmann e Ingrid Bergman, Ingmar Bergman permite que suas atrizes expressem com uma economia assustadora de gestos, faciais ou corporais, todo o turbilhão de sentimentos que se passa com aquelas mulheres. E fora que Chopin é Chopin...

 

 

Porque não perder: Primeiro e único filme de Ingrid Bergman com seu compatriota Ingmar Bergman; a melhor interpretação desta que foi uma das maiores estrelas da história do cinema; uma das maiores interpretações da maior atriz da história do cinema (na minha opinião), Liv Ullmann; o melhor (e olha que afirmar isso é muito complicado) filme do maior diretor da história do cinema...é muito "melhor da história" para perder, não concorda?

 

 

O que já se disse antes: "Bergman descasca este Sonata de Outono aos poucos, revelando o que existe de mais cru nos relacionamentos após um início aparentemente normal, onde mãe e filha reencontram-se alegres. É esta análise gradual que pega o espectador pela garganta (...), um estudo fascinante sobre gente, com um final lógico e cruel."

(Kléber Mendonça Filho- Cinemascópio)

 

Dados do DVD :

 

Gênero : Drama

 
Faixa Etária: 14 anos

Legenda: Português


Idioma: Sueco

Duração: 93 minutos

 

Extras: Trailer de Cinema, Vida e Obra de Ingmar Bergman, Galeria de Fotos e Pôsteres, Menus Interativos, Seleção de Cenas

 

O Thico, um apaixonado pelo cinema (e exímio conhecedor do assunto) escreve sobre um belíssimo filme de um dos seus diretores preferidos, Ingmar Bergman, com muita poesia e propriedade. Sonata de Outono é um dos maiores exemplos cinematográficos de verticalização de idéias e sentimentos que eu já testemunhei; cruel, trágico, intenso e muito bonito, tendo nas interpretações das protagonistas e no trabalho de seu cinematógrafo (Sven Nykvist, um dos mais talentosos que o mundo já conheceu) seus pontos altos.

 

Esse é um daqueles filmes que não se pode perder de jeito nenhum. E a resenha faz jus à obra, em todos os aspectos.

 

Post semanal autorizado.
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Um dos melhores textos já publicados no Cineclube ! De fato , quem conhece sabe que ele tem um vasto conhecimento cinematográfico e a sua análise de Sonata de Outono  está excelente .

 

Eu vi há muito tempo , em uma cópia vagabunda em VHS . É um daqueles filmes que eu preciso rever  . Ingrid Bergman tem uma das melhores atuações da sua carreira ( o que não é pouco ) , assim como a Liv Ullmann , tal como bem afirmado na ótima resenha .

 

Parabéns , Thico !

 
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Infelizmente ainda não vi o filme (pelo visto terei que comprá-lo para ver), mas li a resenha do Thico e estou 13.

 

A resenha dele é uma das coisas mis lindas e emocionantes que eu já li na minha vida, sem exagero algum!! Meus mais sinceros parabéns, Thico, por, não só manter o nível lá em cima, mas também por provocar essa exaltação positiva da minha pessoa (além de me deixar ainda mais interesaado em assistir esse filme)!!!!
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Voltando a Moulin Rouge' date=' não sei o quanto meus sentimentos acerca da obra do Toulouse-Lautrec interferem em minha apreciação negativa do filme, mas é algo a se pensar.

Lautrec é meu pintor preferido. Foi um sujeito sensacional, que conseguia captar a vida ao seu redor como poucos fizeram. Seus quadros cheiram a sífilis; são repletos daquele falsa sensação de alegria que permeia a boemia desregrada, como um escudo para a tristeza interior. Em suas telas, enquanto os corpos dançam e seduzem uns aos outros, os rostos trazem uma melancolia profunda, que só a ausência de um sentido na vida causa.

 

Mesmo sem sentido, a vida pulsa, real, nos quadros do pintor. Nos frames de Luhrmann, ela me parece tão realista quanto bonecos de um parque de diversões.

 
[/quote']

 

 

É um bom argumento...Também adoro o Lautrec, bem como tudo relacionado ao Art Nouveau. Mas apesar de ser possível fazer comparações entre a obra de Lautrec e o filme de Lürhmann, não acho que o objetivo dos dois eram os mesmos...Lurhmann estava interessado no espetáculo visual, no over the top, na cultura pop misturada com a boemia daquela época. Bem ou mal, não podemos negar que Moulin Rouge! é uma novidade no cinema, por mais que tenha várias influências. O meu problema com o filme é que em meio a tantas cores e exuberâncias, acabo ficando cansado...exausto é a palavra.

 

E muito obrigado Fernendo! Não sabia que o filme do Huston era sobre o Lautrec, fiquei muito interessado em assistir!
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Eu disse que o Thico estava se fazendo.06 Belíssima resenha' date=' acordei todo mundo aqui em casa aplaudindo o modo como os parágrafos foram conectados. Uma pena não ter visto o filme...[/quote']

Que exagero. 06

 

Em tempo, a resenha do Thico está excelente, no nível desta OP que é Sonata de Outono. E parece que o prêmio de melhor resenha do Pablito deste ano já tem dono.
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Que exagero. 06

 

Em tempo' date=' a resenha do Thico está excelente, no nível desta OP que é Sonata de Outono. E parece que o prêmio de melhor resenha do Pablito deste ano já tem dono.
[/quote']

 

OK, não aconteceu.06 Só queria demonstrar o quanto havia gostado daquele artifício dos "porquês" que ele usou pra traçar a evolução dos sentimentos em Sonata.
Forasteiro2007-04-24 15:30:32
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*Em tempo*

 

Fernando, sua resenha sobre MOULIN ROUGE poderia constar como um capítulo de um livro sobre cinema, tamanha sua disposição em ligar fatos da história, sempre de maneira interessantíssima. Seu conhecimento é admirável e seu texto faz jus ao filme, que eu gosto muito (tenho uma tendência fácil ao deslumbramento...hehehe). Meus parabéns!

 

***

 

Agora sim, vamos ao agradecimentos. Silva, Fernando, Noonan, Forasta e Pato Inútil, não tenho palavras para agradecer os grandes elogios que você fizeram ao meu texto, de verdade. Não entendi bem o motivo de vocês terem feito isso antes mesmo de eu efetuar o pagamento da propina na conta de cada um, mas de qualuqer maneira...hahahahahahaha

 

Mas é sério, fico muito feliz que o texto tenha tocado vocês, assim me sinto menos estúpido de ter aceitado a tarefa de resenhar um filme de um mestre em tocar a alma humana. Ao Forasta e ao silva, meus sinceros votos de que peguem o filme AGORA. E espero que o texto sirva para despertar o interesse de outros tantos.

 

E ao meu grande amigo, você me sacaneou, fiquei o domingo todo preocupado sem saber o que você tinha achado; estava prestes a escrever outro texto para colocar no lugar. Agradeço os elogios e ficon muito contente, apesar da alienação coletiva...hahahaha
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