Jump to content
Forum Cinema em Cena

Cineclube em Cena


Nacka
 Share

Recommended Posts

Dook eu confesso, não vi Psicose II (bem que eu procurei para comprar, mas não encontrei) e como tenho algumas ressalvas ao primeiro filme (sim pode me jogar pedras, mas não acho op não) queria ver este para dar uma opinião, prometo assisti-lo, até porque seu texto cria uma expectativa muito boa.

Uma pena o pessoal não comentar, em plena semana do halloween seria perfeito. Mas em tempos de Pablito, fazer o que....

 

 

 

Link to comment
Share on other sites

  • Members

Assisti a "Psicose 2" antes mesmo de ter visto o clássico do Hitchcock. Gostava muito; ainda gosto, para ser sincero.

 

 

 

Na verdade, nem sequer depois de ter visto, finalmente, o original da década de 1960, autêntica obra-prima, passei a gostar menos de sua continuação.

 

 

 

Acho que o Dook foi extremamente bem-sucedido ao reconhecer e, sobretudo, demonstrar o mérito do filme, a despeito do seu inequívoco caráter "caça-níquel". Trata-se, afinal de contas, de uma obra comercial que, homenageando o filme de que deriva, consegue atingir um patamar pouco alcançado quando se fala de continuações movidas apenas e tão-somente pelo lucro, isto é, pelo logro artístico.

 

 

Link to comment
Share on other sites

  • Members

 

Dook' date=' honey. Você já começa a resenha dizendo que a gente precisa ver o filme antes de ler... Eu não consegui nem achar esse filme. E no momento não posso recorrer a outros meios que não sejam o da locação tradicional porque esta vaga está ocupada por heroes. rs 06
[/quote']

 

Verinhas honey, na verdade era uma observação, não um pré-requisito. Para me deleitar sobre o filme era impossível evitar alguns spoilers, por isso fiz o comentário logo no início.

 

E apague Heroes do seu HD para liberar espaço para Psicose II... Ou grave num CD ou pen-drive... 0505
Link to comment
Share on other sites

  • Members

Não tem o que dizer da resenha. Está ótima. E o destaque dela, é pegar do começo, desde o filme do Hitch e ir subindo, comentando o período e as condições que o filme foi planejado inicialmente e o resultado de tudo. É comentar não só o filme mas a história toda por detrás dele. É ótima essa visão ampla que o Dook tem do filme e como ele consegue passar isso sem se extender demais. Parabéns, por isso Dook.

 

 

 

Sobre o filme em si, eu acho bem interessante que essa Parte II colocou cores em tudo. Para época e para o público alvo seria impossível sair em P&B, mas as cores são "secas", como se colocassem as cores, mas o tom P&B ainda está ali. Além disso filme focar mais o Norman e a mansão, ampliando tudo que tinha sido citado no clássico do Hitch é ótimo.

 

 

 

Quem tem preconceito contra continuações de filmes clássicos pode perder, e curtir esse Psicose II

Link to comment
Share on other sites

  • Members

Folks, ALUGUEM o filme... Vai que vcs compram e não gostam... 05

 

Sobre o filme em si' date=' eu acho bem interessante que essa Parte II colocou cores em tudo. Para época e para o público alvo seria impossível sair em P&B, mas as cores são "secas", como se colocassem as cores, mas o tom P&B ainda está ali. Além disso filme focar mais o Norman e a mansão, ampliando tudo que tinha sido citado no clássico do Hitch é ótimo.
[/quote']

 

Este é um ponto que eu não tinha percebido!! Realmente o filme tem uma fotografia 'seca', sem nada muito colorido, aberrante. Isso fica um pouco mais claro em cenas como essa:

 

screencap5.jpg
Link to comment
Share on other sites

  • Members
Pensando já na minha resenha' date=' comprem logo Duna por favor, 9,90 nas Americanas...

[/quote']

 

É a da Versátil ou aquela versão podre fullscreen da Flashstar?

 

Em tempo: tenho a da Versátil que é widescreen anamórfico. O filme impressiona MUITO visto em seu aspecto original.
Link to comment
Share on other sites

  • Members

Começa aqui o ESPECIAL TRILOGIA DAS CORES de Krzystof Kieslowski. Essa semana, a primeira parte da trilogia com...

 

 

 

A Liberdade é Azul - Krzysztof Kieslowski

 

(por Alexei)

 

 

 

drei-farben-blau-krzysztof-kieslowski-filmplakat-trois-couleurs-bleu-9901065.jpg

 

 

 

FILME: A LIBERDADE É AZUL (Trois couleurs: Bleu) de Krzysztof Kieslowski (1993)

 

 

 

SINOPSE: Mulher perde o marido – grande compositor musical – e a filha em acidente de carro e tenta, aos poucos, reconstruir sua vida.

 

 

 

liberdade-e-azul03.jpg

 

 

 

O QUE EU ACHO: O que define uma pessoa? São suas idéias, seus relacionamentos, seus maneirismos, suas crenças, seus apegos, seus sentimentos? É possível alguém cortar os elementos que o definem e, ainda assim, continuar vivendo? E isso seria uma noção apropriada do que vem a ser a liberdade? Krzysztof Kieslowski, grande cineasta polonês precocemente falecido aos 55 anos, propõe algumas respostas a tais perguntas contando a estória de Julie (Juliette Binoche), uma mulher de trinta e poucos anos que perde o marido e a filha pequena em um acidente de carro. Privada de tudo o que mais amava e, ainda assim, sem forças suficientes para concretizar todas as tentativas de acabar com a própria vida, ela opta por uma não-existência, um lugar no espaço-tempo destituído de emoções, elos, apegos a pessoas ou coisas. “Não quero bens, presentes, amigos, amor ou vínculos. Tudo isso são armadilhas”, em suas próprias palavras.

 

 

 

liberdade-e-azul05.jpg

 

 

 

Uma das grandes sacadas de Kieslowski é mostrar como um plano desta natureza está inexoravelmente fadado ao fracasso. Seja por se descobrir incapaz de pessoalmente exterminar uma família de ratos que habita seu novo apartamento, seja por atender prontamente ao chamado de sua nova vizinha prostituta (a excelente Charlotte Véry, de Conto de Inverno), seja por doar sua antiga casa ao filho ainda nascituro da recém-descoberta amante de seu marido, Julie – e o espectador – aos poucos vai percebendo que liberdade não se traduz em isolacionismo. O ser humano, afinal de contas, foi concebido como um ser social, com lacunas que naturalmente só poderão ser preenchidas a partir do contato com seus semelhantes, numa perspectiva micro (Julie, sua vizinha, sua mãe portadora do Mal de Alzheimer, o antigo amigo de seu marido Olivier) ou macro (a França e seu papel essencial na União Européia).

 

 

 

liberdade-e-azul02.jpg

 

 

 

Sendo o primeiro dos filmes que compõem a Trilogia das Cores, A Liberdade é Azul é marcado pela criação de uma delicada trama de paralelismos e coincidências cuja função primordial é trazer Julie de seu auto-exílio, devolvendo-a à raça humana. Os planos fechados, quase claustrofóbicos, que Kieslowski utiliza no começo vão gradualmente se abrindo, à medida que Julie sente o quanto ela ainda é relevante para os que a rodeiam, independentemente de sua vontade. A vida que se reflete em seus olhos em várias passagens do filme aos poucos vai ganhando outros tons de azul até o glorioso final em que, em paz com seu próprio papel nos vários contextos sociais que a definem, Julie finalmente se sente feliz por ser gente. E nós também.

 

 

 

PRESTE ATENÇÃO: Na maneira como Kieslowski pontua os sentimentos de Julie com a música; no maravilhoso uso de filtros azuis e da iluminação dos rostos empregada pelo cinematógrafo Slawomir Idziak; finalmente, na maneira suave empregada por Kieslowski para dizer que a vida de uma pessoa não pertence apenas a ela mesma.

 

 

 

POR QUÊ NÃO PERDER: Pelo grande trabalho dos atores (Juliette Binoche em particular), pela estética discreta e sofisticada e pelo humanismo sincero e não-sensacionalista que permeia todo o filme.

 

 

 

O QUE SE DISSE: “O filme poderia ter seguido o caminho conhecido da tragédia, do luto, da recuperação e do triunfo. Mas para Kieslowski, a vida nunca é tão simples” (Hal Hinson, Washington Post).

 

 

 

INFORMAÇÕES DO DVD: Lançado pela Versátil Home Vídeo com legendas automáticas em português, a apresentação em Widescreen Anamórfico (1.85:1) cumpre o dever de casa, tanto nas cores quanto no som. Dentre os diversos extras, dois são absolutamente indispensáveis: uma pequena entrevista com Krzysztof Kieslowski, na qual o espectador tem a oportunidade de perceber como coisas aparentemente tão insignificantes quanto o tempo que um torrão de açúcar se impregna de café são cuidadosamente concebidas e executadas por um bom diretor, e o comentário de cenas feito por uma emocionada e espontânea Juliette Binoche.

 

 

 

ESPECIAL TRILOGIA DAS CORES - Próximos Filmes: A Igualdade é Branca por ltrhpsm - dia 19/11; e A Fraternidade é Vermelha por Noonan - dia 03/12.

Link to comment
Share on other sites

  • Members

O filme é belíssimo.

 

 

 

A pontuação da trilha para ilustrar sensações, utilizando um retardamento do tempo me faz lembrar do Amor a Flor da Pele de Wong Kar Wai, filme que preciso rever urgentemente.

 

 

 

O grande achado ao meu ver, são os closes usando o lustre como composição de arte e de foco. é brilhante!!! Além da sequência de adaptação que Julie faz na composição de seu "amante", conforme palavras são ditas, notas e instrumentos são alterados. De um bom gosto surreal...

 

 

 

O final, é foda demais.

 

 

 

Tive a sensação de certo comedimento por parte do Alexei em sua resenha, enfim... Mas, como ele escreve e argumenta super bem, a leitura acaba sendo rápida mas bem trabalhada.FeCamargo2007-11-05 18:25:47

Link to comment
Share on other sites

  • Members

Obrigado, Fe e Dook. Nos meus textos tento ser sintético ao máximo, na verdade. É uma filosofia minha mesmo, de deixar que o leitor se interesse para ver ou rever o filme a partir da leitura, sem necessariamente fazer um esmiuçamento de todos os conteúdos (às vezes eu até faço isso, às vezes não). É muito mais prazeroso - e eficaz - ter o insight durante a exibição do filme do que lê-lo em algum lugar. Pelo menos na minha opinião.

 

Sem falar que isso fomenta a discussão no tópico, uma coisa que o Cineclube está precisando.
Link to comment
Share on other sites

  • Members

É verdade... e acredito que o seu texto tenha esse predicado, o de incentivar o interesse em ver o longa. Conseguiu isso, mesmo com o comedimento que citei.

Eu revi o filme para o seu texto. Inclusive garanti a minha cópia nessa revisitada. É um filme tão forte em todos os seus pontos, desde técnicos até artísticos, que eu sempre fico assustado ao revê-lo.

 

 
Link to comment
Share on other sites

  • Members

Vi o filme. Não sei o que dizer. Kielowski constrói um clima sufocante do início ao fim, creio eu para demonstrar a prisão que Julie seu auto-impôs. O silêncio permeia durante boa parte do longa, atos triviais e simplórios enriquecem o que ela se auto-impôs. Juliette Binoche consegue aqui, talvez a melhor atuação de sua carreira, já que a personagem é apática e raramente fala, o que impede uma atriz de dar dimensão a uma personagem, convenhamos. Isto é, impediria, caso Kielowski não tivesse escalado uma atriz tão competente como Binoche, que nem parece ser a mesma pentelha de Chocolate ou O Paciente Inglês. A atriz utiliza olhares com freqüência para mostrar a impessoalidade e o sentimento angustiante de Julie.

 

Os planos de Kielowski também são muito intrigantes. Geralmente atípicos, porém ajudam a compôr o clima do filme. A fotografia também é genial. A passagem final me lembrou imensamente os filmes de Lynch, com aquela surrealidade e sombriedade. A Liberdade é Azul é um filme lindo.10 Semana que vem alugo os outros dois.

 

=====================================

 

Sobre a resenha do Alexei, achei muito bom, excelente o trabalho de síntese dele. Seu tamanho é refletido pela duração do filme, que conta apenas com míseros 90 minutos para discutir um tema tão global como esse. Essa atitude aliás, só ressalta a eficácia tanto do texto quanto do filme, já que diz o que pretende sem rodeios, indo diretamente ao ponto. Ótima resenha.
Bernardo2007-11-11 17:15:50
Link to comment
Share on other sites

  • Members

A Liberdade é Azul foi um marco na minha vida. Costumo dizer que esse filme foi um divisor de águas para mim, pois foi uma época em que eu descobri a verdadeira Sétima Arte (antes disso, assistia a filmes, digamos, "descerebrados"), quando era uma criança entrando na puberdade. Desde então, apaixonei-me pelo cinema europeu e, claro, pela Juliette Binoche.

 

Parabéns pela resenha, Alexei. Curta, mas bastante sucinta. 

 

Link to comment
Share on other sites

Depois do belíssimo texto do Alexei para o filme idem de Kieslowski, conferimos esta semana o texto sui-generis do usuário Fe Camargo para um filme da polêmica diretora, Agnieszka Holland. Desculpe Fe mas as fotos que você enviou com o texto não abriram e eu tive que garimpar na net por algumas e o tempo não me ajudou para que eu pudesse fazer isto com a calma necessária, então se algo estiver fora de ordem, serão as fotos e não o seu belo texto:

 

Eclipse De Uma Paixão - Dir Agnieszka Holland (Por Fe Camargo)

 

No século XIX, o relacionamento auto-destrutivo entre o poeta francês adolescente Arthur Rimbaud e seu mentor mais velho, Paul Verlaine, faz surgir “o poeta maldito”.<?xml:namespace prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" />

 

Eclipse de uma Paixão - Agnieszka Holland

(Por FeCamargo)

 

totaleclipse_1995_poster.jpg

 

Filme: Eclipse de uma Paixão (Total Eclipse – França, Grã-Bretanha e Bélgica, 1995). 

Direção: Agnieszka Holland. 

Elenco: Leonardo DiCaprio, David Thewlis e Romane Bohringer. 

Sinopse: Eclipse conta a estória de Arthur Rimbaud (Leonardo DiCaprio) e seu relacionamento com seu " mentor" Paul Verlaine (David Thewlis). Encantado com o talento visceral de Rimbaud, Verlaine resolve apadrinhá-lo. Mas a irreverência e o brilhantismo do rapaz acabam por provocar no poeta uma paixão avassaladora, que põe em risco seu casamento com a jovem e bela Mathilde Maute (Romane Bohringer). Sinopse adaptada do site cineparadiso.

 

O que eu acho:

 

" Prezado leitor, antes de seguir adiante, tenha em mente que a pretensão abaixo é apenas comentar sobre a poesia, vida, personagem e cinemática da história de Rimbaud, transportada para as telas por Holland, sem julgar a idéia ou a proposta da diretora, visando aspectos mais técnicos de suas escolhas pois, honestamente, acredito imensamente que seria por demais cruel fazer algo assim, mas que infelizmente, se tornou tão comum hoje em dia. Se ainda assim se sentirem à vontade, por favor, rolem a página ". 

 

O preto e o branco – à literatura, à vida!

 

Arthut Rimbaud (1854 – 1891)

 

rimbaud2%20copier.jpg

 

 

Adormecido no Vale

 

É um vão de verdura onde um riacho canta
A espalhar pelas ervas farrapos de prata
Como se delirasse, e o sol da montanha
Num espumar de raios seu clarão desata.
Jovem soldado, boca aberta, a testa nua,
Banhando a nuca em frescas águas azuis,
Dorme estendido e ali sobre a relva flutua,
Frágil, no leito verde onde chove luz.

Com os pés entre os lírios, sorri mansamente
Como sorri no sono um menino doente.
Embala-o, natureza, aquece-o, ele tem frio.

E já não sente o odor das flores, o macio
Da relva. Adormecido, a mão sobre o peito,
Tem dois furos vermelhos do lado direito.

 

Poesia e história ou seria história e poesia?

 

Um pouco de poesia não faz mal, certo? Na realidade, é impossível falar de um cinema sobre Rimbaud sem falar sobre a sua poesia ou, pelo menos, sem citar duas delas para que vocês possam, no caso daqueles que não o conhecem ainda, se esbaldar mesmo que minimamente neste primeiro contato com a genialidade deste poeta maldito, que antecipou e ultrapassou o imaginário parnasiano e simbolista da época.

 

308gr3.jpg

 

“O poeta faz-se vidente através de um longo, imenso e sensato desregramento de todos os sentidos”.

Na França, nesta época – século XIX, meados de 1850 –, o simbolismo surgia como a renovação, a revolução da literatura francesa. Era o surgimento do espírito moderno. Isso não quer dizer que houve uma quebra taxativa com o realismo de Zola ou, anteriormente ainda, com o romantismo de Hugo, Lamartine, etc. Houve a necessidade de se construir algo novo, uma nova tradição, autores desconhecidos e rejeitados por não se fazerem entender em sua arte. Ou seja, não eram aceitos pelo sistema literário francês. Quando digo sistema me refiro ao nicho literário burguês da época e, justamente por isso, os representantes desse simbolismo eram chamados de " poetas malditos". Imaginem agora a chegada nessa sociedade deste adolescente de 16 anos, chamado Jean Nicolas Arthur Rimbaud (nascido na França, em 20 de Outubro de 1854 em Charleville), utilizando as palavras de forma livre e moderna, até profana, fazendo com que todos entrassem em choque com suas crenças. Qual reação era cabível? Uma revolução estava anunciada: a revolução de Rimbaud, que influenciaria diversos artistas das mais variadas vertentes artísticas com seu verso livre, sua ideologia centrada no ponto onde o autor não teria controle da obra que cria. Isso vem de dentro, do obscuro, do profano, das profundezas do "eu", algo totalmente inconsciente, que podemos chamar de " outro". Daí a famosa frase de Rimbaud: "O eu é um outro".

Sem Rimbaud, não teríamos, por exemplo, um Genet. Provavelmente não compreenderiamos o surrealismo também. Sua arte era tão forte e feroz, que diziam:

 

Grávidas iam ao aborto após lê-la. É obscena, cruel, profana, sexual. Ele é o poeta maldito”.

Um tanto mitificado sim, mas as sensações que a sua poesia e prosa geraram em séculos são únicas e até hoje, na modernidade, muitos são influenciados pelo brilhantismo genial deste adolescente francês, incluindo eu... O " poeta dos sentidos".

Rimbaud era amoral, errante, um jovem adolescente com comportamento conturbado, que confesso, me fez levar e tomar certas atitudes sob uma influência muito grande do seu "eu", mas isso é outro assunto.

Estudiosos deste poeta sempre disseram não acreditar que ele teria imaginado que a sua arte influenciaria tão imensamente artistas das mais diversas vertentes em épocas posteriores a sua, partindo da música, onde a banda de rock The Doors e seu vocalista Jim Morrison se diziam hipnotizados pela poesia de Rimbaud, passando pela literatura, onde podemos citar Artaud, Bataille e Fernando, chegando ao cinema e a Holland. Mas antes, para completar este parágrafo, eu preciso terminar dizendo que discordo destes estudiosos, pois a genialidade permite que possamos pensar e ter a certeza que o nosso trabalho é e será sempre lembrado, seguido, e venerado. Rimbaud era gênio, Rimbaud sabia claramente de seu poder com as palavras, Rimbaud sabia que sua poesia não morreria com ele.

 

bioleonardo02.jpg

“A nossa pálida razão esconde-nos o infinito”.

Agnieszka Holland (1948) é polonesa, fruto de um relacionamento entre um pai judeu e uma mãe católica, o que nos demonstra, na realidade, uma clara vontade de se superar literariamente, supondo que para realizar um filme sobre Arthur Rimbaud, ela deve, em algum momento de sua vida, ter sido capturada pela arte do poeta francês, o que claramente a colocava em choque com as duas religiões.

Amiga de Krzysztof Kieslowski, Holland já até colaborou com ele no roteiro de A Liberdade é Azul . Em seu cúrriculo temos filmes como O Jardim Secreto ou o mais recente O Segredo de Beethoven

 

 

Às cores – Ao cinema!

 

“Eu escrevia silêncios, noites, anotava o inexprimível. Fixava vertigens”.

 

Eclipse de uma Paixão começa nos situando à margem da história de Rimbaud e Verlaine – e ao início da projeção, uma das falas escritas por Christopher Hampton para a personagem de Verlaine surge com intenso poder:  

 

”Alma maravilhosa. Junte-se à nós. Você será bem-vindo”.

 

Este começo, poderoso e vivo, diga-se de passagem, anuncia que algo no mínimo interessante está por vir. Já adianto que ao final da experiência, o gosto do absinto proposto em diversas cenas do filme, acaba perdendo seu peculiar sabor, pois diferentemente da bebida e de seu incrível teor alcoólico de mais de 90%, o filme perde força com o passar dos plots, resultando em um leve gosto, alcoólico ainda, mas longe da libertação provocada pela bebida dos poetas.  

 

O roteiro

O roteiro opta por começar a estória já com a chegada de Rimbaud à Paris, deixando de lado tanto a vida do poeta em sua terra natal quanto o início de sua poesia. Uma escolha interessante, pois a apresentação da personagem se torna impactante e com apenas um gesto: um ranger de dentes. Gestos assim dizem mais sobre a psicologia da personagem – o seu jeito de ser – do que várias das falas propostas pelo roteirista. O roteiro segue nos mostrando a influência do jovem poeta na vida pessoal de Paul Verlaine, mas esquece de retratar a influência no trabalho do poeta, algo que é anunciado no início do longa, por meio de uma fala, mas que acaba não se concretizando mais por opção do que por erro. A teima por falas "poéticas" acaba prejudicando e indicando esses " erros", como vimos nesse caso, ou por exemplo, quando a personagem de Rimbaud relata à Verlaine a situação que gerou a inspiração para a poesia que coloquei inicialmente neste texto, Adormecido no Vale, onde Rimbaud diz que demorou horas para descobrir que a pessoa estava realmente morta. Um efeito do roteiro que acaba apenas por denunciar sua fragilidade ao diminuir as sensações do poeta perante a situação imposta, utilizando mais uma vez palavras de impacto. Hampton segue relatando a destrutiva relação entre Rimbaud e Verlaine até chegar na última virada de plot, onde partimos para a época final da vida de Rimbaud, ocorrida na África. É justamente aí que o roteiro leva o filme ao chão, pois devido à falta de informação histórica que temos da vida dele nesse período (saiu agora nas livrarias um livro sobre a vida dele neste período), o roteiro se prende a situações exageradas, fantasiosas, para assim captar o telespectador até o fim da projeção. Ledo engano, outros erros podem ser percebidos na construção dramática das cenas, como a cena do quarto entre Verlaine e sua esposa Mathilde, quando vemos o bebê chutando a barriga dela. Nesta cena, a personagem de Verlaine " estoura" sem haver uma construção de set up, não justificando a explosão dramática e deixando apenas a sensação de constrangimento para o ator. Outras cenas apresentam esse problema, mas acredito que cada um deva perceber por conta própria.

O roteiro também não se aprofunda na poesia de Rimbaud, o que é um crime, pois não demonstra ao público o talento desse gênio, deixando apenas uma vaga idéia apoiada e sustentada pelo seu comportamento, sua personalidade.

Partindo da proposta de Holland, que é mostrar a vida desse gênio e seu relacionamento com Verlaine, Hampton deveria ter tido a sensibilidade de saber onde parar, pois assim ele manteria o mistério, enalteceria o gênio e não acabaria com a performance de DiCaprio. Nem tornaria a experiência final, semi-cômica. Isso ocorre devido a fragilidade dramática que seu roteiro adquire ao final. Uma pena. 

 

 

“Acredito que estou no inferno, portanto estou nele”.

 

A direção

É clara a capacidade de Holland em decupar, é notável na realidade. Aliada à sua sensibilidade evidente, o filme acaba sendo composto por planos muito simétricos, frontais, muitíssimo bem enquadrados e em alguns pequenos casos, luminosamente inventivos. Chega a ser simples mas não simplório, e isso é um trunfo da diretora polonesa. No início da projeção, ela nos brinda com um Plano Conjunto da ponte, que está ao fundo, onde um trem passa. A fumaça é um detalhe impetuoso na composição de quadro. Em certo momento do filme há um plano, já clássico no cinema, focando a personagem de Mathilde pelo espelho, mas Holland acrescenta um pequeno recuo de câmera usando um travelling-out, justificado pela movimentação de rosto da atriz, sútil e eficiente.

A diretora constrói um ritmo interessante dentro dos planos, os  deixando respirar naturalmente, sem medo de ralentar o filme, ou seja, não é um longa com uma quantidade grande de cortes, o que para alguns "despreparados", pode significar uma falta de ritmo na idealização/construção da decupagem. Muito pelo contrário: o ritmo está lá e muito bem trabalhado por sinal. Méritos de Holland, aliados a montagem coesa.

Uma pena é que seu talento para decupar não seja visto em sua capacidade como diretora de atores. É clara a evidência que, quando o ator é brilhante (DiCaprio), ele se sai muito bem, mas quando é limitado (Romane), não deixamos de ter a impressão permanente de certo constrangimento, até incômodo, em cena, demonstrando que a construção das personagens e das partituras de emoção foram feitas pelos atores, e Holland apenas apontava suas impressões dramáticas de cada cena.  

 

“A poesia não voltará a ritmar a ação; ela passará a antecipá-la”.

 

O elenco

 

Partindo do ponto que o filme retrata a influência de Rimbaud na vida de Verlaine e depois em seu relacionamento com o poeta, vou me concentrar nas três personagens relevantes do longa: Arthur Rimbaud, Paul Verlaine e Mathilde Maute.  

Leonardo DiCaprio (Arthur Rimbaud) – Está aí um dos maiores atores de sua geração. Desde o começo de sua carreira, DiCaprio demonstra ser visceral em suas construções ( Gilbert Grape, por exemplo). Como dizemos no meio cinematográfico, é um ator que se joga na merda sem medo de feder. Se o ator pegar a personagem no roteiro e apenas seguir as falas, construindo uma partitura de leitura básica, temos então uma verdadeira sessão de frases e pensamentos de impacto sem grande ação interior, sem subtextos. No momento posterior à leitura, entra o talento do ator para enxergar essas linhas, possibilitando uma construção da personagem e de sua partitura da forma mais rica e complexa possível. DiCaprio é mestre no detalhismo. Fisicamente ele confere uma agilidade ao andar de Rimbaud que é louvável, com certo ar espivitado que apenas acrescenta personalidade a sua construção. Gestos físicos, como um "ataque" com ranger de dentes nos dizem mais do que todas as frases de impacto do roteiro, e isso é pura criação do ator, que entendeu perfeitamente o universo de Rimbaud. Leonardo explode na tela. Seu olho brilha, mostrando uma frieza de emoções que chega a ser assustador. Cenas como a do saral de leitura poética nos fazem, ao menos que por um momento, enxergar quem era Rimbaud e o porque de seu comportamento ser considerado conturbado, o que eu discordo, sendo que na realidade, ele tinha era um imenso desprezo pelo lixo literário e apenas não o aceitava por comodidade como tantos outros faziam. DiCaprio explora isso brilhantemente. Constrói uma personagem multifacetada. O brilho principal de sua composição reside em como ele conduz a relação com Verlaine, passando por admiração, desprezo, pena, "pateticidade", interesse, proveito próprio e amizade. A personagem é uma bomba ambulante de emoções, e ele, com 23 anos na época, consegue indicar e apontar todos os caminhos de forma densa e realista. Composição riquíssima. Uma pena que o roteiro acaba com o ator no terceiro ato ao colocá-lo para fazer um Rimbaud na faixa de seus 30 e poucos anos (no filme, 30 parece 40, erro da direção da maquiagem e da diretora). Não se pode colocar um ator jovem para fazer um papel tão mais velho, não há estofo pessoal para isso, e a sensação de constrangimento volta a ficar claro na tela. Erro do roteiro e da direção. DiCaprio não tem muito o que fazer.  

David Thewlis (Paul Verlaine) – Este ator inglês tem certa teima por fazer biquinhos em cena. Não é possível que ele tenha achado interessante colocar isso como característica pessoal de Paul, pois ele consegue apenas gerar um desconforto quando o assistimos. David é um bom ator, mas que diferentemente de DiCaprio, ele precisa dos apontamentos da direção, e como neste caso ela se demonstra nula, ou quase nula, David nos brinda com diversos momentos contrangedores em que ele próprio parece desconfortável em cena, como a já dita cena do quarto. A personagem não tem grandes conflitos, o que é culpa do roteiro, que esquece, por exemplo, de colocar o homossexualismo como conflito psicológico, ou seja, o texto transforma Verlaine em algo unilateral, impossibilita a criação de linhas de subtexto. Ele anda, caga, vomita, trepa e sempre pensa nas mesmas coisas que a ação indica. David caminha tranquilamente por isso, por ser um bom ator e afinal, fica claro que ele é apaixonado por Rimbaud, mas diferentemente do poeta, não há múltiplas emoções dentro desta relação.  

 

Romane Bohringer (Mathilde Maute) – O elo fraco do triângulo amoroso. Essa atriz francesa sempre parece perdida em cena, fraca, não natural, uma verdadeira máquina de dizer o texto. Erro de escalação e principalmente erro de direção, à partir do momento que a escolheram, que a dirigiram e que a deixaram solta "aos leões". Crueldade. Ela some em cena quando divide a tela com David ou com DiCaprio. Não é culpa da atriz, que é fraca. Mas as vezes o cinema pode ser cruel e aqui isso fica apontado claramente. Não há nem como analisar a construção de partitura dela, pois não existe tal construção, e olhem que a personagem é até interessante e demonstra emoções e conflitos que, para outra atriz, seriam um prato cheio.  

 

“Ninguém é sério aos 17 anos”.

 

A fotografia e a trilha

 

Giorgios Arvanitis (fotografia) - Trabalha muito bem com a coloração. A opção tradicional do ocre para a fotografia  traduz a época muito bem. Não inova, mas também não atrapalha. Não há erros de foco nos planos. Os enquadramentos são rigorosamente bem feitos, sem excesso de teto. A exposição da luz é perfeita, utilizando toda a latitude da película e o "pró-misti" (se existir em 1995, pois não sei) apenas finaliza o acabamento muito bem dado no tratamento da imagem com certo esfumaçamento trazendo a difusão que a imagem do filme pedia.  

Jan A.P. Kaczmarek (trilha sonora) - É habilidoso em suas composições. A sua trilha mais recente que me vem à cabeça, é a de Finding Neverland, onde a sensibilidade e a delicadeza se destacam. Aqui, essa sensibilidade é evidente, mas a delicadeza não. Ele opta pelo celo, trazendo um certo tom brusco no início de cada cena, o que condiz muito com a estória, este tom frenético e urgente. Muito bem sacado. Só não entendi o porque de usar uma trilha tão espaçada e pontual em determinados momentos, dando a impressão de erro, que claro, é retirada quando a nota se repete segundos depois, mas a sensação de estranhamento permanece. Isso acontece no final do segundo ato.  

Sensation

Nas belas tardes de verão, pelas estradas irei,
Roçando os trigais, pisando a relva miúda:
Sonhador, a meus pés seu frescor sentirei:
E o vento banhando-me a cabeça desnuda.

Nada falarei, não pensarei em nada:
Mas um amor imenso me irá envolver,
E irei longe, bem longe, a alma despreocupada,
Pela Natureza — feliz como com uma mulher
.

Preste atenção: Na construção da personagem que DiCaprio faz, trilhando pelas mais diversas emoções com habilidade impressionante. Um prato cheio para os amantes dessa arte. Fique atento também aos planos de Holland, em sua simetria. São belíssimos.  

Porque não perder: Por ser o único filme que retrata a vida desse brilhante poeta, mesmo que deixe de lado sua poesia. Nele, você pode ter, por um breve momento, a idéia de quem foi Rimbaud, de seu comportamento, de seu instinto. Além disso, o filme pode te motivar a procurar a poesia dele, o que na realidade, acaba sendo o maior mérito do longa: o despertar da curiosidade.

Curiosidades: Quem faria Rimbaud seria River Phoenix, mas após sua morte, DiCaprio ficou com o papel. John Malkovich também foi inicialmente escalado para o papel de Verlaine, mas pulou fora.

Nas cenas de absinto, a produção usou outra bebida alcoólica, e os atores beberam tanto em cena que não lembram de quase nada. 

Dados do DVD: 

Gênero: Drama. 

Faixa etária: 16 anos.

Legenda: Português e espanhol. 

Idioma: Inglês. 

Duração: 111 minutos. 

Formato de tela: Widescreen 16x9. 

Extras: Sinopse e biografia. 

 

“Prezado leitor, se chegou até aqui, espero que tenha entendido a proposta deste texto, que nasceu pela paixão ao poeta. Espero ainda, que pelo menos à vontade de conhecer a obra de Rimbaud tenha sido, mesmo que por um breve momento, despertada”

 

 

 

 

 

 

“Dos meus antepassados gauleses tenho os olhos azuis pálidos, uma firmeza limitada e a falta de habilidade na luta”.

 

Link to comment
Share on other sites

Join the conversation

You can post now and register later. If you have an account, sign in now to post with your account.

Guest
Reply to this topic...

×   Pasted as rich text.   Paste as plain text instead

  Only 75 emoji are allowed.

×   Your link has been automatically embedded.   Display as a link instead

×   Your previous content has been restored.   Clear editor

×   You cannot paste images directly. Upload or insert images from URL.

Loading...
 Share

×
×
  • Create New...