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Cineclube em Cena


Nacka
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Poxa! 05

 

Valeu pessoal.

 

Me dediquei bastante e é muita satisfação ter um texto reconhecido. E como o Fe disse... Não queria algo convencional e, até mesmo, padronizado. Afinal, Marie Antoinette é uma produção que foge de tais adjetivos. Então, me embalei neste aspecto diferenciado que a produção apresenta. E também gostei do resultado.

 

Valeu pelos comentários e opiniões. Isso é muito importante para mim. 0203
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Uma das melhores críticas que eu já li aqui no cineclube, pra um filme merecedor da mesma por sinal. Adorei os comentários sobre a trilha, um dos meus aspectos favoritos de Ma. E muito legal o textinho do Nacka lá no inicio, concordo.

 

Uma das coisas mais bacanas disso aqui é quando, como o Fecamargo disse, as pessoas demonstram a paixão que tem por determinadas projeções, não fica aquela coisa mecânica e comum dentre 500 vistas em sites por aí... é bem mais interessante e inspirador até de ler, como a do Forasteiro pra Taxi Driver entre muitas outras... O Cineclube é um achado pra esse fórum.
Beckin Lohan2007-10-15 15:04:14
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Rike: de ''O Virgem'' para MA no Cineclube.

Essa foi a mudança mais rápida e mais agradável que eu já fiz.

 

Rike, você fez uma resenha com conseguiu ser infinitamente melhor que o filmes (que não afz muito assim o meu gosto).

Muito bem escrita. Foi a descrição técnica mais apaixonada que eu já li.

 

Parabéns, honey. E muito obrigada por nos brindar com seu talento.

 

05

 

 

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Bela resenha Rike, realmente uma das melhores que eu vi. Gostei principalmente do link com a trilha do filme, ficou genial!! Gostei também da sua coragem de realmente "provocar" os leitores assim como Sofia fez no filme.

Daria pra rever o filme de uma maneira totalmente diferente após ler tudo que você escreveu. E com certeza esse é um dos filmes mais mal interpretados da história, apesar de não gostar muito do filme vou ver se consigo alugar e "videar" de novo :D.

 

10
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Ótima a resenha. O texto revela cuidado até mesmo na escolha da cor que reproduz versos das músicas e a respectiva tradução. Parabéns, Rike!

 

O que eu mais gosto nesse filme - meu preferido dessa cineasta - é a maneira como Sofia Coppola retratou Maria Antonieta como uma garota que fez o possível e que acertou mais que errou, dadas as circunstâncias. Para transmitir essa idéia a diretora deu um caráter atemporal à personagem, retirando dos seus ombros o peso de sua própria mitologia.

 

Muito bom esse filme, dos melhores que passaram nos cinemas este ano.
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Rike, ótima resenha. Parabéns! Li com calma e fui lembrando de cada cena... Adorei os pontos que você colocou nela, juntando com a trilha sonora (um dos pontos mais altos do filme). Gostaria de comentar também, sobre o que você falou do final: a cena da "decaptação" e o "estou apenas dizendo adeus", você colocou perfeitamente uma das partes que mais me tocaram no filme, sem dúvida alguma. Aliás, você sabe, eu sempre ia comentar contigo no MSN enquanto eu estava vendo. 06

 

 

 

Mais uma vez, parabéns. 10
Kah*2007-10-16 21:00:45
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Um filme bonito demais de se ver, em tudo. Na fotografia que tira o fôlego, nas atuações e na direção segura de David Lean que transporta para a tela o flagelo de filmar no deserto (o que ele faz com maestria) e por retratar com fidelidade o ideal de um homem. Eu vi o filme no dvd comum e não no Superbit (imagino como deve ser a imagem deste, que no outro já era muito boa) e confesso que é uma aula não só para quem faz cinema, mas para todos nós que somos apaixonados pela 7ª arte, no extenso documentário apresentado por um Spielberg embevecido pelo mestre, acompanhamos todos os passos de restauração do filme e todo o processo realizado para incluir os 35 minutos inicialmente cortados. Obrigatório. Acompanhemos tudo pela bela resenha do Rubysun....

 

Lawrence da Arábia - David Lean (Por Rubysun)

 

Imagem:Thomas Edward Lawrence-Lawrence of Arabia.JPG

 

Filme: Lawrence da Arábia (Lawrence of Arabia, 1962), de David Lean. Com Peter O’Toole, Omar Sharif, Alec Guiness, Anthony Quinn e Claude Rains.

Sinopse: História do oficial inglês T.E. Lawrence, que liderou as tribos árabes contra o império Turco Otomano na Primeira Guerra Mundial.

O que eu acho: O começo-começo é uma coisa que eu nunca tinha testemunhado antes: mais ou menos cinco minutos de tela preta com a trilha sonora espetacular tocando ao fundo, o que não deixa de ser legal. Enfim, depois disso há algo geralmente comum em cinebiografias – um prelúdio e um salto no tempo; no caso, a primeira cena é a morte do protagonista. Lawrence está andando de moto em uma velocidade pouco recomendável, até que aparecem dois ciclistas. O desvio acaba custando a vida do personagem. Durante o filme ela acaba fazendo mais sentido, não por ser inexplicável, mas por ser aparente as transformações na personalidade de Lawrence – a cereja do bolo.

 

A edição da cena alterna a cena dele na moto, para depois apenas mostrar o óculos que usava – preso em uma árvore, e visível uma parte pequena da moto tombada. Esse tipo de manipulação se repete em alguns momentos durante o filme, bem usada [ Spielberg? ].

 


T. H. Lawrence  é um tenente da Grã-Bretanha durante a Primeira Guerra Mundial. O contexto que se tem é o Império Otomano, os turcos, do lado da inimiga Alemanha, em confronto com a Arábia e as diversas tribos que habitam a região. Lawrence seria o responsável por unir as tais na guerra. A primeira impressão dele do deserto transmitida por Lean, é – como não poderia deixar de ser, haha – árida. O diretor faz maravilhas com o que tem direito, numa janela de 2,20:1. Bom, é aquela impressão que se tem da fotografia de um épico espetacular – expressão auto-explicativa. A primeira aparição do personagem de Omar Sharif, com a câmera a distância, se movimentando levemente até parar em um ponto preto que vai crescendo, é simples e direta, vista em um cinema deve ser A experiência.

 

Peter O'Toole stars as T.E. Lawrence



Peter O’Toole vai vivendo Lawrence da melhor maneira possível, muito contido mesmo nas horas em que o personagem vai perdendo o senso. O personagem é o que se pode esperar de um bom líder, calmo, sensato e destemido – e a persona independente estabelecida desde “Pareço insubordinado, mas é só o meu jeito” (dito quando esquece de dizer “sir” a um superior na hierarquia do exército). Lawrence não era propriamente um pacifista, mas tinha um gosto pela união e pelo ambiente dos árabes e do deserto – sua relação com Sherif, Gasim e o Príncipe Feisal (Alec Guiness, numa participação divertidíssima e quase irreconhecível) expressa na medida do possível o que tem de enigmático nessa primeira faceta do protagonista. Temperado por um momento particular, quando ele executa um dos seus por confrontos antes de uma batalha (a excelente tomada, em todos os sentidos, de Aqaba), e diz que gostou disso.



Mais para a metade do filme, nos é apresentado um personagem como uma verdadeira carta tirada da manga. Jackson Bentley (Arthur Kennedy) é um jornalista de Chicago disposto a levar a história de Lawrence para vender jornais nos Estados Unidos. Quem seria ele senão um avatar de David Lean, o contador desta história? Pode ser uma maneira estranha de ver autocrítica, mas Lean realmente fez isso, transportou a história de Lawrence para outras platéias 47 anos depois.

O resultado disso é que agora as épicas batalhas, contadas de maneira tão simples e eficientes por Lean, vão ter a participação de um Lawrence que virou praticamente um showman. Se alguns dos árabes ainda relutam em ser capturado pela máquina fotográfica do jornalista (ou máquina cinematográfica de Lean, por assim entendido), nosso T.E. demonstra a mesma reação de quando ele diz que sentiu prazer em dar cabo do árabe. Resiste até a tiro enquanto posa. O O’Toole faz um trabalho excelente, o ponto alto talvez seja na batalha antes de Damasco, em que a edição alterna eisensteinianamente o rosto deslumbrado de Lawrence com a cavalaria em ataque, sob um dos melhores momentos da trilha sonora.

 

The attack on the train



Outra tirada muito perspicaz, vista pelos dias de hoje, é que o jornalista disse desde o começo que queria transformar T.E. em um herói contando a sua história – o que foi exatamente o que o Lean fez no filme, etc. Lawrence em um momento diz que quer se tornar um homem comum, e que cansou de viver com povos diferentes, o escambau. Esse tipo de questionamento acaba funcionando da mesma maneira que os filmes da série “Homem-Aranha” e “Superman”, cujos super-heróis passam por provações exatamente da mesma maneira [mais especificamente, no segundo volume de cada].

Esse momento é representativo em toda a maneira clean do filme da manipulação na própria criação de uma mitologia em torno de Lawrence, e de todo o envolvimento pela trajetória nesse majestoso épico [pode ser pomposo, mas para as quase quatro horas, não tem jeito, hahaha]. O que nos leva de volta – em vias tortas – ao Lawrence angustiado, um herói enigmático como diz o DVD, dirigindo a moto.

Preste atenção: Nas tomadas à longa distância e cadenciadas, no deserto e nas batalhas. Assim como o contexto junto com o personagem principal, espetacular.

O que já se disse: “Espetacular. Pura performance. Puro entretenimento” – Wall Street Journal.

Por que não perder: Porque é muito bom, ora bolas.

Dados do DVD:

 

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Tela Widescreen Anamórfico, 2,20:1. Duas faixas de áudio, DTS (inglês) e Dolby Digital 5.1 (inglês). Legendas em português, inglês, espanhol, francês, chinês, coreano e tailandês.

Procure a edição dupla normal (sem Superbit) que infelizmente está fora de catálogo, o disco dois tem um documentário fantástico com Spielberg pagando pau para o diretor do filme, além de valiosas lições de como fazer cinema.

 

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Curiosidades:

 

Quando o filme estreou tinha 222 minutos. Devido às reclamações dos donos dos cinemas, o filme foi cortado em 35 minutos, passando para 187 minutos, para haver mais uma exibição diária. Só em 1989 é que foram restítuidos os 35 minutos que lhe faltavam.

Apesar de ser um filme com quase 4 horas de duração, não tem nenhuma atriz. Todos os protagonistas são do sexo masculino.

A primeira escolha para o papel de T.E. Lawrence foi Albert Finney. Desacordo de verbas fez com que escolhessem Peter O'Toole.

Com uma trilha sonora irrepreensível e uma fotografia extremamente competente e exuberante, o filme é considerado pelo IMDB no seu ranking em 27 na sua lista de melhores filmes de todos os tempos.

O filme foi indicado para 10 prêmios Oscar e ganhou 3, nomeado para 5 Bafta ganhou 4 e ainda ganhou 5 prêmios do Globo de Ouro.
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É difícil de achar mesmo Bern@rdo, em muitos lugares está esgotado ou fora de catálogo (caso da versão mais antiga) eu quando vi tive que alugar, também ainda não encontrei para comprar... na verdade queria ele da forma que eu acho que não tem, superbit e triplo (para ver com calma o disco do documentário).

 

 

 

 

 

 

 

 

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É difícil de achar mesmo Bern@rdo' date=' em muitos lugares está esgotado ou fora de catálogo (caso da versão mais antiga) eu quando vi tive que alugar, também ainda não encontrei para comprar... na verdade queria ele da forma que eu acho que não tem, superbit e triplo (para ver com calma o disco do documentário).
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Pois é. E quando eu alugar Lawrence..., verei com muita calma e pausadamente. Lean merece isso.
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Depois de 22 anos, a volta de Norman ao Bates Motel, nessa continuação do clássico de Hitchcock.

 

 

 

Psicose II - Richard Franklin

 

(por Dook)

 

 

 

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FILME: PSICOSE II (Psycho II) de Richard Franklin (1983)

 

 

 

SINOPSE: Norman Bates é liberado do sanatório, 22 anos após os eventos do primeiro filme. Sua volta ao motel, como diria o personagem Hardy, “não vai dar certo”...

 

 

 

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OBSERVAÇÃO: O texto está cheio de spoilers. Veja o filme antes de lê-lo se não quiser estragar as reviravoltas. O texto recomenda a experiência de ter visto o filme para que possa ser melhor apreciado.

 

 

 

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O QUE EU ACHO: “Em 1960, a História do Cinema estava sendo escrita... Já se passaram 22 anos e Norman Bates voltou para casa.” Com essa tagline, a Universal inseriu o público dentro que se tratava Psicose II, a seqüência de um dos maiores clássicos não só do cinema, mas também de um dos melhores filmes da filmografia de Alfred Hitchcock. Não dá pra negar que a continuação foi proposta com o único intuito de pegar carona na onda “slasher” do terror que, em 1982, estava a todo vapor, produzindo filmes de terror em doses cavalares. Para se ter uma idéia, a série Sexta-Feira 13 tinha lançado seu terceiro episódio e já estava anunciando a produção de seu quarto; Halloween, por sua vez, também lançava seu terceiro episódio; Tubarão idem. “Por que não trazer de volta Norman Bates?” deve ter pensado um executivo do estúdio onde Hitch terminou sua prolífica carreira... Neste contexto mercantilista, a continuação teve sua produção iniciada, dirigida pelo desconhecido (e posteriormente amaldiçoado pela crítica) Richard Franklin, mas alguma coisa fez com que o filme deixasse de ser apenas mais um filme de suspense/terror para se tornar um complemento único à excelência que Hitch mostrou de forma tão saborosa no filme de 1960...

 

 

 

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Psicose II é um filme sobre alguns assuntos. Um deles é sobre as mães e seus filhos (plural). Norman Bates (Anthony Perkins), tido como incapaz de compreender a natureza de seus atos, é condenado a cumprir sua pena em um sanatório. Duas décadas mais tarde, a Justiça concluiu pela soltura do sujeito por achar que ele restaurou sua sanidade e está apto a ser ressocializado, para desespero de Lila Crane Loomis (Vera Miles, única participante do filme anterior que retornou junto com Perkins), irmã de Marion Crane, a famosa vítima que morreu no chuveiro no filme anterior, que acha que “as pessoas nunca mudam”.

 

 

 

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Tendo de volta o seu motel de beira de estrada, Norman tenta retomar sua vida aos poucos, trabalhando numa lanchonete, onde conhece Mary Samuels (Meg Tilly), uma moça com problemas com o namorado, a quem Norman convida gentilmente para passar o tempo que for necessário em seu motel. E é aí que as coisas começam a degringolar. Norman passa a receber telefonemas de alguém que se diz sua mãe e começa a receber bilhetes supostamente assinados por sua mãe exigindo que “a vagabunda precisa sair da casa” – se referindo a Mary. E aí começa o processo de degeneração mental do seu protagonista, numa espiral de vertigem que lembra a viagem ao inferno do protagonista de outro clássico do mestre Hitch: Um Corpo que Cai.

 

 

 

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A entrada de Mary na vida de Norman é o estopim que desencadeia seu processo de degeneração e retorno homeopático, porém intenso, à loucura e desorientação. Mary é filha de Lila, manipulada pela mãe obcecada a atender seu capricho: mandar Norman de volta ao sanatório. Neste ponto, a narrativa de Psicose II estabelece um paralelo irônico entre o protagonista e sua amiguinha: ambos são manipulados por suas mamães e Psicose II versa sobre o conflito de ambos em se livrarem dessa influência maternal. Só que as mamães enlouquecem as suas crias que as obedecem o que nos dá uma perspectiva sombria do princípio bíblico “honra tua mãe e teu pai para que te prolonguem teus dias de vida”.

 

 

 

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A lenta degeneração de Norman, claro, trará como resultado mais mortes, a começar pela de seu gerente bebum (Denniz Franz, desagradável – no bom sentido – que rouba a cena) que transformou seu motel num puteiro de beira de estrada. Entretanto, quando o expectador começa a querer “comprar” o filme, a narrativa surpreende e insere elementos que jogam quem assiste em diversas direções. Em um momento, pode-se acreditar que Norman seja o assassino; em outro momento, crê-se que Lila e Mary chegaram a um ponto onde o assassinato começa ser o último recurso para surtar de vez o pobre Norman; em outro momento, tem-se a possibilidade de que uma TERCEIRA pessoa possa estar por trás dos assassinatos e até dos telefonemas e dos bilhetes.

 

 

 

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Ao oferecer diversas hipóteses para os vários acontecimentos, Psicose II “convida” o expectador a fazer parte daquele amontoado de eventos que remetem à loucura e aí começa o processo de degeneração mental do EXPECTADOR!! Psicose II insere elementos, a princípio, desconexos entre si, informações desencontradas e meias-verdades para fazer com que o expectador partilhe da degeneração de Norman e surte junto com o protagonista chegando a um ponto onde o expectador pode começar a questionar o que é real e o que é fruto da insanidade de seus personagens.

 

 

 

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É essa espiral interativa que torna Psicose II um filme saboroso de ser assistido, dentro do contexto ‘caça níquel’ na qual ele fora concebido. Talvez tenha sido o carinho com o qual o roteirista Tom Holland (que, dois anos mais tarde dirigiria aquele que considero seu melhor filme, o fantástico A Hora do Espanto) e o diretor Franklin tenham olhado para o original e o cuidado no qual devem ter concebido este segundo filme que, se não é melhor que o original (desenvolverei mais disso adiante), continua com dignidade todo aquele universo estabelecido por Hitchcock e, mesmo assim, se utiliza da linguagem típica dos filmes de terror do período, ao mesmo tempo em que renegou seus excessos gerando um filme que é quase a cara do terror/suspense dos anos 80, mas também é diferente de tudo que foi produzido no gênero nesse mesmo período.

 

 

 

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Sem querer ser superior ao original, Psicose II desenvolve-se de maneira narrativamente surpreendente para uma seqüência de um filme clássico ‘de terror’ onde as suas personagens ditam o rumo e ritmo dos acontecimentos e não o inverso. É um desses filmes onde quem assiste faz aquela pergunta tão preciosa e rara em muitos filmes hoje “como isso vai acabar?”

 

 

 

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Entretanto, por ser cria de uma época em que filmes de suspense/terror eram feitos de maneira ‘fast food’, Psicose II possui seus problemas narrativos que, infelizmente, o afastam de atingir a luz do filme original. Esses problemas concentram-se basicamente no epílogo, onde se soluciona uns 60% dos mistérios relativos à trama. Embora termine-se o filme sabendo quem é o responsável pela maioria das mortes, ainda se fica com a dúvida com relação ao restante das mortes não cobertas pela revelação do assassino, o que é sempre bom. Porém, a revelação em si soa mais ou menos como a relação de amor entre Anakin e Padmé em Star Wars – Episódio II: acontece por exigência do roteiro e não por um desenvolvimento natural dos fatos e acontecimentos que levam ao desmascarar do assassino. É como se o responsável por tudo chegasse no final do filme e dissesse ‘Hey, sou eu, eu fiz tudo!!’ Problema idêntico acometeu o primeiro Sexta-Feira 13 onde o assassino chega e praticamente diz “é, eu matei todo mundo mesmo!” A própria idéia de que Norman Bates possa ter tido uma “outra mãe” é também risível e dispensável.

 

 

 

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Porém, mesmo após a solução referente a maior parte dos assassinatos, a narrativa volta a flertar com o macabro presente no filme original, brindando a seqüência com uma cena que remete imediatamente ao filme original, fazendo homenagem e introduzindo o expectador de volta ao “status quo operandi” de Norman Bates. Psicose II termina onde o original começa. A sensação de “perda de tempo” pode surgir na cabeça de alguns viewers desatentos, mas acredito que a cinefilia ganhou e muito com o filme, já que o final evita o caminho fácil tão típico dos filmes do gênero, termina de forma angustiante e coloca o expectador diante de uma redenção às avessas, macabra. Para Norman Bates, a sua noção de normalidade é diferente da noção comum do mesmo termo para as outras pessoas. O personagem só encontra paz de espírito na companhia da sua mãe, mesmo que o preço a ser pago seja a sua sanidade e, eventualmente, das pessoas à sua volta.

 

 

 

Tecnicamente, o filme tenta se afastar de seus “primos” do gênero da mesma época. Franklin, exibindo um faro apurado que, até onde eu saiba, não se repetiu em seus filmes posteriores (o cara nunca emplacou no ofício), pinta Psicose II de forma impressionante, mais uma vez, dentro do contexto em que fora concebido. Iniciando seu filme com a cena clássica do chuveiro do filme original – opção que não me agrada de jeito nenhum por razões óbvias, o diretor surpreende quando mostra pq escolheu a cena em questão para abrir seu filme. Ao soar os acordes da impressionante e insana trilha de Jerry Goldsmith, Franklin nos leva do mundo P&B do filme original, para o Technicolor dos anos 80, de forma gradual, na fotografia de Dean Cundey (colaborador de outrora de Spielberg e John Carpenter), com a casa de Norman ao fundo.

 

 

 

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E não pára por aí. O diretor sempre que pode insere planos parecidos com os do filme original, prestando homenagem e fazendo referência. O recado é claro: Psicose II não é só uma seqüência do filme de Hitchcock. É uma HOMENAGEM ao filme clássico, como mostram os créditos finais, ao mesmo tempo em que existe independente deste, técnica e narrativamente falando. Amostras disso há aos montes como a idéia de centrar na casa de Norman Bates 60% dos acontecimentos do filme, fazendo da casa um personagem de trama, com seus corredores, sua escadaria tão bem utilizada no original (e aqui replicada de forma fidelíssima) e mostrando outros detalhes como o banheiro da casa (outra referência ao original), a cozinha, a saída dos fundos, o sótão e mais detalhes do porão. Aliás, o porão rende uma das seqüências mais impressionantes tecnicamente falando (e que, de certa forma, é também uma referência ao original): a morte de um rapaz visto pelo lado de fora da janela do porão, janela essa que também reflete de forma sobreposta, o rosto atônito de sua namorada que a tudo assiste.

 

 

 

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A trilha sonora, por sua vez, poderia ter trilhado o caminho fácil que seria repetir o tom da trilha de Bernard Hermmann. Mas Goldsmith adiciona melancolia e uma dose pesada de insanidade e descontrole em sua trilha para ressaltar musicalmente a degeneração mental dos personagens (e, eventualmente a do expectador também). Hermann deve ter ficado orgulhoso.

 

 

 

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Por fim, Franklin faz um trabalho que, se obviamente não se compara à sutileza e esmero de Hitchcock, tampouco joga seu filme na vala das seqüências típicas do período em que foi feito. Há ali o nítido interesse em criar um suspense genuíno, proveniente do próprio conceito criado por Hitchcock (a dilatação do tempo, de tudo aquilo que faz o coração palpitar mais forte), através de planos curiosos como o do POV do sótão da casa enquanto se vê, lá embaixo, uma pessoa correndo em direção ao mato.

 

 

 

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Psicose II é, em síntese, um achado singular. Gerado como uma seqüência totalmente desnecessária (qual a razão criativa de tirar Norman Bates do sanatório e coloca-lo no motel onde se sabe que – ooooh – mais pessoas morrerão de novo?), o filme é a comprovação de que a FORMA com que é feito, dirigido e montado, faz toda a diferença no produto final em relação à sua premissa. Hitch deve ter aplaudido de pé, mesmo com ressalvas, lá do céu dos gênios.

 

 

 

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PRESTE ATENÇÃO: Na atuação milimetricamente calculada de Anthony Perkins. O cara consegue agregar camadas ao seu personagem que qualquer um julgaria impossível, após a conclusão do filme anterior. Sentimentos conflitantes em relação ao personagem não serão incomuns. Aproveite e se delicie.

 

 

 

POR QUÊ NÃO PERDER:Porque é uma seqüência diferente do que se está acostumado a ver. Psicose II continua, na melhor acepção do termo, o filme anterior, acrescentando coisas ao que já havia sido estabelecido no filme anterior deixando aquele universo mais rico, sem repetir as coisas. E o próprio trailer do filme já deixa qualquer um com água na boca:

 

 

 

http://www.youtube.com/watch?v=jxn5kKG6oZM

 

 

 

INFORMAÇÕES DO DVD:

 

Formato de tela: Fullscreen open matte (utilize o zoom de sua TV widescreen ou DVD player e o filme se encaixará na tela dentro do seu aspecto original de cinema: 1,85:1; áudio: inglês e espanhol, ambos Dolby Digital 5.1; sem extras.

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