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Postem a Arte de Vocês


artemis_delarge
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Please, não encarem como pretensão postar isso aqui.smiley36.gif Acabei de fazer esse conto, e preciso entregar ele segunda-feira. Sofrerá modificações (nem tem título ainda), e preciso de opiniões sinceras de quem estiver disposto a ler, OK? Um “valeu!” desde já.

 

<?:namespace prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" />

Afiada, a luz do sol vertical despenca sobre as cabeças dos displicentes trabalhadores. Cada qual com seus cacos e intactos, com seus cantos e encantos, esperando perante prosas indefinidas de seus desejos sublinhados, num ponto de ônibus da cidade qualquer, e de qualquer cidade num ponto. Suspirados pelos ventos, olham baixo como se devessem a própria vida à própria vida. Inclinam-se e declinam-se. Rastejam e rastreiam por uma simples migalha de oportunidade.

 

Ainda que soubessem (e sabem), nada poderiam contra a verdade, pois a verdade é inventada, é invertida, é infundada, tão rasa quanto seus pratos ao fim do dia. Prisão para alma, que não se vê, não se toca, mas se sente o tempo inteiro. Alguém se acende, mas ninguém ascende. De um isqueiro jogado ao chão, a um colar de falsas pérolas na mulher com brincos de argola, tudo é vitrola, que amola, esmola, enrola. Uma ladainha impronunciável, incompreensível, mas indispensável, infelizmente.

 

Os sonhos destes homens se estilhaçam, e crassos, se abraçam numa dança envolvente, embalados pelo tédio vagabundo produzido, empacotado e vendido por algum dos vários mendigos que, imundos (e invisíveis), ocupam calçadas inteiras, coordenados por uma orquestra tensa, intensa, que instrumentada pelos sussurros de quem se confessa a si mesmo, promove melodias duras, tão ríspidas quanto às solas dos que a pisam.

 

Em meio a tudo, ou melhor, à margem de tudo, quase gritei. Seria um grito de dor? Não, não conseguia sentir dor (e me sentia feliz por isso, e culpado por me sentir feliz por isso). Seria um grito de desespero? Não, nunca me desesperei em frente à televisão, não seria agora. Um grito de ódio, talvez? Não, seria incoerência. Ainda assim, o grito era o que importava. Quase gritei, quase despejei tudo o que não sabia sentir, quase descontei todas aquelas dívidas que tinha.

 

Mas o sinal abriu.

 

Luis Henrique Boaventura

Forasteiro2006-9-14 17:29:39
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Gole de Café

 

Acordou e instintivamente olhou para o relógio. Era cedo. Nem tentou fechar os olhos novamente, pois sabia que seria em vão. Era mais um daqueles dias onde tudo parece perder o sentido.

             Sentou-se na cama, frustrada, coçou os olhos. Apoiou-se em seus joelhos ossudos e cobriu o rosto com as mãos, dando um forte suspiro. Olhou para frente, levantou-se e foi para o banheiro. Olhou no espelho durante uns minutos, parada. Estava mecânica, como sempre estivera, de manhã. Não prestou atenção ao que via no espelho. Não prestou atenção em nada, aliás. Estava entorpecida pelo ar melancólico da típica manhã de domingo. Voltou à realidade e lembrou-se do café.      

             Passos preguiçosos a levaram até a cozinha. Já estava completamente desperta, porém seus movimentos era rotineiros e não requeriam muito o que pensar. Estava tudo em seu lugar: a cafeteira, o filtro, o pó de café, a água. Tudo extremamente automático.

             Foi até a porta pegar os jornais e as revistas. Sempre vinham uns folhetos inúteis junto às contas e outras correspondências. Folhetos esses que também faziam parte de sua rotina mecânica, pois os jogava fora sem nem os ler. Sentou-se à mesinha da cozinha e tomou um gole do seu café. Estava aliviada por poder fazer isso sozinha. Morava sozinha desde que terminou a faculdade. Não pretendia se casar, não pretendia ter filhos, não pretendia pretender ou depender de nada. Considerava-se independente, claro.

             Namorou poucas vezes, considerava relacionamentos muito complicados, e preferia não fazer parte de um. Sua família a criticava por não ter arranjado alguém. Pena. Optou pela vida seca e movimentada da cidade, onde dias chuvosos, como aqueles, eram sempre cinzas. Mas estava bem assim. Deu mais um gole em seu café, amargo, e então percebeu que havia se esquecido do açúcar. Talvez porque estivesse tão amarga quanto aquele café. Foi para a sala, sentou-se. Reparou que as quinas das paredes estavam descascando. Já tinha visto antes, mas nunca se lembrava de mandar consertar. Pegou uma revista qualquer e começou a folhear. De cara, viu uma foto de um comercial. Um casal, bonito e feliz, acordando em uma tarde chuvosa, deitados em um colchão casualmente colocado no chão. Um dia exatamente como aquele que estava vivenciando. Pensou se dias como o da foto chegam, de fato, a acontecer. Algum dia assim já chegou a acontecer na vida real? Fechou a revista. Era por isso que não se relacionava. A realidade é diferente do que nos é apresentado como padrão, e isso é frustrante. Não é como nos sonhos.

             O que aquele casal da foto faria depois de se levantar daquele colchão? Talvez a mulher fosse para o banheiro e o homem, para a cozinha. Talvez ele fosse reclamar com ela de que deveria se depilar com mais freqüência, que suas pernas o estavam incomodando. Talvez ela respondesse dizendo que a barba por fazer dele, que um dia já foi sexy, agora a arranhava também. E então cada um iria para um lado. O fato é que, para ela, que continuava sentada naquele sofá, não existia “relação saudável”. Conseqüentemente, odiava filmes de comédia romântica. Quando os via, sentia-se enganada. A TV e os jornais dizem que o amor está aí, e cadê? Ela não queria encontrar, queria deixar de se depilar quando quisesse, andar com touca no cabelo e creme na cara quando bem entendesse. Era seu conceito de liberdade. Liberdade. Liberdade?

             Começou a se consumir com essa questão. O que era a liberdade, afinal? Seria a liberdade mais um conceito utópico, criado por revistas e TV, como o casal da foto? Se liberdade não era o amor, então seria a lida que levava? Não mesmo. Embora não admitisse, sabia que sua vida era uma prisão. Dentro de seus pensamentos, gritava.

Foi interrompida por um barulho. A porta do quarto de abria. Um homem, de cueca samba canção, aparece na porta, coça a cabeça e diz, sem muito entusiasmo:

            

- Oi amor.

            

             Já havia desistido há tempos. E nem havia depilado as pernas.

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Please' date=' não encarem como pretensão postar isso aqui.smiley36.gif Acabei de fazer esse conto, e preciso entregar ele segunda-feira. Sofrerá modificações (nem tem título ainda), e preciso de opiniões sinceras de quem estiver disposto a ler, OK? Um “valeu!” desde já.

 

<?:namespace prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" />

Afiada, a luz do sol vertical despenca sobre as cabeças dos displicentes trabalhadores. Cada qual com seus cacos e intactos, com seus cantos e encantos, esperando perante prosas indefinidas de seus desejos sublinhados, num ponto de ônibus da cidade qualquer, e de qualquer cidade num ponto. Suspirados pelos ventos, olham baixo como se devessem a própria vida à própria vida. Inclinam-se e declinam-se. Rastejam e rastreiam por uma simples migalha de oportunidade.

 

Ainda que soubessem (e sabem), nada poderiam contra a verdade, pois a verdade é inventada, é invertida, é infundada, tão rasa quanto seus pratos ao fim do dia. Prisão para alma, que não se vê, não se toca, mas se sente o tempo inteiro. Alguém se acende, mas ninguém ascende. De um isqueiro jogado ao chão, a um colar de falsas pérolas na mulher com brincos de argola, tudo é vitrola, que amola, esmola, enrola. Uma ladainha impronunciável, incompreensível, mas indispensável, infelizmente.

 

Os sonhos destes homens se estilhaçam, e crassos, se abraçam numa dança envolvente, embalados pelo tédio vagabundo produzido, empacotado e vendido por algum dos vários mendigos que, imundos (e invisíveis), ocupam calçadas inteiras, coordenados por uma orquestra tensa, intensa, que instrumentada pelos sussurros de quem se confessa a si mesmo, promove melodias duras, tão ríspidas quanto às solas dos que a pisam.

 

Em meio a tudo, ou melhor, à margem de tudo, quase gritei. Seria um grito de dor? Não, não conseguia sentir dor (e me sentia feliz por isso, e culpado por me sentir feliz por isso). Seria um grito de desespero? Não, nunca me desesperei em frente à televisão, não seria agora. Um grito de ódio, talvez? Não, seria incoerência. Ainda assim, o grito era o que importava. Quase gritei, quase despejei tudo o que não sabia sentir, quase descontei todas aquelas dívidas que tinha.

 

Mas o sinal abriu.

 

Luis Henrique Boaventura

[/quote']

Como eu amo ler textos bem escritos. Parabéns, Foras, ou melhor, Luis Henrique. smiley36.gif

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Valeu Jeffs, só não me chame assim.smiley36.gif Eu acrescentei mais dois parágrafos.

Afiada, a luz do sol vertical despenca sobre as cabeças dos displicentes. Cada qual com seus cacos e intactos, com seus cantos e encantos, esperando perante prosas indefinidas de seus desejos sublinhados, num ponto de ônibus da cidade qualquer, e de qualquer cidade num ponto. Suspirados pelos ventos, olham baixo como se devessem a própria vida à própria vida. Inclinam-se e declinam-se. Rastejam e rastreiam por uma simples migalha de oportunidade. <?:namespace prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" />

 

 

Ainda que soubessem (e sabem), nada poderiam contra a verdade, pois a verdade é inventada, é invertida, é infundada, tão rasa quanto seus pratos ao fim do dia. Prisão para alma, que não se vê, não se toca, mas se sente o tempo inteiro. Alguém se acende, mas ninguém ascende. De um isqueiro jogado ao chão, a um colar de falsas pérolas na mulher com brincos de argola, tudo é vitrola, que amola, esmola, enrola. Uma ladainha impronunciável, incompreensível, mas indispensável, infelizmente.

 

 

Pessoas, mulheres, crianças. Ali, todos eram homens, sem direito ao menor sopro de compaixão. Homens que, inertes por fora, percorriam léguas em volta de si mesmos. Eram labirintos cercados pelos mais altos muros, pelas mais entrelaçadas trepadeiras. Ainda assim, era possível (mas só às vezes) ver suas sombras procurando, alçados por esperanças condicionadas, uma saída, ainda que não soubessem o que isto significasse.

 

 

Leva-se um instante (talvez dois, dependendo) para descobrir que fechar os olhos é a melhor forma de enxergar. Os gritos que ecoavam dentro de cada um deles é que procuravam uma saída. Tão fortes, que produziam sombras, tão envergonhados, que marcavam rastros em silêncio, e tão densos, que sequer atravessavam as raras frestas das trepadeiras.

 

 

Os sonhos destes homens se estilhaçam, e crassos, se abraçam numa dança envolvente, embalados pelo tédio vagabundo produzido, empacotado e vendido por algum dos vários mendigos que, imundos (e invisíveis), ocupam calçadas inteiras, coordenados por uma orquestra tensa, intensa, que instrumentada pelos sussurros de quem se confessa a si mesmo, promove melodias duras, tão ríspidas quanto às solas dos que a pisam.

 

 

Em meio a tudo, ou melhor, à margem de tudo, quase gritei. Seria um grito de dor? Não, não conseguia sentir dor (e me sentia feliz por isso, e culpado por me sentir feliz por isso). Seria um grito de desespero? Não, nunca me desesperei em frente à televisão, não seria agora. Um grito de ódio, talvez? Não, seria incoerência. Ainda assim, o grito era o que importava. Quase gritei, quase despejei tudo o que não sabia sentir, quase descontei todas aquelas dívidas que tinha.

 

 

Mas o sinal abriu.

 

 

Luis Henrique Boaventura

 

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Gole de Café

Acordou e instintivamente olhou para o relógio. Era cedo. Nem tentou fechar os olhos novamente' date=' pois sabia que seria em vão. Era mais um daqueles dias onde tudo parece perder o sentido.

             Sentou-se na cama, frustrada, coçou os olhos. Apoiou-se em seus joelhos ossudos e cobriu o rosto com as mãos, dando um forte suspiro. Olhou para frente, levantou-se e foi para o banheiro. Olhou no espelho durante uns minutos, parada. Estava mecânica, como sempre estivera, de manhã. Não prestou atenção ao que via no espelho. Não prestou atenção em nada, aliás. Estava entorpecida pelo ar melancólico da típica manhã de domingo. Voltou à realidade e lembrou-se do café.      

             Passos preguiçosos a levaram até a cozinha. Já estava completamente desperta, porém seus movimentos era rotineiros e não requeriam muito o que pensar. Estava tudo em seu lugar: a cafeteira, o filtro, o pó de café, a água. Tudo extremamente automático.

             Foi até a porta pegar os jornais e as revistas. Sempre vinham uns folhetos inúteis junto às contas e outras correspondências. Folhetos esses que também faziam parte de sua rotina mecânica, pois os jogava fora sem nem os ler. Sentou-se à mesinha da cozinha e tomou um gole do seu café. Estava aliviada por poder fazer isso sozinha. Morava sozinha desde que terminou a faculdade. Não pretendia se casar, não pretendia ter filhos, não pretendia pretender ou depender de nada. Considerava-se independente, claro.

             Namorou poucas vezes, considerava relacionamentos muito complicados, e preferia não fazer parte de um. Sua família a criticava por não ter arranjado alguém. Pena. Optou pela vida seca e movimentada da cidade, onde dias chuvosos, como aqueles, eram sempre cinzas. Mas estava bem assim. Deu mais um gole em seu café, amargo, e então percebeu que havia se esquecido do açúcar. Talvez porque estivesse tão amarga quanto aquele café. Foi para a sala, sentou-se. Reparou que as quinas das paredes estavam descascando. Já tinha visto antes, mas nunca se lembrava de mandar consertar. Pegou uma revista qualquer e começou a folhear. De cara, viu uma foto de um comercial. Um casal, bonito e feliz, acordando em uma tarde chuvosa, deitados em um colchão casualmente colocado no chão. Um dia exatamente como aquele que estava vivenciando. Pensou se dias como o da foto chegam, de fato, a acontecer. Algum dia assim já chegou a acontecer na vida real? Fechou a revista. Era por isso que não se relacionava. A realidade é diferente do que nos é apresentado como padrão, e isso é frustrante. Não é como nos sonhos.

             O que aquele casal da foto faria depois de se levantar daquele colchão? Talvez a mulher fosse para o banheiro e o homem, para a cozinha. Talvez ele fosse reclamar com ela de que deveria se depilar com mais freqüência, que suas pernas o estavam incomodando. Talvez ela respondesse dizendo que a barba por fazer dele, que um dia já foi sexy, agora a arranhava também. E então cada um iria para um lado. O fato é que, para ela, que continuava sentada naquele sofá, não existia “relação saudável”. Conseqüentemente, odiava filmes de comédia romântica. Quando os via, sentia-se enganada. A TV e os jornais dizem que o amor está aí, e cadê? Ela não queria encontrar, queria deixar de se depilar quando quisesse, andar com touca no cabelo e creme na cara quando bem entendesse. Era seu conceito de liberdade. Liberdade. Liberdade?

             Começou a se consumir com essa questão. O que era a liberdade, afinal? Seria a liberdade mais um conceito utópico, criado por revistas e TV, como o casal da foto? Se liberdade não era o amor, então seria a lida que levava? Não mesmo. Embora não admitisse, sabia que sua vida era uma prisão. Dentro de seus pensamentos, gritava.

Foi interrompida por um barulho. A porta do quarto de abria. Um homem, de cueca samba canção, aparece na porta, coça a cabeça e diz, sem muito entusiasmo:

            

- Oi amor.

            

             Já havia desistido há tempos. E nem havia depilado as pernas.

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What the fuck?!smiley32.gif Bem, tô na net discada, mas quando puder vou dar uma boa viajada nesse teu texto. Aliás, todos poderiam fazer isso, aí depois você poderia dizer o que "acertamos", enfim, a interpretação "oficial". Oficina de leitura no CeC, que tal?smiley4.gif

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Já que estão postando textos aqui...Vou postar 1 capítulo por dia de meu..."romance" inacabado."Elvis & Virna":

 

01 




Não fazia tanto calor,mas Elvis suava,esforçando-se para pegar as moedas que havia recebido de troco da loja,para comprar um sorvete do vendedor ambulante que oferecia desesperado o produto,provavelmente feitos com água suja e corantes de qualidade não muito confiáveis,mas frios como qualquer sorvete suíço,e era isso o que Elvis precisava enquanto esperava o ônibus.Mas estava com uma das mãos ocupadas com uma sacola contendo alguns discos velhos que havia levado para trocar numa loja de discos usados,no centro.Dois Led Zeppelin e um Black Sabbath.Adorava Led Zeppelin,mas preferia tê-los em cd mesmo,não se importava tanto com o efeito nostálgico dos lps,mas sim com a praticidade de poder levar a música para onde fosse,em seu discman.Black Sabbath Elvis não gostava tanto e estava mesmo querendo se livrar do disco,que havia comprado anos antes,por volta dos 16 anos de idade,quando estava num "período de descoberta dos clássicos",como ele mesmo gosta de classificar.Nessa mesma época ele conheceu Led,Doors,Who,Queen,entre tantos outros dinossauros.Foi um período completamente didático em que estudava a biografia das bandas através de pôsteres vagabundos de banca de jornal,e comprava os discos sem nem mesmo saber que músicas haviam neles,apenas seguindo as indicações da coluna Discografia Básica na página final da revista Bizz.O que importava era que conhecesse todas as bandas que já existiram um dia,mesmo que só superficialmente.Sentia que a qualquer momento poderia precisar dizer a alguém que Eric Clapton havia sido o guitarrista dos Yardbirds,e que aquela informação o elevaria à um grau acima da impressão que tinham em relação a ele.Algumas dessas bandas se tornaram suas bandas preferidas,como o Led Zeppelin.Outras ganharam definitivamente o seu respeito pela qualidade ou peculiaridade de sua música,mas muitas outras Elvis simplesmente não gostou,mesmo sendo consideradas bandas pioneiras e "fodas",como o Black Sabbath.<?:namespace prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" />

 

O vendedor da loja de discos já tinha várias cópias daqueles discos que Elvis trouxe,e não quis trocá-los pelo cd Rated,do Queens Of The Stone Age,que Elvis namorou durante uns 20 minutos,até conseguir coragem para fazer sua proposta indecente:

-Mas são bons discos.São clássicos...Queens é só uma bandinha da moda.
-Estão desvalorizados.Tem um monte de baboseira escrita na contracapa,isso não se faz cara...Pra que escrever seu nome na capa do disco? Nunca se deve pichar um disco.Você tem que pensar sempre no valor que ele poderá ter daqui a vinte anos ao comprar um disco,e não se preocupar em registrar que foi você que comprou ele.Discos são do mundo,cara.Só a música é que fica...E Queens Of The Stone Age é a salvação do rock and roll,camarada...

Elvis adorava aquele tom filosófico nele,mas detestava o fato de nunca ter conseguido fazer uma troca proveitosa.Só havia conseguido trocar um disco do U2 por uma coletânia bastante ruinzinha do Capital Inicial,mas que tinha a versão original de Veraneio Vascaína,que Elvis gostava muito.


Pediu para o vendedor de sorvete segurar sua sacola enquanto pegava as moedas,pagando o picolé de uva.O gosto era dos antigos refrescos em pó Kisuco,e ele chegou à casa de Luiz Antônio com a língua roxa.


- Por que não?
- Porque ela é uma mulher e você é um homem.E se ela te convidou pra sair isso quer dizer que foi alterado o curso natural das coisas para facilitar o ato.Ela quer,você nem precisou investir na idéia.Por isso não pode recusar.
- Porque não posso recusar? Uma mulher recusaria e se aceitasse tão facilmente seria chamada de vagabunda.
- ...E você de bicha.

Elvis não gostava de Gilda.Usava batom demais e as unhas eram grandes demais.E ela ria demais e muito alto e aquilo o incomodava.Em certa ocasião enquanto eles almoçavam,ela teve um ataque de riso repentino por causa de alguma piada que ela mesmo havia contado,e começou a pedir que ele batesse em suas costas para que ela pudesse respirar,pois havia se sufocado com o refrigerante.Ele queria na verdade sair dali se esgueirando pela sombra das paredes e entrar no banheiro reservado para os deficientes físicos,por ser mais espaçoso,e permanecer ali até todos terem ido embora,inclusive ela.Ele gostava de espaço e sempre usava o banheiro reservado para os deficientes físicos,não só pelo espaço mas também pela limpeza.Parece que as faxineiras limpavam melhor o banheiro dos deficientes,por algum motivo que ele não conseguia certificar,mas que cogitava.Talvez tivessem deficientes físicos na família,ou fossem muito religiosas e achassem que teriam seus pecados perdoados se cuidassem bem do banheiro dos pobres deficientes físicos.

- Ela gosta de você,sabia? - disse Elvis a Luiz,esgueirando-se.
- O negócio é com você,Elvis Presley.Elas não resistem à elegancia do Rei.
- ...Uma vez ela me perguntou há quanto tempo você era casado.
- Tenho cara de casado é? Nem anel eu uso mais..
- Você já conversou com ela sobre seus filhos,Luiz.
- Mesmo? Não lembro.
- Sim,ela sabe até o nome deles.

Elvis conhece Luiz Antônio desde quando foram rejeitados num teste para garotos propaganda para a capa de uma caixa de um brinquedo chamado Bola Teimosa,que era uma espécie de bola de borracha com algum dispositivo estranho dentro dela,que quando você chutava ela nunca ia pra frente,ia sempre pros lados.Suas mães ficaram amigas e consequentemente,eles também.Não amigos,mas acabavam se vendo frequentemente.A amizade veio depois,quando Luiz parou de bater em Elvis,e de roubar seus brinquedos.

Elvis agora estava tentando perfurar a mesa com a ponta arredondada da faca de mesa,enquanto Luiz acabava de bater algo no liquidificador.Ele estava sempre tomando aqueles energéticos que anunciavam na tv.As crianças estavam dormindo,e Aline,sua esposa,estava no trabalho.Elvis pensava em algo pra dizer,mas esperava Luiz acabar de tomar aquela coisa,ele parecia muito concentrado tomando aquilo e poderia atrapalhar no ritual de energização se ele falasse algo que fizesse seu cérebro trabalhar ao mesmo tempo que o estômago.Resolveu não dizer nada e saiu sem que Luiz percebesse,enquanto ele estava virado para a pia,tomando aquilo.Precisava respirar.Ainda era de manhã e as ruas ainda estavam sujas com tantos panfletos,jogados na noite anterior por membros de uma passeata contra algo que ele não prestou atenção,pois havia alugado filmes idiotas de terror e aquilo o divertia mais.

Elvis tinha 25 anos.Uma idade que o mantinha com o rótulo de "jovem",porém o alertava a todo momento que essa juventude estava dando tchauzinho lentamente,e isso o preocupava um pouco.Às vezes se pegava imaginando como ele estaria dentro de 10 anos,e não sabia se tinha mais medo das mudanças que poderiam acontecer com ele,ou se o medo maior mesmo era de que nada mudasse.Não era tão alto,nem tão baixo.Ao contrário do rei do rock,ele não tinha um topete,na verdade preferia cortar os cabelos de forma que o deixasse praticamente sem cabelo algum,apenas uma minúscula camada rente ao couro cabeludo,para suavizar a queda de cabelo na parte posterior da cabeça.Não era nem nunca havia sido o "terror da mulherada",como Luiz havia sugerido,não exatamente por sua feiúra,já que considerava ter uma aparência até que bastante aceitável,impedindo por exemplo um emprego num circo,ao lado da Mulher Barbada ou de alguma outra aberração do tipo,mas sentia que não era interessante o suficiente para ser amado por alguém,pois era comum demais e não sabia surpreender.Talvez Gilda o amasse,mas não da forma como ele imagina que poderiam amá-lo se ele não fosse tão sem graça.Ele se imaginava com alguma garota especial,em cenas inspiradas à beira de uma praia deserta,ao por do sol,com olhos brilhando de encantamento e as ondas banhando levemente seus pés descalços,terminando com um longo beijo,deitados na areia,com Love Hurts tocando de fundo.Mas no fundo ele preferia ser como os outros caras que ele conhece no trabalho e em toda parte.Queria simplesmente falar de mulheres da mesma forma como falaria de carros potentes ou futebol,assim como todos pareciam sentir tanto orgulho ao falarem dessas coisas,enquanto coçavam o saco.

 

Elvis não se interessava por carros potentes.Nunca havia visto Velozes e Furiosos,e se sentiu uma bicha certa vez,quando foi à locadora e o balconista malhado começou a insistir em recomendar aquele filme e ele acabou optando por levar Magnólia e Beleza Americana.Foi caminhando timidamente até o balcão e jogou os filmes ali,desviando o olhar para os lados,preocupado com a reação de decepção do atendente,mesmo já estando acostumado com aquilo.Estava afim de assistir filmes com planos suaves e intelectualmente interessantes ao invés de ficar vendo um bando de babacas dirigindo carros coloridos.Ele também não fazia a menor idéia de quem havia ganho a final da Taça Libertadores no último final de semana,e achava que o Ronaldo ainda era o goleiro do Corinthians.Mas apesar de fugir totalemente do estereótipo de macho,ele gostava de mulheres.Não da forma escatológica como todos pareciam gostar,mas gostava.Do cheiro,das formas,da suavidade com que encaravam as coisas.O problema é que ele estava quase sempre tão alheio à tudo que a tal mulher-da-sua-vida poderia já ter passado diversas vezes na sua frente e ele perdeu a oportunidade de vê-la,abaixando-se para amarrar o cadarço do tênis,por exemplo,desviando-se da flexada.

Estava mesmo sempre alheio a tudo,e talvez aquele fosse o seu maior problema, pensava,enquanto chutava os papéis da passeata  no chão,abrindo caminho.Talvez precisasse mesmo dividir mais as coisas e não se fechar tanto em seu mundinho confortável ilusoriamente pago pelo seu cartão de crédito.Talvez fosse bom assumir um romance com a colega de trabalho das unhas grandes,aquilo poderia trazer maior peso à sua trajetória,poderia ser legal um dia dizer que havia ficado com uma garota do escritório,numa rodinha animada de amigos sexualmente ativos.Ou não.Ele agora já não sabia o que o incomodava minutos atrás.

 

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Foras,o teu ficou show!!!!

Artemis,o teu me fez pensar um pouco....

Dante,teu desenho tá bem legal,ficou um estilo bacana...mas não ví nenhum "peitão" nesse desenho não.....acho melhor vcs (Dante e Ethan) pararem de pegar menina e pegar mulher...ai vcs vão ver o que é peito de verdade....

Foras e Artemis,bem que vcs podiam explicar o texto de vcs em um post abaixo do post do texto.

Foras,o teu seria o personagem olhando para "peões" esperando o ônibus no ponto enquanto espera o sinal abrir...

Artemis,o teu seria uma mulher já casada que está apenas num dia ruin?

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Dante' date='teu desenho tá bem legal,ficou um estilo bacana...mas não ví nenhum "peitão" nesse desenho não.....acho melhor vcs (Dante e Ethan) pararem de pegar menina e pegar mulher...ai vcs vão ver o que é peito de verdade....

[/quote']

Valeu!smiley9.gif

E eu também não sei o que ele quis dizer com "peitões". Eu não pus peitões nela, muito pelo contrário.smiley5.gif

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Bom, vou colocar a letra de uma música da minha banda...

Aonde Vou Chegar<?:namespace prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" />

 

Eu não sei pra onde ir tudo que eu descobri

A respeito de ser feliz não há respostas por aí

Vou seguindo em contramão atropelado pela multidão

Vou com a certa direção que o trivial é a solução

 

E o melhor ficou pra trás

E a distância é demais

E o tesouro estava embaixo de nossos pés

 

Deixo a onda me levar eu sigo o tumulto

Aqui em cima agora eu vou surfar

Esse mar vai me levar relaxo o meu corpo

Eu não sei aonde eu vou chegar

 

Como dizer pra você qual caminho e responder

Se encontrei uma estrada aqui é a em que me fiz perder

Não vou mais dizer pra mim pra fazer o que sentir

É sempre melhor esquecer é o que fazemos sem perceber

 

E o melhor ficou pra trás

E a distância é demais

São perguntas sem porquê

 

Deixo a onda me levar eu sigo o tumulto

Aqui em cima agora eu vou surfar

Esse mar vai me levar relaxo o meu corpo

Eu não sei aonde eu vou chegar

 

Eu não sei pra onde ir não há respostas por aí

Mas nem precisa me seguir é só todo passo ser para frente

 

Deixo a onda me levar eu sigo o tumulto

Aqui em cima agora eu vou surfar

Esse mar vai me levar relaxo o meu corpo
Eu não sei aonde eu vou chegar

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Artemis' date='o teu me fez pensar um pouco....

Foras e Artemis,bem que vcs podiam explicar o texto de vcs em um post abaixo do post do texto.

Artemis,o teu seria uma mulher já casada que está apenas num dia ruin?

[/quote']

eu acho que a beleza da arte é como ela se transforma de pessoa pra pessoa, como um momento da vida de alguem pode faze-la enxergar algo de uma maneira diferente... essa identificação é importante. mas no caso, eu até tenho uma resposta. acho que mais do que um dia ruim, é um momento ruim, onde ela esta meio que entorpecida pela rotina que nem ve mais as coisas que antes eram importantes (marido, amor, etc..)

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<?:namespace prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" />

Gole de Café

Acordou e instintivamente olhou para o relógio. Era cedo. Nem tentou fechar os olhos novamente' date=' pois sabia que seria em vão. Era mais um daqueles dias onde tudo parece perder o sentido.

             Sentou-se na cama, frustrada, coçou os olhos. Apoiou-se em seus joelhos ossudos e cobriu o rosto com as mãos, dando um forte suspiro. Olhou para frente, levantou-se e foi para o banheiro. Olhou no espelho durante uns minutos, parada. Estava mecânica, como sempre estivera, de manhã. Não prestou atenção ao que via no espelho. Não prestou atenção em nada, aliás. Estava entorpecida pelo ar melancólico da típica manhã de domingo. Voltou à realidade e lembrou-se do café.      

             Passos preguiçosos a levaram até a cozinha. Já estava completamente desperta, porém seus movimentos era rotineiros e não requeriam muito o que pensar. Estava tudo em seu lugar: a cafeteira, o filtro, o pó de café, a água. Tudo extremamente automático.

             Foi até a porta pegar os jornais e as revistas. Sempre vinham uns folhetos inúteis junto às contas e outras correspondências. Folhetos esses que também faziam parte de sua rotina mecânica, pois os jogava fora sem nem os ler. Sentou-se à mesinha da cozinha e tomou um gole do seu café. Estava aliviada por poder fazer isso sozinha. Morava sozinha desde que terminou a faculdade. Não pretendia se casar, não pretendia ter filhos, não pretendia pretender ou depender de nada. Considerava-se independente, claro.

             Namorou poucas vezes, considerava relacionamentos muito complicados, e preferia não fazer parte de um. Sua família a criticava por não ter arranjado alguém. Pena. Optou pela vida seca e movimentada da cidade, onde dias chuvosos, como aqueles, eram sempre cinzas. Mas estava bem assim. Deu mais um gole em seu café, amargo, e então percebeu que havia se esquecido do açúcar. Talvez porque estivesse tão amarga quanto aquele café. Foi para a sala, sentou-se. Reparou que as quinas das paredes estavam descascando. Já tinha visto antes, mas nunca se lembrava de mandar consertar. Pegou uma revista qualquer e começou a folhear. De cara, viu uma foto de um comercial. Um casal, bonito e feliz, acordando em uma tarde chuvosa, deitados em um colchão casualmente colocado no chão. Um dia exatamente como aquele que estava vivenciando. Pensou se dias como o da foto chegam, de fato, a acontecer. Algum dia assim já chegou a acontecer na vida real? Fechou a revista. Era por isso que não se relacionava. A realidade é diferente do que nos é apresentado como padrão, e isso é frustrante. Não é como nos sonhos.

             O que aquele casal da foto faria depois de se levantar daquele colchão? Talvez a mulher fosse para o banheiro e o homem, para a cozinha. Talvez ele fosse reclamar com ela de que deveria se depilar com mais freqüência, que suas pernas o estavam incomodando. Talvez ela respondesse dizendo que a barba por fazer dele, que um dia já foi sexy, agora a arranhava também. E então cada um iria para um lado. O fato é que, para ela, que continuava sentada naquele sofá, não existia “relação saudável”. Conseqüentemente, odiava filmes de comédia romântica. Quando os via, sentia-se enganada. A TV e os jornais dizem que o amor está aí, e cadê? Ela não queria encontrar, queria deixar de se depilar quando quisesse, andar com touca no cabelo e creme na cara quando bem entendesse. Era seu conceito de liberdade. Liberdade. Liberdade?

             Começou a se consumir com essa questão. O que era a liberdade, afinal? Seria a liberdade mais um conceito utópico, criado por revistas e TV, como o casal da foto? Se liberdade não era o amor, então seria a lida que levava? Não mesmo. Embora não admitisse, sabia que sua vida era uma prisão. Dentro de seus pensamentos, gritava.

Foi interrompida por um barulho. A porta do quarto de abria. Um homem, de cueca samba canção, aparece na porta, coça a cabeça e diz, sem muito entusiasmo:

            

- Oi amor.

            

             Já havia desistido há tempos. E nem havia depilado as pernas.

[/quote']

OK, vejamos. Você consegue traduzir perfeitamente a monotonia na vida da personagem, e sua solidão, principalmente ao citar a manhã cinza de domingo. Isso se deve muito ao fato de sua personagem se perder entre seus próprios pensamentos (não ter dado nome a ela, aliás, foi muito bem sacado). Porém, existem alguns excessos e trechos pouco desenvolvidos nestes “devaneios”. A parte dos folhetos me pareceu fora do ponto, e a parte sobre os filmes de comédia romântica poderia ter rendido bem mais por ela se sentir “enganada”. Aqui acho que você tocou na superfície do que sua personagem sentia em relação à sociedade e o modo como ela levava a vida. Também existem componentes de um discurso feminista no texto, como no “A TV e os jornais dizem que o amor está aí, e cadê? Ela não queria encontrar, queria deixar de se depilar quando quisesse, andar com touca no cabelo e creme na cara quando bem entendesse.”. A personagem, antes imersa num discurso lento e intimista, agora esbraveja contra os estereótipos. Ah, e isso é bom, porque demonstra uma evolução no seu conjunto de idéias, uma intensidade gradativa que vai tomando forma enquanto ela vai acordando. A surpresinha do final dá um contorno ao texto que o identificaria com muitas solteironas por aí. Só acho que sua dedicação ao criar a surpresa fez com que este assunto fosse pouco explorado (caso esta fosse sua intenção). A última frase do texto, “E nem havia depilado as pernas.”, muito sinceramente, considero uma muleta. Ou, eufemisando o negócio, um recurso. Você cita qualquer coisa no início, ou no meio (geralmente é no início) e depois retoma isto para poder terminar o texto. É um troço subjetivo, que eu não gosto muito, mas o próprio Luís Fernando Veríssimo (que, segundo minha professora de lit., “Deus existe pra aquele homem escrever daquele jeito”) já usou muito em seus textos. Tô me lembrando agora de uma pequena série do Fantástico, que convidou alguns escritores para escrever sobre as diferentes décadas (dentre eles, o LFV e o Arnaldo Jabor, meus dois favoritos), onde o LFVeríssimo falou sobre o Uri Gueller no início do seu texto, e lá no final acrescentou com um tom triste “e o Uri Gueller nunca mais voltou pro Brasil”. É a mesma coisa. A propósito, o Uri Gueller havia sim voltado ao Brasil, fato explicado pela Glória Maria logo após a leitura do texto. Enfim, acho que dei importância demais pra isso. Bem, de qualquer forma, peço para que você (sem se preocupar com falsa modéstia nem hipocrisias do tipo) fale sobre o seu próprio texto, o explicando, e dizendo se eu consegui captar mais ou menos o que você quis passar. Ah, quase ia me esquecendo, seu texto está muito bom, e os pontos para os quais apontei negativamente são meramente subjetivos, como tudo nas crônicas e contos. Eu apenas teria feito escolhas diferentes,E por favor, não me acusem de querer ser o sabe-tudo, só quero levar adiante esta idéia de expor nossos textos aqui para que sejam avaliados e criticados pelos usuários do fórum. Seria ótimo se funcionasse!smiley4.gif<?:namespace prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" />

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Mesmo que ninguém tenha lido,continuarei postando mais capítulos do meu livro inacabado,hehe...Lá vai:

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Virna não gostava daquelas crianças.Ela não conseguia entender o porque de toda aquela raiva,mas sabia que ela sempre existiu.Não uma raiva generalizada à todas as crianças do mundo,mas aquelas ela sempre odiou,e disso tinha certeza.Talvez odiasse todas,pois sentia agora,refletindo mais profundamente,que odiara todas as crianças com quem convivera até então.Talvez aquilo realmente tivesse algo a ver com alguma frustração envolvendo sua própria infância,mas ela odiava também qualquer tipo de explicação profunda sobre seus sentimentos,pois achava que tinha o direito de sentir o que quisesse sem que aquilo que sentisse viesse com uma legenda embaixo.Ela não precisava estar incluída no grupo das pessoas que agiam de certa forma devido a certas coisas.

 

- Eles se comportaram direitinho né? - Foi o que disse a senhora Lurdes,completamente descabelada,afastando desajeitadamente os cabelos loiros do rosto,como se estivesse saindo do furacão que levou Dorolte em O Mágico de Oz.Ela havia saído para visitar uma irmã sua que estava com câncer,e antes mesmo de esperar a resposta de Virna,já começou a descrever o estado capilar de sua irmã de forma cruelmente espirituosa:

- Meu Deus,ela está a cara do Kojak.- Disse,rindo nervosamente,enquanto voltava a fechar a porta da frente,sendo que já havia feito isso instantes antes.

Virna não sorriu.Não por achar a piada de péssimo gosto e completamente inapropriada para ser dita em relação à careca de uma pessoa que passou por um doloroso tratamento de quimioterapia,mas porque realmente não sabia quem era Kojak.

- Sim,eles não me deram nenhum problema. - disse,pegando os 15 reais e jogando em sua mochila.Ela também não era do tipo de garotas que usava bolsas,para enche-las de coisas fúteis (fúteis em sua própria concepção,pois se recusava a usar qualquer tipo de coisa para realçar sua beleza,e seus cabelos estavam sempre bastante curtos,evitando a necessidade de pentes e escovas).Dona Lurdes era vista por todos da vizinhança como uma louca que maltratava os filhos,pois uma vez o seu filho menor,Pietro,de 11 anos,apareceu com um enorme olho roxo na escola e ela foi chamada pra exclarecer o fato,e sem nenhum motivo aparente,já que havia antes negado ter feito qualquer mal a ele e que não entendia como ele poderia ter ficado daquele jeito,ela começou a perfurar os próprios punhos com um lápis que estava em cima da mesa da coordenadora do colégio.Talvez as pessoas tivessem mesmo motivos para chamá-la de maluca,mas Virna acreditava também que ela poderia também ter motivos convincentes para deixar o olho de Pietro roxo.

 

Já eram mais de nove da noite e ela ainda pretendia pegar a última sessão,em um cinema da cidade que só exibia filmes tidos como "cult",não necessariamente filmes novos,mas sempre filmes interessantes.E como estava passando Cães de Aluguel,e ela nunca havia conseguido achá-lo em nenhuma locadora,foi vê-lo.Saiu entediada,achando o filme machista demais.Talvez pelo simples e estúpido fato de só haverem homens em praticamente todas as cenas do filme,tirando a cena em que Mister Orange é baleado por uma mulher e numa outra onde uma mulher é arrancada pela janela de um carro.Mas o motivo maior para achar aquilo foi exatamente a conversa inicial dos personagens em relação ao sentido da letra de Like a Virgin,onde um dos personagens defende duramente a idéia de que a letra da música da Madonna falava de uma garota que fazia sexo o tempo todo,mas que quando um dia fez sexo com um cara do pênis muito grande voltou a ter a sensação de que era uma virgem,por isso "Like a Virgin".Enquanto caminhava em direção ao metrô até passou a aceitar que essa poderia ser uma teoria aceitável,levando-se em consideração o filme Na Cama com Madonna,mas ainda achava abominável o fato de todos os homens serem porcos que acreditam mesmo que as mulheres,assim como eles,só pensam em trepar.

 

Quando o metrô chega ela cospe o chiclete e senta-se em uma das cadeiras ao lado da janela.Lembra-se que sempre imaginou,quando criança,que haviam muitos metrôs,que iam para lugares distantes,como a Europa,passando por Tóquio,e só depois de muito tempo voltavam para São Paulo,e não que ele ficava indo e voltando o tempo todo sem sair do lugar.Ainda não tinha certeza se era apenas um que ia e voltava o tempo todo,mas estava exausta demais para cálculos lógicos.Talvez isso a irritasse nas crianças que ela conhece,e nas que conheceu,pois elas estão e estavam sempre certas,e ririam se ela falasse que imaginava que o metro dava uma volta ao mundo,inclusive atravessando oceanos e desertos,para voltar a São Paulo.Sentiu-se levemente perturbada e tentou um cochilo,mas a luz forte do vagão fazia daquilo uma tarefa desconfortável para seus olhos.Reparou que havia um rapaz olhando para ela,e corou,juntando as pernas e fingindo estar procurando algo em sua mochila,que só usava para levar o walkman,fitas cassete,chicletes e livros.Ele também desviou o olhar quando percebeu que ela havia percebido sua existencia,e começou a tossir,colocando a mão em forma de concha na frente da boca.

 

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Gole de Café

Acordou e instintivamente olhou para o relógio. Era cedo. Nem tentou fechar os olhos novamente' date=' pois sabia que seria em vão. Era mais um daqueles dias onde tudo parece perder o sentido.

             Sentou-se na cama, frustrada, coçou os olhos. Apoiou-se em seus joelhos ossudos e cobriu o rosto com as mãos, dando um forte suspiro. Olhou para frente, levantou-se e foi para o banheiro. Olhou no espelho durante uns minutos, parada. Estava mecânica, como sempre estivera, de manhã. Não prestou atenção ao que via no espelho. Não prestou atenção em nada, aliás. Estava entorpecida pelo ar melancólico da típica manhã de domingo. Voltou à realidade e lembrou-se do café.      

             Passos preguiçosos a levaram até a cozinha. Já estava completamente desperta, porém seus movimentos era rotineiros e não requeriam muito o que pensar. Estava tudo em seu lugar: a cafeteira, o filtro, o pó de café, a água. Tudo extremamente automático.

             Foi até a porta pegar os jornais e as revistas. Sempre vinham uns folhetos inúteis junto às contas e outras correspondências. Folhetos esses que também faziam parte de sua rotina mecânica, pois os jogava fora sem nem os ler. Sentou-se à mesinha da cozinha e tomou um gole do seu café. Estava aliviada por poder fazer isso sozinha. Morava sozinha desde que terminou a faculdade. Não pretendia se casar, não pretendia ter filhos, não pretendia pretender ou depender de nada. Considerava-se independente, claro.

             Namorou poucas vezes, considerava relacionamentos muito complicados, e preferia não fazer parte de um. Sua família a criticava por não ter arranjado alguém. Pena. Optou pela vida seca e movimentada da cidade, onde dias chuvosos, como aqueles, eram sempre cinzas. Mas estava bem assim. Deu mais um gole em seu café, amargo, e então percebeu que havia se esquecido do açúcar. Talvez porque estivesse tão amarga quanto aquele café. Foi para a sala, sentou-se. Reparou que as quinas das paredes estavam descascando. Já tinha visto antes, mas nunca se lembrava de mandar consertar. Pegou uma revista qualquer e começou a folhear. De cara, viu uma foto de um comercial. Um casal, bonito e feliz, acordando em uma tarde chuvosa, deitados em um colchão casualmente colocado no chão. Um dia exatamente como aquele que estava vivenciando. Pensou se dias como o da foto chegam, de fato, a acontecer. Algum dia assim já chegou a acontecer na vida real? Fechou a revista. Era por isso que não se relacionava. A realidade é diferente do que nos é apresentado como padrão, e isso é frustrante. Não é como nos sonhos.

             O que aquele casal da foto faria depois de se levantar daquele colchão? Talvez a mulher fosse para o banheiro e o homem, para a cozinha. Talvez ele fosse reclamar com ela de que deveria se depilar com mais freqüência, que suas pernas o estavam incomodando. Talvez ela respondesse dizendo que a barba por fazer dele, que um dia já foi sexy, agora a arranhava também. E então cada um iria para um lado. O fato é que, para ela, que continuava sentada naquele sofá, não existia “relação saudável”. Conseqüentemente, odiava filmes de comédia romântica. Quando os via, sentia-se enganada. A TV e os jornais dizem que o amor está aí, e cadê? Ela não queria encontrar, queria deixar de se depilar quando quisesse, andar com touca no cabelo e creme na cara quando bem entendesse. Era seu conceito de liberdade. Liberdade. Liberdade?

             Começou a se consumir com essa questão. O que era a liberdade, afinal? Seria a liberdade mais um conceito utópico, criado por revistas e TV, como o casal da foto? Se liberdade não era o amor, então seria a lida que levava? Não mesmo. Embora não admitisse, sabia que sua vida era uma prisão. Dentro de seus pensamentos, gritava.

Foi interrompida por um barulho. A porta do quarto de abria. Um homem, de cueca samba canção, aparece na porta, coça a cabeça e diz, sem muito entusiasmo:

            

- Oi amor.

            

             Já havia desistido há tempos. E nem havia depilado as pernas.

[/quote']

OK, vejamos. Você consegue traduzir perfeitamente a monotonia na vida da personagem, e sua solidão, principalmente ao citar a manhã cinza de domingo. Isso se deve muito ao fato de sua personagem se perder entre seus próprios pensamentos (não ter dado nome a ela, aliás, foi muito bem sacado). Porém, existem alguns excessos e trechos pouco desenvolvidos nestes “devaneios”. A parte dos folhetos me pareceu fora do ponto, e a parte sobre os filmes de comédia romântica poderia ter rendido bem mais por ela se sentir “enganada”. Aqui acho que você tocou na superfície do que sua personagem sentia em relação à sociedade e o modo como ela levava a vida. Também existem componentes de um discurso feminista no texto, como no “A TV e os jornais dizem que o amor está aí, e cadê? Ela não queria encontrar, queria deixar de se depilar quando quisesse, andar com touca no cabelo e creme na cara quando bem entendesse.”. A personagem, antes imersa num discurso lento e intimista, agora esbraveja contra os estereótipos. Ah, e isso é bom, porque demonstra uma evolução no seu conjunto de idéias, uma intensidade gradativa que vai tomando forma enquanto ela vai acordando. A surpresinha do final dá um contorno ao texto que o identificaria com muitas solteironas por aí. Só acho que sua dedicação ao criar a surpresa fez com que este assunto fosse pouco explorado (caso esta fosse sua intenção). A última frase do texto, “E nem havia depilado as pernas.”, muito sinceramente, considero uma muleta. Ou, eufemisando o negócio, um recurso. Você cita qualquer coisa no início, ou no meio (geralmente é no início) e depois retoma isto para poder terminar o texto. É um troço subjetivo, que eu não gosto muito, mas o próprio Luís Fernando Veríssimo (que, segundo minha professora de lit., “Deus existe pra aquele homem escrever daquele jeito”) já usou muito em seus textos. Tô me lembrando agora de uma pequena série do Fantástico, que convidou alguns escritores para escrever sobre as diferentes décadas (dentre eles, o LFV e o Arnaldo Jabor, meus dois favoritos), onde o LFVeríssimo falou sobre o Uri Gueller no início do seu texto, e lá no final acrescentou com um tom triste “e o Uri Gueller nunca mais voltou pro Brasil”. É a mesma coisa. A propósito, o Uri Gueller havia sim voltado ao Brasil, fato explicado pela Glória Maria logo após a leitura do texto. Enfim, acho que dei importância demais pra isso. Bem, de qualquer forma, peço para que você (sem se preocupar com falsa modéstia nem hipocrisias do tipo) fale sobre o seu próprio texto, o explicando, e dizendo se eu consegui captar mais ou menos o que você quis passar. Ah, quase ia me esquecendo, seu texto está muito bom, e os pontos para os quais apontei negativamente são meramente subjetivos, como tudo nas crônicas e contos. Eu apenas teria feito escolhas diferentes,E por favor, não me acusem de querer ser o sabe-tudo, só quero levar adiante esta idéia de expor nossos textos aqui para que sejam avaliados e criticados pelos usuários do fórum. Seria ótimo se funcionasse!smiley4.gif<?:namespace prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" />

 

eu escrevi isso com 13 anos, é obvioq ue nao ta tao bom quanto as minhas coisas recentes... :/

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