Matéria da ISTOÉ:
CINEMA
Batman em sua melhor forma
O
filme Batman - O Cavaleiro das Trevas mostra o super-herói na sua mais
eletrizante performance e realça a sua crise moral por agir na
clandestinidade
POR MARINA MONZILLO - Los Angeles
EQUILÍBRO O filme custou US$ 150 milhões e seus efeitos não tiram a atenção do enredo
Na
atual temporada cinematográfica marcada pelos personagens Homem de
Ferro e Hulk, a estréia de um novo episódio de Batman poderia
significar, tão-somente, a chegada às telas de outra adaptação de
história em quadrinhos ávida por rentável bilheteria. Mas Batman, o cavaleiro das trevas
(em cartaz em todo o País a partir da sexta-feira 18) é bem mais que um
simples filme de super- herói. Dirigido por Christopher Nolan, ele vai
além e cria um novo parâmetro para as produções desse gênero.
ASSUSTADOR O vilão Coringa é vivido com garra por Heath Ledger, que morreu de overdose de remédios após as filmagens
Nele
estão, nem poderiam faltar, as alucinantes cenas de ação e o
tradicional festival de efeitos especiais. Mas do roteiro à direção,
passando pela atuação de um time impecável de grandes atores (Michael
Caine, Morgan Freeman, Gary Oldman, por exemplo), tudo é intenso nesse
enredo que, a princípio, poderia ter sido feito só para entretenimento
e diversão – Batman entra em crise e questiona a sua atuação como
justiceiro que combate o crime, mas agindo também fora do sistema legal
estabelecido. O filme, que custou US$ 150 milhões, é a continuação de Batman begins
e pela segunda vez o ator Christian Bale interpreta o homem-morcego. O
que faz a diferença, agora, é a presença do promotor público Harvey
Dent (Aaron Eckhart), uma espécie de “cavaleiro branco” que faz justiça
dentro da lei, ao contrário de Batman, o “cavaleiro das trevas”, que atua na clandestinidade.
A
entrada em cena desse personagem torna mais complexo o enredo. À frente
de uma cruzada contra o crime, a sua rivalidade com o milionário Bruce
Wayne (ou seja, o Batman civil) invade também o terreno amoroso: ele
conquista o coração de Rachel Dawes (Maggie Gyllenhaal), o antigo amor
do super-herói, dando origem a um triângulo que caminha para um final
não muito feliz. O cavaleiro das trevas é, assim, um dos
roteiros mais criativos de filmes de ação. Trata-se, na verdade, de uma
tragédia clássica e seu protagonista é o promotor Harvey Dent. Quem
está familiarizado com as histórias em quadrinhos de Batman sabe que
ele acaba se tornando o vilão Duas Caras depois de um acidente. No
filme atual, acompanha-se justamente essa heróica ascensão do
personagem e sua trágica queda. “Todos acabam entendendo o que o levou
a ser aquilo que é, e por que ele faz o que faz”, diz o ator Aaron
Eckhart. “Os maiores vilões são sujeitos bons que se tornam maus.”
Para
completar o quadro de vilania, reaparece em cena o personagem
palhaço-assassino Coringa, interpretado pelo ator australiano Heath
Ledger – esse foi o seu último trabalho, pois ele morreu no dia 22 de
janeiro de overdose de medicamentos, logo após a finalização das
filmagens. Ninguém se preocupa em explicar como ele surgiu, mas, isso
sim, como foi ganhando poder. Coringa aparece logo no prólogo
e ganha feições de um terrorista, em um perfil muito mais assustador e
maligno que na célebre versão de Jack Nicholson, em 1989. “Ele
não tem um motivo, é um anarquista, só quer provocar o caos”, diz
Jonathan Nolan, co-roteirista e irmão do diretor. O arquiinimigo de
Batman está sempre desafiando e jogando perguntas que colocam à prova a
boa índole das pessoas, e instiga o herói com falas cortantes: “Você é
apenas uma aberração, como eu.” Sarcástico, diz que, se o homem-morcego
fosse eliminado, aí sim a sua vida não teria sentido: “Você me
completa.”
Esse é um dos dramas do herói: um criminoso como
Coringa só existe em Gotham City porque lá há um Batman. “Bruce Wayne
tem muita raiva dentro dele, e é tênue a linha entre o crime e a
justiça feita fora da lei. A grande pergunta do filme é: quão longe se
pode ir?”, diz o roteirista Nolan. Trazer essas questões morais para um
blockbuster não é usual nem fácil – e, diga-se, só foi possível porque
os efeitos especiais não sufocaram a história. As locações reais em
Hong Kong e Chicago (a cena de Batman no edifício Sears Tower foi feita
pelo próprio Bale, sem dublê) ajudam a imprimir cores no mundo em que
vivemos. Pena que no Brasil ainda não dispomos de cinemas Imax: as seis
seqüências feitas nessa tecnologia proporcionam ao espectador uma
vertiginosa sensação de vôo livre, nunca antes experimentada em uma
sala de cinema.
REALISTA Christian Bale dispensou dublês em muitas cenas
“Batman é um homem rico e com defeitos”
O diretor inglês Christopher Nolan reinventou Batman em 2005, quando escreveu e dirigiu o filme Batman begins. Ele falou à ISTOÉ sobre a experiência de assinar mais um filme da série.
ISTOÉ – Quem é o Batman de O cavaleiro das trevas?
Christopher Nolan
– Batman é um herói diferente dos outros. Ele não tem superpoderes, é
apenas um homem incrivelmente rico, com defeitos e seus próprios
demônios. No filme atual, sobretudo, ele luta contra esse lado obscuro
e violento e tenta canalizá-lo para uma direção mais positiva. Achei
que seria mais realista ter um personagem assim, controverso, e isso o
torna mais interessante.
ISTOÉ – Como foi escalar Heath Ledger para o papel do Coringa?
Nolan
– Na primeira vez que conversei com ele, ainda não havia um roteiro.
Falamos sobre conceitos gerais e logo percebi que ele poderia fazer o
Coringa. Tínhamos a mesma visão do personagem. Mas, se ele não tivesse
me procurado, provavelmente não teria me ocorrido escalá-lo.
NOLAN: “Quis fazer um filme melhor que o anterior”
ISTOÉ – O que acha da hipótese de o personagem tê-lo afetado demais?
Nolan
– Heath era um ótimo profissional e o trabalho de um ator é criar um
personagem fictício e dar realidade a ele. Foi isso que ele fez.
ISTOÉ – Qual o seu maior desafio nesse filme?
Nolan
– O principal foi fazer uma continuação melhor do que o filme anterior.
Não haveria motivo de fazê-la se não acrescentasse algo para o público.
O que me assustava era pensar em como são poucas as continuações
realmente boas.
ISTOÉ – Vai fazer outro Batman ?
Nolan
– Não tenho idéia. Acabamos esse filme, trabalhamos nele até duas
semanas atrás. Temos de lançá-lo e ver o que as pessoas acham. Faço uma
coisa de cada vez.
M. M. Rod Keys2008-07-12 15:11:13